Colóquio Paisagem e Patrimônio: A ponte de pedra suspensa na paisagem pelo tempo!

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A PONTE DE PEDRA SUSPENSA NA PAISAGEM PELO TEMPO!

BIER, LUCILE LOPES; CARON, DANIELE; COELHO, LETÍCIA CASTILHOS; MARTINS, MARINA CANÃS; PANITZ, LUCAS MANASSI; PIMENTEL, MAURÍCIO RAGAGNIN; PUNTEL, GEOVANE APARECIDA; RANGEL, MÁRIO; SCHWERZ, JOÃO PAULO; SILVA, LUÍS ALBERTO PIRES DA; VERDUM, ROBERTO; VIEIRA, LUCIMAR DE FÁTIMA DOS SANTOS. UFRGS. Laboratório da Paisagem PAGUS/ Departamento de Geografia/ Instituto de Geociências Av. Bento Gonçalves, 9.500. CEP: 91.509-900 - Porto Alegre - RS - BRASIL [email protected]

RESUMO No artigo se discute a reestruturação ou requalificação funcional e simbólica de um monumento histórico ao sofrer uma intervenção no espaço público, sendo esta analisada pelo referencial teórico-metodológico da abordagem perceptiva. A Ponte de Pedra, localizada em Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, no Largo dos Açorianos, foi construída em 1846, em substituição a uma ponte de madeira (construída em 1825) erguida quase no mesmo local. A ponte ligava as chácaras da zona sul (área rural) ao centro da cidade, mas em 1937, o arroio Dilúvio começou a ser retificado e a ponte perdeu a sua função. Mas, ela sobreviveu às mudanças do espaço urbano e as suas funcionalidades estão marcadas na paisagem, como memória do tempo passado, transformada em “testemunha de pedra”. A ponte foi um dos primeiros cinco monumentos tombados pelo município em 1979, sendo projetado na reurbanização do seu espaço de entorno um espelho d´água sob seus pilares em arco. A abordagem perceptiva no estudo da paisagem urbana se interessa pelo modo como os indivíduos percebem e tomam decisões a respeito da cidade e seus monumentos históricos. A problemática na qual se focaliza este estudo está em saber qual a percepção dos transeuntes na transformação da paisagem e na perda de um monumento de identidade cultural e histórica. A produção cultural se dá no espaço e no tempo, e os momentos históricos são relictos de sobreposição de percepções e funcionalidades refletidas nas paisagens. Ou seja, será que este patrimônio, resultado de um processo histórico/cultural, deve conviver com os elementos que compõe uma nova paisagem?

Palavras-chave: paisagem; patrimônio; monumento histórico; Ponte de Pedra, Largo Açorianos; Porto Alegre.

INTRODUÇÃO Refletir sobre a noção de patrimônio, atualmente, requer compreender o contexto de transformação a que estão submetidas às paisagens, às sociedades e os territórios, revisando o impacto dos fenômenos da globalização sobre a sociedade e a crise de valores que dela deriva. Pois, a vulnerabilidade daquilo que se pretende conservar ou proteger está relacionado com a transferência semântica, que sofreu a palavra “patrimônio” ao longo das últimas décadas. O fenômeno do patrimônio se transforma a cada dia em culto mediático que nada tem a ver com os laços de co-determinação existentes entre o indivíduo, o ato de rememorar e o objeto que reflete esta memória. A proteção institucional do patrimônio 1 histórico iniciou-se somente no século XIX, na França. Segundo Choay (2001), durante a Revolução Francesa inicia-se o grande processo de apropriação da "propriedade nacional", com o sequestro e confisco de bens da igreja, da coroa e da aristocracia. Para conservar os bens criou-se a ideia do patrimônio coletivo, ou seja, de um valor de nacionalidade, de interesse de todos os cidadãos e de uma história coletiva. Paradoxalmente, esse período, também, é fortemente influenciado pela destruição que ganha o país e torna-se incontrolável, pelo desejo de “apagar” todos os símbolos da realeza e a necessidade de fazer armas. Em 1794, na luta contra este vandalismo, o abade Grégoire (membro do parlamento) se opõe à destruição de certos locais representativos (certains lieux emblématiques) da história da França e concebe o atributo de "monumento 2 histórico". François Guizot (historiador, professor, vice-ministro do Interior – criador da política do patrimônio, em 1830), assim como Grégoire, considerava o patrimônio uma ferramenta que, juntamente com a escola, poderia sensibilizar os cidadãos do país para participarem da construção de uma identidade nacional e do Estado-Nação (VIEIRA, 2014). Choay (2001) explica que as grandes mudanças ocorridas no espaço geográfico e o ritmo acelerado da sociedade decorrentes da Revolução Industrial (países como Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos) produziram uma crise de identidade e, consequentemente, uma

