CIDADES CRIATIVAS E A RECONSTRUÇÃO URBANA

June 6, 2017 | Autor: Bruna Haubert | Categoria: Culture, Creative City, Creative Economy
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CIDADES CRIATIVAS E A RECONSTRUÇÃO URBANA Laura Prodanov 1 Bruna Haubert 2 Mary Sandra Guerra Ashton 3

Palavras-chave: Cidades Criativas. Desenvolvimento. Cultura.

INTRODUÇÃO As cidades criativas são consideradas ambientes dinâmicos, em constante movimento, que se adaptam às necessidades econômicas e visam gerar um ambiente favorável ao desenvolvimento coletivo dos criativos e da sociedade que ali circunda. No presente estudo, tem-se como temática a abordagem das cidades criativas e o enfoque dado à cultura por algumas cidades, como base para melhorar a qualidade de vida da população e os indicadores econômicos. Neste sentido, adota-se como problema de pesquisa a questão: como as cidades podem se desenvolver empregando a cultura como pilar de desenvolvimento? Para atender ao problema de pesquisa proposto, utilizou-se o método descritivo e interpretativo, numa pesquisa qualitativa, realizada acerca de cidades que podem ser empregadas como exemplo na questão elencada. Tais cidades foram escolhidas por serem comumente citadas como exemplos quando se trata de cidades criativas que se utilizam da cultura como pilar para seu crescimento. Este trabalho é um recorte do artigo final da disciplina ‘Capital Cultural, Cidades Criativas e Desenvolvimento’, do mestrado em Indústria Criativa, da Universidade Feevale.

REFERENCIAL TEÓRICO Uma cidade criativa surge da colaboração, do emprego da criatividade na solução dos problemas locais, da conexão de culturas, e se renova com a participação ativa dos indivíduos residentes (REIS, 2012). Landry (2013), Florida (2011) relatam que a criatividade está diretamente relacionada à diversidade e a coletividade, um patrimônio inegável de uma cidade. Promover o entrelaçamento das culturas, conviver com as diferenças e valorizá-las é 1

Mestranda em Indústria Criativa, na Universidade Feevale. Graduada em Moda, pela Universidade Feevale. Email: [email protected]. 2 Mestranda em Indústria Criativa, na Universidade Feevale. Graduada em Administração de Empresas, pela Universidade Feevale. E-mail: [email protected]. 3 Doutora em Comunicação Social, pela PUCRS. Professora Titular e Pesquisadora na Universidade Feevale, nos Cursos de Turismo e no Mestrado em Indústria Criativa. E-mail: [email protected].

um elemento primordial para o desenvolvimento local. Quando falamos em Bogotá e evidenciamos os resultados do processo de transformação em cidade criativa, destacamos: as conexões entre diversidades, a expansão dos mapas mentais pela apropriação dos espaços públicos, inclusão e conciliação de direitos e o desenvolvimento de cidadãos ativos que questionam e projetam seu futuro. Os pilares que sustentam a transformação contínua de Bogotá são a visão de longo prazo, o senso de urgência, inovações culturais e a cultura cidadã (REIS, 2012). Vivant (2012) versa sobre a importância dos dirigentes públicos em realizar ações a favor do desenvolvimento urbano. Uma característica de Bogotá é a continuidade de gestão entre governos. Essa gestão ininterrupta garantiu o processo de transformação de Bogotá, que foi designada Cidade Criativa da Música pela Rede Mundial de Cidades Criativas da UNESCO, em março de 2012 (UNESCO, 2015). Reis (2012) cita exemplos como o projeto “BiblioRed”, que distribuiu uma rede de bibliotecas pela cidade, contribuindo com o acesso à educação e ampliando os espaços de convívio social. Os projetos arquitetônicos das bibliotecas agregam valor ao espaço cultural que se desenvolve na cidade. Outro caso a analisar é a cidade de Bilbao, na Espanha, designada como Cidade Criativa do Design pela Rede Mundial de Cidades Criativas da UNESCO 4, em dezembro de 2014. Reis (2012) expõe que em meio à crise econômica e social, Bilbao iniciou seu processo de regeneração e teve como elemento principal neste processo o museu Guggenheim. Para Reis (2012) o museu teve grande importância na projeção externa da cidade, pois atraiu milhares de visitantes que movimentaram a economia local. O museu foi o instrumento cultural que serviu de pilar para que Bilbao pudesse atingir seus objetivos econômicos. Diversas áreas foram reintegradas por conexões simbólicas, como as pontes e os espaços de convívio, estes elementos permitiram maior mobilidade unindo as regiões fragmentadas e abandonadas. O museu como símbolo da regeneração abria as portas para que Bilbao utilizasse o quesito cultural na atração de turismo, novos investimentos e oportunidades econômicas e sociais. Bilbao é reconhecida como um exemplo mundial de desenvolvimento urbano sustentável, ligado à nova economia criativa (REIS, 2012). É importante salientar a relevância do museu para a cidade, mas também é necessário comentar sobre os acontecimentos que ocorreram no entorno deste ícone e que transformaram Bilbao

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Informação disponível em: http://www.bilbaointernational.com/en/unesco-appoints-bilbao-city-of-design/, acesso em 05 jun. 2015.

