Conceitos gramaticais da Lingua Latina

July 24, 2017 | Autor: Adilio Souza | Categoria: Lingua Latina, Gramática, Latim
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SOUZA, Adilio Junior de. Conceitos gramaticais da Língua Latina. Textos didáticos. Campos Sales: Edição do autor, 2012.

CONCEITOS GRAMATICAIS DA LÍNGUA LATINA Adilio Junior de Souza1 1. CASOS E FUNÇÕES SINTÁTICAS

Para fins didáticos, vejam abaixo uma tabela com todos os Casos do Latim Clássico/Arcaico:

CASOS

Função Sintática Básica / Funções Sintáticas

Genitivo

Adjunto adnominal restritivo (que indica posse).

Vocativo

Vocativo em Português também.

Acusativo

Objeto Direto, sem uso de preposição.

Dativo

Objeto Indireto, com uso de preposição.

Nominativo

Sujeito ou Predicativo do sujeito.

Locativo

Indica a posição de lugar onde ocorreu a ação.

Instrumental Indica o utensilio empregado na ação. Ablativo

Adjunto adverbial ou Agente da passiva.

2. DESINÊNCIA, DECLINAR, DECLINAÇÃO E CASO

Define-se a Desinência como a parte final variável dos vocábulos. E processo de Declinar como um princípio de pôr junto aos radicais das palavras, a desinência apropriada para cada Caso. E deste modo, Caso é forma ou estrutura que uma dada palavra apresenta quando revelada com uma desinência específica; cada caso representa uma ou mais funções sintáticas. Em Latim Clássico, temos seis casos: Nominativo, Genitivo, Dativo, Acusativo, Ablativo e Vocativo. Há ainda o Instrumental e o Locativo, mas estes pertencem ao Latim Arcaico e quase não são empregados no Clássico. Enquanto que Declinação é o conjunto no qual se põem todas as desinências de todas as palavras declinadas, sendo que os vocábulos

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Professor temporário de Língua Latina da Unidade Descentralizada da Universidade Regional do Cariri (URCA), em Campos Sales - CE.

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devem apresentar a mesma desinência de Genitivo Singular/Plural. Temos então, Cinco Declinações.

3. A ACENTUAÇÃO

O Latim Clássico, segundo os Linguistas Comparatistas e Neogramáticos do século XIX e XX, apresentava uma característica rítmica, bem mais musical do que intensiva. Eles defendem a ideia de que a acentuação do Latim depende diretamente da quantidade do núcleo silábico, bem como da vogal ou ditongo ali presente. Não existem palavras oxítonas (com acento forte na última sílaba), exceto em alguns casos afetados pelos metaplasmos (que são as alterações fonéticas que uma palavra sofre). A sílaba que rege a acentuação didática do vocábulo é, normalmente, a penúltima. Mas se esta for longa, o acento recairá sobre ela mesma. Caso seja breve, o acento recuará para a sílaba anterior. Para evitar transtornos, eu opto pôr nunca acentuar nenhuma palavra. É mais prático!

4. LATIM CLÁSSICO E LATIM VULGAR

O Latim Clássico (modalidade essencialmente escrita) distingue-se do Latim Vulgar (modalidade essencialmente falada) em vários aspectos, entre os quais se destacam: o Clássico é uma forma de língua “culta”, “estática” e “imutável”, gravada em tabuinhas e pergaminhos escritos entre o primeiro século a. C (por volta do ano 81), indo até o primeiro século d. C (por volta do ano 17), período este que culmina com o que na Literatura Latina chama-se de “Período” ou “Idade de Ouro”; por outro lado, o Vulgar (entenda-se modalidade popularizada) é uma forma de língua livre de regras gramaticais, de um “estilo simples”, “mutável”, suscetível a mudanças linguísticas.

5. PRONÚNCIAS DO LATIM

O Latim apresenta, no ensino brasileiro, três pronúncias específicas: Latim Restaurado (ou Reconstituído), Latim Eclesiástico (ou Romano) e Latim Tradicional. Latim Restaurado (ou Reconstituído): é a pronúncia que tem como base a Linguística (Histórico-comparativa), Estudos de Prosódia e Métrica, bem como os textos de autores latinos do Período de Ouro da Literatura Latina.

