Clube de Golfe da Ilha Terceira – fator de desenvolvimento local

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28 27 dezembro Maio 2015 2016

Opinião JORNAL DA PRAIA

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Clube de Golfe da Ilha Terceira – fator de desenvolvimento local - Francisco Miguel Nogueira*

Há pouco mais de 61 anos, em dezembro de 1954, nascia o Clube de Golfe da Ilha Terceira, um dos ex-libris da cultura desportiva terceirense. Foi ainda um espaço de convivência luso-americana por muitas décadas, sendo até hoje um polo de dinamização social. O Clube de Golfe da Ilha Terceira, criado como Terceira Island Golf Club, foi fundado a 29 de dezembro de 1954, determinado entre o então Presidente da Junta Geral do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo, Dr. José Leal Armas, o Comandante da Base Aérea nº 4, Coronel Fernando Duarte Silva, e o Comandante das Forças dos EUA estacionadas nas Lajes, Coronel H. L. Smith, depois de várias conversas e estudos preparatórios sobre o local e o início das obras do campo de golfe. As máquinas da Base das Lajes chegaram à zona do baldio chamado de “Queimadas” e abriram os primeiros buracos. Em pouco tempo já existiam 9 buracos. A 14 de agosto de 1958, foi estabelecido um novo acordo para a criação de mais 9 buracos, dando origem aos 18 buracos finais, embora estes tenham sido alterados ao longo do tempo, sobretudo com a plantação de árvores para criar um espaço mais interessante à prática desportiva, estando a criptoméria quase sempre presente na divisão dos campos. O clube começou com uma sala, um quarto de banho misto e um bar pequeno. Naqueles anos 60, do século XX, as americanas, as esposas dos militares estacionados nas Lajes, também adeptas do Golfe, iam jogar, sobretudo à 3ª feira, dia em que o campo era fechado só para elas, era o ladies day. Desde os primeiros tempos, muitos jovens das freguesias limítrofes iam para o Campo de Golfe, procurando assim trabalhar e ganhar dinheiro para ajudar a sustentar a família. Os caddies, muitos deles com 10 ou pouco mais, não sabiam falar inglês, mas como vinham 2 autocarros com americanos, numa média de 50 por cada autocarro, uns às 9h e outro às 14h, e eram precisos caddies, estes jovens começaram a trabalhar. Com a forte convivência social no Golfe, um civil norte-americano criou uma escola bilingue, onde os caddies aprendiam inglês e português. As aulas em inglês eram dadas pelo Professor Carlos Tristão e as em Português, visto que muitos só tinham a 4ª classe, lecionadas pelo Professor Lucindo Ormonde. Em 1965, chegaram a existir mais de 100 caddies no Clube. Estes iam vendo como os jogadores americanos faziam e tentavam copiar as suas técnicas no Golfe. Nos anos 50, treinavam no baldio. Mais tarde, podiam jogar 1º à sexta-feira e depois à segunda. Quando era à sexta, só podiam jogar de manhã, mas tentavam jogar o máximo até ao meio-dia. A modalidade começava a interessá-los e a entranhar-se pelo seu sangue terceirense. Naqueles anos, havia 3 classes de caddies, os aprendizes, designados pela letra B, a classe intermédia, os A e os mais velhos, com bom inglês, os AA. O valor estipulado a ganhar por um aprendiz por 18 buracos era $0.45 cêntimos, um intermédio ganhava $0.65 e um AA $0.75 cêntimos. Na prática, como gorjeta, os aprendizes ganhavam quase sempre $0.50, os A $0.75 e os AA $1.25 ou $1. 50. Os jogadores atiravam a moeda para os seus ajudantes. Os caddies até diziam que era a roda de jipe. Criou-se uma verdadeira escola no Clube de Golfe, que resultou que esses caddies passassem a ter o domínio do inglês e, por isso, acabassem por ter diversas oportunidades de emprego na Base das Lajes, onde, ocuparam posições de destaque. Portanto, quando os caddies atingiam os 18 anos, eram levados para a Base para trabalhar. Pode-se mesmo dizer que durante muitos anos, o Clube foi mesmo a única instituição que incentivava o relacionamento entre a população local e a comunidade americana residente na Ilha. pub

Nos seus primeiros anos eram poucos os portugueses que praticavam golfe, depois do 25 de abril, o clube abriu-se à população em geral e os portugueses começaram a jogar mais, sobretudo com a criação de torneios importantes. Em 1974 já existiam uns 40 a 50 portugueses no Golfe. Durante muitos anos o Clube de Golfe servia também como ponto de encontro e de convívio entre terceirenses, pois muitas famílias vinham almoçar ao restaurante, apreciando a vista e saboreando a comida americana. Com o andar dos anos, a sede social e as infraestruturas anexas passaram por diversas transformações, sempre com o objetivo de melhor servir os seus associados. Hoje os sócios são sobretudo os portugueses, os americanos representam um número quase irrelevante de jogadores. Cerca de 50% dos sócios são antigos caddies, pois desde os inícios dos anos 80 do século XX, que os antigos caddies passaram a ser adeptos regulares da prática do golfe, sendo alguns jogadores de topo. O Clube passou a ter personalidade jurídica a 26 de janeiro de 2004 e a 18 de maio do mesmo ano, fruto de uma alteração estatutária, a sua gestão foi entregue a uma direção composta por representantes associados fundadores e por representantes dos associados ordinários, assumindo estes, a direção executiva. A Escola de Formação do Campo de Golfe tem-se destacado ao longo dos anos. Tendo bons resultados a nível regional, nacional e com participações internacionais, seja nas camadas mais jovens, seja nos mid-amateurs ou nos séniores. Houve várias participações nas seleções, e com bons resultados. O Clube faculta a todos os interessados aulas de iniciação, aulas de aperfeiçoamento, formação e competição. O Golfe pode ser iniciado em qualquer idade. O Clube atualmente também tem uma campanha de golfe para todos, onde qualquer pessoa se pode inscrever e praticar golfe e conhecer mais do desporto. Em suma, o Clube era e é mais do que um simples espaço para a prática desportiva, foi um espaço de convivência entre povos diferentes, de culturas diferentes. Soube assimilar as necessidades das populações envolventes e hoje procura dinamizar-se de novo. Os jogadores mudaram, a época e a sociedade terceirense também. Esperemos que haja uma nova era para o Clube de Golfe que é fisicamente um retrato vivo do início da presença americana na Ilha, onde estão até hoje ininterruptamente tem para mais de 72 anos

* Doutorando em História Moderna e Contemporânea, Especialidade em Defesa e Relações Internacionais Historiador/Investigador

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