CONCEPÇÕES SOBRE INSETOS POR ALUNOS DA 6ª SÉRIE (7º ANO) DO ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE CAPÃO DO LEÃO, RS

July 3, 2017 | Autor: F. Garcia | Categoria: Entomology, Ecology, Educacion
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12ª Jornada de Pós-Graduação e Pesquisa - ISSN 1982-2960

CONCEPÇÕES SOBRE INSETOS POR ALUNOS DA 6ª SÉRIE (7º ANO) DO ENSINO FUNDAMENTAL NO MUNICÍPIO DE CAPÃO DO LEÃO, RS

CONCEPTS ABOUT INSECTS FOR 6th GRADE STUDENTS OF ELEMENTARY SCHOOL IN THE CITY OF CAPÃO DO LEÃO, RS 1,3

,3

,3

Daiana Rezende Machado ; Flávia do Sacramento¹ ; Patrícia Sell² ; Adrise Medeiros Nunes¹ ; Flávio Roberto 1,3 Mello Garcia 1 3 Programa de Pós-Graduação em Entomologia; ²Graduação em Ciências Biológicas; Laboratório de Ecologia de Insetos, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Capão do Leão, RS, Brasil E-mail: [email protected]

RESUMO O ensino de Ciências, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, tem por objetivo colaborar para que o estudante entenda o mundo e suas transformações, situando-o como indivíduo participante e parte integrante do Universo. Os insetos sempre fascinaram a espécie humana em detrimento das suas diferentes formas, indo muito além de sua representação utilitária. Os conteúdos de zoologia são abordados na 6ª série (7º ano) do Ensino Fundamental, na disciplina de Ciências, e no 2ª ano do Ensino Médio, na disciplina de Biologia, ocasiões em que a Classe Insecta é apresentada aos estudantes para estudo. Concepções são experiências que os indivíduos têm para dar significado as coisas, sendo assim, elas tem um papel importante no processo de ensino/aprendizagem, principalmente na construção do conhecimento. Este trabalho teve como objetivo verificar as concepções sobre insetos pelos alunos de 6ª série (7º ano) do Ensino Fundamental em duas escolas no município de Capão do Leão, RS. Os dados foram obtidos mediante a aplicação de um questionário aberto, contendo 4 perguntas, no mês de dezembro de 2013. O tratamento dos dados foi feito de forma qualitativa, com uma categorização a posteriori dos dados para o tratamento das informações. Os insetos foram conceituados em quatro categorias: Características taxonômicas, Repulsa, Papel Ecológico e Saúde, além disso os alunos demostraram em sua maioria não gostar de insetos e o termo “inseto” foi utilizado para designar organismos não sistematicamente relacionados. Os alunos atribuíram aos insetos tanto valores positivos quanto negativos, enquanto alguns disseram que os insetos não são importantes. Os dados apresentados demonstraram que os alunos pesquisados não possuem uma definição clara sobre o que são os insetos, pois confundem estes com outros artrópodes e até com outros animais não-artrópodes e em sua maioria, os estudantes possuem uma concepção de que esses animais são ameaças ou inimigos. Palavras-chave: artrópodes; ciências; estudantes.

ABSTRACT Science education in the early grades of elementary school aims to assist the student to understand the world and its transformations, placing the individual as a participant and an integral part of the universe. Insects have always fascinated the human species to the detriment of its different forms, going far beyond their utilitarian representation. The contents of zoology are covered in 6th grade Elementary School, in the course of Sciences, and in 2nd year of High School, the course of Biology, occasions when the Class Insecta is presented

12ª Jornada de Pós-Graduação e Pesquisa - ISSN 1982-2960 to students. Conceptions are experiences that individuals have to give meaning to things, so they have an important role in the teaching / learning process, particularly in the construction of knowledge. This study aimed to verify the concepts about insects by students of 6th grade Elementary Education in two schools in the municipal district Capão do Leão, RS. The data were obtained by applying an open questionnaire containing four questions in December of 2013. The data analysis was done qualitatively, with a subsequent categorization of data for processing information. The insects were conceptualized into four categories: taxonomic Characteristics, Repulsion, Ecological and Health Paper also demonstrated students mostly do not like insects and the term "bug" was used to designate not systematically related organisms. Students assigned to insects both positive and negative values, while some said that insects are not important. The data presented demonstrated that students surveyed do not have a clear definition about what are the insects, because they confuse with other arthropods and even other non-arthropod animals and mostly the students have an idea that these animals are threats or enemies. Keywords: arthropods; sciences; students.

