CineMundo: um roteiro alternativo para o educador

June 29, 2017 | Autor: Dora Bellavinha | Categoria: Education, Alternative Education, Literature and cinema, Cinema
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VEIGA, Ilma Passos A. (Org.) Projeto político-pedagógico da escola – Uma construção possível. Campinas: Papirus, 2001, pág. 31.

ALVES, Nilda, Garcia, Regina Leite. (Orgs.) O sentido da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 1999, pág. 65.
Idem. Ibidem. pág. 67.






CineMundo: um roteiro alternativo para o educador





Isadora Bellavinha Maciel





Rio de Janeiro, 29 de novembro de 2014










Resumo:

Este trabalho tece breves considerações sobre a trajetória da Educação no Brasil e a dificuldade de se colocar um pensamento educacional alternativo em prática na atual concepção da Escola Tradicional. O projeto Cinemundo sugere algumas atividades para o ensino da Literatura, da Leitura e da Produção Textual através da produção de vídeo, com o intuito de atualizar as práticas pedagógicas vigentes. O mesmo se apresenta como um roteiro para o educador que queira inovar sua prática em sala de aula pela criação audiovisual.

Palavras-chave: educação; cinema; educação alternativa; práticas pedagógicas; audiovisual.
















SUMÁRIO





INTRODUÇÃO ________________________________________ 4

CONCEITO ___________________________________________ 9

OBJETIVOS __________________________________________ 10

APLICABILIDADE ____________________________________ 11

CONCLUSÃO _________________________________________ 23

BIBLIOGRAFIA _______________________________________ 24

















INTRODUÇÃO






A história educacional brasileira documentada se inicia no ano de 1549 - desconsiderando a complexa e singular educação indígena - e mantém seu perfil colonial sem grandes variações até inicio do século XX. Os Jesuítas, que assumiram a tarefa educativa até 1759, foram os responsáveis pela catequese e instrução dos indígenas, assim como pela educação oferecida à elite colonial. Essa última se pautava no Ratio Studiorum e tinha como objetivo a formação do homem universal, humanista e cristão,, o que se dava através do ensino enciclopédico desvinculado da realidade na colônia. Tanto para os índios (culturalmente massacrados pelo cristianismo) quanto para a elite, o ensino jesuíta se baseava em formas dogmáticas de pensamento, absolutamente contrárias ao pensamento crítico. Os alicerces da Pedagogia Tradicional de vertente religiosa foram a forma expositiva, a repetição, e o desafio estimulando a competição.
Em 1870, numa experiência tardia do iluminismo, iniciam-se movimentos que negavam a influência religiosa no Estado, culminando na aprovação da reforma de Benjamin Constant, que encerra o ensino religioso nas escola públicas. Voltada para a fidelização social da burguesia industrial a vertente leiga da Pedagogia Tradicional inspiraria, pouco depois, a criação da escola pública laica, universal e gratuita.

A essa teoria pedagógica correspondiam as seguintes características: a ênfase no ensino humanístico de cultura geral, centrada no professor, que transmite a todos os alunos indistintamente a verdade universal e enciclopédica; a relação pedagógica que se desenvolve de forma hierarquizada e verticalista, onde o aluno é educado para seguir atentamente a exposição do professor; o método de ensino, calcado nos cinco passos formais de Herbart (preparação, apresentação, comparação, assimilação, generalização e aplicação). (VEIGA, 2001)

A didática que se estabelece nessa perspectiva pedagógica é inteiramente alheia às relações entre escola e sociedade separando, portanto, a teoria da prática.
Com transformações econômicas e políticas desencadeadas na década de 1930, novas perspectivas educacionais emergem, como é o caso do escolanovismo. talvez o embrião do pensamento pedagógico contemporâneo, essa vertente educacional marca a valorização da criança, cuja "liberdade, iniciativa autonomia e interesse devem ser respeitados", e o ensino é pensado com um processo de pesquisa. No entanto, a abordagem da Escola Nova se pautava essencialmente numa perspectiva interna à instituição, sem levar em consideração os aspectos políticos, econômicos e sociais da realidade brasileira. Esse ensino era também direcionado apenas a uma elite minoritária.
A ditadura militar instaurada em 1964 modificou todos os parâmetros nacionais. Na tentativa de acelerar o crescimento econômico, a educação desempenhava papel fundamental, no entanto, certamente, não enquanto potência de formação crítica e reflexiva. O ensino técnico a partir de princípios de racionalidade, eficiência e produtividade foi enfocado, e a fragmentação do processo produtivo em prol desse desempenho intensificava ainda mais as distâncias entre quem planejava e quem executava.
Nos anos de 1980, com o fim da ditadura e as mudanças socioeconômicas, os professores se empenham na recuperação da escola pública e na luta por participação efetiva nas políticas educacionais. Esse período marca importantes transformações no processo de ensino-aprendizagem e efervesce a defesa da Pedagogia Crítica que procurava unir escola e sociedade, teoria e prática, conteúdo e forma, técnico e político, ensino e pesquisa, professor e aluno. Altamente associada à realidade social, a Pedagogia Crítica também se interessava por uma democratização do ensino e total reconfiguração dos métodos educacionais.
A partir dessa perspectiva pedagógica inovadora, inúmeros pensadores da educação se dedicaram a debater sobre os princípios didáticos dessa "Educação Contemporânea" que começava a criar adeptos. Uma das questões que me parece essencial nesse desdobramento é a noção de disciplinaridade e seus derivados. Edgar Morin desenvolverá com primor um pensamento entorno da história da disciplina e seus rumos na contemporaneidade no texto "Articular saberes". Morin alerta sobre o risco da "hiperdisciplinarização" enquanto aquilo que "impede toda a circulação estranha na sua parcela de saber". Segundo o autor, a divisão do conhecimento em disciplinas não é por si só prejudicial, mas apenas na medida em que permite a dimensão do desconhecido, do olhar amador que se desprende da teoria introjetada para propor novos pontos de vista. O pensador apontará como na história do conhecimento, as descobertas mais interessantes se darão quando cruzadas com o olhar do amador, daquele que é externo à disciplina em questão. Nesse sentido, Edgar Morin pensará a importância da inter-trasn-poli-disciplinaridade. O conceito vem da junção dos três prefixos que pensarão o intercâmbio das disciplinas de formas distintas. A Interdisciplinaridade corresponde à troca e cooperação entre disciplinas, mantendo a soberania das mesmas; a Multi ou Polidisciplinaridade pensa a associação de disciplinas entorno de um projeto; a Transdisciplinaridade trata de esquemas cognitivos que atravessam inúmeras disciplinas. Esses desdobramentos, segundo Morin, estão de acordo com o novo paradigma cognitivo que surge na era contemporânea a partir dos sistemas rizomáticos da web, onde não há mais uma oposição clara entre ORDEM e DESORDEM. Não é possível trazer a organização sem seu fator caótico. O interessante desses desdobramentos disciplinares é que se passa a pensar num "conhecimento em movimento", no qual o elemento desconhecido é sempre parcela essencial, a mudança de perspectiva é sempre bem-vinda e requisitada, e toda especialização se permite dar ao objeto de estudo uma visão não especializada.
O cinema, me parece, se situa nesse lugar móvel da inter-trans-poli-disciplinaridade e pode se constituir como uma importante prática educativa, altamente antenada às dinâmicas cognitivas contemporâneas. Ele pode integrar a escola não apenas como uma muleta lateral no processo educacional, mas como, de fato, uma via de constituição crítica e de aproximação dos conteúdos escolares. Isso só é possível, no entanto, quando esses desdobramentos da disciplinaridade são efetivamente aceitos pelo professor e pela escola.



