COBERTURA MÍOPE E DESLEIXO COM A NOTÍCIA

July 9, 2017 | Autor: Walter Karwatzki | Categoria: Comunicação, Jornalismo, Midia
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04/07/2015

Observatorio da Imprensa ­ Materias ­ 05/02/2003

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FÓRUM SOCIAL MUNDIAL

Cobertura míope e desleixo com a notícia Walter Karwatzki Chagas (*)

Mais de 13 mil pessoas assistiram no domingo, 26/1, no Ginásio do Gigantinho, em Porto Alegre, à conferência sobre o papel da mídia na crescente globalização, dentro da programação do Fórum Social Mundial. Quatro renomados especialistas, mesmo com abordagens diferenciadas, foram unânimes em afirmar que há necessidade de um maior controle da sociedade civil sobre a indústria da informação e recomendaram mudanças no perfil dos veículos de comunicação. Segundo estes especialistas, os meios de comunicação estão se transformando cada vez mais em canais de venda e de informações manipuladas. Veja o que disse a imprensa gaúcha sobre esta conferência em suas edições de segunda­feira (27/1): ** Zero Hora: nenhuma palavra. ** Correio do Povo: nenhuma palavra. ** Diário Gaúcho: Fórum? Que Fórum? Mesmo com toda a importância desta conferência, pasmem, apenas um jornal de Porto Alegre fez referência ao fato. No jornal O Sul a colunista Vera Spolidoro comenta em sua coluna (página 21) a participação de um dos painelistas. Abaixo, na íntegra, seu comentário: A  comunicação virou espetáculo Mídia e  Globalização foi a principal confe rê ncia de  onte m , no Fórum  Social Mundial. E o atual pre side nte  da R adiobrás, jornalista Eugê nio Bucci, um  dos m ais aplaudidos. Se  os ve ículos de  com unicação, no passado, e ram  canais de  de bate  público, hoje  a lógica é  a do e ntre te nim e nto, do e spe táculo, disse  o jornalista. De fe nde u a construção de  m e ios de  inform ação públicos, não e statais, e m  e scala m undial, para voltar à vocação original do jornalism o. Os olhos do público "O  principal produto da m ídia são os olhos de  se u público. As pe ssoas não se  dão conta de  que  e las são a m e rcadoria e m que stão. Elas se  pe nsam  com o re ce ptoras do e ntre te nim e nto, m as na ve rdade  o que  e stá se ndo com prado é  o se u olhar, se m que  isso se ja pago", com ple m e ntou Eugê nio Bucci.

Mais uma vez, o Jornal do Comércio está de parabéns: tratou seus leitores com respeito e facultou­lhes o direito à verdade, "duela a quien http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/iq050220037.htm

