Conhecendo, Convivendo e Conservando a Biodiversidade

May 31, 2017 | Autor: Christiane Donato | Categoria: Interdisciplinarity, Conservation, Interdisciplinary, Meaningful Learning
Share Embed


Descrição do Produto

CONHECENDO, CONVIVENDO E CONSERVANDO A BIODIVERSIDADE Christiane Ramos Donato1 Eixo temático: Educação, Sociedade e Práticas Educativas

RESUMO Esse trabalho apresenta os resultados de um projeto que teve como finalidade despertar nos alunos dos sétimos anos de uma escola da rede particular de ensino o reconhecimento da importância da biodiversidade através de práticas interdisciplinares entre Redação e Ciências. A metodologia da pesquisa é de natureza qualitativa, baseada no método de pesquisa-ação e no paradigma sistêmico. A pesquisa foi realizada em cinco turmas de sétimo ano no período de janeiro a dezembro de 2008. Os sujeitos participantes da pesquisa foram cento e setenta e cinco alunos adolescentes e pré-adolescentes. Os principais instrumentos de coleta de informações utilizados foram observações e a avaliação continuada. Dentre os resultados destacam-se a mudança comportamental em sala de aula, e a aprendizagem significativa demonstrada por intermédio da produção literária, artística e por debates em sala. Palavras-chave: Interdisciplinaridade, Conservação, Aprendizagem Significativa ABSTRACT The main objective of this paper is to show the results of a interdisciplinary project (Science and Writing) made with students of the seventh year of a private school about the importance of the Biodiversity. The research, was the action type, and used the qualitative methodology, action research method, systemic paradigm, with a five groups of students between January and December of 2008. The data was collected during the all year. As results is show that the students change their behavior in classroom, and has significant learning about the theme of the project. Keywords: Interdisciplinary, Conservation, Meaningful Learning 1. INTRODUÇÃO

1

Mestranda bolsista DAAD em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Sergipe, email: [email protected]

2 A pescaria em larga escala, o aquecimento global devido à emissão exagerada de CO2, a poluição dos oceanos, a devastação de florestas para a implantação de pastos, monoculturas ou mesmo ampliação de cidades tem como resultado uma desastrosa quebra no equilíbrio ambiental. O qual aos poucos, e hoje mais rápido do que nunca, vem causando a perda da biodiversidade. Situação essa que torna os ecossistemas mais pobres e, diferente da ficção científica, com espécies extintas que não podem mais ser trazidas de volta. Sabe-se que a extinção é algo absolutamente natural, que faz parte da evolução da vida, contudo, a intensidade e rapidez com que vem acontecendo atualmente nos colocam em um dos períodos de maior extinção em massa existentes no planeta. Além disso, as causas das extinções antes decorrentes de fatores da natureza, hoje têm forte relação antrópica (PIMM & JENKINS, 2005). A questão ambiental está dentre as prioridades de resolução para os problemas do mundo e é um dos mais difíceis de serem resolvidos. Pois, para tanto é necessário uma mudança de consciência, de comportamento e de planos sócio-econômicos. Como se pode observar, a melhora e conservação do meio ambiente e consequentemente de sua biodiversidade, não é algo simples, mas é determinante para o nosso bem estar e de todo o mundo e deve ser almejada em todos os campos da sociedade, a começar com a educação. É a educação um dos instrumentos responsáveis pela mudança de mentalidade, conscientização e a devida mudança na cultura e sociedade de um povo (DUCKHEIM, 1978). Em uma instituição de ensino formal, uma das maneiras de se comprometer também com a melhoria do meio ambiente é através da educação ambiental como tema transversal a ser visto através da interdisciplinaridade por todas as disciplinas escolares. A interdisciplinaridade está presente no cenário educacional brasileiro com a nova LDB Nº 9.394/96 e com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e indica que uma axiomática em comum, nesse caso a Educação Ambiental, coordena as ações disciplinares através de cooperação e diálogo. Assim, no presente trabalho a interdisciplinaridade foi uma organização, uma articulação voluntária e coordenada das ações disciplinares de Ciências e Redação orientadas por um interesse comum. O que se tornou possível de ser colocada em prática de forma eficaz e de atingir as metas educacionais previamente estabelecidas e compartilhadas pelos professores escolhidos através de uma aprendizagem significativa (JAPIASSU, 1976). Algo a ser sempre enfatizado, como exposto em Lopes (1996), é que o conhecer se constrói por um conjunto de atividades individuais e em grupo, sendo sempre necessário que

