Cenários Homossexuais em Salvador: Territórios do Desejo e da Desigualdade 1

May 23, 2017 | Autor: Osmundo Pinho | Categoria: Sexuality, Critical Race Theory, Pierre Bourdieu, Territoriality, LGBT Studies, Salvador - Bahia
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Cenários Homossexuais em Salvador: Territórios do Desejo e da Desigualdade1 Osmundo Pinho2

Introdução A apresentação que deu origem a este ensaio foi baseada em dados e experiências produzidas durante período, entre 1995 e 1998, no qual coordenamos projeto de intervenção social numa organização não governamental em Salvador, Bahia, de modo que as reflexões e considerações de natureza teórica que aqui revisitamos e desenvolvemos, estiveram originalmente submetidas ao interesse principal de produzir uma compreensão prática sobre o comportamento dos agentes, interrogando, naquela oportunidade, o nível de determinações mais efetivo. De tal forma que o foco na prática sexual – e não nas identidades - serviu-nos como guia. A ONG em questão é o GAPA-BA (Grupo de Apoio à Prevenção à AIDS da Bahia)3, ainda em atuação (http://www.gapabahia.org.br/index.html), e o projeto que coordenávamos na época estava dirigido para a prevenção de DST/AIDS e promoção de direitos humanos entre homens que fazem sexo com outros homens, independentemente da identidade que faziam para si ou para seus parceiros. Nossa hipótese principal naquele momento - qual seja a de que a prática (homo)ssexual é estruturada segundo linhas de organização baseadas principalmente em determinações de classe e raça - apoiava-se tanto na reflexão, baseada na convivência prolongada e sistemática, quanto em dados mais objetivos de natureza tanto qualitativa quanto quantitativa de que dispúnhamos. No que segue procuraremos apresentar de forma resumida e ainda exploratória alguns destes dados, chamando a atenção para a relação entre estrutura e agência, tal como podemos flagrá-la organizando as práticas em contextos territorializados. Estes contextos são os lugares da identidade homossexual que estão

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Esse ensaio foi preparado a partir de apresentação realizada durante o seminário “Stonewall 40 Mais o que no Brasil?”, organizado pelo grupo de pesquisa Cultura e Sexualidade (CUS/CULT/UFBA). Segmentos deste texto foram apresentados anteriormente como a comunicação “Raça, Territorialização e Identidade entre Homens que fazem Sexo com Homens em Salvador” apresentada em 2002, em Gramado, na 23ª Reunião Brasileira de Antropologia, na Sessão de Comunicações Coordenadas “Lazer: corpo, território e produção de subjetividades”, coordenada por Patrícia Faria e Elielma Machado. A gestação embrionária das ideias aqui contidas foi esboçada na comunicação “Além de Preto, Viado: Racismo e Preconceito contra homo ou bissexuais com fatores de exposição ao risco para HIV/AIDS” apresentada durante o IX Encontro Brasileiro de Gays, Lésbicas e Travestis/ II Encontro Brasileiro de Gays, Lésbicas e Travestis que trabalham com AIDS, ocorrida em 1997 no Hotel San Raphael, no Largo do Arouche, em São Paulo. 2 Professor Adjunto no Centro de Artes, Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, campus de Cachoeira; do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da mesma universidade; e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal da Bahia. Bolsista do CNPq. 3 Temos prazer em agradecer a toda a equipe do GAPA-BA, em especial ao seu coordenador geral, Harley Henriques do Nascimento, e a toda a equipe do Programa Homo-Bissexuais, notadamente aos multiplicadores. Como não pudemos recuperar o nome de todos os agentes que integraram a equipe ao longo dos anos, na pessoa de Diamantino Lessa, que participou em todas as etapas, agradecemos a todos os demais.

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constituídos segundo suas dinâmicas próprias, mas também em relação a fatores estruturantes descritíveis para outros contextos mais gerais, em especial no que se refere à raça/cor4. Do mesmo modo procuraremos, ao final, proceder a certa atualização política de nossa experiência, que ressalte os impasses para as politicas de identidade LGBT e para as politicas vernáculas da cultura (homo)sexual em Salvador. De sorte a oferecer contribuição crítica à reflexão sobre os 40 anos do marco da revolta em Stonewall, e suas repercussões contemporâneas para a política das identidades homossexuais no Brasil. Chegando Junto Acreditamos, agora, como naquele momento, que o comportamento homossexual como prática sexual propriamente dita e como o conjunto de interações sociais associadas às práticas sexuais - é estruturado e não espontâneo ou de motivação puramente subjetiva. O que o estrutura não é o jogo intercambiante de “marcadores sociais da diferença”, articulados como categorias numa lógica classificatória autoreferenciada, que extrairia sua eficácia operativa dos próprios princípios que a organizam, numa típica tautologia para-estruturalista, explicando a vida social por meio das categorias que os próprios agentes mobilizam, imersos na “intransparência da vida social”; ou, dito de outro modo, por meio de rematado culturalismo. Na verdade, a tensão aparente entre desejos individuais e constrangimentos sociais gerais seria o nosso ponto para este caso. Poderíamos, de fato, formular a questão fundamental que interroga nossos dados através das seguintes variações: como os agentes interagem socialmente com padrões estruturados de comportamento relativos aos campos específicos de atuação? Qual a lógica interna específica destes campos? Quais as categorias fundamentais que estruturam estes campos? A questão de como estes homens “aprendem” a interpretar corretamente os sinais contextuais e criam uma linguagem que constitui o próprio contexto no qual estão embebidos como agentes individuais, e que é ao mesmo tempo produzido por eles, remete a questão, central para as ciências sociais modernas, da relação entre ação e estrutura (Ortiz, 1983; Bourdieu, 1989; Giddens, 1978). O que nos permitiria extrapolar das motivações puramente subjetivas, ou subjetivistas, assim como das tautologias de uma lógica classificatória formalizada (Coutinho, 2010). Os lugares que focalizamos no projeto são exemplos de auto-constituição reflexiva das práticas identitárias e do território. Estes lugares são espaços, ou de interação social, ou de cruising/pegação, a busca por sexo anônimo e casual, tão característica do comportamento homossexual masculino em todo o mundo ocidental (Pollack, 1993). Estes lugares se constroem segundo um forte apelo sexual, o que parece previsível na medida em que a sexualidade é o lugar da diferença homossexual, 4

