Comunicação e Catequese: a importância do uso das tecnologias digitais no processo de evangelização catequética.

June 1, 2017 | Autor: Evandro Carvalho | Categoria: Comunicação Social, Mídias Digitais, Cyberteologia, Igreja Católica, Internet
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EVANDRO VIANA CARVALHO COMUNICAÇÃO E CATEQUESE: A IMPORTÂNCIA DO USO DAS TECNOLOGIAS DIGITAIS NO PROCESSO DE EVANGELIZAÇÃO CATEQUÉTICA UM ESTUDO DE CASO COM CATEQUISTAS DA DIOCESE DE URUGUAIANA/RS

RESUMO

O presente trabalho visa apresentar a Comunicação Digital como auxílio nos encontros de Catequese, tendo em vista a cibercutlura na qual as crianças e jovens da atualidade estão inseridas. Neste processo, se faz relevante o interesse e a capacitação por parte dos educadores da fé. Para tanto, num primeiro momento, reflete sobre a história e os conceitos da Comunicação Social e as linguagens comunicacionais surgidas a partir das mídias digitais. Posteriormente, analisa o ambiente digital, as repercussões na sociedade e o sujeito influenciado pela digitalização. Por fim, aborda a visão da comunicação na história da Igreja. Em seguida, reflete as considerações sobre a pesquisa de campo realizada com catequistas da Diocese de Uruguaiana, RS, apresenta os desafios e possibilidades da cultura digital no contexto catequético e pistas de ação para o uso das mídias digitais na Catequese. Palavras-chave: Catequese – Comunicação – Mídia Digital.

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INTRODUÇÃO.................................................................................................... CAPÍTULO I – TEORIAS DA COMUNICAÇÃO: HISTÓRIA E CONCEITOS........................................................................................................ 1.1 - História da Comunicação e breves conceitos................................................ a) Comunicação de Massa e Cultura de Massa................................................ b) O desenvolvimento dos processos de comunicação e o surgimento do Digital .......................................................................................................... 1.2 - As Mídias Digitais e a democratização da comunicação............................... 1.3 - As Linguagens das Mídias digitais e seus limites......................................... CAPÍTULO II: COMUNICAÇÃO DIGITAL: UMA NOVA AMBIÊNCIA........................................................................................................ 2.1- O ambiente comunicacional a partir das linguagens digitais......................... 2.2 - As influências da Sociedade em Rede........................................................... 2.3 - O sujeito dentro da ambiência digital............................................................ CAPÍTULO III – COMUNICAÇÃO DIGITAL E CATEQUESE: DESAFIOS E PERSPECTIVAS......................................................................... 3.1 - A visão da comunicação na história da Igreja............................................... a) O Concílio Vaticano II: um marco na história da comunicação................ b) A comunicação no contexto histórico latino-americano a partir de Medellín..................................................................................................... 3.2 - Considerações sobre o Estudo de Caso (Pesquisa de Campo) ..................... 3.3 - Pistas de ação para o uso das mídias digitais na Catequese.......................... CONCLUSÃO......................................................................................................

3 5 6 7 10 14 17

20 20 25 28

32 33 37 42 45 53 58

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................. 60 ANEXOS...............................................................................................................

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INTRODUÇÃO A comunicação sempre foi o ponto de partida na construção de uma sociedade. Percebe-se ao longo da história o ato de comunicar como intrínseco as tramas das relações e dentro deste ambiente relacional, um processo de evolução social acontece. Não há existência que não seja estabelecida por um ato comunicativo, e o ser humano soube de maneira primordial entender esta dinâmica e qualificá-la com o passar do tempo. Na atual conjuntura vive-se de maneira intensa variadas formas de comunicação, dentre elas, a comunicação digital, onde novos sujeitos denominados geração net – devido a utilização frequente de computadores, celulares, câmeras digitais, internet, redes sociais, entre outros – surgem com mais propriedade do que no passado. Trata-se de subjetividades que já nascem mergulhadas no campo comunicacional digital. Assim, a geração contemporânea, marcada por esta característica, adere sempre mais a digitalização da comunicação. Nesta nova ambiência da comunicação, os catequistas entram em contato com as crianças e jovens no processo de evangelização catequética (Iniciação à Vida Cristã) e já encontram os catequizandos envolvidos. Sabe-se que levar a Boa-Nova de Jesus, é tarefa primeira de uma Catequese dentro de um projeto de Iniciação à Vida Cristã.1 Por isso, se faz extremamente necessário qualificar este querigma2 inicial, levando sempre em consideração o ambiente que se encontra quem o recebe. A reflexão explicitada no presente trabalho analisa que a realidade infanto-juvenil da atualidade é envolvida pela cultura da rede,3 e precisa de catequistas inseridos neste ambiente para se transmitir com a devida inculturação a mensagem cristã. Consequentemente, se evangeliza com mais concretude, demonstrando o quanto o Evangelho não está fora do contexto de quem o recebe. Para tal abordagem, o trabalho monográfico é dividido em três capítulos. No primeiro, se desenvolve o tema das Mídias Digitais a partir de um panorâmica histórico da comunicação, seu desenvolvimento e linguagens. O segundo capítulo reflete as influências da sociedade midiatizada a partir da digitalização da comunicação. Para tanto, se analisa o perfil do sujeito na geração digitalizada e se faz uma explicitação das formas de relação humana dentro do universo digital. 1

Cf. DIOCESE DE URUGUAIANA, Projeto diocesano Iniciação à Vida Cristã, p. 2. Ibid. 3 Cf. Joana PUNTEL; Helena CORAZZA, Pastoral da comunicação: diálogo entre fé e cultura, p. 47. 2

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Por fim, no terceiro capítulo se aborda a história da comunicação no contexto eclesial, e traz informações acerca do Estudo de Caso onde se tem uma pesquisa focada no uso das mídias digitais na Catequese. Posteriormente as considerações da pesquisa, se reflete os desafios e possibilidades à luz da realidade estudada, e se propõe requisitos práticos para uma aproximação da evangelização catequética do contexto infanto-juvenil imerso na ambiência digital.

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Capítulo I Teorias da Comunicação: história e conceitos A comunicação sempre fez parte das relações, e dentro do ambiente relacional humano, a história da comunicação traz dentro de sua evolução a importância do comunicar, bem como o aperfeiçoamento deste.4 Este caráter evolutivo é o que se pode chamar de “processo da comunicação”5, onde se estuda as teorias que foram elaboradas a partir de cada momento da história comunicativa. Para tanto, sobre teoria entende-se que é a:

Sistematização de ideias que procuram explicar um fenômeno (físico, biológico, social etc.) por meio de conceitos elaborados de maneira lógica, que servem de base para a constituição de uma determinada área do conhecimento, de uma ciência.6

A comunicação porta uma complexidade própria como se pode entender a partir do pensamento do sociólogo Edgar Morin, que afirma o pensamento complexo não como algo complicado, como por vezes se entende, mas a compreensão do complexo a partir do conjunto de fatores que tornam uma realidade incapaz de ser detalhada em apenas um conceito e que assim, possui várias dimensões a serem analisadas.7 Dentro

da

complexidade

dos

fenômenos

da

comunicação

temos

a

interdisciplinaridade, ou seja, “a utilização de conceitos forjados em outras áreas do conhecimento (Sociologia, Antropologia, Psicologia, Física, Biologia etc.) para compreender a comunicação”8 Assim, vários campos do saber podem trazer definições do que seria o processo comunicacional. Outro fator que manifesta a complexidade da comunicação é a própria natureza do ato comunicativo que pode se realizar tanto nas relações entre as pessoas quanto nas relações entre as máquinas. Tais contatos, sempre estarão trabalhando com vários elementos da comunicação, como o “emissor, a mensagem, o código utilizado, o meio que difunde a comunicação, o receptor ou o efeito desse processo”9 4

Cf. Roberto SANTOS, As teorias da comunicação: da fala à internet, p. 16. Idid, p. 13. 6 Ibid. 7 Cf. Iba MENDES, (2011). A teoria do pensamento complexo de Edgar Morin. http://www.ibamendes.com/2011/03/teoria-do-pensamento-complexo-de-edgar.html. Acesso em: 19 out. 2015. 8 Roberto SANTOS, op. cit. p. 14. 9 Ibid. 5

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1.1 História da Comunicação e breves conceitos Precisar o momento em que o ser humano começou a criar mecanismos de comunicação não é uma tarefa fácil. Contudo, se tem algumas informações que auxiliam a entender como na história o processo da comunicação foi acontecendo. Entende-se que há cerca de 55 mil anos teria começado o que se denominou a “Idade da Fala”10, quando o Homo Sapiens passou a ter controle sobre o aparelho fonador utilizando a fala para se comunicar. Com o tempo, a aprendizagem foi desenvolvida no campo comunicacional e símbolos e sinais foram dando espaço a mensagens mais complexas. Assim, a pré-história resguarda o início deste grande fenômeno que se tornou a realidade da comunicação. Os chineses, maias, sumérios e egípcios, há 5 mil anos, deram início a chamada “Era da Escrita”11, onde se possuía uma escrita cuneiforme ( gravada em cerâmica) com a principal finalidade na área da agricultura e comércio. Com este recurso se demarcava propriedades, a criação de calendários com épocas de plantio e de colheita. Era a forma inicial de organização através da comunicação escrita. Já a escrita alfabética que é a formada por letras e em conjunto constituem sílabas e palavras, surgiu na Europa Central em 700 a.C. Contudo, o primeiro alfabeto só foi sistematizado pelos gregos 500 antes da era cristã.

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A escrita impressa levaria

quase 2 mil anos para ser desenvolvida. Dentro dos conceitos que foram sendo elaborados ao longo da história da comunicação, entende-se que para realizar um ato comunicativo, o ser humano pode empregar duas formas de comunicação: a verbal e a não verbal.13 A verbal, ou digital, pode ser oral ou escrita e a não verbal, ou analógica, diz respeito a comunicação gestual e a pictórica. São as duas classificações do ato comunicacional. Quando se pensa no alcance da comunicação, ela pode ser subjetiva, a partir de cada indivíduo, interpessoal, quando envolve um grupo de pessoas e massiva, dada pelo uso dos meios de comunicação que atingem um grande número de pessoas. 14 Para tanto, neste processo, encontram-se presentes os interlocutores, que são aqueles que emitem e 10

Ibid, p. 16. Ibid, p. 17 12 Cf. Ibid. 13 Cf. Ibid, p. 18. 14 Ibid, p. 19. 11

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a quem se destina a comunicação; as mensagens, ou seja, os conteúdos da comunicação; os meios utilizados e o contexto, onde a ação comunicativa acontece.

a) Comunicação de Massa e Cultura de Massa Atualmente todo o processo de comunicação tende a se restringir aos atos comunicativos feitos pelos meios técnicos de divulgação. Ou seja, os meios de comunicação de massa passaram a dominar a comunicação, justamente pela veiculação em grande escala de conteúdos e que assim, marcam significativa presença na vida das pessoas. A comunicação em massa busca essa presença, unindo a lógica do lucro à necessidade de manter os interlocutores, como reflete o jornalista Roberto Elísio dos Santos: Além de gerar lucro para as empresas, os meios de comunicação de massa também precisam atrair e manter a atenção dessa gama de receptores, oferecendo informações necessárias para o seu dia a dia, produtos culturais para seu entretenimento, fantasia para seu imaginário e discussão de ideias. O receptor, por sua vez, busca nesses veículos de comunicação o conhecimento dos fatos da atualidade, diversão, educação, evasão de seus problemas, participação nas decisões etc., enquanto se torna, também, audiência e potencial consumidor dos produtos anunciados.15

Teóricos e historiadores da comunicação atribuem o surgimento dos meios de comunicação em massa a partir da criação da prensa feita por Gutenberg no século XV. Mesmo antes desta época a técnica de impressão já estava presente no Oriente, contudo, o livro impresso no Ocidente provocou significativas mudanças.16 Gutenberg com a invenção da prensa conseguiu produzir grande número de exemplares de um livro, feito extraordinário para o seu tempo. Para tanto, o meio de comunicação que mais se beneficiou com a técnica da impressão foi o jornal. Um exemplo disso é de que no século XVIII jornais diários já eram impressos e circulavam em grande escala na Inglaterra. O crescimento da imprensa se efetivou com a Revolução Industrial. Foi neste contexto que o jornal se firmou como o meio de comunicação de massa mais importante, uma vez que o crescimento das cidades aumentava o fluxo de informações e o trabalhador que ganhava o seu salário já possuía condições de ocupar parte do seu 15 16

Ibid, p. 46. Cf.: Ibid.

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honorário para comprar jornais e manter-se informado diante dos acontecimentos.17 Para tanto, a obrigatoriedade da educação na época, como pré-requisito em trabalhos industriais, impulsionava a leitura que aos poucos deixou de ser privilégio da nobreza e do clero e chegou às massas. Com o avanço da tecnologia, da pesquisa e da busca de maiores lucros, novos meios de comunicação de massa foram surgindo:

No século XIX, o mundo assistiu à segunda etapa da Revolução Industrial (que se caracterizou pela mudança do uso de vapor pelo combustível fóssil e pela energia elétrica) e também viu a invenção de meios de locomoção mais rápidos (trem, automóvel) e de meios de comunicação que possibilitavam o envio de mensagens a lugares mais distantes e em menos tempo (telégrafo, telefone), assim como o registro, com maior eficácia, de imagens (fotografia, cinema) e sons (gramofone).18

O processo de radiodifusão também foi resultado de pesquisas científicas com a ideia de usar ondas eletromagnéticas para transmitir sons à distância. Entretanto, só depois da Primeira Guerra Mundial que o rádio passou a ser um meio de comunicação de massa como forma de entretenimento e informação. Em 1920 teve início as pesquisas que levaram à teletransmissão, mas somente em 1940 que a televisão se tornou acessível a maior parte da população, conseguindo suplantar as mídias já existentes.19 Com este grande passo na história da comunicação, o meio televisivo começou a unir em si variadas formas de comunicação:

Conjugando características de outros meios de comunicação de massa, como a imagem em movimento (cinema), o som (do rádio), o texto jornalístico (do jornal), a música, a publicidade e a dramaturgia inspirada no teatro ou adaptada da literatura, a televisão é um veículo-síntese que mistura formas de comunicação diferentes (verbal, seja oral ou escrita, não verbal, gestual e, principalmente, pictórica).20

Apresentando diversas formas de conteúdo, a televisão possui um leque de possibilidades de interação e informação. Sendo uma fonte comunicacional muito grande, hoje ela se encontra em vários cômodos de uma residência, e em muitos outros lugares, influenciando pessoas e impondo ideias. Justamente por isso, a tevê sofre críticas de parte dos teóricos da comunicação.

