\"Com vandalismo\" e a atuação cyberpunk no jornalismo alternativo

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Aluno graduando em Comunicação Social - Jornalismo - Universidade Federal do Ceará (UFC) email: [email protected]
Aluna graduando em Comunicação Social - Jornalismo - Universidade Federal do Ceará (UFC) email: [email protected]
Professor do curso de Comunicação Social - Jornalismo - Universidade Federal do Ceará (UFC) email: [email protected]
O vídeo conta com 215.914 mil visualizações até o dia 23/04/2015, data em que a pesquisa dos dados foi realizada.
"Com vandalismo" e a atuação cyberpunk no jornalismo alternativo
Lucas Bernardo Reis
Maggie Suellen Paiva Ribeiro
José Riverson Araújo Cysne Rios
Palavras-chave: jornalismo alternativo; cyberpunk; Internet; Coletivo Nigéria; jornalismo cyberpunk
Resumo
O artigo objetiva discutir o jornalismo alternativo propondo uma ressignificação da prática jornalística, desenvolvendo um conceito de jornalismo cyberpunk, como um possível resultado do jornalismo alternativo quando praticado através do ciberespaço, mais especificamente, na Internet. Nossa metodologia é estruturada na pesquisa qualitativa e da análise de caso do documentário "Com Vandalismo" produzido pelo coletivo de jornalistas Nigéria, durante as manifestações de 2013 em Fortaleza-CE. Como aporte teórico, são apresentados conceitos de mídia radical e jornalismo alternativo de Chris Atton e James F. Hamilton, Mojca Pjanic e Tamara Villareal Ford e Genéve Gil em diálogo com trabalhos sobre cyberpunk, cibercultura e cultura da Internet de Adriana Amaral, Pierre Lévy, André Lemos e Manuel Castells. O trabalho apresenta considerações sobre como a realização do documentário, produzido de uma maneira colaborativa e divulgado na Internet adquira contornos de jornalismo cyberpunk, como um objeto que que descontrói e ressignifica a prática jornalística, podendo preencher lacunas de informação deixadas em aberto pela cobertura convencional. Como conclusão, identificamos que transpondo os conceitos cyberpunks da Ficção Científica para a prática jornalística o documentário produzido pelo Coletivo Nigéria pode ser enquadrado como um exemplo de jornalismo cyberpunk, principalmente, compreendendo que através da Internet e da participação social através de coletivos de comunicação, as práticas alternativas de jornalismo alcançam êxito usufruindo da tecnologia contra ela mesma e demonstrando que a prática punk tem a capacidade de ser aliada e compreendida dentro do jornalismo.
INTRODUÇÃO
O mundo evolui e com ele suas tecnologias. O papel de 4º poder perpetrado pela mídia convencional já não é mais tradicional (PAJNIK, 2005, p.353), assim, acompanhamos um momento de transformação no fazer jornalístico, no qual mídias são recombinadas e distribuídas, muitas vezes fugindo de modelos tradicionais ou reconfigurando-os para criar algo novo. (VILLAREAL FORD e GIL, 2003).
Com o excesso de imagens e informações que caracterizam a cibercultura (AMARAL, 2006), o campo do jornalismo se vê às voltas com notícias e acontecimentos compartilhados em um fluxo quase contínuo. Jornalistas, nos atos de coletar, redigir, editar e publicar as informações, podem experimentar e, talvez, melhorar suas práticas profissionais, chegando a propor alternativas em relação à mídia hegemônica. O profissional procura não ser apenas o porta-voz das histórias, mas também apresentar ao público conteúdos e assuntos dissonantes do tradicionalmente veiculado, utilizando-se do Do it yourself, ou "Faça Você Mesmo", para tornar-se produtor de conteúdo, enquanto acrescenta e transforma a matéria prima com o que trabalha, as informações, em algo que não se limite "apenas a observar e narrar", mas também algo que ofereça "uma maior dimensão das informações", com mais experiências da reportagem e dos fatos (CZARNOBAI, 2003 apud PIRES e BORGES, 2010), similar ao jornalismo gonzo da década de 1960.
