Cobertura Mediática no Panorama Português

July 8, 2017 | Autor: Rui Tomas | Categoria: Discourse Analysis, Media Studies, Journalism, Jornalismo, Media analysis
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Portefólio Investigação Cobertura Mediática no panorama português Como os jornais “Público” e “Diário de Notícias” trataram o “Caso Tecnoforma” e o caso da dívida de Passos Coelho à Segurança Social

Licenciatura em Jornalismo

Docente: Professora Doutora Isabel Ferin Cunha

Aluno: Rui Filipe Ruivo Tomás

Coimbra, 15 de junho de 2015 1

 Índice Conteúdo 

Índice ....................................................................................................................................2



Introdução ............................................................................................................................3



Caso Tecnoforma..................................................................................................................4



Jornal Público .......................................................................................................................6



Análise ..................................................................................................................................6



Diário de Notícias .................................................................................................................8



Análise ..................................................................................................................................9



Caso da dívida de Passos Coelho à Segurança Social ..........................................................10



Análise – Público.................................................................................................................10



Análise – Diário de Notícias ................................................................................................12



Conclusão ...........................................................................................................................14



Anexos ................................................................................................................................15

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 Introdução Segundo a Doutora Isabel Ferin Cunha, “o campo da investigação empírica não tem cessado de crescer nestes últimos anos, sobretudo no que se refere à análise de imprensa”. A análise dos média é, certamente, uma área que não deve ser descurada, tal é a sua importância; importância essa que se tem vindo a revelar mais preponderante com o passar dos tempos. Atualmente, urge entender as mensagens provenientes dos média, as estratégias por eles usadas, pensar outside the box (mensagens com sentido conotativo) e, consequentemente, analisar as consequências de tais mensagens. Embora em primeira instância tivesse sugerido um outro tema de trabalho, também esta matéria, sugerida pela Professora, me suscitou curiosidade. Conquanto seja uma matéria trabalhosa, o trabalho de análise mediática deve ser efetuado. Através dele, podemos ter noção da orientação editorial de, por exemplo, um jornal, se este se tem desviado do mesmo, se estes publicam as notícias com um carácter neutro ou se tentam passar qualquer tipo de mensagem camuflada. Deste modo, passei à fase da seleção do corpus a analisar. Prontamente decidi analisar as notícias dos, para mim, dois maiores diários de referência portugueses: o jornal Público e o Diário de Notícias, por serem também os jornais que raramente passo sem ler, grupo ao qual acrescento também o Expresso, que não foi alvo de análise neste trabalho. Não encontrei quaisquer obstáculos no desenvolvimento desta análise. Apenas efetuei a assinatura mensal do Público para obter acesso ilimitado aos conteúdos informativos e opinativos; no entanto, sinto-me satisfeito com os termos e custos da dita assinatura: em apenas dois meses de subscrição, enquanto estudante da Universidade de Coimbra, paguei a módica quantia de, arredondadamente, 7,50€. Uma quantia que está ao alcance de qualquer bolso de alguém que se sinta interessado pela atualidade do nosso país e restante globo. Para o Diário de Notícias não efetuei qualquer subscrição, dado que a grande maioria dos conteúdos estava disponível a 100% e sem qualquer tipo de custo associado. De modo a efetuar a análise dos conteúdos que reuni, recorri ao método quantitativo, em detrimento do método qualitativo. No entanto, propus-me também a analisar não só notícias, mas também artigos de opinião das mais variadas personalidades, 3

pelo que, nesses casos, recorrerei à análise qualitativa, de modo ter uma perceção do modo como os casos em análise foram classificados pelos respetivos autores. Na análise quantitativa, dividi as temáticas em análise por várias categorias, a saber: nome do jornalista, data da notícia, número de comentários feitos à mesma e número de hiperligações existentes, se tem registo multimédia (foto, vídeo), número de parágrafos, tipo de título e os sujeitos ativos/passivos em cada notícia. Uma vez que o “Caso Tecnoforma” foi desencadeado através de um artigo na revista Sábado, pelo jornalista António José Vilela, no número 542 da publicação, datada de 18 de setembro de 2014, fiz uso das redes sociais, nomeadamente o Facebook, e estabeleci contacto com o jornalista, que prontamente me ajudou e encaminhou-me para a secretária de direção, a D.ª Catarina Gonçalves. Dias depois foi-me enviado por correio eletrónico o artigo por mim pedido, sem me terem cobrado quaisquer tipos de custos. Deste modo, expresso aqui o meu agradecimento. A Internet foi o meio utilizado para a elaboração deste trabalho, que espero que corresponda às expetativas.