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duela". Reproduzo alguns trechos sobre a conferência na edição do JC de 27/1 (página 7), sob o título "Especialistas discutem papel social da mídia". Foi preciso ler o texto mais de uma vez para pegar o fio condutor, mas... vale a reprodução – ipsis litteris: Ignácio R am one t – dire tor do jornal Le Monte Diplomatique –, disse que  a im pre nsa, conside rada por m uito te m po com o o quarto pode r, acabou suprim ida pe la força dos grande s grupos e m pre sariais, que  dom inam  o m undo atravé s de  um  capitalism o finance iro, se ndo urge nte  assim , a ne ce ssidade  da form ação de um  quinto pode r capaz de  coibir as distorçõe s com e tidas pe la m ídia na dom inação dos povos. "As e m pre sas passaram  a te r papé is globais im portante s, m uito m ais do que  gove rnos ou os Estados" salie ntou. Ignácio R am one t pe diu um a re fle x ão do público pre se nte  com o form a de  e x igir m ais é tica dos m e ios de com unicação, constituídos agora não só pe los canais tradicionais com o a te le visão, rádio e  jornais, m as pe la Inte rne t e  tudo que ne la te m  orige m . "R e ce be m os um a avalanche  diária de inform açõe s que  e stão e nve ne nadas por todo tipo de  m e ntira", salie ntou. Ignácio R am one t anunciou a criação do prim e iro obse rvatório de im pre nsa para rastre ar todo e  qualque r tipo de  dom inação ide ológica fe ita atravé s dos m e ios de  com unicação. "De ste fórum , vai sair um a arm a para os cidadãos contra os supe r­ pode re s da m ídia", com e nta Ignácio R am one t, que  com ple m e nta dize ndo que  e stá lançado o de safio de  criar o quinto supe r­ pode r. "Vam os de fe nde r a ve rdade  a se rviço do cidadão atravé s de  inform ativos, não constituindo um  tribunal, m as lançando açõe s que  pe rm itam  m udanças", com ple ta. Sally Burch – m e m bro da Agê ncia Latino Am e ricana de Inform ação (Alai) –, órgão com prom e tido com  a vigê ncia dos dire itos hum anos. De fe nde ndo a abe rtura de  e spaços de  opinião para contrapor a he ge m onia do proce sso dom inante , Sally Burch re fe riu­se  às rápidas m udanças da socie dade  conte m porâne a, que , ao m e sm o te m po e m  que  assistiu à e volução te cnológica, pre se nciou a criação de  form as de  controle  sobre  e ssas inovaçõe s. "Som e nte  60% das pe ssoas no m undo tê m  ace sso à Inte rne t", le m brou. Ela, ainda fe z alusão ao pode r confe rido às m assas com  a globalização. "Atravé s da Inte rne t, te m os grande s possibilidade s de  le vantar grande s m ovim e ntos sociais", avaliou e  citou a atual grandiosidade  do FSM, que , se gundo e la, só te ve tanto alcance  de vido à re de  m undial de  com putadore s. "Mais do que  transm itir m e nsage ns pode m os construir re de s de  articulação e  discutir proble m áticas", e nfatizou. Alé m  de  clam ar pe lo cum prim e nto da função social da m ídia, Sally Burch de fe nde u um am plo siste m a público de  com unicação com  am pla participação do cidadão, atravé s do e stím ulo à pluralidade  de  e x pre ssõe s. Finalizando Sally Burch disse : "A indústria da com unicação propiciou o fim  da pluralidade  das fonte s e  ao proce sso de participação na com unicação social. E se  não há de m ocracia nas com unicaçõe s, não há nas socie dade s". Susanna Ge orge  [na ve rdade , Susan Ge orge ] – do Movim e nto Isis Manila, um a O NG fe m inista de dicada às ne ce ssidade s de inform ação e  com unicação das m ulhe re s –, dividiu suas colocaçõe s e m  cinco pontos atre lados ao subjulgam e nto de coraçõe s e  m e nte s fe ito pe la m ídia, re sponsáve l por de finir o be m  e  o m al, o ce rto e  o e rrado, principalm e nte  no que  tange  às m ulhe re s. "É triste  quando as m ulhe re s no Japão que re m  te r caracte rísticas ocide ntais ou quando as e uropé ias m udam  o form ato do se u corpo se gundo caracte rísticas divulgadas na m ídia com o norm ais e  m e lhore s", lam e ntou a fe m inista. Susanna Ge orge  le m brou ainda que  a criação dos supe r­inim igos e  dos supe r­he róis, que  lidam  fre qüe nte m e nte  com  a noção do be m , assim  com o a norm alização do m ilitarism o foram  outros pontos citados com o filão da m ídia, que  se  apode ra de le s para adquirir audiê ncia. A ligação da O NU com  os organism os de  com unicação tam bé m  foi le vantada com o grande  pre ocupação pe la ativista, que  re ve la e x istê ncia de  doaçõe s de  dinhe iro para instituiçõe s fe itas por e m pre sas de  com unicação. Euge nio Bucci – pre side nte  da R adiobrás –, cham ou a ate nção sobre  a m udança dos ve ículos de  com unicação nos últim os te m pos, que  se  transform aram  e m  um a ne gação da vocação inicial do jornalism o. Para Euge nio Bucci, atualm e nte , o capitalism o conte m porâne o não fabrica m ais a m e rcadoria, m as, http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/iq050220037.htm

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sim  a sua im age m . Euge nio Bucci disse  que  a fabricação das im age ns dos produtos e stá se  colocando acim a de  qualque r e sforço civilizatório. C om o e x e m plo, citou a ope raçõe s com e rciais que  che gam  a faturar m ais que  o PIB de  vários paíse s. De ntre e las, e stá a ope ração e ntre  a AO L e  a W arne r, que , fe chada e m US$ 160 bilhõe s, ge rou um  grupo avaliado e m  US$ 320 bilhõe s, supe rando, conform e  e le , inclusive  a m e tade  do PIB brasile iro. Ao falar sobre  jornalism o, Euge nio Bucci disse  que  a inform ação foi absorvida pe lo ne gócio do e ntre te nim e nto, e  que  ve nde r, hoje , se  constitui no principal ne gócio da m ídia conte m porâne a. "As pe ssoas não se  dão conta que  são as próprias m e rcadorias e m  que stão", disse . E com ple m e nta le m brando que  a lógica usada hoje  e stá se ndo a de  obstruir a inform ação de m ocrática, fortale ce ndo a supe r­indústria form ada pe la inte nsificação dos proce ssos industriais. "A cultura e stá se ndo criada e  a be le za fabricada. Hoje , tudo que  é  e spe táculo vira notícia, as gue rras, a ciê ncia e  até  m e sm o a re ligião", e nfatizou Euge nio Bucci.

Será que a não­informação sobre a conferência por grande parte da imprensa gaúcha é uma confissão de mea­culpa? Ou a mídia gaúcha está acima do bem e do mal? Ou o que é pior, a mídia gaúcha é míope? Pois, em vários espaços do Fórum se discutiu a questão "mídia e ética", reflexo de uma preocupação em nível mundial. Talvez seja devido a esta postura por parte da imprensa gaúcha que se justifica o surgimento no Rio Grande do Sul de movimentos cívicos e apartidários em defesa de uma mídia norteada pela ética. (*) Profe ssor e m  Porto Ale gre Leia também

Mídia cobre tortas mas não cobre a mídia – Alberto Dines Comunicação, um direito humano – Dennis Barbosa

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