1 A palavra patrimônio vem do latim patrimonium, herança, isto é, conjunto de bens de família, transmitidos por herança (a herança, a propriedade da família transmitida pelo pai „pater‟ e pela mãe); conjunto de bens herdado ou adquirido de uma pessoa, instituição ou empresa; e o conjunto dos bens materiais e imateriais de uma nação, estado, cidade, que constituem herança coletiva e são transmitidos de geração a geração, (AZEREDO, 2013). 2 Monumento, origem latina monumentum, derivado do verbo moneo (se remémorer). Obra erigida em honra de alguém ou para comemorar algum acontecimento notável. Edifício grandioso, digno de admiração pela sua 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

tentativa de resgate para compor uma visão nostálgica do passado. Ao término da Primeira Guerra Mundial, a preocupação com o patrimônio histórico estendeu suas fronteiras aos demais países europeus e americanos (VIEIRA, 2014). Se por um lado a trajetória delineada pela conservação do patrimônio ao longo do tempo remete à valoração de âmbitos cada vez mais amplos e complexos, por outro, no século XX começa o processo de patrimonialização da paisagem. Tal como o patrimônio em sua época, o conceito de paisagem entra no rol das discussões intelectuais e científicas transformando-se em simulacro 3 de um ideal paisagístico obsoleto para o contexto contemporâneo, pleno de desigualdades sociais e econômicas e de complexa diversidade. No Brasil, a proteção efetiva da paisagem é ainda um desafio, apesar dos grandes progressos a respeito da legislação ambiental e dos diversos instrumentos vigentes para a proteção dos bens culturais4. Recentemente, em 2009, foi criada pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Nacional a Chancela da Paisagem Cultural Brasileira, um instrumento de reconhecimento do valor cultural de um recorte definido do território nacional, que possui características especiais quanto à interação homem-meio.

Sua finalidade é atender ao interesse público por

determinado território que constitua parte da identidade brasileira. O instrumento se configura como um pacto entre poder público, sociedade civil e iniciativa privada, resultando em uma gestão compartilhada da paisagem protegida5. Entretanto, o estudo de algumas metodologias de conservação patrimonial, requalificação de centros urbanos, proteção de paisagens rurais e urbanas, tanto em países europeus como no Brasil e América Latina, demonstram que ainda há um longo caminho a percorrer, no sentido de reafirmar o papel da paisagem na gestão do patrimônio, resgatando o conceito em seu sentido fenomenológico. Ao entender a paisagem como um modo de olhar, ou como explica COSGROVE (1998, p.98), “um modo de compor e harmonizar o mundo externo em uma cena, em uma unidade visual”, é possível compreender que o homem constrói a paisagem, e ao mesmo tempo, é construído por ela. Os múltiplos e sucessivos olhares sobre um território participam do esquema de percepção do ser humano, construindo o imaginário coletivo sobre determinadas

estrutura ou pela sua antiguidade. Qualquer obra intelectual ou material que pelo seu alto valor passa à posteridade, (AZEREDO, 2013). 3 JACOB, M. Metacrítica del Omnipaisaje. Seminario Internacional Teoría y Paisaje, reflexiones desde miradas interdisciplinarias. Departament d‟Humanitats e Institut Universitari de Cultura de la Universitat Pompeu Fabra y Observatori de Paisatge de Catalunya. Febero 2010 ”Los que hablan, siempre y sin parar, de paisaje se refieren más bien al entorno, al territorio, al país. El signo paisaje se presenta así como un simulacro, como un término fetiche que enmascara, al mismo tiempo que es empleado y porque está ahí, dispuesto a serlo, su destinación permanente.” 4 A Carta brasileira da paisagem 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