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Cf. Ibid, p. 47. Ibid, p. 48. 19 Ibid, p. 50. 20 Ibid, p. 51. 18

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Ligado ao desenvolvimento dos meios de comunicação de massa, surgiram teorias críticas em relação a maneira como eles estabelecem a comunicação. Por trás das funções básicas destes meios se desenvolveu o que começou a ser chamada de cultura de massa, relacionada ao mercado de consumo. Assim, “não importa a mensagem veiculada (que pode até conter críticas ao sistema), desde que o público a consuma.”21 Na realidade do consumo cultural de massa, a massa que consome pode ser definida pelo que se compreende como povo. Todavia, segundo o papa Pio XII, numa célebre radiomensagem de Natal no ano de 1944, que expressou filosoficamente esse conceito de povo e de massa, ambos são diferentes:

Povo é multidão amorfa ou, como se costuma dizer, «massa», são dois conceitos diversos. O povo vive e se move com vida própria; a massa é por si mesma inerte, e não pode receber movimento sem ser de fora. O povo vive da plenitude da vida dos homens que a compõem, cada um dos quais — em seu próprio lugar e a sua maneira — é pessoa consciente de suas próprias responsabilidades e de suas convicções próprias. A massa, pelo contrário, espera o impulso de fora, joguete fácil nas mãos de um qualquer que explora seus instintos ou impressões, disposta a seguir, cada vez uma, hoje esta, amanhã aquela, outra bandeira.22

A definição do papa Pio XII esclarece o que posteriormente se debateu a respeito da cultura de massa no ambiente da comunicação e seus interlocutores, como um “público que aceita ou rejeita os conteúdos da cultura de massa de acordo com seus interesses imediatos, mas adora, acima de tudo, o espetáculo que lhe é oferecido”23 De acordo com o pensamento da psicóloga Eclea Bosi, que reflete as teorias psicossociais da cultura de Adorno e Gramsci aplicadas à mensagem, ao público e ao contexto da comunicação, a cultura de massa seria um oceano de imposições ditadas pelos meios de comunicação, destinadas às mais diferentes regiões e povos. Por isso, se explicaria o motivo das massas de vários continentes, apreciarem e produzirem a mesma arte, as mesmas roupas, e gostarem das mesmas comidas. Seria por esta razão que os estilos, as maneiras, as tradições, bem como a cultura própria de cada povo ser lugar de uma vitrine universal de certas ideologias.24 Uma vez que os produtos da cultura de massa oferecem um leque de ideias, determinados teóricos entendem que tais influências alienam e, portanto, afastam da realidade. Apenas o que 21

Ibid, p. 55. Evandro MONTEIRO, (2009). Pio XII explica a diferença entre "povo" e "massa". http://ocruzadomissionario.blogspot.com.br/2009/10/pio-xii-explica-diferenca-entre-povo-e.html. Acesso em: 22 out. 2015. 23 Roberto SANTOS, As teorias da comunicação: da fala à internet, p. 56. 24 Cf. Eclea BOSI. Cultura de massa e cultura popular, p. 102. 22

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recebe os conteúdos desta cultura, através de um olhar crítico teria a possibilidade de se libertar das influências desta cultura.25 Esta compreensão, dentro do ambiente midiático, é o que se chama de influência das telas26, que trazem consigo uma espécie de autoridade diante da informação, como salienta o pesquisador mexicano Guillermo Orozco Gomez: “Se vejo na tela, acredito, é verídico; se não vejo, posso duvidar e desconfiar.”27 A informação neste espaço comunicacional apresenta-se de uma maneira atrativa para aqueles que a recebem e, consequentemente, adquire maior sentido. Na perspectiva de compreender a comunicação de massa, pesquisadores fazem distinções rígidas no que diz respeito ao nível das produções culturais. Para eles os tais produtos podem se dividir em: Cultura de Elite, onde aparece as produções mais sofisticadas entendidas como obra de arte, sendo ópera, música erudita, pintura etc.; Cultura Popular¸ que corresponde à produção artesanal, tendo destaque o repente, a literatura de cordel, moda de viola, e mostram elementos que, segundo teóricos, se opõem à ideologia do sistema. E por último, a Cultura de Massa, voltada apenas para o consumo, não possuindo qualidades artísticas e com nível baixo. Esta seria alienadora de quem a recebe, se conformando com o que é oferecido.28 A intervenção constante dos meios de comunicação de massa na vida das pessoas foi cada vez ocupando maiores espaços de ação social. Já não se pode mais pensar a comunicação sem a globalização de conteúdos. Ou seja, praticamente todos são atingidos pela fonte de comunicação trazida pelos novos meios.29

b) O desenvolvimento dos processos de comunicação e o surgimento do Digital Após a criação da imprensa por Gutenberg a comunicação tem se intensificado a partir da qualificação da técnica dos meios de difundi-la. Com o passar dos anos, de modo especial a partir da década de 1990, o surgimento das mídias digitais30 provocou 25

Cf. Roberto SANTOS, op. cit. p. 56. Guillermo Orozco GOMEZ. In: Dênis MORAES (Org). Sociedade Midiatizada, p. 96. 27 Ibid. 28 Cf. Ibid, p. 58. 29 Cf. Ibid, p. 125. 30 Explicação de mídia digital: “Nas mídias digitais, o suporte físico praticamente desaparece, e os dados são convertidos em sequências numéricas ou de dígitos – de onde digital – interpretados por um processo capaz de realizar cálculos de extrema complexidade em frações de segundo, o computador. Assim, em 26

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significativas mudanças nas formas de difusão da comunicação. Contudo, apesar do desenvolvimento do digital ainda existem o que se chama de “analfabetos cibernéticos”31 O doutor em filosofia Marshall McLuhan, dedicou seus estudos também no que diz respeito a esse processo evolutivo da comunicação, em termos de técnica. Uma das preocupações de McLuhan ao elaborar uma “Teoria da Mídia” 32 foi de compreender como os meios de comunicação interferem na sensibilidade das pessoas, isto é, nos sentidos, e de que maneiras estas percebem a realidade cotidiana. Ao longo dos anos a evolução das tecnologias da informação foram dando destaque a um ou outro sentido do ser humano, como se percebe:

Na Idade Média, por exemplo, antes da invenção da imprensa, a aprendizagem era sobretudo auditiva, oral ou visual. Uma catedral gótica, por exemplo, oferecia ao público medieval uma experiência próxima do que seria atualmente um mergulho na realidade virtual: vitrais provocavam jogos de iluminação ao longo do dia; imagens e pinturas narravam episódios da vida religiosa e cotidiana, um coral e instrumentos musicais formavam a paisagem sonora enquanto incenso provocava uma experiência olfativa – o indivíduo era atingido por diversos estímulos.33

Gutenberg, de outra forma, com a sua invenção altera consideravelmente a realidade da Idade Média. Na criação da tipografia ele acaba por concentrar toda a informação no visual, onde a experiência da leitura se torna o modo de aprendizagem, tanto que o próprio conceito de cultura fica totalmente relacionado à leitura. Assim, a cultura oral tende a perder espaço para uma cultura mais baseada na palavra escrita.34 Segundo McLuhan, com a criação dos meios eletrônicos a possibilidade de conhecimento e de interação com a realidade é ampliada significativamente. Com essa concepção ele elabora seus estudos, formando o conceito de “aldeia global”. 35 Neste pensamento,

(...) a alfabetização pelos signos da escrita é substituída pela preparação audiovisual para os meios eletrônicos. O fluxo de imagens e sons de certa uma mídia digital, todos os dados, sejam eles sons, imagens, letras ou qualquer outro elemento são, na verdade, sequência de números. Essa característica permite o compartilhamento, armazenamento e conversão de dados.” (Luis Mauro Sá MARTINHO. Teoria das Mídias Digitais. Linguagem, ambientes e redes, p.11) 31 Roberto SANTOS, op. cit. p.67. 32 Marshall MCLUHAN. In: Luis Mauro Sá MARTINHO. op. cit, p. 194. 33 Luis Mauro Sá MARTINHO, op. cit, p. 194. 34 Cf. Ibid. 35 Marshall MCLUHAN, A galáxia de Gutenberg. In: Luis Mauro Sá MARTINHO. op. cit, p. 195.

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maneira marca um retorno da narrativa oral, agora mediada pela eletrônica e tornada audiovisual e sensorial. A sensibilidade humana desloca-se novamente para os ouvidos e para os olhos, bem como para a voz. A leitura perde espaço diante da imagem e o signo escrito perde espaço para os signos audiovisuais.36

Da mesma forma como os sentidos são estimulados e desenvolvidos de maneira diversificada de acordo com o meio comunicativo utilizado, a maneira como se aprende é totalmente resignificada. Por isso, que McLuhan também salienta que os “meios de comunicação são extensões do homem”37 Utilizando os exemplos do telefone como extensão do ouvido e a roda como uma extensão dos pés, McLuhan reflete uma noção ampliada de mídia, onde o contato do ser humano com a realidade é transformado pelos meios que usufrui. Em certo sentido, este conceito traz o que posteriormente se estudou como interatividade. A interação com o meio é uma das características das mídias digitais, uma vez que possibilita uma experiência única, onde quem recebe a informação, o receptor, pode interferir no conteúdo recebido. Neste sentido, a internet, criada inicialmente com fins militares norteamericanos durante a Guerra Fria, possibilita não apenas acesso às informações contidas em sites, como também discussão sobre os temas apresentados neste espaço comunicacional. É a partir do final do século XX que o avanço tecnológico oferece maior impacto na troca de informações e consequentemente, na quebra de fronteiras. Sobre isso, Luís Mauro Sá Martinho, afirma:

A possibilidade de compartilhar dados na forma de dígitos combinada com a interação de processadores em redes de alta velocidade estabeleceu as condições, ao longo do século XX, para o desenvolvimento de uma teia de conexões descentralizadas que veio a se tornar a internet. 38

O além-fronteiras possibilitado pela conexão em rede deu nome ao que se chama ciberspaço.39 Esta nova ambiência da comunicação, ou seja, um espaço inovador onde a

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Luis Mauro Sá MARTINHO. op. cit, p. 195. Marshall MCLUHAN. Os meios de comunicação. In: Luis Mauro Sá MARTINHO. op. cit, p. 196. 38 Ibid, p. 12 39 Definição de “ciber” trazida pelo doutor em Ciências Sociais, Luis Mauro Sá Martinho, em sua obra já citada no texto: “De maneira às vezes um pouco vaga, o sentido de “ciber”, desde o advento da internet e das mídias digitais, é atrelado a ambientes e tecnologias. “Ciber-alguma-coisa” parece implicar a conexão em rede, o digital e o espaço de ligação entre computadores.” (2004, p. 21) 37

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comunicação acontece, intensificou ainda mais a troca de informações e a interatividade. Assim,

O ciberespaço e os ideais da democracia virtual são mantidos pelas novas tecnologias da informação que atribuem à interatividade o status de ferramenta inclinada para realização da interconexão entre pessoas e novas tecnologias. Interação mediada via tecnologias de comunicação é um novo meio de construir relações, de identificar simbolicamente grupos, de simular movimentos e atitudes e de transformar a condição da aquisição de conhecimento e de participação.40

A interação entre os sujeitos das mídias digitais, promoveu a certeza de que não se é mais apenas receptivo de conteúdos, mas também produtor dos mesmos. A alienação já não é possível, como se pensava em tempos anteriores, pois agora quem recebe a informação pode interagir com ela de maneira a criticá-la e até mesmo modificá-la. Quebra-se a ideia de que existem apenas pessoas passivas no processo comunicacional.41 De maneira específica, as mídias digitais criadas no passado, no atual contexto social adquiriram novas formas e, consequentemente, novas maneiras de socialização. Com o ciberspaço vive-se a cibercultura42, termo cunhado pelo filósofo francês Pierre Levy, onde se experimenta um ambiente marcado pela conectividade, destacando-se pela instantaneidade.43 Assim, se instaura uma estrutura midiática em que as pessoas podem a qualquer momento, lidar de maneira plural com as informações que possuem, uma vez que é suscetível envia-las e recebe-las em tempo real, e compartilhá-las com diversas pessoas em qualquer lugar do planeta.44

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Carlos Cândido ALMEIDA, (2003). Novas Tecnologias e Interatividade: além das interações mediadas. http://www.dgz.org.br/ago03/Art_01.htm. Acesso em: 25 out. 2015. 41 Cf. Luis Mauro Sá MARTINHO, Teoria das Mídias Digitais. Linguagem, ambientes e redes, p. 37. 42 “Em linhas gerais, o termo designa a reunião de relações sociais, das produções artísticas, intelectuais e éticas dos seres humanos que se articulam em redes interconectadas de computadores, isto é, no ciberespaço. Trata-se de um fluxo contínuo de ideias, práticas, representações, textos e ações que ocorrem entre pessoas conectadas por um computador – ou algum dispositivo semelhante – a outros computadores. (Luis Mauro Sá MARTINHO, op. cit, p. 34.) 43 Cf. Roberto SANTOS, op. cit. p. 140 44 Cf. Ibid.

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1.2 As Mídias Digitais e a democratização da comunicação Um conceito que auxilia na compreensão desse processo da comunicação é a chamada cultura da convergência, pensamento proposto pelo pesquisador em mídia Henry Jenkins. Neste sentido, Luis Mauro Sá Martinho destaca:

A convergência cultural acontece na interação entre indivíduos que, ao compartilharem mensagens, ideias, valores e mensagens, acrescentam suas próprias contribuições a isso, transformando-os e lançando-os de volta nas redes.45

Uma das ideias mais importantes da Cultura da Convergência diz respeito à potencialidade que cada sujeito tem de ser um produtor de mensagem. As tecnologias digitais facilitam neste desenvolvimento, por exemplo:

Com alguns programas simples de edição de vídeo, uma pessoa pode reconstruir uma cena de novela em seu computador, colocar a trilha sonora que julgar mais adequada e dar significados diferentes do que o autor da novela e a emissora de TV imaginaram. Ao colocar essa produção disponível no ambiente digital, compartilha com outras pessoas essa sua reelaboração, alterando o circuito emissor-receptor.46

A evolução de possibilidades dos aparelhos tecnológicos em realizar diferentes funções, expressa o pensamento da convergência como uma forma de interação entre as pessoas. A primeira convergência notada pelos sujeitos envolvidos numa interação é considerada a de realizar diferentes atividades comunicativas por meio de múltiplos dispositivos e compartilhar suas ações. Isso favorece a troca de conteúdos e a legitimação de receptores ativos na comunicação. Assim, “nenhum de nós pode saber tudo; cada um de nós sabe alguma coisa; e podemos juntar as peças, se associarmos nossos recursos e unirmos nossas habilidades”47

45

Henry JENKINS. Cultura da convergência. In: Luis Mauro Sá MARTINHO, op. cit, p. 34. Ibid, p. 37. 47 Henry JENKINS. Cultura da convergência. In: Debora FACCION. Processos de interação na cultura da convergência. Comtempo - Revista Eletrônica do Programa de Pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero. São Paulo, v.2, n.2, p. 4, dez.2010/maio 2011. (A revista Comtempo é uma publicação científica semestral em formato eletrônico do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da Faculdade Cásper Líbero. Lançada em novembro de 2009, tem como principal finalidade divulgar a produção acadêmica inédita dos mestrandos e recém mestres de todos os Programas de Pós-graduação em Comunicação do Brasil.) 46

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Com o aprimoramento das tecnologias e, consequentemente, a interatividade proposta pelas diferentes mídias, surgiram diversas maneiras de se contar uma história. Fazendo uso de variadas plataformas, podendo passar pelo cinema, televisão, internet, jogos eletrônicos, o sujeito usufrui do que se denomina “narrativa transmídia”48 Este tipo de narrativa brota justamente de uma cultura da convergência, onde a sociedade em geral carrega a possibilidade de entrelaçar histórias, criá-las ou recriálas, compartilhando através de mídias diversificadas. A internet e as mídias digitais abriram espaços de interação até então desconhecidos. O que surpreende neste processo, é justamente a interação em comunidades, em grupos que compartilham produções. Tal realidade, de modo especial os relacionamentos online, foi fonte de pesquisas pelo escritor norteamericano Howard Rheingold, com o conceito de comunidade virtual.49 As comunidades virtuais são uma “teia de relações pessoais”50 presentes no ciberespaço. Como qualquer comunidade humana, estas associações no ambiente virtual se formam a partir de interesses comuns que possibilitam a troca de informações. A diferença está apenas nestes vínculos serem mantidos através de uma tela de computador.51 É significativo salientar que as comunidades virtuais ganham força não devido a tecnologia e seus avanços, mas a partir das intenções que fazem as pessoas compartilharem conhecimentos ou determinados assuntos. A interação humana é o ponto chave que move este entrelaçamento comunicacional. Dentro desta nova ambiência da comunicação há maiores possibilidades de formação de espaços de troca de conteúdos, debates e até mesmo tomada de decisões. Sobre essa compreensão, o filósofo norte-americano Douglas Kellner, fala sobre o potencial de ação que as comunidades criadas no ambiente virtual possuem no mundo real, bem como as mídias em geral, no que diz respeito a democratização da comunicação:

Por isso, hoje em dia os estudos culturais deveriam discutir como a mídia e a cultura podem ser transformadas em instrumentos de mudança social. Para tanto, é preciso dar mais atenção à mídia alternativa do que se fez até agora, 48

Luis Mauro Sá MARTINHO, op. cit, p. 38. Howard RHEINGOLD. In: MARTINHO, Luis Mauro Sá. op. cit, p. 44. 50 Ibid. 51 Cf. Luis Mauro Sá MARTINHO, op. cit, p. 45. 49

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refletindo-se mais no modo como a tecnologia da mídia pode ser reconfigurada e usada em favor das pessoas. Essa tarefa implica o desenvolvimento de um ativismo capaz de intervir na televisão de acesso publico, na radio comunitária, nos meios de comunicação por computador e em outros domínios que hoje estão surgindo. Para obterem uma participação genuína, as pessoas precisam adquirir conhecimentos sobre a produção da mídia e sobre a criação de produtos divulgáveis. A intensificação do ativismo na mídia poderia ampliar significativamente a democracia, com a proliferação de novas idéias e com a possibilidade de manifestação das opiniões até agora silenciadas ou marginalizadas.52

Sobre os estudos culturais citado por Douglas Kellner, um outro teórico da comunicação, Pramod K. Nayar, explicita e define os mesmos como uma cultura onde o espaço de embate de discursos e representações sociais acontece. Nayar busca uma aproximação com a cibercultura e os Estudos Culturais Britânicos formulados por vários autores a partir de 1950. Nestes estudos existe uma análise de que as práticas cotidianas das pessoas fazem parte da cultura dos mesmos e que são elementos fundamentais para a construção da identidade dos sujeitos e das comunidades.53 A fusão da cibercultura e Estudos Culturais proposta, trata-se de uma perspectiva mais radical de integrar a cibercultura em processos de ação política, histórica e social. Nesta concepção as identidades não existem naturalmente, mas são constituídas nas relações sociais. Nayar procura justamente entender de que forma as estruturas do ciberespaço e das mídias digitais agem no processo de construção individual e coletiva. Assim, “enquanto as culturas determinam quais formas de tecnologia serão desenvolvidas, essas tecnologias, por seu turno, dão forma à cultura.”54 Trata-se aqui da já mencionada cibercultura onde questões ligadas a política, religião, classe social, gênero, etnia, faixa etária se encontram entre os principais assuntos mencionados no ambiente digital:

As culturas humanas, com suas características, dinâmicas, conflitos e paradoxos, migram para o ciberespaço, o que implica transformações contínuas, a ponto de se tornarem irreconhecíveis para seus correlatos no mundo físico. Isso leva diretamente a uma noção de “cibercultura” pensada

52

Douglas KELLNER. A Cultura da Mídia. In: Debora FACCION, Processos de interação na cultura da convergência. Comtempo - Revista Eletrônica do Programa de Pós-graduação da Faculdade Cásper Líbero. São Paulo, v.2, n.2, p. 7, dez.2010/maio 2011. 53 Cf. Luis Mauro Sá MARTINHO, Teoria das Mídias Digitais. Linguagem, ambientes e redes, p. 49. 54 , Cf. Pramod K. NAYAR In: Luis Mauro Sá MARTINHO, op. cit, p. 50.