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Latim Eclesiástico (ou Romano): é a pronúncia difundida pela Igreja Católica Apostólica Romana. Apresenta características fônicas da língua italiana moderna. Latim Tradicional: é a pronúncia que apresenta traços fônicos da língua vernácula que a utiliza, deste modo, quando se fala em Latim Tradicional brasileiro, tem-se um idioma que apresenta características fônicas do Português de Portugal (tendo em vista que este ensino veio de lá).

6. O ALFABETO LATINO É costume dizer que o “Alfabeto Latino” apresenta 21 letras, conforme aponta o grande Orador Marco Túlio Cícero: A, B, C, D, E, F, G, H, I (não se usa o J), K, L, M, N, O, P, Q, R, S, T, V (leia-se “u”) e X. As letras Y e Z pertencem ao grego, mas aparecem no Latim em palavras de origem helênica.

7. GÊNEROS E NÚMERO DOS NOMES

No Latim Clássico pode-se facilmente detectar a existência de três gêneros, a saber: masculino, feminino e neutro. Feminino: nomes de homens, algumas profissões, algumas cidades, povos, rios, ventos e alguns seres da mitologia. Ex.: “RANA, - Æ” (rã), “ROSA, - Æ” (rosa) e “FEMINA, - Æ” (moça). Masculino: nomes de mulheres, algumas profissões, plantas, árvores, algumas cidades, terras ou países e até ilhas. Ex.: “DOMINVS, - I” (senhor), “GLADIATOR, ORIS” (gladiador), “FRVCTVS, - VS” (fruto). Neutro: seres inanimados ou convencionalmente selecionados. Ex.: “TEMPLVM, I” (templo), “BELLVM, - I” (guerra), “OPPIDVM, - I” (cidade pequena), “MANCIPIVM, - I” (escravo) e “SCORTVM, - I” (rameira; prostituta). Em relação ao “Número”, basta entender que no Latim, a alteração se faz com uma rápida mudança de desinência, por exemplo, em se tratando da primeira declinação, troca-se uma desinência “Nominativo singular - A” pela desinência “Nominativo plural - Æ”. A regra geral é a mesma que no Português: Singular e Plural. “RANA” (singular); “RANÆ” (plural);

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“ROSA” (singular); “ROSÆ” (plural); “FEMINA” (singular); “FEMINÆ” (plural).

Em uma frase, reconstrói-se tudo:

FEMINA PVLCHRA EST / FEMINÆ PVLCHRÆ SVNT Tradução: “A moça é bonita” / “As moças são bonitas”.

Importante: muda-se sempre a desinência de acordo com o Caso e o Gênero.

8. SINTETISMO E ANALITISMO

Uma das principais características do Latim Clássico é o sintetismo (o uso reduzido de palavras), enquanto que na Língua Portuguesa, a principal característica é o analitismo (o uso aumentado de palavras); logo, o uso do artigo no Latim será suprido pela morfologia específica de cada caso, visto que na tradução para a língua vernácula, o “artigo” ficará implícito; ex.:

(i)

PATER BONVS EST.

Tradução: “O pai é bom”. (artigo definido implícito)

(ii)

IVLIA MAGISTRA EST.

Tradução: “Júlia é uma professora”. (artigo indefinido implícito)

(iii)

AQVILA ET RANA.

Tradução: “A águia e a rã”. (dois artigos definidos implícitos)

(iv)

MARIA AMICÆ ROSAM DAT.

Tradução: “Maria dá uma à amiga”. (artigo indefinido implícito)

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9. CATEGORIAS GRAMATICAIS

O Latim Clássico, como se sabe, possui um conjunto de classes de palavras semelhantes à língua portuguesa; este conjunto recebe o nome de “categorias gramaticas” e é formado por nove categorias, visto que o idioma do Lácio não apresenta apenas a categoria (classe) de Artigos. De uma forma geral, é importante ressaltar que algumas categorias são DECLINÁVEIS (ex.: Substantivos, Adjetivos, Pronomes, alguns Numerais e alguns Verbos, nas formas nominais), outros são INDECLINÁVEIS (ex.: Advérbios, Conjunções, Preposições, Interjeições e alguns Numerais) ou apenas CONJUGÁVEIS (ex.: a maioria dos Verbos).

