Cícero e a tradição ciceroniana da memória artificial

July 25, 2017 | Autor: Angélica Chiappetta | Categoria: Cicero, Retórica, Arte da Memória
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" Cícero e a tradição ciceroniana da memória artificial"

Profa.Dra.Angélica Chiappetta (EACH/USP)


Meu interesse pela Memória é, ao mesmo tempo, antigo e recente[1].
Começou no início dos anos 1990, quando fazia um Doutorado sobre a Retórica
e suas possíveis relações com o que seria uma Teoria da Literatura na
Antigüidade. E hoje foi retomado junto a uma tentativa de pesquisar a
importância da Retórica na História da Ciência, principalmente aquela que
diz respeito à chamada Revolução Científica dos séc. XVI e XVII. Vou falar
desse percurso, dividindo-o em cinco partes.


I. A Memória é uma das partes da Retórica

Meu primeiro encontro com a Memória foi como uma das cinco partes da
Retórica. Segundo uma apresentação introdutória e muito repetida, a
Retórica propõe que para se fazer um discurso é preciso cumprir cinco
etapas: encontrar o que dizer (Invenção), organizar o encontrado
(Disposição), colocá-lo em palavras (Elocução), memorizar as palavras
(Memória) e, por fim, proferir o discurso (Ação). Meu primeiro contato com
esse tipo de apresentação me levou a entender que essas etapas seriam
claramente distintas e sucessivas e, com isso, a Memória me apareceu como
uma necessidade dos que não têm disponíveis meios tecnológicos para guardar
as palavras da Elocução até o momento da Ação efetiva dos discurso.
Foi assim que li as apresentações da Memória nos textos de Retórica
de Cícero. Nas Partições Oratórias, por exemplo, Cícero diz que a doctrina
dicendi está dividida em três partes: uis oratoris, oratio, quaestio. A uis
oratoris, por sua vez, é que consta das cinco partes e, entre elas, a
Memória aparece como earumque rerum omnium custos (De Part.Orat.,3),
"guardiã de todas essas coisas". O termo custos, guardiã, me pareceu um
tanto forte, mas entendi que a Memória é guardiã porque ela toma conta para
que se tenha o que dizer na hora da Ação. Se esquecermos as palavras da
Elocução, não haverá discurso algum para ser proferido.
Essa idéia de que a Retórica Antiga estudava a Memória como um
substituto necessário em virtude da ausência ou dificuldades de, digamos,
suportes materiais para que o orador tivesse o discurso disponível no
momento da Ação, pareceu-me estar confirmada em outra passagem deste mesmo
texto, onde se diz que a Memória é


gemina litteraturae quodammodo et in dissimili genere persimilis. Nam
ut illa constat ex notis litterarum et ex eo in quo imprimuntur illae
notae, sic confectio memoriae tamquam cera locis utitur et in his
imagines ut litteras collocat. (De Part. Orat.,26, grifo nosso)


" de certa maneira, gêmea da escrita e muito semelhante de um modo
diferente. Pois como a escrita consta de anotações das letras e
daquilo em que se imprimem tais anotações, assim a composição da
memória usa os lugares como cera e neles coloca imagens como se fossem
letras"

Se pude entender custos (guardiã) desse modo, outras designações,
como thesaurus (tesouro) e, principalmente, fundamentum (fundamento),
pareciam exageradas e aceitáveis apenas graças à carência de meios de quem
assim se refere à Memória:

Quid dicam de thesauro rerum omnium, memoria? Quae nisi custos
inuentis cogitatisque rebus et uerbis adhibeatur, intellegimus omnia,
etiam si praeclarissima fuerint in oratore, peritura. (De or., I,18)

"Que direi da memória, tesouro de todas as coisas? A menos que ela
tenha sido empregada como guardiã das coisas e palavras encontradas e
pensadas, entendemos que todas, mesmo se tiverem estado muitíssimo
claras no orador, se perderão"




Sed earum omnium rerum ut aedificiorum memoria est quasi fundamentum,
lumen actio. (De op.gen. or., II,9)

"Mas a memória, como acontece com os edifícios, é por assim dizer o
fundamento de todas as coisas; a ação é a luz"



Diante do temor de não ter o que dizer, o fato de saber o discurso de
cor pode fazer pensar na memorização como um verdadeiro tesouro; o que é
muito precioso para o orador (as palavras que ele precisa proferir) está
ali guardado. Já chamar a memória de fundamento do discurso parecia-me de
um sentido forçado ou obscuro.

Enfim, meus primeiros contatos com a Retórica deixaram um interesse
muito secundário em relação à Memória, principalmente se pensássemos que
ela cumpre um papel que hoje, com nossos dispositivos tecnológicos, não
seria mais tão importante.





