Conceções dos professores de BG sobre o ensino do Paleomagnetismo no ensino secundário

July 21, 2017 | Autor: C. Gomes (1962 - ... | Categoria: Paleomagnetism, History of Science, Content Analysis, Practical activities
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Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial III, 1241-1245

IX CNG/2º CoGePLiP, Porto 2014

ISSN: 0873-948X; e-ISSN: 1647-581X

Conceções dos professores de BG sobre o ensino do Paleomagnetismo no ensino secundário Conceptions of teachers of BG on the teaching of Paleomagnetism in secondary education G. P. Correia1*, C. Gomes1 Artigo Curto Short Article © 2014 LNEG – Laboratório Nacional de Geologia e Energia IP

Resumo: Este estudo apresenta conceções que os participantes, cinco professores de Biologia e Geologia, apresentam sobre o ensino do conceito de Paleomagnetismo no ensino secundário, em geral, e na disciplina de Geologia do 12.º ano, em particular. Para desenvolver o estudo foi efetuada uma entrevista semiestruturada e aplicada uma metodologia de análise de conteúdo. Pode-se afirmar que os docentes consideram importante a lecionação do Paleomagnetismo, bem como reconhecem a importância de conteúdos informativos sobre a História da Ciência e a proposta de atividades práticas para a compreensão deste conteúdo. As ausências expõem uma falta de articulação com as orientações curriculares para a disciplina de Geologia do 12.º ano. Palavras-chave: Análise de conteúdo, Paleomagnetismo, História da Ciência, Atividades práticas. Abstract: This study presents conceptions that participants, five Biology-Geology teachers, present on teaching the concept of Paleomagnetism in secondary education in general and, particularly, in the 12th year Geology. To develop the study was made a semistructured interview and applied a content analysis methodology. It can be stated that teachers consider important the teaching of Paleomagnetism, as well as recognize the importance of informational content about the History of science and the proposal of practical activities for understanding this content. Absences expose a lack of articulation with the curricular guidelines for 12th year Geology. Keywords: Content analysis, Paleomagnetism, History of Science, Practical activities. 1 CGUC, Departamento de Ciências da Terra, Universidade de Coimbra, Portugal. * Autor correspondente / Corresponding author: [email protected]

1. Enquadramento teórico 1.1. O Paleomagnetismo no ensino das Geociências Nos programas curriculares de Geociências, o Paleomagnetismo (e.g. Butler, 1992; Gomes, 1996; Lanza & Meloni, 2006) pode ser lecionado em diferentes áreas disciplinares de vários anos escolares do ensino regular, desde o 3.º Ciclo do Ensino Básico (Ciências Naturais, 7.º ano) ao Secundário (Biologia e Geologia, 10.º ano e Geologia, 12.º ano). Maioritariamente, é mais desenvolvido no âmbito do desenvolvimento da Teoria da Tectónica de

Placas e no 12.º ano da disciplina opcional de Geologia do Curso de Científico-humanísticos. Particularmente, no ensino secundário, anos com relevância para este estudo, o Paleomagnetismo não faz parte do programa curricular da disciplina de Biologia e Geologia do 10.º ano do Curso Científico-humanísticos. Contudo, no Tema I - “A Geologia, os geólogos e os seus métodos”, ao lecionar os métodos de datação da Terra e a mobilidade da crusta terrestre, o professor, pode fazer referência a este conceito, no sentido de contextualizar o desenvolvimento da ciência e o que permitiu à sociedade científica aceitar o mobilismo defendido pela Deriva dos Continentes e a sua evolução para a Teoria da Tectónica de Placas. Também, no Tema III – “Compreender a estrutura e a dinâmica da geosfera”, na unidade “Métodos para o estudo do interior da geosfera”, o tema do geomagnetismo é de lecionação obrigatória. Neste contexto, consideramos que ao estudar o campo geomagnético como método indireto, o Paleomagnetismo é importante para um enquadramento e posterior entendimento dos conteúdos a lecionar. Globalmente, o ensino e a aprendizagem do Paleomagnetismo acabam por ter um carácter superficial e acessório, adquirindo um maior ou menor desenvolvimento de acordo com a relevância que o docente lhe decidir atribuir, uma vez que é uma matéria com alguma complexidade e o seu aprofundamento considerado informação excessiva. Portanto, justificado pelo grau de complexidade, este conteúdo é apenas lecionado com maior profundidade no 12.º ano de escolaridade, na disciplina opcional de Geologia, na qual o Paleomagnetismo, as inversões de polaridade, integrados no Tema I, na unidade “Os primeiros passos de uma nova teoria. A Teoria da Tectónica de Placas” e a magnetoestratigrafia, no Tema II – “Métodos de datação físicos”, são conceitos com carácter de lecionação obrigatória. Pensamos que esta organização se deve ao facto de os alunos, no último ano do ensino secundário, possuírem uma maior maturidade intelectual e um maior conhecimento. Uma outra razão poderá dever-se ao facto da disciplina de Geologia do 12.º ser opcional e incluir conteúdos da área da Geologia que, obrigatoriamente,

