Cem melhores peças e conjuntos do Museu Municipal Leonel Trindade (Torres Vedras)

October 13, 2017 | Autor: Margarida Elias | Categoria: Art History, Ceramics (Art History), Museology, Arqueologia, Museologia, Furniture
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Margarida Maria Almeida de Campos Rodrigues de Moura Elias

Cem melhores peças e conjuntos do Museu Municipal Leonel Trindade (Torres Vedras)

Lisboa Dezembro de 2012 Com o apoio da

Agradecimento Aos representantes de cultura e arquivo da Câmara Municipal de Torres Vedras, Rui Brás, Ana Almeida e Carlos Guardado da Silva. Aos representantes, técnicos e colaboradores do Museu Municipal Leonel Trindade, Carlos Anunciação, Michael Kunst e Rui Silva. Aos historiadores Cristina Horta, Cátia Mourão, Licínia Wrench, Filomena Limão, Luís Montalvão e Sofia Diniz. À minha família e amigos.

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O MUSEU MUNICIPAL LEONEL TRINDADE O Museu Municipal Leonel Trindade encontra-se instalado no antigo Convento de Nossa Senhora da Graça, que foi fundado pelos Eremitas Calçados de Santo Agostinho - uma Ordem mendicante que surgiu no decorrer do século XIII. Foi D. Pedro I que, em 1366, deu a licença para a fundação do convento, sendo este construído no sítio da Várzea Grande, defronte da igreja de São Tiago. Desta primitiva fundação, pouco se conhece, pois as enchentes do rio Sizandro levaram os frades a deixaram o local. Em 1544, por ordem de D. João III, os Agostinhos mudaram-se para o edifício actual, que era na altura o Hospital de São Lázaro, sendo realizadas obras e construída a Igreja, inaugurada em 1580. Em 1834, com a extinção das Ordens Religiosas, os liberais tomaram a posse do edifício, sendo a igreja e as suas alfaias concedidas à Irmandade dos Passos, que ficou responsável pela manutenção do culto. No ano de 1887, a Câmara Municipal comprou o espaço, que foi restaurado entre 1986 e 1989. Actualmente, a entrada no Museu faz-se por uma porta na fachada norte que vai direita ao claustro e que não existia antigamente. Do convento agostinho ficou a Igreja, com as suas dependências, o claustro e a antiga cozinha, de que se pode ver ainda a ampla chaminé. O Museu Municipal de Torres Vedras foi fundado em 1929, tendo por director Rafael Salinas Calado. Começou por estar instalado nas salas da Irmandade dos Clérigos Pobres, anexas à igreja de São Pedro, afirmando-se como um «Museu de História, Arqueologia e Pré-História». No ano de 1932, a direcção do Museu passou a ser exercida por Aurélio Ricardo Belo, o qual tinha como adjunto Leonel Trindade. Em 1944, o Museu foi transferido para a sede da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, na Rua Serpa Pinto. Posteriormente, o cargo de director foi assumido por Augusto Maria Lopes da Cunha (1946) e Leonel Trindade (1969). No ano de 1989, decidiu-se a transferência do Museu para o Convento da Graça, sendo a exposição permanente inaugurada em 1992, dando relevância ao espólio arqueológico do Castro do Zambujal. No ano de 2007, a autarquia atribuiu o nome de Leonel Trindade ao Museu, que ficou a ser tutelado pela Câmara Municipal de Torres Vedras, integrando, já desde 2001, a Rede Portuguesa de Museu e a Rota de Museus do Oeste.

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Índice

PARTE I .......................................................................................................................................... 5 DO PALEOLÍTICO À IDADE DO FERRO ........................................................................................ 5 PALEOLÍTICO .......................................................................................................................... 5 MESOLÍTICO........................................................................................................................... 6 NEOLÍTICO ............................................................................................................................. 7 CALCOLÍTICO ......................................................................................................................... 8 IDADE DO BRONZE .............................................................................................................. 18 IDADE DO FERRO ................................................................................................................. 21 PARTE II ....................................................................................................................................... 23 DA OCUPAÇÃO ROMANA À FUNDAÇÃO DE PORTUGAL ......................................................... 23 PARTE III ...................................................................................................................................... 33 IDADE MÉDIA – ENTRE OS SÉCULOS XII E XV .......................................................................... 33 PARTE IV ...................................................................................................................................... 40 ANTIGO REGIME – DO SÉCULO XVI AO SÉCULO XVIII ............................................................. 40 Século XVI ............................................................................................................................ 40 Séculos XVII e XVIII .............................................................................................................. 49 PARTE V ....................................................................................................................................... 58 IDADE CONTEMPORÂNEA – DO SÉCULO XIX AO SÉCULO XX .................................................. 58 Século XIX ............................................................................................................................ 58 Século XX ............................................................................................................................. 65 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................. 68

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PARTE I DO PALEOLÍTICO À IDADE DO FERRO PALEOLÍTICO

MESOLÍTICO

NEOLÍTICO

CALCOLÍTICO

IDADE DO BRONZE

IDADE DO FERRO

c. 1 200 000 a.C.

c. 10 000 a.C.

c. 7 000 a. C.

c. 3 000 a.C.

c. 1 800 a.C.

c. 700 a.C.

PALEOLÍTICO A colecção do Museu Municipal Leonel Trindade é muito rica em objectos da PréHistória, que traduzem uma ocupação do território de Torres Vedras desde o Paleolítico. Neste tempo, as comunidades humanas eram ainda nómadas, vivendo em abrigos naturais, alimentando-se da caça e da recolecção, mas já começando a dominar o fogo. Tendo uma vida muito dependente da natureza, o homem primitivo, provavelmente do género Homo Erectus, fabricava alguns utensílios, essencialmente trabalhados em pedra. Datam deste tempo os bifaces, que eram instrumentos polivalentes de pedra lascada talhados de forma a poderem ser utilizados como “coupde-poing”, ou seja, machados de mão, empunhados pela base. 1. Calhau truncado bifacial - Seixo – MMLT 002690 Biface – Torres Vedras - MMLT 002796 Biface triedro - Casal da Portela – MMLT 002828 Biface triedro – Maxial - MMLT 002826

Pertencente ao estádio evolutivo do Acheulense, o biface é a ferramenta mais emblemática do Paleolítico Inferior. Era talhado nas duas faces, com uma dimensão média entre os 12 e os 15 cm. O seu formato mais comum é o de uma amêndoa, mas também existem bifaces ovais e triangulares. As suas formas eram inicialmente muito rudimentares, mas foram progressivamente ganhando maior simetria e gumes mais finamente retocados. Deste modo, tornaram-se mais adequados a auxiliar o homem nas suas atividades quotidianas, servindo para cortar ou raspar. Por exemplo, o calhau do Seixo terá sido usado para a recolecção de moluscos (lapas, mexilhões e percebes). Foi durante o Paleolítico Médio que surgiu o Homem de Neandertal, que trouxe uma nova evolução nos utensílios fabricados. Apareceram os primeiros instrumentos especializados, como a ponta, que encabada servia de arma de arremesso, e o raspador, usado para preparar as peles. No Paleolítico Superior dominava já o Homo sapiens sapiens (o homem moderno). Foi com ele que se deu uma maior complexificação dos utensílios e surgiram as primeiras manifestações artísticas (estatuetas, gravuras e pinturas parietais). Na região de Torres Vedras, encontraram-se objectos deste período no Rossio do Cabo (Santa Cruz) e Cambelas (Vale de Almoinha), mas também noutros locais. Um dos utensílios mais 5

emblemáticos desta época, ligado sobretudo à tecnologia do Solutrense, é a ponta de forma foliácea, sobretudo de “folha de loureiro”. 2. Ponta solutrense – Baío - BAI / 164 – MMLT.005574

As pontas eram feitas a partir de lâminas de sílex. Serviam como armas, devendo ser encabadas num chuço ou haste de madeira, de modo a serem utilizadas como setas ou lanças. As suas formas foram sendo aperfeiçoadas ao longo do tempo. A típica ponta solutrense tem uma forma foliácea ou pedunculada, por vezes com os bordos recortados em denticulado. As pontas encontradas no Baío foram recolhidas em 1964, no local designado por Paço e Trindade como «Estação a W do Casalinho». BIBL.: ZILHÃO, João, O Paleolítico Superior da Estremadura Portuguesa, Lisboa, Edições Colibri, 1997.

MESOLÍTICO No Mesolítico houve um aumento da população, que passou a fixar-se em pequenos aglomerados, durante temporadas mais longas, ao ar livre, em cabanas ou abrigos, instalando-se principalmente em solos arenosos. No Inverno habitavam em abrigos sob rocha. Neste período, o conjunto dos recursos alimentares diversificou-se e começaram a desenvolver-se práticas proto-agrícolas e de domesticação de animais. No que diz respeito aos utensílios, surgiram os micrólitos (micro utensílios), indicadores de uma economia baseada na caça e na pesca de animais de pequeno e médio porte. Ocorreu também uma exploração de recursos marginais, nomeadamente dos rios e do mar. As populações das zonas ribeirinhas alimentavam-se de peixe e marisco, cujas cascas se amontoavam à volta das suas cabanas, formando os chamados “concheiros”. Em Torres Vedras, uma das principais estações arqueológicas do Mesolítico é a de Ponta da Vigia (A dos Cunhados), mas também se destacam outras como o Pinhal da Fonte. 3. Amostra de Concheiro (10,8x8,4x5,7 cm) – Pinhal da Fonte (CPF/22) – MMLT.002794

Os concheiros são o tipo de jazida arqueológica mais característico deste período. Esta amostra é constituída por terra escurecida, com cinzas e carvões, e restos de bivalves e caracóis, denotando que se tratava de um habitat típico de uma comunidade de caçadores/recolectores.

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4. Furador ou sovela (11,3x1,4x1 cm) – Pinhal da Fonte (CPF/24) – MMLT.002792

Trata-se de um utensílio de osso de animal, polido ou alisado e aguçado na ponta, que servia para ser usado como furador ou sovela.

NEOLÍTICO O Neolítico corresponde ao período da História em que a humanidade principiou a sedentarizar-se, dedicando-se à agricultura e à criação de animais, que começaram a ser actividades de angariação de recursos alimentares, a par da caça, da pesca e da recolecção. Foram criados os primeiros povoados, em regiões férteis e na proximidade de cursos de água e foi neste tempo que surgiram e se desenvolveram as técnicas do polimento da pedra, osso e chifre, a cerâmica e a tecelagem. Na região próxima de Torres Vedras, na Gruta Natural da Salvé Rainha (Montejunto; concelho de Cadaval), e na área do concelho, nomeadamente no Baío, Castro da Fórnea e Castro do Penedo, encontraram-se vestígios do Neolítico; assim como na Lapa da Mouração (concelho de Porto de Mós), aquando de trabalhos arqueológicos de pessoal do MMTV. 5. Anzol (?) em osso de animal (4x2,3x0,4 cm) – Lapa da Mouração; Porto de Mós (LM/01) – MMLT.002789

Estamos perante um utensílio de pesca, do Neolítico ou já do Calcolítico, feito de osso de animal, que servia para a captura de peixes de rio ou de lagoa (possuindo, portanto, a mesma utilização que os anzóis actuais). 6. Cerâmica decorada com gravação incisa (7,2x6,6x1,1 cm) – Baío (BAI/130) – MMLT.005557

Cerâmica (8,3x6,7x5,8 cm) - Gruta Natural da Salvé Rainha (SR I / 12) – MMLT.000805

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No Baío acharam-se várias peças de cerâmica com decoração incisa que são testemunho de uma ocupação do período Neolítico Antigo. Na gruta da Salvé Rainha, descoberta em 1956, encontrou-se um vaso hemisférico de boca elíptica (ou oval) intacto, cor vermelho-tijolo. Outros recipientes idênticos foram recolhidos em grutas naturais e em dólmenes alentejanos, sendo os primeiros do tipo hemisférico alto (como o de Salvé Rainha) e os segundos do tipo hemisférico baixo. Este facto é significativo, pois confirma a existência de uma ligação entre a “cultura dolménica alentejana” e a cultura do litoral estremenho. É de notar que tradicionalmente se associa a cerâmica do Neolítico Antigo à cerâmica cardial, nome que se devia ao facto de ser decorada com matrizes de conchas de berbigão (família Cardiae). As cerâmicas neolíticas encontradas em Portugal são frequentemente decoradas, mas nem todas obedecem ao tipo cardial, podendo ter a decoração incisa ou impressa (não necessariamente cardial), ou ainda feita através de aplicação de formas, como mamilos ou cordões cerâmicos. BIBL.: PEREIRA, Jorge Paulino, A Gruta Natural da Salve Rainha (Serra de Montejunto), Setúbal, Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, 1976-77 (separata de Setúbal Arqueológica, vol. II-III).

CALCOLÍTICO O Calcolítico (ou Idade do Cobre) corresponde ao início da época dos metais, durante a qual o homem principiou a dominar a técnica da metalurgia. Em Portugal, o Calcolítico, que na sua fase final está associado à Cultura do Vaso Campaniforme, pode-se situar entre os anos 2 800 – 2 300 a.C. As populações associadas a esta cultura estabeleceram-se frequentemente na orla marítima, no estuário dos grandes rios, aproveitando as rotas de comércio do Mediterrâneo e da Bretanha. O espólio típico desta cultura compreende uma série de objectos que incluem geralmente cerâmica campaniforme, punhais de cobre, anéis de ouro espiralados, braçais de arqueiro de xisto ou grés, pontas de seta, lâminas de sílex e botões de osso com perfuração em “V”. Na região de Torres Vedras, as escavações arqueológicas relativas ao Calcolítico, inserem-se essencialmente em povoados (ou “castros”) fortificados ou não, e em necrópoles, que compreendem grutas naturais e artificiais (ou hipogeus) e tholoi (plural de Tholos). Os castros correspondem a um tipo de fortificação construída em zonas altas, relativamente próximo do litoral ou das margens dos grandes rios. Em Torres Vedras encontraram-se vestígios de algumas destas antigas fortificações, sendo a mais importante a do Castro do Zambujal, que terá sido ocupado nos anos 2 500 - 1 700 a.C. No respeitante às grutas naturais utilizadas como necrópole, pode-se referir a gruta da Cova da Moura, na zona do Vale dos Cucos, que forneceu um abundante espólio neocalcolítico e da Cultura do Vaso Campaniforme. As grutas artificiais eram túmulos colectivos escavados na rocha. Apresentam, em geral uma câmara de cobertura interiormente hemisférica e planta circular, cujo acesso para o exterior se fazia por uma abertura lateral com corredor vestibular. Na região de Torres Vedras, destacam-se as grutas da Ermegeira e da Quinta das Lapas. Os tholoi eram monumentos funerários de pedra com câmara e corredor. A câmara caracteriza-se por possuir uma planta circular, construída segundo o sistema de “falsa cúpula”. Surgiram inicialmente na ilha do Chipre, a partir do sexto milénio antes da nossa era. No território português, encontram-se geralmente perto do litoral. No 8

Museu Municipal Leonel Trindade guarda-se o espólio de um dos principais tholoi da região, que é o de Pai Mogo (Lourinhã). Outra tholos importante é a de Cabeço de Arruda, que é acompanhada por uma necrópole e uma sepultura. 7.

Punhal de sílex castanho (11,5 x 3 x 1 cm) - Cova da Moura (CM/209) – MMLT.005567 Punhal de sílex (11,1x2,8x0,7 cm) – Tholos de Pai Mogo (PM / 330) – MMLT.005568

Grande parte dos utensílios e armas do Calcolítico eram ainda fabricados em pedra. Na gruta artificial da Cova da Moura encontraram-se pontas de lança de sílex e decobriu-se um punhal de sílex castanho, bem retocado, com o talão arredondado em leque. O punhal da tholos de Pai Mogo é um punhal com pedúnculo para encabamento. Mostra um nível elevado da indústria lítica. A técnica de retoque ondulado é frequente no Oeste Mediterrânico. BIBL.: BELO, Ricardo, TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. Da Veiga, Gruta da Cova da Moura (Torres Vedras), Lisboa, Bertrand (Irmãos), , 1961 [separata de Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, t. XLV; GALLAY, Gretel, SPINDLER, Konrad, TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. da Veiga, O Monumento pré-histórico de Pai Mogo (Lourinhã), Lisboa, Associação dos Arqueólogos Portugueses, 1973.

8. Enxó de pedra polida (9,7x5,7x1,8 cm) - Castro do Penedo (P/44) – MMLT.005538 Machado de pedra polida com ranhura (8,5x4,9x3,2 cm) - Colaria – MMLT.003101

Foi, anteriormente, durante o Neolítico que se aperfeiçoaram as ferramentas e as armas de pedra, através do polimento. As enxós eram utensílios com o gume perpendicular ao eixo do cabo; os machados tinham um gume na ponta e encaixavam também num cabo. Com o advento da agricultura eram necessários novos instrumentos, sendo utilizados os machados para derrubar árvores das florestas (de modo a abrir clareiras para o cultivo) - e as enxós, que serviam para trabalhar os campos e necessários para escavar troncos de árvores com que se faziam pequenos barcos. Deve-se notar, contudo, que os machados também podiam ser utilizados como armas. No que respeita aos utensílios, importa acrescentar que as enxós e os machados, encontrados em necrópoles, durante as escavações arqueológicas, mostram muitas vezes uma aparência cuidada, sem sinais de desgaste, o que leva a crer que tenham sido utilizados como elementos votivos para o culto dos utensílios. BIBL.: HEITLINGER, Paulo, «Ferramentas de pedra», in Arqueo.org, 2007 , consultada em 8/2/2012; SPINDLER, Konrad, TRINDADE, Leonel, A Póvoa Eneolítica do Penedo – Torres Vedras, Lisboa, 1970 (separata das Actas das I Jornadas Arqueológicas).

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9.

Enxó votiva encabada (12,9 x 11,7 x 2,5 cm) – Tholos de Pai Mogo (PM/470) – MMLT.005570

No caso da enxó encabada da Tholos de Pai Mogo estamos perante um exemplo claro de que se trata de um artefacto votivo ligado ao culto dos utensílios. Esta enxó, também denominada de herminette é uma representação simbólica do utensílio, figurando a enxó encabada num maço. O cabo é de secção oval, assim como a enxó. Sete caneluras na ligação entre o cabo e a enxó representam as cordas que se usavam no encabamento. Estes artefactos seriam uma representação simbólica ligada à importância da desflorestação na conquista de novos espaços agrícolas. BIBL: GALLAY, Gretel, SPINDLER, Konrad, TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. da Veiga, O Monumento pré-histórico de Pai Mogo (Lourinhã), Lisboa, Associação dos Arqueólogos Portugueses, 1973.

10. Placa de tecelagem (8,5x7,5x2,5 cm) - Castro do Penedo (P/772) –

MMLT.005562

Foi durante o Neolítico que o Homem dominou a tecelagem e é de crer que as fibras vegetais (como o linho) e animais tenham sido exploradas, no actual território português, desde os finais do 4.º milénio a.C. Como já foi notado por Mariana Diniz (D’INTINO, 1994), o aparecimento, nas estações arqueológicas, de placas cerâmicas fornece provas inequívocas da realização de tecelagem. Os teares seriam verticais, sendo os pesos colocados na extremidade inferior do fio, para obter a tensão necessária para o fabrico de tecidos. No Castro do Penedo encontraram-se várias placas, destacando-se uma de barro castanho-claro, que tem quatro furos em cada ângulo. As decorações mais frequentes destas placas são de linhas e ziguezagues, em espinha, linhas curvas ou simples e com motivos solares. Esta é decorada com um desenho inciso que reproduz um padrão de agulha de abeto. Estes desenhos seriam marcas para fins de diferenciação. BIBL.: SPINDLER, Konrad, TRINDADE, Leonel, A Póvoa Eneolítica do Penedo – Torres Vedras, Lisboa, 1970 (separata das Actas das I Jornadas Arqueológicas).

11. Vasos canelados - Castro do Zambujal – MMLT.005575 e MMLT.005576

Taça campaniforme – Castro do Zambujal – MMLT.005577

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Vaso globular com decoração incisa - Castro do Zambujal – MMLT.005578

Vaso campaniforme marítimo – Castro do Zambujal – MMLT.005579

Durante o Calcolítico produziu-se diverso tipo de cerâmica, variando as formas e a decoração, mas também a qualidade de fabrico. A mais característica é a cerâmica campaniforme, que já foi considerada como «uma verdadeira obra-prima dos artesãos calcolíticos» (GONÇALVES, 1995). Específicamente, o vaso campaniforme corresponde a uma tipologia de vasos de cerâmica em forma de sino invertido com decoração geométrica, feita por incisão ou impressão, evidenciando-se a horizontalidade. Os motivos decorativos mais comuns são de linhas rectilíneas paralelas, faixas paralelas, linhas quebradas, faixas em ziguezague, etc. Existe cerâmica lisa, de perfil campaniforme; cerâmica tipicamente campaniforme no perfil e na decoração; cerâmica acampanada, com motivos decorativos locais; cerâmica de perfis variáveis e decoração campaniforme. O estilo internacional é aquele que é comum a várias regiões europeias e do Mediterrâneo ocidental e é o que apresenta uma técnica mais apurada, sendo as cores variáveis desde o amarelo ao negro, passando por outros tons argilosos. Em certos casos as incisões foram preenchidas com matéria esbranquiçada, o que permitia dar maior evidência ao desenho. As cerâmicas do Castro do Zambujal apresentam uma qualidade técnica muito perfeita, destacando-se uma taça tipo de Palmela, com bordo largo decorado. BIBL.: KUNST, Miguel, «As cerâmicas decoradas do Zambujal e o faseamento do Calcolítico da Estremadura Portuguesa», in Estudos Arqueológicos de Oeiras, Câmara Municipal de Oeiras, 1996, pp. 257-287; SANGMEISTER, Edward, SCHUBART, Hermanfrid, TRINDADE, Leonel, «Escavações no Castro Eneolítico do Zambujal. 1966», in O Arqueólogo Português, série III, vol. 3, Lisboa, 1969, pp. 71-114; SANGMEISTER, Edward, SCHUBART, Hermanfrid, TRINDADE, Leonel, «Escavações na Fortificação Eneolítica do Zambujal 1968», in O Arqueólogo Português, série III, vol. 4, Lisboa, 1970, pp. 65-114; SANGMEISTER, Edward, SCHUBART, Hermanfrid, TRINDADE, Leonel, «Escavações na Fortificação da Idade do Cobre do Zambujal / Portugal 1970», in O Arqueólogo Português, série III, vol. 5, Lisboa, 1971, pp. 51-97; SCHUBART, Hermanfrid, SANGMEISTER, Edward, Zambujal. Povoado fortificado da Idade do Cobre, Câmara Municipal de Torres Vedras, 1987.