II. A Memória é uma Arte



Ainda durante minhas pesquisas para o doutorado, o contato com o
livro de Frances Yates sobre a Arte da Memória, hoje traduzido para o
português[2], chamou minha atenção para o fato de que, antes de ser vista
como uma das partes da Retórica, a Memória já era uma Arte autônoma que
fazia parte da instrução básica dos que ingressassem na educação formal.
Essa Arte teria sido inventada pelo poeta Simônides de Cos, num episódio
narrado por Cícero (De or. II,lxxxv,353-354) e, depois dele, por
Quintiliano (Inst.or.,XI, ii,11-13). O poeta teria sido contratado para,
num banquete, celebrar os grandes feitos do anfitrião. Em meio ao canto,
Simônides interpôs (segundo o costume dos poetas, como diz Cícero) um
elogio aos gêmeos Castor e Pólux. Na hora do pagamento, recebeu do
anfitrião metade do valor combinado e a sugestão de que fosse cobrar a
outra metade dos gêmeos também louvados no canto. Pouco depois, chamam-lhe
à porta onde dois jovens estariam esperando para falar-lhe. Ao sair da
casa, não encontra ninguém a esperá-lo do lado de fora. Nesse ínterim, o
teto da casa desaba matando instantaneamente o anfitrião e todos os
convivas; o acidente foi tão violento que os corpos ficaram irreconhecíveis
até mesmo para os parentes que vieram resgatar-lhes para providenciar as
honras fúnebres. Nesse momento, Simônides se apresenta dizendo que pode
identificar os corpos reconhecendo-os de acordo com o lugar que cada um
ocupava durante o banquete. Teria, assim, inventado a Arte da Memória,
relacionando cada coisa que se quer lembrar a um lugar previamente
ordenado.

Yates diz que essa Arte teve uma vida cultural longa e importante.
Suas pesquisas sobre o tema vão de Aristóteles, no séc. IV a.C., até
Leibniz, no séc. XVII, discutindo textos que apresentem regras e
finalidades da Mnemônica. No caso da Antigüidade Clássica, a autora afirma
que há certa dificuldade de estudá-la porque as menções à Memorial
Artificial a tomam como uma obviedade que não precisa ser explicada,
justamente porque é parte elementar da instrução; se formalmente educado,
qualquer grego ou romano é um praticante da mnemônica. As melhores fontes
que hoje temos dessa técnica são os tratados de Retórica nos quais a
Memória aparece como uma das partes da elaboração do discurso e vem
dividida em Memória Natural e Artificial. E esses tratados mais aludem do
que propriamente explicam. A Retórica a Herênio é o que traz mais detalhes
sobre quais seriam suas regras; Cícero e Quintiliano contam a anedota sobre
Simônides e fazem rápidos comentários sobre o valor da técnica.

Haveria, como diz Yates, uma tradição ciceroniana da memória
artificial em que o material a ser memorizado é articulado em imagens e
lugares. A autora discute como essa técnica foi apresentada por autores
como Agostinho, Alberto Magno, Tomás de Aquino, Hugo de São Vitor, como
método para lembrar e exercitar a memória dos vícios e virtudes a serem
buscados e evitados pelo bom cristão durante suas meditações sobre o
Paraíso e o Inferno. A Arte atravessa o chamado período medieval e,
curiosamente, no e XVI, num momento em que a imprensa está se
estabelecendo e em que, portanto, se esperaria que a memória artificial
fosse perdendo sua importância, a autora verifica um interesse crescente na
técnica, atestado pelo número de tratados de memória do período. Isso se
explicaria pela associação da mnemônica a uma tradição hermética que
propunha uma releitura da técnica de lugares e imagens com vistas a entrar
em contato com a memória divina do mundo. O treino hermético da memória
teria se iniciado com Raimundo Lúlio no séc. XIV e no séc.XVI Giordano
Bruno teria associado a memória hermética com a memória da tradição
ciceroniana. A autora fala, por exemplo, do "Teatro da Memória" de Giulio
Camillo[3], uma construção em madeira que simulava a ordenação do universo
numa platéia semi-circular de doze níveis (um para cada uma das esferas
celestes), divididos em doze casas. Cada casa de cada nível é um lugar onde
se pode colocar como imagem frases tiradas de Cícero. Quem estiver postado
no palco, ao manipular as imagens previamente organizadas nos lugares da
platéia, poderá ter acesso ao conhecimento da ordem divina do mundo.

O sistema classificatório e organizacional proposto por esses
tratados do séc. XVI estaria na base da lógica combinatória de Leibniz e,
portanto, na base da configuração do método científico experimental que
viria a caracterizar a Ciência hoje dita moderna. Yates assim propõe, sem
deixar de se queixar em várias passagens do enfado que a leitura dos
tratados em muitos momentos a fez sentir. E em certas passagens a autora se
questiona sobre a eficácia da aplicação das regras da memória artificial,
perguntado-se se não seria mais fácil simplesmente decorar o discurso (ou o
que se tenha a decorar) sem utilizar a parafernália de lugares e imagens
que a arte propunha.

Tendo entendido que a Memória é uma Arte autônoma e não meramente uma
parte da Retórica, saí da leitura do livro também me perguntando sobre a
eficácia de uma técnica que parecia complicar desnecessariamente um
procedimento que, pelo simples repetir, poderia levar naturalmente à
memorização.