O pensamento entorno da Educação sofreu inúmeras alterações nos últimos cinquenta anos. As ideias cunhadas por Paulo Freire, que opõem a "educação bancária" - mecânica, conteudista, chapada em conhecimentos fixos e desarticulados – à educação crítica – que considera o aluno sujeito pensante e ativo, capaz de produzir reflexões sobre o conhecimento - certamente tiveram grande influência nessa outra forma de pensar o processo de ensino-aprendizagem.
Sem dúvida, a perspectiva que baseia a discussão dos futuros (mas também atuantes) professores, estudantes de pedagogia e das diversas licenciaturas se volta para um ensino valorizador das liberdades do educando e que instigue o pensamento crítico. A aplicação dessa vertente educacional é insistentemente aprovada entre os estudantes e professores enquanto discurso teórico, no entanto, enquanto prática, a situação é ainda extremamente precária.
Os próprios docentes universitários, que divulgam com vigor as ideias de Freire, são os primeiros a reduzirem o processo de aprendizagem à determinações curriculares das quais os alunos não participam. Ainda que haja abertura para a fala sincera (e crítica) dos estudantes, muitas vezes a contrapartida do professor questionado se revela nas notas finais. Dificilmente algum graduando da licenciatura ou pedagogia, ou tampouco um professor, assumirá um pensamento reacionário em relação ao ensino, o que aponta uma importante mudança de perspectiva mas não soluciona a realidade escolar.
A verdade é que são poucos os professores que, de fato, efetivam práticas educacionais pautadas na reflexão crítica dos educandos, no exercício da liberdade de criação, que buscam atividades inovadoras capazes de envolver os alunos. Não se pode negar a existência de algumas escolas que têm como conceito prioritário a articulação de possibilidades educacionais inventivas. Nessas situações, todo o projeto político pedagógico da escola é voltado para uma prática alternativa e há um acordo entre os integrantes da comunidade escolar – professores, coordenadores, pais, alunos e demais funcionários – que facilita o desenvolvimento permanente dessas práticas. Porém, são raros os professores que topam o desafio de uma proposta inovadora dentro da escola tradicional, que rompem com a ditadura do livro didático e se arriscam em atividades que nem sempre podem prever um resultado específico. No entanto, é exatamente aí onde a mudança precisa ocorrer com mais urgência. O processo de transformação geral do modelo escolar só pode se dar a longo prazo, e há uma força governamental (e até mesmo social) fortíssima contra essa transformação – para que os padrões básicos da escola se alterem, faz-se necessária uma frente institucional legal que exija essa mutação e, como já dito, esse processo tem a lerdeza kafkiana da burocracia. Todavia, há uma revolução que pode se dar independente da renovação do modelo institucional da escola, e essa corresponde à micropolítica da sala de aula.
A relação professor-aluno é a base do processo de ensino aprendizagem e é nela que as transformações mais significativas podem ocorrer. Esperar uma mudança a nível institucional que conduza a transformação no microcosmos da sala de aula é no mínimo uma utopia preguiçosa, para não dizer ignorante. O movimento deve ser o oposto: a micropolítica do cotidiano escolar é que deve pressionar as mudanças no sistema, uma mudança de mentalidade e de ação que se dá em zonas íntimas, pessoais e afetivas, se ampliando até o público – pois esse é reflexo do privado. Naturalmente que um não pode se dar isolado do outro – as mudanças institucionais que vêm ocorrendo em relação à Educação são certamente um estímulo para as mudanças dentro da escola, a partir da prática de ensino. É essencial que haja essa tensão entre a micropolítica escolar e a exigência de medidas institucionais, de modo que um conquista espaço para que o outro se aprimore. E refletindo sobre a política nacional, essa direção de pensamento é o contrário exato da forma como o povo brasileiro tende a cobrar medidas de seus representantes governamentais – o erro é sempre daqueles, são sempre "os políticos ladrões" e nunca o povo em si, na sua micropolítica cotidiana, que sustenta práticas desonestas, corruptas.
No entanto, para além de toda preguiça, falta de motivação, acomodação e descrença que possa existir entre nossos professores, inúmeros docentes estão interessados em mudar o perfil do ensino no Brasil, e o fazem a contra fluxo, porém muitos não sabem como. Eles conhecem o discurso teórico disseminado por Paulo Freire, mas desconhecem um modo de colocá-lo em prática. E ainda que possa parecer simples a aplicação de uma perspectiva educacional que dá voz ao aluno e pensa a educação como troca, a verdade é que não é fácil romper com o costume de uma hierarquia assolada em conhecimentos enraizados. Por acreditar que, de fato, existem professores que gostariam de propor práticas diversificadas em sala de aula mas não têm as instruções ou ferramentas necessárias, ou até mesmo como alternativa para aqueles que já propõem novas dinâmicas pedagógicas, sugiro um projeto que, basicamente, pensa a aproximação dos conteúdos escolares e instiga a criatividade e a linguagem intermidiática através da produção de vídeos.



