12. Vaso campaniforme (9,8x12,3 cm) – Cova da Moura (CM/563) – MMLT.005580

Taça tipo Palmela (24,5 x 8 cm) Cova da Moura (CM/576) – MMLT.005581

Garrafa tipo bojuda (25x24,8x14 cm) – Cova da Moura (CM/560) – MMLT.005582

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Pequeno vaso campaniforme (8x7 cm) – Cova da Moura (CM/568) – MMLT.005583

Na gruta da Cova da Moura recolheu-se variada cerâmica campaniforme lisa e decorada (impressa, brunida e pontilhada). Os motivos decorativos são comuns: “Chevrons”, faixas paralelas triangulares, reticulados em losango, faixas verticais, ondulados, etc. Sobressai uma taça tipo Palmela com decoração na zona inferior exterior, formada por um círculo radiado com cinco faixas que tocam nas bordas da taça reproduzindo cabeças estilizadas de veados. BIBL.: BELO, Ricardo, TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. Da Veiga, Gruta da Cova da Moura (Torres Vedras), Lisboa, Bertrand (Irmãos), , 1961 [separata de Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, t. XLV]

13. Ídolo pinha em calcário (8 x 6 x 3 cm) - Cova da Moura (CM/105) – MMLT.005585

Ídolo hemicilindríco em calcário (26 x 4,5 - 2,5 x 2 cm) - Cova da Moura (CM/99) – MMLT.005586

Os ídolos são artefactos votivos de calcário, que correspondem a uma das mais peculiares séries relacionados com o sagrado, cuja cronologia coincide com a do Calcolítico (GONÇALVES, 1995). As variantes vão desde os betilos (cilindrícos ou cónicos), fálicos, de “gola”, afuselados, pinhas, alcachofras, lúnulas, peitorais, enxós, almofarizes, vasos e caixas – até outras variáveis mais raras e de difícil interpretação. É importante notar que os locais onde foram encontrados em maior quantidade e variedade pertencem na sua maioria à Península de Lisboa. Na gruta de Cova da Moura recolheram-se ídolos de calcário. Um deles tem a forma de “pinha” ou “flor de palmeira”, está partido na base e não é ornamentado. Outro dos ídolos pode ser considerado um betilo (GONÇALVES, 1995) ou uma palmatória (D’INTINO, 1994). Por ser mais estreito de um dos lados e cilíndrico no outro já se ponderou a hipótese de que correspondesse a uma forma antropomórfica estilizada (1961). A parte superior é betilóide e decorada com seis sulcos formando linhas horizontais paralelas. A outra parte (inferior) é estreita, como se fosse um espigão. Este tipo de ídolos estaria ligado ao culto de certas divindades hoje desconhecidas e é possível que fosse um betilo a que se juntou um espigão para fixação no solo ou noutro suporte (D’INTINO, 1994). BIBL.: BELO, Ricardo, TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. Da Veiga, Gruta da Cova da Moura (Torres Vedras), Lisboa, Bertrand (Irmãos), , 1961 [separata de Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, t. XLV]

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14. Ídolo (9,2 x 7,2 x 6 cm) - Tumba Megalítica do Cabeço da Arruda I (CA I /201) – MMLT.005587

Ídolo (19,5 x 5,7 cm) - Tumba Megalítica do Cabeço da Arruda II (CA II /96) – MMLT.005588

No Cabeço da Arruda encontraram-se dois ídolos piriformes feitos em grés, o que os diferencia dos outros achados em Portugal, que são geralmente de calcário. Um dos ídolos do Cabeço da Arruda é constituído por duas partes: uma secção superior elíptico-ovalada e uma inferior que forma uma espécie de pescoço, fazendo lembrar uma cabeça tosca. O outro ídolo é mais alongado: tem forma elíptica e termina, na parte superior, numa espécie de gola ou botão. É de grés vermelho ferruginoso e faz lembrar uma “abóbora comprida”, sendo de pressupor que representasse uma estilização tosca de uma figura humana. BIBL.: FERREIRA, Octávio da Veiga, TRINDADE, Leonel, «Objectos da Necrópole do Cabeço da Arruda (Torres Vedras)», s.d. [1955?], pp. 29-35; FERREIRA, Octávio da Veiga, TRINDADE, Leonel, A Necrópole do Cabeço da Arruda (Torres Vedras), Porto, Imprensa Portuguesa, 1956 [extracto dos Anais da Faculdade de Ciências do Porto, t. XXXVIII, f. IV, pp. 5-24].

15. Placa de rocha xistosa (22 x 10,5 cm) – Tumba Megalítica do Cabeço da Arruda I (CA I /11) – MMLT.005589 Placa de xisto (19,9x11,9x1,2) – Tumba Megalítica do Cabeço da Arruda I (CA I /12) – MMLT.005590 Placa de xisto (11,1x6,6x0,6 cm) – Tumba Megalítica do Cabeço da Arruda I (CA I/8) – MMLT.005591

Na Tumba Megalítica do Cabeço da Arruda encontrou-se uma grande quantidade de placas de xisto, decoradas com o habitual sistema de triângulos. É relevante notar que a maioria das placas foi achada na necrópole, onde havia pouca cerâmica campaniforme, o que parece indicar uma ligação mais profunda dessa sepultura à cultura dolménica alentejana. Entre as placas do Cabeço da Arruda, destaca-se uma que apresenta os olhos bem marcados, o que lhe daria um aspecto mais claramente antropomórfico. Tem bastante interesse pela marcação dos olhos com radiações, lembrando formas solares, o que a liga à tradição dos «olhos de sol». As placas de xisto estão entre os objectos votivos mais característicos e interessantes do Neolítico e início do Calcolítico, devendo corresponder a uma cronologia entre 3 500 - 2 500 anos a.C. Aparecem sobretudo em monumentos funerários (nomeadamente em sepulturas colectivas), a sul do Mondego e com maior incidência a sul do Tejo. São geralmente de xisto negro, de forma trapezoidal, decoradas apenas numa das faces, com motivos geométricos, sobretudo triângulos, faixas quebradas ou em ziguezague, motivos axadrezados ou em espinha. Por vezes têm os ombros recortados, o que acentua uma leitura antropomórfica. 13

Seriam provavelmente um amuleto individual, apotropaico e protector, sintetizando a imagem da «deusa mãe». Algumas são todas decoradas sem qualquer separação, mas em geral, a superfície decorada é dividida em duas partes, separadas por linhas ou faixas. A superior (mais estreita) representaria a cabeça e a inferior seria o resto do corpo. BIBL.: FERREIRA, Octávio da Veiga, TRINDADE, Leonel«Objectos da Necrópole do Cabeço da Arruda (Torres Vedras)» , s.d. [1955?], pp. 29-35; FERREIRA, Octávio da Veiga, TRINDADE, Leonel, A Necrópole do Cabeço da Arruda (Torres Vedras), Porto, Imprensa Portuguesa, 1956 [extracto dos Anais da Faculdade de Ciências do Porto, t. XXXVIII, f. IV, pp. 5-24]; GONÇALVES, Victor S., «Manifestações do Sagrado na Pré-História do Ocidente peninsular», in Revista Portuguesa de Arqueologia, v. 7, n. 1, 2004, pp. 165-183.

16. Amuleto zoomórfico (1,6 cm) – Cova da Moura (CM/479) – MMLT.005592 Amuletos zoomórficos - Tumba Megalítica do Cabeço da Arruda I (CA I/45) – MMLT.005593; (CA I/ 46) – MMLT.005594; (CA I/ 48) – MMLT.005595

As pequenas esculturas de logomorfos (coelhos ou lebres) costumam aparecer nas estações arqueológicas da região megalítica do Alto Alentejo e na área setentrional da Península de Lisboa. São quase todos feitos em osso, com perfurações nas patas e seriam possivelmente utilizadas como amuletos ou símbolos da fertilidade. Na Cova da Moura e na necrópole do Cabeço da Arruda encontraram-se amuletos zoomórficos de pequenos quadrúpedes. Dos logomorfos da Cova da Moura destaca-se um que foi feito em pedra verde (variscite) e entre os do Cabeço da Arruda sobressai um ídolo (CA I /45) com duas cabeças talhado em osso. Num dos lados lembra um esquilo, pela curvatura e formato da cabeça. No lado oposto, abaixo do bloco dos pés, apresenta outra cabeça. Ambas as cabeças têm os olhos e a boca bem marcados. BIBL.: BELO, Ricardo, TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. Da Veiga, Gruta da Cova da Moura (Torres Vedras), Lisboa, Bertrand (Irmãos), , 1961 [separata de Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, t. XLV]; FERREIRA, Octávio da Veiga, TRINDADE, Leonel, «Objectos da Necrópole do Cabeço da Arruda (Torres Vedras)», s.d. [1955?], pp. 29-35; FERREIRA, Octávio da Veiga, TRINDADE, Leonel, A Necrópole do Cabeço da Arruda (Torres Vedras), Porto, Imprensa Portuguesa, 1956 [extracto dos Anais da Faculdade de Ciências do Porto, t. XXXVIII, f. IV, pp. 5-24].

17. Lúnula (15,9x5,8x1,1) - Tumba Megalítica do Cabeço da Arruda II (CA II /113) – MMLT.005596

Nos espólios arqueológicos do período Calcolítico são muito característicos os achados de ídolos de calcário em forma de crescente, que são geralmente comparados às lúnulas irlandesas. É de crer que fossem, de facto, uma figuração lunar, pois a Lua e o Sol eram objecto de culto. Este tipo de lúnulas apresenta, em regra, gravações singelas de linhas paralelas ou em espinha e um ou dois orifícios de cada lado, que serviria para suspender a peça ao pescoço do morto. BIBL.: FERREIRA, Octávio da Veiga, TRINDADE, Leonel, «Objectos da Necrópole do Cabeço da Arruda (Torres Vedras)» , s.d. [1955?], pp. 29-35; FERREIRA, Octávio da Veiga, TRINDADE, Leonel, A Necrópole do Cabeço da Arruda (Torres Vedras), Porto, Imprensa Portuguesa, 1956 [extracto dos Anais da Faculdade de Ciências do Porto, t. XXXVIII, f. IV, pp. 5-24].

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18. Gorjal (20,5 x 17 cm) – Tholos de Pai Mogo (PM/469) – MMLT. 005356 Lúnula (Insígnia de chefe) (33 x 20 cm) – Tholos de Pai Mogo (PM/468) – MMLT.005597

Na Tholos de Pai Mogo encontraram-se duas peças votivas de calcário, que são pouco frequentes nos achados do Calcolítico. O “gorjal” ou peitoral é uma placa arredondada, em forma de crescente, cujo contorno na parte superior se apresenta côncavo e com ressalto, fazendo um arco que se adapta ao pescoço e tem em cada extremidade um orifício de suspensão. Poderá ter sido pintado, servindo para ser usado sobre o peito. A lúnula ou Insígnia de chefe aparenta-se a outras peças idênticas do Calcolítico, mas também se diferencia porque tem um espigão para encabamento, na parte posterior (não decorada). A parte anterior, que seria visível, é ornamentada com incisões de traços irregulares e linhas verticais, no que tem paralelo a uma lúnula de Carenque. Destinava-se talvez a ser fixa na extremidade de uma haste de madeira, constituindo um emblema de chefia (D’INTINO, 1994). BIBL.: GALLAY, Gretel, SPINDLER, Konrad, TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. da Veiga, O Monumento pré-histórico de Pai Mogo (Lourinhã), Lisboa, Associação dos Arqueólogos Portugueses, 1973.

19. Cabeça de osso (3,9x3,1x2,1) - Abrigo da Carrasca (C2/2) – MMLT.005566

O Abrigo da Carrasca corresponde a uma Necrópole localizada num abrigo sob-rocha. Aqui encontrou-se parte de uma cabeça, que corresponde a um ídolo, trabalhado numa tíbia de vaca. Vêem-se bem marcados os olhos e o nariz, apesar do olho esquerdo estar fracturado. Tem linhas incisas que representam tatuagens faciais. Esta peça já foi considerada como um «Ídolo Mocho» (D’INTINO, 1994). 20. Placa votiva com duas enxós encabadas (7 x 4,9 cm) – Tumba Megalítica do Cabeço da Arruda II (CAII/116) – MMLT 005357

A placa de calcário encontrada no Cabeço da Arruda é rectangular e ornamentada, com duas perfurações no topo para suspensão. Trata-se de uma peça afeiçoada e polida, com grande importância entre os achados desta época, sendo até possivelmente já do início da Idade do Bronze (c. 2000 anos a.C.). Num dos lados tem um desenho gravado em forma de espinha e, a meio, tem um desenho que se assemelha a duas enxós opostas. Poderá ter sido um objecto de adorno, ou uma placa ritual, ligada ao culto dos utensílios. BIBL.: FERREIRA, Octávio da Veiga, TRINDADE, Leonel, «Objectos da Necrópole do Cabeço da Arruda (Torres Vedras)» , s.d. [1955?], pp. 29-35; FERREIRA, Octávio da Veiga, TRINDADE, Leonel, A Necrópole do Cabeço da Arruda (Torres Vedras), Porto, Imprensa Portuguesa, 1956 [extracto dos Anais da Faculdade de Ciências do Porto, t. XXXVIII, f. IV, pp. 5-24].

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21. Vaso de osso com decoração de círculos (6,3 cm) – Tholos de Pai Mogo (PM/358) – MMLT.005598 Vaso de osso com decoração de xadrez (7,1 cm) – Tholos de Pai Mogo (PM/357) – MMLT.005599 Vaso de osso com decoração de xadrez (5,4) – Tholos de Pai Mogo (PM/360) – MMLT.005604

Graças a condições de conservação favoráveis pelo solo rico em calcário, na Tholos de Pai Mogo preservaram-se quinze vasos de osso mais ou menos completos. Os vasos eram pequenos e cortados num osso longo de animal (tíbia ou fémur), sempre sem fundo. No espólio de Pai Mogo destaca-se um com decoração em círculos concêntricos duplos com um ponto no meio, que é uma peça importante e de significativa beleza. Deveria ser uma raridade mesmo na época e foi encontrado debaixo do altar, no fundo da câmara. Está completo e tem 7 fiadas apertadas de círculos finos, assemelhando-se a um de Vila Nova de São Pedro. No entanto, a decoração mais vulgar nos vasos de osso é o xadrez, como se pode ver nos outros exemplares aqui apresentados. BIBL.: GALLAY, Gretel, SPINDLER, Konrad, TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. da Veiga, O Monumento pré-histórico de Pai Mogo (Lourinhã), Lisboa, Associação dos Arqueólogos Portugueses, 1973.

22. Vaso de Calcário - Tholos do Casal da Serra (CS/79/3) – MMLT.005539

Caixa de calcário – Tholos de Pai Mogo (PM/433) – MMLT.005600

Na Tholos do Casal da Serra, hoje destruída, encontrou-se algum espólio do Calcolítico, nomeadamente um vaso de calcário cilíndrico, perfeitamente manufacturado. Em Pai Mogo foram descobertos vasos de calcário rectangulares, sendo que um deles está bem conservado e tem uma ornamentação de xadrez dentro de uma moldura tripla. Na Península Ibérica só tem comparação com um encontrado no Barro. Não se sabe ao certo qual era o contexto em que estas peças entravam nos rituais funerários, sendo de crer que constituíssem oferendas, com uma função complementar à dos almofarizes. É imaginável que contivessem água, que ainda hoje é utilizada em rituais sagrados (GONÇALVES, 1995). BIBL.: GALLAY, Gretel, SPINDLER, Konrad, TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. da Veiga, O Monumento pré-histórico de Pai Mogo (Lourinhã), Lisboa, Associação dos Arqueólogos Portugueses, 1973.

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23. Botão em forma de tartaruga – Tumba Megalítica do Cabeço da Arruda II (CAII/122) – MMLT.005601

Botão (3,6x2,4 cm) – Tholos de Pai Mogo (PM/388) – MMLT.005602

Botões (2,3x1 cm; 2,6x1,9 cm; 2,3x2 cm; 2,4x2,1 cm) - Casal de Charrinho (CAN/579; CAN/581; CAN/582; CAN/583) – MMLT.005605; MMLT.005606; MMLT.005607; MMLT.005608

O Casal de Charrinho seria, eventualmente, uma Tholos, onde se encontraram botões, que constituem um dos elementos típicos dos espólios desta época do Vaso Campaniforme. Os botões são geralmente feitos em osso, com perfuração em V, de corpo arredondado, com um apêndice trapezoidal em cada topo. No Museu Leonel Trindade, destaca-se um botão em forma de tartaruga, da Tholos do Cabeço da Arruda, que seria talvez de proveniência exótica. BIBL.: FERREIRA, Octávio da Veiga, TRINDADE, Leonel, «Objectos da Necrópole do Cabeço da Arruda (Torres Vedras)» , s.d. [1955?], pp. 29-35; FERREIRA, Octávio da Veiga, TRINDADE, Leonel, A Necrópole do Cabeço da Arruda (Torres Vedras), Porto, Imprensa Portuguesa, 1956 [extracto dos Anais da Faculdade de Ciências do Porto, t. XXXVIII, f. IV, pp. 5-24]; GALLAY, Gretel, SPINDLER, Konrad, TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. da Veiga, O Monumento pré-histórico de Pai Mogo (Lourinhã), Lisboa, Associação dos Arqueólogos Portugueses, 1973.

24. Colar de azeviche - Cova da Moura (CM/522 e CM/505) – MMLT.005541

Brinco (2,4x1,4 cm)– Cova da Moura (CM/377) – MMLT.001706

No espólio da Cova da Moura foram encontradas várias contas (de azeviche, de calcário, de turquesa, de xisto e de calaíte), de diversas dimensões e feitios, desde discóides até troncocónicas. Entre elas destacam-se trinta e uma contas de azeviche, que compõem um colar com um pendente. Estas contas negras foram elaboradas por um processo de polimento e perfuradas posteriormente. Na mesma gruta, surgiu o fragmento de um brinco de ouro, 17

semelhante ao da Gruta artificial da Ermegeira, que tem nos bordos cinco pequenos furos alinhados. BIBL.: «A Peça do Mês», Museu Municipal Leonel Trindade, Julho de 2012; BELO, Ricardo, TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. da Veiga, Gruta da Cova da Moura (Torres Vedras), Lisboa, Bertrand (Irmãos), 1961 [separata de Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, t. XLV]

25. Alfinete de cabelo (13 cm) – Tholos de Pai Mogo (PM/381) – MMLT.005603

Os alfinetes de osso são vulgarmente encontrados nas estações dos arredores de Lisboa e o modelo comum apresenta a extremidade superior com cabeça maciça torneada. O alfinete de Pai Mogo diferencia-se, pois parece figurar um animal (ave?), tendo como paralelo um outro alfinete, do Castro de Vila Nova de S. Pedro. BIBL.: GALLAY, Gretel, SPINDLER, Konrad, TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. da Veiga, O Monumento pré-histórico de Pai Mogo (Lourinhã), Lisboa, Associação dos Arqueólogos Portugueses, 1973.

IDADE DO BRONZE As inovações tecnológicas introduzidas pela metalurgia tiveram reflexos sociais, associados a uma maior divisão do trabalho e à crescente estratificação social. Essa evolução, que começou desde o Calcolítico, teve continuidade durante a Idade do Bronze, que correspondeu a um novo avanço tecnológico, visto que o bronze era já uma liga de cobre e estanho, que permitia a produção de utensílios mais resistentes. Este avanço repercutiu-se nas trocas comerciais, nomeadamente pela necessidade de aquisição de estanho que existia em abundância no Norte da Península Ibérica. Escreveu Ana Margarida Arruda (ALARCÃO e SANTOS, 1996) que é provável que a Península Ibérica tivesse mantido contactos com o Mediterrâneo durante o Bronze Final e «a existência desses contactos pode mesmo remontar a períodos bem anteriores, pelo menos desde o Calcolítico, período em que determinadas inovações agrícolas (técnica de regadio) e técnicas construtivas (tholoi de cobertura ligeira) parecem ser abrangentes a uma ampla região, incluindo grande parte do Mediterrâneo». É de notar que foi durante a Idade do Bronze que se desenvolveu o reino de Tartessos, na zona da Andaluzia. De acordo com a investigação que tem sido publicada (KUNST, 1995a), a zona de Torres Vedras teve um povoamento muito denso no Calcolítico, mas há poucos vestígios seguros da Idade do Bronze. Nesse sentido, apenas o Monte da Pena pode ser destacado como tendo sido um possível povoado desta época. No entanto, muitos dos locais habitados durante o Calcolítico contêm vestígios do período seguinte. 26. Machado de bronze de alvado (12,3x4,5 cm) - Cova da Moura (CM/379) – MMLT.005609

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Machado de bronze de alvado (13,1x4,9 cm) - Arruda dos Vinhos (Arruda dos Vinhos) – MMLT.005610

Durante a Idade do Bronze, apesar de grande parte dos utensílios ser ainda fabricado em pedra, começaram a surgir objectos de bronze (ou liga de cobre), como é o caso do machado com duas aselhas, descoberto na gruta da Cova da Moura, em 1932. BIBL.: BELO, Ricardo, TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. da Veiga, Gruta da Cova da Moura (Torres Vedras), Lisboa, Bertrand (Irmãos), , 1961 [separata de Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, t. XLV]

27. Ponta de seta em cobre, com espigão (7 x 1,4 cm) - Cova da Moura (CM/381) –

MMLT.005569

Na Cova da Moura surgiram objectos de cobre, nomeadamente pontas de flecha e uma ponta de lança. Uma das pontas de seta é bastante distintiva porque tem um longo espigão de encabamento. Importa notar que não existiam minas de cobre na região de Torres Vedras, o que leva a crer que este minério fosse importado, talvez da região do Alentejo. Era fundido em indústrias caseiras - como nas fogueiras centrais de algumas casas, que foram encontradas no Castro do Zambujal - em pequenas quantidades, procedendo-se logo à sua conversão em barras ou outros objectos. BIBL.: BELO, Ricardo, TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. da Veiga, Gruta da Cova da Moura (Torres Vedras), Lisboa, Bertrand (Irmãos), 1961 [separata de Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, t. XLV.