III. A Memória na Retórica Latina



Por volta do ano 2000, fui procurada por uma aluna que gostaria de
estudar no seu Mestrado a Memória na Retórica Latina. Para isso, ela se
propunha a traduzir e analisar as passagens da retórica Ad Herenium, do De
Oratore e das Institutiones Oratoriae que tratam da memória como parte da
Retórica[4]. Lendo os três tratados, Elisa Leonardi destacou que neles se
repetia uma divisão da memória em natural e artificial. Cícero e
Quintiliano, como já dito, atribuem a Simônides a invenção da memória
artificial, aquela que é realmente discutida nas tratados. Nos três ela
está dividida em memória para coisas e memória para palavras, ou seja,
técnicas para se memorizar as res do discurso (os assuntos, os argumentos,
as personagens, as circunstâncias do caso que o orador precisa tratar) e as
uerba, caso em que as regras ensinam a decorar o discurso palavra por
palavra. Há certa desconfiança quanto à utilidade da memória de palavras,
principalmente em Quintiliano, que chega a propor que esse tipo de
mnemônica poderia ser substituído pela simples tarefa de aprender o
discurso de cor, num julgamento que ratificou minha idéia inicial, que a
memoria servia para decorar o discurso para proferi-lo na etapa da actio.
Mesmo com ressalvas, no entanto, os três autores afirmam que treinar a
memória de palavras, que é muito difícil, pode ser um bom exercício para a
memória de coisas, essa, sim, mais útil.

Quanto às regras, os autores são muito sucintos, apenas referindo que
a técnica da memória está baseada na articulação de lugares previamente
ordenados e imagens que são colocados nesses lugares. Algo que, segundo
dizem, é por demais conhecido para ser explicitado:

Qua re ne in re nota et peruulgata multus et insolens sim, locis est
utendum multis, inlustribus, explicatis, modicis interuallis;
imaginibus autem agentibus, acribus, insignitis, quae occurrere
celeriterque percutere animum possint. (De or., II, 358, girfo nosso)

Por isso (para que num assunto tão conhecido e divulgado eu não seja
prolixo e redundante) devem-se usar muitos lugares, bem iluminados,
desobstruídos, com módicos intervalos. E imagens que agem, vivas,
notáveis, que rapidamente possam se apresentar e tocar o ânimo.




Há regras para os lugares e para as imagens. As regras para os
lugares, só listadas por Cícero, são um pouco mais desenvolvidas pelo autor
Ad Herenium. Os lugares (Ad. Her., III,31-32) devem ser ordenados e, para
facilitar a localização, cada quinto lugar deve ser especialmente marcado
(com a imagem de uma palma de mão ou de um homem chamado Quinto); devem
estar em regiões não muito freqüentadas, já que o vai e vem de pessoas
desorienta e compromete a distinção das imagens; os lugares devem ter forma
e natureza diferentes (fileiras de colunas ou corredores com muitas portas
semelhantes prejudicam a distinção); as dimensões devem ser moderadas
porque nos lugares muito grandes as imagens ficam imprecisas e nos muito
pequenos, apertadas; não devem ser nem muito iluminados, onde as imagens
ficariam ofuscadas, nem sombrios, onde elas estariam apagadas; a distância
entre eles deve ser moderada. Curioso notar como essas regras evocam os
critérios que aparecem no ut pictura horaciano: perto/longe e claro/escuro.

Quanto às imagens (Ad. Her., III, 33, 37), como já dito, elas devem
corresponder a cada uma das res, na memória de coisas, ou a cada uerba, na
de palavras. Nos dois casos, a escolha de imagens deve contemplar alguma
similitude com o que se quer lembrar. Quintiliano, por exemplo (Inst.
Orat., XI, 29), propõe que se se quer lembrar da palavra "navio" ou do
assunto "navegação", que se escolha como imagem uma âncora. Além de
semelhantes, as imagens devem ser notáveis, vivas e agentes. Mesmo depois
da leitura e do estudo dos tratados, não consegui discernir claramente o
que seriam essas imagines agentes. Como explicitado textualmente, entendi
que essas imagens deveriam ficar marcadas nos lugares do mesmo modo que as
letras ficam nas tabuinhas de cera usadas para a escrita (Ad. Her., III,
30) e, para isso, precisavam ser suficientemente marcantes.

De qualquer forma, a técnica parecia ser esta: escolhem-se vários
lugares e imagens e, num percurso mental pelos lugares, vai-se distribuindo
as imagens, uma para cada um. Quando se quiser recordar o discurso, refaz-
se mentalmente o percurso e, a cada lugar, ao reencontrar a imagem, lembra-
se da coisa ou palavra que é preciso dizer. E assim fica assegurado, mesmo
sem os suportes da escrita, o material para a actio.