DECLINÁVEIS Substantivos ― Ex.: DOMINVS, - I (senhor); FEMINA, - Æ (moça); TEMPLVM, - I (templo). Adjetivos ― Ex.: BONVS, - A, - VM (bom); NIGER, - GRA, - GRVM (negro); BREVIS, E (breve). Pronomes ― Ex.: [pessoal] EGO, TV, NOS, NOBIS, VOBIS, TE, NOSTRVM; [possessivo] MEVS, MEA, MEVM (me); [demonstrativo] HIC, HÆC, HOC (este); ISTE, ISTA, ISTUD (esse); ILLE, ILLA, ILLVD (aquele/ele); IS, EA, ID (ele/este/o); IDEM, EADEM, IDEM (o mesmo); IPSE, IPSA, IPVM (o próprio/o mesmo); [relativo] HIC, HÆC, HOC, IS, EA, ID. Numerais ― Ex.: VNVS, - A, - VM (um); DVO, DVÆ, DVO (dois); TRES, TRES, TRIA (três). Verbos (nas formas nominais) ― Ex.: AMATVS, - A, - VM.

INDECLINÁVEIS Advérbios ― Ex.: NON (não); ITERVM (de novo); ITA (assim, deste modo); DIV (durante muito tempo); IBI (ali), HODIE (hoje); HERI (ontem); CRAS (amanhã). Conjunções ― Ex.: ET (e); posposta [-QVE] (e); DVM (enquanto). Preposições ― Ex.: AD (para a, perto de, junto de); DE (sobre, a respeito de); EX/E (para fora de, de dentro de); IN (em, dentro de); AB/A (afastamento de, longe); CVM (com / contra). Interjeições ― Ex.: AVE; SALVE; ABSIT (Deus nos livre! Credo!);

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Numerais ― Ex.: QVATTVOR (quatro); QVINQVE (cinco), SEX (seis), SEPTEM (sete); OCTO (oito); DECEM (dez); MILLE (mil); PRIMVS (primeiro); SECVNDVS (segundo); TERTIVS (terceiro); QVARTVS (quarto); QVINTVS (quinto).

CONJUGÁVEIS Verbos ― Ex.: [regulares] AMĀRE, DELĒRE, LEGĔRE, CAPĔRE, AVDĪRE. Verbos ― Ex.: [irregular] ESSE.

10. A ORDEM SINTÁTICA DA SENTENÇA

Na língua latina, a ordem sintática é livre, visto que neste idioma, a morfologia dos vocábulos induz a sintaxe. Em outros termos, compreende-se que por meio das desinências acopladas aos radicais das palavras, a ordem sintática independe de uma posição mais rígida, como a acontece na língua portuguesa. Deve-se, no entanto, compreender que esta “liberdade” aqui discutida, existe porque faz parte da índole da língua, isto não significa que a ordem sintática não siga nenhuma regra, pelo contrário, esta liberdade só existe porque a morfologia é muito rica, com inúmeras desinências, que estão divididas nos seis casos latinos. Neste contexto, uma expressão do tipo: a) “PETRVS HIC NON EST” (Pedro não está aqui), poderia também ser reestruturada de outras formas, por exemplo: b) “PETRVS NON HIC EST”, c) “PETRVS EST NON HIC”, d) “HIC PETRVS NON EST”, e) “NON HIC EST PETRVS”.

Todas as sentenças têm o mesmo significado, porém a forma que é mais usual e comum na língua é a apenas a “a”. Portanto, os falantes romanos podiam adotas qualquer uma forma, mas na maioria das vezes, optavam pela mesma forma e isto se tornou quase uma regra a seguir, pois os grandes oradores romanos se utilizavam frases semelhantes. Cícero, César, Ovídio, Horácio, Virgílio entre outros, através de seus escritos, permitiram a imposição desta e de outras regras de uso. Há, além das formas usuais, algumas formas individuas criadas pelos próprios prosadores e isto ressalvava o estilo de cada um.

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REFERÊNCIAS GARCIA, Janete Melasso. Língua latina: a teoria sintática na prática dos textos. Brasília: UNB, 1997. ____________. Introdução à teoria e prática do latim. 3 ed. rev. e amp. Brasília: UNB, 2008. GARCIA, Janete Melasso & CASTRO, Jane Adriana Ramos Ottoni. Dicionário Gramatical de latim: nível básico. 2 ed. Brasília: UNB, 2010.

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