28. Vaso pequeno de cerâmica (6,7x6,5x7,6 cm) – Monte da Pena (PN/7) – MMLT.005611

O Monte da Pena terá sido um povoado ou local de enterramento, onde foram encontrados fragmentos de cerâmica com desenhos brunidos, entre eles um vaso de cerâmica (pequena taça lisa) e um punhal de cobre. O pequeno vaso, de forma elegante e simples, lembra o tipo de cerâmica carenada encontrada no castro de Pragança (Cadaval). 29. Tesouro - Bonabal (BON/1; BON/2) – MMLT.001704 e MMLT.001705

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Como já foi observado (TRINDADE e FERREIRA, 1964), o concelho de Torres Vedras é de uma grande riqueza em antiguidades pré e proto-históricas, não sendo raras as estações que têm dado jóias ou objectos de ouro. Contudo, apesar da riqueza da Península em minérios ser mencionada desde remotas eras, Torres Vedras não é, do ponto de vista mineiro, rica em ouro, pelo que este deveria vir do Tejo, que o arrastava nas suas águas. A história do tesouro do Bonabal remonta a 1964. Leonel Trindade foi informado por um ourives que lhe tinha chegado às mãos uma cadeia de ouro formada de oito hélices cilíndricas. A jóia tinha sido encontrada na propriedade da Pena Seca (São Mamede), que fica à beira da estrada que vai do Bonabal para Casal do Vale. Em meados do mesmo mês, chegou às mãos de outro ourives um bracelete de ouro proveniente do mesmo local, Pena Seca, mas de outra propriedade que confinava com a primeira. É de presumir que estes achados pertencessem a um tesouro enterrado, que os trabalhos agrícolas devem ter dispersado revolvendo a terra. Todo o conjunto é enquadrável na época do Bronze Inicial, mas a cadeia poderá ser um pouco mais antiga. As hélices de ouro são comuns entre os achados arqueológicos desta época, sendo geralmente feitas de fio simples, enrolado por batimento a martelo e por aquecimento, podendo ser datáveis desde o final do Calcolítico até à Idade do Bronze (Argárico). As de Torres Vedras são formadas de um fio não muito grosso, de secção circular com as pontas afiladas. O bracelete é uma argola maciça de ouro, penanular e de secção cilíndrica. A forma actual é a elíptica, mas está deformado. É possível que não fosse um bracelete, mas sim um aro de ouro que servia como valor de peso nas trocas e transacções. Qualquer que fosse a sua utilização inicial, os achados em ouro do Bonabal podem atestar de um alto estatuto das comunidades que aí viveram, pois as jóias eram símbolos de poder, reservadas às principais famílias das comunidades deste tempo. BIBL.: ABREU, Mila Simões de, «A Ourivesaria Arcaica Portuguesa», in PEREIRA, Paulo, História da Arte Portuguesa, Temas & Debates, vol. I, 1995, pp. 71-73; TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. da Veiga, Tesouro pré-histórico de Bonabal (Torres Vedras), Guimarães, 1964 (separata de Revista de Guimarães, vol. LXXIV, 1964).

30. Tesouro - Outeiro da Cabeça – de MMLT.001707 a MMLT.001726

No Outeiro da Cabeça, em 1929, foi descoberto um tesouro áureo, quando se procedia à lavra de um terreno junto ao Casal das Passadeiras. O conjunto é formado, entre outras peças, por elementos discóides decorados com circunferências concêntricas em relevo, conjugadas com motivos impressos a punção; brincos em fio de ouro, em forma de “sanguessuga” e com pontas afiadas para se fixarem no lóbulo; e várias argolas que seriam elementos de um colar. Este conjunto representa um importante achado do período de transição entre a Idade do Bronze e a Idade do Ferro (séc. X-IX a.C.), mostrando já o uso da fusão do metal, em vez de simples martelamento. Artefactos como estes estariam associados aos grupos de poder, tratando-se certamente de elementos de adorno e de ostentação pessoal entre as figuras femininas de alto estatuto. 20

IDADE DO FERRO A Primeira Idade do Ferro, na Península Ibérica, desenvolveu-se com o estabelecimento de colónias e feitorias comerciais de origem fenícia. Essa influência sentiu-se sobretudo a Sul, principalmente no reino de Tartessos, na Andaluzia. Foram os fenícios que trouxeram para a Península um conjunto de inovações tecnológicas, entre as quais se destacam a roda de oleiro e a técnica da redução do ferro, mas também, provavelmente, a escrita, que aparece no espaço do sul peninsular desde o século VIII a.C. Nas escavações arqueológicas no território português, encontraram-se várias peças que se relacionam com o mundo tartéssico orientalizante, nomeadamente objectos fabricados em oficinas indígenas que seguem modelos tipicamente orientais. A sua presença em Portugal não pode relacionar-se directamente com o comércio fenício, mas deve conectar-se com a região tartéssica (Ana Margarida Arruda, in ALARCÃO e SANTOS, 1996, 41-42). 31. Jarro tartéssico (bronze) (23 x 10,5 cm) – Alto de São João / Av. Humberto Delgado (AJ/1) – MMLT.002125

Asas de braseira (bronze) (25 x 17 cm) – Alto de São João / Av. Humberto Delgado (AJ/2) – MMLT 002126 e MMLT.002127

Numa sepultura escavada na região de Torres Vedras, perto do cemitério de São João, foi encontrada uma associação de artefactos típica do mundo orientalizante, frequentemente denominado “tartéssico”. Tratam-se de asas de uma bacia de libação, semelhante às utilizadas nas braseiras actuais, e um jarro (oinochoe), ambos de bronze. Esta associação sugere uma utilização destes artefactos para abluções, provavelmente com algum significado simbólico, visto encontrarem-se frequentemente em contextos funerários. As peças são cronologicamente situáveis no período de apogeu do comércio fenício ocidental do século VII a.C. Segundo Ana Margarida Arruda, estas peças seriam fabricadas em oficinas peninsulares com contactos com o mundo oriental (muito provavelmente Cástulo) a partir de modelos orientais. São peças semelhantes a outras encontradas em Espanha, na área tartéssica. Este achado é significativo porque permite pensar que as ligações com o mundo tartéssico foram 21

além da importação de trocas comerciais, consubstanciando-se também na importação de rituais funerários (GONÇALVES, 1995). O jarro ou “oenochoe” piriforme em bronze, possui um colo troncocónico, o gargalo estreito e a boca trilobada, sendo que o fundo é plano. Apresenta uma asa vertical tripartida, incompleta, rematada na parte inferior por uma palmeta com pétalas radiais, que evoluem a partir de duas volutas invertidas. Por sua vez, o par de asas de braseiro de secção circular, são suspensas de um suporte curvo, que termina numa forma que lembra a de duas mãos estendidas.

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PARTE II

DA OCUPAÇÃO ROMANA À FUNDAÇÃO DE PORTUGAL OCUPAÇÃO ROMANA

INVASÕES BÁRBARAS

OCUPAÇÃO MUÇULMANA

c. 138 a.C.

c. 409 d.C.

711 d.C.

Antes da chegada dos romanos, a região de Torres Vedras era habitada por populações de origem céltica, nomeadamente pelos lusitanos e pelos túrdulos, vindos da Bética. Tendo a conquista romana iniciado cerca do século II a.C., terá sido no ano 138 a.C., que as forças do cônsul Décimo Júnio Bruto, que se dirigiam para Norte, chegaram à atual cidade de Torres Vedras. Depois de efetivada a conquista da Península, com a organização territorial estabelecida pelo Império, esta região ficou a pertencer à Província da Lusitânia, integrada do ponto de vista judicial e administrativo no conventus Scallabitanus (sede em Scallabis – Santarém), fazendo parte do ager de Olisipo (Lisboa). Pelos testemunhos recolhidos nas estações arqueológicas, e nomeadamente pela epigrafia, poderá afirmar-se que as populações que aqui viviam foram permeáveis à romanização, refletindo sobretudo uma forte ligação com Olisipo. Não existem dados que comprovem que em Torres Vedras, na época Romana, houvesse uma localidade com as dimensões e a importância de um vicus, mas é provável que aqui existisse um oppidum (praça fortificada) que teria talvez o nome de Chretina. O povoamento era disperso e grande parte da população habitava em villae (estabelecimentos rurais urbanizados) e é aliás significativo que no período do Baixo Império o nome turris fosse sinónimo de villae. A maioria da população dedicava-se a atividades agrícolas, nomeadamente à produção de azeite e de vinho. Existem vestígios da ocupação romana em Ferrarias, Penedo (Runa), Quinta da Macheia, Quinta da Portucheira (Matacães), Quinta de São Gião (Santa Maria), Serra de São Julião, Sevilheira e Torres Vedras (Mercado Municipal, Castelo e Cemitério de São João). Poderá assumir-se que a presença romana na região se manteve até aos séculos V e VI d.C., sendo sucessivamente substituída pela dos Suevos, Visigodos e Muçulmanos. Não se sabe ao certo quando o castelo foi fortificado, mas existia uma fortificação durante a ocupação árabe e as primeiras muralhas terão sido reedificadas e ampliadas no ano 920. Do período muçulmano restam escassos vestígios, contando-se entre eles um forno cerâmico, encontrado nas antigas instalações da Casa Hipólito. Neste tempo recuado, Torres Vedras era sede de circunscrição da província de Belata e, no castelo, terá sido instalado o centro administrativo e religioso da região (LUNA e AMARO, 2009, 23). 32. Moedas romanas - Numismática Denário, família Minucia (134 a.C.) - MMLT.005629 Semis, de Kastulo (séc.II a.C.) - Castelo de Torres Vedras - MMLT.005616 23

Sestércio, imperador Adriano – Torres Vedras – MMLT.002115 Sestércio, imperador Maximino – Torres Vedras – MMLT.002116 Sestércio, imperador Filipe I (o árabe) – Torres Vedras – MMLT.002117 Sestércio, imperador Gordiano III – Aldeia do Penedo (T.V.) – MMLT.005355

As moedas estão entre os objetos mais comummente encontrados nos espólios arqueológicos. Na época romana, serviam não só como agente económico, utilizado na aquisição de produtos e pagamento de serviços, mas também como objeto de propaganda política, o que se verificou principalmente no período Imperial. As moedas eram cunhadas em metais preciosos (ouro, prata e bronze) e gravadas com relevos figurativos. Na cara (anverso) de cada moeda figurava o retrato do Imperador, Imperatriz ou de um membro notável da família imperial. Na coroa (reverso) ficavam imagens da vida civil, social, militar, ou religiosa. Em Torres Vedras foram encontradas numerosas moedas, hoje guardadas no Museu Leonel Trindade, que remontam à época republicana. Destacam-se os denários de prata, entre os quais se encontra um da família Minucia, que tem as inscrições ROMA e MINUCI AUGURINI, datado de 134 a.C.. Num dos lados mostra a cabeça de Roma com um elmo, no outro apresenta uma coluna, encimada por uma estátua, e ladeada por duas figuras togadas. Por outro lado, recentemente, José Ruivo estudou as moedas do século III que se encontram no Museu, afirmando que teria existido um tesouro na região de Torres Vedras, ao qual pertenceriam as moedas de Valeriano, Galieno, Cláudio II e Quintilo. BIBL. RUIVO, José da Silva, Circulação Monetária na Lusitânia do século III, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2008, 2 volumes (Tese de Doutoramento); Denarios [http://www.denarios.org], consultada a 27 de Novembro de 2012.

33. Estela funerária (93x70x15,5) – 1.ª met. Séc. I d.C. – Quinta da Portucheira (Matacães) – MMLT.000009 Epígrafe: REBVRRVS . / TVSCI . F(ilius) . ET / TVSCA . TVSCIF(ília) Reburro, filho de Tusco, e Tusca, filha de Tusco (estão aqui sepultados)

A região de Torres Vedras é rica pelo seu espólio de epigrafia, cuja cronologia se estende desde os séculos I ao III d.C. A estela da Portucheira é uma estela de tipo semicircular, descoberta em 1930, junto da casa da Quinta da Portucheira (Matacães). O aspecto geral do monumento, em bom estado, é rude. O campo superior ostenta um arco em contrafilete e uma rosácea cruciforme inscrita num círculo, ladeado por dois duplos círculos concêntricos. A zona intermédia corresponde ao campo epigráfico e o campo inferior é decorado com um motivo em forma de segmento de coroa circular, envolvendo um traço horizontal, lateralmente sobrepujado por dois círculos concêntricos. Este tipo de estela é frequente no Norte de Portugal, mas também tem surgido em outras zonas do País, como na Estremadura. Pelo tipo de decoração de símbolos astrais, 24

testemunham a sobrevivência dos cultos indígenas durante o domínio romano. O próprio texto insinua uma ligação à cultura local, pois o antropónomo Reburrus é vulgar na onomástica peninsular, sendo de origem hispânica. Tuscus é um cognome romano, frequente na Península, refletindo o estabelecimento de indivíduos de origem itálica nesta zona. Neste caso deve ter um significado ligado à adoção, por parte da população autóctone, de nomes romanos isolados, os nuda nomina. No que respeita ao simbolismo das formas representadas, poderá afirmar-se que os arcos na extremidade superior indicam o firmamento, a rosácea cruciforme é um símbolo solar e os círculos concêntricos representam o Mundo, o Céu e a Terra. Por baixo da inscrição, o segmento de coroa circular será uma representação do arcoíris. Bibl.: BELO, Aurélio Ricardo, Símbolos astrais das lápides luso-romanas, Lisboa, 1959 (separata do Boletim “Estremadura” da Junta de Província, 1957-1958); MANTAS, Vasco Gil, Inscrições romanas do Museu Municipal de Torres Vedras, Universidade de Coimbra, 1982 (separata de Conimbriga, Vol. XXI).

34. Estela funerária (155 x 40 x 22 cm) – 2.ª met. Séc. I d.C. – Louriceira (S. Pedro, Torres Vedras) – MMLT.000011 Epígrafe: RVFI BOVII (Sepultura) de Rufo, (filho) de Bóvio

A Estela da Louriceira foi encontrada em 1857, numa terra próxima da Louriceira (São Pedro). Aparenta a forma de uma espátula, com o topo semicircular. Pertence à tipologia das lápides com símbolos astrais e, nesse sentido, Aurélio Ricardo Belo interpreta os dois retângulos verticais nela inscritos como símbolos das portas do céu. O campo superior comporta um ornato em forma de arco, que pode ser entendido como um crescente, o que se relaciona com o culto lunar, que era já antigo na Península. Há que assinalar o facto de este crescente se encontrar invertido, o que se conecta com a simbólica associada à deusa púnica Tanit, cuja devoção está documentada em Roma, na África do Norte e na Hispânia. Acrescente-se que o nome Rufus, citado na estela, é um cognome latino, muito frequente na epigrafia hispanoromana. BIBL.: BELO, Aurélio Ricardo, Símbolos astrais das lápides luso-romanas, Lisboa, 1959 (separata do Boletim “Estremadura” da Junta de Província, 1957-1958); MANTAS, Vasco Gil, Inscrições romanas do Museu Municipal de Torres Vedras, Universidade de Coimbra, 1982 (separata de Conimbriga, Vol. XXI).

35.

Pedestal (143 x 73 x 41 cm) - 1.ª met. Séc. I d.C. - Capela de São João Baptista (S. Pedro, Torres Vedras) – MMLT.000004 Epígrafe: M(ARCO) . IVLIO . M(ARCI) . F(ÍLIO) . GAL(ERIA TRIBU) / CRESCENTI / L(UCIUS) . VALERIVS . ARCO . SOCER / EX . T(ESTAMENTO) . F(ACIENDUM). C(URAVIT) . S(IT) . T(IBI) (HEDERA) T(ERRA). L(EVIS) (HEDERA) A Marco Júlio Crescente, filho de Marco, da tribo Galéria, o sogro, Lúcio Valério Arcão, por disposição testamentária, mandou fazer (este monumento). Que a terra te seja leve!

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O grande pedestal funerário, proveniente da capela de São João Baptista (São Pedro, Torres Vedras), foi usado num cunhal exterior. Apesar de não ter decoração, é um dos melhores monumentos que se conservam no Museu Leonel Trindade, devido à sua inscrição, que se relaciona com um ambiente social e económico elevado e plenamente romanizado. Os nomes citados referem-se provavelmente a cidadãos romanos, pelo que esta epígrafe é um vestígio do fenómeno de aculturação resultante da romanização. Note-se a referência à tribo Galéria, muito comum no município de Olisipo. BIBL.: MANTAS, Vasco Gil, Inscrições romanas do Museu Municipal de Torres Vedras, Universidade de Coimbra, 1982 (separata de Conimbriga, Vol. XXI).

36.

Lucerna de cinco bicos com busto de Júpiter Capitolino (16,2 cm) - 2.ª met. Séc. I d.C. – Alentejo – MMLT.001232

Lucerna de canal com busto de jovem (11,4 cm) – Séc. I-II d.C. – Alentejo – MMLT.001234

As lucernas, que, como é sabido, serviam para a iluminação, eram produzidas em barro, bronze ou vidro – sendo que as mais vulgares eram as de barro. Tinham um reservatório para o combustível (geralmente azeite), denominado de infundibulum; que era coberto pelo discus, e que por sua vez era rodeado por uma orla denominada de margo; o bico chamava-se rostrum, nasus ou myxus; a asa era apelidada de ansa ou manubrium. O fabrico das lucernas era feito em oficinas, com a ajuda de moldes, o que permitia a difusão de modelos. Em Portugal surgiram alguns moldes que parecem confirmar a existência de oficinas em Conimbriga, Alcácer do Sal, perto de Serpa e Braga. Muitos dos fabricantes apunham a sua marca às lucernas que produziam. Ricardo Belo trouxe para o Museu de Torres Vedras duas lucernas provenientes do Alentejo, que merecem ser referidas devido à sua raridade. A lucerna de cinco bicos (polimyxus) é uma peça rara, não só por ter cinco bicos, mas também pela asa com decoração em forma de crescente lunar. A decoração mitológica gravada na asa representa provavelmente a figura de Júpiter Capitolino, com o raio e o cetro (ou a lança). A orla do disco é decorada com óvulos intercalados por motivos vegetais estilizados que lembram folhas. Os cinco bicos são

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trapezoidais, decorados com volutas estilizadas. Tem a marca CTP, que se associa à de a um oleiro centro-itálico. A lucerna com canal ou firmalampe, possui uma morfologia simples e funcional, sendo o seu corpo em forma troncocónica. O disco é côncavo e é decorado com a efígie de uma cabeça barbada de um jovem. Datável dos séculos I-II d.C., tem a marca do oleiro romano Litogenes. BIBL.: BELO, Aurélio, TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. da Veiga, Lucerna polimyxos do Museu de Torres Vedras, Guimarães, 1963 (separata da Revista de Guimarães, vol. LXXIII, 1963); SEPÚLVEDA, Eurico de, SOUSA, V. Rafael Cordeiro de, Lucernas Romanas – Catálogo, Câmara Municipal de Torres Vedras – Museu Municipal Leonel Trindade, 2000.

37.

Lucerna com cena de caça (11,8 cm) – Séc. I-II d.C. – Torres Vedras - TVM/1 – MMLT.001238

Lucerna com busto de Hélios (12,4 cm) – Séc. III d.C. - Aldeia do Penedo - AP/184 – MMLT.000998

Entre as Lucernas que se encontraram na região de Torres Vedras, algumas surgiram no contexto de antigas villae e outras em espólios de necrópoles. Este simples facto vem lembrar que as lucernas eram não só utilizadas no quotidiano normal, mas também tinham um papel de relevo nos ritos funerários ou como oferenda religiosa. A lucerna encontrada no Mercado de Torres Vedras, onde seria uma necrópole, é datável dos séculos I-II d.C. e é comparável a outras produzidas na Itália Central. A decoração do disco mostra uma cena de venatio (caça), com um cão a atacar um javali. A iconografia da caça surge por vezes em contextos funerários, aliada à ideia de vitória sobre a morte; mas importa notar, como refere Carlos Pereira (2008), que as cenas de caça com cães são comuns nas lucernas do século I, e que, por outro lado, esta iconografia poderá ainda relacionar-se com as lutas de animais no anfiteatro. A lucerna apresenta na base uma marca em forma de palma, com sete folhas e é possível que fosse uma produção das olarias do Estuário do Sado. Note-se ainda que tem paralelo com outra de Alcácer do Sal, datável da 2.ª metade do século III. A lucerna com o busto de Hélios é mais tardia, sendo datável do século III. Tem uma marca de oleiro e lembra uma lucerna de Quintos (Beja). Segue uma forma-tipo, com orla marcada e decorada com estrias radiais, que costuma estar associada a uma ornamentação simbólica ligada à mitologia. Neste caso a figura representada será Hélios (Sol), representado com sete raios, cabelo sobre os ombros, túnica presa por fíbulas circulares. Acrescente-se que esta lucerna foi encontrada na Aldeia do Penedo, que teria sido uma villa com alguma importância. Neste espaço também se acharam outros vestígios, como um fragmento de mosaico e um capitel coríntio do séc. I, que demonstram que se tratava de um espaço intensamente romanizado desde o início do período Imperial. 27

BIBL.: BELO, Aurélio Ricardo, Nótula sobre quatro lucernas romanas de barro, inéditas, Lisboa, 1959 (separata do Boletim “Estremadura” da Junta de Província, 1959); SEPÚLVEDA, Eurico de, SOUSA, V. Rafael Cordeiro de, Lucernas Romanas – Catálogo, Câmara Municipal de Torres Vedras – Museu Municipal Leonel Trindade, 2000; «Torres Vedras no Tempo dos Romanos - 7lucernas», 11 de Maio de 2009, in Vedrografias [http://vedrografias2.blogspot.com/2009/05/torres-vedras-no-tempo-dosromanos-7.html], consulta da 24/2/2012; TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. da Veiga, Objectos inéditos lusitano-romanos do Museu de Torres Vedras, Lisboa, 1964 (separata do Boletim da Junta Distrital de Lisboa, n.ºs LXI-LXII, II.ª série, 1964).