espacialidades. Este imaginário, por sua vez, é a matéria prima com a qual as sociedades transformam este território. A fenomenologia da paisagem está intrinsicamente relacionada com o conceito de tempo de modo que não há nada fixo, estático ou imutável. O caráter dinâmico e mutante da paisagem em relação à imprevisibilidade da própria natureza, e, principalmente, das concepções de uma sociedade, a caracterizam como um meio volátil, difícil de manipular e em constante transformação. A partir desta noção de tempo condensado, na qual podem coexistir diferentes realidades, passado, presente e futuro, se chega novamente ao tema da memória. A memória é um dos agentes que determinam a crescente complexidade da paisagem, já que se acumula em extratos ao longo do tempo. Nas pedras, caminhos, na simples andança do viajante, se depositam infinitas histórias que por um lado compõe a paisagem tal como é, e por outro, gera uma diversidade causada por esta sobreposição de leituras. O conjunto destas interpretações da paisagem ocorre em diferentes medidas, e pode crescer onde a paisagem ocorre a partir de dicotomias e dualidades como o urbano-rural, o centro-periferia, o natural-construído, o passado-presente. Gonçalves (2002) explica que ocorreram dois discursos na construção do conceito de patrimônio: de “monumentalidade” e do “cotidiano”. A visão da monumentalidade, de origem francesa, que se generalizou mundialmente e firmou-se como uma expressão de grandiosidade, de beleza e de intocabilidade, que por sua vez, advém de um “sentimento de monumentalidade como preocupação estética”. O outro discurso, chamado de cotidiano, prioriza outros valores, como a experiência pessoal e coletiva dos diversos grupos sociais, constituindo o patrimônio como uma representação da diversidade cultural presente em uma sociedade.

A PONTE DE PEDRA DE PORTO ALEGRE Conforme CHOAY (2001, p. 207) chama a atenção para a Convenção Mundial do Patrimônio, em 1972, como marco simbólico da proteção do patrimônio cultural e natural, na qual se cria um conjunto de obrigações relativas à identificação, proteção, conservação, valorização e transmissão do patrimônio cultural às futuras gerações. O texto aponta os estados membros da convenção como responsáveis pela identificação deste patrimônio, e posteriormente pelos programas de educação e de informação, nos quais “deverão fazer 5

http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1756 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

o possível para estimular em seus povos o respeito e o apreço do patrimônio cultural e natural”. A Ponte de Pedra, ou Ponte dos Açorianos, situada no bairro Centro, em Porto Alegre, como ficou conhecida pelos porto-alegrenses, se constitui em interessante elemento para a discussão sobre o processo de patrimonialização da paisagem. Inicialmente, construída para “vencer” o leito do Arroio Dilúvio e conectar a península central com a zona sul da cidade, este elemento aparece nos dias de hoje como uma lembrança de um passado distante. Tendo em vista a Convenção Mundial do Patrimônio, o poder público identificou a ponte como patrimônio cultural e reservou uma estrutura com funcionalidade de área verde – praça. Destinou recursos para sua identificação em roteiros turísticos. Contudo, mais uma vez nos deparamos com o cancelamento do processo de rememorar que estaria na base do conceito de monumento e de todos os elementos a ser valorados como patrimônio; um processo de apreensão conduzido pelo Estado, na maioria das vezes distanciado da participação efetiva da sociedade e não mais o fenômeno de invocar o passado, através da memória que se sustenta na arquitetura, na cidade, na paisagem. A história desse monumento se confunde com a história dessa localidade, periférica ao desenho urbano da “cidade velha” de Porto Alegre. No momento em que se retifica o Arroio Dilúvio, na Avenida Ipiranga, se decide salvaguardar este elemento construído, assegurando sua permanência numa paisagem, que desde então vem sofrendo uma série de transformações, atreladas obviamente ao desenvolvimento da cidade contemporânea. A Ponte de Pedra é hoje uma espécie de “colagem” no cenário da metrópole porto-alegrense, trazendo recordações aos mais antigos e causando certo questionamento ao transeunte mais atento à paisagem. Um elemento para fixar o olhar de quem observa a cidade histórica transformada pelos altos edifícios da Avenida Borges de Medeiros, branca, com pesados pilares que hoje repousam em um pequeno lago que faz alusão ao antigo leito do arroio. Para quem olha a cidade moderna, os edifícios públicos e institucionais do lado oposto a ponte, também, é emblemática e se relaciona visualmente com uma grande escultura em homenagem aos açorianos, colocada ali anos mais tarde. O traçado simples e robusto da Ponte de Pedra contrasta com a placidez do curso d‟água, sobre a qual está assentado, um espelho d´água. Seu fluxo, por sua vez, parece inerte comparado ao potente viaduto que existe apenas há alguns metros em paralelo. Como aquela ponte ficou em tal situação? Nessa seção procuraremos trazer o contexto histórico das 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