Sobre a prevalência de categorias raciais, orientando processos de racialização na sociedade brasileira, Cf. Hasenbalg, 1996 e 2003 e Telles, 2003. Sobre a articulação raça e classe em Salvador, Cf. Guimarães, 1987 e 1996; e Pinho, 2003. Osmundo Pinho Salvador, setembro de 2010

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e onde se estabeleceu o seu limite fundamental, operado por meio de determinada disseminação do dispositivo da sexualidade (Miskolci, 2005). Este aspecto é muito interessante porque as identidades homossexuais públicas são, é claro, mais do que estratégias sexuais, incorporando outros elementos, como uma tradição de autoestilização, certo gosto musical e estético, assim por diante (Rios, Almeida e Parker, 2004). Ora, na maioria dos locais onde trabalhamos encontramos, entretanto, muitos homens que não participam destas comunidades homossexuais imaginadas, mas que participam sofregamente das estruturas de interação propriamente sexual5. Desse modo, a própria prática sexual, desvinculada da identidade, compõe também a ambiência destes lugares como nos mostra o exemplo dos cinemas de “pegação”. Nesse sentido, o exercício da sexualidade, desvinculada de qualquer filiação identitária, é o denominador comum para estas estruturas contingentes (Sahlins, 1990) e para a relação que estabelecem entre as diversas manifestações do desejo homossexual. A sexualidade, nesse caso, é, todavia, estruturada, porque se exerce dentre de parâmetros sociais e históricos (dentre os quais a formação das classes sociais; a racialização; a modernização conservadora; o dispositivo da sexualidade) e estruturante, porque através de sua ação os agentes constituem simbólica e fisicamente lugares para relações sexuais definidas como relações sociais (Pollak, 1987; MacRae, 1983). Gostaríamos de considerar como a atividade (homo)ssexual estrutura concretamente os contextos onde ela se desenrola. Existem, sabemos, dispersos na malha das grandes cidades brasileiras, pontos focais específicos, muito diversos entre si, e que atraem grande quantidade de gays (ou homens que fazem sexo com homens). O poder dessa atração ou é sexual ou está marcado pelo sexo. Estes lugares constituem territorialidade homossexual e mostram, de algum modo, como a sociedade (em seus afastamentos diferenciais e zonas de intercessão) produz a si mesma através das interações entre o agente e a estrutura social pré-existente. O que propusemos naquele momento adotar como estratégia de ação e compreensão apoiava-se numa perspectiva que tomava como cenário de referência fundamental a adequação da ação dos agentes à estruturas preexistentes. Menos preocupados em classificar os indivíduos sexualmente a partir de categorias arbitrárias, e em como esta categorização, interferia no curso de suas práticas, e mais interessados em detectar como campos estruturados e estáveis de interação se produzem como conjuntos de normas e regras objetivas e exteriores aos sujeitos, procuramos pôr ênfase nas práticas significativas observadas, entendendo-as como efetivas mediadoras entre a ação, ela em si estruturada, e a estrutura, ela em si dinâmica. Muitos estudos, por outro lado, tem sido pródigos em documentar a constância e frequência de interações sociais e sexuais de travestis e homossexuais em geral com 5

Como aponta também Braz, para outro contexto (Braz, 2007). Osmundo Pinho Salvador, setembro de 2010

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homens classificados como não homossexuais, ou seja, com aqueles não autodefinidos ou reconhecidos como homossexuais, ou gays, daí a preocupação em utilizar-se expressões como “homens que fazem sexo com homens”, “homens com comportamento homossexual”, “homoerotismo” etc., como um esforço para dar conta de uma forma abrangente e, muitas vezes, meramente descritiva, da diversidade e irregularidade dos tipos sociais envolvidos em práticas homossexuais (Henriksson & Manson, 1995). Com base nessa compreensão, o Programa Homo-Bissexuais definiu uma estratégia de ação baseada na convicção de que não seria possível alcançar os homens com comportamento homossexual se nos prendêssemos apenas a formas codificadas, ou classificadas, segundo a lógica classificatória nativa, de manifestação de uma identidade gay ou homossexual. Sabedores de que o espectro de homens que fazem sexo com homens é maior e mais complexo do que a fração dos que fazem socialmente a vinculação a alguma comunidade de identidade, definimos que nossa via de acesso a estes homens não seriam as expressões de uma identidade estável mas os espaços de circulação desses agentes, circunstancialmente associados em função do interesse sexual ou da sociabilidade. Sendo assim, focalizamos nossa atuação em torno de centros territorialmente definidos, levantando os espaços de “pegação” ou sociabilidade homossexual, e a partir destes locais desenvolvemos uma estratégia baseada na interação direta de uma equipe de agentes pares montada para intervir através da metodologia chamada de interação face-a-face entre pares ( Pinho, Marinho et all., 1998). Trabalhamos, assim, em dezenove locais na primeira fase do projeto, e em onze na segunda. Estes locais foram bares, boates, barracas de praia, saunas gays e cinemas pornográficos. Desenvolvemos, do mesmo modo, um sistema de avaliação e acompanhamento das atividades dos agentes pares baseado em reuniões semanais, e no registro das atividades em uma Ficha-Modelo-Para-Relatório-de-Atividades, nestas fichas além de informações objetivas relacionadas à distribuição de preservativos e de material informativo, registrou-se também o conteúdo das interações, algumas vezes extensamente descritas, e observações gerais sobre o contexto da abordagem, deste material vem grande parte da informação qualitativa registrada. Para a primeira fase do Programa dispomos de 167 fichas, para a segunda fase 238, perfazendo um total de 405 Fichas, muitas com extensos registros de situações particulares concretas, trechos de histórias de vida e outras observações6. Na segunda fase do programa, em 1998, realizamos um inquérito com o objetivo de esboçar um perfil aproximado do grupo com que estávamos interagindo, de modo inclusive a salientar suas desigualdades internas. Aplicamos 109 questionários nos locais onde já realizamos a intervenção. Este questionário procurou levantar informações gerais sobre condição socioeconômica, cor/raça, identidade e

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Supomos que esse material esteja armazenado na sede do GAPA-BA. Seria interessante poder trabalhar com ele com maior profundidade, o que não podemos fazer. Eventualmente outro pesquisador poderá fazer isso no futuro. Osmundo Pinho Salvador, setembro de 2010