38.

Lucerna de bronze (18,8 cm) – Séc. I-II d.C. - Quinta de São Gião – MMLT.001392

A lucerna de São Gião foi encontrada numa sepultura e está incompleta, pois falta-lhe a asa. É uma peça relevante porque as lucernas de bronze são raras e é possível que fossem de custo mais elevado do que as de cerâmica. Esta lucerna apresenta um corpo alongado que se liga ao bico, dentro de uma tipologia que era comercializada nos séculos I-II d.C.. Todo o conjunto, tampo-rostrum, é circundado por uma moldura simples em relevo. O sítio de São Gião seria uma villa que teria uma necrópole, pois perto da ermida também foi encontrada, em 1931, uma cupa, datável dos séculos I-II. Poderemos estar na presença de um espólio de uma família romanizada de estrato social elevado, asserção que poderá ser corroborada pelas outras epígrafes encontradas no mesmo local. Importa ainda acrescentar que a Quinta de São Gião parece ter sobrevivido à ocupação suévica e visigótica, mantendo a existência da villa romana como centro religioso, o que tem comparação com São Miguel de Odrinhas. BIBL.: MANTAS, Vasco Gil, Inscrições romanas do Museu Municipal de Torres Vedras, 1982 (separata de Conimbriga, Vol. XXI), Universidade de Coimbra; SEPÚLVEDA, Eurico de, SOUSA, V. Rafael Cordeiro de, Lucernas Romanas – Catálogo, Câmara Municipal de Torres Vedras – Museu Municipal Leonel Trindade, 2000; TRINDADE, Leonel, FERREIRA, O. da Veiga, Objectos inéditos lusitanoromanos do Museu de Torres Vedras, Lisboa, 1964 (separata do Boletim da Junta Distrital de Lisboa, n.ºs LXI-LXII, II.ª série, 1964).

39.

Lucerna de pé alto (7,9 x 8,4 cm) – Séc. IV-V d.C. – Quinta da Portucheira - QP/84 – MMLT.001245

A lucerna da Quinta da Portucheira é uma lucerna tardia (séculos IV-V d.C.), que já foi considerada “raríssima” e de inspiração púnica, devido à sua forma com o infundibulum muito elevado, com três molduras circulares paralelas. Faz uma simbiose entre uma lucerna de base plana e uma de pé alto e cilíndrico, e seria talvez para ser fixada num candelabro. Feita a partir de uma argila de cor alaranjada, é provável que tenha sido elaborada num torno de oleiro. Seria munida de uma asa pequena e encontra-se decorada no topo com incisões tipo bago de arroz (volutas simuladas). Resta acrescentar que este tipo de lucernas apenas foi encontrado na Península Ibérica. BIBL.: SEPÚLVEDA, Eurico de, SOUSA, V. Rafael Cordeiro de, Lucernas Romanas – Catálogo, Câmara Municipal de Torres Vedras – Museu Municipal Leonel Trindade, 2000; SERRANO, Liliana Isabel Marques, Lucernas, Candis e Candeias. Para uma distribuição geográfica no território português, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2011 (Tese de Mestrado); TRINDADE, Leonel,

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FERREIRA, O. da Veiga, Objectos inéditos lusitano-romanos do Museu de Torres Vedras, Lisboa, 1964 (separata do Boletim da Junta Distrital de Lisboa, n.ºs LXI-LXII, II.ª série, 1964).

40.

Taça de cerâmica sigillata africana clara (12,6 cm) – Séc. III d.C. - Sevilheira – MMLT.001529

A terra sigillata é um tipo de cerâmica de luxo produzida no período romano, cujo nome deriva do selo (sigilum) com que era marcada pelo oleiro ou oficina que a fabricava. A peça de cerâmica era coberta por um engobe de argila quase vitrificado, que lhes dava além de maior beleza, um carácter mais resistente e de maior impermeabilidade. Nas estações arqueológicas de Torres Vedras foram encontradas várias peças de cerâmica do tipo terra sigillata. O espólio, que se encontra à guarda do Museu Leonel Trindade, está inserido nos grupos tradicionais de produção provenientes da Gália, Hispânia, África do Norte e Ásia Menor. A Taça da Sevilheira é uma peça em terra sigillata africana clara. Encontra-se praticamente inteira (tendo sido restaurada) e apresenta decoração de relevos aplicados na aba, o que se adequa ao estilo dos finais do século III (forma Hayes 52b). A aba da taça ostenta venationes entre animais, com uma leoa a perseguir um cervídeo. Há uma terceira figura, truncada, que corresponde a um golfinho, que fica afrontado à cena antes descrita. Estes três animais estão separados, entre si, por três círculos, conseguidos, igualmente, pela aplicação de relevos. Bibl.: SEPÚLVEDA, Eurico de, SOUSA, Élvio Melim de, SOUSA, Vítor Cordeiro de, «Cerâmicas finas romanas do Museu Municipal Leonel Trindade (Torres Vedras) II: a terra sigillata», in Revista Portuguesa de Arqueologia, v. 6, n.º 1, 2003, p.299-321; «Terra sigillata», in Arqueo.org [http://www.argarvio.com], consultada a 4 de Abril de 2012.

41.

Taça de cerâmica sigillata hispânica – Séc. IV d.C. – Aldeia do Penedo (Runa) - AP 074/090/101 – MMLT.005367

Entre as peças de cerâmica sigillata hispânica há uma taça que foi reconstruída a partir de fragmentos (forma Drag. 37/Hisp. 37B/Palol 37t). Produzida em pasta laranja-avermelhada, a decoração é feita com motivos geométricos inscritos em bandas horizontais. É uma taça de fabrico tardio, talvez do seculo IV, provavelmente originária das oficinas de La Rioja ou das olarias da bacia do Douro. O seu tamanho é pouco vulgar para a tipologia correspondente à sua forma, e a composição decorativa não é muito usual, podendo ser inserida no 1.º Estilo de Mayet. Apresenta o pormenor do «gato» de chumbo aplicado em época romana. Bibl.: SEPÚLVEDA, Eurico de, SOUSA, Élvio Melim de, SOUSA, Vítor Cordeiro de, «Cerâmicas finas romanas do Museu Municipal Leonel Trindade (Torres Vedras) II: a terra sigillata», in Revista Portuguesa de Arqueologia, v. 6, n.º 1, 2003, p. 299-321.

29

42.

Capitel de estilo coríntio (49x43x31cm) – Aldeia do Penedo (Runa) – MMLT.000339

O capitel coríntio encontrado na aldeia do Penedo mostra sinais de desgaste, mas ainda permite contemplar o relevo esculpido estilizado das folhas de acanto, que caracterizam os capitéis deste estilo arquitetónico originário da Grécia, nos séculos IV e V a.C.. O estilo coríntio foi o mais empregue em todo o Império Romano, sobretudo desde a época de Augusto e o capitel de Torres Vedras é de grande qualidade, apresentando todos os elementos que constituem o cânone desta ordem. Segundo Lídia Fernandes, que estudou profusamente esta peça, na execução deste capitel foi utilizado o bisel nos pormenores decorativos, o trépano de forma pontual para acentuar certos pormenores, e abrasivos de afeiçoamento e de polimento. As folhas estão bem esplanadas e o caulículo apresenta um tratamento cuidado de forma a proporcionar um efeito naturalista. O ábaco está muito apagado, mas teria uma forma biselada, sendo os lados côncavos decorados no centro por uma flor. A qualidade deste achado, que pertenceria a um edifício da villa (templo, peristilo de habitação ou balneário), é ilustrativo de que se estava num contexto bem romanizado. BIBL.: FERNANDES, Lídia Maria Marques, Capitéis romanos da Lusitânia Ocidental, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1997, 4 volumes (Tese de Mestrado).

43.

Colunelo (28x14,5x12,5cm) - Convento da Graça – MMLT.000343

No convento da Graça encontrou-se um colunelo esculpido, que seria o suporte de mesa ou consola. A escultura apresenta o relevo de uma mão segurando um cacho de uvas, realizada com delicado naturalismo, o que não afasta uma leitura simbólica, pois as uvas remetem para o contexto dionisíaco, estando conectadas com as ideias de abundância e de vitalidade. Acrescente-se que no contexto judaico-cristão as uvas continuam a ter um valor simbólico, ligadas à Eucaristia. BIBL.: «Torres Vedras no Tempo dos Romanos – Anexo – Vestígios no Concelho», 13 de Maio de 2009, in Vedrografias [http://vedrografias2.blogspot.com/2009/05/torres-vedras-no-tempo-dos-romanos_13.html], consulta a 24 de Fevereiro 2012.

44.

Capitel de ara da Carvoeira (25,5 x 62 x55,5 cm) – Séc. III d.C. - Igreja Matriz Carvoeira – MMLT.000358

Os capitéis de ara eram capitéis que se sobrepunham aos altares, cuja decoração evoluiu do capitel jónico, sendo a zona superior denominada de fastigium (fastígio) e a inferior de plinto. 30

Estes capitéis são tradicionalmente decorados com volutas; folhas de palma (ao centro da zona frontal do fastígio), que simbolizam a ideia de vitória, ascensão e imortalidade; e rosetas, símbolo de regeneração, com conotação solar. Quem estudou melhor esta peça foi Carlos Vieira, que verificou que no capitel da Carvoeira, feito em calcário, o fastígio foi decorado, na zona central do frontão, com uma folha de palma estilizada, ladeada por duas volutas espiraliformes, que se opõem a outras duas nas extremidades que enrolam no sentido inverso, criando assim um efeito ondulado. O plinto foi ornamentado com um friso de motivos vegetalistas à base de folhas de água e de palma. Segundo o mesmo autor, este capitel mostra uma simplificação decorativa que pode indicar ter sido fabricado numa oficina local. BIBL.: VIEIRA, Carlos Jorge Canto, Capitéis de ara do Municipium Olisiponense, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1998 (Tese de Mestrado).

45.

Capitel de ara de São Gião (45 x 68 x53 cm) – 2.ª met. Séc. III d.C. - Quinta de São Gião - MMLT.001192

No capitel de São Gião, também de calcário, o fastígio foi decorado, na face principal, com uma folha de palma estilizada em forma de bico. Vêm-se lateralmente duas rosetas de seis pétalas com disco central, inscritas em círculos. Nas extremidades notam-se restos de volutas que seriam decoradas com rosas. O plinto foi ornamentado com caneluras, mostrando nas faces laterais rosetas hexagonais, ladeadas por círculos, contendo um motivo cruciforme. BIBL.: VIEIRA, Carlos Jorge Canto, Capitéis de ara do Municipium Olisiponense, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 1998 (Tese de Mestrado).

46.

Capitel Paleocristão (20 x 29 cm) – Séc. IX d.C. - Aldeia do Penedo – MMLT.000360

Com as invasões bárbaras, primeiro dos Suevos, depois dos Visigodos, não houve uma substituição súbita dos comportamentos artísticos. Houve até continuidade das técnicas construtivas e dos tipos decorativos, como se pode ver neste capitel que acusa uma estilização simplificada da ordem coríntia. Trata-se de um capitel troncocónico, sem imposta, que foi estudado por Filomena Limão. Esta historiadora refere que o capitel ainda mantém os elementos fundamentais do capitel coríntio, com folhas, hélices e volutas. Está ainda presente o ábaco que tem um florão no centro que, neste caso, vai variando consoante as faces do capitel. Numa das faces melhor conservadas, o florão é um círculo com uma roseta de seis pétalas em estrela com as pontas em quadrado e botão central. O capitel, cuja datação deverá rondar o século IX, distingue-se dos modelos clássicos por ser uma peça de corpo único,

31

realizada em relevo baixo. É interessante o facto de ter um paralelo, muito próximo, com um capitel do Cadaval. Bibl. LIMÃO, Filomena, Capitéis da Antiguidade Tardia em Portugal (Séculos III/IV-VIII), Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, 2010, 5 volumes (Tese de Doutoramento).

47.

Candis árabes (16,4x76x69cm; 16,4x76x69cm) – Séc. IX-XII d.C. - MMLT. 001765 e MMLT. 001776

No Museu Leonel Trindade guardam-se dois candis com bico de canal, muito semelhantes entre si, provenientes do Algarve. Ambos foram produzidos em barro, de cor castanha clara, pertencendo a um tipologia que é comum para os candis islâmicos. Estes objetos de iluminação parecem ser uma derivação da lucerna romana, mas apresentam diferenças, que já foram notadas por José Leite de Vasconcelos: o bico (myxa) é mais comprido; a asa é mais desenvolvida e mais alta; e a forma de gargalo, por onde se deitava o combustível (que seria o azeite) é mais elevada. No Museu Nacional de Arqueologia existem candis muito parecidos com do Museu Leonel Trindade, também encontrados no Algarve, datados entre os séculos IX e XII da nossa era. Bibl.: SERRANO, Liliana Isabel Marques, Lucernas, Candis e Candeias. Para uma distribuição geográfica no território português, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2011 (Tese de Mestrado).

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PARTE III

IDADE MÉDIA – ENTRE OS SÉCULOS XII E XV FUNDAÇÃO DE PORTUGAL – INÍCIO DA PRIMEIRA DINASTIA

CONQUISTA DE TORRES VEDRAS AOS MOUROS

INÍCIO DA SEGUNDA DINASTIA

CONQUISTA DE CEUTA

SÃO GONÇALO DE LAGOS É PADROEIRO DE TORRES VEDRAS

1143

1148

1385

1415

1495

Em 1148, Torres Vedras foi arrolada entre as conquistas de D. Afonso Henriques, passando a fazer parte do Reino de Portugal. Durante a crise política de 1383-1385, por vontade do alcaide João Duque, a cidade ficou do lado de Castela, sendo cercada pelo Mestre de Avis, futuro rei D. João I, fundador da Dinastia de Avis. Resolvida a crise, já em 1414, D. João I reuniu em Torres, para deliberar a realização da expedição a Ceuta, que marcou o início da expansão portuguesa. Durante a Idade Média não havia uma centralização política e a corte era onde o rei estivesse, tendo esta cidade recebido a presença real com D. Dinis (1300 e 1318), D. Afonso IV (1335), D. Pedro I (1365 e 1357), D. Fernando (1367 e 1375) e D. Afonso V (1449, 1458, 1468 e 1473). Cerca de 1434, foi aqui que nasceu D. Leonor, filha de D. Duarte, que se iria casar com o Imperador alemão Frederico III (1452). No ano de 1441, realizaram-se, pela única vez, as cortes em Torres Vedras. Na Idade Média, as propriedades eram posse do Rei (Reguengos), da Nobreza (Honras) e da Igreja (Coutos). Existiam ainda parcelas livres (alódios) que era trabalhadas por alguns camponeses. Em Torres Vedras, os direitos reais da vila pertenciam à Casa das Rainhas, pelo menos desde 1277, quando D. Afonso III doou o senhorio da vila a sua mulher, D. Beatriz de Gusmão. O Paço régio (hoje desaparecido) ficava numa esquina entre a Rua dos Mercadores e a rua que ia para o Chafariz dos Canos. Contavam-se quatro igrejas matrizes, sendo primeiramente fundada a de Santa Maria do Castelo, possivelmente erguida sobre uma antiga mesquita. Mais tarde surgiram as freguesias de São Pedro, São Miguel e São Tiago. O primeiro Foral de Torres Vedras foi doado por D. Afonso III, a 15 de Agosto de 1250. Neste documento legislava-se a vida quotidiana da vila, estabelecendo direitos, deveres e normas. Pelo foral, poderá aferir-se que a comunidade já se apresentava estruturada em torno de algumas atividades económicas: agricultura, comércio, artesanato e pesca. Os grupos sociais eram, entre outros, os homens-bons (equivalente à burguesia), os clérigos, os almocreves, os trabalhadores de ofícios e os que se dedicavam à agricultura, mas também os mouros, escravos muçulmanos, que ficavam na base da estratificação social. A vila era pequena, sendo preferencialmente ocupados os terrenos do sul e do interior. As muralhas (de que resta um pequeno troço junto ao Chafariz dos Canos), 33

terão sido construídas cerca de 1400 e estendiam-se para sudeste do castelo, circundando o chafariz dos canos, a Igreja de São Pedro, o “Outeirinho” (perto do Largo da Graça), a Igreja de São Tiago, o antigo convento de Santo Agostinho e os quarteirões junto da Rua dos Cavaleiros da Espora Dourada (que corresponde em parte à antiga Rua dos Mercadores). Era uma vila marcadamente rural e nas terras de cultivo produziam-se cereais, vinho e azeite, mas também havia hortas e pomares. A primeira feira anual foi instituída, por D. Dinis, em 1293, inicialmente realizando-se no mês de Maio e depois (desde 1318) no mês de Junho, antecedendo a tradicional feira de São Pedro (que foi instituída em 1521). 48.

Jogo do moinho – séculos XIII-XIV – pedra de arenito – 38x23x6 cm - Castelo de Torres Vedras – MMLT.001822

O tabuleiro com o jogo do moinho foi encontrado próximo da necrópole do Castelo de Torres Vedras, durante as escavações arqueológicas realizadas entre 1983 e 1984. O jogo do moinho é um jogo de cálculo muito antigo, que se caracteriza pela representação de três retângulos concêntricos, incisos e interligados por meio de duas perpendiculares, formando dezasseis linhas que comportam vinte e quatro pontos. Podia ser desenhado ou gravado no chão, ou noutros materiais que estivessem disponíveis. Era um jogo muito popular entre os soldados e há um exemplar, idêntico ao de Torres Vedras, encontrado no Castelo de Idanha-a-Nova. O tabuleiro de Torres Vedras mostra, do lado inverso ao do jogo, a gravação de uma flor de lis (ou cruz de Santiago) incerta num retângulo, rodeada por quatro cruzes páteas arredondadas, tendo em baixo, do lado direito, uma figura humana estilizada, provavelmente de um soldado, que ergue o braço direito em direção à base da flor de lis, como se de uma espada se tratasse. Bibl.: Crianças de hoje e de ontem no quotidiano de Conímbriga: catálogo, Condeixa-a-Nova, Museu Monográfico de Conimbriga, 2000; «Escavações arqueológicas detectam raro espólio medieval no castelo de Torres Vedras», in Diário de Lisboa, 17/9/1986; «Exposição virtual – Jogos ancestrais», in Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa [http://mat.fc.ul.pt/mej/expo.html], consultada a 25/4/2012.

49.

Ceitis de D. Afonso V – Castelo de Torres Vedras – MMLT.000470

Nas escavações efetuadas no Castelo de Torres Vedras foram recolhidas dezoito moedas. Da época medieval é um Real preto de cobre, de D. João I (1385-1433), que surgiu na camada de assentamento do piso da barbacã, datado da segunda metade do século XV. Encontraram-se também dois ceitis de D. Afonso V (1438-1481), um deles bem conservado. Também nas escavações do poço dos Paços do Concelho (2000) se encontraram restos de uma bolsa de tecido, contendo vinte e cinco ceitis de D. Afonso V. Importa notar que os ceitis são moedas que têm sido objeto de alguma atenção pois, apesar de serem feitos de um metal pobre 34

(cobre), a sua história está relacionada com a dos Descobrimentos. Já se pensou que a origem do seu nome pode estar ligada à conquista de Ceuta, em 1415, mas é mais provável que o seu nome derive de “sextil”, pois valiam 1/6 de um real. Seja como for, estas moedas circularam entre os reinados de D. Afonso V e de D. Sebastião e têm características de cunhagem distintivas. As de D. Afonso V caracterizam-se por apresentarem, de um lado, três torres dentro de um recinto muralhado, banhado pelo mar; e, no reverso um escudo com a cruz florenciada da Ordem de Avis. Bibl.: CARDOSO, Guilherme, LUNA, Isabel, «Fragmentos do quotidiano urbano de Torres Vedras, entre os séculos XV e XVIII: um olhar através dos objectos do poço dos Paços do Concelho», in Velhos e novos mundos: Actas do Congresso Internacional de Arqueologia Moderna, Lisboa, Centro de História de Além Mar – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2012, pp. 91-100 [no prelo]; Ceitis [http://ceitis.no.sapo.pt/], consultada a 17/7/2012; LUNA, Isabel, AMARO, Clemente, Castelo de Torres Vedras: Relatório dos Trabalhos Arqueológicos, 2009; QUEIRÓS, Eugénio, Ceitis, moeda pobre, rica história, Universidade do Porto, 2009-2010 (Trabalho Académico).

50.

Tampa de sepultura; arenito – 1,80 m - Castelo de Torres Vedras – MMLT.000356

Trata-se de uma tampa arciforme decorada com motivos geométricos de simbolismo cristão. As formas dispõem-se ao longo de uma linha vertical que tem em cada topo uma cruz pátea inscrita num círculo. A linha é ladeada por duas estrelas de cinco pontas (também inscritas em círculos), junto à extremidade superior. O conjunto recria uma cruz latina recruzetada, com base no limite inferior. Na sua simplicidade esta tampa lembra outras tampas do período românico, como, por exemplo, da Igreja de Golães, que também são decoradas com cruzes em relevo, dentro de uma simbólica de proteção para a pessoa sepultada. 51.