CONCEITO





O projeto CineMundo visa reinventar as formas de aproximação do aluno aos conteúdos escolares e, simultaneamente, instigar a criatividade e as habilidades tecnológicas através da criação fílmica. Tendo como dispositivo inicial a produção de um vídeo, inúmeros desdobramentos podem ser pensados segundo a disciplina, as matérias abordadas, o ponto de reflexão objetivado pela proposta pedagógica. A máxima do projeto é aproximar, de forma simples, alunos e professores dos artefatos tecnológicos, de modo que seu uso possa ser definitivamente integrado à dinâmica escolar sem que seja necessário o acompanhamento de um profissional da área para efetivação do mesmo. E através dessa integração, reorientar as práticas didáticas para o pensamento e o mundo contemporâneos. Pensando a aplicação concreta em todas as escolas que se interessem pelo projeto, o CineMundo poderia se dar, em sua forma mais elaborada, a partir da requisição de uma câmera semi-profissional num valor abaixo de mil reais, um tripé no valor de até duzentos reais, e um computador (que, espera-se, a escola já possuirá). Nas escolas técnicas de ensino médio, por exemplo, esses materiais certamente já existem, e seria necessário apenas viabilizar o acesso. Os programas sugeridos podem ser baixados gratuitamente e o conhecimento técnico para operação dos equipamentos e programas, quando não compreendidos através de tutoriais da internet, poderiam ser ensinados num curso de um único dia. A adesão ao PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola- oferecido pelo Ministério da Educação, pode, por exemplo, ser uma possibilidade para a aquisição desses materiais. Há sempre alguma burocracia, mas é inteiramente possível. No entanto, também é interessante ressaltar que o CineMundo considera formas ainda mais simples de realização, que independem da câmera semi-profissional, e poderiam ser facilmente realizadas a partir de celulares e aplicativos dos mesmos. É importante marcar que, a cada nova geração de professores que se forma, a tendência é que já haja um conhecimento básico dos artefatos tecnológicos. Se os docentes atualmente com 10 a 30 anos de carreira têm dificuldades em compreender essas tecnologias, esse não será o problema dos recém-formados ou com poucos anos de experiência. É preciso que a escola se estruture para abarcar as perspectivas inovadoras que esses jovens professores podem sugerir e, às vezes, nem é preciso muito para isso.


OBJETIVOS




1) Os objetivos gerais do projeto CineMundo são aplicáveis a todas as disciplinas:

- Aproximar os conteúdos escolares pela via cinematográfica;
- Desenvolver habilidades ligadas aos artefatos tecnológicos como operação básica de câmera, capacidade de encontrar e baixar programas relativos à produção fílmica, compreender o uso de programas básicos de edição;
- Compreender e se apropriar dos procedimentos de produção de um vídeo como, concepção do roteiro, construção das cenas, função dos participantes no processo de criação;
- Estimular a criatividade e a criação coletiva;
- Aproximar as práticas didáticas à realidade contemporânea;
- Subverter o ensino tradicional exaustivo com práticas instigantes e dinâmicas.



2) Os objetivos específicos deverão ser pensados de acordo com cada projeto, cada disciplina, podendo, naturalmente, afirmar seu caráter inter e multidisciplinar. Pensando a literatura, as artes e a produção textual, pode-se considerar os seguintes objetivos:

- Desenvolver a habilidades para a construção de narrativas de inúmeros gêneros;
- Aproximar conceitos relativos aos movimentos artísticos através da estética cinematográfica;
- Desenvolver técnicas de desenho relacionadas ao cinema;
- Reinventar práticas de leitura através da invenção de vídeos;
- Estimular a leitura criativa;
- Compreender estruturas textuais pela sua aplicabilidade na criação fílmica;
- Aproximar estruturas tradicionais de leitura - baseadas no enredo, na descrição de personagens, no reconhecimento do problema, clímax e desfecho – através de práticas criativas.



APLICABILIDADE




A aplicação do CineMundo como prática de aprendizagem pode se dar de inúmeras formas, e isso só poderá ser avaliado pelo professor e pelos próprios alunos. O tempo destinado à concepção e realização do vídeo, assim como a estrutura do mesmo, dependerá de qual o tipo de projeto que a turma e o docente gostariam de desenvolver. Como o objetivo desse trabalho não é simplesmente divagar sobre as mudanças nas perspectivas educacionais durante as últimas décadas, mas sim sugerir formas de ação de fato aplicáveis, essa seção se dedicará a explicitar possíveis projetos a serem desenvolvidos em turmas da Educação Básica, no direcionamento de Literatura/ Produção Textual/ Português.