3 o estudante compreenda a realidade por meio de trocas sociais. Dessa forma, as ações enraizadas nos processos ativos, nos quais o sujeito (aluno) participa da elaboração de seus próprios conceitos, com sua lógica e respeitando seu desenvolvimento pessoal terão como resultado o aprendizado. Constituir-se-ia dessa lógica o ditado que diz “É fazendo que se aprende”, pois vivenciando ativamente uma situação os conceitos são mais bem elaborados e enraizados no conjunto de conhecimentos do indivíduo, o que chamamos de aprendizagem significativa (MOREIRA, 2006). Essa aprendizagem significativa alia o conhecimento dos conceitos vistos em sala de aula, com a vivência e a mudança de visão e atitude conseguida através de atividades integradas com as várias áreas do conhecimento e com os conhecimentos prévios do aluno (PELIZZARI et al., 2002). Com isso, o presente trabalho teve como base teórica de sua construção que o indivíduo sendo um elemento ativo no processo de aprendizagem necessita interagir com o meio para completar o seu caminho da aprendizagem, que começa com uma dificuldade e com a necessidade de resolvê-la. Nesse contexto coube aos professores proporcionarem um ambiente de liberdade para que os alunos pudessem se expressar e dirigir suas ações de acordo com os seus interesses, preocupando-se para que eles não invadissem a autonomia e autoridade dos educadores de organizar e administrar o tempo, o espaço e as condições em que deveria ocorrer a aprendizagem (BECKER, 1997). Dessa forma, foi imprescindível que o ambiente escolar permitisse uma interação muito grande do aprendiz com o objeto de estudo, o qual é a biodiversidade. Nesse ponto, surge a figura dos professores, que por meio da interdisciplinaridade deixam de ser uma figura cheia de poder e autoridade detentora de todo o saber, e passam a ser elementos responsáveis pela atuação física e mental do aprendiz. Os quais buscam a formação do educando, garantindo a interação desse com o tema do trabalho, e também integrando o objeto de estudo à realidade do sujeito, dentro de suas condições. Essa situação ocorreu de forma a estimulá-los e desafiá-los, mas ao mesmo tempo permitindo que as novas situações criadas pudessem ser adaptadas às estruturas cognitivas existentes, propiciando o desenvolvimento do educando. E para enfatizar mais claramente a importância da vivência para aprendizagem podemos citar Paulo Freire expondo que: Quanto mais crítico um grupo humano, tanto mais democrático e permeável, em regra. Tanto mais democrático, quanto mais ligado às condições de sua circunstância. [...] quanto menos criticidade em nós, tanto mais

4 ingenuamente tratamos os problemas e discutimos superficialmente os assuntos (FREIRE, 1994, p. 103).