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nos termos dos Estudos Culturais, como um espaço dinâmico de tensões e conflitos de representação.55

1.3 As Linguagens das Mídias digitais e seus limites. Além das palavras interatividade e convergência como uma linguagem das novas mídias, a comunicação digital engloba em si muitos outros conceitos. Para o pesquisador em novas mídias, Lev Manovich, não se pode reduzir as novidades comunicacionais em um único objeto. Por isso, o ser humano faz uso de uma pluralidade de aparelhos, ferramentas e dispositivos, que demonstram esta compreensão.56 Desde a segunda metade do século XX o uso frequente dos computadores criou espaços de comunicação até então inimagináveis dentro das culturas. Nas palavras de Manovich, a “computadorização da cultura”57 criou novas formas culturais de comunicação, como a cibercultura, os games e a realidade virtual, redefinindo as que já existiam, como a fotografia e o cinema. É significativo como o computador tem ocupado variados ambientes da vida do ser humano. No dia-a-dia se percebe as atividades mais corriqueiras sendo mediadas pelo recurso computacional, desde ver as horas no relógio, por exemplo, uma ligação telefônica ou um pedido em uma lanchonete, o computador se faz presente, realizando em questão de segundos o que faz com maestria: calcular. Esta tarefa é a que não conseguimos enxergar:

Tudo o que se vê nas telas desses instrumentos é o resultado de operações matemáticas que definem o que deve aparecer em cada coordenada, aonde, quando, como e por quê. São programas com instruções a respeito do que fazer em cada situação, de maneira que, diante de um comando, seja possível calcular o que fazer em seguida. Esses cálculos permitem à máquina tomar decisões, exibir resultados e, se necessário, lidar com esses resultados novamente, dando início a outra rodada de operações matemáticas. (...) Essa estrutura invisível de cálculos é a estrutura da linguagem da nova mídia.58

Na base destes cálculos é que a internet e o digital se estabelecem com suas possibilidades e limites no processo comunicacional. O pesquisador francês Dominique

55

Luis Mauro Sá MARTINHO, op. cit, p. 50. Cf. Ibid, p. 211. 57 Lev MANOVICH, The Language of New Media. In: Luis Mauro Sá MARTINHO, op. cit, p. 212. 58 Luis Mauro Sá MARTINHO, op. cit, p. 213. 56

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Wolton, dedica-se a estudar justamente a limitação que a internet possui no que diz respeito a comunicação de fato.59 Wolton parte da diferenciação entre informação e comunicação, muitas vezes empregadas como sinônimos. Ele dá uma importância bem maior a comunicação, digase propriamente dita, e procura fazer a diferença de informação, colocando esta em outro nível. Para o pesquisador francês, a informação está totalmente relacionada com a troca de dados e mensagens feitas de modo especial pelos meios tecnológicos. Com o advento da modernidade o aumento da quantidade de informações produzidas e trocadas entre as pessoas, se tornou extremamente relevante. Para tanto, “essa parece ser uma das características mais importantes da informação – ela pode ser quantificada, medida e observada em termos técnicos por conta de sua própria estrutura.”60 Por sua vez, a comunicação é o “complexo processo de estabelecimento de relações entre seres humanos vinculada ao ato de compartilhar com outra pessoa algo que permita o estabelecimento de uma relação entre ambos (...)”61 Ou seja, comunicação é, sobretudo, relação entre sujeitos. A internet e as mídias digitais vêm com a promessa de favorecerem esse processo da comunicação, criando novas formas de relação entre as subjetividades. Entretanto, para que a comunicação seja eficaz, necessariamente se exige a compreensão do outro. Neste sentido, o que Wolton faz não é criticar a internet e seus avanços na área das relações, mas salientar que a tecnologia como um todo permite o acesso ao outro, mas nem sempre a comunicação com o mesmo.62 O pesquisador enfatiza:

O que a Internet permite é que haja muita interação, e de forma muito rápida. É claro que pode haver um pouco de comunicação numa interação, mas enquanto a informação está sendo transmitida com grande velocidade, os homens, os povos e a cultura caminham de forma extremamente lenta. Pode existir até mesmo compreensão entre um brasileiro e um francês. Eles podem trocar e-mails, e isso ocorre de maneira bem veloz, mas eles não têm a mesma língua, a mesma cultura, as mesmas histórias e as mesmas representações. Então, se quisermos estabelecer uma comunicação efetiva,

59

Cf. Ibid, p. 268. Ibid. 61 Ibid, p. 269. 62 Cf. Ibid. 60

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será necessário um diálogo mais demorado e mais aprofundado para que haja uma maior compreensão.63

A relação de comunicação requer tempo, profundidade e disposição de estabelecer um diálogo. Não é por que o avanço da tecnologia acontece que a comunicação realmente acontece, pois seu princípio fundante é criar pontes e vínculos. A tecnologia deve favorecer este processo comunicacional, mantendo relações além da simples informação. Assim, fica-se na “espera de que se procure menos dados, números e bits e mais compreensão entre os seres humanos.”64 Dentro desse ambiente midiático digital, se tem profundas transformações sociais onde as formas de ser sujeito e socialização adquiriram rumos significativamente transformadores dos ambientes. Assim, no próximo capítulo se refletirá sobre alguns aspectos que destacam a conjuntura social formada a partir da tecnologia digital e o perfil das subjetividades face a este contexto.

Carlos Alberto ZANOTILL; André Camarão Telles RIBEIRO. “É preciso diminuir a velocidade da informação” - Entrevista com Dominique Wolton. Comunicação, mídia e consumo. São Paulo, v. 9, ano 9, n. 25, p. 203-204, ago. 2012. 64 Luis Mauro Sá MARTINHO, Teoria das Mídias Digitais. Linguagem, ambientes e redes, p. 270. 63

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Capítulo II Comunicação Digital: uma nova ambiência O novo ambiente que tem como pano de fundo a midiatização digital da sociedade é significativamente transformador. Percebe-se como salienta o pesquisador Jefferson Neto, que os meios comunicacionais neste contexto sofrem uma transformação de papeis. Agora, os meios já não são mais utilizados como suporte para um determinado fim, mas passam a “atuar como uma espécie de atores que despertam o interesse pela circulação de temas indispensáveis para o público através de assuntos específicos”.65 É importante perceber como os meios digitais começam a adquirir determinada centralidade na vida das pessoas, sendo fonte de informação e entretenimento. Através de linguagens próprias “as mídias são utilizadas com o intuito de divulgação de pessoas e/ou ideias através de sites de relacionamento, blogs, páginas pessoais, sites de vídeos, etc.”66 Assim, a maneira de contato interpessoal fica altamente ligada pelo que se compartilha no campo digital. Com o advento cada vez mais qualificado dos meios de comunicação informatizados, a vida passa a ser vista através da plataforma oferecida na internet. Ou seja,

Hoje a web é cada vez mais um local de participação e de compartilhamento. Uma rede social é constituída por um grupo de pessoas abertas a partilhar pensamentos, conhecimentos, mas também momentos de suas vidas. Em resumo, as redes sociais são compostas de pessoas comuns, que distribuem conteúdos relativos aos próprios interesses ou a própria existência. 67

2.1 O ambiente comunicacional a partir das linguagens digitais As atuais tecnologias da comunicação trazem consigo um código próprio de inter-relação que necessitam ser refletidos. Trata-se de uma linguagem singular provocadora de mudanças. Como afirmou o Papa Bento XVI em sua mensagem para a 43ª Jornada Mundial das Comunicações Sociais: “as novas tecnologias digitais estão 65

Jefferson Garrido Araújo NETO. A utilização das mídias digitais na sociedade midiatizada. http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/encontros-nacionais/7o-encontro-20091/A%20utilizacao%20das%20midias%20digitais%20na%20sociedade%20midiatizada.pdf . Acesso em: 10 abril 2016. 66 Ibid, p.3. 67 Antonio SPADARO. Web 2.0: Redes sociais, p. 144.

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determinando mudanças fundamentais nos modelos de comunicação e nas relações humanas.”68 Nos bastidores desta influência digital se encontram as motivações que são importantíssimas neste processo. Teóricos da comunicação se perguntam o que leva o uso do digital a predominar de maneira significativa no ambiente social. Demonstrando que não se trata simplesmente de mais uma técnica de comunicação presente entre as pessoas, mas tem se expressado como uma maneira de se comunicar. As várias motivações para o uso do digital tem configurado uma nova antropologia. Por isso,

A variedade de motivações ilustra, aliás, o fato de que as novas tecnologias sejam investidas de muitas outras coisas que puramente a função técnica. Trata-se, no conjunto, de modificar as relações humanas e sociais, o que provoca o quanto, na área da comunicação, se gera símbolos e utopias, sem grande relação com as performances dos instrumentos. O termo que convém aqui é o de transferência.69

Dentro do aspecto de transferência como viés motivador do uso das novas tecnologias, o sociólogo Dominique Wolton, salienta que as dimensões psicológicas que atraem o uso das mesmas é o fato das tecnologias simbolizarem a “liberdade e a capacidade de dominar o tempo e o espaço, um pouco como os automóveis dos anos 30”.70 Para tanto, segundo Dominique Wolton, compreender a utilização das tecnologias digitais é entender que por detrás se encontram alguns elementos como autonomia, domínio e velocidade.71 Na realidade digital, a capacidade de agir em tempo real, muitas vezes, sem alguém que filtre ou impeça a ação, gera um sentimento de liberdade absoluta, onde a adversidade do tempo é vencida através da mobilidade. Desta experiência se afirma a famosa expressão “navegar na internet”, uma vez que é um campo aberto para o seu uso em qualquer hora e lugar.72 A internet se apresenta com um local de manifestação humana, sendo a “expressão de nós mesmos através de um código de comunicação específico, que

68

Papa BENTO XVI. In: Antonio SPADARO. op. cit, p. 144. Dominique WOLTON. Internet, e depois? Uma teoria crítica das novas mídias, p. 83. 70 Ibid. 71 Cf. Ibid. 72 Ibid. 69

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devemos compreender ser quisermos mudar nossa realidade.”

73

Trata-se de uma

expressão cultural como se analisou no primeiro capítulo deste trabalho, por meio da reflexão sobre a cibercultura. A comunicação interpessoal através das tecnologias digitais mostra o quanto existe uma potencialidade comum em cada cultura. Por isso,

a cibercultura potencializa aquilo que é próprio de toda dinâmica cultural, a saber, o compartilhamento, a distribuição, a cooperação, a apropriação dos bens simbólicos e, ao instaurar uma cultura planetária da troca e da cooperação, estaria resgatando o que há de mais rico na dinâmica de qualquer cultura.74

O compartilhamento é um ponto que se destaca na cultura do digital e que é intensificado pelo aspecto do que se chama “computação ubíqua”, conhecida como a comunicação efetivada por meio da onipresença, onde a capacidade de mobilidade trazida pelos avanços tecnológicos possibilita às pessoas se comunicarem em qualquer lugar.75Ou seja,

as tecnologias digitais, e as novas formas de conexão sem fio, criam usos flexíveis do espaço urbano: acesso nômade à internet, conectividade permanente com os telefones celulares, (...) equipamentos com bluetooth que criam redes caseiras, etc. Os impactos estão se fazendo perceber a cada dia. A cidade contemporânea torna-se, cada vez mais, uma cidade da mobilidade onde as tecnologias móveis passam a fazer parte de suas paisagens.76

O ambiente comunicacional formado a partir das novas tecnologias digitais torna a comunicação orientada por uma cultura móvel. “Nas cidades contemporâneas, os tradicionais espaços de lugar (rua, praça, avenidas, monumentos) estão, pouco a pouco, transformando-se em espaços de fluxos, espaços flexíveis, comunicacionais, “lugares digitais””77 A partir desta nova configuração social que a comunicação móvel vai gerando, pode-se conceber metaforicamente que a sociedade atual é a da sociedade em rede.78 A 73

Manoel CASTELLS. In: Darlene Teixeira CASTRO. Sociedade da informação, inovação e cibercultura. http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1305056641_ARQUIVO_ArtigoConlabDarle ne.pdf . Acesso em: 05 de abril 2016. 74 André LEMOS. In: Darlene Teixeira CASTRO. Sociedade da informação, inovação e cibercultura. http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1305056641_ARQUIVO_ArtigoConlabDarle ne.pdf . Acesso em: 05 de abril 2016. 75 Cf. André LEMOS. Cibercultura e Mobilidade: a Era da Conexão. http://www.razonypalabra.org.mx/anteriores/n41/alemos.html. Acesso em: 05 de abril 2016. 76 Ibid. 77 Thomas A. HORAN. In: André LEMOS, op. cit. 78 Cf. André LEMOS, op. cit.

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cidade passa a ser um espaço urbano de presença simultânea, em que através da conectividade todos saem do anonimato, interligando-se no processo de comunicação. Por isso, “se outrora era necessário sentar-se ao computador para ficar conectado, agora basta possuir um telefonezinho desenvolvido para ter a Rede sempre no bolso, à mão.”79 As novas estruturas em rede que dão forma ao contato social, reflexo da cibercultura, estão em plena prática com o uso da telefonia celular, possibilitando um contato com as pessoas no mundo inteiro. A vida social já não é mais anônima, mas se torna conhecida pela comunicação em rede. Neste aspecto, a antropóloga japonesa Mizuko Ito afirma:

Devido sua portabilidade, espaço virtual igual (virtual peer space), a cidade não é mais um espaço urbano anônimo; até mesmo ao sair para fazer compras, jovens irão mandar fotos aos amigos dos pares de sapatos que compraram, ou mandar notícias rápidas sobre as ótimas liquidações que estão encontrando. Após encontrarem-se face a face, uma sequência de mensagens de texto continuará as conversas enquanto os amigos se dispersam em trens, ônibus e a pé, dedos polegares datilografando em teclados portáteis numéricos.80

Por um momento, dentro da reflexão que a antropóloga Mizuko Ito traz, podese pensar que a mobilidade da comunicação a partir da tecnologia tende a ser prejudicial à vida em sociedade, devido a dispersão que ela pode causar, mas “a tecnologia não é inimiga das verdadeiras relações; ao contrário, pode ser sua melhor aliada. Todavia, é preciso aprender a integrá-la no contexto da vida.”81 Nesse contexto de compreensão, sabe-se que o espaço virtual não substitui o espaço físico, mas adiciona

funcionalidades

e

que

a

cibercultura

instaura

uma

cultura

de

compartilhamento e de trabalho colaborativo.82 A comunicação móvel fornece as pessoas uma conexão de vidas. Cada sujeito pode entrar na vida do outro a partir das informações que são disponibilizadas mesmo não estando no mesmo espaço geográfico. “As tecnologias do ciberespaço alteraram

79

Antonio SPADARO. op. cit, p. 146. Mizuko ITO. In: André LEMOS, Cibercultura e Mobilidade: a Era da Conexão. http://www.razonypalabra.org.mx/anteriores/n41/alemos.html. Acesso em: 05 de abril 2016.. 81 Antonio SPADARO. Web 2.0, p. 145. 82 Cf. Darlene Teixeira CASTRO, Sociedade da informação, inovação e cibercultura. http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1305056641_ARQUIVO_ArtigoConlabDarle ne.pdf . Acesso em: 05 de abril 2016. 80

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drasticamente o significado de distância e de tempo instaurando uma nova forma de comunicação mundial. (...) A distância torna-se secundária.”83 No contexto da comunicação móvel um fator determinante é o crescimento das zonas de acesso à internet sem fio, denominadas Wi-Fi84. As cidades contemporâneas têm adotado com mais frequência esta forma de comunicação em rede. Várias cidades no mundo estão oferecendo Wi-Fi aos seus cidadãos aumentando assim, a mobilidade da comunicação.85 As tecnologias sem fio, como os celulares e as formas de conexão Wi-Fi, têm criado práticas contemporâneas de mobilização social. Pessoas e até mesm multidões se reúnem para um ato em conjunto através do contato estabelecido pelos meios de comunicação móvel. As denominadas Flash mobs “onde pessoas que não se conhecem marcam, via rede (blogs, celular com uso de voz e SMS), locais públicos para se reunir e se dispersar em seguida, causando estranheza e perplexidade aos que passam”86, refletem essa facilidade comunicacional. Vê-se o quanto a rede tem sido um espaço de organização e a rua, um espaço de encontro. A utilização de tecnologias móveis tem sido fundamental para a organização dos eventos. É a era da mobilidade. Para tanto, “a revolução do acesso à internet sem fio, o Wi-Fi, mostra como as relações sociais e as formas de uso da internet podem mudar quando a rede passa de um “ponto de acesso” para um “ambiente de acesso”87 Dentro do aspecto móvel, a Internet se faz presente em qualquer ambiente possibilitando comunicações interpessoais e de conteúdos próprios. O sociólogo francês Dominique Wolton classifica os conteúdos da web em quatro categorias: serviço (divulgação de eventos, sites de busca...); lazer (jogos interativos em rede,

83

André LEMOS. In: Darlene Teixeira CASTRO. Sociedade da informação, inovação e cibercultura.http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1305056641_ARQUIVO_Artigo ConlabDarlene.pdf . Acesso em: 05 de abril 2016. 84 “Com a tecnologia Wi-Fi, é possível implementar redes que conectam computadores e outros dispositivos compatíveis (smartphones, tablets, consoles de videogame, impressoras, etc) que estejam próximos geograficamente. Estas redes não exigem o uso de cabos, já que efetuam a transmissão de dados por meio de radiofrequência. Este esquema oferece várias vantagens, entre elas: permite ao usuário utilizar a rede em qualquer ponto dentro dos limites de alcance da transmissão; possibilita a inserção rápida de outros computadores e dispositivos na rede; evita que paredes ou estruturas prediais sejam furadas ou adaptadas para a passagem de fios.” (Emerson ALECRIN. O que é Wi-Fi? http://www.infowester.com/wifi.php#wifi. Acesso em: 26 abril 2016.) 85 Cf.: André LEMOS, op. cit. 86 André LEMOS, op. cit. 87 Ibid.