intervenções urbanísticas deste equipamento que teve importância crucial para integração do território porto-alegrense e cuja função foi subvertida em monumento. O povoamento do que viria a ser Porto Alegre iniciou com a vinda de 60 casais açorianos em 1752, instalados precariamente na ponta do gasômetro, enquanto aguardavam as definições políticas entre as coroas ibéricas para saber se seguiriam, ou não, ao seu destino final, as missões jesuíticas da margem oriental do rio Uruguai. Acabaram ficando, e em sua homenagem é erigida a escultura de Carlos Tenius (1973) na outra margem da Avenida Loureiro da Silva, em frente à Ponte de Pedra, motivo pelo qual a região é conhecida como Largo Açorianos. Vinte anos depois, em 1772, a cidade é elevada à vila, e, um ano após, devido à posição estratégica do ponto de vista militar e comercial, visto que desde seu promontório era possível controlar o fluxo de embarcações entre a Laguna dos Patos e os rios do interior do território, instalou-se ali em 1773 a capital. Neste século XVIII, além de uma economia de subsistência, Porto Alegre destacava-se pela produção de trigo. Os porto-alegrenses embarcavam em direção aos balneários da Zona Sul na Estação Ildefonso Pinto (próxima ao Mercado Público) ou na Estação Riacho (próxima à desembocadura do arroio Dilúvio e da Ponte de Pedra), figura 01. Segundo Alves (2001, p. 18) “nos finais de semana, esperar o trem, viajar e tomar banho no rio era um divertimento sublime”.

Figura 01: Estação do Riacho, Ponte de Madeira e Ponte de Pedra Fonte: Alves, 2001. 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

No caminho, para as chácaras da zona sul da cidade, havia um limite a ser transposto, o Arroio Dilúvio (na época, chamado de Riacho, Riachinho, Arroio da Azenha), hoje canalizado entre as margens da Avenida Ipiranga. Quando o Conde da Figueira faz abrir o „Caminho de Belas‟, atual Avenida Praia de Belas, entre 1818-1820, para realizar essa conexão, não havia meio de transpor o arroio. Assim, no governo do Visconde de São Leopoldo foi construída uma ponte de madeira sobre ele (Figura 02), um pouco mais abaixo, de onde fica a atual Ponte de Pedra. Devido às cheias do arroio Dilúvio, essa ponte de madeira sofreu repetidos danos e teve de passar por várias reconstruções, no período de 1825-1844.

Figura 02: Antiga ponte de madeira. Fonte: SANTOS, 2010

Pouco mais a leste, sobre este mesmo arroio estava a ponte da Azenha, cuja transposição pelas tropas farroupilhas deu início da Guerra dos Farrapos (1835-1845) e o cerco a Porto Alegre. A capital manteve-se fiel ao Império, motivo pelo qual recebeu de D. Pedro o título de „mui leal e valorosa‟, hoje estampado em seu brasão. Finda a guerra, o General Lima e Silva, mais tarde Duque de Caxias, assume o governo da província rio-grandense. É durante seu mandato que faz construir uma nova ponte na embocadura da Rua da Figueira, desta vez opta-se por uma obra durável, construída em alvenaria. De acordo com Franco (1988, p. 324), no relatório de 1º de março de 1846, Caxias relata: Depois de ter mandado consertar por várias vezes a ponte de madeira do Riacho, nesta cidade, tive por mais vantajoso, atendendo ao seu estado de ruína, de fazer construir nova ponde de pedra na embocadura da rua da Figueira, como lugar mais favorável ao trânsito público; feita a planta e o orçamento, pôs-se a obra em arrematação e já nela se trabalha.

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O empreiteiro açoriano, João Batista Soares da Silveira, foi designado com construtor da obra, que, realizada com trabalho escravo, terminou em 1854. No entanto, desde 1848, ainda inacabada, foi aberta ao público. Segundo Weimer (2001, p.12) as antigas pontes romanas serviram de modelo para a Ponte de Pedra. “A ponte romana é composta por três arcos plenos, apoiados em duas fundações enterradas nas margens do antigo riacho e sobre dois pegões de pedra aparelhada.” (FRANCO, 1988) Assim como em outras edificações de Porto Alegre, o traçado militar da ponte é reflexo do momento em que foi erguida, quando a cidade assumia proeminência nesse campo, tendo em vista às disputas fronteiriças da época. A iconografia ainda atesta o arroio como via de comunicação entre os arrabaldes e o centro da cidade, trazendo lenha, verduras, hortaliças e frutas em canoas (Figura 03). Segundo Santos (2010, p. 32) na memória dos antigos moradores ainda persistem imagens e “o ruído que faziam as lavadeiras, batendo roupa nas tábuas, principalmente na praia do Riacho, localizava-se após a Ponte de Pedra”. Outro uso documentado é prática de atividades de lazer, como a pesca, o banho, e de esportes náuticos, como o remo.