Dessa forma, o estilo alternativo de narração, interpretação e produção de conteúdo busca transformar os produtos diários dos meios de comunicação convencionais e produzir "novas formas de ação e de interação com o mundo social", como afirma Thompson (2009, p.13), sobre a utilização de novas tecnologias de comunicação.
Como reflexo da sociedade da informação, Villareal Ford e Gil (2003, p.271-272) acreditam que é através da Internet, que o jornalista poderá desenvolver suas ações, meios dinâmicos de organização e proporcionar uma nova era para a mídia alternativa, onde há uma maior chance de comunicação pela "audiência internacional de milhões de pessoas".
As novas tecnologias das quais os jornalistas devem ter posse, são os meios de enfrentamento contra as tecnologias da mídia convencional, pois darão margem para ressignificação das maneiras de noticiar, procurando, de forma colaborativa, balancear o poder da mídia. Atton & Hamilton (2008, p.3) afirmam que a "insatisfação não apenas com a cobertura principal, mas também, com aquilo que se define como notícias", faz com que o jornalista busque preencher "os espaços que acreditam terem sido deixados para trás pela grande mídia", e dessa forma, iniciem uma cobertura alternativa. Os autores então seguem o pensamento de Villareal Ford e Gil (2003, p.275), que demonstram estar na "participação de pessoas" e na "criação de formas interativas de comunicação", a maneira de compensar "o fluxo unilateral que é próprio da mídia comercial".
O balanceamento e a demonstração de atitude transgressora e transformadora dos métodos de praticar o jornalismo através da Internet encontra na cultura cyberpunk uma demonstração. Apresentado por McCaffery (1994, p.289 apud AMARAL, 2006, p.133) como uma "uma visão de mundo", os cyberpunks usam da "tecnologia como uma arma contra ela mesma" e que tenta "reduzir o controle de sua forma a partir dos efeitos da indústria da mídia e reestabelecer um senso de ameaça, de intensidade".
A "exploração do entusiasmo individual" (ATTON, HAMILTON, 2008, p.3) de cada um que atuou do lado contrário ao mais forte faz com que cyberpunks não sejam vistos apenas nos livros de Ficção Científica, mas sim apareçam nas ruas (AMARAL, 2006) e práticas profissionais, transformando-se nos jornalistas cyberpunks, ideais ou não para o jornalismo que estamos vivenciando, ou que podemos vivenciar em um futuro próximo.
No presente trabalho, a partir da análise do documentário "Com Vandalismo", produzido em 2013 pelo coletivo de jornalistas Nigéria, de Fortaleza/CE, desenvolve-se um conceito preliminar de jornalismo cyberpunk, onde "técnicas colaborativas de produção" (ATTON e HAMILTON, 2008, p.13) podem demonstrar a perspectiva dos manifestantes.
Na primeira parte do trabalho, fundamentamos as bases do cyberpunk através de um passeio teórico por conceitos e discussões sobre como essa temática está além da Ficção Científica e apresentar uma imagem do presente. No segundo tópico, apresentamos discussões sobre o jornalismo alternativo e as novas mídias, em especial a Internet, e de como elas podem potencializar tal maneira de fazer o jornalismo. No terceiro e último tópico, passamos à análise do documentário à luz dos conceitos que apresentamos sobre cyberpunk, jornalismo alternativo e Internet para, então, demonstrarmos o conceito preliminar.
METODOLOGIA
Para construção do presente trabalho, foram adotadas duas metodologias de pesquisa: primeiro, a pesquisa qualitativa, por meio de levantamento bibliográfico sobre Cibercultura e jornalismo alternativo, culminando na coleta dos dados pela Internet, principalmente no site de rede social Facebook e, segundo, a utilização do estudo de caso para análise do documentário "Com Vandalismo".