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vídeo); informação-notícia (fornecida em geral por agências ou jornais) e informaçãoconhecimento (disponibilizada em banco de dados de livre acesso ou pagos).88 Como afirma o teólogo italiano Antônio Spadaro, os novos ambientes de compartilhamento da contemporaneidade são uma rede social composta de pessoas comuns, dispostas a distribuírem conteúdos relativos aos próprios interesses ou a própria existência.89 Por isso, conteúdos são produzidos e compartilhados em grande escala, numa fração de segundos. É a sociedade em rede.

2.2 As influências da Sociedade em Rede. De acordo com alguns teóricos da comunicação, o fator que torna a sociedade cada vez mais interconectada é a globalização do processo comunicacional. A indústria midiática e sua produção em série de conteúdos adquiriram com o tempo um alcance global significativo e a tecnologia que disseminou a comunicação em rede, favoreceu isso. As pessoas, até mesmo sem perceberem, estão envolvidas neste ambiente de comunicação e dele fazem parte. Esta ambiência formada por um “conglomerado midiático”90 influencia a vida em sociedade, e em seus bastidores muitas vezes se encontram empresas produtoras de conteúdos que posteriormente são compartilhados pelos usuários. A indústria cultural agora atravessa fronteiras geográficas, fazendo com que seus materiais cheguem às pessoas e motivem comportamentos. Assim,

De maneira geral, pode-se dizer que, nessa dimensão, o processo de globalização caracteriza-se pela tendência à padronização dos produtos e à massificação do consumo, agora verificando em escala planetária, e pela propensão a uniformizar os comportamentos, tendo as grandes empresas de mídia como disseminadoras dessa estandardização dos valores e hábitos da população mundial.91

Outro aspecto da globalização da comunicação é a viabilização e disseminação rápida de informações, como vimos anteriormente, bem como o acesso crescente às tecnologias por parte dos sujeitos fazendo com que muitos conteúdos sejam produzidos

88

Cf. Dominique WOLTON, Internet, e depois? Uma teoria crítica das novas mídias, p. 89. Cf. Antonio SPADARO, op. cit, p. 144. 90 Roberto Elísio dos SANTOS (Org.). Mutações da cultura midiática, p. 20. 91 Ibid. 89

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e compartilhados por eles mesmos. É o que se chama de “apropriação da tecnologia”92, onde se tem ao alcance programas que possibilitam a criação de blogs93, aparelhos de gravação e edição audiovisual e equipamentos, como câmera digital e telefone celular. Trata-se de “indivíduos ou grupos organizados que se tornam produtores e disseminadores de informação e cultura.” 94a partir dos acessórios de comunicação que utilizam. Para tanto, o desenvolvimento dessa utilização se faz presente em todas as iniciativas,

Ao mesmo tempo em que a internet abre espaços para as produções amadoras, equipamentos como câmeras digitais, aparelhos de telefonia celular, computadores, impressoras domésticas e mídias para armazenamento de dados digitais são utilizados por crianças, jovens e adultos – muitas vezes sem nenhum conhecimento das técnicas de manipulação dos signos – para produção de todo tipo de bens simbólicos e culturais (filmes, fotografias, músicas, história em quadrinhos, animação etc). Diante disso, as linguagens são, diariamente, experimentadas, testadas, apreendidas, reproduzidas e transformadas. 95

A criação de conteúdos subjetivos ou por parte da indústria cultural potencializa nas pessoas, de acordo com o sociólogo francês Michel Maffesoli, uma identificação e consequente necessidade de se destacar na sociedade. Com os conteúdos oferecidos pelas mídias percebe-se que “o individualismo é substituído pela necessidade de identificação com um determinado grupo, o que pode ser fomentado pela cultura disseminada pelos meios de comunicação de massa (moda, seriados de televisão, música, site etc.) A identificação que surge a partir de um determinado interesse pessoal, vão formando grupos de destaque na sociedade, também denominados tribos. São novas formas de socialização, que segundo Michel Maffesoli,

além de segmentar o consumo de bens culturais simbólicos e de possibilitar identificação dos que compartilham os mesmos gostos e interesses, ainda 92

Ibid, p. 21. “Blogs são páginas na Internet onde as pessoas escrevem sobre diversos assuntos de seu interesse que podem vir acompanhadas de figuras e sons de maneira dinâmica e fácil além de outras pessoas poderem colocar comentários sobre o que está sendo escrito. É um recurso de comunicação entre família, amigos, grupo de trabalho, ou até mesmo empresas. Muitos o utilizam como diários virtuais, escrevendo mensagens envolvendo o lado pessoal, emocional e profissional. É uma ferramenta colaborativa onde pessoas trocam informações e conhecimentos cooperativamente. Pode ser utilizado como um laboratório de escrita virtual onde todos os membros possam agir, interagir e trocar experiências sobre assuntos de mesmo interesse.” (Jossiane Boyen BITENCOURT. O que são Blogs? http://penta3.ufrgs.br/PEAD/Semana01/blogs_conceitos.pdf. Acesso: 27 abril 2016.). 94 Ibid. 95 Roberto Elísio dos SANTOS (Org.), Mutações da cultura midiática, p. 40. 93

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permite a interação de diferentes culturas e o surgimento de novas manifestações culturais (que podem ou não seguir a lógica do lucro característica da sociedade capitalista).96

Nesse processo, as pessoas acabam se misturando com inovadoras práticas e interações sociais, adquirindo hábitos e comportamentos alheios, dando significado ao que se chama de uma cultura híbrida.97 A globalização, bem como a sociedade em rede abriu maior espaço para a vivência de uma cultura que se mistura com as outras. Por isso, “os usuários da internet ingressam em redes ou grupos on-line com base em interesses em comum”98 Com o avanço da utilização das mídias digitais, os próprios acontecimentos da sociedade são sabidos primeiramente através destes campos comunicacionais. São as denominadas ações midiatizadas, onde as ações das mídias se fazem presente em todos os ambientes. Retomando a história, em 2009 a divulgação da complexa eleição para a presidência do Irã, já era expressão dessa realidade. O episódio foi noticiado da seguinte maneira por um colunista da web:

As eleições presidenciais no Irã são um marco histórico nas possibilidades das mídias sociais em coberturas jornalísticas importantes. A vitória de Mahmoud Ahmadinejad sobre o candidato de esquerda Mir-Houssein Mousavi inflamou o país e até alguns lugares do mundo. Protestos violentos, acusações de fraude e prisões arbitrárias. Está tendo tudo. E nenhum lugar se mostra melhor do que Twitter, blogs e outras mídias como Youtube (vídeos) e Flickr (fotos) para acompanhar os fatos no momento em que acontecem. Os grandes sites de notícia do mundo tiveram que correr atrás. Mesmo os que se saem bem, como o The New York Times, tiveram a nata da cobertura pelos canais oficiais que mantém no Twitter. 99

As informações de notícias e muitos outros conteúdos que são oferecidos pelas mídias fazem parte da cultura midiática e, encontram-se no centro das transformações sociais. A vida cotidiana das pessoas é afetada diariamente pelas linguagens que se manifestam nesse processo de comunicação e a constante criação de aparatos tecnológicos favorece isso. “Tais máquinas e aparelhos, ao criarem raízes na vivência 96

Michel MAFFESOLI. In: Roberto Elísio dos SANTOS (Org.). op. cit, p. 23. Cf. Roberto Elísio dos SANTOS (Org.). op. cit, p. 24. 98 Manuel CASTELLS. In: CASTRO, Darlene Teixeira. Sociedade da informação, inovação e cibercultura.http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1305056641_ARQUIVO_Artigo ConlabDarlene.pdf . Acesso em: 05 de abril 2016. 99 Rafael PEREIRA. In: Jefferson Garrido Araújo NETO. A utilização das mídias digitais na sociedade midiatizada.http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/encontros-nacionais/7o-encontro-20091/A%20utilizacao%20das%20midias%20digitais%20na%20sociedade%20midiatizada.pdf . Acesso em: 10 abril 2016. 97

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social diária, acabaram por condicionar comportamentos, novas necessidades, expectativas e desejos.”100 Servem como uma lente cultural pela qual os sujeitos enxergam e compreendem o mundo.101 Por isso,

Nós constituímos uma simbiose com as tecnologias. A internet, o celular, o rádio, a televisão, o Mp3, o Facebook, os e-mails e nós formamos uma ambiência. Imergimos no universo de linguagens, símbolos, sentimentos e realidades do dia a dia pelas mídias. As tecnologias não estão separadas de nós. Com a sociedade midiática não existe mais a fronteira que nos divide das mídias. Interagimos com elas naturalmente. 102

2.3 O sujeito dentro da ambiência digital A nova ambiência denominada de cultura midiática, devido às mudanças sociais promovidas pela internet e as mídias contemporâneas, tem definido uma nova geração.103 A chamada “geração internet”, é classificada dentro da geração Y104 e Z105, que são pessoas que já nascem, crescem, e se desenvolvem na ambiência digital. Para tanto, alguns autores definem uma geração pelas mudanças culturais e sociais surgidas e o fenômeno da internet, as mídias digitais e redes sociais são a representação desta geração.106 A realidade de se estar num outro tempo onde a cultura midiática se propaga significativamente, faz parte da dinâmica de uma mudança geracional. Quando se analisa o papel que os meios de comunicação tiveram para as gerações, se percebe que cada uma teve uma determinada influência no modo de pensar e agir, orientada pelos meios de comunicação.107 Assim, se percebe, como refletido anteriormente, que “a

100

Roberto Elísio dos SANTOS (Org.), Mutações da cultura midiática, p. 28. Cf. Ibid. 102 Gildasio MENDES, Geração Net: relacionamento, espiritualidade, vida profissional, p. 46. 103 Cf. Gildasio MENDES, op.cit, p. 11. 104 Diferente de outras gerações, a geração Y deixa de ser um “receptor passivo” de um programa de televisão e começa a acessar o vasto universo dos portais da internet. “O membro da geração Y quer estar sempre atualizado, mas encontra problemas em fazer as informações se tornarem conhecimento. (...) Valorizam a família e os amigos.” (Gildasio MENDES, op.cit, p. 17). 105 Esta geração compreende os nascidos desde 1998 até o presente e encontram uma internet mais avançada. “A geração Z vive profundamente essa grande mudança social e econômica da cultura midiática. Está mais familiarizada com as mídias digitais, com Iphones, Ipads, com o novo estilo de vida nas redes sociais, e praticamente é a mais bem preparada para entrar no universo dos livros digitais, dos modelos de vida, trabalho e relacionamento virtual.” (Ibid, p. 18). 106 Cf. Ibid. 107 Cf. Ibid, p. 13. 101

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mídia tem um papel importante na mobilidade, nos processos de organização dos grupos e nas mudanças sociais.”108 O modo de vida das atuais gerações fica significativamente marcado por um universo digitalizado. As compreensões que estas pessoas vão tendo dos fatos, são totalmente enraizadas no virtual. Isso deve ser levado em consideração quando se busca entender a maneira de agir delas nesta ambiência digital, como salienta o filósofo francês Michel Serres:

Essas crianças, então, habitam o virtual. As ciências cognitivas mostram que o uso da internet, a leitura ou a escrita de mensagens com o polegar, a consulta à Wikipédia ou ao Facebook não ativam os mesmos neurônios nem as mesmas zonas corticais que o uso do livro, do quadro-negro ou do caderno. Essas crianças podem manipular várias informações ao mesmo tempo. Não conhecem, não integralizam nem sintetizam das mesma forma que nós, seus antepassados. Não têm mais a mesma cabeça. 109

O conceito de comunidade é algo importante nesse novo contexto. Com a sociedade da informação orientada pelo digital, a maneira de estabelecer encontros, sociais e comunitários, está totalmente diferente dos modos anteriores. Pode-se dizer que a geografia do encontro está mudada, como afirma Michel Serres, refletindo acerca do comportamento das crianças da geração Z:

Por celular, têm acesso a todas as pessoas; por GPS, a todos os lugares; pela internet, a todo o saber: circulam, então, por um espaço topológico de aproximações, enquanto nós vivíamos em um espaço métrico, referido por distâncias. Não habitam mais o mesmo espaço.110

O interesse no universo virtual aos poucos insere as pessoas nos chamados ambientes virtuais, onde formam grupos, comunidades, bem como oportunidades de relacionamentos on-line. A formação destes grupos é praticamente seletiva, feita a partir de “interesses comuns, aproximação emocional e outras motivações de valores intangíveis (amor, amizade, senso de pertença, a busca de um ideal)”111 Assim, a rede se torna um centro de relacionamento e de trabalho para as pessoas.

108

Cf. Ibid, p. 14 Michel SERRES. Polegarzinha: Uma nova forma de viver em harmonia, de pensar as instituições, de ser e de saber. p. 19. 110 Ibid. 111 Gildasio MENDES, op. cit, p. 24. 109

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Entretanto, neste ambiente pode se estabelecer, o que o sociólogo espanhol Manuel Castells denomina de laços fracos e fortes. Trata-se de um envolvimento mais descompromissado, havendo a efemeridade das amizades on-line. Ela afirma:

A Rede é especialmente apropriada para a geração de laços fracos múltiplos. Os laços fracos são úteis no fornecimento de informações e a na abertura de novas oportunidades a baixo custo. A vantagem da Rede é que ela permite a criação de laços fracos com desconhecidos, num modelo igualitário de interação, no qual as características sociais são menos influentes na estruturação, ou mesmo no bloqueio, da comunicação. 112

Diante das mídias digitais e a sua relação com elas, os sujeitos vão descobrindo valores, novos estilos de vida, gerando significativas mudanças sociais e culturais que são percebidas em todas as instancias, na sociedade em geral, na família, escola e Igreja. Tem-se uma maneira de assumir valores, de percebê-los e escolhê-los. Para tanto, essa realidade gera diversas opiniões, como destaca o filósofo Gildasio Mendes:

Na concepção de alguns pais e educadores, estamos vivendo, na era da internet e das novas mídias, uma crise de valores que permeia todo o tecido social. Existem também aqueles que acreditam que, na verdade, não existe crise de valores, mas uma nova maneira de as pessoas colocarem-se diante da vida.

O ambiente digital também pode proporcionar o que o pesquisador francês Dominique Wolton, chama de “solidões interativas”, manifestada pela dificuldade que as pessoas têm de se relacionar além da ambiência digital. Como o pesquisador afirma: “pode-se ser um exímio internauta e ter grandes dificuldades em estabelecer um diálogo com o vizinho do cibercafé”.113 O equilíbrio entre contato com a rede e contato físico pessoal, é a palavra de ordem para se evitar cair no que Dominique Wolton comenta. Por isso, “sempre chega o momento em que é preciso desligar as máquinas e falar com alguém. ”114 Diante das reflexões sobre o ambiente da contemporaneidade marcado pelo virtual e os sujeitos em meio a esta realidade, um aspecto será predominante: não se pode negar que já se está num mundo sem retorno, no que diz respeito a tecnologia. Os educadores da fé, necessariamente precisam levar este ponto em consideração, como 112

Manuel CASTELLS. In: CASTRO, Darlene Teixeira, Sociedade da informação, inovação e cibercultura.http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1305056641_ARQUIVO_Artigo ConlabDarlene.pdf . Acesso em: 05 de abril 2016. 113 Dominique WOLTON, Internet e depois? Uma teoria crítica das novas mídias, p.100. 114 Ibid, p. 101.