Assim,

o

projeto

pedagógico

Conhecendo,

convivendo

e

conservando

a

biodiversidade realizou, como o próprio título mostra, a aliança entre o conhecimento conceitual e a experimentação, a vivência, a conscientização e a tomada de atitude, auxiliando na construção de um cidadão crítico. Dessa maneira, o trabalho teve como objetivo geral despertar aos 175 adolescentes e pré-adolescentes dos sétimos anos de uma instituição de ensino particular o reconhecimento da importância da biodiversidade e de tudo que a envolve através de práticas interdisciplinares entre Redação e Ciências. E como objetivos específicos tiveram: desenvolver o senso crítico do adolescente e pré-adolescente a respeito da situação do meio ambiente em geral e do local onde ele vive; promover atividades que permitissem a convivência dos adolescentes e préadolescentes com a biodiversidade existente no local onde vivem; instigar o entendimento do papel do homem e de todos os outros seres vivos no meio ambiente, com seus direitos e deveres; ler, interpretar e produzir textos e imagens referentes à biodiversidade. 2. METODOLOGIA 2.1. Caracterização da área de estudo A Escola de ensino particular em que foi realizado o projeto situa-se no centro da cidade de Aracaju, Sergipe e oferece como modalidades educativas o Ensino Infantil, Fundamental e Médio contemplando todo o Ensino Básico e também disponibiliza turmas de assistente e Pré-vestibular para alunos que já concluíram o Ensino Básico. As aulas do Ensino Básico ocorrem durante o período matutino, enquanto aulas de reposição, plantões de dúvidas e esportes são oferecidos no turno vespertino. Há ainda a disponibilidade de se optar pelo ensino integral em que o aluno possui aulas regulares durantes os dois turnos citados. A instituição disponibiliza para seus alunos uma infra-estrutura completa com salas com ar-condicionado, bem iluminadas e espaçosas além de auditório, biblioteca, quadra poliesportiva, piscina e praças para lanches e descanso dos alunos durante os intervalos de aula. Para aulas fora da área do colégio, o mesmo realiza toda a organização, transporte e monitoramento dos alunos através de equipe de profissionais (professores e inspetores). Entretanto, essas idas a campo não são obrigatórias já que há uma taxa a ser paga a mais pelos

5 alunos para cobrir as despesas de transporte e entradas nos locais em que a visitação não é pública. 2.2. Conteúdos curriculares Os conteúdos trabalhados foram tanto da disciplina de Ciências quanto de Redação ao longo do ano de 2008. 2.2.1. Ciências Biodiversidade; relações ecológicas; direito dos seres vivos; problemas ambientais; ecossistemas; invertebrados e peixes dos rios e mares que banham Sergipe; e aves de rapina brasileiras e sergipanas. 2.2.2. Redação Dissertação; poesia; quadrinha; história em quadrinhos; entrevista; e debate. 2.3. Construção interdisciplinar do aprendizado O presente trabalho foi dividido em três etapas e caracteriza-se como uma pesquisaação, pois se constituiu de uma pesquisa eminentemente pedagógica, a qual fez parte do exercício pedagógico configurando-se como uma ação que possibilita cientifizar a prática educativa a partir de princípios éticos que vislumbram a contínua formação e emancipação de todos os sujeitos da prática (FRANCO, 2005). A primeira etapa consistiu em levantamento bibliográfico e coleta de dados sobre o tema abordado. Para isso foram utilizados livros, artigos, jornais, revistas, monografias, sites, mapas de situação, localização e acesso aos biomas sergipanos para a pesquisa, interpretação e análise dos dados e subsequente elaboração do trabalho. As fontes utilizadas foram obtidas principalmente no decorrer dos meses de janeiro a novembro do ano de 2007, entretanto não cessou no decorrer do ano letivo de 2008. Já a segunda e terceira etapas foram concomitantes, para uma melhor visualização dos resultados esperados. Assim, a segunda etapa consistiu em colocar as informações coletadas à disposição dos 175 alunos dos cinco sétimos anos do Colégio em que foi realizada essa prática pedagógica, de forma que os mesmos pudessem conhecer, analisar e interpretar a