Complementares em suas ações, as duas modalidades de pesquisa foram essenciais na busca por entender, descrever e explicar os fenômenos (FLICK, 2009). Gil (2013 apud REIS, 2014) demonstra que as modalidades são caracterizadas por uma coleta de dados e levantamento bibliográfico nos mais diferentes meios, dos livros à Internet, nossa principal ferramenta de coleta.
Yin (2001, p.32), um dos principais pesquisadores sobre o método do estudo de caso, resume da seguinte maneira a metodologia de pesquisa:
o estudo de caso é uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, quando a fronteira não é claramente evidente e onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas (YIN, 2001, p.32).
Unindo ambas as formas de pesquisas, que em seu cerne são complementares, e procurando responder encontrar características do jornalismo cyberpunk na cobertura do coletivo e demonstrar a existência de um jornalismo cyberpunk são os principais motivos de escolha do estudo de caso para análise do objeto de pesquisa. Além disso, com as proposições de Rangin e Becker (1992 apud DUARTE, BARROS, 2008), que defendem haver a necessidade de uma característica única e experiências concretas para utilização do já referido método, a presença do cyberpunk e a experiência das Manifestações de Junho de 2013, retratadas pelo documentário, são demais fatores para escolha da metodologia.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O CYBERPUNK
Nascido na década de 1970, difundido na década de 1980 e tido como morto em 1990. Há mais de 30 anos, a trajetória do cyberpunk se transforma, sofre mutações e chega ao século XXI como um tema que pode ser discutido muito além das páginas de Ficção Científica, chegando ao meio acadêmico, pela sua "rica fonte de pesquisa para aqueles que pretendem compreender a cultura contemporânea" (AMARAL, 2006, p.25).
As definições para cyberpunk são diversas. Filhos da explosão tecnológica da década de 1980 em meio a microcomputadores e informações em fluxo como nunca se havia visto (KELLNER, 2001), escritores da temática influenciaram teóricos da nascente tecnologia da informação para estudar e ser desafiados diante do presente descrito nas páginas futurísticas.
O termo está diretamente ligado às teorias contemporâneas da cibercultura, pois tanto o cyberpunk é uma fonte para essas teorias, sendo estudado por diversos autores, quanto, na contramão, as teorias fundamentam cultural e socialmente esse tipo de ficção. (FEATHERSTONE e BURROWS, 1995 apud AMARAL, 2006, p. 41).
Ademais, também como prática literária, existem diversas outras vertentes inseridas no cyberpunk, como o avanço da tecnologia, desdém com o físico, o pós-humanismo e o advento dos ciborgues. Porém, apresentamos, principalmente, conceitos mais ligados ao cerne básico do termo e não seu desenvolvimento em temáticas futurísticas.
O termo não se restringe apenas a uma literatura melancólica, com caos urbano, mas as perpassa, tornando-se um modo de agir em relação ao mundo e que se complementa com Amaral (2005, p.10), refletindo nas "práticas de ciberativismo, e até no jornalismo colaborativo".
Quando juntamos pensamentos de alguns desses teóricos e escritores, chegamos a apresentar algumas definições básicas do que seria ser cyber e punk ao mesmo tempo. Desenhando um significado a partir da morfologia do termo, Kellner (2001) nos dá as primeiras pistas do que é ser um cyberpunk.
Cyber é grego; significa controle. Com ela foi formada a palavra cibernética, indicativa de um sistema de controle altamente tecnológico que combina computadores, novas tecnologias e realidades artificiais como estratégia de manutenção e controle (...) O punk, (...) indica a rispidez e a atitude da dura vida urbana (...) Como fenômeno subcultura, cyberpunk (...) significa uma postura vanguardista incisiva em relação à tecnologia e a cultura ávida de abraçar o novo e disposta a rebelar-se contra as estruturas e as autoridades estabelecidas (KELLNER, 2001, p.383).