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bem será examinado no próximo capítulo, onde se abordará a visão eclesial da comunicação ao longo da história e a importância dos meios digitais no atual contexto como extensões do processo catequético. Para tanto, como fala Antônio Spadaro, diante das novas tecnologias, “a novidade não deve ser encarada com desconfiança, mas com a consciência das oportunidades que apresentam, bem como dos riscos”.115 Antônio Spadaro enfatiza uma realidade que não existia no passado das primeiras reflexões eclesiais sobre a comunicação. Abordar a comunicação e seus progressos na história não foi uma tarefa fácil para a Igreja, justamente pela maneira como a comunicação social e suas repercussões na sociedade eram vistas. Por isso, se refletirá posteriormente como o itinerário das mídias sociais esteve presente na compreensão da Igreja, os limites e possibilidades que esta compreensão gerou e sua abordagem hoje no contexto catequético.

115

Antonio SPADARO, Web 2.0: redes sociais, p. 146.

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Capítulo III Comunicação Digital e Catequese: desafios e perspectivas pastorais

Após a reflexão sobre a história da comunicação digital e o sujeito dentro deste ambiente comunicacional, cabe agora analisar como se viveu historicamente esta realidade no contexto eclesial e sua importância hoje no processo de Iniciação à Vida Cristã (Catequese). Como bem se pôde analisar ao longo do trabalho, chega-se num momento da história da comunicação em que a digitalização, entre outros aspectos comunicacionais, se evidencia em todas as esferas da vida social. Por isso, no que diz respeito a comunicação digital na atualidade e sua relação com a evangelização, pode-se afirmar que se vive a “digitalização da fé”. Nesse contexto, se vê a necessidade de incorporar na evangelização catequética a realidade digital como forma de transmissão da fé que agora vai além dos espaços de transmissão tradicionalmente conhecidos. Como afirma o jornalista Moisés Sbardelotto:

As pessoas passam a encontrar uma oferta de experiência religiosa não apenas nas igrejas de pedra, nos padres de carne e osso e nos rituais palpáveis, mas também na religiosidade existente e disponível nos bits e pixels da internet. Formam-se, assim, novas modalidades de percepção e de expressão do sagrado em novos ambientes de culto: novas formas de teofania ou hierofania. 116

Em uma sociedade marcada pela midiatização, consequentemente influencia a maneira de se entrar em contato com o sagrado. Nesta nova ambiência a internet passa a ser um campo aonde também as pessoas têm acesso a prática e experiência da fé.117 O sentido da religião na cultura digital passa pela compreensão que hoje se tem deste ambiente midiático. Assim, se percebe que “as mídias não são mais apenas extensões dos seres humanos, mas também o ambiente no qual tudo se move, inclusive a religião: um novo “bios religioso””.118 O desafio para a Catequese está justamente no dar este passo no que se pode chamar de “revolução no fazer religioso”119onde é preciso entender que Deus se

Moisés SBARDELOTTO. “E o verbo se fez bit”: a comunicação e a experiência religiosas na internet, p. 312. 117 Cf. Ibid, p. 313 118 Ibid. 119 Ibid. 116

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manifesta no tempo presente através do digital e não simplesmente como no passado.120Por isso, “se a comunicação (suas lógicas, seus dispositivos, suas operações) está em constante evolução, a religião, ao fazer uso daquela, também acompanha essa evolução e é por ela impelida a algo diferente do que tradicionalmente era.121 A evangelização vivenciada nos ambientes digitais traz consigo uma mudança na experiência da fé. Como salienta Moisés Sbardelotto, a comunicação contemporânea possui “novas temporalidades, novas espacialidades, novas materialidades, novas discursividades e novas ritualidades marcadas centralmente por lógicas midiáticas. ”122. Para tanto, continua: “Se a internet traz consigo novas formas de lidar com o tempo, o espaço, as materialidades do sagrado, o discurso e os rituais, é porque a religiosidade como tradicionalmente a conhecemos também está mudando, e a “nova religião” que se descortina diante de nós nesse “odre novo” traz também “vinho novo” que caracteriza a midiatização digital (suas formas características de ser, existir, pensar, saber, agir na era digital). 123

Como se refletiu no capítulo anterior, a comunicação digital se tornou um elemento articulador de mudanças nas pessoas e tais modificações proporcionam desafios na educação da fé através da Catequese. Contudo, em meio aos desafios, a história da Igreja na relação comunicação e fé nem sempre foi pacífica como se verá posteriormente.

3.1 A visão da comunicação na história da Igreja Quando se olha para os primórdios da Igreja automaticamente se tem a ideia de comunicação presente, a partir das primeiras comunidades cristãs. A comunicação estava centrada basicamente na vivência em comunidade124, como meio de transmissão da fé, num ambiente circular, fraterno e participativo125, tendo a Palavra de Cristo como prática comunicacional. Nesta fase, destaca o doutor em jornalismo José Marques de Melo, o cristianismo:

120

Ibid. Ibid. 122 Ibid. 123 Ibid. 124 Cf. Joana T. PUNTEL. Cultura midiática e Igreja: uma nova ambiência, p. 117. 125 Cf. Leonardo BOFF. Igreja: carisma e poder. In: Joana Puntel, Cultura midiática e Igreja: uma nova ambiência. p. 117. 121

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Trata-se de uma instituição eclesial não-institucionalizada. Evidentemente, o modo de comunicação dominante se articula a partir de fluxos horizontais que traduzem a participação dos cristãos na interpretação do Evangelho e do seu anúncio. São fluxos múltiplos e diferenciados que configuram uma interação plena dos cristãos; eles integram a comunidade e participam igualmente, no mesmo espaço social, da interpretação do Evangelho. 126

Com a expansão do cristianismo para outras regiões, a Igreja foi assumindo uma organização não mais circular, mas baseada na hierarquia de funções entre seus membros. Assim, o conceito de autoridade começou a ser mais enfatizado, oferecendo uma compreensão da comunicação fundamentada no viés hierárquico.127 No contexto da hierarquia eclesial e com o surgimento da imprensa, são introduzidos documentos oficiais que visam ditar normas e orientações sobre como os fiéis deviam se posicionar diante de escritos, livros e peças teatrais.128Este período é:

caracterizado pela existência de uma instituição eclesial, que se organiza como depositária do saber teológico e estabelece códigos para a leitura do Evangelho. Ao institucionalizar-se, a Igreja afigura-se como típica organização comunicadora, arbitrando os parâmetros que vão determinar a interpretação do Evangelho. Os padrões de comunicação dominante não comportam os fluxos horizontais. É possível identifica-los, residualmente, em certos acontecimentos ou episódios que resgatam a horizontalidade vivencial das pequenas comunidades. Mas, enquanto instituição, marcada por um caráter multinacional, o padrão dominante de comunicação é aquele que projeta fluxos verticais. Fluxos que se originam nas hierarquias e descem às bases, prescrevendo a maneira de exercitar o cristianismo.129

Com a atenção da Igreja voltada para os meios de comunicação impressos, em 1487, o papa Inocêncio VIII publica a Constituição130 Inter multíplices, sendo a primeira intervenção da Igreja sobre a comunicação, onde se “reconhece que a “arte da impressão” é utilíssima na medida em que permite difundir obras válidas, mas seria tremendamente nociva se permitisse a difusão de obras más. ”131 Com isso, o papa expressava a preocupação com a influência negativa que a produção cultural da época 126

Comunicação eclesial: utopia e realidade, p. 23-24. Cf. Joana PUNTEL, Cultura midiática e Igreja: uma nova ambiência, p. 118. 128 Cf. Enrico BARAGLI, Comunicazione, comunione e chiesa. In: Joana PUNTEL, Cultura midiática e Igreja: uma nova ambiência, p. 118. 129 José Marques de MELO, Comunicação eclesial: utopia e realidade, p. 24. 130 Sobre os documentos da Igreja, a doutora em comunicação Joana Puntel explicita: “encíclica” é uma carta do papa dirigida a todas as comunidades dos fiéis. Os “decretos” são documentos de significado prático, expondo disposições disciplinares. Diferem das “constituições”, que apresentam visões teológicas abrangentes, com verdades doutrinárias. “Declarações” são definições de princípios particulares” (T. BURKE, The Documents of Vatican II. In: Joana PUNTEL, Cultura midiática e Igreja: uma nova ambiência, p. 118.) 131 José Maria Pacheco GONÇALVES. Igreja e comunicação, ontem e hoje: exigências, dificuldades e desafios.http://pt.radiovaticana.va/storico/2013/05/17/igreja_e_comunicacao,_ontem_e_hoje_exigencias, _dificuldades_e/por-693079. Acesso em: 23 de jun. 2016. 127

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pudesse ter na vida espiritual dos católicos, e a Igreja estabelecia um determinado controle, examinando os livros suspeitos de conter ensinamentos contrários ao que se pregava.132 Em 1559, o papa Paulo IV publica uma lista (Index) de autores e livros que não podiam ser editados e nem lidos. Este índice foi aprovado posteriormente por Pio IV, e no ano de 1966, durante o pontificado de Paulo VI, é abandonado oficialmente pela Igreja. Com a chegada de Leão XIII no governo da Igreja, despontam avanços no diálogo eclesial com os meios de comunicação social e a Igreja Católica começa a divulgar a fé através dos meios comunicacionais disponíveis na época. Assim, o pensamento que predomina é de que “se a sociedade estava utilizando os meios de comunicação social para difundir o mal, então a Igreja também deveria usar esses mesmos recursos para difundir a boa mensagem, de modo a combater o mal”.133 Esta visão de abertura para a comunicação não foi autorizada com o pontificado de Pio X, que nas encíclicas Pieni D’Animo (1906) e Pascendi Dominici Gregis (1907), expressa uma ideia mais conservadora da imprensa. Para precaver a Igreja das ideias modernistas, como o evolucionismo e o positivismo, Pio X insere o imprimatur e o nihil obstat, em que cada diocese deveria ter um departamento para avaliar e aprovar os trabalhos que seriam publicados.134 Ao longo da história da comunicação, a Igreja teve várias dificuldades para reconhecer a importância dos meios comunicacionais como uma maneira de difundir os valores do cristianismo. A ideia negativa que se tinha desses meios impossibilitava de ver neles uma possível ferramenta de atuação eclesial. Contudo, entre os anos de 1878 e 1939, alguma abertura em relação à imprensa e as tecnologias surgidas, foi acontecendo, em especial ao cinema e ao rádio, como por exemplo, a criação da rádio Vaticana em fevereiro de 1931, sob o pontificado de Pio XI.135 Em 1936, Pio XI vai se dirigir aos bispos dos Estados Unidos com uma reflexão sobre a produção cinematográfica, muito presente na indústria norte americana. Através da Encíclica Vigilanti Cura136, o papa alerta sobre os filmes considerados imorais, pedindo para que a Igreja ficasse atenta ao impacto negativo que estas 132

Cf. Joana T. PUNTEL, Cultura midiática e Igreja: uma nova ambiência, p. 118. Benito SPOLETINI. A missão num mundo em mudança. In: Joana PUNTEL, op. cit. p. 119. 134 Cf. Joana T. PUNTEL, Cultura midiática e Igreja: uma nova ambiência, p. 119. 135 Cf. Ibid., p. 120. 136 Em outras ocasiões, anteriores a esta Encíclica, Pio XI havia abordado a realidade do cinema, em especial nas encíclicas Divini illius magistri (1929) e Casti connumbii (1930). (Cf. Joana PUNTEL, op. cit. p. 120.) 133

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produções poderiam ter na sociedade. Reconhecendo o poder do cinema Pio XI salienta:

Não há hoje um meio mais poderoso para exercer influência sobre as massas, quer devido às figuras projetadas nas telas, quer pelo preço do espetáculo cinematográfico, ao alcance do povo comum, e pelas circunstâncias que o acompanham. O poder do cinema provém de que ele fala por meio da imagem, que a inteligência recebe com alegria e sem esforço, mesmo se tratando de uma alma rude e primitiva, desprovida de capacidade ou ao menos do desejo de fazer esforço para a abstração e a dedução que acompanha o raciocínio [...]. A cinematografia realmente é para a maioria dos homens uma lição de coisas que instrui mais eficazmente no bem e no mal, do que o raciocínio abstrato.137

A Encíclica Vigilanti Cura surgia como um apoio a “Legião da Decência”, criada pelos bispos norte americanos com a intenção de pressionar os produtores cinematográficos destacando o “mau uso” do cinema.138 O documento termina com um pedido para que os bispos católicos do mundo sigam o exemplo dos bispos americanos e orientem os fiéis na abstenção de filmes que sejam contrários a moral cristã.139 A Igreja começa a aprofundar e ampliar as suas reflexões sobre o significado e a influência dos meios de comunicação de massa a partir do papa Pio XII, na Encíclica Miranda prorsus, em 1957, oferecendo destaque ao cinema, rádio e televisão. Neste documento se tem “a primeira grande síntese da doutrina da Igreja sobre a comunicação social.140 Um destaque significativo da Encíclica é a visão que se tem diante dos avanços técnicos do cinema, reconhecendo estes como resultado do esforço humano e do dom de Deus. No documento, pela primeira vez a Igreja “abre as portas” aos meios de comunicação, sem deixar, contudo, de orientar quanto aos perigos existentes:

Com particular alegria, mas também com prudência vigilante de mãe, a Igreja procurou desde o princípio seguir e proteger seus filhos no caminho maravilhoso do progresso das técnicas de difusão. Tal solicitude deriva da missão que lhe confiou o Redentor Divino, porque essas técnicas – na geração presente – têm uma poderosa influência no modo de pensar e de agir dos indivíduos e das comunidades.141 137

Pio X. Carta Encíclica Vigilanti Cura, (1936), n. 19-20. http://w2.vatican.va/content/piusxi/pt/encyclicals/documents/hf_p-xi_enc_29061936_vigilanti-cura.html. Acesso em: 24 de jun. 2016. 138 Cf. Geovano Moreira CHAVES. A Legião da Decência e a cruzada cinematográfica católica no Brasil. http://www.encontro2012.mg.anpuh.org/resources/anais/24/1340584634_ARQUIVO_artigofinalANPUH 2012.pdf. Acesso em: 24 de jun. 2016. 139 Cf. Joana T. PUNTEL, Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática, p. 28. 140 Ibid, p. 29. 141 Pio XII. Carta Encíclica Miranda Prorsus. In: Joana PUNTEL, Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática, p. 30.

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Na Encíclica Miranda Prorsus, o papa Pio XII enfatiza que as novas tecnologias de comunicação devem cumprir a sua real finalidade como dons de Deus, e neste sentido, serem meios de difusão dos ensinamentos de Deus. Para isso, cabe as pessoas compreenderem a sua responsabilidade usando as tecnologias como um bem criado pelo ser humano, com a tarefa de levar a mensagem do Criador. Assumindo esta missão, a Igreja necessariamente dever estar atenta para que de fato isso aconteça.142 O documento além de reforçar a devida utilização dos meios de comunicação e convocar as autoridades civis e eclesiásticas para vigiarem o uso, traz uma novidade ao condenar a utilização dos meios comunicacionais apenas com a finalidade de difundir interesses políticos e econômicos. Tal princípio parte da compreensão de que “toda nova tecnologia deve visar, implícita ou explicitamente, ao desenvolvimento de valores humanos e culturais, como se fossem ligados à educação. ”143 Por fim, outra importante novidade da Encíclica é a ênfase na formação crítica dos telespectadores, abordando detalhadamente esta necessidade.

a) O Concílio Vaticano II: um marco na história da comunicação A partir do Concílio Vaticano II144os meios de comunicação social tiveram uma outra repercussão dentro da reflexão eclesial. Com o documento Gaudium et Spes (1965), fruto do Concílio, a Igreja passa a se preocupar no entendimento da realidade social, buscando reconhecer e entender o mundo no qual se vive e assim, pensar em novas posturas a serem tomadas. Entretanto, será com o Decreto Inter Mirifica (1966), o segundo dos dezesseis documentos publicados pelo Vaticano II, que a Igreja se volta pela primeira vez em um concílio para a problemática da comunicação.145 O Inter Mirifica apresenta a obrigação da Igreja de utilizar os meios de comunicação social e orienta o clero e os leigos na utilização dos mesmos. Com este documento se tem agora uma posição oficial sobre o assunto: 142

Cf. Joana T. PUNTEL, Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática, p. 31. Ibid., p.33. 144 “O Concílio Vaticano II constituiu o mais importante evento da Igreja Católica do século XX. Foi uma reunião solene de bispos de todo o mundo, convocados pelo Papa João XXIII, para deliberar em comum sobre importantes questões. Realizado em Roma, em três importantes sessões, de outubro de 1962 a dezembro de 1965, foi o 21º concílio ecumênico depois de um intervalo de 92 anos (o Concílio Vaticano I ocorreu em 1870) ” (Joana T. PUNTEL, Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática, p. 33). 145 Cf. Joana T. PUNTEL, Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática, p. 39. 143

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A Igreja Católica, tendo sido constituída por Cristo Nosso Senhor, a fim de levar a salvação a todos os homens e, por isso, impelida pela necessidade de evangelizar, considera como sua obrigação pregar a mensagem de salvação, também com o recurso dos instrumentos de comunicação social, e ensinar aos homens seu correto uso. Portanto, pertence à Igreja o direito natural de empregar e possuir toda sorte desses instrumentos, enquanto necessários e úteis à educação cristã e a toda a sua obra de salvação das almas [...]. 146

Infelizmente, o Decreto apresenta algumas limitações em relação a visão da Igreja sobre a comunicação social. Abordando preconceitos ainda existentes, não soube aproveitar o profissionalismo secular da comunicação de massa. 147 Apesar de alguns limites, o Inter Mirifica teve sua maior contribuição ao ordenar a criação do Dia Mundial da Comunicação e refletir o direito de informação, onde destaca a importância deste direito como intrínseco à sociedade humana.148 Para tanto, neste contexto se percebe um marco histórico da reflexão eclesial a respeito da comunicação, como bem destaca o arcebispo Dom Orani Tempesta, ao falar dos cinquenta anos de promulgação do Decreto:

Em resumo, este decreto pode ser considerado um divisor de águas em relação à comunicação social e não um fim em si mesmo. Foi a primeira vez que um Concílio Ecumênico da Igreja abordou o assunto da Comunicação Social dando independência ao tema dentro da Igreja Católica. O decreto assume os instrumentos de comunicação social como indispensáveis para a ação pastoral abrindo caminho para ulteriores reflexões da Igreja Católica nesta área. Nasce assim na Igreja Católica a partir de Inter mirifica uma série de iniciativas que reconhecem a importância de se comunicar à humanidade contemporânea, tendo em mente a grande inovação tecnológica que torna sempre mais sofisticado o modo de comunicar humano.149

Posteriormente, surge a Instrução Pastoral Communio et Progressio (1971), durante o pontificado de Paulo VI, pelo Pontifício Conselho para as Comunicações, e representa “o mais avançado documento da Igreja referente às comunicações. ” 150 O avanço é salientado pelo tom otimista da Instrução, desaparecendo o caráter moralizador e dogmático. Pode se afirmar que “o texto retorna às grandes convicções do Inter

146

Paulo VI. Decreto Inter Mirifica. In: Joana T. PUNTEL, Cultura midiática e Igreja: uma nova ambiência, p. 122. 147 Cf. Joana T. PUNTEL, Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática, p. 45. 148 Cf. Joana T. PUNTEL, Cultura midiática e Igreja: uma nova ambiência, p. 125. 149 Dom Orani TEMPESTA. Inter Mirifica: 50 anos de promulgação do Documento Conciliar sobre a Comunicação.http://www.intermirifica50.va/content/pccs/inz/pt/articulos/dom-orani-tempesta-apresentao-documento-inter-mirifica.html. Acesso em 26 de jun. 2016. 150 Joana T. PUNTEL, Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática, p. 46.