INTRODUÇÃO O ensino de Ciências, nas séries iniciais do Ensino Fundamental, tem por objetivo colaborar para que o estudante entenda o mundo e suas transformações, situando-o como indivíduo participante e parte integrante do Universo (BRASIL, 1998). Considerando que o ensino de Ciências deve constituir-se em uma disciplina que busque despertar, desenvolver, ampliar, incentivar a curiosidade do aluno, para tornar o ensino mais agradável e assim o aluno tenha vontade de querer saber mais, se torne curioso, questionador e adquira a fundamentação cognitiva necessária. Os conteúdos de zoologia são abordados na 6ª série do Ensino Fundamental, disciplina de Ciências, e na 2ª série do Ensino Médio, disciplina de Biologia, ocasiões em que a Classe Insecta é apresentada aos estudantes para estudo (MACEDO; GRUZMAN 2001, LOPES; SANTANA-REIS; CERQUEIRA, 2003). Devido o conteúdo de Ciências ser muito amplo, é de extrema importância que o professor considere as ideias prévias dos alunos e assim atue como um mediador para que os alunos aprendam significamente. Segundo Ausubel (1978) a aprendizagem tem dois extremos. Por um lado a aprendizagem mecânica (popularmente conhecida no Brasil como “decoreba”) sendo que, nesta o estudante memoriza conceitos desconectados e desprovidos de grande significado. No outro extremo há a aprendizagem significativa, quando novos conhecimentos (conceitos) são interligados a conhecimento já existente na estrutura cognitiva do aprendiz, de uma maneira substantiva e não arbitrária.

12ª Jornada de Pós-Graduação e Pesquisa - ISSN 1982-2960 A maneira como os indivíduos percebem, identificam, categorizam e classificam o mundo natural influenciam no modo como eles pensam, agem e expressam emoções com relação aos animais (COSTA NETO, 2006). Segundo Modro et al. (2009), os insetos estão em constante interação com os seres humanos, seja por seu grande número de espécies e de indivíduos por espécie, seja por sua importância como agentes nocivos (vetores de doenças, pragas agrícolas e urbanas) ou por sua ação benéfica (polinizadores, inimigos naturais de pragas agrícolas, alimento). As concepções são experiências que os indivíduos têm para dar significado as coisas, sendo assim, elas tem um papel importante no processo de ensino/aprendizagem, principalmente na construção do conhecimento. Sendo assim, a utilização de insetos em aulas de Ciências contribui para diminuir as características repulsivas associadas a esses organismos, já que eles são lembrados com frequência apenas como seres que causam doenças ou outros prejuízos (COSTA NETO; PACHECO, 2004). Mesmo com a grande diversidade biológica e popularidade, diversas pessoas, incluindo-se neste grupo alunos do Ensino Fundamental e Médio, trazem consigo concepções de que a classe insecta abriga animais considerados nocivos ou perigosos, desta forma acabam por confundir aranhas, lacraias e carrapatos, além de exemplares de classes mais distantes, com insetos (MACÊDO; FLINTE; GRENHAS, 2005). Ao contrário do conceito científico apresentado nas academias, o senso comum julga os insetos como sendo organismos nojentos, perigosos, repugnantes e inúteis para a sociedade (LIMA et al., 2011). Este trabalho teve como objetivo verificar as concepções sobre insetos por alunos da 6ª série (7º ano) do Ensino Fundamental em duas escolas no município de Capão do Leão, RS.

MATERIAL E MÉTODOS O presente estudo foi realizado em duas escolas públicas, sendo uma Estadual e outra Municipal, no município de Capão do Leão, Rio Grande do Sul, onde participaram da pesquisa alunos regularmente matriculados na 6ª série (7º ano) do Ensino Fundamental.