 Caso Tecnoforma A Tecnoforma, hoje falida, era uma empresa da área da formação profissional. O famoso “Caso Tecnoforma” nasceu a partir de uma denúncia anónima feita a Joana Marques Vidal, a procuradora-geral da República. Pedro Passos Coelho, o atual primeiroministro de Portugal, terá recebido cerca de 150 mil euros entre 1996 (ou 1997, várias publicações indicam ambas as datas) e 1999 por parte da Tecnoforma, enquanto desempenhava a função de deputado em regime de exclusividade, entre 1995 e 1999. Basicamente, se Passos Coelho desempenhava as funções de deputado em regime de exclusividade, isto quer dizer que ele recebia um acréscimo de 15% ao seu salário, devido ao facto de ser o vice-presidente da bancada parlamentar, e que não poderia ter quaisquer outras fontes de rendimento, fossem elas originárias de instituições públicas ou privadas.

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Este caso foi noticiado em primeira mão pelo grande repórter da revista Sábado, António José Vilela. O primeiro-ministro português foi consultor da Tecnoforma em 2002, tendose tornado administrador da mesma entre 2005 e 2007. Em 1996, havia fundando uma ONG (organização não-governamental), a CPPC, leia-se Centro Português para a Cooperação. Tinha como finalidade o apoio a projetos em países

em

vias

de

desenvolvimento,

assistência humanitária e a proteção dos direitos humanos. No entanto, o seu

Figura 1. Imagem de capa da reportagem da Sábado - edição nº542

principal desígnio era obter financiamento (estatal e da União Europeia) para projetos de cooperação que interessariam à Tecnoforma. Aliás, a CPPC tinha a sua sede nas próprias instalações da Tecnoforma, em Almada, sendo financiada pela mesma. Mas, afinal, o que está de mal no meio desta conjuntura? O facto de Passos Coelho ter sido remunerado pela Tecnoforma. E porquê? Pelos fatores nomeados supra, nomeadamente, o facto de ter sido deputado em regime de exclusividade. E embora Passos não tenha declarado exclusividade no início da legislatura, fê-lo a posteriori, no fim da mesma. Assinou, pelo seu próprio punho, o pedido do subsídio de reintegração, correspondente ao período entre 1991 e 1999, tendo recebido cerca de 60 mil euros, que terá aglutinado aos supostos 150 mil que havia recebido da Tecnoforma, ainda que indevidamente. A descoberta da dita declaração foi levada a cabo pelo Público, nomeadamente pelo seu jornalista José António Cerejo. A ser verdade que Pedro Passos Coelho tenha recebido 150 mil euros da Tecnoforma, o político arriscar-se-ia a ser condenado por fraude fiscal, pois esse montante nunca foi declarado ao fisco. De qualquer das maneiras, a ter sido cometido crime, este prescreveu no prazo de dez anos. De acordo com a Sábado, Passos Coelho também não faz qualquer menção à Tecnoforma ou à CPPC nos documentos entregues ao Tribunal Constitucional, onde devem constar as declarações de incompatibilidade ou impedimento que os deputados são obrigados

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a preencher no início das respetivas legislaturas. Veremos, agora, qual a cobertura mediática dada pelos diários Público e Diário de Notícias a este caso.

 Jornal Público Antes de iniciar a análise propriamente dita, deveremos ter uma noção do que é este diário de referência português, pelo que se fará uma pequena contextualização do mesmo. O Público foi fundado no ano de 1989, tendo sido Vicente Jorge Silva o seu primeiro diretor. Pertence ao grupo Sonae, que até há pouco tempo era conduzido por Belmiro de Azevedo. A atual diretora do diário é Bárbara Reis, desde 2009. De acordo com o estatuto editorial do Público, este jornal “é orientado por critérios de rigor e criatividade editorial, sem qualquer dependência de ordem ideológica, política e económica”, repudiando também o sensacionalismo e a “exploração mercantil da matéria informativa”. O Público chegou à Internet no ano de 1995, através da plataforma publico.pt.