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práticas sexuais. Uma vez processados, estes dados do questionário formam a base da análise que apresentamos aqui. Mapa Móvel Trabalhamos na primeira fase do projeto em dezenove locais, e em onze na segunda. Estes locais foram os bares, boates gays, barracas de praia, saunas gays e cinemas pornográficos que descreveremos sumariamente abaixo. É importante chamar a atenção para três aspectos contextualizadores dos resultados desta pesquisa. Em primeiro lugar, dirigimos os esforços para captação de dados para aqueles espaços que consideramos mais representativos dos segmentos mais pobres atingidos pela nossa intervenção7. Segundo, nossos resultados são apenas indicativos, ou seja, não pretendem demonstrar a verdade estatisticamente produzida para o conjunto total da população com comportamento homossexual em Salvador, é óbvio. Não obstante, acreditamos que a mostra representa bem traços principais que reconhecemos nos espaços onde trabalhamos, e é um retrato bastante aproximado da população com que mais intensamente interagimos. Por fim, estes dados ganham maior inteligibilidade se comparados aos dados mais qualitativos ou etnográficos percebidos através de nossa prática cotidiana e regular no campo. Na medida em que aqui se trata de um retrato instantâneo do “parque” de sociabilidade e interação homossexual em Salvador nos anos 90, preservamos na descrição o presente etnográfico. BARES E BARRACAS: Aruba: Barraca de praia na orla marítima da cidade de frequência popular. A barraca organiza concorridos pagodes8 aos domingos e atrai muitos rapazes jovens e afrodescendentes de toda a parte da cidade. Ao entardecer, as areias da Praia dos Artistas, onde se localiza a barraca, pulula de paixões efervescentes. Charles Chaplin: bar popular na Avenida Carlos Gomes, região central da cidade. A frequência muito flutuante e popular. O local não cobra ingresso, funciona no segundo andar e não têm janelas, sendo assim é adequado para quem queira namorar, mas não pode frequentar outros lugares. Também se realizava um pagode aos finais-de-semana a noite que frequentemente lotava o bar até o seu limite. Bares da Carlos Gomes: bares de rua na mesma avenida onde se encontra o Charles Chaplin. Existem em torno de três ou quatro bares com mesas nas calçadas, em torno do qual trafegam jovens gays e lésbicas pobres e/ou afrodescendentes, travestis, michês, vendedores ambulantes, etc. Quase poderíamos caracterizar esta área da Carlos Gomes como uma “região moral” ( Cf. Perlongher, 1987) pela concentração de bares gays, saunas, boates, prostituição de travestis e michês nas ruas, etc. Conexão: Bar com um perfil que nos parecia tendencialmente de classe média, e portanto mais branco, próximo ao Teatro Castro Alves no Campo Grande, com uma 7 8

Em função da política institucional do GAPA-BA, comprometida com a atenção preferencial pelos mais pobres. Sobre pagodes em Salvador conferir Pinho, 1998 e Oliveira, 2001. Osmundo Pinho Salvador, setembro de 2010

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frequência de artistas, intelectuais e afins. Neste bar não se permitiam demonstrações de afeto mais explícitas por parte de casais do mesmo sexo, a explicação é que essa interdição serviria para proteger os próprios frequentadores (?). Zanzibar: Bar com música ao vivo (pagode), ao lado da boate mais tradicional da cidade. Também é um espaço muito popular, apesar de cobrar ingresso, R$ 1,00 , pela entrada. CINEMAS: Talvez seja preciso explicar um pouco o que são cinemas de pegação. Em toda grande cidade brasileira existem cinemas decadentes, em geral no centro da cidade, que exibem filmes pornográficos heterossexuais de baixa qualidade. Estes cinemas atraem muitos homens em busca de sexo com outros homens. É lugar onde encontramos muitos idosos, alguns rapazes em busca de dinheiro em troca de favores sexuais e em alguns casos também travestis que se prostituem. Em uma das fichas de observação do agente multiplicador que trabalhava no Cine Pax, um destes em Salvador, podemos flagrar algo do cotidiano deste tipo de ambiente: “Os travestis ficaram esbravejando MADONA por estar muito pervertida (calcinha e short transparentes). Diziam que Sr. Humberto [gerente do local] poderia expulsá-la. (...) Estou cada vez me entendendo mais com os travestis. Ana Paula só faz boquete por R$ 5,00 e sexo anal por R$ 10,00 porque precisa de silicone e o mesmo está custando R$ 200,00 a R$ 250,00.” (02/08/1996). São locais populares, mas que atraem pessoas de origens sociais muito diferentes. O anonimato é a grande regra, o que favorece a ação de homens que não querem fazer identidade homossexual, mas que procuram o sexo homossexual, os “bofes” ou as “bichas enrustidas”. Por esse motivo atraem também muitos gays fascinados com a mística do homem heterossexual que acaba incorrendo em sexo homossexual. Ou o que consolidou-se na literatura como o “homem de verdade”. Provavelmente são os lugares mais heterogêneos e heterodoxos do cenário homossexual. Astor: cinema de pegação que atrai, a primeira vista, um público mais claramente gay. Quer dizer, sem travestis, poucos michês e com muitos gays que também frequentam outros espaços como boates, etc. Excelsior: localizado no Centro Histórico da cidade. Não exibe filmes pornográficos e a atividade sexual não é muito intensa. Atrai muitos homens idosos e aposentados que em virtude de lei municipal não pagam a entrada. Tupi: O mais frequentado e maior dos três cinemas. Está localizado próximo a uma estação de ônibus urbano muito popular. Exibe filmes pornográficos e se registra intensa e frenética atividade sexual, nas cadeiras e nas cabinas do banheiro. A frequência é basicamente popular, oscilando entre o lúmpem e, eventualmente, homens de classe média. Registram-se formas de semi-prostituição. Os garotos Osmundo Pinho Salvador, setembro de 2010