12ª Jornada de Pós-Graduação e Pesquisa - ISSN 1982-2960 Foram escolhidas duas escolas que possibilitaram o desenvolvimento da pesquisa e selecionou-se duas turmas de 6ª série (7º ano) de cada escola onde todos os alunos presentes participaram da pesquisa, totalizando 61 alunos. A escolha da 6ª série (7º ano) foi devido à proximidade dos alunos com o conteúdo de entomologia, uma vez que a Classe insecta faz parte do conteúdo de zoologia no Ensino Fundamental e é ministrado na 6ª série (7º ano). Os dados foram obtidos mediante o preenchimento de um questionário aberto, constando de quatro questões. As informações foram coletadas no mês de dezembro de 2013 através de visitas as escolas, onde se explicou aos estudantes a razão do questionário. Para preservar a identidade dos alunos, estes foram tratados como A1, A2, A3 e assim por diante. A análise dos dados, foi feita de forma qualitativa, onde foi feito uma categorização a posteriori dos dados para análise das informações. Segundo Bardin (1997), a análise categorial destaca-se entre as técnicas utilizadas para análise de conteúdo, uma vez que trata do desmembramento das informações em categorias, onde os critérios de escolha e de delimitação orientam-se pela dimensão de investigação dos temas relacionados ao objeto de pesquisa, identificados nas informações dos sujeitos pesquisados. A metodologia escolhida valoriza uma perspectiva qualitativa, pois trabalha com o universo

de

atitudes,

ou

seja,

informações

que

não

podem

ser

reduzidas

à

operacionalização das variáveis (MINAYO, 2003). A pesquisa qualitativa envolve propostas muito mais flexíveis em comparação com a pesquisa quantitativa, ao mesmo tempo em que oferece flexibilidade ao pesquisador. Sabese, ainda, que esse tipo de metodologia pode nos levar à apreensão do caráter complexo e multidimensional dos fenômenos em sua manifestação natural (GIACÓIA, 2006 apud BRAGA; ARAÚJO, 2012). O termo “inseto” quando colocado entre aspas, refere-se a uma etnocategoria que segundo Costa Neto e Magalhães (2007) define-se como sendo um domínio de construção cultural que engloba animais de diferentes grupos taxonômicos (mamíferos, répteis, anfíbios e os próprios insetos) classificados segundo sua percepção da morfologia, comportamento, entre outras características incompatíveis, muitas vezes com a classificação taxonômica.

12ª Jornada de Pós-Graduação e Pesquisa - ISSN 1982-2960 RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 61 alunos que participaram da pesquisa, 31 eram meninas e 30 meninos com idade entre 12 e 16 anos. Quando os alunos foram questionados “Para você o que é um inseto?”, os estudantes deram definições diferentes. As respostas obtidas foram colocadas em cinco categorias, sendo elas: características taxonômicas, afetividade, papel ecológico, saúde e não responderam. A categoria características taxonômicas apresentou maior representação (49%), sendo que a maioria dos estudantes disseram que os insetos são animais invertebrados que possuem asas, conforme podemos observar nos depoimentos abaixo: A13: “Bichinhos pequeninos” A28: “São animais invertebrados” A41: “É um bicho invertebrados, uns tem asas e uns tem patas, eles voam e andam, etc”. Com esta pergunta percebe-se que alguns alunos tem o mínimo de entendimento sobre os insetos, colocando-os como seres invertebrados, que voam. Porém muitos alunos ainda têm concepções equivocadas do que são insetos como: A23: “Pra mim um inseto é um bicho que tem o corpo articulado, quatro pernas e um par de asas”.

Isto pode ser o resultado de uma aprendizagem em que os alunos somente recebem as informações já prontas e as memorizam, evidenciando o ensino tradicional que caracteriza-se por basear-se em transmissão da informação, na cópia e na memorização (DEMOLINER, 2005). A escola reprodutiva considera o conhecimento como um processo linear. Por isso, aposta em simples transmissão. O professor fala, o aluno escuta, toma nota e devolve na prova. Chega-se no máximo ao domínio reprodutivo de conteúdos. (DEMO, 2002, p.125)

12ª Jornada de Pós-Graduação e Pesquisa - ISSN 1982-2960 A segunda pergunta foi “Gostas de insetos? Por quê?”, pode-se perceber que os entrevistados possuem uma visão negativa dos insetos, pois 70% disseram que não gostam de insetos, conforme transcrições abaixo: A4: “Não eu acho os insetos nojentos e alguns feios” A7: “Não, porque tem insetos que trazem doenças para as pessoas” A51: “Não pois tem uns que picam e tem uns que possuem veneno, etc”