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podem e devem ser mais desenvolvidos e aprofundados, enquanto na disciplina de Biologia e Geologia do 10.º ano, a carga horária ser distribuída equitativamente por conteúdos das áreas da Geologia e da Biologia. 1.2. Análise de conteúdo A análise de conteúdo é um método recorrentemente usado na avaliação qualitativa e “constitui uma metodologia de pesquisa usada para descrever e interpretar o conteúdo de toda classe de documentos e textos (…) conduzindo a descrições sistemáticas, qualitativas ou quantitativas”, ajudando “a reinterpretar as mensagens e a atingir uma compreensão de seus significados num nível que vai além de uma leitura comum.” (Moraes, 1999: p. 9). O processo de análise de conteúdo compreende um conjunto de passos que culminam na leitura e interpretação dos dados obtidos. De acordo com Amado (2000: p. 55), a sequência dos passos, embora dentro de alguma flexibilidade, é: a) “Definição de objectivos de trabalho”; b) “Explicitação de um quadro de referência teórico”; c) “Constituição de um ‘corpus’ documental”; d) “Leituras atentas e activas”; e) “Formulação de hipóteses”; f) “Codificação”. Debrucemo-nos sobre o último passo que corresponde ao tratamento dos dados em bruto para a sua leitura em função do pretendido e que pode compreender diversas fases em função do seu autor. Assim, de acordo com Moraes (1999: p. 16), são cinco as etapas a cumprir: a) “Preparação das informações”; b) “Unitarização ou transformação do conteúdo em unidades”; c) “Categorização ou classificação das unidades em categorias”; d) “Descrição”; e) “Interpretação”. Para Amado (2000: p. 56), este passo compreende quatro fases: a) Fase “A – Determinar as Unidades de Registo ou de Significação”; b) Fase “B – Determinar a Unidade de Contexto”; c) Fase “C – Determinar a Unidade de Enumeração e de Contagem”; d) Fase “D – Categorização”. Mais recentemente, Gomes Campos (2004: p. 613) propôs uma sequência de três fases: a) Fase “I – Fase de pré-exploração do material de leituras flutuantes”, durante a qual é feita uma leitura geral aos dados identificando-se unidades/categorias, que podem ser palavras ou frases, reguladas pelos objetivos e as questões de investigação (constituição do corpus da entrevista), esta pode ser considerada a fase mais importante da análise de conteúdo; b) Fase “II – Seleção das unidades de análise (ou unidades de significados)”, que correspondem a pedaços de texto e que são reconhecidos de um modo dinâmico e intuitivo; c) Fase “III – Processo de categorização e subcategorização”, durante o qual são definidas os domínios, as categorias e subcategorias e, posteriormente, o respetivo agrupamento das unidades de análise. Este estudo inclui-se num projeto mais alargado cuja temática central é o ensino do Paleomagnetismo no ensino secundário. Estabelecendo-se uma relação estreita