IV. A Arte da Memória nos séculos XVI e XVII



Em 2009, comecei a trabalhar com uma Arte da Memória produzida, em
português, pelo padre jesuíta Cristóvão Borri (ou Cristóvão Bruno, como
também é conhecido) em 1627. O texto me foi apresentado por dois
pesquisadores da História das Ciências interessados nos trabalhos de
astronomia da Borri e nas suas relações com as discussões da época
referentes aos vários modelos de descrição do mundo e das esferas celestes,
o de Ptolomeu, o de Galileu e o de Tycho-Brahe, com o qual, parece, Borri
concordava[5]. Na verdade, trata-se de um manuscrito, hoje na Biblioteca da
Universidade de Coimbra, composto de três tratados: a Nova Astronomica, a
Arte da Navegação e a Arte da Memória. Se os dois primeiros já mereceram a
atenção dos pesquisadores de História das Ciências ([6]), a Arte da Memória
ainda foi pouco comentada e diria que sua ligação com os outros dois textos
e, portanto, seu interesse para os historiadores das ciências, ainda não
está clara. De qualquer forma, trata-se das anotações do curso que Borri
proferiu no Colégio de Santo Antão em 1627.

Gostaria de falar especificamente sobre esse tratado numa outra
oportunidade. Hoje quero dizer que o trabalho de transcrição e modernização
do texto me fez retomar os estudos sobre a Arte da Memória. Reli o livro
de Yates e conheci o livro de Paolo Rossi que também trata das artes da
memória e de suas relações com a lógica combinatória de Leibniz e com o
estabelecimento do que hoje chamamos de Ciência Moderna[7]. Além disso,
tomei contato com a figura de outro jesuíta, Matteo Ricci, que assim como
Borri foi missionário na China e nessa condição escreveu, em chinês, em
1596, um Tratado sobre as artes mnemônicas com o propósito de ensinar a
técnica de tradição ciceroniana para os chineses que, quando apreendessem a
valorizar suas capacidades mnemônicas, viriam perguntar sobre a religião
que possibilitava tais maravilhas[8]. O próprio Ricci era conhecido por sua
memória prodigiosa e dizia, por exemplo, que depois de ter apenas passado
os olhos numa lista de mais de quatrocentos ideogramas chineses era capaz
de repeti-los na ordem direta e na ordem inversa[9]. De outro jesuíta,
Francesco Panigarola, mais velho que Ricci e talvez seu professor nas artes
da memória, dizia-se ser capaz de passear por cem mil imagens
mnemônicas[10]. Na época, a tradição ciceroniana da memória tornara-se um
forma de ordenar e guardar todo o conhecimento individual de assuntos tanto
seculares como religiosos. O método de Ricci, em linhas gerais, é o mesmo
descrito nas Retóricas Latinas. Segundo Jonathan Spence.

"Em 1596, Matteo Ricci, ensinou os chineses a construir um palácio da
memória. Disse-lhes que o tamanho do palácio dependia do tanto que
quisessem recordar: a construção mais ambiciosa consistiria de muitas
centenas de edifícios de todas as forma e dimensões. (...) Ele
explicou que esses palácios, pavilhões e divãs, eram estruturas
mentais que se mantinham na cabeça da pessoa (...) O objetivo real de
todas essas construções mentais era o de oferecer espaços para a
armazenagem dos milhares de conceitos que constituem a soma do nosso
conhecimento humano. Devíamos dar uma imagem ... a tudo que queremos
lembrar; e a cada uma dessas imagens devíamos atribuir uma posição
onde ela possa descansar tranqüilamente até que a chamemos através de
um ato de memória"[11] (p.19-20)




Os palácios, podem ser reais, imaginários ou misto. Pode-se aumentar
a capacidade da memória aumentando o número de lugares ou de imagens. No
último caso, é preciso evitar que os lugares fiquem muito entulhados, o que
dificultaria o distinção e apreensão das imagens pela mente[12].

O livro A Chave Universal[13], de Paolo Rossi, segue um percurso
semelhante a A Arte da Memória de Frances Yates, embora com enfoques
diferentes. Rossi comenta vários tratados também referidos por Yates com a
diferença (que acabou sendo significativa para mim) de citar longos trechos
das obras estudadas. Nos apêndices, coloca a transcrição de vários
manuscritos inéditos e graças a isso pude ler alguns tratados que
explicitavam a arte e me ajudaram a entendê-la melhor, já que concretizavam
o que as retóricas antigas apenas insinuavam. Um dos textos do apêndice é o
Tractatus solemnis artis memorativae, manuscrito anônimo de aproximadamente
1466. Nele pude ler trechos como:

"Differt autem memoria naturalis ab artificiosa. Harum naturalis est
una quae nostris animis insita est et simul cum ipsa creatione nata.
Artificiosa vero est quaedam inductio et praeceptionis ratione
confirmatur. Haec autem ars duobus perficitur: locis videlicet et
imaginibus, ut Thomas illud addiciens oportere ut ea quae vult quis
memoriter tenere ordinata consideratione disponat, ut ex uno memoratu
ad aliud facile procedatur. Cicero vero sic inquit: oportet igitur, si
multa reminisci volumus, multos locos domus comparare, ut in multis
locis multas imagines comprehendere atque amplecti valeamus." (apud
Rossi, p.366-7)