Com essa pergunta constata-se a repulsa que a maioria dos alunos tem em relação aos insetos, porém essa repulsa vem do senso comum, do que eles aprenderam com seus familiares de que os insetos na maioria são prejudiciais à saúde. Provavelmente, essas reações ocorrem devido à maioria das pessoas estarem muito mais informadas dos danos que os insetos causam do que dos benefícios que os mesmos trazem (BORROR; DELONG, 1969). Pesquisas em etnoentomologia (COSTA NETO; CARVALHO, 2000; COSTA NETO; PACHECO, 2004) mostram que a percepção em relação aos insetos implica comportamento e sentimentos ambíguos, que variam de atitudes mais positivas a mais negativas. Esse padrão recentemente foi explicado pela hipótese da ambivalência entomoprojetiva, segundo a qual os seres humanos tendem a projetar sentimentos de nocividade, periculosidade, irritabilidade, repugnância e menosprezo aos animais associados à etnocategoria “insetos” (COSTA NETO, 2006). Sendo assim, os dados obtidos nesta questão também podem ser explicados pela ambivalência entomoprojetiva, pois, os alunos apresentaram várias justificativas para o fato de não gostar de “insetos” colocando as características negativas como medo, nojo, nocividade. Conforme Costa Neto (2004), o modo como a maioria das sociedades percebe e se expressa com relação aos insetos, evidencia as atitudes, os sentimentos de desprezo, medo e aversão que geralmente os seres humanos demonstram por esses animais.

12ª Jornada de Pós-Graduação e Pesquisa - ISSN 1982-2960 A terceira questão foi para que os alunos colocassem exemplos de “insetos”, sendo que 19 tipos diferentes foram exemplificados. A palavra inseto foi utilizada para denominar animais como: aranhas, centopéias, minhocas etc. (Tabela 1). Dos seres vivos exemplificados como “insetos” pelos alunos, a maioria pertence à classe Insecta contemplando 92% das respostas, sendo, portanto, parcialmente coerentes. Tabela 1: Exemplos citados de “insetos” pelos alunos, os números absolutos e as porcentagens dos mesmos na amostra.

Insetos

Taxonomia

Número de citações

Percentagens (%)

Mosquito

Diptera

45

25

Mosca

Diptera

39

22

Barata

Blattodea

20

11

Aranha

Araneae

13

7

Gafanhoto

Orthoptera

11

6

Formiga

10

6

Grilo

Hymenoptera Orthoptera

6

3

Cascudo

Coleoptera

6

3

Abelha

6

3

Besouro

Hymenoptera Coleoptera

5

3

Vagalume

Coleoptera

4

2

Marimbondo

4

2

Louva-a-deus

Hymenoptera Mantodea

3

2

Centopéia

Chilopoda

1

1

Borboleta

Lepidoptera

1

1

Cigarra

Hemiptera

1

1

Joaninha

Coleoptera

1

1

Libélula

Lepidoptera

1

1

Minhoca

Oligoqueta

1

1

12ª Jornada de Pós-Graduação e Pesquisa - ISSN 1982-2960 Em estudo realizado por Costa Neto e Carvalho (2000) sobre a percepção de insetos por 533 discentes de 20 cursos de graduação da Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia, Brasil. Os quais demonstraram que, em geral, o termo “inseto” é usado para designar organismos sistematicamente não-relacionados. Ainda, a expressão “inseto” é utilizada pelos indivíduos como uma categoria ampla que reúne organismos não relacionados como: cobras, lacraias, gongos, aranhas, sapos, sardões, escorpiões, além dos próprios insetos da classificação científica. (SILVA et al. 2007). A reunião de animais com histórias evolutivas tão diversas em um único táxon tem sido observada em diferentes contextos culturais, tantos antigos quanto atuais. Costa Neto e Magalhães (2007), em estudo com moradores do povoado de Tapera, Bahia, registraram diferentes animais não-insetos (lagartixa, rã, rato, cobra, lacraia, lesma, gongo, caranguejeira, entre outros) como pertencentes ao domínio semântico “inseto”. Outro dado importante nesta questão foi que a aranha encontra-se entre os 6 mais citados como “insetos”, reforçando mais uma vez que grande parte dos alunos não possui conhecimento coerente com o encontrado na literatura. Em estudos sobre a percepção e uso dos insetos pelos moradores da comunidade do Ribeirão da Ilha Ulysséa, Hanazaki e Lopes (2010) registraram que as aranhas foram as mais citadas entre os moradores como “insetos”. O mesmo foi observado, no povoado de Pedra Branca/BA, as aranhas são consideradas como insetos (COSTA NETO; PACHECO, 2004). É comum às pessoas confundirem aranhas com insetos, isso acontece muitas vezes porque as aranhas, são animais pequenos e são encontradas no mesmo habitat dos insetos. A quarta pergunta que foi “Para você os insetos são importantes? Por quê?”, nesta pergunta a categorização foi feita a partir dos aspectos encontrados nas respostas. Sendo assim foram encontradas cinco categorias, sendo elas: aspectos positivos, aspectos negativos, não são importantes, indecisos e não responderam. A categoria aspectos positivos (49%), a maioria das respostas foi relacionada com o papel ecológico dos insetos, e teve respostas como:

12ª Jornada de Pós-Graduação e Pesquisa - ISSN 1982-2960 A3: “Sim, importantes para a natureza”, A17: “Sim porque eles fazem parte do ciclo da natureza sem eles muitos animais não existiriam”, A44: “Sim, por causa da cadeia alimentar, porque vários animais se alimentam deles. Ex. sapo se alimentam de moscas”.

É interessante salientar que alguns estudantes falaram sobre a importância dos insetos para a polinização, principalmente a que é realizada por abelhas: A51: “Sim por vários motivos um exemplo é a abelha é ela que produz mel, etc”

Corroborando com este trabalho, estudos de Costa Neto e Carvalho (2000) com graduandos da Universidade Estadual de Feira de Santana (BA), relacionando à importância dos insetos, cerca de 84% dos entrevistados relacionaram os insetos com valores positivos, 10% com valores negativos e 6% disseram que os insetos não tinham importância alguma. Porém em trabalho realizado por Modro et al. (2009), os insetos foram considerados sem importância positiva por 100% dos alunos do Ensino Fundamental, e por 60% dos alunos do Ensino Médio e do EJA do município de Santa Cruz do Xingu no Mato Grosso. A visão negativa em relação aos insetos pode ter grandes consequências e influenciar os sentimentos e atitudes agressivas, como o desejo de exterminar imediatamente os “insetos”, quando se depara com o mesmo (MODRO et al. 2009). O conhecimento sobre a biologia e ecologia dos insetos pode auxiliar na compreensão do papel deste grupo no ambiente, assim como mudar as relações humanas com eles (BORROR; DELONG, 1969). Ainda o ato de perceber os insetos como seres desprezíveis parece ser uma característica do homem ocidental. Na Ásia, os povos têm uma relação diferente com os insetos (PEMBERTON, 1999). Segundo o autor, as culturas asiáticas consideram determinados insetos esteticamente agradáveis, bons para comer, bons como animais de

12ª Jornada de Pós-Graduação e Pesquisa - ISSN 1982-2960 estimação, matérias de esporte (e.g., grilos de briga), agradáveis de se ouvir e úteis na medicina. Sendo assim para desmistificar esses sentimentos, sugere-se, a realização de atividades educacionais que esclareçam a contribuição dos insetos para a manutenção da maioria dos ecossistemas, desempenhando papéis ecológicos importantes, como ciclagem de nutrientes, polinização das plantas, dispersão de sementes, manutenção da estrutura e fertilidade do solo, controle das populações de organismos e alimento para inúmeras espécies (BUZZI, 2002).

CONSIDERAÇÕES FINAIS Os dados apresentados demonstram que os estudantes pesquisados não possuem uma definição clara sobre o que são os insetos, pois confundem estes com outros artrópodes e até com outros animais não-artrópodes, além disso os estudantes possuem uma concepção de que esses animais são ameaças ou inimigos, porém, reconhecem sua importância para a natureza. Além disso, muitos alunos demostraram não gostar dos insetos por vários motivos principalmente devido à repulsa e medo. Sendo assim, o aluno aprende um conteúdo quando é capaz de atribuir-lhe significado, e através dos conhecimentos anteriores dos alunos sobre os insetos, podem ser usados para o desenvolvimento de atividades didáticas que promovam a correlação de tais conhecimentos com aqueles provenientes da ciência.

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