1) Projeto Semestral – Leitura Criativa:

O projeto pode pensar a produção de um vídeo a partir da leitura de um livro, que pode ser uma escolha do professor segundo sugestões dos alunos. O mesmo poderá ser concebido e realizado por toda a turma ou, caso essa seja muito grande, por dois grandes grupos. A atividade seria desenvolvida fora da sala de aula, como um trabalho extraclasse, mas teria algumas aulas pra orientação e planejamento dos grupos durante o semestre. Os educandos deverão criar uma versão filmada do livro como compreensão dos processos de tradução midiática, bastante comum na atualidade. Algumas cenas da obra poderão ser escolhidas para serem recriadas pela via cinematográfica, ou um entendimento do conjunto da obra poderá ser repensado na construção de novas cenas. Os alunos também podem escolher entre a produção de um vídeo "fiel à obra", ou seja, que visa retratá-la da forma mais similar possível, ou podem optar por produzir uma paródia ou uma reinvenção. Alguns livros, também podem ser pensados na lógica de uma épica moderna, o que pode levara uma outra lógica para o cinema. Durante o processo, esses conceitos deverão ser introduzidos pelo professor e discutidos com a turma enquanto parte do procedimento de criação, e não deslocados como uma matéria a ser decorada. O professor deverá orientar a organização do trabalho, introduzindo as etapas de criação de um filme como argumento do mesmo, roteiro, divisão de cenas, planejamento de filmagem, função que cada aluno exercerá na produção. O filme poderá ser gravado com os celulares dos alunos ou com câmeras simples. Caso a escola tenha um equipamento de filmagem mais elaborado o mesmo poderá ser solicitado. A edição do filme também deverá ser realizada pelos alunos e, para isso, talvez seja necessária uma introdução ao programa Movie Maker em laboratório de informática na escola. No entanto, caso a escola não possua um laboratório, a turma poderá ser questionada quanto à possibilidade de se utilizar o computador dos próprios alunos, já que, provavelmente, muitos deles possuirão o equipamento em casa. O professor deverá orientar a obtenção do programa (indicando um link para baixá-lo gratuitamente) assim como tutoriais na internet que auxiliem na compreensão das funções do software.

As aulas presenciais sobre o projeto deverão, portanto, tratar dos conceitos relativos:
- à produção de um filme;
- à narrativa e à tradução entre mídias;
- às formas de apropriação de um texto e aos processos de intertextualização;
- aos gêneros narrativos (conto, romance, novela, paródia) em direção à produção fílmica;
- aos procedimentos de edição e aos programas apropriados.

O projeto seria uma prática paralela às outras atividades da disciplina, mas se conectaria com essas através do resgate de conceitos. A turma seria incentivada à criação coletiva e à pesquisa, já que precisariam aprender sobre a linguagem cinematográfica e sua produção, além das soluções relativas à edição. As concepções sobre a narrativa e a intertextualidade seriam aprendidas enquanto prática criativa.

Indicação: Esse projeto poderia ser aplicado do 8º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. O mais importante para sua implementação é a escolha de um livro adequada à idade e à turma.



2) Projeto trimensal – Estilos literários/artísticos:

O projeto pode pensar um estudo sobre os diferentes estilos literários a partir da criação de um documentário inventivo. Com o intuito de esmiuçar os movimentos literários e, simultaneamente, estimular o processo criativo em cima das diferentes estéticas desses movimentos, pode-se propor uma divisão em grupos para cada qual um estilo será sorteado (isso pode ser operado tanto a partir de uma perspectiva mais ampla, trabalhando com diferentes épocas – Barroco, Arcadismo, Romantismo, Realismo, Parnasianismo, Modernismo – quanto dentro de um mesmo movimento, como é o caso do modernismo – Expressionismo, Cubismo, Futurismo, Surrealismo). Durante as aulas presenciais, o professor proporá a leitura de diversos textos de diferentes autores e estilos relacionando as propostas estéticas de cada um. Os alunos, em grupos, deverão continuar a pesquisa em casa conforme o estilo sorteado, e deverão criar um documentário que pode ser ou sobre um dos autores do movimento, ou sobre o movimento em sua totalidade. A peculiaridade do documentário é que o mesmo deverá ser composto na linguagem própria do movimento, como se os alunos fossem um dos autores – uma espécie de metalinguagem em que o autor fala sobre o estilo literário com suas próprias estruturas estéticas. Isso deve ficar bem explicado, e para tanto, é interessante que o professor faça alguns exercícios de experimentação em sala de aula, nos quais os alunos deverão criar poemas ou textos a partir do procedimento estético de cada movimento. O professor poderia dedicar três ou quatro aulas para tratar, de forma articulada, de todos os estilos literários a serem trabalhados. Conforme os movimentos são apresentados, os alunos deverão, por exemplo, ao final de cada aula, iniciar a confecção dos textos de acordo com os princípios do movimento indicado. Ao final do processo, os estilos poderão ser sorteados e o professor deverá orientar a adaptação da estética escolhida a algumas características do filme documental. É interessante que nesse momento o professor passe alguns documentários, ou pelos menos trechos, que tenham perfis bem diferentes – do documentário mais enquadrado, bastante informativo, até aqueles de dimensão mais afetiva. Algumas perguntas motivadoras seriam: o que contém um filme documentário? Quais as informações essenciais sobre esse estilo/autor? Como incluir essas informações dentro do formato da própria linguagem do movimento? É interessante que o documentário não se feche em informações objetivas, mas que tenha, de fato, uma proposta estética inventiva.

Algumas sugestões de documentários a serem apresentados:
- Santiago, de João Moreira Salles (Brasil 2007)
- Vinícios, de Miguel Faria Jr (Brasil 2005)
- Tropicália, de Marcelo Machado (Brasil 2012)
- O poeta de sete faces, de Paulo Thiago (Brasil 2002)

As aulas presenciais sobre o projeto abordariam:
- Os diversos estilos literários, sua época, linguagem, principais autores/artistas, princípios ideológicos;
- As diversas possibilidades estilísticas do filme documental;
- A apropriação de estéticas literárias para novas criações;
O projeto seria aplicado em total conexão com o estudo dos estilos literários desenvolvidos em sala de aula e seria relacionado com a produção textual a partir da perspectiva estilística.