com as orientações curriculares, o objetivo principal foi avaliar a perceção dos professores sobre o aprofundamento e importância atribuída à lecionação de conceitos de Paleomagnetismo no ensino secundário em geral e, em específico, na disciplina de Geologia do 12.º ano e para o qual se definiram as seguintes questões de investigação: Q1 - Os professores consideram o Paleomagnetismo suficientemente aprofundado no currículo do ensino secundário em geral? Q2 - Os professores consideram os conceitos de Paleomagnetismo adequados para o currículo da disciplina de Geologia do 12.º ano? 2. Metodologia 2.1. Instrumento A entrevista foi constituída por quatro questões das quais as três primeiras pediam justificação. A questão um divide-se em duas sub-questões. Na tabela 1 é apresentado o roteiro da entrevista, bem como a relação das suas questões com as questões de investigação. 2.2. Participantes O processo de seleção configurou uma amostra não probabilística (amostra por conveniência) que, segundo Tuckman (2005), resulta de um processo de seleção, segundo o qual cada elemento da população não tem uma probabilidade igual de ser escolhido para integrar a amostra. Assim, neste estudo participaram cinco docentes, maioritariamente com a habilitação académica de licenciado (2 em Biologia e Geologia, 2 em Geologia e 1 em Biologia), embora um acumulasse o diploma de Mestrado (Geociências) e um outro de Doutoramento (Ciências da Educação). Todos os elementos da amostra eram professores do quadro, com tempo de serviço que variava entre os 16 e os 36 anos e lecionavam em escolas distintas do norte e centro do país. Em comum, partilham características, tais como: a) pertencerem ao grupo de recrutamento 520 - Biologia e Geologia; b) terem prática de lecionação da área curricular disciplinar de Geologia do 12.º ano de escolaridade, em pelo menos um dos últimos cinco anos letivos letivos (2007/2008 a 2011/2012) e, como tal, já terem contactado e estarem familiarizados com o novo programa desta disciplina, bem como com os manuais escolares disponíveis no mercado. 2.3. Implementação da entrevista A entrevista teve a duração aproximada de 15 min e foi aplicada no mês de agosto de 2012. Optou-se pela aplicação de uma entrevista semiestruturada. Uma entrevista porque consistiu “numa conversa intencional” (Bogdan & Biklen, 1994: p. 134) entre duas pessoas, permitindo a interação verbal (face a face) entre o entrevistador que tenta obter informação para a sua investigação e o entrevistado que fornece esses dados. Semiestruturada, porque a recolha destes dados foi feita na

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linguagem do entrevistado, permitindo ao investigador desenvolver uma ideia intuitiva sobre a forma como os sujeitos interpretam os assuntos em questão (Vilelas, 2009). Ao mesmo tempo ficou-se “com a certeza de se obter dados comparáveis entre os vários sujeitos” (Bogdan & Biklen, 1994: p. 135), na medida em que a seleção de perguntas a explorar, e colocadas de igual forma a todos os entrevistados, foi orientada para a procura de informação relevante, o que se traduziu numa maior fidelidade aos objetivos da investigação.

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2.4. Definição das categorias Para o processo de análise de conteúdo optou-se por seguir a sequência em três fases proposta por Gomes Campos (2004). Neste contexto foram definidos três domínios. A saber: Curricular, História da Ciência e Atividades práticas. Cada um destes foi subdividido em categorias e estas em subcategorias (Tabelas 2 e 3). Os dados obtidos permitiram obter uma informação ora qualitativa, ora quantitativa, sendo que esta última foi tratada no programa Excel.

Tabela 1. Roteiro da entrevista semiestruturada e sua articulação com as questões de investigação. Table 1. Script of semi-structured interview and their articulation with the research questions.

Tabela 2. Registo da perceção dos professores entrevistados, sobre o aprofundamento e importância atribuída à lecionação do Paleomagnetismo no âmbito do domínio Curricular (f). Table 2. Registration of the perception of teachers interviewed, about deepening and importance attributed to the Paleomagnetism teaching in the context of Curricular area (f).

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Tabela 3. Registo da perceção dos professores entrevistados, sobre o aprofundamento e importância atribuída à lecionação de conteúdos no âmbito do domínio História da Ciência e Atividades práticas (f). Table 3. Registration of the perception of teachers interviewed, about deepening and importance attributed to the teaching of content in the context of History of Science and practical activities (f).