"Difere a memória natural da artificial. Delas, a natural é uma que
foi inserida em nossos ânimos e nasceu com a própria criação. A
artificial na verdade é um acréscimo e é consolidada por preceito. E
essa arte é executada com duas coisas: os lugares, sem dúvida, e as
imagens. Conforme o grande Tomás acrescenta, é preciso que as coisas
que alguém deseja guardar de memória sejam dispostas com ordenada
observação, de modo que a partir de uma coisa lembrada siga-se até
outra facilmente. Cícero, na verdade, diz assim: é preciso, portanto,
se desejamos lembrar muitas coisas, preparar edifícios de muitos
lugares, para que sejamos capazes de abranger e abraçar muitos lugares
e muitas imagens"




"Imagines sunt rerum aut verborum similitudines in mente conceptae.
Duplices autem similitudunes esse debent, ut ait Cicero, una rerum,
alia verborum. Rerum autem similitudinem constituuntur cum summatim
ipsorum negotiorum imagines comparamus, verborum autem similitudines
exprimuntur cum uniuscuiusque vocabuli memoria a nobis imagine notatur
(...) Et premicto pro generali regula imaginum collocandarum quod in
locis semper collocandae sunt imagines cum motu et acto ridiculoso
crudeli admirativo aut turpi vel impossibili sive alio insuteo". (apud
Rossi, p.368, grifo nosso)

"Imagens são similitudes concebidas na mente de coisas e de palavras.
E essas similitudes devem ser de dois tipos, como diz Cícero, uma de
coisas, outra de palavras. As similitudes de coisas são formadas
quando compomos resumidamente imagens dos próprios assuntos;
similitudes de palavras são expressas quando a memória de cada
vocábulo é assinalada por nós (...) E antecipo como regra geral da
colocação de imagens que nos lugares sempre devem ser colocadas
imagens com movimento e ato ridículo, cruel, admirável ou torpe ou
impossível ou outro não habitual"




"Si igitur daretur tibi ad memorandum nomes proprium, puta Petrus vel
Martinus, debes accipere aliquem Petrum tibi notum ratione amicitiae
vel inimicitiae, virtutis vel vituperri vel precellentis pulcritudinis
aut nimiae deformitatis, non ociosum sed se exercitatem motu aliquo
ridiculoso." (apud Rossi, p.368, grifo nosso)

"Assim, se te for dado para memorizar um nome próprio, como Pedro ou
Martinho, deves tomar algum Pedro teu conhecido por motivo de amizade
ou inimizade, virtude ou vitupério, elevada beleza ou demasiada
feiúra, não parado, mas se mexendo com algum movimento ridículo".




É preciso ordenar o material a ser lembrado. Isso se faz organizando
os lugares de forma a que eles possam ser percorridos sem desvios de rota.
Uma regra é segui-los sempre pelo caminho da direita. As imagens, por sua
vez, devem ter alguma excepcionalidade para ficarem mais nitidamente
marcadas nos lugares. Devem ser muito bonitas ou muito feias, muito
admiráveis e devem ser imagines agentes, ou seja, essas imagens não ficam
estáticas nos lugares da memória, estão em contínuo movimento e,
principalmente, em movimento que produz algum ridículo. Seguindo tais
descrições, não pude deixar de lembrar do conto de Machado de Assis, "O
cônego ou metafísica do estilo"[14], e imaginar quão estranha seria a
paisagem do pensamento das pessoas treinadas nessa arte, uma paisagem nada
clássica, onde a arquitetura está adornada com imagens que podem ir do
surrealista ao grotesco.

A leitura dos textos sobre Matteo Ricci e, principalmente, a leitura
na íntegra dos tratados transcritos por Rossi e da Arte da Memória de Bruno
possibilitaram que eu entendesse melhor de que era composta e como
funcionava a técnica mnemônica de lugares e imagens. Com isso, pude voltar
aos textos de Cícero e enxergar referências que não tinha visto, podendo
assim articular novos sentidos para o lugar na Memória na Retórica Antiga.





V. Revendo a Memória em Cícero



Nas Partições Oratórias, 26, Cícero diz que a memória é gemina
litteraturae, gêmea da escrita. Nas escolas, a escrita era feita em tábuas
recobertas com uma camada de cera em que as letras eram marcadas com
objetos pontiagudos, por exemplo, o styllus. da mesma forma, a memória se
compõem de um suporte, os lugares, em que são marcadas as imagens, símiles
das letras. O processo de rememorização, portanto, é semelhante ao da
leitura do que está escrito. No entanto, é muito restrito, e talvez
equivocado, entender a memória apenas como uma etapa entre a elocução e a
ação, necessária numa cultura que não tinha suportes adequados e facilmente
disponíveis para guardar o discurso por escrito.

Voltando a certas passagens do De oratore, percebi como Cícero
descreve a memória relacionando-a com a totalidade do processo cognitivo.