Indicação: Esse projeto poderia ser aplicado a alunos de 9º ano do Ensino Fundamental ao 3ºano do Ensino Médio

3) Projeto mensal - Variação linguística regional e social

O projeto pode pensar a criação de um telejornal que se aproprie das variações linguísticas regionais e sociais. O professor deverá fazer uma aula introdutória sobre a diversidade vocabular e de sotaques existentes no Brasil, sempre valorizando essa pluralidade. Um trecho do Jornal Nacional da Globo pode ser apresentado como a tentativa de se obter um sotaque neutro na mídia de alcance nacional e entrevistas com pessoas de diferentes regiões do país podem salientar as diferentes formas de expressão linguística espalhadas na geografia brasileira. O mesmo deverá ser feito quanto à prática oral de diferentes perfis sociais. Pode-se apresentar uma entrevista com moradores de comunidade em oposição a fala de pesquisadores, advogados, médicos. A turma poderá ser dividida em duplas e diferentes variações linguísticas poderão ser sorteadas entre elas (indicações como: Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Comunidade periférica, Advogado, Intelectual). Cada dupla ficará responsável por pesquisar a variação recebida, investigando os sotaques, gírias e expressões. Em seguida, em oposição à tentativa de se obter um sotaque neutro, os alunos deverão criar um curto jornal televisivo, apresentando uma ou duas notícias, com uma fala carregada pela variação selecionada. A estrutura do jornal deverá ser mantida, mas sem perder a expressividade da língua. Além da aula introdutória onde serão apresentados vídeos com diferentes "falares" nacionais, o professor deve reservar uma aula para produção na notícia a ser apresentada, na qual o mesmo poderá auxiliar a possível introdução de termos expressivos, se for necessário. Os vídeos poderão ser filmados com o celular dos próprios alunos e, no caso de alguma dupla não possuir nenhum aparelho, o professor deverá organizar um dia para a gravação com um equipamento disponibilizado por ele ou pela escola. O importante desse trabalho, além da investigação das variações linguísticas nacionais, é a valorização dessas enquanto componentes essenciais da Língua Portuguesa. Também a perspectiva do gênero "notícia" deverá ser trabalhada na aula de produção textual da mesma. Esse projeto poderia ser realizado em duas semanas se não surgirem grande dúvidas dos alunos e se os mesmos tiverem duas aulas semanais. O trabalho deverá ser encerrado com uma discussão sobre as variações linguísticas, uma reflexão sobre os espaços sociais em que é necessário o uso da norma culta e os espaços em que essa é dispensável. O professor poderá trazer exemplos situacionais como entrevista de emprego, conversa entre amigos, ambiente de trabalho e familiar, sala de aula, entre outros. Nesse momento, pode ser interessante criar pequenas dinâmicas onde os alunos se colocam nas situações indicadas e devem adequar sua fala à situação.

As aulas presenciais sobre o projeto abordariam:
- As diferentes variações linguísticas regionais e sociais;
- O suposto sotaque neutro da mídia televisiva de alcance nacional;
- As características do gênero notícia (por exemplo, em oposição à reportagem) no veículo televisivo;
- A inserção de formas expressivas específicas no caráter fechado do telejornal;
- A valorização das variações orais como componentes essenciais da Língua Portuguesa.

Indicação: projeto apropriado a alunos de 6º ano do Ensino Fundamental ao 1º ano do Ensino Médio.


4) Projeto bimensal - contação de história

Esse projeto gira entorno do entendimento e diferenciação entre os gêneros fábula, conto de fadas, mito e lenda. O professor deverá apresentar incialmente a proposta de se fazer alguns vídeos de contação de história em cima desses gêneros literários. Em seguida, para que se possa dar continuidade a proposta, os alunos poderão ter como tarefa de casa a realização de uma breve pesquisa quanto a diferenciação desses gêneros. Em sala de aula o professor deverá abordar com mais detalhes, e fazendo uso de comparações e exemplos, quais as características de cada gênero, suas similaridades e distinções, a finalidade desses tipos de texto, as situações-problema apresentadas, auxiliando também o reconhecimento da moral da história. A sala deverá ser dividia em quatro grupos e a cada qual destinado um gênero. O projeto pode ser associado à disciplina de artes para ajudar a criar objetos e elementos que auxiliem na contação, e também a uma oficina musical ou aula de música, se a escola oferecer. O professor pode sugerir a adaptação de textos conhecidos para o cotidiano dos alunos, de modo que se mantenha a estrutura da história mas a partir de elementos e personagens distintos. Pode-se também propor que os grupos criem suas próprias histórias a partir das características dos gêneros, mas para que isso seja bem sucedido é preciso grande interesse da turma no projeto – o educador precisará estar atento. A outra possibilidade é contar histórias já inventadas, tal como forma escritas, mas desse modo podendo investir mais no caráter cênico da contação. Durante o processo, pode-se fazer uma oficina de sucata para ajudar a criar os elementos que auxiliaram a contação de história. Se a escola disponibilizar ou os alunos tiverem em casa, o uso de fantoches, recortes de revista e tecidos também poderá contribuir para a composição cênica do vídeo-história. Nesse sentido, é interessante mostrar alguns vídeos de contação para que os alunos se inspirem. O professor deverá participar ativamente dessa atividade motivando e organizando os alunos e os procedimentos de criação, mas sem tolir a liberdade inventiva dos mesmos. O educador também deverá indagar os alunos durante o processo quanto a fidelidade da criação desses em relação às características dos gêneros, para que o entendimento não se perca na euforia da produção dos objetos e da história. Esse projeto deverá ser feito quase inteiramente em sala de aula, junto ao professor, que deverá operar a câmera de gravação. Em acordo com os educadores de turmas mais novas da escola, do jardim ao 3º ano do Ensino Fundamental, os professores poderão propor a contação das histórias produzidas para esses alunos.