O autor prossegue e afirma que os cyberpunks mantêm sempre a seu favor "o uso descentralizado da tecnologia a serviço dos indivíduos" (KELLNER, 2001, p.383), no que entendemos ser uma das características fundamentais dessa subcultura.
Prosseguindo, os estudos sobre cyberpunk procuram demonstrar a estreita ligação entre o presente descrito e o presente vivido, encarando o mundo com seus olhos, indo além das "representações literárias" e tornando-se uma atitude em relação ao mundo contemporâneo e à sociedade de informação (LEARY, 1988 apud AMARAL, 2006).
Um tipo de comportamento que explora a criatividade individual e o pensamento através do uso de todas as informações e dados disponíveis via tecnologia (LEARY, 1988 apud AMARAL, 2006, p.38).
Como uma atitude e um modelo de atuação próprio do século XXI (2006, p.38), o conceito de cyberpunk vai aprofundando mais seu caráter ativista e libertador. Lemos (2002 apud AMARAL, 2006) destaca a contestação de pensar por si próprio como elemento primordial para os cyberpunks tornarem-se predecessores da cibercultura.
A cultura cyberpunk não é somente uma corrente de Ficção Científica, mas um fato sociológico irrefutável, uma mistura de esoterismo, programação de computador, pirataria e Ficção Científica, influenciada pela contracultura americana e pelos humores dos anos 80. (...) A atitude cyberpunk é, acima de tudo, um comportamento irreverente e criativo frente às novas tecnologias digitais (LEMOS, 2002, p.212, apud AMARAL, 2006, p. 39).
É justamente nesse ativismo que se encontra a ligação com o movimento punk, que "resume itself in the appropiation of the values in wich the 70's punk music was based on" (ELIAS, 2009, p. 27).
Sobre o punk, Elias (2009, p.31) afirma que a raiva característica do movimento foi um fator fundamental para sua sobrelevância na década de 1970. "The punk movement has showed a rebelion condition before the city divisions, angry relative to the space of urban power". O cyberpunk é algo para agora e urgente, que, unindo a sociologia e a tecnologia, pode criar um paralelo com a sociedade de massa midiática e nos apresentar uma imagem lúdica dos meios de comunicação da nossa sociedade (ELIAS, 2009).
Urgência, ativismo, liberdade, ações próprias. Esses são alguns dos conceitos levado a cabo pelos cyberpunks, que exploram o que é recusado (KELLNER, 2001), como todo resquício do punk. Dessa forma, Kellner (2001, p.414) corrobora com nossa pesquisa ao apresentar a atual força da Internet, que "trata-se de uma nova fonte de intercâmbios que dá acesso a diversos tipos de informação e comunicação, possibilitando a expressão de opiniões", uma subversão vista nos escritos cyberpunk, promovendo o intercâmbio humano a partir da utilização das novas tecnologias (2001).
O JORNALISMO ALTERNATIVO: DO IMPRESSO AO VIRTUAL
O jornalismo do século XXI é convergente. Nos estudos sobre ciberespaço, Lévy (1999, p. 93) já previa a sinergia entre os meios de comunicação e a Internet. Desta feita, a rede proporciona ao jornalismo a interface de dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação. Com o complemento e expansão de ambas (ANDRADE, 2014), novas narrativas e novos temas devem ganhar maior relevância a partir do usuário e de sua interação com a notícia na Internet (NORMANDE et al., 2014).
Simões (2007) descreve que "o jornalismo vem sendo dinamitado pela internet no mundo inteiro", principalmente através da atuação de coletivos de voluntários e até mesmo de profissionais de comunicação (MAGNONI e GARRIDO, 2015), que encontram nas ferramentas do ciberespaço uma forma de, primeiramente, ter uma voz ativa e, posteriormente, fazer ecoar seus desejos e perspectivas de mudança.