Cabeceiras de sepultura com iconografia geométrica e crucífera

Estela com pentalfa; de calcário arenítico – 48 cm - Carvoeira – MMLT.001876 Estela com estrela judaica; de calcário oolítico – 36 cm - Castelo de Torres Vedras – MMLT.001953

As cabeceiras de sepultura são uma evolução das estelas. Feitas em pedra, são constituídas por uma parte superior, na maioria dos casos em forma de disco, decorada em uma ou ambas as faces; e uma parte inferior em forma de espigão, que era enterrada no solo. As estelas pertencem a várias épocas, embora o seu uso fosse mais comum na época medieval, sendo geralmente difícil a sua datação exata.

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O Museu Municipal de Torres Vedras possui um dos melhores núcleos de cabeceiras de sepultura do País, existindo várias tipologias de decoração: instrumentos de ofício, crucíferas, com elementos geométricos, com elementos decorativos e epigrafadas. Entre as várias estelas, destacamos uma estela discoide, encontrada no adro da Igreja de Nossa Senhora da Luz (Carvoeira), que apresenta uma pentalfa inscrita numa coroa circular, com dupla cercadura. No verso vê-se uma cruz de braços curvilíneos, com calotes esféricas nos fólios. É também de salientar uma estela com estrela judaica (seis pontas). Os judeus em Torres Vedras são conhecidos desde meados do século XIII e a judiaria foi criada formalmente com D. Afonso IV (século XIV), no sítio da atual rua dos Celeiros de Santa Maria. Bibl.: CHAMBINO, Mário Lobato, «Estelas Medievais da Igreja Matriz do Rosmaninhal», in Açafa On Line, nº 2, 2009 [www.altotejo.org]; MOREIRA, José Beleza, Cabeceiras de sepultura do Museu de Torres Vedras, Torres Vedras, 1982; SILVA, Carlos Guardado da, «A Judiaria Medieval de Torres Vedras», in Torres Vedras, n.º 8, Maio-Junho, 2012, pp. 24-25.

52. Cabeceira de sepultura com hexafólio; de calcário oolítico – 36,5 – Igreja de Santa Maria do Castelo - MMLT.001839

No adro da Igreja de Santa Maria do Castelo (Torres Vedras), encontrou-se uma estela discoide que tem na frente uma hexafólio rebaixado, com o centro decorado com um círculo relevado. O verso é idêntico. Bibl.: MOREIRA, José Beleza, Cabeceiras de sepultura do Museu de Torres Vedras, Torres Vedras, 1982.

53. Cabeceiras de sepultura com registo de profissões Estela do arquitecto; calcário oolítico – 37 cm – Ermida de Nª Sª do Ameal – MMLT.001542 Estela do alfaiate; calcário oolítico – 41 cm – calcário oolítico – Castelo de Torres Vedras – MMLT.000365 Estela do ferrador – calcário oolítico – 33 cm - Castelo de Torres Vedras – MMLT.000367

A estela do arquiteto apresenta na frente uma pentalfa e no verso tem uma janela de duas fresas, com arcos e coluna central trabalhados em corda. A estela do alfaiate (em calcário), encontrada perto da Igreja de Santa Maria do Castelo, mostra na frente uma pentalfa, um dedal e uma agulha, que indicam a profissão de alfaiate. No verso exibe uma pentalfa. A estela do ferrador (calcário) ostenta de um lado uma ferradura e no reverso uma cruz de braços curvilíneos. Bibl.: MOREIRA, José Beleza, Cabeceiras de sepultura do Museu de Torres Vedras, Torres Vedras, 1982.

54. Cabeceiras de sepultura com registo de profissões Estela do lavrador; calcário lioz – 40,5 cm – Maxial – MMLT.001543 Estela do lavrador; calcário lioz – 36 cm - Torres Vedras - MMLT.000370

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Estela do carpinteiro; calcário oolítico – 36 cm – Ermida de Nª Sª do Ameal – MMLT.000366 Estela do canteiro; calcário oolítico – 26 cm – Maxial – MMLT.000369

Do Maxial é uma estela de lavrador, que apresenta na frente uma roda radiada e atrás um arado ligado a uma canga. No mesmo local encontrou-se outra estela discoide, infelizmente fraturada, que apresenta na frente um esquadro e atrás uma escoda. Há outra estela de lavrador que ostenta um arado e uma canga, tendo no reverso uma cruz de altar. A estela do carpinteiro, encontrada no Ameal, é também uma estela discoide, que expõe na frente uma serra e por baixo uma estrela de cinco pontas, tendo no verso uma cruz de braços curvilíneos. Bibl.: MOREIRA, José Beleza, Cabeceiras de sepultura do Museu de Torres Vedras, Torres Vedras, 1982; MOREIRA, José Beleza, «Algumas profissões representadas em estelas discoides portuguesas», in Cuadernos de Sección. Antropología-Etnografía, n.º 10, 1994, p. 271-296.

55. Cabeceiras de sepultura com registo de profissões Estela de Pescador; calcário oolítico - 35,5 cm – Ermida Nª Sª do Ameal – MMLT.000364 Estela de Eclesiástico; calcário oolítico – 31 cm – Torres Vedras – MMLT.000363

Entre as estelas do Museu Leonel Trindade, destacamos por fim uma estela discoide, encontrada no Ameal, com seis peixes, em relevo, três com a cabeça para dentro e três com ela para fora, formando um hexafólio. Seria a estela que assinalava a sepultura de um pescador, muito embora o peixe tenha também um significado cristão desde a Antiguidade. No verso vê-se uma estrela de cinco pontas, com pentafólio ao centro, com dois vértices para baixo. Em Torres Vedras encontrou-se ainda uma estela discoide de um eclesiástico que tem na frente epigrafada uma espora (de cavaleiro) e no verso apresenta um cálice e uma hóstia, insculpidos. Bibl.: MOREIRA, José Beleza, Cabeceiras de sepultura do Museu de Torres Vedras, Torres Vedras, 1982; MOREIRA, José Beleza, «Algumas profissões representadas em estelas discoides portuguesas», in Cuadernos de Sección. Antropología-Etnografía, n.º 10, 1994, p. 271-296.

56. Capitel medieval (românico); calcário oolítico – 31,2x26x39,5 cm - MMLT.000359

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Durante a Idade Média os capitéis deixaram de assumir a tipologia arquitetónica que era definida pelos modelos clássicos. Eram poucas as pessoas que sabiam ler e as missas eram ditas em latim, língua que era desconhecida da maioria da população. As decorações das igrejas ajudavam a ilustrar as Escrituras e as palavras do pároco e, por isso, particularmente no período românico, os capitéis das colunas eram enriquecidos com esculturas de carácter alegórico, sobretudo de índole religioso, dentro de uma iconografia simbólica que era compreendida pelos crentes. Os motivos decorativos poderiam ir do mais simples ao mais complexo, desde uma gramática vegetalista até a temas animalistas, com figurações humanas e de teor narrativo. Nas zonas exteriores da Igreja representavam-se por vezes seres monstruosos, que se acreditava que tinham o poder de afastar o mal. Será esse o caso do capitel do Museu Leonel Trindade (em calcário), proveniente da Igreja de Santa Maria do Castelo. Está bastante desgastado, mas nele podem ver-se formas vegetalistas e fantásticas, adivinhando-se uma figura com garras. 57.

Medalhões em bronze com aplicações de esmaltes – Séc. XV – MMLT.000853, MMLT.000854, MMLT.000855, MMLT.000856, MMLT.0008538 e MMLT.008128

No Museu de Torres Vedras, guarda-se um conjunto de sete medalhões de bronze com aplicações de esmalte, adquiridos antes de 1989. A sua decoração é aparentemente feita por molde, mas também têm marcas de gravado e puncionado a frio, com vestígios de douramentos e esmaltes de várias cores. São todos eles trabalhados em relevo, dentro de uma estilística que deverá datar do século XV, pertencendo assim já ao período gótico. Um deles, formando um círculo, tem um relevo de uma letra L dentro de um escudo. Outra peça apresenta a gravação de um lema que se traduz por: «Com Deus e seu poder». Outro é um círculo rodeado por oito pequenos círculos, compondo uma rosácea. No centro vemos duas figuras afrontadas e sentadas. Outro mostra uma flor inscrita num quadrado, tendo no centro um elmo; outro ainda é um hexafólio com um escudo com uma cruz. Interessantes são também dois que assumem o perfil de bustos humanos, parecendo ser de um rei e de uma rainha. Estas peças têm paralelo com diversos medalhões guardados em colecções museológicas, por exemplo no Museo Diocesano Barbastro-Monzón, no Museo Lázaro Galeano y Arqueológico Nacional (Madrid) e no Museu de Cluny (Paris). Serviriam sobretudo para adorno dos arneses dos cavalos, sendo comuns no período medieval, nomeadamente entre os séculos XII e XV. Chegaram a produzir-se em série e na Península houve oficinas muito ativas, sobretudo nas regiões de Aragão, Valência, Catalunha e Castela. Estas placas teriam a função de certidão de propriedade, mas também tinham valor simbólico e de prestígio. Eram principalmente realizadas em cobre e bronze, sendo depois banhadas de ouro ou prata. A cor era aplicada através de esmaltes ou pasta vítrea. Bibl.: SILVA. Rui Manuel, Medalhões medievais – MMLT – Diagnóstico do Estado de Conservação, E.S.T.T., 2000; «El pinjante “del dragón”. Pinjantes o piezas de jaez: los adornos de los caballos», 21/2/2012, in Museo Diocesano Barbastro-Monzón [http://museodiocesano.es/2012/02/21/el-pinjante-del-dragon/], consultada a 23/7/2012.

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58.

Marco de reguengo; calcário oolítico – 58 x 17,5 x 13 cm – Serra da Vila (Barro) – MMLT.001115

As propriedades de Torres Vedras que eram posse do Rei eram denominadas de Reguengos. Os seus limites eram marcados por pilares de pedra com as armas reais, tal como esta peça que faz parte do acervo do Museu e que tem a forma de uma coluna. O brasão real apresentase como um escudo com cinco escudetes, com cinco arruelas cada. 59.

Azulejo hispano-mourisco – 8,5x6,4 cm - século XV – Castelo de Torres Vedras – MMLT.005613 Azulejo de corda-seca; cerâmica vidrada – 13x11 cm - Castelo de Torres Vedras– MMLT.001626

No Museu encontram-se vários azulejos hispano–mouriscos, atribuídos a Espanha, sobretudo ao centro de Sevilha, dos séculos XV e XVI. Os mais antigos são fragmentos cuja decoração é feita por laçarias, realizada segundo a técnica de corda seca, usada até cerca de 1500, quando foi substituída pela técnica da aresta. Bibl.: LUNA, Isabel, CARDOSO, Guilherme, «Nota preliminar sobre as cerâmicas provenientes do poço dos Paços do Concelho de Torres Vedras», in Actas do 3º Seminário do património da região Oeste. Cadaval: Câmara Municipal do Cadaval, 2006, pp. 99-112.

60.

Tampa de talha; cerâmica – 28,5x24 cm – Poço dos Paços do Concelho – PCP-37 – MMLT.005358

Trata-se de uma tampa de talha, de barro vermelho, decorada com motivos ondulados, de tipo geométrico, feitos a pente, dentro da tradição islâmica. As talhas, sobretudo as decoradas, eram utilizadas como contentores de água ou outros líquidos, podendo também servir para guardar frutos secos e cereais. Bibl.: LUNA, Isabel, CARDOSO, Guilherme, «Nota preliminar sobre as cerâmicas provenientes do poço dos Paços do Concelho de Torres Vedras», in Actas do 3º Seminário do património da região Oeste. Cadaval: Câmara Municipal do Cadaval, 2006, pp. 99-112; TOMÁS, Ricardo Manuel Pereira, A gramática decorativa da talha Almóada de Tavira, Campo Arqueológico de Tavira, 2003.

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PARTE IV

ANTIGO REGIME – DO SÉCULO XVI AO SÉCULO XVIII Descoberta do Caminho Marítimo para a Índia

Descoberta do Brasil

Perda da Independência

Restauração da Independência

Grande Terramoto em Lisboa

1498

1500

1580

1640

1755

Século XVI No início século XVI, em Torres Vedras, a população continuava a habitar sobretudo as zonas do sul e interior, que correspondiam aos terrenos mais férteis. Em 1 de Junho de 1510, D. Manuel doou um novo foral à vila, e, em 1516, este rei foi responsável pela realização de obras de restauro no Castelo, que ficaram assinaladas pelas esferas armilares sobre o portal de entrada do reduto. No ano de 1533, uma carta régia de D. João III nomeava Torres Vedras como cabeça de comarca, o que foi benéfico para a vila, que se tornou num importante centro político da região. Entretanto, a população começou a estender-se para a zona do litoral e depois para Norte, o que se iria acentuar ao longo dos séculos seguintes. A grande maioria de população estava ainda ligada à agricultura, sobretudo vocacionada para a produção de cereais (trigo e milho), mas também de vinha, que foi ganhando cada vez maior preponderância na economia local. Dentro das atividades agrícolas também se registava a presença do cultivo de oliveira, frutas e legumes. O concelho chegava a exportar, para as cidades próximas, cereais, vinho e madeira, apesar do comércio ser prejudicado pelas fracas vias de comunicação, que seguiam para Lisboa, Caldas da Rainha, Mafra e Alenquer. Neste período, começaram a ter maior peso as profissões ligadas aos ofícios, nomeadamente do vestuário e do calçado, sendo relevante o ofício de sapateiro (Turcifal) e de fabrico de chapéus (Freiria). Ainda no que diz respeito ao comércio, deve-se notar o indispensável papel das feiras, que se realizavam em vários locais da região. Os almocreves tinham igualmente importância na circulação e distribuição de produtos.

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61. Santa Catarina de Alexandria – Séc. XV-XVI – MMLT.000354

Escultura em calcário representando Santa Catarina de Alexandria, encontrada num edifício da Rua Serpa Pinto. Desta Santa existem várias imagens nos Museus portugueses, quase todas datadas entre os séculos XIV e XV, demonstrando uma especial devoção neste período temporal por esta figura. A escultura de Torres Vedras encontra-se fragmentada no braço direito, que deveria segurar a roda, símbolo do seu martírio, da qual ainda se vê um fragmento. A espada, que também faz parte da sua iconografia, é segurada pela mão esquerda. A sua cabeça é coroada, pois, segundo a lenda, ela era descendente de um imperador pagão. Pelo tipo de traje e proporção, lembra outras esculturas portuguesas da segunda metade do século XV, como a Santa Catarina de Alexandria do último quartel do século XV, do Museu Nacional de Arte Antiga (Lisboa). Bibl.: PEREIRA, Fernando A. B., COUTINHO, Maria Isabel P., FIGUEIREDO, Maria Rosa (Coord.), A Arte e o Mar, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1998.

62. Retábulo da Vida da Virgem - Mestre desconhecido (luso-flamengo ou hispanoflamengo) - c. 1500 - Óleo sobre madeira – Igreja do Convento da Graça

Encontro de Santa Ana e São Joaquim junto da Porta Dourada - Apresentação de Nossa Senhora ao Templo – Anunciação – Visitação - Nascimento do Menino - Adoração dos Reis Magos – 83,5 x 66,0 cm MMLT.000755; MMLT.000756; MMLT.000757; MMLT.000758; MMLT.000759; MMLT.000760 O Retábulo da Vida da Virgem foi concebido para a igreja do antigo convento agostinho da Várzea, hoje desaparecido, onde ocupava provavelmente o altar-mor. No actual convento, o retábulo ainda se manteve durante um tempo na igreja, mas foi relegado para as paredes de uma capela lateral. Este retábulo é composto por seis pinturas, que terão sido obra de uma oficina de origem flamenga radicada em Portugal, talvez oriunda de Castela. Um aspeto que deve ser salientado, a propósito deste retábulo, é a influência das gravuras de origem nórdica na planificação das composições, o que se nota, particularmente, no painel Natividade, com semelhanças com uma gravura do pintor e gravador alemão Martin Schongauer (1450?-1491). Seguindo a ordem da narrativa bíblica, a primeira pintura que vemos é o Encontro na Porta Dourada, que alude à Imaculada Conceição e nos apresenta Santa Ana e São Joaquim, junto de um portal acastelado. Depois vem a Apresentação da Virgem no Templo, que mostra o 41

momento em que Maria sobe as escadarias para ser recebida pelo Sumo-sacerdote. Esta representação liga-se ao momento em que a Virgem, por promessa de Santa Ana, foi entregue ao Templo para se dedicar ao serviço de Deus. Neste painel, numa janela que se abre no canto superior esquerdo, podemos admirar uma cena alusiva à tecelagem do Véu. O painel seguinte é a Anunciação, que mostra uma composição dividida entre um espaço exterior, dominado pela figura do Arcanjo São Gabriel, mensageiro divino, e o espaço interior, dominado pela Virgem, sentada e tendo sobre o colo a Bíblia, na qual estaria a ler, segundo a tradição, a profecia de Isaías sobre a Encarnação do Verbo. Aos pés de Maria vemos um papagaio, que introduz uma nota de exotismo na composição. Segue-se a Visitação, que figura o encontro entre a Virgem e Santa Isabel. A cena principal, da Virgem abraçando a sua prima, é emoldurada por um arco monumental de volta redonda, que reforça a união das duas personagens. Vê-se depois a Natividade, que nos apresenta os Pastores que chegam ao Presépio para adorar o Menino e, por fim, admira-se a Epifania, que apresenta a adoração dos Reis Magos, que circundam as três figuras principais da Sagrada Família: Nossa Senhora, Jesus e São José. Importa notar que a Epifania corresponde à manifestação de Cristo aos gentios, sendo os reis Magos - Gaspar, Melchior e Baltazar - símbolos de toda a terra e de todas as idades, representados como um jovem, um homem de meia-idade e um velho. Bibl.: BATORÉO, Manuel, «O pintor Francisco das Aves, Cavaleiro da Ordem de Santiago e provável autor do Retábulo de S. Paulo de Tavira», texto destinado ao catálogo da exposição de Arte Sacra em Tavira, a inaugurar em finais de 2003 [no prelo]; PEREIRA, Fernando António Baptista, Pintura antiga de Torres Vedras, Câmara Municipal de Torres Vedras, 2006 [no prelo].

63. Retábulo da Igreja do Amial - Mestre luso-flamengo próximo do círculo de Francisco Henriques – c. 1510-1520 - Óleo sobre madeira – Ermida de Nossa Senhora do Amial

São Lourenço -São Paulo -São Pedro -São Sebastião – 175,0 cm x 51,5 cm MMLT.000329; MMLT.000327; MMLT.000326; MMLT.000328 O retábulo da Igreja do Amial apresenta-nos os «pilares da Igreja», São Pedro e São Paulo, sob um enquadramento arquitetural classicizante, ladeados por São Lourenço e São Sebastião, estes colocados em fundos de paisagem. O primeiro é considerado o protetor dos pobres e o segundo o advogado contra a peste. O retábulo não apresenta qualquer carga narrativa, embora os Santos ostentem os respetivos atributos e se encontrem integradas em fundos que, de algum modo, os circunstancializam. Importa notar na qualidade da representação das vestes, nomeadamente ao nível das texturas, o que sobressai principalmente nos ricos mantos envergados por São Pedro e São Paulo. Bibl.: PEREIRA, Fernando António Baptista, Pintura antiga de Torres Vedras, Câmara Municipal de Torres Vedras, 2006 [no prelo].

64. Retábulo-mor da igreja de Nossa Senhora do Castelo - Cristóvão de Utreque (atribuído) final da década de 1520 - Óleo sobre madeira – Igreja de Santa Maria do Castelo

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Anunciação - Visitação - Nascimento de Cristo - Adoração dos Magos - Assunção de Nossa Senhora – 132,0 cm x 91,5 cm MMLT.000322; MMLT.000323; MMLT.000324; MMLT.000325; MMLT.000331 O programa iconográfico do retábulo baseia-se no grande tema das Alegrias da Virgem. O presumível autor, Cristóvão de Utreque, era verosimilmente filho do entalhador João de Utreque, morador em Lisboa. Esteve associado aos Mestres de Ferreirim e especialmente a Cristóvão de Figueiredo, de quem talvez fosse assíduo colaborador. A reconstituição coloca a Anunciação e a Visitação num registo superior, ladeando a Assunção. A fiada inferior seria constituída pela Natividade à esquerda, sob a Anunciação, e pela Epifania, à direita, sob a Visitação, de cada lado de um nicho com uma peça escultórica figurando, talvez, a Virgem com o Menino. O artista teve cuidado em dar coerência à continuidade narrativa ao retábulo. Por exemplo, o rosto e a veste da Virgem mantêm-se sempre idênticos e o cenário da Natividade e da Epifania são também semelhantes. A Anunciação é uma pintura de grande beleza, mostrando uma composição com iconografia complexa, que é própria do tema. É de notar na arquitetura pintada que corresponde a uma estilística clássica, de índole renascentista. Na Adoração dos Pastores é de destacar a figura masculina que toca música e olha o espectador, criando assim uma interação com o crente que se torna participante da cena representada. No quadro da Epifania ressaltamos a grande riqueza dos trajos, denotando as qualidades do pintor na representação realista das texturas e brilhos dos tecidos. Esta pintura é aquela que apresenta um maior número de figuras e é interessante notar no pormenor das três bandeiras, levadas pela comitiva de cada um dos reis, sendo o rei negro associado a uma bandeira com luas, numa possível ligação ao povo muçulmano; o rei de meia-idade associado a uma bandeira com um sol, símbolo de Cristo; e o rei da direita, mais velho e ajoelhado, ligado a uma bandeira com uma estrela, que simboliza a estrela do oriente e a própria Virgem. Acrescentamos que a lua também se associa à Virgem, como se pode ver no quadro da Assunção, em que é representada com a lua a seus pés. Bibl.: PEREIRA, Fernando António Baptista, Pintura antiga de Torres Vedras, Câmara Municipal de Torres Vedras, 2006 [no prelo].