As aulas presenciais sobre o projeto abordariam:
- o que é a contação de história e suas diferentes origens;
- os gêneros lenda, mito, fábula e conto de fadas com suas similaridades e características específicas, além da finalidade histórica de cada um;
- a produção de elementos que auxiliem na contação das histórias;
- o uso de sons e instrumentos que facilitam a compreensão das narrativas;
- a adaptação de histórias tradicionais ao cotidiano dos alunos;
- a percepção desses gêneros narrativos como um modo de reflexão sobre a vida

Indicação: esse projeto é indicado para alunos do 4º ao 7º ano do ensino fundamental, variando apenas a densidade das narrativas apresentadas e a proposta criativa.


5) Projeto quinzenal – Programa de entrevista

O projeto propõe a criação de curtos programas de entrevista com os alunos. O professor deve apresentar a proposta de criação programa e introduzir as características de uma entrevista. Deve-se realizar a leitura de entrevistas escritas assim como exibir vídeos de programas de TV como "Programa do Jô", "Marília Gabriela entrevista", entre outros. É importante que se selecione temas e personalidades que instiguem os alunos. Durante o processo de reconhecimento das características do gênero entrevista, o educador deverá apontar as diferenças entre uma entrevista escrita e uma entrevista falada, alertando quanto aos "cacos" e "gagueiras" da fala espontânea, que não devem ser fielmente representados em sua transcrição. A turma deverá se dividida em duplas e alguns temas deverão ser eleitos para serem trabalhados nas entrevistas. Os alunos deverão pesquisar o tema por eles escolhido (ou sorteado) como tarefa de casa. Em sala de aula, as duplas iniciarão a produção escrita de um texto no gênero entrevista, considerando que o entrevistado é um "especialista" no tema, e o outro o apresentador de um programa. O professor poderá auxiliar a criação da apresentação do entrevistado, que é pertinente tanto ao gênero impresso quanto ao televisivo, assim como na confecção de perguntas que possam deixar o convidado desconfortável, ou que gere algum tipo de polêmica. Após a confecção do texto escrito e revisto pelo professor, os alunos deverão filmar a entrevista como se estivessem em um programa, mas somando os "cacos" da fala, o tempo de pensamento para responder, etc. A gravação poderá ser feita com os celulares dos alunos. Caso alguma dupla não possua celular com o recurso de câmera, o educador deverá providenciar um equipamento da escola para realização da atividade. É interessante aproveitar essa atividade para discutir temas polêmicos em voga e ampliar o trabalho para uma visão crítica.

As aulas presenciais sobre o projeto abordariam:
- As características da entrevista impressa e falada;
- Os jogos de palavras que ajudam a abordar temas polêmicos;
- A apresentação de exemplos televisivos e gráficos;
- A confecção do texto escrito;
- A discussão ampla dos temas abordados.

Indicação: Esse projeto é indicado a alunos de 7º a 9º ano do Ensino Fundamental.



6) Projeto bimensal – Animação de história em quadrinhos e tirinha

O projeto supõe o entendimento das especificidades dos gêneros história em quadrinhos e tirinha. O professor deverá pedir que os alunos tragam revistas/livros de história em quadrinhos e tirinhas de seu interesse, e deverá também trazer algumas sugestões. Duas ou três aulas deverão ser dedicadas à leitura conjunta do material escolhido, análise dos tipos de balões e suas implicações para o gênero, as letras empregadas assim como a pontuação e os sentidos produzidos por essa. Deverá se pensar também sobre a relação entre texto e imagem, a produção do efeito cômico, ou outros efeitos de sentido a partir das figuras de linguagem, além do reconhecimento da estrutura do diálogo dentro desses gêneros. Também se poderá esclarecer alguns conceitos relativos aos planos no enquadramento dos quadrinhos, como plano geral, plano detalhe, close-up. Em seguida, o professor poderá propor a criação de um vídeo de animação em stopmotion de cartolina e recorte. Uma aula deverá ser dedicada para pesquisa em laboratório de informática, ou através de um computador com projetor em sala de aula, na qual os alunos investigarão técnicas de animação e poderão tomar notas e entender os procedimentos. O educador poderá trazer algum exemplo sugestivo para explicar a aplicação das técnicas. Em seguida, será iniciado a processo de criação coletiva da narrativa a ser transformada em história em quadrinhos. Os alunos poderão sugerir temas coletivamente e votar naquele que será desenvolvido pelo texto. Decidido o mesmo, deverá se iniciar a elaboração coletiva de um roteiro base, que um aluno ou o educador poderá anotar no quadro enquanto este é pensado. Definida a história, a sala poderá se dividir em grupos para que cada um se encarregue da criação de uma parte dos desenhos e recortes a serem usados na animação. Duas a três aulas deverão ser destinadas à produção do material, que deverá ser criado de forma adaptável à execução do stop motion. O professor deverá orientar para que cada aluno realize uma parte do trabalho e não se tenha materiais repetidos. Para o processo de gravação/fotografia, o professor deverá providenciar câmera e tripé, e os alunos deverão participar movimentando os bonecos de cartolina/recorte e os balões, além de ajudarem a clicar. A ideia é criar uma história em quadrinhos animada, que tenha a mesma impressão de uma revista, mas no qual os quadros tenham alguns movimentos. Fotografada toda a história, o educador poderá realizar uma edição em sala de aula com projetor, e sempre requisitando a ajuda dos alunos, durante a qual ele explicará alguns recursos básicos do Movie Maker para produção do vídeo. O produto final pode ser exibido em eventos da escola.