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Mirifica em relação à mídia, completando-o, mas se apresentando de uma forma mais coerente e compreensível. ”151 A importância do acesso aos meios de comunicação social e o reconhecimento da opinião pública dentro da Igreja, são destaques do Communio et Progressio:

Já que é essencial o desenvolvimento da opinião pública na Igreja, cada fiel deve ter a possibilidade de encontrar as condições indispensáveis para poder desempenhar um papel ativo da Igreja. Na prática, isto significa que os fieis precisam ter acesso aos meios de comunicação social. 152

A Instrução Pastoral abre os horizontes de reflexão sobre os meios comunicacionais ao apontar que eles têm como finalidade aproximar as pessoas, justamente porque “a comunhão e o progresso da convivência humana são considerados os fins primordiais da comunicação social e dos meios que emprega”. 153 Por isso, o papel dos meios comunicacionais é auxiliar esta missão dentro da sociedade humana. Entre esta meta a Instrução também reforça o direito à informação que as mídias devem oferecer, enfatizando que elas precisam “ser instrumentos para a educação, a cultura e o lazer”.154 Com a relevância dada aos meios de comunicação como colaboradores na edificação social, a Igreja destaca que para criar as condições necessárias para esta tarefa, os católicos têm um contributo essencial. Para tanto, as intervenções oferecidas pelos fieis são de capital importância por serem imbuídas de espírito cristão.155 Após progressos trazidos pela Igreja na sua abordagem dos meios de comunicação com a Communio et Progressio, em 1971, houve um intervalo de vinte e um anos, em que não se teve documentos eclesiais ligados diretamente a temática, fora as mensagens anuais por ocasião do Dia Mundial das Comunicações. Somente em 1992, surge a Instrução Pastoral Aetatis novae, retomando pontos centrais no campo comunicacional e salientando a necessidade de uma pastoral da comunicação. A Instrução “à luz dos documentos precedentes, estimula, encoraja, apresenta princípios e perspectivas pastorais e planos para uma eficiente pastoral da comunicação. ”156 Nesse

151

Ibid.. Instrução Pastoral Communio et Progressio sobre os Meios de Comunicação Social. In: Joana T. PUNTEL, Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática, p. 47. 153 Ibid. 154 Ibid, p. 48. 155 Cf. Ibid. 156 Ibid, p. 129. 152

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aspecto, cabe enfatizar no documento o interesse da Igreja de que a comunicação esteja presente nos planos pastorais:

O trabalho dos meios de comunicação católicos não é só uma atividade complementar que se vem juntar às outras atividades da Igreja: a comunicação social tem, com efeito, um papel a desempenhar em todos os aspectos da missão da Igreja. Não é suficiente, também, ter um plano pastoral de comunicação, mas é necessário que a comunicação faça parte integrante de todos os planos pastorais, visto que a comunicação tem, de fato, um contributo a dar a qualquer outro apostolado, ministério ou programa. 157

Entretanto, já em 1990 se encontra uma evolução demasiada significativa no pensamento sobre a comunicação, na Carta Encíclica Redemptores Missio. Por não se tratar de um documento específico sobre o tema, mas sobre a missão da Igreja no mundo atual, a Encíclica se destaca por colocar o mundo da comunicação entre os “areópagos” da modernidade:

O primeiro areópago dos tempos modernos é o mundo das comunicações, que está a unificar a humanidade, transformando-a — como se costuma dizer — na “aldeia global”. Os meios de comunicação social alcançaram tamanha importância que são para muitos o principal instrumento de informação e formação, de guia e inspiração dos comportamentos individuais, familiares e sociais. Principalmente as novas gerações crescem num mundo condicionado pelos mass-media. Talvez se tenha descuidado um pouco este areópago: deu-se preferência a outros instrumentos para o anúncio evangélico e para a formação, enquanto os mass-media foram deixados à iniciativa de particulares ou de pequenos grupos, entrando apenas secundariamente na programação pastoral. O uso dos mass-média, no entanto, não tem somente a finalidade de multiplicar o anúncio do Evangelho: trata-se de um facto muito mais profundo porque a própria evangelização da cultura moderna depende, em grande parte, da sua influência. Não é suficiente, portanto, usá-los para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário integrar a mensagem nesta “ nova cultura”, criada pelas modernas comunicações. 158

Posteriormente, a comunicação começa a ocupar espaços na Igreja com outros documentos, seguindo a linha conciliar, como Ética da publicidade (1997), Ética nas comunicações sociais (2000), Igreja e Internet (2002), Ética na Internet (2002), entre outros. Nesses documentos, a reflexão eclesial no que diz respeito a comunicação social, vem reforçando as abordagens do tema, apresentando ainda limites na compreensão, mas sem deixar de vislumbrar novos horizontes. PONTIFÍCIO CONSELHO PARA AS COMUNICAÇÕES SOCIAIS. Instrução Pastoral “Aetatis Novae”, n. 17. In: Joana T. PUNTEL, Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática, p. 56. 158 João PAULO II. Carta Encíclica Redemptoris Missio: sobre a validade permanente do mandato missionário,n.37c.http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/encyclicals/documents/hf_jpii_enc_07121990_redemptoris-missio.html. Acesso em: 27 de jun. 2016. 157

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Cabe destacar aqui a abertura da Igreja para a cultura digital com o documento Igreja e Internet, publicado pelo Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais. A partir deste documento se tem uma consideração com os meios de comunicação social agora circundados pela denominada cibercultura, realidade já refletida nos capítulos anteriores do presente trabalho. Em Igreja e Internet, a Igreja reconhece a importância de uma formação para se ter pessoas aptas a trabalharem na nova cultura midiática:

Hoje, todos precisam de algumas formas de educação midiática permanente, mediante estudo pessoal ou a participação num programa organizado, ou ambos. Mais do que meramente ensinar técnicas, a formação midiática ajuda as pessoas a formarem padrões de bom gosto e de verdadeiro juízo moral, um aspecto da formação da consciência. Através das suas escolas e programas de formação, a Igreja deve oferecer uma educação midiática deste gênero. 159

Além de enfatizar a formação para a mídia por parte dos membros da Igreja, desde os seminaristas, padres, religiosos e leigos, o documento abre os horizontes da abordagem eclesial sobre o tema, recomendando o uso da internet como auxílio na tarefa de evangelização. Assim, se afirma que todas as pessoas “lancem mão da internet de maneira criativa, para assumirem as responsabilidades que lhes cabem e para ajudarem a Igreja a cumprir sua missão. ”160 Se destaca no documento o convite a superação dos obstáculos que impeçam de cumprir o objetivo de evangelizar através da internet, sejam eles o medo da tecnologia ou algum outro motivo.161 Tal reflexão é complementada com o apoio a vários grupos para que se empenhem no uso da tecnologia midiática. Neste sentido, se convoca e encoraja a todos os membros da Igreja. Outro texto trazido pelo Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais a respeito da nova cultura até então emergida, é o documento Ética na Internet. Entre várias sugestões para se observar os princípios éticos na rede, que favoreçam o bem comum, ele aborda a relevância da formação para se obter um senso crítico face aos conteúdos da internet. Ou seja, não apenas possuir o domínio técnico da informática, mas “a capacidade de avaliação do conteúdo”,162 aspecto imprescindível para o seu bom uso.

159

PONTIFÍCIO CONSELHO PARA AS COMUNICAÇÕES SOCIAIS. Igreja e Internet. In: Joana T. PUNTEL, Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática, p. 59. 160 Ibid., p. 60. 161 Cf. Ibid., p. 61. 162 Ibid., p. 66.

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Seguindo nas abordagens sobre a cultura digital, a Igreja apresenta outro importante escrito, qual seja, a Carta Apostólica O rápido desenvolvimento (2005), do Papa João Paulo II, dirigida diretamente aos responsáveis pelas comunicações sociais. Elencando alguns desafios que devem ser vencidos para uma real vivencia eclesial na comunicação, o papa retoma a necessidade de passar da técnica para o sentido do meio digital. Na reflexão se compreende que a Igreja não pode apenas utilizar os meios de comunicação de massa como difusores da mensagem cristã, mas “é chamada também a integrar a mensagem salvífica na ‘nova cultura’ que os poderosos instrumentos da comunicação criam e amplificam. ”163 Para esta missão João Paulo II reforça o pedido para os membros da Igreja não se intimidarem:

Não tenhais medo! Não tenhais medo das novas tecnologias! Elas incluem-se ‘entre as coisas maravilhosas’, ‘Inter Mirifica’, que Deus pôs à nossa disposição para as descobrirmos, usarmos, fazer conhecer a verdade, também a verdade acerca do nosso destino de filhos seus, e herdeiros do Reino eterno.”164

b) A comunicação no contexto histórico latino-americano a partir de Medellín A análise eclesial acerca dos meios de comunicação social que emerge dos bispos católicos da América Latina, possui um progresso significativo, como configura a doutora em comunicação Joana T. Puntel: Em Medellín (1968) o enfoque voltava-se para “Meios de Comunicação Social”; em Puebla (1979), “Comunicação Social”; em Santo Domingo (1992), “Comunicação Social e Cultura”; em Aparecida (2007), “Pastoral da Comunicação Social”.165

Inicialmente de Medellín a Puebla, a reflexão eclesial passa de uma posição de desconfiança diante das tecnologias, ponto que aliás foi marcante em alguns documentos da Igreja, para uma espécie de encantamento face ao mundo midiático.166 Este aspecto se percebe nitidamente no documento de Medellín (1968), ao afirmar que a Igreja não pode cumprir com eficácia a sua missão de evangelizar se não empregar os

163

Ibid., p. 68. Ibid., p. 71. 165 Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática, p. 121. 166 Cf. José Marques de MELO. Comunicação eclesial: utopia e realidade, p. 33. 164

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meios de comunicação social, “únicos capazes de atingir efetivamente todos os homens”167 A Igreja latino-americana, como se sabe, a partir do contexto que está inserida e que, consequentemente se compromete, busca desde as suas iniciais reflexões, a superação do subdesenvolvimento social. Para tanto, em Medellín, os bispos pensam nos meios comunicacionais como impulsionadores desta superação, pela capacidade de influenciar opiniões e, consequentemente os centros do poder:

Os MCS são essenciais para sensibilizar a opinião pública diante do processo de mudanças exigidas pela América Latina; são essenciais para apoiar este processo; essenciais para impulsionar os centros de poder que inspiraram os planos de desenvolvimento, a fim de orientá-los segundo as exigências do bem comum; são essenciais para divulgar esses planos e promover a participação ativa de toda a sociedade em sua execução especialmente nas classes dirigentes.168

Posteriormente, com o Documento de Puebla (1979), a Igreja supera a visão apenas de deslumbramento dos meios de comunicação e com uma abordagem mais lúcida comenta o quanto a comunicação social está enraizada no ambiente sociocultural vigente e que, por vezes, ao invés de superá-lo, colabora na sustentação do mesmo. Nesse sentido, ao analisar que Puebla vai além das interpretações de Medellín, o doutor em jornalismo José Marques de Melo, expressa:

Na Colômbia, os bispos apenas registravam que a propriedade dos meios de comunicação estava na mão de grupos conservadores, vinculados à estrutura do poder. No México, os prelados latino-americanos partem para a denúncia dessa situação e das consequências que acarretam para a inalterabilidade da estrutura social.169

Para tanto, o caminho indicado em Puebla é o de inserção de uma Pastoral da Comunicação na realidade sociocultural, a tornando nova a partir da voz dada aos mais necessitados. Assim:

Não se trata de recusar os grandes meios de comunicação, porque são regidos pela ideologia da classe dominante e porque reforçam a realidade sociocultural por ela configurada, mas de agregar à ação possível nos mass media o trabalho de construção de novos meios, comunitários e populares. Em ambos os casos, a codificação de mensagens deve refletir a realidade sociocultural das classes

167

Documento de Medellín. In: José Marques de MELO, Comunicação eclesial: utopia e realidade, p. 33. Ibid., p. 34. 169 José Marques de MELO, Comunicação eclesial: utopia e realidade, p 35. 168

44

subalternas, ou seja, dos pobres, dos injustiçados e dos marginalizados, com os quais a Igreja latino-americana se comprometeu preferencialmente. 170

Em Santo Domingo (1992), a ideia de uma nova evangelização foi o ponto central da abordagem eclesial. O documento segue a orientação de Puebla e percebe a comunicação com um “caminho que deve ser seguido para se chegar à comunhão (comunidade). ”171 Entretanto, apesar de não conter tantos avanços sobre a comunicação social na América Latina, além do que já havia sido refletido em Medellín e Puebla, a Igreja demonstra em Santo Domingo, a necessidade de um maior empenho para o se inserir na moderna comunicação.172 Um grande passo se tem na abordagem eclesial latino-americana referente aos meios de comunicação social, com o Documento de Aparecida (2007), onde o foco é voltado para a importância de uma Pastoral da Comunicação. A relevância do viés pastoral parte da valorização da nova cultura da comunicação, com a visão de que a Igreja precisa agora realizar um discipulado missionário diante desta realidade.173 Por isso,

Levando em consideração que as linguagens da comunicação configuram-se, hoje, elas próprias, tanto elemento articulador das mudanças na sociedade, quanto meios de difusão, Aparecida reafirma que “o primeiro anúncio, a catequese ou o posterior aprofundamento da fé não pode prescindir dos meios de comunicação”.174

Diante desta visão da comunicação, Aparecida tem uma compreensão de que a Igreja está presente em um novo ambiente, que é o da cultura digital. Nesse contexto, cabe aos bispos se comprometerem no acompanhamento dos comunicadores, organizados como Pastoral. Todavia, sem descuidar da formação de todos os agentes e fieis, para que os mesmos estejam aptos a evangelizar com qualidade na cibercultura.175

170

Ibid., p. 36. IV CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO. Documento de Santo Domingo, n. 279. In: Joana T. PUNTEL. Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática, p. 125. 172 Cf. Ibid. 173 Cf. Joana T. PUNTEL. Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática, p. 126. 174 Ibid. 175 Ibid, p. 127. 171

45

3.2 Considerações sobre o Estudo de Caso (Pesquisa de Campo) A reflexão até o presente momento buscou salientar pontos significativos que pudessem auxiliar em uma visão dos meios de comunicação social, particularmente digitais, relacionada com o foco do trabalho monográfico, que é a Iniciação a Vida Cristã. Na intenção de colaborar no trabalho de evangelização catequética, tendo em vista o atual contexto comunicacional no qual os jovens da Diocese de Uruguaiana176, especificamente de 09 a 16 anos177, estão inseridos, se buscou demonstrar algumas hipóteses que expressassem os desafios e possibilidade do serviço da Catequese face a cultura digital. Para Tanto, realizou-se o denominado “estudo de caso”, a partir de pesquisa qualitativa de campo, por meio de um questionário (cf. Anexo 1) composto por 3 perguntas objetivas de múltipla escolha e 01 discursiva. A enquete realizou-se nos meses de agosto e outubro de 2015. Das 16 paróquias que compõem a Diocese de Uruguaiana, escolheu-se através de sorteio, 10 paróquias, aonde a responsável pela coordenação da catequese entregou o questionário, de maneira aleatória, a 05 catequistas. Das entrevistas, apenas 08 paróquias retornaram com o questionário, totalizando 40 catequistas. A faixa etária dos mesmos fica entre 18 a 75 anos, e em relação ao grau de escolaridade, 16 afirmam possuir o Ensino Superior, 20 o Ensino Médio e 04 o Ensino Fundamental. A primeira pergunta apresentada aos catequistas entrevistados foi a acerca do acesso à internet, ou seja, se eles têm esta possibilidade. Das 40 respostas, 33 afirmam ter acesso, e 04 dizem, na ocasião, não ter ainda este recurso comunicacional (Fig. 1).