Verum tamen neque tam acri memoria fere quisquam est, ut, non
dispositis notatisque rebus, ordinem uerborum omnium aut sententiarum
complectatur, neque uero tam hebeti, ut nihil hac consuetudine et
exercitatione adiuuetur. Vidit enim hoc prudenter siue Simonides siue
alius quis inuenit, ea maxime animis effingi nostris, quae essent a
sensu tradita atque impressa; acerrimum autem ex omnibus nostris
sensibus esse sensum uidendi; qua re facillime animo teneri posse ea,
quae perciperentur auribus aut cogitatione, si etiam commendatione
oculorum animis traderentur. (De or., II,.357-358, grifo nosso)

"Certamente, não há quase ninguém que possua memória tão aguçada a
ponto de abarcar a ordem de todas as palavras e sentenças estando as
coisas não organizadas e marcadas; por outro lado, ninguém tem memória
tão debilitada que em nada possa ser ajudado por este hábito e
exercício. Com efeito, Simônides, ou outro que tenha inventado (a arte
da memória) percebeu isto com sagacidade: as coisas que são melhor
representadas no nosso ânimo são aquelas trazidas e impressas pelos
sentidos; e entre todos os nossos sentidos o sentido da visão é o mais
aguçado; razão pela qual podem ser facilmente conservadas em nosso
ânimo coisas recebidas pelos ouvidos ou pelo pensamento se forem
levadas aos ânimos com a recomendação dos olhos.



O processo de pensamento necessita que o material a trabalhar esteja
ordenado para que possa ser facilmente acessado. Quase ninguém tem uma
memória natural tão aguçada que não necessite dessa ordenação. Por outro
lado, quase ninguém tem uma memória natural tão débil, que não possa ser
auxiliada e reforçada pela ordem imposta pela mnemônica. E aí vem uma nota
importante: quem inventou a arte da memória (Simônides ou qualquer outro)
entendeu que no nosso animum (ânimo, alma, sede da vontade) ficam
interiormente representadas coisas percebidas no mundo exterior pelos
sentidos. De todos os sentidos, o que tem maior capacidade de deixar
marcadas no ânimo é a visão. Se temos percepções vindos da audição ou do
pensamente, essas percepções marcam melhor o ânimo se forem transformadas
em imagens, em formas e corpos, ou seja, se forem abarcadas pelo sentido da
visão.

Por outro lado, as coisas que vemos precisam necessariamente ocupar
um lugar:

His autem formis atque corporibus, sicut omnibus quae sub aspectum
ueniunt, sede opus est; etenim corpus intellegi sine loco non potest.
(De or., II, 358)

" E para essas formas e corpos, assim como para tudo aquilo que nos
chega através dos olhos, convém que tenham um assento, uma vez que um
corpo não pode ser percebido sem o lugar (que ele ocupa)"




Jocelyn Penny Small chama atenção para a variação vocabular entre
locus e sedes. Os loci da mnemônica são sedes, são assentos, como dizemos
dos lugares que tomamos num banquete. Com isso os lugares da retórica
grega, em Roma ganham concretude. Os topoi são abstrações da argumentação e
da dialética; os "lugares" da memória latinos são concretos e
arquitetônicos[15].

Em De oratore, II, 355, Cícero alude ao fructus (fruto), à utilitas
(utilidade) e à uis (força) da memória artificial. Os termos fizeram-me
pensar em outras tripartições que surgem nas divisões das artes na
Antigüidade: opus, ars, artifex; poema, poesis, poeta; oratio, quaestio,
uis oratoris. Talvez se possa aproximar opus/poema/oratio/fructus
relacionando-os aos resultados das artes (póetica, oratória e mnemônica),
ars/poesis/quaestio/utilitas, relacionados aos processos de aplicação das
artes, e artifex/poeta/uis oratoris/uis (memoriae) referindo-os aos
artistas.

Qui sit autem oratori memoriae fructus, quanta utilitas, quanta uis,
quid me attinet dicere?Tenere, quae didiceris in accipienda causa,
quae ipse cogitaris?Omnis fixas esse in animo sententias? Omnem
descriptum verborum apparatum? Ita audire uel eum, unde discas, uel
eum, cui respondendum sit, ut illi non infundere in auris tuas
orationem, sed in animo uideantur inscribere?Itaque soli qui memoria
vigent, sciunt quid et quatenus et quo modo dicturi sint, quid
responderit, quid supersit: eidemqie multa ex aliis causis aliquando a
se acta, multa ab aliis audita meminerunt. (De or., II, .355)

"E de que me serviria dizer qual seria o fruto da memória para o
orador, quanta a utilidade, quanta a força? Reter aquilo que se
estudou ao assumir uma causa, o que se pensou por conta própria? Ter
fixas no ânimo todas as sentenças? Todo o preciso ornamento das
palavras? Ouvir aquele de onde vais aprender ou a quem vais responder
de tal modo que eles pareçam não despejar o discurso nos teus ouvidos,
mas gravá-lo no ânimo? Assim, somente os que têm excelente memória
sabem o que, até que ponto e de que modo deverão dizer, o que já
responderam e o que resta (para refutar); e os mesmos, tirando de
outras causas, lembram-se de muitas coisas já defendidas por si
próprios e de muitas ouvidas de outros"