 Análise O método de análise definido para este trabalho foi o quantitativo. Deste modo, foram contabilizados o número de vezes que dado fenómeno ocorreu. Comecemos pelos jornalistas que escreveram as notícias. Num total de 44 notícias, o que mais chama a atenção neste gráfico é o facto de o Público ter publicado, na íntegra, nove artigos da Lusa (agência noticiosa portuguesa); José António Cerejo, reconhecido jornalista português que não tem deixado morrer o jornalismo de investigação, foi a primeira personalidade que mais trabalhou no âmago do “Caso Tecnoforma”, tendo como principal “aliado” o seu colega de redação, Paulo Pena. Também Sofia Rodrigues escreveu um número considerável de artigos (Anexo A). Já o número de textos de opinião foram bastante reduzidos (Anexo B). Especial destaque para a direção editorial deste diário generalista de referência, que durante o período de tempo em que o “Caso Tecnoforma” ocupou todo o espaço noticioso, dedicou quatro editoriais a este mesmo tema. A ter em especial atenção, a direção do jornal qualificou este episódio como “bluff mediático”, uma situação repleta de obscurismo e não transparente. Foi ainda bastante crítica para com Passos Coelho, de quem dizem que “cegamente acreditou que podia escudar-se no formalismo burocrático”; este chegou ainda a dizer que esta situação causou embaraço no seio do seu partido devido 6

à falta de clareza, pelo que deveria “esclarecer o que os jornais dizem”. João Miguel Tavares, que já foi jornalista no Diário de Notícias, teve uma posição mais rigorosa perante este caso, ao utilizar adjetivos como “incoerência”, “sonsice”, “sintomático”, referindo-se também a Passos Coelho como tendo feito “asneira grossa”. Num outro artigo de opinião, Tavares toma como alvo o panorama jornalístico português, criticando “a falta de escrutínio existente em Portugal”, o “que não abonou a favor do jornalismo português”. O político Rui Tavares referiu-se ao primeiro-ministro como alguém que não estaria a ser sério, por ter sido “comparticipante, voluntário e autor desta vergonha”, onde se “desperdiçaram fundos comunitários, se abusou das redes de influência e de encobrimentos”. Nota ainda para um artigo que foi escrito pelo provedor do leitor do Público, Paquete de Oliveira, e de uma carta do leitor Francisco Rodrigues. Após a análise efetuada às notícias, chegamos à conclusão de que o jornal em questão faz bastante recurso ao registo multimédia, leia-se o uso de imagens e/ou vídeo (Anexo C). De notar que são os artigos de opinião que fazem crescer as fileiras do “não”. No número de parágrafos por notícia, são mais as que possuem entre cinco a sete parágrafos (Anexo D). Por norma, as notícias mais extensas são aquelas em que o jornalista nos traz novos desenvolvimentos

do caso, acrescido da devida

contextualização, de modo a que o leitor nunca se sinta inundado no meio da informação. Como bem sabemos, com a constante evolução da tecnologia e o aparecimento da Web 2.0, a interação é uma aspeto intrínseco a esta nova era. Daí a necessidade de se manter um contacto constante entre o leitor e o jornal. Falemos dos comentários. 88% das notícias e artigos de opinião analisados no Público foram comentados pelos leitores, o que espelha o nível de interação existente neste caso. Também o texto, quando transportado para estes formatos eletrónicos, ganha outras características; neste caso, transforma-se em hipertexto, que é caracterizado, entre outros aspetos, por possuir hiperligações, isto é, palavras ou frases que nos remetem para outro conteúdo, seja ele noticioso ou não. Das notícias e artigos de opinião analisados, 22,4% possuem hiperligações nos seus textos. Embora não seja uma percentagem tão significativa, esta é uma vantagem que o Público detém face ao Diário de Notícias, como veremos adiante.

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Analisámos também, entre as notícias, os principais visados nas mesmas; isto é, procuramos, em cada notícia, o “ator principal” da mesma, aquele sobre quem é tratada a notícia, e o resultado não poderia ser mais taxativo (Anexo E). De entre as notícias em que foi possível apurar a “personagem principal”, o primeiro-ministro assumiu tal papel por doze ocasiões; também a Tecnoforma, empresa da qual terá recebido pagamentos indevidos, foi visada por um número considerável de ocasiões. Destaque para a Procuradoria-Geral da República (PGR), o órgão superior do Ministério Público, que foi visado por Passos Coelho, o qual incumbiu o primeiro de se pronunciar acerca de alguma (suposta) ilegalidade. Já no que toca aos títulos das notícias, estes foram essencialmente do tipo informativo, tendo também sido utilizado, por algumas vezes, o tipo declarativo, ou seja, o título era elaborado através de uma declaração do indivíduo tratado na notícia. Já nos artigos de opinião, que se pautam pela liberdade dos seus autores, não tendo de obedecer aos estatutos de redação, os títulos são essencialmente apelativos, expressivos e até interrogativos.

