COBERTURA MÍOPE E DESLEIXO COM A NOTÍCIA
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04/07/2015
Observatorio da Imprensa Materias 05/02/2003
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FÓRUM SOCIAL MUNDIAL
Cobertura míope e desleixo com a notícia Walter Karwatzki Chagas (*)
Mais de 13 mil pessoas assistiram no domingo, 26/1, no Ginásio do Gigantinho, em Porto Alegre, à conferência sobre o papel da mídia na crescente globalização, dentro da programação do Fórum Social Mundial. Quatro renomados especialistas, mesmo com abordagens diferenciadas, foram unânimes em afirmar que há necessidade de um maior controle da sociedade civil sobre a indústria da informação e recomendaram mudanças no perfil dos veículos de comunicação. Segundo estes especialistas, os meios de comunicação estão se transformando cada vez mais em canais de venda e de informações manipuladas. Veja o que disse a imprensa gaúcha sobre esta conferência em suas edições de segundafeira (27/1): ** Zero Hora: nenhuma palavra. ** Correio do Povo: nenhuma palavra. ** Diário Gaúcho: Fórum? Que Fórum? Mesmo com toda a importância desta conferência, pasmem, apenas um jornal de Porto Alegre fez referência ao fato. No jornal O Sul a colunista Vera Spolidoro comenta em sua coluna (página 21) a participação de um dos painelistas. Abaixo, na íntegra, seu comentário: A comunicação virou espetáculo Mídia e Globalização foi a principal confe rê ncia de onte m , no Fórum Social Mundial. E o atual pre side nte da R adiobrás, jornalista Eugê nio Bucci, um dos m ais aplaudidos. Se os ve ículos de com unicação, no passado, e ram canais de de bate público, hoje a lógica é a do e ntre te nim e nto, do e spe táculo, disse o jornalista. De fe nde u a construção de m e ios de inform ação públicos, não e statais, e m e scala m undial, para voltar à vocação original do jornalism o. Os olhos do público "O principal produto da m ídia são os olhos de se u público. As pe ssoas não se dão conta de que e las são a m e rcadoria e m que stão. Elas se pe nsam com o re ce ptoras do e ntre te nim e nto, m as na ve rdade o que e stá se ndo com prado é o se u olhar, se m que isso se ja pago", com ple m e ntou Eugê nio Bucci.
Mais uma vez, o Jornal do Comércio está de parabéns: tratou seus leitores com respeito e facultoulhes o direito à verdade, "duela a quien http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/iq050220037.htm
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duela". Reproduzo alguns trechos sobre a conferência na edição do JC de 27/1 (página 7), sob o título "Especialistas discutem papel social da mídia". Foi preciso ler o texto mais de uma vez para pegar o fio condutor, mas... vale a reprodução – ipsis litteris: Ignácio R am one t – dire tor do jornal Le Monte Diplomatique –, disse que a im pre nsa, conside rada por m uito te m po com o o quarto pode r, acabou suprim ida pe la força dos grande s grupos e m pre sariais, que dom inam o m undo atravé s de um capitalism o finance iro, se ndo urge nte assim , a ne ce ssidade da form ação de um quinto pode r capaz de coibir as distorçõe s com e tidas pe la m ídia na dom inação dos povos. "As e m pre sas passaram a te r papé is globais im portante s, m uito m ais do que gove rnos ou os Estados" salie ntou. Ignácio R am one t pe diu um a re fle x ão do público pre se nte com o form a de e x igir m ais é tica dos m e ios de com unicação, constituídos agora não só pe los canais tradicionais com o a te le visão, rádio e jornais, m as pe la Inte rne t e tudo que ne la te m orige m . "R e ce be m os um a avalanche diária de inform açõe s que e stão e nve ne nadas por todo tipo de m e ntira", salie ntou. Ignácio R am one t anunciou a criação do prim e iro obse rvatório de im pre nsa para rastre ar todo e qualque r tipo de dom inação ide ológica fe ita atravé s dos m e ios de com unicação. "De ste fórum , vai sair um a arm a para os cidadãos contra os supe r pode re s da m ídia", com e nta Ignácio R am one t, que com ple m e nta dize ndo que e stá lançado o de safio de criar o quinto supe r pode r. "Vam os de fe nde r a ve rdade a se rviço do cidadão atravé s de inform ativos, não constituindo um tribunal, m as lançando açõe s que pe rm itam m udanças", com ple ta. Sally Burch – m e m bro da Agê ncia Latino Am e ricana de Inform ação (Alai) –, órgão com prom e tido com a vigê ncia dos dire itos hum anos. De fe nde ndo a abe rtura de e spaços de opinião para contrapor a he ge m onia do proce sso dom inante , Sally Burch re fe riuse às rápidas