176

A Diocese de Uruguaiana, situada no Estado do Rio Grande do Sul, originou-se parte do território da Diocese de Bagé (1960) e a totalidade do território da Diocese de Santo Ângelo (1962). Em 15 de agosto de 1910, pela Bula Praedecessorum nostrorum, o Papa Pio X aprovava a criação da diocese. Entretanto, a instalação da mesma aconteceu em 19 de maio de 1912, quando tomou posse o primeiro bispo, Dom Hermeto José Pinheiro. O atual território diocesano é composto por 13 municípios, num território de 35.439 km³. Pastoralmente possui 16 paróquias, sendo uma coordenada por Comunidade Religiosa de Irmãs, totalizando 302 comunidades, agrupadas em 3 áreas pastorais. (Cf. DIOCESE DE URUGUAIANA (RS). Diretório Diocesano de Pastoral, p. 6; IDEM, Guia Diocesano 2016, p. 5) 177 A faixa etária parte do período em que os jovens iniciam e concluem a instrução cristã doutrinária propriamente dita de acordo com as orientações da diocese, em preparação para o Sacramento da Eucaristia e Crisma. Cf. DIOCESE DE URUGUAIANA (RS). Diretório Diocesano de Pastoral, p. 4748.

46

33

7

A) SIM

B) NÃO

Figura 1: Tem acesso a internet?

A segunda questão diz respeito a finalidade do uso da internet, onde se fixou o resultado da enquete nos que anteriormente afirmaram ter acesso a este meio de comunicação (Fig. 1). Foi disponível aos entrevistados as seguintes opções de múltipla escolha, a saber, ver e-mail; redes sociais (facebook etc.); notícias; trabalho; outros; e a opção de ‘não acesso’. Dos 33 catequistas que possuem o recurso da internet, 29 afirmam usar para ver e-mails e 04 dizem não utilizar. Dos acessos, ainda optaram por redes sociais, ver notícias e realizar atividades de estudo e/ou trabalho. (Fig. 2).

29 21

21 18

0

4

Figura 2: Você utiliza a internet para.

Na pergunta de número 03, se buscou sondar o ponto central da discussão do trabalho, ou seja, o uso das tecnologias digitais no processo de evangelização catequética. Dos 40 entrevistados, 18 dizem fazer uso de alguma tecnologia na

47

Catequese, descrevendo qual instrumento utilizado (Fig. 3). Das respostas negativas, 22 afirmam não usufruir de qualquer instrumental tecnológico na pastoral de Iniciação a Vida Cristã, explicitando o motivo (Fig.4).

A) SIM/QUAL?

18

TABLET

1

PROJETOR

6

DVD

1 10

NOTEBOOK/PESQUISA 0

5

10

15

20

Figura 3: Você faz uso de tecnologia na Catequese?

22

13

5

4

Figura 4: Você faz uso de tecnologia na Catequese?

A última pergunta, de número 04, com caráter discursivo obteve diversas considerações por parte dos entrevistados. Se questionou acerca da opinião sobre o uso

48

das tecnologias digitais no processo de Iniciação à Vida Cristã. Nas respostas, das mais variadas, compilou-se as seguintes por apresentação de pontos similares: “O uso é importante, porém, precisamos de métodos e técnicas”; “Só para utilizar o Projetor”; “Facilita a aprendizagem”; “Bom, desde que não termine com o olho no olho”; “O uso é essencial”; “Quando bem utilizado, é ótimo”; “Entusiasma os catequizandos”; “O uso é positivo”. Diante do quadro geral das respostas dos educadores da fé, chega-se a análise de que a hipótese levantada no projeto da presente monografia onde se supôs, que os catequistas manifestam revelar uma carência do uso das mídias digitais na Catequese, se confirma. Aliada a esta carência, a suposição de que haveria uma falta de incentivo para cursos que preparem catequistas capacitados em comunicar a fé, usufruindo dos meios digitais, também se apresenta afirmativa. Assim, a reflexão trabalhada ao longo dos capítulos sobre a comunicação e as mídias digitais como forma de linguagem da atualidade, tem a intenção justamente de provocar interesse nos catequistas, em usufruírem dos atuais meios comunicacionais para a evangelização. Com a motivação explícita a partir deste trabalho monográfico, espera-se incentivar uma conscientização nos educadores da fé no uso das mídias digitais, ligada a importância de uma formação, primeiramente a nível diocesano, para se aprender a dinamizar os encontros de catequese e torna-los mais eficazes com a utilização das novas linguagens virtuais, tão utilizadas pelos catequizandos. Adentrar os meios de comunicação de massa, especificamente os digitais, é uma atitude de capital importância, pois “a evangelização da cultura moderna depende, em grande parte, da sua influência.”178 Por isso, o diálogo da Igreja com a cultura midiática tem sua relevância, uma vez que se tata de um “lugar teológico” onde Deus se manifesta na atualidade e precisa ser apresentado a esta mesma realidade pelos responsáveis mais diretamente no processo de evangelização. A esse respeito, o Papa João Paulo II, em seu discurso por ocasião de um Congresso na Itália, salienta: Estamos conscientes sobre o fato de que as rápidas transformações tecnológicas estão determinando, sobretudo no campo da comunicação social, uma nova condição para a transmissão do saber, para a convivência entre os povos, para a formação dos estilos de vida e das mentalidades. A

178

CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Diretório Geral para a Catequese, n. 209. http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cclergy/documents/rc_con_ccatheduc_doc_17041998 _directory-for-catechesis_po.html. Acesso em 01 julho 2016.

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comunicação gera cultura e a cultura se transmite mediante a comunicação.179

Urge nos tempos atuais, a necessidade de mudança nos métodos de evangelização a fim de que a Igreja esteja atenda a revolução de paradigmas e linguagens proporcionada pelo digital. Conforme se percebe na história da comunicação no âmbito eclesial, analisado neste capítulo, houve uma demora por parte da Igreja em perceber a força da comunicação moderna e ir além do aspecto doutrinal racional para o lúdico muito presente nas atuais relações humanas.180 Por isso, inserir-se na nova cultura comunicacional deve ser acima de tudo uma opção evangélica, “porque Jesus é o modelo e o paradigma da nossa comunicação como seus discípulos e missionários. ”181 O discípulo de Jesus necessita adquirir a linguagem do ambiente aonde está imerso, criando condições para uma fecunda evangelização. Neste sentido, destaca Joana T. Puntel:

As profundas, abrangentes e rápidas mudanças das tecnologias de comunicação têm a ver com a vivência da fé cristã, pois estamos imersos numa cibercultura, na cultura virtual. É cada vez mais difícil ser cristão sem levar em conta a cultura da comunicação, que chega com alta velocidade aos mais longínquos recantos do mundo, às pessoas desde a tenra idade. Um impressionante universo de técnicas, práticas, atitudes e modos de pensamento e de valores se desenvolvem, se multiplicam e se transmitem, exercendo decisiva influência sobre a compreensão e vivência da religiosidade e da fé. Daí a importância e o convite para a Igreja conhecer a fundo, refletir e iluminar esse revolucionário mundo da cultura midiática [...].182

A missão dos educadores da fé frente a revolução digital presente na sociedade, possui os seus desafios próprios. Cabe reconhecer os limites e ver as possibilidades a partir da motivação de cada educador. O que não se pode ter é aversão a estes meios expressos de relação humana, pois “com ou sem nossa presença, a nova cultura virtual está criando, transformando de qualquer modo todos aqueles que se aventuram na navegação dos seus horizontes infinitos. ” 183 Por isso, é de suma importância fazer a

179

João Paulo II aos animadores da comunicação e cultura por ocasião do Convegno Parabole Mediatiche, Vaticano, novembro de 2002. In: Joana T. PUNTEL, Cultura midiática e Igreja: uma nova ambiência, p. 133. 180 Cf. Joana T. PUNTEL. Comunicação: diálogo dos saberes na cultura midiática, p. 208. 181 Ibid. 182 Ibid. 183 Joana T. PUNTEL; Helena CORAZZA. Pastoral da comunicação: diálogo entre fé e cultura, p. 73.

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evangelização ocupar a ambiência virtual através da catequese, tornando o ciberespaço um lugar para a expressão da fé ensinada.184 Em consideração a cibercultura, além do conhecimento desta realidade onde a fé repercute, se faz extremamente relevante a própria capacitação dos agentes evangelizadores para saberem lidar neste ambiente. Ou seja, “é preciso preparar-se, não simplesmente ser informados, mas ser artífices (fazedores) ativos neste lugar chamado ciberespaço. ”185Assim, os catequistas poderão utilizar “a internet de modo criativo, para cumprir as próprias responsabilidades e desenvolver a própria ação de Igreja.”186 Com a busca da capacitação das pessoas protagonistas no processo de iniciação à vida cristã, a Igreja incentiva a educação para a comunicação, uma vez que é “essencial habilitar os catequistas para a comunicação da mensagem do Evangelho, através da mídia, principalmente os mais jovens e nascidos nesta cultura midiática, cuja linguagem mais facilmente entendem.” 187 Para tanto, é preciso uma formação que ultrapasse o simples uso da técnica, para entender o significado que a comunicação digital apresenta:

Não basta apenas dispor de meios ou de um treinamento profissional; é preciso uma formação cultural, doutrinal e espiritual, bem como considerar a comunicação mais do que um simples exercício na técnica, como afirma o recente documento da Igreja Ética na internet (n. 11,3). A encruzilhada se dá no fato de que a Igreja precisa da competência e prudência para não deslanchar somente no campo da potencialidade das novas tecnologias da comunicação, mas no discutir e refletir sobre suas implicações, seja do ponto de vista de sua missão (sua identidade!), do cultural, econômico e político, e assim atuar com uma prática que se demonstre firme, convicta, competente, adequada e crítica, sabendo conjugar sua missão com as diferentes linguagens existentes no processo comunicativo.” 188

Ao levar em consideração o contexto no qual se insere, a Catequese cumpre a significativa missão que a Igreja com o tempo se propôs, o da inculturação. Segundo a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2013), “cada cultura oferece formas e valores positivos que podem enriquecer o modo como o Evangelho é pregado, compreendido e vivido.”189 Dialogando com a cultura vigente, no caso a digital, a 184

Ibid. Ibid, p. 74. 186 Ibid, p. 76. 187 CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 170, p. 113. 188 Joana T. PUNTEL. Cultura midiática e Igreja: uma nova ambiência, p. 136. 185

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evangelização catequética terá a possibilidade de “propor o Evangelho sem impor”.190 Neste processo, o Catequista valoriza as expressões tradicionais de transmissão da fé em consonâncias com as atuais linguagens dos catequizandos. Assim, entende-se que: A inculturação da fé, sob certos aspectos, é obra da linguagem. Isto faz com que a catequese respeite e valorize a linguagem própria da mensagem, antes de mais nada, a linguagem bíblica, mas também a linguagem históricotradicional da Igreja (Símbolo, liturgia) e a chamada linguagem doutrinal (fórmulas dogmáticas); além disso, é necessário que a catequese entre em comunicação com formas e termos próprios da cultura da pessoa à qual se dirige; enfim, é preciso que a catequese estimule novas expressões do Evangelho na cultura na qual este foi implantado. 191

Por isso, a insistência da própria Igreja da formação para a comunicação, desde o decreto Inter mirifica (1966), onde se tornou mais explícito este apelo:

Tudo isso requer pessoal especializado no uso desses meios para o apostolado. É indispensável pensar em formar, desde cedo, sacerdotes, religiosos e leigos que desempenhem tais tarefas. É preciso começar a prepara os leigos do ponto de vista doutrinário, moral e técnico, multiplicando escolas, institutos e faculdades de comunicação [...] 192

A formação do Catequista na área das mídias digitais, proporciona a indispensável inclusão digital, para os tempos atuais. Na medida em que o responsável mais direto no processo de iniciação a vida cristã se capacita no campo da digitalização, cria uma “mentalidade digital” e saberá como usufruir da melhor forma estes recursos. Assim, o Catequista não se exclui das linguagens próprias do universo digital, pois, como expressa o pensamento da pesquisadora Thaís J. Wenczenovicz: A exclusão digital não se trata da pessoa ficar sem a possibilidade do uso do computador ou do telefone celular, mas continuar incapaz de pensar e de criar, bem como de organizar novas formas e justas dinâmicas e distribuição de riqueza simbólica e material. 193

189

Papa FRANCISCO, n.116. https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazioneap_20131124_evangelii-gaudium.html. Acesso em 04 de jun. 2016. 190 Ibid, p. 137. 191 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Diretório Geral para a Catequese, n. 208. http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cclergy/documents/rc_con_ccatheduc_doc_17041998 _directory-for-catechesis_po.html. Acesso em 01 jul. 2016. 192 CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II. Inter mirifica, n. 15. In: Joana T. PUNTEL. Cultura midiática e Igreja: uma nova ambiência, p. 139. 193 Thaís Janaina WENCZENOVICZ. Sociedade da Informação e Cibercultura: a sociedade em rede e as mídias interativas no contexto escolar. http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=bab2a4505dc27eff. Acesso em: 30 de mar. 2016.

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Para uma Catequese estar realmente inserida na ambiência digital dos jovens, é necessário o conhecimento das simbologias específicas que a linguagem virtual possui. Trata-se de dar as razões do uso da tecnologia, como bem salienta o teórico da comunicação Marshall McLuhan, ao afirmar que “não é a tecnologia, mas o que fazemos com ela que constitui o seu significado ou mensagem. ”194 Somente com um conhecimento adequado das dinâmicas digitais, a aproximação dos conteúdos catequéticos dos catequizandos, imersos nesse contexto, será viável, como reflete o Diretório Geral para a Catequese: O bom uso dos meios de comunicação social requer dos agentes da catequese, um sério empenho de conhecimento, de competência e de qualificado e atualizado emprego. Mas, sobretudo, pela forte incidência sobre a cultura que os meios de comunicação social contribuem a elaborar, não se deve jamais esquecer que « não é suficiente, portanto, usá-los para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário integrar a mensagem nesta nova cultura, criada pelas modernas comunicações... com novas linguagens, novas técnicas [...].”195

Um aspecto essencial na capacitação para a comunicação digital, é o adquirir interesse pela cibercultura, onde o Catequista terá um aprendizado com gosto e qualidade. Percebendo que o educador da fé não pode ficar indiferente a esta nova ambiência, buscando compreendê-la em seus desafios e possibilidades, o caminho de evangelização pela Catequese na cultura digital se torna mais agradável. “Um Catequista que gosta de aprender também fora do âmbito da Igreja, será mais criativo e terá mais recursos para dar conta da sua missão”. 196 Para tanto, como afirma a teóloga Maria Dolores de Miguel em relação a cultura digital, “para poder inculturarnos nela e evangeliza-la, necessitamos conhece-la e amá-la. ”197

194

Marshall MCLUHAN. Os meios de comunicação como extensões do homem. In: Jaqueline E. SCHIAVONI. Mídia: o papel das novas tecnologias na sociedade do conhecimento. http://www.bocc.ubi.pt/pag/schiavoni-jaqueline-midia-papel-das-novas-tecnologias.pdf. Acesso em: 02 de abril 2016. 195 195 CONGREGAÇÃO PARA O CLERO. Diretório Geral para a Catequese, n. 161. http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cclergy/documents/rc_con_ccatheduc_doc_17041998_ directory-for-catechesis_po.html. Acesso em 01 julho 2016. 196 CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 151, p. 104. 197 Maria Dolores de MIGUEL. Com el Señor en la cibercultur@. In: Joana T. PUNTEL. Cultura midiática e Igreja: uma nova ambiência, p. 144.