As aulas presenciais sobre o projeto abordariam:
- As características e especificidades dos gêneros tirinha e história em quadrinhos
- As figuras de linguagem e efeitos de sentido contidos nos textos abordados
- Os tipos de planos cinematográficos aplicados também na concepção desses gêneros textuais
- As técnicas básicas de animação
- A criação de narrativas coletivas
- A produção manual de objetos, personagens e cenários com cartolina, recorte, canetas e outros materiais artísticos
- A execução de fotografias para o gênero stop motion
- Edição básica de stopmotion no Movie Maker.

Indicação: Esse projeto é indicado a alunos de 6º a 8º ano do ensino fundamental
7) Projeto quinzenal – Receita, manual e tutorial

O projeto supõe o estudo dos gêneros de instrução, como receitas, manuais e regras de jogo, através da criação de um tutorial para youtube. O educador deverá pedir que os alunos tragam receitas, bulas de remédio, e orientações de jogos ou manuais de equipamentos. A função instrutiva desses textos deverá ser esclarecida, analisando as estruturas frasais, a ausência de opinião e subjetividades, o tempo verbal adequado. É interessante que o professor traga alguns textos dos gêneros com palavras pouco conhecidas, para que se instrua o uso dos dicionários. Em seguida, com projetor em sala de aula, os alunos podem sugerir temas/atividades sobre as quais buscar tutoriais na internet. O educador deverá traçar um paralelo entre esses gêneros textuais e os tutoriais, apontando as semelhanças e diferenças entre os manuais de instrução impressos e a orientação audiovisual. Os alunos deverão reparar a distinção entre os suportes, as muletas que auxiliam a compreensão da instrução em cada um dos veículos como, por exemplo, os desenhos de peças contidos num manual de equipamento, as fotografias de pratos contidos na receita, a apresentação filmada do procedimento de execução nos tutoriais de youtube. O professor deverá propor que o aluno produza o seu próprio tutorial, com a câmera do celular ou do computador, disponibilizando algum caso o educando não possua. Ele deverá criar um tutorial sobre algum tema de seu conhecimento, utilizando todos os recursos que possam auxiliar na compreensão do mesmo. Pode-se criar um também um tutorial criativo, sobre uma atividade, produto ou tema inexistentes. O importante é que, apenas com o vídeo, outras pessoas possam compreender inteiramente a proposta. Eles deverão estar afinados com as formas de instrução estudadas em sala de aula. Os vídeos deverão ser disponibilizado em um canal do youtube criado pelo professor (do qual os alunos terão a senha) e uma aula deverá ser dedicada a assistir e comentar os produtos finais. É interessante que o professor faça uma reflexão final sobre a facilidade de se obter informação sobre qualquer assunto através de tutorias e instruções contidas na internet. Essa facilidade deve ser sugerida como uma muleta para que os alunos pesquisem inúmeros assuntos, atividades e programas na rede.

As aulas presenciais sobre o projeto abordariam:
- As características e especificidades dos gêneros instrutivos como manual, receita, regra de jogo e etc.
- A relação entre os gêneros instrutivos e os tutoriais de youtube
- O upload de vídeos no youtube

Indicação: Esse projeto é indicado a alunos de 7º a 9º ano do ensino fundamental
8) Projeto bimensal – Cordel e canção em vídeoclip

O projeto propõe o estudo dos gêneros cordel e canção a partir da criação de um video clip. O professor deverá trazer livretos de cordel e promover a leitura conjunta com os alunos. Em seguida, deve-se apontar as temáticas tratadas pela Literatura de Cordel, sua trajetória histórica, seus princípios estéticos, as regiões mais incidentes da mesma no país, sua função social. É interessante reparar nas peculiaridades do vocabulário como indicação de regionalismos, assim como as estruturas sintáticas que favorecem a rima e as marcas de oralidade. Deve-se analisar as diferenças temáticas e estruturais entre o cordel e a canção, além de suas posições distintas no contexto histórico social. O professor poderá exibir trechos do documentário "Nordeste: Cordel, repente e canção", de Luiz Keller e Tânia Quaresma, para que os alunos tenham uma visualidade da performance dos cordelistas. Alguns vídeos criativos do youtube narrados pela estrutura do cordel também podem ser apresentados. Em seguida, o educador deverá dividir a sala em grupo de quatro alunos e propor que cada um crie o seu próprio vídeo clip baseado na estrutura do cordel. Eles poderão utilizar a estrutura de um cordel já existente mas alterando o texto para um assunto contemporâneo a eles – pode-se narrar uma notícia de jornal, uma fofoca, um assunto da escola ou da mídia, temas da adolescência. A alteração temática, no entanto, não poderá perder o objetivo do cordel de contar uma história popular ou cotidiana. O professor deverá dedicar duas ou três aulas à confecção do texto. É interessante que um dicionário online de rimas esteja disponível (ou em um computador na sala, ou em laboratório de informática) para que os alunos consigam atingir os objetivos estéticos e ainda possam se dedicar à inventividade da narrativa. Algumas bases musicais instrumentais deverão ser indicadas aos alunos para que unam à história criada – é possível encontrá-las na internet. Outra aula deverá ser dedicada à concepção do videoclipe, se ele sublinhará a história contada, ou se apresentará uma banda cantando – nesse momento é interessante exibir alguns videoclipes básicos, mas com diferentes linguagens, para que os alunos se inspirem. Como tarefa de casa, mas também com horários concedidos em sala de aula, os alunos poderão gravar o clipe com os celulares e/ou câmera fornecida pelo professor. É importante alertá-los quanto aos figurinos, cenários e enquadramentos. Outros dois dias de aula deverão ser agendados em laboratório de informática, no qual o professor instruirá a edição do vídeo com o Movie Maker ou outro programa escolhido. Eles deverão unir as filmagens, inserir a faixa de áudio instrumental e transformar o projeto em vídeo. O objetivo é mixar a estrutura poética do cordel com temas contemporâneos aos aluno, na estética visual do videoclipe, já conhecida por eles. Pode-se propor também à educadora da disciplina de artes uma parceria, através da qual os cordéis criados pelos alunos podem ser transformados em livretos de fato, com a xilogravura tradicional das capas de cordel e a produção manual.
As aulas presenciais sobre o projeto abordariam:
- As características e especificidades dos gêneros cordel e canção.
- Marcas orais e regionalismos
- Caráter social dos gêneros e perspectiva histórica
- Vídeos baseados no cordel
- O videoclipe contemporâneo
- A adaptação de estilo e gênero literário
- A utilização do Movie Maker para edição
- A produção de livretos de cordel

Indicação: Esse projeto é indicado a alunos de 8º ao 9º ano do ensino fundamental.