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cobram de R$ 10,00 a um vale-transporte para consentir em alguma prática, normalmente a felação passiva, como podemos ver nas anotações que um dos agentes fez neste cinema: “Conversei com um rapaz que tinha aproximadamente uns 28 anos, mas pra gordinho do que pra fortinho, como parecia se achar, que me contou algumas aventuras praticadas no cinema. Ele falou que sempre faz sexo com penetração no banheiro. Que gostava de garotos. Que se passasse de 22 anos ele não ‘fazia’. Ele contou que fazia assim: dava o toque através de um jeito com a cabeça ou então sentava junto e fazia o contato. Ele falou que pagava de 10 a 20 reais”. ( 22/08/1996). SAUNAS: Também aqui talvez precisemos de algum esclarecimento. Saunas gays são recentes no Brasil, mas consolidaram-se rapidamente. Funcionam como termas propriamente ditas, com sauna seca e a vapor, duchas, em alguns casos, piscinas, etc. Evoluíram, entretanto, para locais de encontro sexuais, adaptando sua arquitetura com a introdução de cabines “de repouso”, onde os clientes pode se fechar privadamente. Exibem filmes pornográficos gays e são locais claramente voltados para o mercado homossexual. Muitas delas abrigam “massagistas”, na verdade prostitutos ou garotos-de-programa, algumas se especializaram nesse serviço e são basicamente bordéis gays. Outras proíbem a presença de “boys”, como também são chamados os trabalhadores sexuais, e estão voltadas para gays que procuram outros gays – e não “homens de verdade” e não querem pagar pelo sexo. Olympus: Sauna tradicional na região do centro da cidade. Massagistas oferecem seus serviços. Phoenix: A Sauna mais concorrida, com grande fluxo de pessoas com o perfil mais maduro e de classe média em relação a outros locais. Aqui também massagistas auxiliam os clientes a aliviar a tensão do dia-a-dia. Um Homem a Procura de Sexo Conhecedores dos espaços da intervenção e pesquisa, consideremos agora, a partir de uma fábula pornô, a relação entre agência e estrutura na ambiência desses lugares. Um homem a procura de sexo no cine Tupy, diríamos, considera as alternativas disponíveis. Encostar-se na parede do fundo do cinema, sacar seu órgão sexual e masturbar-se incessantemente, até que alguém se aproxime; dirigir-se ao banheiro e simular por alguns minutos que urina ou, simplesmente, entrar em uma das três cabines e aguardar que alguém o acompanhe; sentar nas poltronas do cinema ao lado de algum possível parceiro. O repertório de ações voltadas para a realização do sexo, e do tipo de prática sexual desejada, sexo oral ativo ou passivo, sexo anal em uma das duas modalidades ou mera masturbação ou voyeurismo, é limitado e previamente definido. Alguma margem de inovação é possível, mas sempre dentro de limites Osmundo Pinho Salvador, setembro de 2010

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definidos pelo código em vigor. As chances dos agentes realizarem suas intenções depende da destreza e habilidade em manipular os códigos, tão onipresentes como o odor de esperma. Para este pequeno contexto fabular, ou campo específico, valem as determinações gerais que operam para a constituição do social de um modo em geral. Os códigos, padrões ou o contexto integral, é função da interação social perpetrada por agentes individuais concretos, mas, ao mesmo tempo os preexiste, eles os encontram como uma realidade objetiva, exterior e mesmo impositiva, ainda que definida exatamente pela ação reflexiva dos agentes. A problemática, como sabemos, é relativamente clássica. E. Durkheim, fundador da sociologia, construiu uma teoria do social baseado na ideia de consciência coletiva. Nesta a sociedade seria exterior e independente em relação aos indivíduos, na verdade coagindo-os a se adequarem as normas sociais (a coercitividade do fato social). As estruturas sociais, padrões e normas, seriam a raiz última da vida social. Também em Lévi-Strauss, a partir de sua conhecida inspiração na obra de Saussure, vemos as estruturas - sem sujeito - como a verdade última da cultura e os agentes como os falantes de uma língua, aplicando suas regras para constituírem discursos submetidos à contingencialidade (Ortiz, 1983; Durkheim, 1987; Lévi-Strauss, 1975). A chamada teoria da ação ou fenomenológica, por sua vez, partindo do indivíduo e de sua experiência imediata, é considerada como uma sociologia compreensiva, baseada na intersubjetividade e na interpretação hermenêutica praticada entre os agentes, que através de sua ação, em si significativa, conferem sentido e coerência ao mundo. A ação é o ponto central neste caso e ela é sempre motivada desenvolvendo-se em um campo de interação e negociação. Anthony Giddens aponta alguns problemas comuns às sociologias compreensivas, centradas no sujeito e na ação significativa: primeiro, o tratamento da ação como significado e não como prática, ou práxis; segundo, a marginalização do tema do poder; terceiro, a fraca teorização sobre a contradição entre interpretações diferentes, a disputa ou conflito ( Giddens, 1978, Weber, 1994; Cohn, 1986). Ora, Pierre Bourdieu pretende justamente refundar a teoria social de modo a conciliar tendências fenomenológicas e estruturais grosseiramente apontadas acima. Requalificando a antiga noção escolástica de habitus este autor pretende dissolver a problemática da inadequação entre estruturas objetivas e agentes dinâmicos. O habitus, entendido como mediador entre o agente social e a sociedade como um todo organizado e independente, é um: “Sistema de disposições duráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionarem como estruturas estruturantes, isto é como o princípio que gera e estrutura as práticas e as representações que podem ser objetivamente reguladas sem que por isso sejam o produto da obediência de regras, objetivamente adaptadas a um fim, sem que se tenha necessidade da projeção consciente deste fim ou dos domínio das Osmundo Pinho Salvador, setembro de 2010

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operações para atingi-lo, mas sendo , ao mesmo tempo, coletivamente orquestradas sem serem o produto da ação organizadora de um maestro” (Bourdieu 1972, p. 175. apud Cohn, 1986) O habitus, assim, constitui e organiza a ação a partir da interiorização de normas que predispõem a sua própria reprodução na medida em que são atualizadas pelos agentes sociais, ao mesmo tempo concorrendo para a auto-reprodução social e a constituição do mundo objetivo e exterior. Como um modus operandi determina uma ação que é ela mesma estruturante e estruturada, e determinada pelo modo de interiorização experimentado pelos sujeitos. O habitus é ao mesmo tempo social e individual formando o parâmetro último da ação, ao mesmo tempo que esta última ao realizar-se o reproduz. O espaço onde os agentes interagem com as disposições do habitus é chamado por Bourdieu campo, a arena onde estruturas estruturadas desdobram-se como componentes de um cenário definido por conflitos concretos e circunscritos. É em relação ao campo que os agentes se posicionam e definem modos de aplicação do habitus local através de estratégias negociadas em função das estruturas objetivas. É no campo, além do mais, que devemos procurar perceber os efeitos determinantes de macro-estruturas como classe, raça, etc., por que estas existem apenas na sua concretude, amarrada a contextos imediatos de interação e a estruturas locais (Bourdieu, 1974; 1989; Ortiz, 1983). Dessa forma, diríamos que os diversos locais de interação homossexual, que foram o campo de atuação do projeto Homo-Bissexuais, conformariam o campo para as práticas homossexuais – propriamente sexuais - em Salvador. E os agentes, ao interiorizarem as regras de atuação reproduzem o campo, não como uma mônada, como ficará bem evidente pela análise dos dados, mas como lócus de articulação de determinações mais amplas, na dinâmica descrita com vigor, por exemplo, na teoria da estruturação de Giddens (1978). Caracterização Geral Descritos os espaços, e sinalizada a articulação analítico-conceitual, vejamos algo dos dados que encontramos sobre a população pesquisada. Dos 109 questionários aplicados a maioria - 51,7% - foi aplicada em cinemas de pegação, notadamente no cine Tupy o maior e mais frequentado deles. Osmundo Pinho Salvador, setembro de 2010