 Diário de Notícias Conforme o escrito supra, comecemos por uma pequena contextualização da instituição em causa, neste caso, o Diário de Notícias. O primeiro número deste diário de referência português saiu no dia 29 de dezembro de 1864, ou seja, à data da elaboração desta dissertação, o mesmo conta já com 150 anos de história. É propriedade da Global Notícias, uma empresa da holding e um dos maiores grupos empresariais de média portuguesa, a Global Media Group, cujo atual CEO é o conhecido e reconhecido advogado, Daniel Proença de Carvalho. O atual diretor do Diário de Notícias é André Macedo. De acordo com o seu estatuto editorial, o DN “constrói um traço de união entre todos os portugueses, independentemente das suas opiniões políticas ou crenças religiosas, desempenhando um papel de moderador dos conflitos que se manifestam na sociedade portuguesa”. Este diário generalista assume também a “responsabilidade de emitir opinião própria, através de editoriais assinados pela Direção, sempre de acordo com uma linha editorial” que se distingue pela liberdade crítica e autonomia face a quaisquer tipos de forças exteriores, respeito pela Constituição, etc.

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 Análise Seguindo a mesma ordem estabelecida na análise ao jornal Público, começaremos pelos jornalistas que escreveram acerca do “Caso Tecnoforma”. Num total de 46 notícias, notamos claramente que o DN utilizou, por 21 ocasiões, notícias integrais da Agência Lusa. Deste modo, vemos que não houve um acompanhamento tão personalizado quanto o existente no Público, onde o jornalista José António Cerejo encabeçava as investigações jornalísticas, intercedendo junto de várias instituições como a Assembleia da República ou a Procuradoria-Geral da República. Não obstante, houve dois jornalistas que escreveram um número de notícias superiores aos restantes; falamos de Carlos Rodrigues Lima e de João Pedro Henriques. Destaque ainda para três notícias que não possuem qualquer tipo de assinatura (Anexo F). Se já no Público o número de artigos era reduzido, no DN ainda o é mais (Anexo G). Os únicos artigos existentes no website do jornal apenas nos permite ler os artigos de Sílvia de Oliveira, atualmente diretora-executiva do Dinheiro Vivo, Ferreira Fernandes, reputado jornalista português, e de Paulo Baldaia, diretor da TSF desde 2008. Sílvia de Oliveira considerava, então, que havia “muitas incongruências, desde não responder às perguntas mais básicas”, referindo-se a Passos Coelho, que tinha constantes “esquecimentos e engendrava manobras de esquecimento”. Já Ferreira Fernandes foi mais crítico para com as instituições envolvidas neste caso, nomeadamente com o CPPC, chegando mesmo a questionar-se “para que servia o CPPC?”. Referiu ainda que “seria educativo vermos as faturas modestas para tão grandes causas”, terminando com um “irrita-me a modéstia das pessoas devotadas”. Paulo Baldaia criticou o secretário-geral da Assembleia da República, o Doutor Albino Azevedo Soares, que terá ajudado o primeiro-ministro “a enterrar-se em mais contradições”, e que o mesmo “não se livra da suspeição”. No que concerne à utilização de fotos e vídeo, chegamos rapidamente a uma conclusão. O Diário de Notícias deixa bastante a desejar face ao Público. Isto porque o uso de imagens e vídeos no seu website não é muito frequente, conforme nos mostra o gráfico (Anexo H). Continuando na mesma temática, enveredando agora para o campo dos comentários e hiperligações presentes no texto, notamos que, aqui, o DN representa um antagonismo por completo face ao primeiro jornal em estudo. De todas as notícias e artigos de opinião analisados, apenas uma notícia contém um comentário. As restantes não possuem qualquer comentário ou hiperligação, revelando o DN, deste modo, ter um website pouco interativo para e com os leitores. 9