Figura 03. Fonte: http://laboratorioart.blogspot.com.br/2011/09/ponte-de-pedra-em-labirintos-da.html

Nos anos de 1930, têm início importantes reformas urbanas em Porto Alegre, duas com especial interesse para o contexto da Ponte de Pedra. A primeira é a abertura da Avenida Borges de Medeiros, que hoje passa sobre o viaduto ao lado da ponte. A segunda, que

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tardaria décadas, é o início da canalização e retificação do arroio Dilúvio, desviando seu curso e tornando a ponte desnecessária, já nos anos de 1950. Contudo, é na década de 1970, que o espaço ao redor da ponte irá adquirir sua configuração paisagística atual. Como a maior parte das capitais brasileiras, Porto Alegre teve um expressivo crescimento demográfico na segunda metade do século XX, passando de 394.151 habitantes em 1950 para 885.545 em 1970, ou seja, um aumento de 124%. Com o autoritarismo do regime militar e o dinheiro do “Milagre Brasileiro” esse período é caracterizado por grandes intervenções, sobretudo na malha viária da cidade. A Ponte de Pedra encontra-se cercada por essas intervenções, ficando no centro de uma das alças de acesso ao Viaduto dos Açorianos, no cruzamento da Avenida Borges de Medeiros, com a Avenida Loureiro da Silva, outra das intervenções do período, também conhecida como perimetral, que contorna o Centro da cidade. Percebe-se nesta nova fase à adesão a certos princípios modernistas, como a setorialização da cidade, assim neste período cria-se um novo centro administrativo exclusivo para essa finalidade, para o qual se transfere algumas das funções antes localizadas na parte histórica da cidade. Outro elemento é o privilégio à circulação feita em vias expressas por veículos automotores privados. A Ponte de Pedra passa então, assim como o monumento de ferro instalado na alça de sentido oposto do viaduto, a uma função estética e, também, como um marco da memória dos tempos provinciais da, agora, cidade moderna. Nessa época de grandes intervenções alguns bens importantes para memória e identidade urbana de Porto Alegre estiveram ameaçados. Em 1971, foi nomeada uma comissão formada por funcionários municipais para realizar um levantamento dos bens imóveis de valor histórico e cultural, de expressiva tradição para a cidade, para fins de proteção. Essa comissão foi resultado de Emenda à Lei Orgânica Municipal que determinou a elaboração da listagem. No relatório da comissão, foram definidos cinquenta e nove itens agrupados por temas: casas com azulejos, templos e edifícios religiosos, hospitais, edifícios públicos, asilos, próprios particulares, prédios em estilo colonial, outros estilos e peças avulsas (MEIRA, 2004, p.76). “Afinada com a noção de monumento isolado consagrada a época, essa listagem pinçava exemplares significativos remanescentes da arquitetura da cidade, não se limitando à área central e diversificando nos programas arquitetônicos” (MEIRA, 2004, p.77). A Ponte de Pedra já consta dessa primeira listagem, por ser o única remanescente do tempo do império (MEIRA, 2004, p 163). Em 1974 a listagem foi revisada por uma nova comissão, formada na sua maioria por arquitetos e historiadores. Foram excluídos vários bens considerados sem interesse, em estado avançado de deterioração ou já demolidos. A Ponte 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

de Pedra manteve-se arrolada entre os bens a preservar. Esse relatório transformou-se na Lei 4317/77, e em 1979, quando o município cria o instrumento do tombamento pela Lei 4.665/79, a Ponte de Pedra é tombada, aumentando ainda mais seu grau de proteção e reconhecimento público. A Ponte de Pedra foi um dos primeiros bens tombados, junto a outras propriedades municipais: Paço dos Açorianos, Mercado Público, Solar de Lopo Gonçalves e a Capela do Bom Fim (MEIRA, 2004, p.86). Observando a iconografia recente da Ponte de Pedra, percebe-se, o contraste de sua alvura na maior parte das fotos, com as inscrições e intervenções que hoje ali se materializam. Isso abre um próximo capítulo que são as apropriações contemporâneas da Ponte de Pedra que ficou suspensa no tempo.