9) Projeto semestral – filme para narrativa de aventura, suspense e terror

O projeto propõe a criação de um filme pautado no estudo das narrativas de aventura, suspense e terror. O professor deverá apresentar alguns contos ou até mesmo pequenos romances desse distintos gêneros narrativos. Deve-se propor a leitura de alguns em sala de aula e outros como tarefa de casa, reconhecendo elementos básicos da narrativa como tempo, espaço, enredo, personagens e narrador. Deve-se analisar os elementos que auxiliam na construção do enredo, como introdução, tema, clímax e desfecho, além de apontar os recursos utilizados para gerar suspense. Em seguida deve-se anunciar o trabalho a ser desenvolvido pela turma – a criação de um filme dentro de um desses gêneros narrativos – para que a mesma se sinta instigada a trabalhar e produzir os textos. A cada duas semanas os alunos deverão se dedicar a confecção de um texto de um dos gêneros narrativos. A tarefa pode ser iniciada em sala de aula, terminada em casa, corrigida pelo professor e melhorada pelo aluno em seguida. A cada bloco de textos, os estudantes deverão ser lidos pelo autor para toda a sala – a exibição pública tem como objetivo estimulá-los a escrever com cuidado e esmero. Ao final das leituras, a turma deverá escolher os três melhores textos, e assim sucessivamente para cada novo gênero narrativo. Ao final do segundo mês os alunos escolherão algum dos nove textos selecionados para produzir um filme coletivamente. Após a escolha do material, o educador pode exibir alguns filmes e séries de adaptações narrativas – a série "Goosebumps", por exemplo, é uma série jovem de terror que tem um caráter simplório porém intrigante. Filmes de aventura como "Goonies" e "História sem fim" também pode inspirar os alunos. Escolhido o texto a ser adaptado, o professor deverá orientar a confecção do roteiro em seus princípios básicos, pensando a viabilidade de execução das cenas. Essa atividade deverá ser realizada em sala de aula coletivamente. Definido como as cenas serão filmadas, os alunos deverão se dividir em funções como atuação, câmera, figurino e também estipular os lugares onde será feita a filmagem. O professor deverá providenciar o equipamento adequado, disponibilizar horários de aula e extraclasse para orientá-los na gravação. A filmagem se dará paralelamente a outras atividades da disciplina. Finalizado o processo de gravação, deve-se iniciar a edição, a qual deverá ser executada em laboratório de informática com o auxílio do professor e de tutoriais de youtube. A disciplina de artes também pode ser integrada na concepção de cenários, figurinos e maquiagem.

As aulas presenciais sobre o projeto abordariam:
- As características e especificidades das narrativas de aventura, suspense e terror
- A leitura coletiva de narrativas
- A confecç o e correção de textos narrativos
- A adaptação cinematográfica de textos narrativos
- O processo de produção de um filme e execução de filmagens
- Edição no Movie Maker

Indicação: Esse projeto é indicado a alunos do 7º ano do Ensino fundamental ao 1º ano do Ensino Médio.



















CONCLUSÃO





A necessidade de se repensar (e recriar) as práticas educativas se torna mais explícita a cada geração. Os novos paradigmas cognitivos instaurados pela tecnologia de rede, a essência rizomática da internet, que se torna via de conhecimento, entretenimento e comunicação, apontam repetidamente para a articulação movente e dinâmica das relações de saberes no mundo contemporâneo. É ainda possível sustentar a imagem estagnada do professor enquanto essa espécie de volume enciclopédico? É possível continuar a basear o ensino nesse quiz de memória isolada na "decoreba"? Todas as informações enciclopédicas estão agora a um clique de distância, por que então exigir que elas sejam introjetadas nas mentes desses mini-sujeitos pelo período de um ano para serem em breve esquecidas? Muito mais importante do que decorar essas informações facilmente acessadas na web é aprender como articular os saberes na produção de novos saberes, na composição criativa, na releitura dos conhecimentos instituídos. O cinema e as técnicas cinematográficas, me parece, se localizam num ponto essencial de articulação do múltiplo e do diverso, se armam como inter-trans-poli-disciplinaridade. Ainda que a proposta do CineMundo não esteja diretamente ligado ao cinema como esse conceito conciso de Hollywood, o vídeo, por um lado, como mídia de base do armazenamento de memória, e pelo outro, como uma possibilidade inventiva múltipla pode ser tomado como uma ferramenta interessante para se romper as fronteiras tradicionais das disciplinas, e ainda, dentro de uma mesma disciplina, como uma ferramenta de ligação entre temas, matérias, assuntos comumente tratados em absoluta segregação.
É importante que os educadores interessados em disseminar ideologias alternativas para à educação se preocupem também na construção de práticas alternativas efetivas ou, pelo menos, criativas. Se o pensamento entorno do processo de ensino-aprendizagem continuar a limitar-se a abstrações teóricas, a insuficiência do sistema educacional, a distância entre professor e aluno e a separação entre estudo e realidade continuarão a agravar os abismos sociais e o despreparo dos estudantes frente às relações humanas, políticas e mercadológicas. Sem diminuir a importância da atividade teórica na reconfiguração das Educação brasileira, mas é preciso colocar a mão na massa.




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