No que à extensão das notícias diz respeito, o website do DN dá-nos notícias curtas, daí predominarem aquelas entre quatro a seis parágrafos, sendo que, em muitas ocasiões, cada um apenas possui duas ou três linhas (Anexo I). Quanto às personalidades consideradas “ativas” nas notícias analisadas, a tendência mantém-se, comparativamente ao Público. O primeiro-ministro português foi o mais visado, seguindo-se a Procuradoria-geral da República. A diferença que mais salta à vista neste âmbito, se colocarmos ambos os gráficos lado a lado, é que o Diário de Notícias dá “tempo de antena” a mais personalidades que opinam acerca deste assunto. É assim o caso de Marcelo Rebelo de Sousa, Manuela Ferreira Leite, Luís Marques Guedes ou Poiares Maduro, que não foram mencionados no Público (Anexo J). Também os títulos das notícias no DN se dividem entre o tipo informativo e declarativo. Nos artigos de opinião predominam os títulos interrogativos e expressivos.

 Caso da dívida de Passos Coelho à Segurança Social A primeira notícia relativa a este assunto surgiu no dia 28 de fevereiro de 2015, pela mão do jornalista de investigação do Público, José António Cerejo. Tudo começou quando foi noticiado que o primeiro-ministro português não havia pago quaisquer contribuições para a Segurança Social, entre os anos de 1999 e 2004; mais tarde, vir-seia a apurar que o mesmo já não contribuía desde 1996. Após uma semana de tentativas de desculpabilizar este seu “esquecimento”, Passos Coelho viria a admitir que não tinha conhecimento que, enquanto trabalhador independente, teria de contribuir para a Segurança Social. O chefe de Governo acabou por pagar, após questionado pelo Público, na última semana de fevereiro, uma dívida de 2880€ (acrescida de juros de mora), que já sabia existir desde 2012; no entanto, Cerejo dizia-nos que o verdadeiro valor da dívida era de 5016€, valor que, aglutinado aos juros, daria uma quantia sempre superior a 8000€, superior aos 3914€ que Passos havia pago. De notar que a dívida já havia prescrito. Vejamos agora os números da análise efetuada ao Público e ao Diário de Notícias.

 Análise – Público Num total de 45 notícias em que o diário do grupo Sonae cobriu o caso em análise, notamos que dezasseis, uma maioria destacável, foram escritas pela Lusa e publicadas 10

sem alterações. Destaque ainda para a jornalista Sofia Rodrigues, que, quer individualmente ou com a colaboração de outro colega, participou na elaboração de nove notícias. José António Cerejo participou na elaboração de sete textos, sendo que quatro foram tratados individualmente. De notar que são, de novo, à imagem do “Caso Tecnoforma”, as notícias deste jornalista as mais extensas, com maior número de parágrafos, o que deverá ser o resultado do seu imenso trabalho de campo e reconhecida investigação, que tanto incómodo causou a Pedro Passos Coelho (Anexo K). Durante este caso, e no que concerne aos artigos de opinião, a conclusão a que rapidamente chegamos é a de que os colunistas não se preocuparam muito em tratar este assunto; exceção feita à direção editorial do jornal, que lhe dedicou precisamente quatro editoriais. O Público assumiu uma postura bastante rigorosa e de desaprovação perante o o chefe de Governo, o qual “não cumpriu as suas obrigações contributivas”, e que “tinha obrigação de conhecer a lei”, prevendo para o mesmo uma “situação política de bastante fragilidade”. Noutros editoriais, a direção defendeu que o ministro “devia aceitar o escrutínio aos seus rendimentos, devendo dar, quando confrontado, explicações convincentes”. Rui Tavares assume também uma postura intransigente para com Passos, “que já tínhamos desconfiado que não era um cidadão perfeito”, aproveitando uma frase mencionada pelo mesmo. Tavares pede que o primeiro-ministro seja “justo e que aja com proporcionalidade”, pelo que “não há razões para Coelho ser juiz de si mesmo”. João Miguel Tavares, jornalista e ideologicamente de direita, não dirigiu críticas centradas somente no sujeito nomeado supra, fazendo uma alusão mais generalizada a todos os políticos, indicando que “quem está na vida pública tem obrigações de transparência e probidade superiores às dos comuns mortais” (Anexo L). Entre todas as notícias e artigos de opinião, 51 no total, apenas doze não possuem quaisquer registos multimédia, leia-se fotos ou vídeos (Anexo M). Neste aspeto em específico nota-se a existência de um número considerável de peças noticiosas da TVI, em número bastante superior ao do caso estudado anteriormente. No que diz respeito à interação com os leitores, notamos um crescimento respeitável deste aspeto, seja pelo elevado número de comentários às notícias ou pelas milhares de partilhas das mesmas nas redes sociais. Feita uma média das partilhas dos 51 textos, para termos uma noção, cada artigo foi partilhado cerca de 1360 ocasiões, o que espelha o alcance e influência do diário