65. Tríptico da Paixão – Caminho do calvário; Descida da cruz; Ressureição – 92,0 x 42,0cm /117,0 x 63,5 cm/ 93,0 x 41,0 cm MMLT.000332; MMLT.000333; MMLT.000334 Círculo de influência de Diogo Contreiras, com a participação do Mestre da Romeira (possivelmente Ambrósio Dias) – c. 1550 – Pintura sobre madeira - Sacristia de Santa Maria do Castelo.

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Estão à guarda do Museu Leonel Trindade três pinturas de autor desconhecido: Cristo a Caminho do Calvário, Descida da Cruz e Ressurreição. Quando a Igreja de S. Miguel desapareceu, nos finais do século XIX, a paróquia e alguns bens do templo foram incorporados em Santa Maria do Castelo, sendo provável que este tríptico estivesse entre esses bens. Este retábulo tem bastante interesse, especialmente pelo painel central que mostra a descida da Cruz. Há um certo maneirismo no colorido e nas carnações, nomeadamente no tom da pele do rosto e das mãos de Cristo. De facto, apesar das composições (nomeadamente laterais) seguirem ainda os modelos clássicos, nota-se já uma expressividade de gestos e nos rostos de teor maneirista. No painel central é também admirável o rosto de Santa Maria, de olhos fechados, segurando Cristo nos braços, numa iconografia próxima de Nossa Senhora das Dores. Bibl.: PEREIRA, Fernando António Baptista, Pintura antiga de Torres Vedras, Câmara Municipal de Torres Vedras, 2006 [no prelo].

66. Estela com crucifixo – Século XVI - 37 cm (diâmetro) – calcário oolítico - Ermida Nª Sª do Ameal – MMLT.000349

Esta estela discoide, insere-se na tipologia das estelas medievais, embora seja já provavelmente do século XVI. Na frente vemos esculpido em alto-relevo uma cruz de altar, onde está inscrita a imagem de Cristo crucificado. A figura é delicadamente esculpida e representada com bastante economia formal. As mãos, excessivamente grandes relativamente ao resto do corpo, denotam um arcaísmo de teor medieval, onde o símbolo era mais importante que a veracidade anatómica. Na outra face da estela vemos esculpida uma rosa, que também invoca Cristo crucificado. Bibl.: MOREIRA, José Beleza, Cabeceiras de sepultura do Museu de Torres Vedras, Torres Vedras, 1982.

67. Brasão de Armas Fonte Nova – 1529 – 77 x 63cm - calcário oolítico – MMLT.000345 Brasão de Armas do Chafariz de São Miguel – Séculos XV-XVI – 62 x 59cm – calcário oolítico – MMLT.000337

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Segundo Júlio Vieira, o chafariz da Fonte Nova ficava ao sul da vila, sobre a estrada que ia para Lisboa. Na parede do tanque, que era recortada de ameias, via-se o brasão com as armas de Torres Vedras e com a data de 1529. Este chafariz estava relacionado com o termalismo, para a cura de doenças de estômago, mas foi abandonado em 1922. Depois de ter sido demolido, salvou-se o bloco de pedra com o brasão, que se encontra hoje no Museu. Por sua vez, o Chafariz de São Miguel encontrava-se defronte da Igreja de São Miguel, que ficava na margem esquerda do rio Sizandro. O chafariz tinha igualmente um brasão de armas que seria do século XVI (c. 1520) e que será muito provavelmente o que está hoje no Museu Municipal. Os brasões de armas de ambos os chafarizes mostram pequenas diferenças, pois apresentam duas torres, que no caso do Chafariz de São Miguel, são encimadas por estrelas em forma de flor de sete pontas. No Museu existe ainda outro Brasão com as armas de Torres Vedras (MMLT.001532), que está exposto nos Paços do Concelho, sendo muito semelhante ao do Chafariz de São Miguel. Bibl.: «Recordação da Fonte Nova», 8/4/2011, in Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras, [http://patrimoniodetorresvedras.blogspot.pt/2011/04/recordacao-da-fonte-nova.html], consultada a 25/7/2012; «Dia Internacional dos Monumentos e Sítios - Água: Cultura e Património», Abril 2011, in Câmara Municipal de Torres Vedras, [http://www.cm-tvedras.pt/ficheiros/agenda-anexos/dia_internacional_dos_monumentos_e_saitios.pdf], consultada a 25/7/2012.

68.

Pórtico manuelino – Século XVI – 2,15 x 1,56m - calcário oolítico - MMLT.000347

O pórtico manuelino que se encontra no Museu Leonel Trindade pertenceu a um edifício da Rua Almirante Gago Coutinho (Torres Vedras) e foi oferecido por João Rufino dos Santos. Apresenta características decorativas enquadráveis no estilo manuelino, que têm analogias com o pórtico do altar-mor da Igreja de Nossa Senhora do Pópulo (Caldas da Rainha) e com as Capelas Imperfeitas (Batalha), ambos traçados por Mateus Fernandes (Séculos XV-XVI). Todos formam um arco triunfal de desenho policêntrico, de lóbulos convexos, que simula uma cortina aberta – sendo mais estreito e simples o de Torres Vedras. No caso que nos ocupa, a decoração faz-se por um rendilhado de esculturas em alto-relevo, composto por uma fiada de rosetas de quatro e oito pétalas, que na zona superior se cruzam com elementos vegetalistas em configuração de maçarocas de milho. Bibl.: PEREIRA, Paulo, «As grandes edificações (1450-1530)», in PEREIRA, Paulo (dir.), História da Arte Portuguesa, Temas e Debates, 1995, pp. 11-113.

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69.

Peitoril de varanda – Séculos XV-XVI – 105,0 x 45,0 x 17,5 cm - calcário oolítico MMLT.000350

No Museu de Torres Vedras guarda-se um peitoril em pedra, com decoração em alto-relevo de romãs distribuídas ao longo de um caule ondulado e desprovido de folhagem. As romãs encontram-se abertas, de modo a permitir ver os pequenos grãos no interior. O tema tem paralelo numa árvore com romãs da Igreja Matriz do Alvor, que se liga ao conceito da árvore da vida. A romã foi muito utilizada na arte manuelina, como um símbolo imperial, de ressurreição e de fertilidade, sendo também uma alegoria da Igreja, devido aos seus pequenos grãos que expressam o ofertório da missa. Bibl.: BRAGA, Maria Manuela, «Alguns dados para o entendimento da iconografia do portal da igreja matriz do Alvor», in Medievalista on line, A. 3, n.º 3, 2007; PEREIRA, Paulo, «A simbólica manuelina. Razão, celebração, segredo», in PEREIRA, Paulo (dir.), História da Arte Portuguesa, Temas e Debates, 1995, pp. 115-155.

70.

Pia de água benta – século XVI (1.ª metade) – 105,0 x 47,5 x 27,5 cm - calcário oolítico e calcário lioz (suporte mais recente) - Ermida de Nª Sª do Ameal – MMLT.000348

Pia de água benta em calcário de que resta apenas a parte superior (pois o pedestal que vemos é posterior) e que se insere no esquema ornamental manuelino. Vista de cima apresenta uma configuração de rosácea oitavada, sobrepondo um quadrado com uma flor. Ao centro vemos outra pequena flor, de quatro pétalas, que invoca a tradicional rosa, característica da decoração cristã. Vista de lado, apresenta outra decoração em relevo, de teor vegetalista e floral, lembrando uma folha de onde saem seis pequenas pétalas, dispostas lado a lado. Bibl.: BRAGA, Maria Manuela, «Alguns dados para o entendimento da iconografia do portal da igreja matriz do Alvor», in Medievalista on line, A. 3, n.º 3, 2007.

71.

Retábulo renascentista – Século XVI – 3 x 2,33m - calcário oolítico – MMLT.000439

Este retábulo em calcário pertenceu à Ermida de São Gião dos Sapateiros e foi oferecido por Raul Ribeiro Cabral. A antiga Ermida fora erguida em 1359, por decisão da corporação dos sapateiros, perto da Igreja de Santa Maria do Ameal, mas o local sofria inundações e foi 46

abandonado, sendo edificada uma nova Ermida junto da estrada para Runa. Em 1734, havia notícia de existir um túmulo nas suas paredes, que é possível que fizesse parte do retábulo que hoje está no Museu. De facto, desconhece-se a primitiva função do retábulo, mas cremos que teria a função de albergar um túmulo, como no caso do Túmulo de D. Álvaro da Costa, armeiro-mor (de Nicolau de Chanterene, 1535, Museu de Évora), com semelhanças ao de Torres Vedras. Ambos apresentam uma estilística assumidamente renascentista, vendo-se ao centro um arco de volta perfeita, ladeado por duas pilastras e sobrepujado por um entablamento e frontão triangular. No caso do retábulo de Torres Vedras temos uma ornamentação em relevo que se enquadra no estilo brutesco. Ao longo do arco observamos cabeças de anjos e na chave encontra-se um mascarão vegetalista de olhos abertos. O pé direito do arco é decorado de ambos os lados de forma diferenciada. Do lado esquerdo, em baixo, está um mascarão de olhos fechados, da qual parte uma série de ramificações rodeadas por pássaros. Do lado direito, em baixo, está uma cabeça de carneiro, de onde partem ramificações, com dragões afrontados, terminando numa bandeira, sobre a qual se vê um anjo. Bibl.: CARVALHO, Adão de, Memórias de Torres Vedras, Assembleia Distrital de Lisboa, 1991; «S. Geão – Torres Vedras», in Torres Vedras, [http://arqtvedras.home.sapo.pt/LetraS/S0055.htm], consultada a 25/7/2012.

72.

Azulejo hispano-mourisco – Século XVI – 12,5 x 12,5 x 2,0 cm (cada azulejo) – MMLT.001145

No Museu existem vários azulejos hispano–mouriscos, cuja origem é atribuída a Espanha, sobretudo ao centro de Sevilha. Este painel de quatro azulejos polícromos e vidrados (módulo 2 x 2) é já da primeira metade do Século XVI e apresenta uma decoração em aresta compondo um motivo renascentista de coroa polilobada, preenchida com elementos fitomórficos e flor de liz, que acusam uma influência renascentista1. Bibl.: LUNA, Isabel, CARDOSO, Guilherme, «Nota preliminar sobre as cerâmicas provenientes do poço dos Paços do Concelho de Torres Vedras», in Actas do 3º Seminário do património da região Oeste. Cadaval: Câmara Municipal do Cadaval, 2006, pp. 99-112; «Peça do Mês – Junho», Museu Municipal Leonel Trindade, 2012.

73. Cerâmica comum em argila vermelha - Poço dos Paços do Concelho Infusas - PCP 240, PCP-275 Taça - PCP-365 Púcaro – PCP-15 Vinagreira - PCP-297

1

Para a análise destas peças agradecemos a ajuda da Dra. Cristina Horta, Directora do Museu de Cerâmica das Caldas da Rainha.

47

No início do ano 2000, aquando da realização de obras no edifício dos Paços do Concelho de Torres Vedras e numa antiga padaria anexa, foi descoberto um poço antigo, atulhado de materiais que ali haviam caído, cuja cronologia ia do século XV ao início do século XX. Entre as várias peças que foram recolhidas nas escavações então realizadas (algumas das quais já referimos no capítulo anterior), encontraram-se utensílios de cozinha e louça, que provam a utilização da água do poço para lavagens quotidianas. Destacamos as infusas (pequenas bilhas) de tradição medieval, um púcaro brunido (séculos XV-XVI) e uma taça baixa para compotas, com decoração modelada, que lembra as que se podem ver nos quadros de Josefa d’Óbidos, como a Natureza-morta com caixas e potes (c. 1560, MNAA). A respeito destas peças é importante recordar que a olaria popular foi naturalmente muito utilizada em Portugal, servindo para cozinhar, conservar e servir alimentos. De um modo geral as peças comuns eram muito simples, feitas em argila e com pouca decoração, mas nem por isso eram isentas de beleza. Bibl.: CARDOSO, Guilherme, LUNA, Isabel, «Fragmentos do quotidiano urbano de Torres Vedras, entre os séculos XV e XVIII: um olhar através dos objectos do poço dos Paços do Concelho», in Velhos e novos mundos: Actas do Congresso Internacional de Arqueologia Moderna, Lisboa, Centro de História de Além Mar – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2012, pp. 91-100 [no prelo]; LUNA, Isabel, CARDOSO, Guilherme, «Nota preliminar sobre as cerâmicas provenientes do poço dos Paços do Concelho de Torres Vedras», in Actas do 3º Seminário do património da região Oeste. Cadaval: Câmara Municipal do Cadaval, 2006, pp. 99-112; SILVA, Nuno Vassallo e, Artes Decorativas na Época dos Descobrimentos, in RODRIGUES, Dalila, Arte Portuguesa da Pré-História ao Século XX, Vol. 8, Fubu Editores, 2009.

74. Âmbulas para Óleos Sagrados em liga de chumbo – Poço dos Paços do Concelho 7,0 x 4,2 – MMLT.002123 6,5 x 4,3 – MMLT.002124

No Poço dos Paços do Concelho de Torres Vedras, nas camadas que vão dos Séculos XV ao XVIII, recolheram-se duas âmbulas de peregrino. Estas peças eram habitualmente transportadas por peregrinos que visitavam santuários durante a Idade Média e os inícios da época Moderna. As duas âmbulas têm uma iconografia idêntica: um hexafólio numa face, sobreposto por duas cruzes e, na face oposta, uma vieira – o que leva a colocar a hipótese de terem origem em Santiago de Compostela. A população da vila de Torres Vedras teria uma grande devoção a Santiago, padroeiro de uma das suas igrejas paroquiais, localizada próximo do poço. É pois natural que um dos proprietários do poço se tenha deslocado em peregrinação àquele santuário e de lá tenha trazido as âmbulas com óleo sagrado como relíquia e recordação. Bibl.: CARDOSO, Guilherme, LUNA, Isabel, «Fragmentos do quotidiano urbano de Torres Vedras, entre os séculos XV e XVIII: um olhar através dos objectos do poço dos Paços do Concelho», in Velhos e novos mundos: Actas do Congresso Internacional de Arqueologia Moderna, Lisboa, Centro de História de Além Mar – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2012, pp. 91-100 [no prelo].

75. Séculos XV-XVI – Metal (liga de chumbo) - Castelo de Torres Vedras

48

Entre os anos 2000 e 2003 fizeram-se escavações arqueológicas no Castelo, tendo sido encontrado, entre outras peças, um selo de chumbo, figurando de um lado um escudo com as armas reais de Portugal, encimado por uma coroa e ladeado por grinaldas, e, do outro a esfera armilar. Estes selos de chumbo são designados como selos de têxteis ou de panos, pois, normalmente, selavam os sacos de transporte de tecidos, aquando do processo de transação comercial, nomeadamente nos casos de importação e exportação. O selo descoberto no castelo é de origem portuguesa, mas não é possível saber a que produto estava associado. De acordo com Miguel Metelo de Seixas (da Universidade Lusíada de Lisboa) as armas reais figuradas no selo enquadram-se na modalidade instituída por D. João II em 1485: cinco escudetes em cruz, cada escudete carregado de cinco besantes do campo e bordadura carregada de castelos. A coroa, por se apresentar aberta deve ser datada de antes do reinado de D. Sebastião, soberano que fechou a coroa em sinal de seu direito à plena soberania (tornando-a assim semelhante à coroa imperial). A esfera armilar liga-se a D. Manuel e o seu simbolismo prende-se com a representação do mundo celeste. Bibl.: LUNA, Isabel, AMARO, Clemente, Castelo de Torres Vedras, 2003: Relatório dos Trabalhos Arqueológicos, 2009.

Séculos XVII e XVIII No Antigo Regime, a estrutura social era ainda muito semelhante à do período medieval, sendo o clero e a nobreza os grupos mais poderosos. Nos séculos XVII e XVIII estabeleceram-se importantes Casas Senhoriais em Torres Vedras, como a do Marquês de Alegrete, da família Teles da Silva. Em 1693, o Marquês comprou o direito do Relego e outros bens da coroa, existentes na vila, tornando-se numa personalidade muito influente na região. Torres Vedras foi sujeita, nestes anos, como é natural, aos acontecimentos que assolaram o resto do País, encontrando-se debaixo do domínio Filipino até 1640 e sofrendo depois também os danos do terramoto de 1755, que destruiu parte do seu património. 76. São Mateus – Mestre Desconhecido - Século XVII – óleo sobre madeira – MMLT.000344

A pintura de São Mateus com o Anjo é talvez proveniente da Igreja da Misericórdia de Torres Vedras, construída entre 1681 e 1752. Trata-se uma pintura seiscentista que apresenta algumas características ainda maneiristas, nomeadamente no que respeita ao colorido. No entanto, a conceção da pintura indica já uma ligação ao barroco, quer pelo movimento ondulado da composição, quer pelo recurso do efeito de claro-escuro. São Mateus é um dos Evangelistas, juntamente com São Marcos, São João e São Lucas. Cada um deles é associado a um emblema, que indica a maneira como o Espírito Santo os inspirou na escrita do texto bíblico. São Marcos associa-se ao leão, São João à águia, São Lucas ao touro e São Mateus ao anjo. Neste caso, vemos São Mateus sentado junto de uma mesa, preparando-se para escrever o Evangelho. Atrás de si está o anjo que o vai inspirar, o que é aludido pelo facto do santo virar a cabeça para trás, com os olhos levantados, para ouvir a mensagem divina. Esta pintura merece atenção, mormente pelo facto da pose em contorção de São Mateus ser pouco usual e 49

aproximar-se da introduzida por Caravaggio em 1602 (Capela Contarelli, San Luigi dei Francesi, Roma). No entanto difere do esquema das pinturas desse artista, porque o anjo coloca-se atrás do Santo, colocando amigavelmente as mãos sobre os seus ombros. O gesto parece-nos pouco usual, mas está presente numa pintura de São Mateus pintada por Rembrandt, em 1661 (Museu do Louvre, Paris). 77. Menino Jesus Bom Pastor – Século XVII - Marfim policromado – 48,5 x 10,9cmm - Igreja da Graça, depósito no Museu Municipal de Torres Vedras - MMLT.000377

O Menino Jesus Bom Pastor está em depósito no Museu Municipal de Torres Vedras desde 1926. É uma escultura indo-portuguesa, em marfim, um material que foi sempre muito utilizado em pequenas peças de escultura, particularmente no Oriente. Esta peça é um testemunho da ligação cultural entre Portugal e a Índia, depois da descoberta do Caminho Marítimo (em 1498). Em 1540, Santo Inácio de Loyola criou a Companhia de Jesus, e, em 1542, São Francisco Xavier chegou à Índia, dando início ao período de evangelização dos povos do Oriente. O culto do Menino Jesus teve início com São Francisco de Assis (século XIII), mas foi com a Contra-Reforma que ganhou maior peso. A figuração do Bom Pastor é uma das mais antigas da iconografia cristã, surgindo mesmo nas Catacumbas de Roma, mas foi progressivamente abandonada, sendo recuperada, em moldes diferentes, pela Contra Reforma. Esta imagem do Menino Jesus Bom Pastor é um dos numerosos exemplos que surgiram no âmbito da arte indo-portuguesa, mas só se conhece um outro exemplar igual a este numa coleção particular. Apresenta o Menino sentado sobre um coração, apoiado numa esfera, que por sua vez é sustentada por três serafins. Esta imagem, tal como outras do mesmo tema, são representativas de uma linguagem articulada pela Igreja na Índia e no Ceilão, que resultavam em peças onde prevalecia o sincretismo religioso, com o intuito de facilitar a evangelização dos povos orientais. Deste modo, os olhos fechados, os dedos apoiados na têmpora e a face inclinada contra a mão direita, estão relacionados com Buda. No entanto, os atributos de pastor (bornel e cabaça), os pés calçados com sandálias e as pernas cruzadas sobre um coração, correspondem a uma imagem devocional dos Agostinianos após o Concílio de Trento, sendo o Convento da Graça, onde estava esta imagem, dessa mesma ordem religiosa. Vê-se sobre o ombro esquerdo uma pequena ovelha, que evoca a Parábola do Bom Pastor, relatada no Evangelho de São João. Esta imagem ainda se liga à Iconografia do Menino Jesus Salvador do Mundo, pelo facto de Jesus estar representado sobre uma esfera sustentada por Serafins. Bibl.: Arte do Marfim, Porto, Museu dos Transportes e Comunicações, 1998; Badaladas, 15/6/1954; Olhares sobre Jesus Menino, Lisboa, Palácio de Belém, 2007, pp. 36-37.

50

78. Nossa Senhora da Assunção – Século XVII – marfim – 13,7x3,4x2,2cm – RJU.179

A imagem de Nossa Senhora da Assunção em marfim é uma obra escultórica da arte indoeuropeia, que deverá ser objeto da nossa ponderação. Existem numerosas esculturas com esta iconografia em coleções portuguesas, notando-se contudo algumas diferenças entre elas, apesar do esquema iconográfico ser basicamente comum. No caso que nos ocupa, a Virgem tem as mãos juntas, um gesto de oração entre os cristãos, que era sinónimo de pureza entre os povos orientais. Sobre a cabeça vemos uma coroa e aos seus pés está a lua em quartocrescente, que evoca a sua castidade. O trajo e sobretudo o penteado indiciam uma proximidade aos costumes indianos, nomeadamente pelo cabelo atrás das orelhas, que são proeminentes, o que era entendido como um sinal de sabedoria entre os budistas. Bibl.: TÁVORA, Bernardo Ferrão de Tavares e, Imaginária luso-oriental, Lisboa, Instituto Nacional – Casa da Moeda, 1983.