Para defender uma causa, o orador precisa encontrar o que dizer; ele
estuda o material referente ao e articula seus próprios argumentos;
organiza-os em sentenças e ornamenta-as para, além de instruir e comover,
também agradar. Invenção, disposição e elocução do discurso. O fruto da
arte da memória seria "reter" isso tudo. A utilidade seria ouvir, mas de
tal maneira que o material ouvido fique marcado e guardado no ânimo. A
ordenação dos lugares e imagens da memória faz com que se possa ouvir
(alguém com quem se está aprendendo mas também o adversário numa disputa
judicial) de modo a conseguir rapidamente colocar o material escutado no
ânimo, apropriar-se dele, relacionando-o com o conhecimento individual que
já ali está. A força do artista da memória é, em cada situação que a
prática do discurso exigir, saber o que dizer, até que ponto dizer e como
dizer. Numa causa, conduzir o discurso em cada momento sabendo o que já foi
dito por si e pelo oponente e o que é preciso dizer em seguida e será dito
compondo, no momento, novos argumentos, a partir da rememoração do material
advindo de outras causas semelhantes defendidos por outros oradores ou por
si próprio.

Para terminar, quero voltar a um momento do Livro I do De Oratore em
que Crasso, depois de muita insistência terminar por expor as regras da
Arte Retórica. Os jovens presentes à conversa, Cotta e Cátulo, com o
reforço do Cevóla, quiseram aproveitar a ocasião única de receber de
Crasso, um dos maiores e mais experientes oradores da época, os tão
desejados preceitos que orientam sua brilhante atividade oratória. Crasso
se desencumbe da tarefa com enfado, sumariando rapidamente o que
caracterizaria cada uma das cinco partes da retórica. Quando termina de
falar, Cévola quer saber dos jovens o que acharam da exposição, se ela foi
suficiente para instruí-los no que desejavam.

Haec cum Crassus dixisset, silentium est consecutum, sed quamquam
satis eis, qui aderant, ad id, quod erat propositum, dictum videbatur,
tamen sentiebant celerius esse multo quam ipsi vellent ab eo
peroratum. Tum Scaevola "quid est, Cotta?" inquit "quid tacetis?
Nihilne vobis in mentem venit, quod praeterea ab Crasso requiratis?
(De or. I, 160)

""Quando Crasso terminou de dizer essas coisas, seguiu-se o silêncio;
mas embora parecesse aos presentes que o que tinha sido dito estava
próximo do havia sido proposto, sentiam que tinha sido exposto por ele
(Crasso) muito mais rapidamente do que desejavam. Então Cévola disse,
'O que há, Cotta? Por que vos calais? Não vos ocorre na mente nada
para indagar a Crasso além disso?'"



Os jovens permanecem calados depois da fala de Crasso, aparentemente
não encontram o que dizer. Cévola, o jurisconsulto, a personagem de mais
idade e mais sábia do diálogo, insiste para que, tendo ouvido a fala de
Craso, formulem alguma pergunta que possa continuar a conversa e assim
instruí-los mais. Ou será que a resposta já teria sido suficiente?

Id me hercule" inquit "ipsum attendo: tantus enim cursus verborum
fuit et sic evolavit oratio, ut eius vim et incitationem aspexerim,
vestigia ingressumque vix viderim, et tamquam in aliquam locupletem ac
refertam domum venerim, non explicata veste neque proposito argento
neque tabulis et signis propalam conlocatis, sed his omnibus multis
magnificisque rebus constructis ac reconditis; sic modo in oratione
Crassi divitias atque ornamenta eius ingeni per quaedam involucra
atque integumenta perspexi, sed ea contemplari cum cuperem, vix
aspiciendi potestas fuit; itaque nec hoc possum dicere, me omnino
ignorare, quid possideat, neque plane nosse atque vidisse. (De or. I,
161, grifo nosso)

"'Por Hércules", diz (Cotta), 'é isso mesmo que penso'. 'Tamanho foi o
fluxo das palavras e de tal forma se desenrolou o discurso que eu
percebi sua força e sua veemência, com dificuldade pude seguir suas
pistas e sua marcha e como se tivesse entrado em uma casa opulenta e
atulhada, onde os tapetes não estão estendidos, a prataria não está
exposta, nem os quadros e as estátuas estão colocados à vista, mas
todas essas numerosas e esplêndidas coisas estão amontoadas e
encobertas, desse mesmo modo, no discurso de Crasso, observei as
riquezas e os ornamentos do engenho dele como que através de um véu,
mas quando os quis contemplar atentamente houve apenas a possibilidade
de passar os olhos. Assim, não posso dizer que ignoro inteiramente o
que ele domina nem que eu o tenha visto e conhecido plenamente"




Ao tentar explicar como ouviu o discurso de Crasso, Cotta lança mão
de um vocabulário facilmente relacionável aos lugares e imagens da arte da
memória. Ouviu como quem entra numa casa e tenta reconhecer o que há dentro
dela. como quem tenta refazer o percurso dos lugares para recolher as
imagens ali colocadas. Supõe-se que o discurso de Crasso é ordenado e a
audição de Cotta também é; cada um tem seu palácio da memória, Crasso o
está utilizando para produzir o discurso e Cotta para ouvi-lo e entendê-lo.
Ao ouvir o jovem visualiza uma casa opulenta, repleta de tesouros, só que
as imagens que o compõem não são discerníveis. Ouvindo é como se visse os
conhecimentos de Crasso através de um véu, percebe sua riqueza, mas não
consegue colocar essa riqueza no seu próprio palácio.