6 biodiversidade e as formas de conservá-la. As análises e interpretações do conteúdo curricular ocorreram no decorrer das aulas das disciplinas envolvidas no projeto, assim o tema foi trabalhado de forma interdisciplinar entre Ciências e Redação. As aulas de Ciências foram ministradas com práticas, amostras de componentes que fazem parte e mesmo que influenciam na biodiversidade através de aulas expositivoparticipativas com slides e vídeos reproduzidos em data-show, e com leitura e interpretação de textos que abordavam o tema em sala de aula. Para a estrutura das aulas tentou-se sempre levar em consideração a aprendizagem significativa dos educandos ao provocar os subsunçores presentes em cada um para realizr interligações com os novos conhecimentos disponíveis (PELIZZARI et al., 2002). Também ocorreram idas a campo periódicas para os alunos conhecerem a biodiversidade presente nos diversos biomas sergipanos. Assim, ao final do primeiro semestre os alunos dos sétimos anos do Colégio tiveram uma aula de campo no Parque da Sementeira e no Oceanário de Sergipe e no meio do segundo semestre ocorreu a última ida a campo do ano que foi para o Parque Nacional Serra de Itabaiana e para o Parque dos Falcões. A visita ao Parque da sementeira teve como objetivos principais observar os diferentes exemplares da flora do parque; visitar o horto e a Farmácia Viva conhecendo as principais plantas que enfeitam as praças de Aracaju e mesmo as utilizadas como medicamentos caseiros; analisar as diferentes árvores da Mata Atlântica plantadas no parque; e confeccionar relatório em trio sobre a atividade de campo e responder as seguintes perguntas: Qual a importância de um parque como o da Sementeira dentro de uma cidade? Como foi a atividade de campo? A ida ao Oceanário de Sergipe ocorreu sempre no mesmo dia da ida ao Parque da sementeira para minimizar os custos com o transporte. Nesse local o campo tinha como objetivos: observar os aquários; assistir a palestra sobre preservação do meio ambiente e o Projeto TAMAR; e confeccionar relatório em trio sobre a atividade de campo e responder as seguintes perguntas: Qual a importância de um oceanário? Como foi a atividade de campo? No meio do segundo semestre ocorreu a visita ao Parque Nacional Serra de Itabaiana e ao Parque dos Falcões a qual teve como objetivos: proporcionar o contato mais íntimos dos estudantes com a natureza; observar a diversidade (componentes bióticos e abióticos) da região; entender a importância de um Parque Nacional; assistir a palestra sobre as aves de rapina; entender o comportamento das aves de rapina; identificar plantas e animais observados; e confeccionar relatório em trio sobre a atividade de campo.

7 A terceira etapa consistiu na verificação do aprendizado e conscientização dos estudantes a partir do resgate do tema, mas dessa vez com criações próprias deles. Assim, como os alunos puderam visitar dois tipos de ambientes de conservação (Ex e In situ), primeiramente foi pedido, ao final de todas as idas a campo, que os educandos, em debate, falassem as diferenças de formas de conservação identificadas em cada local, qual a importância de cada forma de conservação, identificar o que prejudicava a biodiversidade e como eles poderiam contribuir efetivamente para conservar a biodiversidade. Nessa última etapa após o debate em sala, os alunos criaram produções literárias (dissertações, poesias, tirinhas, histórias em quadrinho e quadrinhas) expressões artísticas (músicas, pinturas e desenhos) e participaram de debates que retrataram a situação atual da biodiversidade, sua importância e como devemos agir para conservá-la em Sergipe. Com isso, todo tipo de produção elaborada pelos educandos referentes ao trabalho Conhecendo, Convivendo e Conservando a Biodiversidade foram avaliadas. 3 Resultados e discussões O tema do trabalho foi assíduo em todas as aulas práticas (Figura 1A-B), de campo (Figura 1C-D) e as expositivas que possuíam o conteúdo curricular que foi utilizado como ponto de partida para o melhor andamento do projeto. Como o conteúdo programático estava disperso por todas as unidades do ano letivo, em muitas outras aulas e mesmo em intervalos (de forma mais pessoal com alguns alunos) a temática foi trabalhada, o que auxiliou a aprendizagem significativa (MOREIRA, 2006). Ao confeccionar dissertações, poesias, quadrinhas, histórias em quadrinhos, entrevista e participar de debates a respeito da Biodiversidade, das relações ecológicas, dos direitos dos seres vivos, dos problemas ambientais, dos ecossistemas, dos invertebrados e peixes dos rios e mares que banham Sergipe e das aves de rapina brasileiras e sergipanas foi possível a aprendizagem significativa dos alunos. Bem como, foi importante para o estudante desenvolver sua criatividade, fixar o conteúdo de forma ativa e agradável. Os educandos entregaram trabalhos escritos bem elaborados e com consistência crítica e a quantidade de curiosidades explicitadas em sala e mesmo durante os intervalos sobre a biodiversidade sergipana e geral também cresceram, tanto as que eles questionavam quanto as que eles traziam prontas. As aulas de campo foram muito promissoras e instigaram a criação artística, crítica e sensibilização dos alunos e ajudou até mesmo no desenvolvimento de conteúdos programáticos não diretamente relacionados ao trabalho pedagógico do ano.