Entendemos como jornalismo alternativo, também conhecido como "imprensa alternativa, do leitor, nanica, independente ou underground" (AMORIM, 2007, p.4), aquele que conta com um "posicionamento ideológico explicito, com uma contestação do status quo", que "fornecem informações de natureza distinta, às vezes oposta às informações dos grandes veículos" (ANDRADE, 2014, p.2, 3).
A prática não é nova, ascendendo como uma ferramenta essencial para divulgação das vozes contrárias nos momentos em que uma insatisfação democrática é tamanha. Permeados por um contexto sócio-histórico das respectivas épocas, as técnicas e as lógicas do ofício jornalístico sofrem alterações, como afirma Lage (2008 apud ANDRADE, 2014, p.6). Dessa forma, periódicos impressos transportam seu espírito para as novas mídias, multiplicando as oportunidades de atualização (1999) e complementando a linguagem jornalística e a atuação na rede (2002).
Castells (2003) já demonstrava que, com a aproximação da Internet de todas as esferas públicas de discussão, os movimentos sociais do século XXI seriam manifestos através da rede. Adaptável aos interesses de quem se refere, a Internet se torna um "instrumento privilegiado para atuar, informar, recrutar, organizar, dominar e contradominar" (CASTELLS, 2003, p. 114). O aumento do acesso à Internet e as novas formas de participação no ciberespaço é defendido por Pajnik (2005) como criador de novas condições para uma participação mais ativa dos cidadãos.
A oportunidade de uma comunicação horizontal do indivíduo aos indivíduos é o principal atrativo encontrado pelos profissionais na Internet (CASTELLS, 2003). Além de proporcionar meios dinâmicos de participação, compensando o unilateralismo de uma mídia hegemônica (2002), atuar de forma alternativa na rede proporciona aos jornalistas a oportunidade de produzir os próprios conteúdos, o Faça Você Mesmo dos punks, uma atitude transgressora e transformadora, que enriquece o alcance da mensagem no ciberespaço e pode ser inserida nos métodos de praticar o jornalismo na Internet a partir da cultura cyberpunk.
A ATUAÇÃO CYBERPUNK NO DOCUMENTÁRIO COLABORATIVO "COM VANDALISMO"
O Coletivo Nigéria, grupo de jornalistas encabeçado por Bruno Xavier, Pedro Rocha, Roger Pires e Yargo Gurjão, apresenta, a partir do documentário "Com Vandalismo", as características que definimos como sendo do jornalismo cyberpunk. A primeira é a produção colaborativa, apresentada por Atton e Hamilton (2008, p.13). Nela, os jornalistas realizam participações diferenciadas, porém, com um mesmo fim. Essa maneira de produzir foi primordial na cobertura que o coletivo realizou dos protestos que se tornariam conhecidos como "Manifestações de junho de 2013".
O documentário de 72 minutos foi filmado durante as manifestações na Capital cearense, nos dias 19/06, 20/06, 21/06 e 27/06. No primeiro e no último dia, ocorriam jogos da Seleção Brasileira de Futebol, pela Copa das Confederações 2013, sediados na Arena Castelão; enquanto no segundo e no terceiro dia, manifestações estudantis reivindicavam melhorias na educação e a entrega das carteiras de estudante de 2013.
A segunda característica que encontramos no produto é a perspectiva, centralizada no marginalizado, no caso, os manifestantes que eram tidos como vândalos nos eventuais confrontos. A escolha desse ponto de vista oportuniza ao "Com Vandalismo" o preenchimento das lacunas de informação deixadas pela cobertura da grande mídia.