Assim, a leitura dos Tratados da Memória mostrou-me que exercitar-se
nas técnicas mnemônicas leva a ter o conhecimento adquirido e o processo de
pensamento organizados de maneira ordenada e segundo padrões bem
determinados. Isso faz com que a mnemônica não diga respeito apenas à
memorização do discurso, mas também à própria elaboração do que dizer. Dito
de outro modo, a Memória é também, e até prioritariamente, uma questão da
Invenção[16]. Ser exercitado na memória artificial implica pensar,
produzir, ouvir, guardar e julgar os discursos com o instrumental advindo
dos lugares e imagens.

Com isso, fica um pouco mais claro para mim a designação de
thesaurus omnium rerum e de fundamentum do edifício do discurso.




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YATES, Frances A. A Arte da Memória. Campinas: EDUNICAMP, 2007 (1ª ed., em
inglês, 1966) .




-----------------------
[1] O presente texto corresponde a minha fala, em 24 de junho de 2010, no
evento Ciceronianíssimos! Simpósio de Estudos sobre Cícero, realizado pelo
Centro de Estudos Clássicos do Instituto de Estudos da Linguagem da UNICAMP-
SP.
[2] YATES, Frances A. A Arte da Memória. Campinas: EDUNICAMP, 2007 (1ª
edição, em inglês, 1966)


[3] Um estudo sobre o "Teatro da Memória" hoje pode ser lido em ALMEIDA,
Milton José de. O Teatro da Memória de Giulio Camillo. São Paulo: Ateliê
Editorial. Campínas: EDUNICAMP, 2005.


[4] Cf. LEONARDI, Elisa P. A Memória na Retórica Latina. Tradução e análise
das seções sobre a memória nos seguintes tratados de retórica romanos:
Rhetorica ad Herenium (III,28-40), De oratore (II,lxxxv.350- lxxxviii.360),
Institutio oratoria (XI, ii.1-51). São Paulo: FFLCH/USP, 2003 (Dissertação
apresentada no Programa de Pós em Letras Clássicas)


[5] Agradeço aos professores Carlos Gonçalves e Thomás Haddad, da EACH/USP,
por terem apresentado o manuscrito de Borri e com isso possibilitado essas
minhas novas investigações. Agradeço, também, pela possibilidade de diálogo
e pesquisa que com isso se abriu.
[6] A Arte da Navegação chegou a ser editadaem Lisboa, em 1940, por
Fontoura da Costa. A Nova Astronomica foi editada em versão latina,
também em Lisboa, na Collecta Astronomica Exdoctrina, em 1931. Cf.
LOURENÇO, Maria Paula M. Compromisso e Inovação Teórica no Ensino da
Astronomia em Portugal no Século XVII. O Contributo de Cristóvão Bruno.
Revista Portuguesa de Filosofia, 54: 247-282, (1998). A autora não faz
menção à Arte da Memória.
[7] ROSSI, Paolo. A Chave Universal. Artes da memorização e lógica
combinatória desde Lúlio até Leibniz. Bauru:EDUSC, 2004 ( trad. da 3ª
edição, 2000; 1ª edição em italiano, 1960)

[8] Cf. SPENCE, Jonathan D. O palácio da memória de Matteo Ricci. São
Paulo: Companhia das Letras, 1986, p.21.

[9] Idem, p.27.
[10] Ibidem.
[11] Idem, p.19-20.

[12] SPENCE, op.cit. , p.28.

[13] ROSSI, Paolo. A Chave Universal. Artes da memorização e lógica
combinatória desde Lúlio até Leibniz. Bauru:EDUSC, 2004 ( trad. da 3ª
edição, 2000; 1ª edição em italiano, 1960)


[14] Cf. ASSIS, Machado de. "O cônego ou metafísica do estilo" in Várias
Histórias. São Paulo: Martins Fontes, 2004, p. 237- 47. O conto parece
referir-se a passagens das Confissões X, 8-19, onde Santo Agostinho
fala dos palácios da memória.

[15] Cf. SMALL, Jocelyn Penny. Wax tablets of the mind. Cognitive studies
of memory and literacy in classical antiquity. London: Routledge, 1997, p.
96-97.


[16] Essas discussões estão apronfundadas nos livros de Mary Carruthers.
Cf. CARRUTHERS, Mary. The Book of Memory. A Study of memory in Medieval
Culture. Cambridge: Cambridge U.P., 2009 (2ª edição, 2008; 1ª edição,
1990); CARRUTHERS, Mary. The craft of thought. Meditation, Rhetorica, and
the making of Images, 400-1200. Cambridge: Cambridge U.P., 1998. A autora
propõe uma revisão na separação entre cultura oral e cultura escrita. A
linguagem seria uma escrita da mente. Num certo momento histórico, essa
escrita aparece exteriormente no desenvolvimentode uma nova tecnologia.
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