8

Figura 1: (A) Aula prática de dissecação de peixe – anatomia, morfologia e fisiologia do animal; (B) Aula prática de dissecação de frango – anatomia, morfologia e fisiologia do animal; (C) Foto de alguns alunos em visita ao Parque da Sementeira em maio de 2008; (D) Foto da turma 7ºC em visita ao Parque Nacional Serra de Itabaiana em outubro de 2008. (Fotos: Christiane Donato, 2008; Dayse Mendonça, 2008).

Para observarmos a eficácia do projeto diante do aprendizado e motivação dos estudantes realizamos as formas de avaliação sugeridas pelos PCNs (1998) que trás a avaliação como algo “longe de ser apenas um momento final do processo de ensino, a avaliação se inicia quando os estudantes põem em jogo seus conhecimentos prévios e continua a se evidenciar durante toda a situação escolar”. Dessa forma, a avaliação permitiunos saber se as condições de ensino criadas por nós e pela escola propiciaram a aprendizagem significativa sobre o tema a que se referiu o projeto. Assim, a avaliação orientou e ajustou a nossa atuação e propiciou elementos para repensar constantemente a prática de ensino. A avaliação da aprendizagem dos alunos dos sétimos anos do Colégio foi contínua, ocorrendo durante todo o ano letivo de 2008 por meio de exercícios, relatórios, pinturas, desenhos (Figura 2), músicas, dissertações, quadrinhas, histórias em quadrinho, tirinhas (Figura 3) e poesias entregues; além das discussões e mudanças de atitude que aconteceram

9 em sala de aula. Assim, os educandos tiveram, de acordo com as recomendações dos PCNs (1998), os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais avaliados.

Figura 2: Desenho produzido por aluno do 7º ano representando a biodiversidade (Foto: Christiane Donato, 2008).

Quanto ao trabalho pedagógico das professoras envolvidas, observa-se que a interdisciplinaridade ajudou de forma substancial para um aprofundamento do conteúdo curricular, já que paralelamente à explanação e aprofundamento dos assuntos nas aulas de Ciências ocorriam também debates e produções literárias em Redação. Com isso, os aprendizes puderam conhecer os assuntos por vários ângulos diferentes e demonstrar seu respectivo aprendizado também de maneiras diversas. E a avaliação interdisciplinar dos trabalhos por ambas as professoras de Ciências e Redação possibilitou uma avaliação mais completa do aprendizado dos educandos. O compromisso profissional das professoras que colocaram em prática o projeto foi intenso, com muitas discussões, estudos, aulas e avaliações conjuntas. Segundo Barbier (2002), ocorreu uma elaboração dialética da ação educativa em um processo pessoal e único de reconstrução racional pelo ator social. O aprimoramento do projeto foi realizado no decorrer do ano letivo, pois de acordo com Freire (1996, p. 39) “é pensando criticamente na prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a própria prática”. Assim, atividades programadas para um determinado momento foram substituídas devido às condições climáticas, por exemplo, e mesmo atividades que deveriam ser realizadas acabaram não sendo, como a construção de um jornal que abarcaria todas as produções dos alunos decorrentes do ano devido à falta de investimentos financeiros.