Como apresenta a própria sinopse da produção:
"'SEM VANDALISMO!' repetiam gritando parte dos manifestantes que ocuparam as ruas de Fortaleza. Mas na multidão das manifestações, que explodiram no Brasil em junho de 2013, outros grupos empregaram métodos mais diretos. Tachados de "vândalos", foram criminalizados por parte da grande mídia, antes mesmo de serem ouvidos. Este documentário vai à "linha de frente" para registrar os confrontos e entrevistar os manifestantes para mostrar as motivações dos atos de desobediência civil" (YOUTUBE, 2013)
Analisamos que o "Faça Você Mesmo" e a atitude de dar voz aos marginalizados permeiam o documentário. Oriundos do comportamento punk, ambos são utilizados para, com traços de rebeldia, ser uma forma de oposição e complemento ao jornalismo tradicional.
A terceira característica está na divulgação primordial na Internet, onde acreditamos haver a inserção da parte cyber do jornalismo cyberpunk no documentário. Com lançamento em 26/07/2013, o documentário foi primeiramente postado no site de vídeos Youtube, ultrapassando as 200 mil visualizações. Logo em seguida, o documentário foi postado no site de rede social Facebook.
O site de rede social com sua visibilidade e inter-relação de redes sociais físicas, já construídas fora do computador (RECUERO, 2009 apud REIS et al. 2013, p.10), foi o principal canal utilizado para divulgação do produto, que, após o contato com os usuários e uma aparente identificação com o conteúdo apresentando, ultrapassou barreiras, chegando a outros sítios para download gratuito.
Além disso, o documentário seguiu para a agência multimídia colaborativa A Pública, também responsável por coberturas alternativas na Internet.
Um relato/reflexão realizado no calor da hora, em que a cronologia dos fatos, a variedade de ângulos e de entrevistados, e a sobriedade dos jornalistas, contribuem para criar um panorama completo das manifestações em Fortaleza, revelador para os que buscam compreender quem é e o que deseja essa juventude que está nas ruas das capitais brasileiras (A PUBLICA, 2013).
Unindo conceitos de cibercultura e do que é jornalismo alternativo, discutimos uma atuação na prática jornalística, o jornalismo cyberpunk. Nas considerações de Leary, (1988 apud AMARAL, 2006, p.38) "explora a criatividade individual e o pensamento através do uso de todas as informações e dados disponíveis via tecnologia". Desenvolvendo técnicas colaborativas de produção para difusão, primordialmente, no ciberespaço, permitindo aos indivíduos produzir e compartilhar informações na Internet. Para Amaral (2006, p.39), mantendo a "atitude contestadora" de transformação do punk, e usando as atitudes no espaço social como uma arma que desconstrói e anarquiza para formar novas coisas. (HEUSER, 2003).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Mesmo com a quantidade de compartilhamentos no site de rede social Facebook, 61 ao todo, o documentário, através dos sites na Internet, conseguiu maior visibilidade e alcance, principalmente, por apresentar condições facilitadas de compartilhamento, como a cópia 100% copyleft, ou seja, com direitos abertos para reprodução e maiores possibilidades de consumo, indo além do Youtube, estando disponível para download pela Internet.
É interessante também perceber que a repercussão da produção do documentário chegou além de outros veículos de jornalismo alternativo, até os veículos de mídia tradicional, com análises e notícias sobre seu lançamento, naquilo que apresentamos como o uso da tecnologia contra a própria tecnologia, a imprensa como uma reposta à própria imprensa.
Sem dúvida, o documentário apresenta variadas nuances de análise. Além de uma possível atuação cyberpunk, acreditamos que pesquisas posteriores podem discutir, ainda no período delimitado pelo documentário, o papel e a influência do agendamento da grande mídia sofre as manifestações, fato também questionado pelos produtores do documentário.
Concluindo, o trabalho se propôs a refletir sobre uma possível atuação cyberpunk no jornalismo, justamente pela intensa divulgação através da Internet e da participação social de coletivos de comunicação, como o Coletivo Nigéria, assim como sua produção "Com Vandalismo" é caracterizada pela preocupação social e preferência por dar voz aos marginalizados, características cyberpunks unidas ao jornalismo caracterizam o que chamados aqui de jornalismo cyberpunk.
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