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A idade média encontrada foi de 28,6 anos para o conjunto da população. 15,1% declararam possuir até o 1º grau ; 55,7 % o segundo grau e 25,5 % o nível superior, conforme o gráfico ao lado. Para este item notamos uma superrepresentação das pessoas com nível superior e uma sub-representação dos indivíduos com apenas até o primeiro grau em relação aos índices encontrados para a população baiana, ou mesmo brasileira, como um todo9. Não temos razões para acreditar que homens com comportamento homossexual sejam mais escolarizados que o resto da população, apesar da crença popular inclinar-se nesse sentido. Na verdade, acreditamos que a ênfase que demos ao trabalho em espaços definidos de sociabilidade, a maioria pagos, acabou nos pondo em contato com uma população préselecionada. Algo que talvez explique também os índices encontrados para renda. 16,2 % declararam receber até 1 salário mínimo, 47,6% até cinco salários mínimo, 21,0 % até 10 salários mínimos e 15,2 % mais de dez salários mínimos10. Podemos verificar como se distribuem algumas variáveis por faixa de renda. Na faixa dos que ganham menos, até um salário mínimo, verificamos uma média de idade um pouco menor, de 22,5 anos. Nesta faixa dos mais pobres, 52,9 % dos indivíduos atestam possuir apenas até o primeiro grau completo. Na faixa dos que ganham mais de dez salários mínimos a média de idade é, naturalmente, um pouco superior, 32,9 anos; 73,3 % destes indivíduos tem o curso superior. No que se refere às variáveis controladas por raça/cor é preciso salientar dois aspectos. Em primeiro lugar, dizer que usamos um expediente comum em pesquisas sobre raça e cor, dividindo a inquirição em dois momentos. Primeiro, perguntamos diretamente aos informantes, “qual a sua cor?”. Pedindo para que estes se classificassem segundo alternativas fechadas, nesta questão definimos a variável cor/raça auto-atribuída; em um segundo momento o entrevistador atribuiu aos indivíduos a cor/raça segundo critérios definidos internamente no projeto, qual sejam. Esta variável definiu-se como cor/raça atribuída pelo entrevistador. Em um segundo momento optamos por utilizar duas estratégias distintas de análise, primeiro distinguimos a população em dois grupos Brancos e Não-Brancos - os Brancos sendo todos definidos pelo entrevistador como tal e os Não-Brancos sendo os auto-atribuídos negros, mestiços e 9

No Brasil como um todo teríamos, à época, 25,15% de analfabetos, na Bahia 41,43% (IBGE, 1991) O salario mínimo da época correspondia a R$ 130,00 ou algo como US$ 65.00. (http://www.jfpr.gov.br/ncont/salariomin.pdf ) Osmundo Pinho Salvador, setembro de 2010

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morenos – a esta categorização, dual, doravante chamamos Modelo 1. Utilizamos, entretanto, outra categorização que preservou a distinção brancos, negros, mestiços e morenos, a esta categorização, gradual, chamamos Modelo 2. Quando dividimos a população em apenas dois grupos – Modelo 1 encontramos 21,5 % de brancos e 78,4 % de não-brancos, uma proporção incrivelmente coincidente com a encontrada para a cidade de Salvador como um todo11. Quando dividimos em vários grupos, segundo o Modelo 2, temos 21,5 % de brancos; 25,2 % de mestiços, 19,6% de morenos e 33,6% de negros. Por autoatribuição temos 29,6% de Brancos e 70,4% de Não-Brancos ou 28,7% de Brancos, 37,0 % de morenos e 21,3% de negros. Estes números parecem confirmar o que se reconhece para outros campos de investigação como a prevalência da ideologia do branqueamento, que faz com que os sujeitos prefiram classificar-se em denominações intermediárias, de modo a minimizar os efeitos estigmatizantes atribuídos ao negro, algo tornado possível graças ao recurso ao famigerado continuum racial brasileiro (Cf. p. ex. DaMattta, 1987). No Modelo 2, os negros com curso superior são 20,0%, e com até primeiro grau 11,2%, os brancos com 3º Grau são 34,8%. Os mestiços com até o primeiro grau são 24 % (o maior índice entre os grupos deste Modelo), os com curso superior, 16 %. A maioria dos mestiços, 61,5 %, declarou receber até 5 salários mínimos, enquanto os brancos nesta mesma faixa são 59,1 % e os negros 62,9%. Para o Modelo 1, ou seja, dividindo entre Brancos e Não-Brancos, podemos fazer algumas relações interessantes. Primeiro, verificamos que entre os considerados pelos entrevistadores como Não-Brancos, 13,15 % consideram-se ( auto-atribuição ) brancos. Entre os brancos, 87,0 % consideram-se brancos e 8,7 % pardos. 46,4% dos Não-Brancos auto atribuíram-se a cor morena e 27,4 % a cor negra. Por outro lado, os 27,4% de Não-Brancos auto-atribuídos negros indicam uma valorização, ao que parece, da auto-identificação racial como fator da identidade. No que se refere à renda, 50,6 % dos Não-Brancos declarou renda entre 1 e 5 salários mínimos, os Brancos nesta faixa são 36,4 %. Aqueles que ganham mais de dez salários mínimos entre os Brancos são 18,2 % e entre os Não-Brancos 14,8 %. Os mais

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Salvador com 2.676.606 de habitantes teria 78,84% (http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 ) . Osmundo Pinho Salvador, setembro de 2010