10

Figura 3: Tirinhas produzidas por aluna do 7º ano representando relações ecológicas (Foto: Christiane Donato, 2008).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Inicialmente, a meta era que todo o Ensino Fundamental do Colégio fizesse parte desse projeto, e mesmo todas as disciplinas, contudo por motivos diversos apresentados em relação à atuação de professores e coordenadores não foi possível. Assim, o projeto que

11 primeiramente seria grandioso resumiu-se a todas as turmas (em número de cinco) de uma única série, o sétimo ano e apenas com as disciplinas Redação e Ciências. Essa situação demonstra que mesmo a interdisciplinaridade sendo uma obrigação institucionalizada pela legislação brasileira sua prática ainda é difícil de ser atingida de forma plena por todas as séries e por todas as disciplinas curriculares. Com isso, observa-se que uma verdadeira mudança nas práticas educativas não adianta ser imposta, mas deve acima de tudo partir de uma real necessidade e vontade de modificação no processo de ensinoaprendizagem. Dessa forma, cabe aos professores interessados e dispostos a serem professorespesquisadores aos poucos articularem suas disciplinas para construir o processo de ensinoaprendizagem de forma interdisciplinar. O que pode, com o tempo, acarretar numa mudança de atitude mais generalizada por parte da adesão de outros colegas de trabalhos, sejam eles professores, coordenadores, inspetores, serventes, merendeiras, diretores ou outro profissional da área da educação. Não é fácil conciliar conteúdos, práticas educativas e avaliações entre professores das diversas áreas. Um dos principais motivos para isso é a falta de tempo, já que a maioria dos profissionais da educação exerce cargas-horárias de trabalho muito extensas impedindo um diálogo e uma construção do processo de ensino-aprendizagem de forma conjunta e mesmo uma reflexão pessoal de seu trabalho como educador. Umas das chaves centrais para minimizar o problema do tempo e tornar possível a interdisciplinaridade são os laços de coleguismo/amizade ou pelo menos de respeito e o fato de o sentimento de agregar ser superior ao de desagregar. O bom envolvimento entre os colegas de trabalho e a diminuição ou exclusão do sentimento de competitividade em relação a um querer ser visto como melhor profissional do que o outro é o que torna possível uma relação de construção das aulas e de avaliações conjuntas. Com o presente trabalho constatou-se que, mesmo em meio a dificuldades, é muito válido tentar colocar em prática a interdisciplinaridade, pois essa é uma ferramenta real para a melhoria na motivação e na qualidade do processo de ensino-aprendizagem. É possível explicitar que, nesse contexto, o projeto Conhecendo, Convivendo e Conservando a Biodiversidade através de sua construção e prática interdisciplinar auxiliou na aprendizagem significativa dos educandos quanto aos conteúdos abordados durante o ano de 2008 nas disciplinas Ciências e Redação. Por fim, observou-se que os estudantes tiveram acesso ao conhecimento de forma mais completa, sistêmica, já que a atuação interdisciplinar diminui a fragmentação do saber. E,

12 concomitante a isso, se elabora uma avaliação mais densa e completa do quão foi apreendido ao interligar os conhecimentos prévios dos educandos com os passados de forma entrelaçada pelas disciplinas, as quais foram construídas de forma reflexiva e em conjunto. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BARBIER, R. A pesquisa-ação. Brasília: Plano, 2002. BECKER, F. A epistemologia do professor: o cotidiano da escola. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1997. FRANCO, M.A.S. Pedagogia da pesquisa-ação. Educação e pesquisa. V.31, n.3. São Paulo: set./dez. de 2005, p. 483-502. FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 22. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1994. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. LOPES, J. Jean Piaget: a lógica própria da criança como base do ensino. Nova Escola. Ano 11. n° 95, Agosto de 1996. p. 8-15. MOREIRA, M.A. A teoria da aprendizagem significativa e sua implementação em sala de aula. Brasília: Editora Universidade de Brasília. 2006. PIMM, S. L.; JENKINS, C. Conservação da biodiversidade. Scientific American Brasil. Ano 4. nº 41, Outubro de 2005. p. 58-65. DURKHEIM, E. Educação e sociologia. 11 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1978. p. 33-56. JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976. PELIZZARI, A.; KRIEGL, M.L.; BARON, M.P.; FINCK, N.T.L.; DOROCINSKI, S.I. Teoria da Aprendizagem Significativa Segundo Ausubel. Revista PEC vol. 2, n° 1, 2002. p. 37-42. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros curriculares nacionais: ciências naturais. Brasília: MEC/SEF. 1998.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.