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em análise. Mais uma vez, foram as notícias escritas pelo jornalista José António Cerejo que foram alvo de mais partilhas. Cada texto foi também comentado cerca de 22 vezes. Quanto à extensão dos textos, predominam aqueles com oito parágrafos (Anexo N). No entanto, desde os dez até ao 21, temos presentes praticamente metade das notícias e artigos de opinião. De novo, são os textos de Cerejo os mais extensos, o que se justifica pela sua incessante busca de novos factos e consequente divulgação. Pedro Passos Coelho foi, inevitavelmente, o maior visado de todos estes episódios (Anexo O). O atual primeiro-ministro foi seguido pelo Partido Socialista e António Costa, o maior partido da oposição e o respetivo líder, respetivamente. Também os restantes líderes partidários foram alvo de notícia, na maior parte das vezes por terem tecido críticas acerca do caso. De ressalvar também o facto de ter sido realizada e entregue à presidente da Assembleia da República uma petição com a finalidade de demitir Passos Coelho. Por dezassete ocasiões os títulos das notícias foram declarações dos visados no texto principal, sendo os restantes do tipo informativo.

 Análise – Diário de Notícias Das 40 notícias com que o diário pertencente ao grupo Global Media retrata este caso, quinze das quais foram elaboradas pela Lusa, sendo o jornalista da casa, Miguel Marujo, o primeiro indivíduo que mais escreveu, individualmente e com Octávio Lousada Oliveira e João Pedro Henriques, que também foram outros dois jornalistas que se dedicaram a este tema (Anexo P). Há, no entanto, que ressalvar um aspeto: Joana Petiz, conforme podemos ver no gráfico, escreveu uma notícia; ora, esta jornalista, que também é subdiretora do Diário de Notícias, assina um artigo de opinião, precisamente acerca do mesmo tema. Será isto eticamente correto? No âmbito do uso da imagem nota-se uma diferença abissal; se aquando da cobertura mediática do “Caso Tecnoforma”, o DN pouco recorria ao registo fotográfico, neste caso todas as notícias possuíam uma imagem. Sem haver qualquer tipo de registo de vídeo, os artigos de opinião foram os únicos que contribuíram para a barra do “não” no gráfico (Anexo R). Quanto aos artigos de opinião, o caso da dívida de Passos Coelho à Segurança Social foi, comparativamente ao anterior, aquele de que mais se falou e opinou (Anexo

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Q). O jornalista Ferreira Fernandes utilizou uma metáfora ao afirmar que este caso parece “ficção científica”; referiu-se também a Passos Coelho, questionando-se “como se permitiu prejudicar a carreira política por causa de 80€ mensais”, e que “devia ter pago no tempo devido”. Pedro Tadeu, diretor da agência Global Imagens (pertencente ao grupo dono do DN) e ex-diretor do jornal 24Horas, recorreu à ironia, rotulando o primeiroministro como um “trabalhador precário” que não consegue pagar à Segurança Social; criticou-o veemente, aludindo à sua “incapacidade de ser rigoroso”, quando “julgava ser possível escapar à contribuição”. Joana Petiz, que também escreveu uma notícia acerca deste caso, argumentou no seu artigo de opinião que “um primeiro-ministro tem de estar acima de qualquer suspeita”, pois “quando decidiu candidatar-se a esse lugar, tinha de ter a certeza que não tinha telhados de vidro”. Sílvia de Oliveira indaga-se: “que autoridade tem agora o primeiro-ministro?”, que se “desculpabiliza, fazendo-se de vítima”. Pedro Marques Lopes, comentador político e colunista do DN, disse, acerca de Passos, que “calar-se talvez tenha sido a atitude mais acertada, para ele e para nós”. Nuno Saraiva, subdiretor do Diário de Notícias, afirma que Coelho foi “relapso nas suas obrigações”, o que espelha o tom crítico de que foi alvo o chefe de Governo. Alberto Gonçalves, sociólogo, refere que se notaram “tiques de irreverência e alguma presunção de impunidade” no protagonista deste caso. Predominaram as notícias e artigos de opinião entre os cinco e oito parágrafos (Anexo S). Comparativamente ao último caso, o DN dá um destaque mais alargado ao último, o que se constata se olharmos com atenção para os gráficos e os compararmos. Se compararmos o número de barras dos gráficos dos membros considerados “ativos” nas notícias, o número de personalidades/instituições é praticamente o mesmo. No entanto, o DN estende o seu leque a personalidades que não são visadas no Público (Anexo T). Por exemplo, enquanto Passos Coelho é considerado elemento ativo por onze vezes no diário dirigido por Bárbara Reis, já no DN é apenas sete, sendo dado destaque, por exemplo, a Domingos Azevedo, Vasco Cordeiro ou André Figueiredo, dos quais não consta qualquer menção no Público. Relativamente aos títulos, uma percentagem considerável foi constituída por frases dos visados no texto principal, claramente contrária à tendência que se tinha verificado até aqui.

