COLAGENS TEMPORAIS Na fronteira entre a representação e a criação da paisagem Fernanda Tomiello1 Eduardo Rocha2 Maurício Couto Polidori3 Alisson Vieira Santos4
Palavras-chave: cidade; paisagem; fotografia; imagem, colagem. Este trabalho é um desdobramento da dissertação de mestrado que está sendo desenvolvida por Fernanda Tomiello, no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas, discutindo e explorando as relações espaço-temporais que se manifestam na paisagem urbana a partir de um ensaio fotográfico realizado na Laguna dos Patos, situada no Bairro Laranjal/Pelotas/RS, durante um pôr-do-sol em agosto de 2013. Com foco no estudo da dinâmica visual da paisagem urbana, mediante cruzamentos espaço-temporais, representados através de imagens que integram técnicas de fotografia sequencial e fotomontagem, este trabalho vai ao encontro de Peixoto (2004, p. 13), que entende que a paisagem da cidade, além de integrar e relacionar aspectos físicos, históricos, culturais e sociais da vida urbana, também é constituída pelo cruzamento entre diversos espaços e tempos. Assim, as ideias convergem para a necessidade de ampliação das formas de representação e criação da paisagem urbana, através de imagens que caracterizam colagens temporais, entendendo que a integração entre fotografia sequencial e fotomontagem é uma possibilidade com potencial para ser explorada. Também segundo Peixoto (2004, p. 11), a paisagem não se esgota naquilo que é visto em um determinado momento, sendo cada leitura um mero fragmento, uma fatia de um universo infinitamente maior. Dessa forma, parece possível contribuir para um entendimento mais amplo da paisagem urbana, especialmente da sua dinâmica visual e explorar algumas possibilidades de composição a partir de imagens capturadas, procurando explicitar características e potencialidades de diferentes
1
Estudante de Mestrado no PROGRAU-UFPel.
[email protected]. Professor de Mestrado no PROGRAU-UFPel.
[email protected]. 3 Professor de Mestrado no PROGRAU-UFPel.
[email protected]. 4 Aluno especial no PROGRAU-UFPel.
[email protected]. 2
alternativas de colagens temporais. Conjuntamente está sendo utilizado o método de cartografia, que busca a investigação na dimensão processual da realidade e pressupõe que o ato de conhecer é criador da realidade, colocando em questão o paradigma da representação (Kastrup, 2013, p. 264-265). O ensaio fotográfico do pôr-do-sol foi realizado em agosto de 2013 e teve duração de 76 minutos. Nesse intervalo de tempo foram capturadas 1.131 imagens, uma a cada 5 segundos. A figura 1 é uma justaposição de todas essas imagens, a partir das quais foram criadas as figuras 2 e 3 (além de outras variações). Esse trabalho também experimenta o vídeo como possibilidade de composição, sendo que o vídeo criado a partir desse ensaio pode ser acessado no link www.vimeo.com/72703652. Esse tipo de vídeo, segundo Chylinski (2012), permite manipular o tempo, pois possibilita visualizar em segundos objetos e eventos que levam alguns minutos, dias e até mesmo meses para acontecer.
Figura 1: 1131 imagens capturadas num pôr-do-sol de agosto de 2013. Fonte: acervo de Fernanda Tomiello, 2013.
As figuras 2 e 3, adiante, exploram a ideia de que as pessoas normalmente observam uma imagem isolada por um curto período de tempo, pois conseguem compreendê-la rapidamente, enquanto que uma fotomontagem é capaz de deter a atenção do expectador por um tempo mais prolongado e, além disso, aproxima-se do modo como observamos uma cena, não tudo de uma única vez, mas uma composição de várias visadas. Segundo Burrill (2001, p. 12), essa é a ideia estrutural da teoria de fotocolagem (termo análogo à fotomontagem) de David Hockney.
A figura 2 é uma composição elaborada através da justaposição de fragmentos circulares de 30 imagens da mesma sequência fotográfica. Nesta colagem, o intervalo entre cada fragmento é de aproximadamente três minutos e a imagem toda contempla 76 minutos.
Figura 2: colagem elaborada com 30 imagens da sequência fotográfica. Fonte: acervo de Fernanda Tomiello, 2013.
A figura 3 é uma colagem temporal que reconstitui a cena apenas parcialmente, deixando espaços vazios que forçam o espectador a imaginar o que há além do que está representado, a completar mentalmente a cena, a unir os fragmentos.
Figura 3: composição que reconstitui parcialmente a cena a partir de 9 imagens. Fonte: acervo de Fernanda Tomiello, 2013.
Por fim, pode ser concluído que uma imagem que incorpora a dimensão temporal da paisagem pode ser considerada ao mesmo tempo mais criativa e mais representativa do que uma imagem convencional, pois não se limita a um instante específico e foge da homogeneidade visual das imagens tradicionais. Além disso, a integração entre fragmentos espaço-temporais da paisagem permite representar processos e não apenas estados, relações e não apenas objetos, ao criar simultaneidade de coisas que não são simultâneas, ao justapor coisas que não são vistas justapostas no dia-a-dia e ao colocar lado a lado frações espaçotemporais que normalmente só podem ser observadas em um longo período de tempo. Também pode ser destacado o potencial criativo do processo utilizado (fotografia sequencial e fotomontagem), que amplia as possibilidades de representação e de apreensão e possibilita construir imagens potentes, perturbadoras e com forte aspecto conotativo.
REFERÊNCIAS BURRILL, Christine. Fotocolagens. São Paulo: Instituto Moreira Sales. 2001. CHYLINSKI,
R.
Time-lapse
Photography: A
Complete
Introduction to
Shooting, Processing, and Rendering time-lapse Movies with a DSLR Camera. Disponível
em:
.
Acesso em: 31 dez. 2012. KASTRUP, Virgínia; PASSOS, Eduardo. Cartografar é traçar um plano comum. Fractal,
v.
25,
n.
2,
p.
263-280,
2013.
Disponível
. Acesso em 06 set. 2013. PEIXOTO, Nelson Brissac. Paisagens Urbanas. São Paulo: Senac, 2004.
em