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21,16%

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pobres, ou seja, que ganham apenas até 1 salário mínimos são entre os Não-Brancos 22,7% e entre os Brancos 13,6 %. As determinantes estruturais de renda, escolaridade e cor/raça são fundamentais para a estruturação de práticas e trajetórias sociais, como parece estar já bem estabelecido na literatura (Hasenbalg, 2003). Neste sentido, esta primeira caracterização abrangente do grupo entrevistado, deve servir-nos de guia ou enquadramento para investigar as questões seguintes. Como, considerando-se as diferenças sociais e de classe os indivíduos organizam sua experiência sexual com relação a práticas sexuais específicas, auto-identidade sexual, auto-estima, etc? Sexualidade e Identidade Para os efeitos da investigação estamos aqui considerando a auto-declaração da identidade sexual (os informantes responderam a pergunta: “Qual a sua orientação sexual?”) como uma manifestação simplificada desta identidade, que poderia ser considerada de forma mais complexa e objetiva como um conjunto de práticas e representações socialmente definidas e individualmente mobilizadas, definidoras da auto-imagem, de modos legítimos de ação, de formas específicas de inserção na estrutura social, etc. Dizer-se gay ou “homem” não esgota, ou estabiliza, naturalmente, a da identidade sexual, mas pode ser tomada como um sinalizador de uma posição de sujeito discursiva. Conforme chamamos atenção no início, estes dados ganham melhor sentido se contextualizados junto a dados etnográficos mais consistentes. Prevemos as seguintes respostas para a questão “Qual sua orientação sexual?”: Bicha, Bissexual, Bofe, Entendido, Gay, Heterossexual, “Homem”, Homossexual, Travesti. Sendo que as categorias “Homem” e Homossexual foram as mais citadas, respectivamente com 28,0% e 47,7 % dos casos. Se dividimos estas classificações em apenas duas, vemos que aqueles indivíduos que fizeram algum tipo de declaração afirmativa de uma identidade não-heterossexual clara (exclusive os travestis) seriam 64,6% e aqueles que não fizeram 29,8 %, dentre estes últimos os “Homens”, Bofes e Bissexuais. As ambiguidades da identidade homossexual podem ser percebidas através da observação dos agentes pares.

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“Conversei com um homem que está separado da esposa e busca o cinema por não ter coragem de ter envolvimento homossexual no cotidiano. Conheci Aníbal que é muito discreto (funcionário federal), tem medo de se assumir/ sente revolta por ser homossexual. Sua tara é negro. Goza muitas vezes sem nenhum manuseio no pênis. Só com o ato em si. Acha o cinema um uso (um usa o outro). Vive de casa para o trabalho e vice-versa (o cinema é seu hobby). Tem 37 anos”(19/07/1996) Devemos nos interrogar agora se encontraríamos diferenças significativos de padrão socioeconômico, e\ou comportamento, para os grupos discriminados segundo esta auto-identidade. Observamos que para aqueles auto-definidos como homossexuais (47,7 % da população pesquisada) a idade média é de 28,18 anos; e destes 10,2 % tem apenas o primeiro grau. Os definidos como “Homens” que declararam ter primeiro grau completo são 23,3 %; “Homens” com o segundo grau completo seriam 56,7 % e com o nível superior 16,7%, homossexuais com o segundo grau seriam 59,2% e com o curso superior 24,5 %. Ou seja, nestes espaços os “Homens” apresentam-se como menos escolarizados. Quando dividimos a população em grupos de idade vemos que na faixa dos mais jovens, até vinte anos, existe uma predominância de “Homens”, 56,3 %, em relação a homossexuais, 25 %. Na faixa seguinte, entre 21 e 30 anos, vemos que a situação se inverte e o percentual de homossexuais – 50 % - é muito superior ao de homens – 17,2%. Nas outras faixas não encontramos variação significativa em relação a população como um todo. Se submetermos esta variável ao controle por raça/cor encontramos uma taxa de 28,0 % de homens e 48,8 % de homossexuais entre os NãoBrancos e 43,5% de homossexuais e 30,4% de homens entre os Brancos, isto para o que chamamos de Modelo 1 ou Dual. Em síntese, diríamos que os “homens” são mais jovens, menos escolarizados e mais negros. O que significaria essa correlação? Na literatura especializada sobre homossexualidade no Brasil uma discussão clássica e importante refere-se ao modelo proposto por Peter Fry para as identidades homossexuais (Fry, 1982). Neste modelo coexistiriam dois padrões básicos de identidade, o primeiro seria de viés igualitário, inspirado pelo modelo “gay” norte12 americano , neste caso dois 12

Esse aspecto é muito interessante, mas não podemos explora-lo melhor aqui. Sugerimos conferir Parker, 1991; Carrara e Simões, 2007 e Altman, 1996. Osmundo Pinho Salvador, setembro de 2010

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sujeitos que se entendem com iguais buscam relacionar-se; no segundo modelo, chamado hierárquico, teríamos a ênfase na desigualdade marcada pela oposição passivo versus ativo, neste caso teríamos a “bicha” (passivo) e o bofe , ou “homem de verdade”, (ativo), ainda que a prática efetiva do intercurso sexual não se defina assim tão rigidamente. Fry identificou o primeiro modelo como emergente entre a classe média dos grandes centros urbanos; e o segundo como prevalecente em meios populares e periféricos. Em função desta referência perguntamos aos sujeitos qual seria o seu parceiro sexual preferencial. Para esta questão tivemos as seguintes alternativas de resposta: Bicha, Bissexual, Bofe, Gay, Homem, Homossexual, Mulher, Outros. Aqui também as opções “Homem” e homossexual foram a maioria, 32,7 % e 39,3%, respectivamente. Relevante também foi o número para mulheres, 10,3 %. Dentre os auto-identificados como “Homens”, 36,7% elegem a opção “Homem” como o parceiro sexual preferencial, 16,7 % elegem Homossexuais e 33,3% elegem mulheres. Com relação às preferências sexuais as anotações de campo ajudam, mais uma vez, a contextualização: “Comecei a ir para o meio do cine para conversar com os ‘machos’. Aproximei-me de um que disse gostar muito de namorar com homem, mas tem uma namorada de 15 anos, mas não transa com ela por ser virgem”(05/06/1996). É óbvio que este grupo auto-definido como “Homem” é muito heterogêneo, incorporando os michês, bofes, “enrustidos”, etc. Dentre os auto-identificados como homossexuais 62,7 % preferem outros homossexuais e 33,3 % preferem “Homens”.