NOVAS

PASSAGENS

E

FUNCIONALIDADES

DA

PAISAGEM

MEDIADA PELA PONTE DE PEDRA A Praça dos Açorianos e a sua Ponte de Pedra, que liga suas extremidades, sob um lago artificial, marca a transição do centro histórico de Porto Alegre e boêmio bairro da Cidade Baixa. É a linha imaginária do território da administração pública, com seus prédios construídos a partir da década de 70 (século XX), invadindo as águas do Guaíba, carregados por um manto de aterro. A ponte é um “fantasma” que assombra as sensações históricas dos transeuntes, que lhes dispensam alguma atenção. O lago artificial que ela atravessa é lembrança do arroio que constantemente insistia em alastrar-se muito além de suas margens. Ocupava o terreno abandonado em momentos de seca. Hoje, os antigos arcos e as fundações da ponte estão parcialmente imersos no lago, talvez lembrança das outroras enchentes históricas dessa região. O monólito rochoso que carrega seus aventureiros turistas até suas extremidades, ainda é um objeto simbólico. Ao passar do tempo, percorreu funcionalidades diversificadas, despertou sensações múltiplas nos seus contempladores: juras de amor podem ter sido prometidas em seu cume, roupas foram higienizadas nas águas; por entre seus arcos, como se fossem pernas abertas, deixou passagem para a navegação de pequenos barcos; ligou por muito tempo localidades órfãos da Porto Alegre histórica; encantou artistas que guardaram para posteridade suas formas, cores, texturas, luzes e sombras em pinturas e fotografias.

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Segundo Georg Simmel (1996, p.11), A ponte se torna um valor estético, não somente quando estabelece nos fatos e para a realização dos seus objetivos práticos uma junção entre termos dissociados, mas também na medida em que a torna imediatamente sensível. Ela oferece ao olhar, ligando as partes da paisagem, o mesmo suporte que oferece ao corpo para satisfazer a realidade da praxis. A simples dinâmica do movimento, em cuja efetividade vem se esgotar a cada vez o "objetivo" da ponte se faz visualmente durável, assim como o quadro imobiliza à sua maneira o processo vital, físico e psíquico pelo qual se cumpre a realidade do homem, e que ele comprime numa única visão - estável pela sua intemporalidade, como não mostra nem pode mostrar a realidade factual toda a agitação desta realidade que decorre no tempo. A ponte empresta um sentido último, superior a todo o sensível, uma figura particular que não mediatiza nenhuma reflexão abstrata e que recolhe em si a significação prática da ponte, trazida à forma visual, como a obra de arte pode proceder com o seu "objeto".

Weimer (2001, p. 12) cita que A ponte de Pedra foi mutilada – há muito tempo foram-lhes suprimidas as luminárias nos extremos das amuradas; o calçamento foi reformado com pedras diferentes e, mais recentemente, foi-lhe adicionado um revestimento em forma de reboco a esconder a estrutura original que lhe deu o nome. O tal espelho d‟água teria melhor destino se refletisse a fisionomía arrependida de quem ordenou afogar os talhamares que, adicionados aos acanhados pilares, davam passagem para qualquer canoa, com remador de pé, sob o arco central.

No presente, suas funções reservam um tempo para a travessia, mas diversificam-se: é ponto de encontro para de funcionários que apreciar a vista do seu lago artificial, enquanto queimam mais um cigarro e inundam o corpo de lembranças descompromissadas e nicotina. Sua paisagem está ajardinada com belos exemplares de jacarandás, cedros e outras lenhosas frondosas, sombreando seus limites e conferindo um caleidoscópio de luz e sombra. Moradores de rua buscam abrigo junto a suas pilastras em arco; boêmios marcam encontros nos seus limites e moradores marcam piqueniques e almoços em suas sombras e nos seus solares. Territórios efêmeros, com dia e hora para ocupação e desocupação, são construídos, reivindicados por grupos de diferentes nichos, nunca se sobrepondo, mas complementando o mosaico funcional dessa paisagem com o enclave de pedra. O público noturno que se localiza na ponte e seu entorno é conhecida como "Tutti", apelido de Tutti Giorni, um bar que se localizava nos altos do viaduto Otávio Rocha, também no Centro. 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

