Cocaína no estudo da percepção de emoções

May 27, 2017 | Autor: Dianne Prado | Categoria: Neuroscience, Drugs And Addiction, Crack Cocaine
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Cocaína no estudo da percepção de emoções O uso de cocaína pode prejudicar o reconhecimento de emoções e as interações sociais Dianne da Rocha Prado | Agosto 2015

uso de cocaína contínua a ser um importante problema de saúde pública em todo o mundo, e os custos socioeconômicos resultantes são muito elevados. Segundo uma publicação do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) no ano de 2010, no Brasil as principais drogas causadoras de problemas socioeconômicas e de saúde pública são o álcool, nicotina e remédios controlados, como ansiolíticos e remédios para emagrecer, entretanto o consumo de cocaína aumentou entre estudantes da rede de ensino público e particular em relação aos anos de 2004 a 2010. Além disso, há diversas evidências de que o uso de cocaína é responsável por modificações em regiões específicas do encéfalo, o que contribui com o fato de os usuários dependentes desta substância atribuírem importância excessiva a droga, podendo tomar medidas extremas para adquiri-la, negligenciando seus deveres sociais e colocando menos esforço e valor nas relações com seus amigos e familiares. Estas evidências são apoiadas por estudos que realizaram imagens do encéfalo e que encontraram alterações estruturais e funcionais de regiões responsáveis pelo comportamento social em usuários com uso prolongado de cocaína.

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As emoções possuem uma função social e desempenham um papel

(Foto: Pixabay)

muito importante nas relações entre pessoas. Ainda há poucas pesquisas indicando que usuários de cocaína possuem déficits nas tarefas de cognição social, ou seja, nas funções que possibilitam as pessoas de reconhecer emoções nos outros e nelas mesmas. A novidade é objeto de estudo de pesquisadores do Hospital Universitário de Psiquiatria de Zurique, Suíça. Para isso, um moderno teste computadorizado chamado CATS-A, auxilia na avaliação de distúrbios do processamento de emoções expressas através do rosto humano e pela entonação da voz, foi utilizado em 58 usuários de cocaína e 48 indivíduos saudáveis (não usuários de cocaína) que foram selecionados por idade, sexo, inteligência verbal e anos de educação. Além deste teste, todos os voluntários foram submetidos a rigorosos controles toxicológicos, entrevistas, questionários e testes cognitivos cuja finalidade foi avaliar o consumo de cocaína, outras substâncias, transtornos psicológicos e a vida cotidiana, assim como verificar uma possível relação entre dose e duração de utilização da cocaína com o declínio cognitivo.

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A partir das informações coletadas, os pesquisadores observaram que os usuários de cocaína apresentaram um reconhecimento geral de emoções significativamente inferior se comparados aos indivíduos saudáveis. Os usuários da droga possuem uma menor capacidade no reconhecimento de entonação da voz e na integração de informações sensoriais distintas, como a informação visual mais auditiva, por exemplo. O uso prolongado e as doses crescentes de cocaína foram associados não somente com um pior desempenho no reconhecimento de emoções como também com uma menor rede social por parte destes indivíduos, alterações estas que podem ser observadas já desde as primeiras utilizações da droga. Além disso, déficits no reconhecimento geral de emoções e reconhecimento de entonação da voz foram associados com um tamanho de rede social menor em dependentes e não dependentes de cocaína.

déficit cognitivo é mais pronunciado quando o consumo é iniciado antes dos 18 anos. Desta forma, pode-se concluir que uma educação precoce e não moralista sobre as reais consequências do uso de substâncias como a cocaína devem ser discutidas no mais tardar no início da puberdade, sendo necessário mais investimento em políticas de prevenção do uso de cocaína e seus derivados entre os adolescentes. Referências Bucks, R. S.; Radford, S. A. "Emotion processing in Alzheimer's disease." Aging & mental health, 8.3: 222-232, 2004. Hulka LM, Preller KH, Vonmoos M, Broicher SD, Quednow BB Cocaine users manifest impaired prosodic and crossmodal emotion processing. Front Psychiatry, 4:98, 2013. Quednow, B. B. “Kokain und das Ego: Soziale Kognition bei okainkonsumenten”. Suchtmagazin, 28-32, 2013.

Para esses pesquisadores, essa relação entre esses déficits no reconhecimento de emoções complexas com a vida cotidiana e as evidências de estudos anteriores, mostra que o apoio social é um fator fortemente associado a um maior sucesso na abstinência. Além do mais, pesquisas futuras devem se esforçar para examinar se tratamentos que busquem reverter estes prejuízos de interação social poderiam auxiliar o tratamento convencional. Outro ponto defendido por um dos pesquisadores, Boris B. Quednow, em uma revista alemã, é que devemos manter os jovens em desenvolvimento afastados da cocaína, uma vez que o 2

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