79. Painéis figurativos e policromos – Olaria de Manuel Francisco (?) - faiança - c. 1660-1667 - Quinta de Santo António, Cadriceira Painel do Camelo – 140 x 56 cm - MMLT.001180 Painel da Corça – 140 x 42 cm -MMLT.001176 Painel do Leopardo e Aves – 140 x 42 cm - MMLT.001179 Painel dos Papagaios – 56 x 154 cm - MMLT.001177 Painel das Aves – MMLT.001178

A partir da Restauração da Independência, em 1640, a nobreza tornou-se numa importante fonte de encomendas de azulejos figurativos destinados aos espaços palacianos. A encomenda de painéis da Quinta de Santo António é uma das mais relevantes deste período e esta Quinta pertenceu a Henriques de Miranda, camareiro-mor de D. Afonso VI e tenente-geral da Artilharia do Reino. Os painéis são talvez da autoria de Manuel Francisco, mestre de louça pintada. O conjunto azulejar encontra-se dividido, estando dois painéis de teor narrativo no Museu do Azulejo (Caça ao Leopardo e Macacaria – Casamento da Galinha) e outros cinco painéis, mais decorativos, no Museu Leonel Trindade. Estes cinco painéis, que nos ocupam, mostram grande exotismo, não só pelo tipo de animais representados – camelo, leopardo, papagaios – mas também por mostrarem a influência asiática no colorido e no desenho, 51

criando um efeito festivo pelo intrincado entrelaçar de árvores, animais, flores e frutos. Existe ainda uma relação com o tema da caça (leopardo e corça), que desde a Idade Média era a ocupação privilegiada dos membros da nobreza, e com a vinha (cachos de uvas), que, para além do significado religioso, tinham um valor cada vez maior na economia Torriense. Bibl.: MATOS, Maria Antónia Pinto de (Coord.), Um gosto português – o uso do azulejo no século XVII, Athena, 2012.

80.

Jarra de argila vermelha – Séc. XVI-XVII – PCP-49

Nas escavações realizadas no Poço dos Paços do Concelho, encontrou-se uma notável jarrinha modelada, engobada e brunida, com decoração a punção, introduzindo, pela sua riqueza de ornamentação, um gosto já próximo do barroco. Importa notar que raramente se têm encontrado exemplares inteiros deste tipo de peças cerâmica. Bibl.: LUNA, Isabel, CARDOSO, Guilherme, «Nota preliminar sobre as cerâmicas provenientes do poço dos Paços do Concelho de Torres Vedras», in Actas do 3º Seminário do património da região Oeste, Cadaval, Câmara Municipal do Cadaval, 2006, pp. 99-112.

81.

Canhões de Nossa Senhora de Penafirme – c. 1662 - Forte de Nossa Senhora de Penafirme – MMLT.001035

Em 1662, por ordem de D. Afonso VI, deu-se o início da construção de um forte em Porto Novo, o Forte de Nossa Senhora da Graça ou Forte de Nossa Senhora de Penafirme. A costa atlântica era um alvo frequente dos ataques de piratas vindos do Norte de África, o que se fez sentir particularmente no século XVII. O local era atrativo porque ficava longe de localidades e pouco defendido, sendo também uma região rica em fontes de água. Para defesa da costa foi criado um sistema de sinalização luminoso, com fachos que eram acesos nos locais mais altos. Na fortificação foram instaladas cinco peças de artilharia. O terramoto de 1755 destruiu o forte quase por completo. Bibl.: MATOS, Venerando António de, «Torres Vedras no Antigo Regime», in A.A.V.V., Torres Vedras - Passado e Presente, Vol. I, Câmara Municipal de Torres Vedras, 1996, pp. 95-155.

82.

Contador indo-português (29,4 x 22, 3 x 19,3 cm) – Séc. XVII (?) - MMLT.000282

52

Este pequeno contador foi adquirido a Manuel Agostinho da Fonseca (Torres Vedras), cerca de 1932. A madeira é exótica (sissó e teca), decorada com embutidos e ferragens de latão. Tem cinco gavetas, uma rectangular mais larga em baixo que é dobro da largura das outras quatro (duas lado a lado), que estão em cima. A decoração é muito simples, resumindo-se ao efeito de contraste entre as tonalidades da madeira, pois nas gavetas formam-se hexágonos alongados de cor avermelhada que marcam o local da ferragem da fechadura, que apresenta o formato de uma flor de lótus aberta. Tem grandes semelhanças com um contador seiscentista que se encontra exposto no Museu Nacional de Arte Antiga. 83.

Monogramista P.M.P. - Painéis de azulejos do Convento da Graça – Séc. XVIII – Claustro do Convento da Graça - MMLT.000763, MMLT.000764, MMLT.000765, MMLT.000766, MMLT.000767, MMLT.000768, MMLT.000769, MMLT.000770

As paredes do Claustro do Convento da Graça, de planta quadrangular, eram revestidas com nove painéis de azulejos, dos quais subsistem oito. Estes azulejos formam um importante conjunto de painéis historiados, com uma narrativa única, entre os mais importantes existentes em Portugal. Mostram um emolduramento barroco, com festões de flores e folhagem, que partem de caras de anjos entre volutas, vendo-se inferiormente florões. As cenas são identificadas através de legendas inscritas em cartelas, com anjos segurando sanefas. Os painéis são atribuídos ao monogramista P.M.P., um pintor de azulejos cativo em Lisboa no primeiro quartel do século XVIII, que foi o autor, entre outros, dos azulejos do Convento do Barro (Torres Vedras) (1714) e provavelmente, dos painéis da Capela-mor da Igreja de Santiago (Torres Vedras). Alguns dos azulejos foram retirados do Convento da Graça (cerca de 1834-1991), mas no local permaneceram o painel A (lado nascente), algumas filas do B (lado sul) e do painel I (lado Norte). Os painéis traçam uma narrativa sobre a vida de Frei Aleixo de Menezes (1559-1617), nascido com o nome de Pedro de Meneses, que foi um membro destacado da Ordem dos Agostinhos e prior do Convento da Graça em 1588. Destacou-se sobretudo pela sua ação evangelizadora no Oriente, sendo designado para Arcebispo de Goa (entre 1595 e 1612) e governador da Índia. Foi ainda Vice-rei de Portugal e Capelão-mor de Filipe II, tendo falecido em Madrid em 1617. O seu corpo foi trasladado para a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo em Braga, em 1621. Da sua ligação a Torres Vedras e ao Convento da Graça, destaca-se a escrita de uma biografia de São 53

Gonçalo de Lagos. A leitura dos painéis vai do sentido Nascente para Norte, contornando o claustro. O painel A (do lado Nascente) mostra a vida de Frei Aleixo de Meneses desde Torres Vedras até Goa, sendo este o maior painel com 12 azulejos de altura e 158 de comprimento. Os painéis B e D são relativos a Goa (do lado Sul). Os painéis E, F (Oeste) e G (Norte) não estão colocados, por constrangimentos de natureza arquitetónica. O painel E tinha quinhentos azulejos, mas só existem atualmente noventa e seis, razão porque não é possível a leitura da cena retratada. No painel H e I (lado Norte) assistimos à morte de Frei Aleixo de Meneses em Madrid e ao seu enterro e trasladação do corpo para a Igreja do Pópulo de Braga. Bibl.: Conjunto Azulejar do Claustro do Convento de Nossa Senhora da Graça. Levantamento Sumário do Estado de Conservação. Museu Municipal de Leonel Trindade, 2007; Os Azulejos do Convento da Graça de Torres Vedras, Município de Torres Vedras, Maio de 1995; SIMÕES, J. M. B. dos Santos, Azulejaria em Portugal no Século XVIII, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1979.

54

84.

Urna para sorteios (60 x 33 cm) – Séc. XVIII - MMLT.000285

Esta urna para sorteios em talha joanina dourada e policroma do século XVIII, foi oferecida à Câmara de Torres Vedras pelo Capitão-mor Francisco Mendo Trigoso, em 1929. Nesta peça observamos, na parte superior da urna, o escudo real e na base, de formato quadrangular, o brasão dos Trigosos da Casa da Quinta Nova. Todo o conjunto é sobrepujado por uma coroa e a urna tem no seu interior uma esfera de metal. Bibl. Torres Vedras. Museu Municipal, Câmara Municipal de Torres Vedras, s/d; CALADO, Rafael Salinas, «A Urna da Câmara de Torres Vedras», in Feira da Ladra, Tomo III, pp. 178-181.

85.

Galheteiro de vidro da Real Fábrica da Marinha Grande – Séc. XVIII-XIX

O galheteiro de vidro que se encontra no Museu Municipal Leonel Trindade caracteriza-se por ter um pé de base circular, nó e dois recipientes em forma de esfera que terminam em duas hastes que se cruzam, que serviam para a entrada e saída dos líquidos. É idêntico a outros que fazem parte das coleções de museus portugueses, como o Museu Nacional de Arte Antiga e o Museu Nacional Soares dos Reis. Este modelo foi fabricado pela Real Fábrica da Marinha Grande, cuja atividade iniciou em 1769, mas também há exemplos produzidos pela Fábrica de Coina e pela Fábrica da Vista Alegre (desde 1837). Bibl.: Matriznet [http://www.matriznet.ipmuseus.pt/matriznet/home.aspx], consultada a 13 de Dezembro de 2012; A Fábrica da Vista Alegre, O Livro do seu Centenário (1824-1924); BARROS, Carlos Vitorino da Silva, Real Fábrica de Vidros da Marinha Grande, II Centenário 1769-1969, Lisboa, Fábrica-Escola Irmãos Stephens, 1969.

86.

Cerâmica da Fábrica do Juncal – Séc. XVIII-XIX - PCP-339

No Museu Municipal de Torres Vedras guardam-se peças de cerâmica da Fábrica do Juncal (Alcobaça). Uma delas é uma bacia pintada em vinhático, do Século XVIII, encontrada nas escavações arqueológicas do Poço dos Paços do Concelho (2000). A Fábrica do Juncal foi 55

fundada por José Rodrigues da Silva Sousa, artista de estuque, ligado à faiança e à azulejaria. Funcionou entre 1770 e 1876, ganhando o título de Real Fábrica desde 1784. No ano de 1781, entrou ao serviço da Fábrica o ceramista José Fernandes da Fonseca, vindo de Coimbra, que terá sido o introdutor dos tipos decorativos que distinguem esta faiança. As peças que se encontram à guarda do Museu de Torres Vedras correspondem a uma segunda maneira que foi aplicada por esta fábrica, que se caracteriza por uma decoração sóbria e monocromática, mas de desenho original, pintada em tons de morado (roxo acastanhado) ou azul. Estes desenhos resultam de interpretações de temas vegetalistas de bordados e de paisagens de gosto oriental. O motivo que se vê na bacia encontrada no Poço mostra uma decoração de paisagem, figurando um solo sobre o qual se desenvolvem plantas pintadas de forma estilizada. Bibl.: LUNA, Isabel, CARDOSO, Guilherme, «Nota preliminar sobre as cerâmicas provenientes do poço dos Paços do Concelho de Torres Vedras», in Actas do 3º Seminário do património da região Oeste, Cadaval, Câmara Municipal do Cadaval, 2006, pp. 99-112; PORFÍRIO, José Luís, CALADO, Rafael Salinas, SAMPAIO, Jorge Pereira de, A Faiança da Fábrica do Juncal, Museu Nacional de Arte Antiga, 2000; QUEIRÓS, JOSÉ, Cerâmica Portuguesa, 2.ª ed., Aveiro, Livraria Estante, 1987; SAMPAIO, Jorge Pereira de, A Faiança da Real Fábrica do Juncal, Lisboa, ESTAR, 2000.

87.

Prato e chávena de faiança brasonada chinesa – c. 1860 – MMLT.000781

A importação de porcelana chinesa para a Europa está intimamente ligada à epopeia das Descobertas, surgindo depois do controle marítimo do comércio com a China no Século XVI. A porcelana era transportada para a Europa nas naus da “Companhia das Índias”, empresas particulares com apoio dos governos, mas a designação atual de “Companhia das Índias” designa a porcelana chinesa de exportação, cuja cronologia vai do início do século XVII até 1834, data de extinção da última “Companhia das Índias” inglesa. As primeiras encomendas que se conhecem, com decoração ao gosto do Ocidente, terão sido feitas entre 1540 e 1549, sendo que foi no Século XVIII que aumentou o número de peças de louça brasonada. No final do Século XVIII e já no Século XIX, grande parte da porcelana de exportação era acabada em Guangzhou, onde levava a pintura e decoração final. Foi nesse período final que foi criada a porcelana dita “Mandarim”. As peças que pertencem ao Museu Leonel Trindade são já do século XIX, e apresentam um tipo de colorido e estilística que se enquadra no período da dinastia Qing, reinado de Xianfang (c. 1860). O estilo ajusta-se ao chamado “Mandarim”, cujo colorido apresenta um híbrido entre a Família Rosa e a Família Verde. Os motivos decorativos da moldura compõem-se de flores e aves exóticas, ficando a zona central do pires e o lado exterior da chávena ornamentados com cenas figurativas ilustrativas do quotidiano oriental. No topo do pires está gravado o brasão de D. João Chrysostomo de Amorim Pessoa (1810-1888), doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra, que foi Bispo de Cabo Verde, Arcebispo Metropolitano de Goa e Arcebispo e Senhor de Braga. O brasão apresenta o escudo partido, contendo na primeira uma cruz, um ramo de oliveira e um livro; na segunda, cortada, as armas dos Amorins com cinco cabeças de mouros, e as armas dos Pessoas, com seis crescentes e sete estrelas de prata. Sobre a coroa de marquês e a cruz, está o chapéu de arcebispo, vendo-se ainda também a mitra e o báculo.

56

Existem outros exemplares, provavelmente do mesmo serviço, um dos quais numa coleção particular do Rio de Janeiro. Bibl.: CARVALHO, Eduardo Henrique Cansado, «A Companhia das Índias e a Porcelana, o Século XVIII e a Família Rosa», in Oceanos, n.º 14, Junho de 1993, pp. 84-91; CASTRO, Nuno de, A Porcelana Chinesa e os Brasões do Império, [Porto], Civilizaçäo, 1987; SOLLA, Conde de Castro e, Ceramica Brazonada, Revista de Arte e Heraldica, Vol. I, n.º 8, Março de 1929.

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PARTE V

IDADE CONTEMPORÂNEA – DO SÉCULO XIX AO SÉCULO XX Invasões Francesas

Vintismo Lutas Liberais

1807

1821

e Monarquia I República Constitucional

1834

1910

Ditadura II República Militar e Estado Novo 1926

1974

Século XIX A Revolução Francesa, em 1792, iria ter reflexos por toda a Europa, principalmente depois da chegada ao poder de Napoleão Bonaparte, com intenções expansionistas de criar um Império sob o seu domínio. A família real portuguesa refugiou-se no Brasil (1807) e as tropas francesas tentaram por três vezes conquistar o território, mas foram rechaçadas, graças ao apoio do exército inglês e também à estratégia de defesa incrementada com as “Linhas de Torres Vedras”. Em 1820, houve uma primeira tentativa de criar em Portugal uma Monarquia Constitucional. D. João VI decidiu regressar e pouco depois (1823) o reino retornava ao regime Absolutista. Seguiu-se um período de Guerra Civil, opondo D. Pedro, defensor do Liberalismo, ao seu irmão D. Miguel, que pretendia a preservação do Absolutismo. Em 1834, vencia o partido liberal e D. Maria chegava ao trono. Ainda se seguiram anos de lutas civis, agora entre os defensores da Constituição de 1820 e os defensores das Carta Constitucional, outorgada por D. Pedro. Torres Vedras seria novamente palco de contendas, nomeadamente com a batalha que ocorreu em 1846, opondo o Conde de Bonfim ao Duque de Saldanha. A partir da segunda metade do século XIX, o País entrava num período de paz, que foi preenchido com o incremento das obras públicas, indústria e comunicações, protagonizado por Fontes Pereira de Melo, período esse que ficou conhecido sob o nome de Regeneração. As estradas foram melhoradas e, em 1886, o caminho-de-ferro chegava a Torres Vedras, encurtando a distância para Lisboa. A população começou a habitar cada vez mais a região do litoral ocidental, mas o povoamento ainda era disperso e a atividade económica com maior peso continuava a ser a agricultura, particularmente com o cultivo da vinha e dos cereais. A hierarquia social permanecia sob a autoridade dos proprietários rurais, que eram agora, cada vez mais, membros da burguesia. Havia pouca indústria, apesar de existir alguma concentração especializada de ofícios em certas freguesias: curtidores (Freiria) e serradores (Maxial, Ramalhal e Ados-Cunhados).

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88.

Thomas Mitchell - The Lines in front of Lisbon (135 x 85 cm) – c. 1809 - Zincogravura MMLT.000832

Gravura adquirida em 1996, que apresenta um mapa das Linhas de Torres Vedras, cuja construção foi iniciada em 1809, com os fortes de São Julião da Barra, Sobral e Torres Vedras (Forte de São Vicente), a que se seguiram as fortificações de Mafra, Montachique, Bucelas e Vialonga. As Linhas de Torres Vedras eram constituídas por conjuntos de fortificações distribuídas em três linhas de defesa que asseguravam a proteção de Lisboa no caso de uma invasão vinda do Norte. A Linha de Torres Vedras propriamente dita era a que ficava mais a norte, seguindo de Alhandra até à Foz do Sizandro. Mais para sul existia uma outra Linha que seguia da Póvoa de Santa Iria para Ribamar. Perto de Lisboa existia um último reduto, que ficava junto de São Julião da Barra. O mapa que se encontra no Museu Leonel Trindade mostra as linhas defensivas de Torres Vedras, com a disposição dos diversos fortes e redutos. O mapa foi realizado pelo Major escocês Thomas Mitchell (1792-1855), que se juntou ao exército britânico como voluntário e veio para Portugal durante a Guerra Peninsular, onde serviu sob as ordens diretas de Lord Wellington. Em 1818, casou-se com Mary Blunt, em Lisboa, seguindo posteriormente para a Austrália (1827), onde desenvolveu uma importante carreira como explorador, a partir de 1831. Bibl.: CARRILHO, Paulo Nuno, ANUNCIAÇÃO, Carlos Manuel, Ficha de Inventário MMLT.000832, 10/1/2008; Guerra Peninsular (1807-1814), Torres Vedras, Museu Municipal Leonel Trindade, 2010 (catálogo de exposição); «Thomas Mitchell», in Wikipedia, [http://en.wikipedia.org/wiki/Thomas_Mitchell_(explorer)], consultada a 20/9/2012.

89.

Bufete de Maceira (78,2 x 92 X 144 cm) – Séc. XVII-XVIII - Madeira (pau-santo); ferragens (ferro e latão) –MMLT.000158

O Bufete da Maceira pertenceu à família do Solar da Quinta da Maceira e foi doado ao Museu de Torres Vedras por José da Cunha Santos Bernardes, a 26 de Julho de 1929, por especial pedido de Rafael Salinas Calado, que era então diretor do Museu. De acordo com as suas palavras: «Se um objecto ou um móvel estão ligados à tradição comprovada de um facto histórico, isto é, a um acontecimento da história nacional, e se esse acontecimento foi uma batalha travada e ganha pela independência da Pátria, esse objecto ou esse móvel são peças históricas de primeira grandeza. Está nesse caso o Bufete de Maceira (…)». De facto, este bufete é um documento histórico, pois para além de testemunhar o gosto e os costumes de uma época, encerra um elevado valor simbólico. Segundo a lenda, foi sobre ele que Wellesley (futuro Duque de Wellington) e o general Kellerman (em representação de Junot) assinaram o 59

armistício, em 22 de Agosto de 1808, após a derrota das tropas francesas na Batalha do Vimeiro. O Bufete da Maceira é uma mesa de tampo rectangular com bordo encordoado, composto por quatro pernas torneadas e em bolachas, assente em seis pés ligados por travessas. O aro do tampo possui gavetas em toda a volta. Corresponde a uma tipologia de bufetes de pau-santo, realizados em Portugal desde o Século XVII, caracterizados pelas suas pernas robustas e torneadas, com frente de gavetas decoradas com tremidos (molduras onduladas) e ferragens de latão dourado. São demonstrativos do designado «estilo nacional» e dão testemunho da «perícia dos nossos torneiros e entalhadores do século XVII» (PROENÇA, 2008). Existem numerosos exemplos deste tipo de móveis nos museus portugueses, pois estas mesas eram frequentes nas casas abastadas. Importa ainda assinalar que, apesar de serem comuns no Século XVII (quando foi criado o modelo), já existiam desde o século XV, sendo usados como móveis de apoio nos banquetes das casas senhoriais. Passaram depois a ser utilizados para escrever e contar dinheiro e, a partir do século XVIII, a fazer parte do mobiliário de adorno. Bibl.: ALMEIDA, Ana Margarida, «Noite dos Museus», Museu Municipal Leonel Trindade, 2012; Guerra Peninsular (1807-1814), Torres Vedras, Museu Municipal Leonel Trindade, 2010 (catálogo de exposição); PROENÇA, José António, «A Colecção de Mobiliário do Museu Condes de Castro Guimarães: Ecletismo e Revivalismos», in MENDONÇA, Isabel Mayer Godinho, SALDANHA, Sandra Costa, SALDANHA, Teresa (Coord.), Mobiliário português – Actas do 1.º Colóquio de Artes Decorativas, Lisboa, ESAD-FRESS, 2008, pp. 115-126; SALES, António A., Torres Vedras, Roteiro Turístico, Câmara Municipal de Torres Vedras, 2007; «Um texto esquecido sobre um móvel histórico», 28/5/2010, in ADDPCTV- Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras, [http://linhasdetorres.blogspot.pt/2010/05/um-texto-esquecido-sobre-um-movel.html], consultada a 27/7/2012.

90.