m udanças da socie dade conte m porâne a, que , ao m e sm o te m po e m que assistiu à e volução te cnológica, pre se nciou a criação de form as de controle sobre e ssas inovaçõe s. "Som e nte 60% das pe ssoas no m undo tê m ace sso à Inte rne t", le m brou. Ela, ainda fe z alusão ao pode r confe rido às m assas com a globalização. "Atravé s da Inte rne t, te m os grande s possibilidade s de le vantar grande s m ovim e ntos sociais", avaliou e citou a atual grandiosidade do FSM, que , se gundo e la, só te ve tanto alcance de vido à re de m undial de com putadore s. "Mais do que transm itir m e nsage ns pode m os construir re de s de articulação e discutir proble m áticas", e nfatizou. Alé m de clam ar pe lo cum prim e nto da função social da m ídia, Sally Burch de fe nde u um am plo siste m a público de com unicação com am pla participação do cidadão, atravé s do e stím ulo à pluralidade de e x pre ssõe s. Finalizando Sally Burch disse : "A indústria da com unicação propiciou o fim da pluralidade das fonte s e ao proce sso de participação na com unicação social. E se não há de m ocracia nas com unicaçõe s, não há nas socie dade s". Susanna Ge orge [na ve rdade , Susan Ge orge ] – do Movim e nto Isis Manila, um a O NG fe m inista de dicada às ne ce ssidade s de inform ação e com unicação das m ulhe re s –, dividiu suas colocaçõe s e m cinco pontos atre lados ao subjulgam e nto de coraçõe s e m e nte s fe ito pe la m ídia, re sponsáve l por de finir o be m e o m al, o ce rto e o e rrado, principalm e nte no que tange às m ulhe re s. "É triste quando as m ulhe re s no Japão que re m te r caracte rísticas ocide ntais ou quando as e uropé ias m udam o form ato do se u corpo se gundo caracte rísticas divulgadas na m ídia com o norm ais e m e lhore s", lam e ntou a fe m inista. Susanna Ge orge le m brou ainda que a criação dos supe rinim igos e dos supe rhe róis, que lidam fre qüe nte m e nte com a noção do be m , assim com o a norm alização do m ilitarism o foram outros pontos citados com o filão da m ídia, que se apode ra de le s para adquirir audiê ncia. A ligação da O NU com os organism os de com unicação tam bé m foi le vantada com o grande pre ocupação pe la ativista, que re ve la e x istê ncia de doaçõe s de dinhe iro para instituiçõe s fe itas por e m pre sas de com unicação. Euge nio Bucci – pre side nte da R adiobrás –, cham ou a ate nção sobre a m udança dos ve ículos de com unicação nos últim os te m pos, que se transform aram e m um a ne gação da vocação inicial do jornalism o. Para Euge nio Bucci, atualm e nte , o capitalism o conte m porâne o não fabrica m ais a m e rcadoria, m as, http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/iq050220037.htm
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sim a sua im age m . Euge nio Bucci disse que a fabricação das im age ns dos produtos e stá se colocando acim a de qualque r e sforço civilizatório. C om o e x e m plo, citou a ope raçõe s com e rciais que che gam a faturar m ais que o PIB de vários paíse s. De ntre e las, e stá a ope ração e ntre a AO L e a W arne r, que , fe chada e m US$ 160 bilhõe s, ge rou um grupo avaliado e m US$ 320 bilhõe s, supe rando, conform e e le , inclusive a m e tade do PIB brasile iro. Ao falar sobre jornalism o, Euge nio Bucci disse que a inform ação foi absorvida pe lo ne gócio do e ntre te nim e nto, e que ve nde r, hoje , se constitui no principal ne gócio da m ídia conte m porâne a. "As pe ssoas não se dão conta que são as próprias m e rcadorias e m que stão", disse . E com ple m e nta le m brando que a lógica usada hoje e stá se ndo a de obstruir a inform ação de m ocrática, fortale ce ndo a supe rindústria form ada pe la inte nsificação dos proce ssos industriais. "A cultura e stá se ndo criada e a be le za fabricada. Hoje , tudo que é e spe táculo vira notícia, as gue rras, a ciê ncia e até m e sm o a re ligião", e nfatizou Euge nio Bucci.
Será que a nãoinformação sobre a conferência por grande parte da imprensa gaúcha é uma confissão de meaculpa? Ou a mídia gaúcha está acima do bem e do mal? Ou o que é pior, a mídia gaúcha é míope? Pois, em vários espaços do Fórum se discutiu a questão "mídia e ética", reflexo de uma preocupação em nível mundial. Talvez seja devido a esta postura por parte da imprensa gaúcha que se justifica o surgimento no Rio Grande do Sul de movimentos cívicos e apartidários em defesa de uma mídia norteada pela ética. (*) Profe ssor e m Porto Ale gre Leia também
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