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3.3 Pistas de ação para o uso das mídias digitais na Catequese Dada a sua relevância diante da nova cultura, os meios de comunicação social exigem um aprendizado específico para se ter práticas de evangelização na Catequese. Como aborda o Diretório Nacional de Catequese “a mídia, para muitos, torna-se o principal instrumento de informação e de formação, guia e inspiração dos comportamentos individuais. Diante disso, há novas exigências para a catequese.” 198 De acordo com o Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil (2014), os catequistas precisam estar atentos aos impactos das mídias digitais na vida dos catequizandos.199 Esta atenção é apresentada inicialmente pelo Diretório com o viés negativo, enfatizando as influências que contradizem a proposta cristã. Contudo, o documento também destaca a prática educomunicativa aplicada à Catequese onde a atenção é voltada para o sentido positivo das tecnologias digitais, bem como métodos eficazes de uso:

A metodologia proposta prevê que os catequistas possam contar com recurso necessários para a produção de narrativas, sob diversos formatos, tendo como temática as mensagens e histórias de Jesus, dos Apóstolos, dos santos ou de pessoas de vida edificante da comunidade. Para tanto, é importante que as paróquias contem com um ambiente dedicado à comunicação, que facilite o acesso de catequistas, catequizandos e agentes de pastoral a recursos impressos e audiovisuais e a equipamentos de captação de sons e imagens para a utilização no anúncio da Boa-Nova.200

Dentro das metodologias de aplicação da comunicação digital no processo de iniciação à vida cristã, é importante que os Catequistas possam contar, além dos tradicionais recursos oferecidos pelos suportes midiáticos, tais como livros, folhetos, audiovisuais, com a possibilidade de criação de sites, blogs, e redes sociais.201 Isso possibilita a “capacidade de gerar inovações” 202 nos encontros de Catequese. As redes de relacionamento (facebook, por exemplo.) são muito presentes na vida dos catequizandos e por isso, “são oportunidades de encontro e reflexão no processo catequético. ”203

198

CNBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 168, p. 112. IDEM. Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil, n. 74, p. 62. 200 Ibid, n. 75, p. 63. 201 Ibid, n. 73, p. 62. 202 André Barbosa FILHO; Cosette CASTRO. Comunicação digital: educação, tecnologia e novos comportamentos, p. 67. 203 Ibid, n. 76, p. 63. 199

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Os sentidos das mídias digitais residem na sua capacidade de propagabilidade de um determinado conteúdo. Neste aspecto, o professor de comunicação norteamericano, Henry Jenkins, comenta que “os canais de mídia de massa ainda são recursos valiosos para se espalhar informação e compartilhar conteúdos de grande interesse comum, dado seu alcance muito largo. ”204 Utilizando este potencial, os educadores da fé podem repercutir em grande escala os assuntos trabalhados na Catequese. Para tanto, “o desafio é reconhecer, aprender e apropriar-se das práticas comunicacionais da atualidade, em seus valores positivos, para mais bem inculturar a catequese na cultura digital do século XXI. 205 Cada vez mais as mudanças tecnológicas tomam proporções inimagináveis, e é de fundamental importância aprender práticas eficientes de trabalho, em que o Catequista possa orientar os catequizandos, propondo formas criativas de evangelização. Esta tarefa “exige que o comunicador cristão descubra métodos adequados ao ambiente digital para desenvolver a evangelização e a ação pastoral.”206 Neste sentido, o Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil também destaca que:

Trata-se de uma formação para a mídia, que leva em conta o potencial das crianças e jovens para que, além de terem uma postura crítica diante dos meios, produzam programas midiáticos e façam uso das tecnologias em seu próprio benefício e em benefício de sua comunidade. É justamente no exercício do uso dos recursos da comunicação, em uma perspectiva diferenciada, que as novas gerações vêm sendo formadas para assumir seu papel social de promotores de uma nova comunicação. 207

Na medida em que o Catequista adquire a capacitação necessária para orientar práticas de evangelização usufruindo das mídias digitais, se exerce um diálogo com as crianças e jovens em que estes começam a interagir com mais sentido no processo catequético. Com isso, os catequizandos são motivados para que sugiram metodologias adequadas a sua realidade de compreensão. Para tanto, é preciso, como sugere o doutor em comunicação Gildasio Mendes:

Conversar com eles sobre como usar de modo crítico, participativo e educativo as novas ferramentas sociais da rede, para que se beneficiem com o relacionamento e participação nas comunidades virtuais, valorizando, ao 204

Henrry JENKIS; Joshua GREEN; Sam FORD. Cultura da conexão, p. 31. Moisés SBARDELOTTO. A iniciação à vida cristã na era digital: uma catequese "conectada" com os tempos.p.60.https://www.academia.edu/24373461/A_iniciacao_a_vida_crista_na_era_digital_uma_cate quese_conectada_com_os_tempos. Acesso em: 04 de jun. 2016. 206 CNBB. Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil, n. 178, p. 138. 207 IDEM, n. 226, p. 176. 205

55

mesmo tempo, os encontros nas comunidades geográficas da escola, família, da Igreja. 208

Ao dar destaque nos encontros que se estabelecem no meio virtual como forma de extensão do encontro geográfico, Gildasio Mendes segue nas sugestões, tais como, acompanhar os acontecimentos sociais e políticos pela troca de notícias no compartilhamento de links da internet e debates em redes sociais; publicar e divulgar o material produzido nos encontros; promover intercâmbio por meio de pesquisas relacionadas a temas, através do Google imagens, Wikipédia, jogos avaliativos, bem como, criar um banco de dados dos materiais utilizados, organizando a própria biblioteca digital.209 O doutor em comunicação Moisés Sbardelotto, também propõe diversas práticas de interação da Catequese com os meios de comunicação digital. Moisés Sbardelotto, destaca a oportunidade que diversos sites e aplicativos católicos oferecem para a formação da fé, disponibilizando conteúdos de fácil compreensão por parte das crianças e jovens.210 Assim, “na infinidade de materiais disponíveis em rede, catequistas e catequizandos podem encontrar elementos para enriquecer a experiência do discipulado de Jesus.”211 Ao se buscar na mídia digital subsídios que enriqueçam os encontros de catequese, além dos materiais já disponíveis aos catequistas geralmente oferecidos pelas dioceses, cabe enfatizar a necessidade de um discernimento crítico. Mesmo no contexto católico, existem diferentes propostas de teologia, imagens de Deus e pontos de vista sobre a Igreja.212 Nesse aspecto, diz dom Claudio Celli, arcebispo presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, ao falar de sites católicos que são até intolerantes com quem é diferente: “existem sites que mordem, em vez de dialogar”213 Por isso, é importante entender que Igreja reforça o desafio do diálogo,

208

Gildasio MENDES. Geração NET: relacionamento, espiritualidade, vida profissional, p. 27. Cf. Ibid, p. 26-27. 210 Cf. Moises SBARDELOTTO. A iniciação à vida cristã na era digital: como viver e educar para a fé na internet?p.26.https://www.academia.edu/22844047/A_iniciacao_a_vida_crista_na_era_digital_como_viv er_e_educar_para_a_fe_na_internet. Acesso em: 04 de jun. 2016. 211 Ibid, p. 27. 212 Ibid. 213 Dom Claudio CELLI. In: Moises SBARDELOTTO. A iniciação à vida cristã na era digital: como viver e educar para a fé na internet? p.26 https://www.academia.edu/22844047/A_iniciacao_a_vida_crista_na_era_digital_como_viver_e_educar_ para_a_fe_na_internet. Acesso em: 04 de jun. 2016. 209

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promovendo através das tecnologias, como destaca o Papa Francisco, “a cultura do encontro.”214 Dentro das ações propostas para a Catequese no ambiente digital, o uso de projeções de áudio e vídeo para a reflexão, bem como o debate em grupos, são formas de enriquecimento dos encontros catequéticos.215 Outra maneira de inculturação digital no processo de iniciação à vida cristã, são os aplicativos de mensagens para celular (WhatsApp; Telegram), que “podem se tornar ambientes para a troca de textos, fotos, áudios e vídeos relacionados com os encontros de catequese, expandindo os momentos e os tempos de encontro presencial para além dos minutos na “sala de catequese””.216A possibilidade de contato que as mídias virtuais apresentam favorecem por exemplo, um ““intercâmbio catequético” – via internet – com outras paróquias, dioceses e comunidades não apenas da mesma região, mas também de outros Estados”.217 Para isso, existem vários softwares (Skype; Google Hangouts) e sites que possibilitam transmissões ao vivo e teleconferências pela internet. 218 Na linha da teleconferência, se pode promover a participação via internet de algum pensador católico, formador espiritual, ou um líder civil, religioso de confissão diversa, que por distância ou questões de custo poderia não estar presente na sala de catequese, mas que através da tecnologia digital poderia enriquecer um encontro.219 Nesse mesmo contexto, a sugestão de “um momento de “bate-papo” das crianças e jovens com seu bispo, também via internet, para facilitar um contato que, infelizmente, em muitas dioceses, ocorre uma vez na vida: na celebração da Crisma”220, se faz significativamente importante. Abordar assuntos presentes no cotidiano dos catequizandos dentro dos encontros é algo muito relevante na relação Catequese e comunicação. Sobre isso, Moisés Sbardelotto comenta:

214

Papa FRANCISCO. Mensagem para o 48º Dia Mundial das Comunicações Sociais: comunicação ao serviço de uma autêntica cultura do encontro. https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/messages/communications/documents/papafrancesco_2014012 4_messaggio-comunicazioni-sociali.html. Acesso: 03 de jul. 2016. 215 Cf. Moisés SBARDELOTTO. A iniciação à vida cristã na era digital: uma catequese "conectada" com tempos,p.60.https://www.academia.edu/24373461/A_iniciacao_a_vida_crista_na_era_digital_uma_cate quese_conectada_com_os_tempos. Acesso em: 04 de jun. 2016. 216 Ibid, p.61. 217 Ibid, p.62. 218 Cf. Ibid. 219 Cf. Ibid. 220 Ibid

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A cultura digital também pode “entrar” na sala de catequese, por exemplo, com a retomada, nos encontros pessoais, daquilo que mais “bombou” na internet, como se costuma dizer. De que forma a catequese pode retomar esses assuntos do cotidiano infantojuvenil e relê-los a partir da fé cristã? Que “sinais dos tempos” estão se revelando nos fenômenos digitais de massa? São temáticas que fazem parte da vivência cotidiana dos catequizandos.221

Além do aspecto doutrinal da Catequese que as mídias digitais favorecem em sua transmissão, a espiritualidade dos catequizandos pode ser fortalecida também pelas tecnologias:

Na catequese é possível propor momentos de oração com os catequizandos via internet (em redes sociais, aplicativos móveis), ou então compartilhar pedidos de oração por mensagens ou em comunidades on-line entre os companheiros de caminhada na fé. Ou ainda fazer “peregrinações” on-line a locais de culto da Igreja, como basílicas e mosteiros, ou mesmo à Terra Santa, com os diversos mapas disponíveis na rede. 222

Em suma, estas são algumas pistas de ação que certamente colaborarão para uma Catequese inserida na cultura das crianças e jovens consideradas nativas digitais.223 O uso da rede no processo de evangelização catequética tende a ser uma complementação dos encontros estabelecidos na sala de Catequese, justamente porque “a tecnologia não é inimiga das verdadeiras relações; ao contrário, pode ser sua melhor aliada. Todavia, é preciso aprender a integrá-la no contexto da vida.”224 Assim, “a internet não irá “substituir” os suportes das práticas de fé tradicionais, mas já está gerando, como vemos, novos modos de percepção, de expressão, de prática, de vivência e de experienciação da fé.”225

221

Ibid. Moisés SBARDELOTTO. Catequese e cultura digital: outra conexão é possível, p.60. https://www.academia.edu/10297187/Catequese_e_cultura_digital_outra_conexao_e_possivel. Acesso em: 04 de jun. 2016. 223 “O conceito de nativos digitais foi cunhado pelo educador e pesquisador Marc Prensky (2001) para descrever a geração de jovens nascidos a partir da disponibilidade de informações rápidas e acessíveis na grande rede de computadores – a Web.” (Cristina M. PESCADOR. Tecnologias digitais e ações de aprendizagem dos nativos digitais, p.4. http://www.ucs.br/ucs/tplcinfe/eventos/cinfe/artigos/artigos/arquivos/eixo_tematico7/TECNOLOGIAS%2 0DIGITAIS%20E%20ACOES%20DE%20APRENDIZAGEM%20DOS%20NATIVOS%20DIGITAIS.pdf. Acesso em 03 de julho 2016). 224 Antonio SPADARO. Web 2.0: redes sociais, p. 145. 225 Moises SBARDELOTTO. “E o verbo se fez bit”: a comunicação e a experiência religiosas na Internet, p. 327. 222

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CONCLUSÃO Após o presente estudo, pôde-se compreender de maneira mais profunda o campo da comunicação social, especificamente o digital, e perceber como esta realidade comunicacional se apresenta na vida e atividade pastoral de catequistas da Diocese de Uruguaiana, RS. As teorias explicitadas ao longo do trabalho monográfico se tornam suporte para o entendimento do processo de comunicação ao longo da história social e eclesial e as experiências do Estudo de Caso (Pesquisa de Campo) analisadas, servem para além da realidade que foi pesquisada (Diocese de Uruguaiana) e se estendem como reflexão para outras atividades pastorais da Igreja. Assim, alcançou-se os resultados aqui almejados, justamente por que se teve uma abordagem teórica e uma visão afirmativa das hipóteses, bem como pistas de ação que poderão ser utilizadas para estudos por outros pesquisadores da temática e agentes de pastoral preocupados com este mesmo desafio: o de evangelizar na comunicação digital. Reforçou-se que a tarefa primordial da Igreja é a Evangelização, e um importante passo para o cumprimento desta missão é fazer usufruto das diversas ferramentas da comunicação da atualidade. A Igreja para expressar sua fidelidade a Jesus que foi um exímio comunicador no seu tempo, toma a consciência da vida que o Mestre exerceu comunicando o Reino de Deus utilizando as linguagens existentes em seu contexto. Tendo em vista como a sociedade hoje possui plataformas comunicacionais que no passado não haviam, e também ferramentas de tempos anteriores que na atualidade estão mais aperfeiçoadas, comunicar a Boa-Nova de Jesus Cristo na cultura digital é, portanto, um desafio que pode ser aprendido e superado com a devida capacitação. A cibercultura, marcada pela conectividade, revela um cenário totalmente inovador para os educadores da fé (Catequistas) que não conviveram de maneira nativa com esta ambiência. Além do aspecto instantâneo das relações comunicacionais, que as novas mídias trazem, existe o âmbito lúdico e interativo que as ferramentas midiáticas digitais possibilitam. Assim, são justamente as inúmeras possibilidades das tecnologias que formam um leque de perspectivas para a evangelização direcionada as crianças e jovens, abrindo um horizonte de diálogo extremamente necessário com estes nativos digitais. O Evangelho anunciado no espaço comunicacional digital adquire maior sentido para o público infanto-juvenil, pois é o lugar que lhes é comum. Face a essa realidade,

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compreendeu-se claramente com o presente trabalho que é possível superar o distanciamento de linguagens, por vezes presente, entre os catequistas e os catequizandos. O Sistema de transmissão da mensagem cristã, através da Catequese na mídia digital, tende a superar o obstáculo errôneo explícito em determinados casos, de trabalhar a Iniciação à Vida Cristã onde os catequizandos sentindo-se em uma sala de aula, ficam atentos às lições do catequista-professor. Com isso, a digitalização da Catequese inclui aspectos pedagógicos mais de acordo com o contexto das crianças e dos jovens de hoje. Na atualização dos métodos de transmissão da fé para as linguagens da geração net se encontra um Catequese conectada com os tempos. O conhecimento dos variados campos comunicacionais dentro da cultura digital e uma maior formação para saber utilizar as ferramentas da cibercultura como comunicação da fé, deve ser a partir da atual conjuntura social, uma inquietação dos protagonistas da evangelização catequética. Acredita-se que com a possibilidade desta reflexão sobre a comunicação e as mídias digitais como forma de linguagem da atualidade, pode-se provocar interesse nos catequistas, em usufruírem dos atuais meios comunicacionais para a evangelização. Com tal motivação espera-se proporcionar uma conscientização nos catequistas, ligada a importância de uma formação, em todos os níveis, seja diocesano, regional ou nacional, para se aprender a dinamizar os encontros de catequese e torna-los mais eficazes com a utilização das novas linguagens virtuais. Nesse processo, os educadores da fé terão a experiência da máxima de Santo Inácio de Loyola (1491-1556), que dizia que é preciso “procurar e encontrar Deus em todas as coisas”, inclusive, nas redes.

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ANEXO Cópia do Questionário aplicado no Estudo de Caso (Pesquisa de Campo)

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PASTORAL DA COMUNICAÇÃO – DIOCESE DE URUGUAIANA. -QUESTIONÁRIOTECONOLOGIAS DIGITAIS E A CATEQUESE

Nome:___________________________________________ Sexo: Masculino____

Feminino____

Idade: __________anos Escolaridade: Ensino Fundamental____

Ensino Médio____

Ensino Superior____

Marque com um ‘X’ ou mais, as seguintes questões:

1.

Tem acesso a internet? Sim____

2.

Você utiliza a internet para: a)

Ver e-mails____

Não____

b) Redes sociais (facebook etc.) ____ c) Notícias____

d)

Trabalho____ d) Outros____

3.

e) Não acesso____

Você faz uso de tecnologias na catequese? Sim____

Qual/Quais?________________________________________________ Não____ Por que? a)

Não possuo conhecimento: ____

b) Tenho resistência ao uso das tecnologias _____ c) Falta de incentivo:_____

4.

Qual sua opinião sobre o uso das tecnologias na catequese?

_________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________

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