O bar era ponto de encontro de cartunistas e artistas. Como o tempo, o público engrossou com estudantes universitários que se reuniam sempre às terças-feiras. Após o fechamento do bar, devido às dívidas e reclamações de moradores pelo excesso de barulho, o Tutti Giorni se mudou para outro lugar, perto da Ponte de Pedra, em um prédio de uso comercial no térreo e residencial nos outros andares. O ponto de encontro, já exclusivamente universitário, reunia muitos estudantes vinculados às manifestações sociais na cidade, integrantes de diretórios acadêmicos, ativistas sociais e artistas da cena alternativa. Com a justificativa do excesso de ruído aos moradores e da falta de alvará para o funcionamento do bar, a Secretaria Municipal de Indústria e Comércio determinou o fechamento do mesmo. Neste momento é que o público de terça-feira à noite passou a se reunir na Ponte de Pedra. Nota-se que a microterritorialidade do chamado "Tutti" se deslocou de um objeto histórico - o Viaduto Otávio Rocha - para outro - a Ponte de Pedra. Articulado com este movimento sabe-se que o público é o mesmo de outros tipos de reivindicação pelo espaço público na capital, como o Largo Vivo (movimento de ocupação do Largo Glênio Peres em frente ao Mercado Público após a abertura deste para o estacionamento de carros a partir do fim da tarde), o Vaga Viva (movimento que ocupa aleatoriamente as vagas de estacionamento ao longo da rua movimentadas e desenvolve micro-territórios de convivência e atividades artísticas e culturais), o Ocupa Cais Mauá (movimento que questiona a revitalização do cais e seu ímpeto gentrificador) e o Massa Crítica (movimento mundial de ciclistas que ocupa as ruas toda a última sexta-feira do mês). Portanto, acreditamos que o movimento que ora produz a ocupação da Ponte de Pedra, nas terças-feiras à noite, está intimamente ligado à luta pelo direito à cidade e aos espaços públicos, apropriando-se de geossímbolos (Bonnemaison, 2002) consagrados da cidade objetos históricos como pontes, largos, cais, entre outros. Essas microterritorialidades, no seu conjunto, expressam também a luta pela paisagem que, para ser mantida, deve ser ocupada pelos grupos sociais.

PERCEPÇÕES SOBRE A PONTE DE PEDRA Para a pesquisa de campo sobre a percepção dos transeuntes na transformação da paisagem e na perda de um monumento de identidade histórica e cultural – a Ponte de Pedra no Largo dos Açorianos se utilizou o método qualitativo, com entrevista aberta para a coleta de dados. A estrutura do texto segue um dos modelos exemplificados por Creswell (2010) para a 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

pesquisa qualitativa, ou seja, os resultados obtidos aparecem de forma descritiva, conforme os relatos. Foram realizadas nove entrevistas no sábado, dia 09 de agosto de 2014, no turno da manhã, dia da semana em que há um menor fluxo de transeuntes, mas que ocorre uma feira de hortigranjeiros nas redondezas. O público de entrevistados é composto por moradores locais, principalmente, e por pessoas que estavam de passagem pelo centro da cidade. A partir do contexto da transformação da paisagem de Porto Alegre e da perda ou da modificação da função da Ponte de Pedra, os entrevistados foram questionados sobre o que conhecem sobre o histórico dessa ponte, assim como a relação desse elemento na paisagem atual e a sua permanência no futuro. Posteriormente, perguntou-se qual o significado da ponte no cotidiano dos entrevistados. A maior parte dos entrevistados opina que a Ponte de Pedra é um elemento antigo na paisagem da cidade. Essa identificação ocorre pelo próprio conhecimento, pelo tempo de vivência em Porto Alegre e, também, pela estética, que remete a uma construção antiga. Entretanto, embora haja esse entendimento, nota-se que essa temporalidade é relativa, pois entre os entrevistados esse tempo diz respeito há dois séculos passados, até 30 anos atrás. Alguns associam a construção da Ponte de Pedra à chegada dos açorianos em Porto Alegre, devido ao nome do local onde ela está instalada, o Largo dos Açorianos. Outros reconhecem que a Ponte foi construída como passagem sobre o curso natural do Arroio Dilúvio, chegando a citações específicas de que no original o material empregado era a madeira. Nesse contexto, há menções sobre o tempo em que havia transporte de carroças em Porto Alegre e aos pequenos barcos que passavam no arroio e no Lago Guaíba. Também fora relatado uma estação ferroviária e um povoado nas adjacências. Na questão sobre como a Ponte de Pedra, elemento do passado de Porto Alegre, convive com o presente, destacam-se dois grupos distintos de opiniões. Para o primeiro, a importância histórica e cultural é assinalada como a principal característica na atualidade. Aqui, ocorrem as referências sobre a necessidade de preservação e revitalização da Ponte, assim como o contraste entre a nova e a velha cidade, como um fator positivo, pois a história é parte dessa cidade. No segundo, àqueles que a reconhecem enquanto um ponto de referência, tanto para encontrar outros locais da cidade, quanto como lugar turístico e de embelezamento, estimulando registros fotográficos, e lugar de lazer. A Ponte de Pedra em uma projeção para o tempo futuro suscita diferentes opiniões. Para a funcionalidade, estima-se que poderá permanecer enquanto ponto turístico, agregando 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