3. Resultados e discussão A informação obtida através da análise dos dados recolhidos nas entrevistas permite-nos afirmar que a totalidade dos entrevistados considera que, na medida em que os estudos paleomagnéticos foram muitos importantes para o desenvolvimento dos modelos subjacentes à proposta e desenvolvimento da Teoria da Tectónica de Placas, então o Paleomagnetismo deveria ser mais aprofundado nos currículos do ensino secundário e, em particular, em Geologia do 12.º ano. A partir dos dados enquadrados no domínio ‘Curricular’ (Tabela 2), verificamos que a categoria Articulação com as orientações curriculares é a mais representada (f=8). Nesta salientam-se as referências ao aprofundamento dos conceitos que, numa opinião generalizada, apontam para o insuficiente desenvolvimento desta matéria, nomeadamente no 10.º ano. Ainda, nesta categoria, na subcategoria ‘Adequação aos exames nacionais’ salientamos um registo de opinião, com a qual concordamos, respeitante à discrepância verificada entre as orientações curriculares e o grau de exigência requerido nos exames “(…) constata-se que os exames vão a um nível de exigência muito superior”. De uma forma oposta, encontramos a categoria Adequação ao programa curricular representada apenas por um registo (Tabela 2). Nesta última, uma opinião refere-se à desarticulação entre as orientações curriculares e o programa curricular da disciplina, afirmando que “As orientações curriculares não se coadunam com os princípios subjacentes ao programa da disciplina. (…)”. Por fim, uma referência à categoria, Manual escolar, que nos remete para a informação relativa ao último ‘Manual adotado’ com que trabalharam os entrevistados quando lecionaram Geologia do 12º ano. Nesta, registamos as falhas detetadas no que respeita à ausência de conteúdos sobre a História da Ciência, bem como de atividades práticas. Os dados relativos ao domínio ‘História da Ciência’ mostram que a totalidade dos docentes entrevistados (f=5)

considera importante a sua lecionação no âmbito da temática do Paleomagnetismo (Tabela 3). Uma importância que se prende, nomeadamente, com a relação Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA). Os mesmos dados indicam que a maioria dos entrevistados (f=4) considera não haver uma articulação entre o conteúdo dos manuais e as orientações curriculares, no que respeita à História da Ciência. Relativamente ao domínio ‘Atividades práticas’ a totalidade dos entrevistados considera importante a sua lecionação, bem como considera que existe uma relação entre a sua utilização e a aprendizagem efetiva. Partilhamos da mesma opinião, na medida em que no ensino da área científica da Geologia, e particularmente no contexto do Paleomagnetismo, é necessária uma grande capacidade de abstração para compreender os processos numa escala espacial e numa escala temporal, muito diferentes da que vivemos no dia-a-dia. 4. Considerações finais A partir da análise das respostas dos cinco participantes, concluiu-se que todos consideram o Paleomagnetismo um tema pouco aprofundado nos currículos das disciplinas do ensino secundário em geral e, particularmente, em Geologia do 12.º ano. Nesta última, a ausência é mais notada, na medida em que os estudos paleomagnéticos foram fundamentais para o desenvolvimento da Teoria da Tectónica de Placas, conteúdo amplamente desenvolvido neste ano e disciplina. No que respeita ao desenvolvimento, foram identificadas lacunas relativamente a informação sobre a História da Ciência e a propostas de atividades práticas revelando, deste modo, uma falta de articulação com as orientações curriculares para a disciplina de Geologia do 12.º ano. Esta ausência orienta os participantes para a pesquisa de informação complementar em outras fontes de informação, livros científicos, outros manuais escolares e na internet ou, ainda, para a construção de recursos adicionais para fornecer aos alunos.

Conceções na docência do Paleomagnetismo

Referências Amado, J.S., 2000. A Técnica de análise de conteúdo. Referência, 5, 53-63. Butler, R.F., 1992. Paleomagnetism: magnetic domains to geologic terranes. Electronic Edition, Department of Chemistry and Physics, University of Portland, Portland, Oregon, 238 p. Bogdan, R., Biklen, S., 1994. Investigação qualitativa em Educação: Uma introdução à teoria e aos métodos. Porto Editora, Porto. 336 p. Gomes, C.S.R., 1996. Observações paleomagnéticas no quadro da Bacia Lusitaniana - 1ª Fase de rifting (Estudo da estabilidade da magnetização remanescente natural). Tese de doutoramento,

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Universidade de Coimbra (não publicada), 254 p. Gomes Campos, C.J., 2004. Método de análise de conteúdo: ferramenta para análise de dados qualitativos no campo da saúde. Revista Brasileira de Enfermagem, 57(5), 611-614. Lanza, R., Meloni, A., 2006. The earth´s magnetism. An introduction for geologists. Springer-Verlag Berlin Heidelberg, Germany, 278 p. Moraes, R., 1999. Análise de conteúdo. Revista Educação, 22(37), 732. Tuckman, B.W, 2005. Manual de investigação em Educação. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 995 p. Vilelas, J., 2009. Investigação – O processo de construção do conhecimento. Edições Sílabo, Lisboa, 400 p.

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