Tabuleta de A dos Cunhados (30 x 60 cm) – MMLT.000032

Na praia de Porto Novo, perto do local onde se desenrolou a batalha do Vimeiro, desembarcaram, entre 20 e 21 de Agosto de 1808, duas brigadas que vieram reforçar as tropas britânicas. Parece que, antes da batalha, os habitantes de A dos Cunhados, ao avistar os soldados do exército britânico, entenderam isso como o fim dos seus males e aclamaram o Príncipe Regente, D. João VI. A tábua de A dos Cunhados, afixada mais tarde no local do acontecimento, relata a memória deste evento. Trata-se de uma tábua de pinho, pintada de branco numa das faces, tendo uma faixa larga de negro enquadrando os seguintes versos: «Neste lugar dos Cunhados Com grande prazer e gosto Foi o príncipe aclamado Em dezanove de Agosto. Mil oitocentos e oito Era o ano que corria Sacudiu-se o jugo francês Restaurou-se a monarquia». A tabuleta apresenta os dois orifícios, com que fora pregada na praça onde se faziam as transações do peixe, na praia de Porto Novo. Contudo, demostrando o descaminho que muitas 60

vezes sofre o nosso património, conta-se que foi recolhida pelo Capitão Luís Paulo Cosme, que a cedia ao sapateiro que ia a sua casa para consertar o calçado. Mais tarde, a tabuleta passou para posse da família Moura Borges, que a ofereceu ao Museu, de acordo com um relato de Rafael Salinas Calado. Bibl.: Guerra Peninsular (1807-1814), Torres Vedras, Museu Municipal Leonel Trindade, 2010 (catálogo de exposição); «Um texto esquecido sobre um móvel histórico», 28/5/2010, in ADDPCTV- Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras, [http://linhasdetorres.blogspot.pt/2010/05/um-texto-esquecido-sobre-um-movel.html], consultada a 27/7/2012.

91.

George Landermann - Vista de Torres Vedras (do Norte) (41,6 x 35 cm) – 1818 – Aquatinta colorida - MMLT.000290

Proveniente de Inglaterra e adquirida em 1990, a aquatinta intitulada Vista de Torres Vedras (do Norte), foi realizada em 1818, sobre desenho de George Thomas Landmann (1780-1854). Este foi um engenheiro e oficial do exército Inglês. Nascido em Londres, realizou os seus estudos na Royal Military Academy em Woolwich, onde o seu pai era professor de artilharia e fortificações. Iniciou a carreira militar em 1793, passando a fazer parte dos Royal Engineers desde 1795. Dois anos depois foi colocado no Canadá e, no ano de 1805, enviado para Gibraltar. Desembarcou em Portugal em 1808, ocupando o posto de comandante dos engenheiros reais. Ferido em Espanha, em 1811, regressou para Inglaterra, onde se reformou em 1824. Depois dessa data, foi responsável por planos de engenharia dos caminhos-de-ferro britânicos e foi eleito membro da Institution of Civil Engineers, em 1835. Foi durante a sua estada em Portugal que George Landmann recolheu os dados que informam o livro publicado em dois volumes, sob o título de Historical, Military, and Picturesque Observations on Portugal. A obra é composta por texto e gravuras, tendo sido impressa em Londres, por T. Cadell e W. Davies. É importante esclarecer que este tipo de livros de viagens estava em voga no início do século XIX. Relativamente a Portugal, em 1812, William Bradford publicou Sketches of the Country, Character, and Costume, in Portugal and Spain, baseando-se em desenhos realizados durante as campanhas militares inglesas, entre 1808 e 1809. Depois dele, outros estrangeiros se interessaram por Portugal, principalmente porque o isolamento do País, relativamente ao exterior, tinha levado a uma preservação de costumes e paisagens, que atraíam pelo seu aspecto pitoresco. A gravura Vista de Torres Vedras de George Landmann surge no contexto do segundo volume, acompanhando uma breve descrição da vila no início do Século XIX. No texto, diz-se que Torres Vedras é uma vila importante sobretudo do ponto de vista militar. É uma cidade situada no centro de um vale plano e fértil, rodeado por montanhas, coroadas por moinhos de vento. As montanhas do lado Norte são rochosas, tendo alguma vegetação, formada nomeadamente por pinhais, cuja madeira poderia fornecer combustível. Na sua gravura vemos uma paisagem do Norte de Torres Vedras, pontuada à esquerda pelo castelo e à direita pelo Forte de São Vicente, que começou a ser construído em Novembro de 1809. Bibl.: Guerra Peninsular (1807-1814), Torres Vedras, Museu Municipal Leonel Trindade, 2010 (catálogo de exposição); LANDMANN, George, Historical, military, and picturesque observations on Portugal, illustrated by seventy-five coloured plates, including authentic plans of the sieges and battles fougth in the Peninsula during the late war, Vol. II, Londres, T. Cadell & W. Davies, 1818,

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[online at http://purl.pt/22714/1/]; Mundo do Livro, [http://www.mlivro.com/ml_reproducoes.htm], consultada a 6 de Novembro de 2012; TUNIS, Barbara R., «LANDMANN, GEORGE THOMAS», in Dictionary of Canadian Biography Online, University of Toronto / Université Laval, 2000, [http://www.biographi.ca/009004-119.01-e.php?&id_nbr=4015&terms=date], consultada a 6 de Novembro de 2012.

92.

Armando Mesquita, Fábrica de Louça de Sacavém - Figuras da Guerra Peninsular (43 x 18,3 cm ) - MMLT.000018- MMLT.000031

No Museu de Torres Vedras guarda-se um conjunto de catorze estatuetas da série alusiva à Guerra Peninsular, produzidas pela Fábrica de Louça de Sacavém (fundada em 1850) desde 1945. As peças foram modeladas por Armando Mesquita (1907-1982), um dos mais notáveis modeladores da Fábrica. Estas figuras estão entre as mais interessantes daquelas que foram produzidas pela Fábrica de Sacavém, na linha da louça decorativa e da estatuária. As cores são vistosas, correspondendo às fardas dos soldados, que assim as usavam para melhor se distinguirem dos inimigos. As figuras estão representadas com realismo e detalhe documental, mostrando as diferentes fardas, de acordo com o regimento a que pertenciam, não esquecendo os adereços que levavam em campanha militar, como a mochila e o cantil. A maior coleção privada, conhecida, destas figuras militares pertence à Horward Collection, sendo composta por trinta e uma estatuetas. Bibl.: ASSUNÇÃO, Ana Paula, ANICETO, Jorge Vasconcelos (2000), História da Fábrica de Loiça de Sacavém, [Loures], Museu de Cerâmica de Sacavém; Memórias e Arquivos da Fábrica de Loiça de Sacavém [http://mfls.blogs.sapo.pt], consultada a 8 de Novembro de 2012.

93.

Retrato de D. Miguel - c. 1828-1833 – óleo sobre tela - 208x65x5cm – MMLT.000189

D. Miguel (1802-1866) era filho de D. João VI e de D. Carlota Joaquina e foi rei de Portugal entre 1828 e 1834. O retrato que se encontra no Museu Municipal Leonel Trindade pertenceu à Câmara de Torres Vedras e representa D. Miguel como rei, aclamado pelos Três Estados. Segue uma iconografia utilizada noutros retratos reais portugueses, figurando o monarca de pé, com os ombros e as costas cobertas por um longo manto vermelho. Segura na mão direita o cetro, apoiando a mão contrária no punho da espada. No lado esquerdo do observador, vêse uma mesa, sobre a qual está exposta a coroa real. 62

A história deste retrato relaciona-se com os acontecimentos da Guerra Civil que opôs D. Miguel ao seu irmão D. Pedro, na luta pelo trono português. Como já antes referimos, D. Miguel defendia a manutenção da Monarquia absolutista e D. Pedro pelejava pela implantação da Monarquia liberal, desejando ceder o trono à sua filha D. Maria. Em 1833, a cidade de Lisboa foi ocupada pelo Duque da Terceira, partidário de D. Pedro, mas a vitória liberal só ficou assegurada em 1834. Entretanto, desde 16 de Outubro de 1833, os vereadores da Câmara de Torres Vedras tinham aclamado a rainha D. Maria II como soberana do Reino. O retrato de D. Miguel, que se encontrava na Câmara, foi arrancado da parede, rasgado em tiras e atirado para a rua através de uma janela. Alguém o recolheu, guardou e reconstruiu, cerzindo os fragmentos da tela. O retrato esteve na posse do capitão António Soares Andréa, entrando depois para a coleção do Museu, onde ainda hoje se guarda, com as marcas das costuras, que dão testemunho desta história narrada por Júlio Vieira, em 1926. Bibl.: «Henriques Nogueira», 17//2011, in Companheiros de viagem, [http://bibliotecahenriquesnogueira.blogspot.pt/2011/01/henriques-nogueira-iii-1833-1836.html], consultada a 28/7/2012; SOARES, Ernesto, LIMA, Henrique De Campos Ferreira (1947-1960), Dicionário de Iconografia Portuguesa, Lisboa, Instituto para a Alta Cultura; VIEIRA, Júlio, Torres Vedras Antiga e Moderna, Torres Vedras : Tip. da Sociedade Progresso Industrial, 1926.

94.

Candeias de latão com efígie de D. Pedro IV (19,3 x 8,6 cm e 18,2 x 7,0 cm) – 2.º quart. Séc. XIX - MMLT.000187 e MMLT.000188

No Museu de Torres existem duas candeias de latão, provavelmente do século XIX. A peça de maiores dimensões foi oferta do Tenente França Borges e entrou no Museu em 1929, sendo que a segunda foi adquirida em 11 de Agosto também de 1929. Estas candeias serviam para iluminar as casas com azeite e seguem um modelo característico de oitocentos, com o depósito munido de dois braços ou bicos por onde saía a chama. As candeias são guarnecidas de apetrechos ligados por correntes, também em latão. O reservatório tem a forma de campânula, os apetrechos são uma pinça e um espevitador com haste de suspensão. No cimo das candeias vê-se uma medalha com a efígie de D. Pedro IV, estando por isso associadas às lutas liberais e à vitória da Monarquia Constitucional. 95.

Bilhas de Segredo das Caldas da Rainha – c. 1880

No Museu de Torres Vedras existem duas bilhas que se conhecem como de “bilhas de segredo”. Este tipo de bilhas é de tradição antiga, consistindo o seu segredo no facto de se ter de tapar um dos orifícios, por vezes difícil de vislumbrar, para se poder beber seguramente da bilha. São semelhantes, embora mais simples, a um modelo produzido pela Fábrica de Manuel Cipriano Gomes, “O Mafra”, que se situava nas Caldas da Rainha. As bilhas do Museu Leonel Trindade têm a mesma forma bojuda e gola rendilhada encimada por bordo circular em musgado, o que leva a pensar que tenham sido produzidas também nas Caldas da Rainha, pela 63

mesma época (1870-1887). Importa notar que um tipo de bilha mais simples, mas também com este modelo decorativo, era fabricado, em 1853, na oficina de Maria dos Cacos (Caldas da Rainha), onde Manuel Mafra trabalhou e que depois trespassou. Bibl.: Manuel Mafra 1829-1905: Mestre na Cerâmica das Caldas, Caldas da Rainha, Museu da Cerâmica, Maio de 2009; Matriznet [http://www.matriznet.ipmuseus.pt], consultada a 27 de Dezembro de 2012; SANDÃO, Artur de, Faiança Portuguesa século XVIII – XIX, Lisboa, Livraria Civilização.

96.

Terrina das Termas dos Cucos - c. 1893-1896

A utilização terapêutica das águas e lamas dos Cucos teve início em 1746, quando o cirurgião Máximo Moniz de Carvalho as pôs em uso para a medicina. Em 1866, foi nomeada uma Comissão para o estudo das águas, chefiada pelo médico Tomás de Carvalho (1819-1897). A decisão de se fazer um estabelecimento termal foi responsabilidade de José Gonçalves Dias Neiva (natural de Fragoso), proprietário do terreno e que encomendou a execução das termas ao engenheiro António José Freire. No ano de 1890, foi construído o balneário e data de 30 de Setembro de 1892 o Decreto que determinou o aproveitamento das nascentes e a exploração dos estabelecimentos balneares. O alvará de licença fez-se em 25 de Outubro de 1893, sendo nesse mesmo ano inauguradas as Termas. No final do século XIX, estava criada a Estância Termal, com Balneário, Praça das Termas, Avenida das Termas, Casino (1896) e habitações – as vivendas D. Feliciana (1895) e D. Maria (1896). As suas águas e lamas serviam para o tratamento do reumatismo, gota, artritismo e afeções cutâneas. Por aqui passaram várias pessoas que marcaram a história de Portugal: em 1893, a Condessa d’Edla (1836-1929), viúva do rei D. Fernando II; entre 1902 e 1907, o médico Egas Moniz (1874-1955); e, em 1920, o Presidente da República António José de Almeida (1866-1929). A terrina, que hoje está no Museu Leonel Trindade, foi produzida pela Fábrica Constância (Lisboa) e seria do serviço do Hotel. A sua decoração é clássica, com motivos decorativos estilo Metz na bordadura e figurando ao centro uma imagem das termas sobrepujada por um escudo com um castelo, que se assemelha ao brasão de Torres Vedras, tendo no meio um círculo com o anagrama de Dias Neiva. De ambos os lados estão duas figurações simétricas do deus Mercúrio com uma cobra nas mãos, que alude à ciência e à medicina. A peça será de cerca de 1893-1896, pois a marca que está no fundo, da Fábrica, foi a usada entre os anos de 1885 a 1896. Bibl.: FREIRE, Justino Xavier da Silva, FREIRE, António Jorge (1894), Portugal : Thermas Dos Cucos (Torres Vedras), Estabelecimento Balnear e Hydrotherapico e Lamas Minero Medicinaes. Relatorio da Epoca Balnear De 1893, Lisboa, Typ. Costa Braga; VIEIRA, José António Neiva, História das Termas do Vale dos Cucos, Separata de «O Médico», n.º 676, 1964.

97.

José Joaquim Teixeira Lopes (Pai) - Grupo escultórico em barro - c. 1908 MMLT.000033

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José Joaquim Teixeira Lopes (1837-1918) foi um escultor e barrista, pai de António Teixeira Lopes (escultor) e de José Teixeira Lopes (arquiteto). Nasceu em São Mamede da Ribatua e começou os seus estudos como aprendiz, na oficina de Manuel da Fonseca Pinto, no Porto e em Gaia, estudos esses que desenvolveu posteriormente na Academia Portuense de BelasArtes e em Paris, onde foi aluno de Jouffroy. Foi autor da estátua de D. Pedro V (1862), que se encontra na Praça da Batalha, no Porto, mas distinguiu-se sobretudo na cerâmica, tendo trabalhado na Fábrica de Devesas e fundado, em 1881, uma escola de desenho e modelação que esteve na origem da Escola Industrial Passos Manuel (Gaia). A escultura que se encontra em Torres Vedras, feita em barro e de pequenas dimensões, foi talvez executada aquando das comemorações do primeiro centenário da Guerra Peninsular (1908). Esta obra, apesar das suas reduzidas dimensões, mostra as qualidades do escultor, quer pelo realismo, quer pela expressividade das personagens. Construída dentro de uma configuração piramidal, vemos um homem de pé, corajosamente preparado para defender a sua mulher, que está agachada atrás dele para proteger o filho. Bibl.: «José Joaquim Teixeira Lopes», in Universidade do Porto, 2008, [http://sigarra.up.pt/up], consultada a 22 de Novembro de 2012: PAMPLONA, Fernando de, Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, Vol. V, Barcelos, Livraria Civilização Editora, 2000, pp. 282-283; PORTELA, Ana Margarida, «A Fábrica de Cerâmica das Devesas – percurso biográfico dos seus principais artistas», in Artistas e Artífices e a sua Mobilidade no Mundo de Expressão Portuguesa, Actas do VII Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2005, pp. 43-45; SANDÃO, Artur de, Faiança Portuguesa século XVIII – XIX, Lisboa, Livraria Civilização..

Século XX Desde o final do Século XIX, que o republicanismo ganhava força na vida política portuguesa. Em 1908, o Regicídio punha fim à vida de D. Carlos e de D. Luís Filipe, e, em 5 de Outubro de 1910, caía a Monarquia. O País passava a ser governado segundo um regime republicano. Os anos seguintes trariam novidades para o quotidiano de Torres Vedras. Em 1911, era inaugurada a primeira sala de cinema, com o Salão Avenida Animatógrafo; no ano de 1912, era inaugurado o sistema de luz elétrica; em 1915, iniciou a carreira regular de camioneta para Lisboa e, em 1923, era fundado o Teatro-Cine Ferreira da Silva. Entretanto, a ligação telefónica entre Lisboa e Torres Vedras ficou regularizada desde 1929. Contudo, apesar da aparência de progresso, viviam-se anos difíceis em termos económicos, o que foi agravado pela Primeira Grande Guerra, entre 1914 e 1918. A situação difícil do País favoreceu o Golpe Militar de 28 de Maio de 1926, que iria dar lugar a uma Ditadura Militar e ao Estado Novo, sob o governo de Oliveira Salazar. Foi durante este período que o antigo Convento do Barro foi transformado em Sanatório para o tratamento da tuberculose e foi também neste tempo que se mandaram 65

construir as Escolas Primárias, dentro do Plano dos Centenários. Com o passar do tempo, o regime ditatorial recebeu cada vez maior oposição, acabando em 25 de Abril de 1974 com a Revolução que daria início ao novo período democrático que agora se vive. 98.

Vestido de batizado – c. 1910 – MMLT.005348

O vestido com a touca foi adquirido em Fevereiro de 1969, por oferta de Aurora da Liberdade Rosa e de Alva Bela Rosa, provavelmente familiares do padre João Germano da Rosa, proprietário e diretor do Colégio dos Lóios, em Évora, de onde era natural. Trata-se de um vestido de batizado, de bebé, com folhos e rendas, seguindo um modelo clássico. É possível que as rendas fossem reutilizadas de um vestido mais antigo, o que era habitual. O vestido é de seda branca, cor que simboliza a pureza e a entrada numa nova vida, coadunando-se com o que é canónico num batismo católico e cristão. Contudo, tem a originalidade de ser decorado com fitas vermelhas e verdes, que o ligam ao período de euforia que se viveu na altura da Implantação da República, em finais de 1910 ou já em 1911. O vestido talvez tenha sido usado em Évora ou, possivelmente, em Torres Vedras, onde existiu, desde 17 de Março de 1912, um Centro Republicano. 99.

Pina d’Emarghi - Auto-retrato - óleo sobre aglomerado de madeira telado – MMLT.001272

Maria Luísa Giuseppina Tornato Pina d’Emarghi Roberto foi uma pintora de origem italiana, nascida em Lisboa em 1906, que se distinguiu como retratista. Foi também escritora e sobretudo contista. Expôs na Sociedade Nacional de Belas-Artes de Lisboa e na Galeria do Diário de Notícias. Existem numerosas obras suas no Museu Leonel Trindade e, entre elas, destacamos este retrato onde se podem ver, para além de uma tradição naturalista, uma tendência para o retrato psicológico valorizado pela elegância, tal como foi observado por Fernando de Pamplona, a propósito dos seus retratos. Este autorretrato apresenta a artista com o rosto a três quartos, direcionado para o lado esquerdo, enfrentando o espectador com uma expressão simultaneamente inquisitiva e serena. Bibl.: PAMPLONA, Fernando de, Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, Vol. II, Barcelos, Livraria Civilização Editora, 1987, pp. 235-236.

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Casa Hipólito 66

Fogareiro a petróleo (querosene), modelo nº2 – 22,5 x 21,5 cm. Candeeiro – MMLT.002802, MMLT.002803 e MMLT.002804 Pulverizador – MMLT.002818

Em Maio de 1900, apareceu em Torres Vedras uma oficina de funileiro, situada na Rua Serpa Pinto, que viria a dar origem à Casa Hipólito, legalmente constituída em 1912. Em 1905, a oficina iniciou a fabricação de pulverizadores para a viti-vinicultura e, já em 1933, a fabricação de fogões a petróleo. Para este fim foram construídas novas instalações fabris, que eram modelo de uma “fábrica moderna”. No período pós-guerra, a produção de fogões orientou-se progressivamente para o mercado externo, nomeadamente para o Brasil, Arábia Saudita, Líbano e Israel. A aquisição de novos mercados, em especial o dos países árabes, criou a necessidade de acrescentar inscrições em árabe, o que conferiu um aspeto distintivo aos fogões. António Hipólito faleceu em 1954, deixando à frente da empresa os seus três filhos, José, João e Alberto, e o genro Vasco Parreira. Na década de 70 foi construído o complexo industrial em Arenes, ficando a produção decomposta em quatro divisões: de agricultura, onde se produziam os pulverizadores; de querosene (petróleo), onde se produziam os fogões e candeeiros; de gás/água, onde se produziam os esquentadores, os fogões e candeeiros a gás; de veículos, onde se produziam (já no final da década de 80) um modelo de carrinho para bebés e uma bicicleta, em parceria com a empresa inglesa Strida. A fábrica fechou em 1999 e as peças que estão no Museu foram adquiridas no ano 2000. Bibl.: BRÁS, Rui Jorge Nunes, Objectos vulgares: o Fogão de Petróleo «Hipólito», 2010 (Trabalho de Mestrado em Museologia).

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BIBLIOGRAFIA «Dia Internacional dos Monumentos e Sítios - Água: Cultura e Património», Abril 2011, in Câmara Municipal de Torres Vedras, [http://www.cm-tvedras.pt/ficheiros/agendaanexos/dia_internacional_dos_monumentos_e_saitios.pdf], consultada a 25/7/2012. «El pinjante “del dragón”. Pinjantes o piezas de jaez: los adornos de los caballos», 21/2/2012, in Museo Diocesano Barbastro-Monzón [http://museodiocesano.es/2012/02/21/el-pinjantedel-dragon/], consultada a 23/7/2012. «Escavações arqueológicas detectam raro espólio medieval no castelo de Torres Vedras», in Diário de Lisboa, 17/9/1986. «Exposição virtual – Jogos ancestrais», in Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa [http://mat.fc.ul.pt/mej/expo.html], consultada a 25/4/2012. «Peça do Mês – Junho», Museu Municipal Leonel Trindade, 2012. «Recordação da Fonte Nova», 8/4/2011, in Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras, [http://patrimoniodetorresvedras.blogspot.pt/2011/04/recordacao-da-fonte-nova.html]. «S. Geão – Torres Vedras», [http://arqtvedras.home.sapo.pt/LetraS/S0055.htm].

in

Torres

Vedras,

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