Para este bloco a próxima variável relevante foi investigada através da questão aberta: Como você se sente em relação a sua vida sexual? Obtivemos naturalmente uma infinidade de respostas – na verdade, cinquenta e uma. Entretanto, a resposta “Bem” representou 43,5 % para a população geral. As outras respostas que variaram de “Sublime” a “Reprimido”, resultaram insignificantes. A maioria das respostas que não foram apenas “Bem” procura exprimir adequação com relação à vida sexual. Claro que devemos relativizar estes dados, dificilmente alguém responderia em uma entrevista que sua vida sexual é muito ruim, dado o absolutismo da sensualidade na sociedade brasileira (Parker, 1991). Algumas Osmundo Pinho Salvador, setembro de 2010

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outras respostas, entretanto, por volta 10 %, revelaram uma insatisfação declarada. Resta, entretanto, a questão, se discriminarmos a população geral em grupos determinados, este índice (dos que responderam “Bem”) permanece o mesmo ou apresenta alterações significativas? Com relação às faixas de idade observamos um decréscimo significativo dos que se sentem “Bem” se passarmos dos mais jovens aos mais velhos. Entre aqueles como idade até 20 anos, 50,9 % optam por “Bem”. Na faixa entre 21 e 30 anos este índice é 44,8%, entre 31 e 40 anos 40,0% e na última faixa, com mais de 41 anos, este percentual é de apenas 25,0%. Por cor/raça encontramos no Modelo Dual, 39,8 % de Não-Brancos declarando estar “Bem” com a vida sexual, entre os Brancos este índice é de 52,2%. No Modelo 2, Gradual, temos que 52,2 % dos brancos se declaram “Bem”. Entre os negros 36,1%; e entre os mestiços 48,1% declaram estar bem com relação a vida sexual. Segundo a auto-definição sexual, encontramos entre os auto-identificados como homens 52,7% que declararam estar bem, entre os homossexuais este percentual é de 45,1%. Por fim, de acordo com a renda, temos que entre os mais pobres – até 1 salário mínimo por mês – 41,2% declaram estar bem, entre os que ganham entre 1 e 5 salários mínimos , 51,0% e entre os que ganham de cinco a dez, 27,3 % e entre os mais ricos, que ganham mais de dez salários mínimos, 37,5%. É temerário correlacionar necessariamente as discriminações por grupo à autopercepção com relação a própria satisfação com a vida sexual, ainda mais quando sabemos que esta nossa pesquisa não é absolutamente conclusiva ou representativa. Entretanto, não deixa de chamar atenção como variáveis determinadas, quando interpostas, produzem resultados diferentes para este ponto, principalmente porque os resultados acabam confirmando a percepção corrente sobre os efeitos da pobreza e discriminação racial para a auto-estima e pleno acesso a benefícios13. Também nas faixas de idade parece significativo que os mais jovens se revelam mais satisfeitos com a vida sexual do que os mais velhos. Chama a atenção, por fim, a variedade de fatores que entre si intercombinados alteram os resultados tanto para auto-percepção como para os graus de manifestação positiva em relação a própria sexualidade, de modo que o que se adivinhava no que se refere as determinantes sociais para o comportamento individual parecem se confirmar. Ou seja, o grupo pesquisado não é homogêneo em relação ao lugar social que os sujeitos ocupam e esta variação condiciona a percepção e autorepresentação dos indivíduos. As diferenças de raça e classe são profundamente relevantes e estruturam a experiência da sexualidade. Por outro lado grande percentual de homens que entram em efetivo intercurso homossexual com outros não realizam para si um definição de identidade homossexual, grande parte destes homens povoam as margem amplas da experiência homossexual habitando-as como enrustidos, encubados, bofes, michês, moleques, “Homens”, etc. 13

Compreensão partilhada, ao menos, no ambiente institucional do GAPA-BA, naquele momento. Osmundo Pinho Salvador, setembro de 2010

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Adé Aló Tendo apresentado o breve esboço dos resultados da nossa investigação, produzida, no âmbito da intervenção que realizávamos, faríamos agora breve consideração de natureza mais politica, advindas da nossa experiência no projeto, agora revisitada por meio desta oportunidade. Agora, mais ainda do que naquele momento nos parecem evidentes as limitações, algo arbitrárias e fantasiosas, que a concretude atribuída às políticas de identidade significa para a compreensão do universo das interações homossexuais. E, em certo sentido, para o pleno dimensionamento das possibilidades e desafios políticos à emancipação sexual, de um ponto de vista não-essencialista. Resumindo o apanhado de dados que vimos, fica evidente que os espaços de interação e sociabilidade (homo)ssexual não apenas são visitados, ou abrigam, uma diversidade importantes de sujeitos, mas que essa diversidade, em combinação com modalidades diversas de desigualdades, é constitutiva desses espaços. Pensemos no lugar da diferença interior nesses espaços e na presença dos “homens”, dos “boys” ou dos “michês”, pensemos ademais que os cinemas de pegação incorporam em seu circuito de interações homens que não identificam a si mesmos como gays, e podemos perceber que os espaços, desse ponto de vista da identidade sexual, realizam-se sobre, e com, essa derivação ambígua, digamos assim. Também do ponto de vista das diferenças por raça/cor. Independentemente das representações, estereótipos e ideais racializados que circulem nesses ambientes, podemos observar que as determinações estruturais/raciais também produzem seus efeitos, dispondo efetivamente cenários interconectivos para a atuação dos agentes. Ora, esses cenários ao mesmo tempo que compõem a cena estruturada das interações é formada pela própria ação dos agentes, mediada por variáveis estruturais, operadas em contextos contingentes e voláteis, que se mantem tensionados pelo desejo( Pinho, 2004a; 2004b). A consideração crítica de dados etnográficos como os que apresentamos nos levaria por outro lado a perceber a porosidade problemática - talvez mais problemática para analistas/ativistas que para os sujeitos - entre as identidade sexuais, tal porosidade é claramente organizada por relações de poder. Justamente em função disso chamaríamos a atenção para a importância das prática, inclusive é óbvio da práticas discursivas e simbólicas, que constituem cenários e personagens da ação, em movimentos estruturados e estruturantes. A consideração dessubstancializada das práticas nos precaveria ademais, como pesquisadores e como intelectuais engajados, de cedermos muito facilmente ao canto da sereia das identidades LGBTs, definidas, de modo obscuro pela operação de supostos marcadores sociais da diferença, como se a diferença fosse produzida e sustentada por ela própria, de modo algo autônomo e reificado; como se não houvesse uma tessitura social que é justamente formada pela ação dos agentes em meios estruturados por desigualdades de classe, raciais ou de gênero. Como se raiz da diferença estivesse em suas próprias marcas, sintoma Osmundo Pinho Salvador, setembro de 2010