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 Conclusão Pedro Passos Coelho tem a sua idoneidade política em risco. É esta a conclusão a que rapidamente se chega, após se ter efetuado uma análise a 213 notícias e artigos de opinião do Público e do Diário de Notícias. O “Caso Tecnoforma” e a dívida do primeiroministro à Segurança Social, quando este pensava que as contribuições eram uma “opção”, foram duas machadadas na credibilidade daquele que tanto rigor e sacrifícios tem exigido aos cidadãos portugueses. Estas novelas mediáticas, que duraram pouco mais que uma semana (dívida à Segurança Social) e praticamente um mês (Caso Tecnoforma), invadiram o espaço noticioso português; poucos eram os portugueses que não sabiam que o seu primeiroministro não havia declarado vencimentos que havia recebido e que não tinha pago as contribuições à Segurança Social, o que não deixa de ser irónico. Todos os colunistas e líderes de opinião que fizeram notícia com os seus pontos de vista estiveram em sintonia. Todos, sem exceção, da direita à esquerda, criticaram a atuação de Passos Coelho em ambos os casos. Após esta análise, esperamos ter deixado bem lúcido o panorama mediático que envolveu estes casos; desde os jornalistas envolvidos, colunistas, os seus argumentos… Pretendeu-se também fazer uma análise particular ao tipo de jornalismo praticado por estes dois jornais, nomeadamente através da perspetiva do uso da imagem e da interatividade; neste parâmetro, constatamos com bastante clareza que o Público tem o website mais interativo com os seus leitores. É rara a notícia que não possua foto ou registo de vídeo que, por norma, são peças noticiosas da TVI. O Público aborda ambos os assuntos de modo profundo, enquanto o DN se limita, na maioria das vezes, a reproduzir superficialmente as notícias que, no fundo, são da autoria do trabalho dos jornalistas do diário que foi fundado por Vicente Jorge Silva.

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Anexos

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Anexo A. Caso Tecnoforma - Público - Jornalistas

Anexo B. Público – Colunistas - Tecnoforma

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Anexo C. Público- Registo Multimédia. Tecnoforma

Anexo D- Público-Parágrafos. Tecnoforma

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Anexo E. Público – Ativos - Tecnoforma

Anexo F. Caso Tecnoforma - Diário de Notícias - Jornalistas

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Anexo G. Diário de Notícias - Colunistas - Tecnoforma

Anexo H. Diário de Notícias - Registo Multimédia - Tecnoforma

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Anexo I. Diário de Notícias - Parágrafos - Tecnoforma

Anexo J. Diário de Notícias - Ativos - Tecnoforma

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Anexo K. Dívida Segurança Social – Público - Jornalistas

Anexo L. Público - Colunistas - Dívida Segurança Social

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Anexo M. Público - Registo Multimédia - Dívida Segurança Social

Anexo N. Público - Parágrafos - Dívida Segurança Social

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Anexo O. Público - Ativos - Dívida Segurança Social

Anexo P. Dívida Segurança Social – Diário de Notícias - Jornalistas

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Anexo Q. Diário de Notícias – Colunistas – Dívida Segurança Social

Anexo R. Diário de Notícias - Registo Multimédia – Dívida Segurança Social

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Anexo S. Diário de Notícias - Parágrafos – Dívida Segurança Social

Anexo T. Diário de Notícias - Ativos – Dívida Segurança Social

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