em fonte de riqueza e emprego, como a ponte próxima, feita por um arquiteto icônico, e a revitalização do rio que passa a frente do museu. Melguizo (in REIS; KAGEYAMA, 2011) descreve o processo de transformação de Medellín, a segunda maior cidade da Colômbia, que deixou de ser a cidade mais violenta do mundo em 1991 e se transformou em um destino turístico que evidencia todo seu acervo cultural local. “Livros por toda parte, mobilização social para fazer da educação uma meta aspiracional dos jovens, urbanismo social (cada tijolo que construímos deve ter um resultado social [...])” (MELGUIZO in REIS; KAGEYAMA, 2011, p. 46). Os principais investimentos a serem destacados no processo de transformação de Medellín são em educação pública e cultura. Foi criado um fundo local de crédito que auxilia o acesso dos estudantes às 32 universidades da cidade, assim como a oferta de bolsas de estudos e outros benefícios. A cidade potencializou suas raízes culturais através da união entre sociedade civil e instituições privadas, estas ações associadas ao turismo alavancaram a cidade positivamente e transformaram Medellín em um destino internacional. Bogotá, Bilbao e Medellín são alguns dos exemplos de cidades criativas que elencaram a cultura como um pilar do desenvolvimento e utilizaram tal recurso de forma criativa e produtiva. A dimensão cultural é rica em elementos locais que ressaltam a identidade da sua comunidade. A cultura de um povo comunica ao mundo seus valores e seus princípios endógenos. Em síntese, pode-se relatar que o desenvolvimento local se potencializa ao ser embasado na cultura local, pois sincroniza os objetivos entre sociedade e governo através de um elemento em comum.

METODOLOGIA A pesquisa classifica-se como descritiva, pois visa descrever o processo de desenvolvimento das cidades criativas baseada na cultura como pilar. Quanto aos objetivos a pesquisa classifica-se como bibliográfica, buscando dados por meio de revisão bibliográfica atualizada e pesquisa documental em sites específicos disponíveis na internet. A pesquisa pode ser classificada como qualitativa, pois objetiva interpretar os dados por análise indutiva pelas pesquisadoras e não por meios estatísticos (PRODANOV; FREITAS, 2013).

RESULTADOS Aponta-se como resultado dessa pesquisa, de cunho bibliográfico, o entendimento de que a cultura pode ser uma importante alavanca para o crescimento local, pois ao promover a cultura criativa e apontar o ser humano como ator principal do cenário, é possível desenvolver

um ambiente que propicie o desenvolvimento sustentável da cidade. Reis (2012) afirma que promover o entrelaçamento das culturas e valorizar a diversidade cultural pode contribuir no sentido de gerar sentimento de pertencimento à população. Tal fato colabora com o aumenta o fluxo de turismo, conforme exemplificado pelas cidades de Medellín e Bilbao. Outro aspecto relevante observado nas cidades criativas abordadas é a continuação dos projetos, pois planos que exigem grandes mudanças demandam tempo, e mais de uma gestão do governo para serem efetivadas, conforme elucidado em Bogotá (REIS, 2012).

CONCLUSÃO Ao comprovar a discussão apresentada, temos aqui exemplos de cidades como Medellín, que deixou de ser a cidade mais violenta do mundo através de uma profunda mudança, por meio da requalificação dos espaços. Bilbao, por outro lado, conseguiu chamar a atenção do mundo e se tornar ponto turístico mundial por meio do museu que foi a base da reestruturação da cidade contribuindo para que saísse da crise que se encontrava. Ou seja, se bem articulada, levando em consideração aspectos locais e tendo um plano para se ater, a cultura pode sim ajudar de diferentes formas e empregada de diferentes maneiras. Os exemplos apresentados evidenciam que se pode encontrar na cultura a solução para seus problemas, sejam eles de ordem econômica ou social.

REFERENCIAL BONNIN, Jean-Louis. Nantes, uma cidade criativa? In REIS, Ana Carla Fonseca; KAGEYAMA, Peter; (Org.). Cidades Criativas – Perspectivas. São Paulo: Garimpo de Soluções, 2011. FLORIDA, Richard. A ascensão da classe criativa. Porto Alegre: LP&M, 2011. LANDRY, Charles. Origens e futuros da cidade criativa. São Paulo: Sesi – SP Editora, 2013. MELGUIZO, Jorge. Medellín, uma Cidade Criativa. In: REIS, A. C. F.; KAGEYAMA, P.; (Org.). Cidades Criativas – Perspectivas. São Paulo: Garimpo de Soluções, 2011. PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do Trabalho Científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. 2ª edição. Novo Hamburgo: Feevale, 2013.

REIS, Ana Carla Fonseca. Cidades Criativas: Da teoria à prática. São Paulo: Sesi –SP Editora, 2012. UNESCO, 2015. Creative Cities Network of Music – Bogotá. Disponível em: http://www.unesco.org/new/en/culture/themes/creativity/creative-citiesnetwork/music/bogota/. Acesso em: 05 jun. 2015. VIVANT, Elsa. O que é uma cidade criativa? São Paulo: Editora Senac, 2012.

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