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aparente dos rituais identitários, performados como códigos de atuação social, ou famigerada lógica classificatória14. Aderidos à lógica identitária de determinados meios homossexuais, eventualmente identificados como a cena gay, não parecemos perceber que se algo houver como marcadores sociais da diferença, tais são fruto da prática social estruturada como relações de poder, que se materializam em consonância a níveis de determinação mais gerais, que nos ambientes homossexuais ganham inflexão particular, eventualmente configurada como a articulação de categorias classificatórias locais. A colonização da experiência homossexual pelo mercado (Rapisardi, 2001), como uma paradigma para identidades intercambiantes, que se recombinam de modo aparentemente livre, como peças de guarda roupa numa loja de departamentos, parece colonizar também a reflexão acadêmica e política, com a retórica linear e simplificada das identidades combinatórias. A ambiguidade sexual brasileira, e latino-americana (Mendès-Leite, 1993; Fernández-Dávila, 2007), carece ainda de uma consideração que não a submeta a esquemas interpretativos valorativos, que atribuem atraso ou “demora cultural” a modelos de identificação e práxis homossexual não imediatamente associada aos ideais de identidade homossexual hegemônicos, o que vale dizer, urbanos, brancos, e de classe média (um lugar de poder, aliás, compartilhado pro homossexuais e heterossexuais). A possibilidade de emergência de uma teoria crítica sobre a sexualidade, original, e efetivamente comprometida com a experiência de luta por emancipação sexual, condicionada pelos cenários e territórios da desigualdade e do desejo no Brasil, deveria assumir o ponto de vista marginal e periférico que sujeitos e ambiente sexuais dissidentes incorporaram historicamente no Brasil, e na tradição das sexualidades populares brasileiras (Figari, 2007). A adesão festiva a modelos teóricos estrangeiros parece revelar, mais uma vez, a ambiguidade, dos intelectuais brancos brasileiros, “nem europeus, nem americanos do norte” presos no transe entre o “nãoser e o ser o Outro” de si mesmo e de suas próprias indagações (Gomes, 1996). A etnografia e a história das sexualidades dissidentes, se purificadas da mistificada essencialidade identitária ou dos marcadores (ideológicos) da diferença, nos revelaria o enorme continente das práticas sexuais e das sexualidades brasileiras não-hegemônicas, que poderiam servir de parâmetro para formulação de modelos políticos e analíticos críticos e populares, que se comuniquem efetivamente com a experiência dos sujeitos, para além dos modos hierárquicos e normativos, que dão a 14 Assim, por exemplo, na página de internet do NUMAS (Núcleo de Estudos sobre Marcadores Sociais da Diferença) da USP, lemos que o grupo procura discutir a “produção social da diferença por meio da articulação de categorias de raça, gênero, sexo, idade e classe, tanto do ponto de vista da configuração de sistemas de classificação social, como da constituição de corpos e identidades coletivas. Tanto na pesquisa empírica, como na esfera das discussões teóricas, percebe-se que temas que costumavam ser tratados separadamente - gênero e raça, por exemplo, eram antes construídos como problemas teóricos estanques - precisam ser compreendidos e estudados em termos da intersecção destas categorias”. http://www.fflch.usp.br/da/index.php/nucleos/numas .

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tônica do relacionamento entre intelectuais hegemônicos e sujeitos subalternos no Brasil. Se formos capazes de superar a ingente colonialidade do saber que marca a universidade brasileira. E obviamente que não há aqui nenhum tipo de xenofobismo teórico, mas um apelo para um encontro entre intelectuais e sujeitos nãohegemônicos comprometidos com a emancipação sexual e com a liberdade. Dessa perspectiva poderíamos ainda colocar questões interessante para a pauta política dos movimentos LGBT no Brasil, cada vez mais orientados pela lógica assimilacionista dos direitos e da integração via mercado. Um pauta que se consolida como um protocolo de adesão às mesmas instituições que historicamente produziram a figura abjeta do homossexual, sua criminalização e patologização: a família, o mercado, o Estado. Renunciando assim a potenciais efetivamente críticos presentes na experiência popular. É bem evidente, ademais, o alienado auto-centramento das agendas politicas LGBT, que conseguem fazer muito pouco além de olhar para o próprio umbigo, não se preocupando em fornecer uma perspectiva e um projeto emancipatório para toda a sociedade. Como se todas as preocupações e determinações para a experiência dos homossexuais se esgotasse em sua identidade sexual, e não se conectasse, às vezes de modo muito mais importante, a sua posição de classe, condição racial ou regional. Nossa convicção vai no sentido de construção de agenda efetivamente interseccional e critica que leve em conta as variáveis estruturais, e a historicidade, que condicionam efetivamente a experiência social e homossexual, notadamente determinações de classe.

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Por fim, como uma conclusão algo nostálgica e evocativa das interconexões entre paisagens de classe e de sexualidade, lamentaria a deterioração da cena homossexual no centro da cidade Salvador e apontaria como principal responsável os próprios preconceitos da comunidade homossexual baiana (e óbvio que determinações de classe são importantes aqui), que enxergava, e, todavia ainda enxerga, o Centro, a Avenida Carlos Gomes e adjacências, com um lugar sujo, perigoso, de “gente feia”, o que vale dizer pobre e negra. A memória de nossa experiência no projeto também é a nossa memória de interação nos espaços que coloriam esse ambiente nos anos 90, e nos quais éramos não apenas pesquisadores, mas sujeitos. Dentre estes espaços (em muitos dos quais interagimos com o projeto), e como uma homenagem póstuma a muitos outros, lembraria do Adé Aló, bar e boate, que com esse nome de evocação iorubana não deixa dúvidas com relação a sua inserção e comunicação com outros territórios da resistência racial e de classe em Salvador. No Adé Aló, na penumbra mágica de seus cômodos fosforescentes, a alquimia identitária (Castro, 1992) e a ambiguidade do desejo e das diferenças raciais e de classe se misturavam na coreografia tátil da sensualidade e da cultura popular. O que foi, inclusive, autonomamente registrado como um boletim informativo, em um esforço de auto-representação reflexiva, que gostaríamos de resgatar aqui. Infelizmente, o Adé Aló, e outros espaços como ele não existem mais, e é em memória da experiência dessas territorialidades nãohegemônicas e dissidentes que escrevemos essa páginas, como modesta contribuição crítica a reflexão sobre os 40 anos do Stonewall no Brasil. Referências Bibliográficas ALTMAN, Dennis et all. On Global Queering & Responses. Australian Humanities Review. http://www.lamp.ac.uk/ahr/archive/Issue – July –1996/altman.html. BOURDIEU, Pierre. A Gênese do conceito de Habitus e de Campo. In . ___ . O Simbólico. DIFEL. Rio de Janeiro/Lisboa. 1989. pp. 59-74.

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