beleza à paisagem. Há quem entenda que poderia ter alguma atividade, por exemplo, uma feira, para atrair as pessoas ao lugar e assim promover o conhecimento do seu significado histórico em Porto Alegre. Há citação de ser dada uma nova utilidade, com a autorização de passagem de carros, da necessidade de alteração do piso, que é escorregadio para os pedestres. Outra pessoa relata a possibilidade de transformar o local em um estacionamento ou prédios residenciais e comerciais. Quando questionados, sobre o significado da Ponte de Pedra no seu cotidiano, a maior parte dos entrevistados assume que ela serve de passagem enquanto atalho para pedestres, visto que as outras opções exigem um deslocamento maior. O lugar, também, é a opção para retratos com os amigos, para lazer, com piquenique com as crianças e passeios com animais de estimação. Um grupo menor, ainda que transite sobre a ponte, não vê significado algum desse elemento nesse deslocar rotineiro. Esse afastamento é motivado, em parte, pela insegurança de transitar na ponte conforme a hora e o dia. Mesmo achando que se trata de um lugar bonito, ele não é atraente para desempenhar atividades pela escassa ocupação na maior parte dos dias, assim como pelos moradores de rua que frequentam o Largo, de acordo com os relatos. Ainda, o desconhecimento sobre o seu histórico e a poluição são elencados nessa mesma situação. Outras apropriações, significativas da Ponte de Pedra, expostas pelos entrevistados, ocorre principalmente por dois grupos distintos. O primeiro por pessoas em situação de vulnerabilidade social, tanto para abrigo no dia a dia, como para o recebimento de alimentos que entidades beneficentes distribuem aos domingos pela manhã. O outro grupo é composto pelas pessoas que a utilizam com fins de lazer nas terças-feiras à noite (fotografia 1).

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Fotografia 1 de Mauricio Pimentel: Ponte de pedra nas terças-feiras à noite.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A problemática está em saber qual a percepção dos transeuntes na transformação da paisagem e na perda de um monumento de identidade cultural e histórica. A produção cultural se dá no espaço e no tempo, e os momentos históricos são relictos de sobreposição de percepções e funcionalidades refletidas nas paisagens. Ou seja, será que este patrimônio, resultado de um processo histórico/cultural, deve conviver com os elementos que compõe uma nova paisagem? Observa-se, também, a compreensão do patrimônio com duplo aspecto: com elementos culturais e naturais, materiais e imateriais, herdados do passado ou criados no presente, no qual um grupo social reconhece alguns sinais de sua identidade, vinculado com o meio em que esse grupo habita. Nesta perspectiva, o sentido original do monumento era associado a uma lembrança coletiva, tinha uma função memorial, pois eram para marcar algo que se desejava recordar, acontecimentos, ritos, crenças que deveriam ser transmitidos para as novas gerações. Posteriormente, passou a ter um caráter estético, ou seja, a beleza, o poder e a grandiosidade passaram a ser as expressões do monumento. E, atualmente, simboliza diferentes práticas e memórias de diversos grupos sociais, nem sempre reconhecidos pela historiografia oficial.

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Mesmo não existindo uma lembrança dos fatos históricos associados à Ponte de Pedra, alguns entrevistados lembravam-se dos recortes de fatos desconectos da história ou numa escala de tempo muito ampla: de acontecimentos de 30 anos a dois séculos anteriores ao presente, existe uma convicção que essa obra é um marco histórico para a capital dos gaúchos. Essa paisagem urbana está impregnada de situações históricas, onde os entrevistados associam a ponte a uma volta temporal de outras paisagens que ali já existiram e onde a ponte obedecia a outras finalidades. O patrimônio, Ponte de Pedra, é uma referência aos entrevistados. A Ponte de Pedra, enquanto elemento estético da paisagem, não foi deixado de ser mencionado por todos os entrevistados. Aponta-se, assim, para o valor impactante que a imagem desse elemento provoca nos entrevistados, sua presença reforça a identidade com o lugar. A assimilação desse espaço pelas diferentes manifestações da comunidade porto-alegrense se traduz na produção cultural no espaço da paisagem marcada pela Ponte de Pedra e no tempo. Os momentos históricos, como a Ponte de Pedra, são relictos de sobreposição de percepções e funcionalidades refletidas na paisagem, se configuram em uma rede que se revela aos fragmentos de memória dos transeuntes, que agora, se apropriam de outras formas e recriam outras funcionalidades para esse patrimônio.

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