Conjunto de Cetárias no Centro Histórico de Sesimbra

July 6, 2017 | Autor: Paula Pereira | Categoria: Cetárias Salga De Peixe, Roman Archaeology, Portugal Romano
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musa museus, arqueologia & outros patrimónios Volume 4 Setúbal 2014

FIDS & MAEDS Autarquias do Distrito de Setúbal

Ficha Técnica Edição Fórum Intermuseus do Distrito de Setúbal (FIDS) Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS) Direcção Odete Graça (Presidente da Assembleia Distrital de Setúbal) Coordenação Editorial Joaquina Soares Conselho Científico António Nabais Carlos Marques da Silva Carlos Tavares da Silva João Luís Cardoso Mário Casanova Moutinho Mário Varela Gomes Victor S. Gonçalves Vitor Serrão Conselho Redatorial Antónia Coelho-Soares Amélia Pardal Fernanda do Vale Germesindo Silva Graça Filipe Isabel Vicente Luís Ferreira Miguel Correia Rosa Bela Azevedo Rosário Gil Teresa Rosendo Secretariado e correspondência Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal Avenida Luisa Todi, 162 - 2900-451 Setúbal (Portugal) Tel.: +351 265 239 365/265 534 029 Fax: +351 265 527 678 E-mail: [email protected] Site: www.maeds.amrs.pt Blog: http://maedseventosactividades.blogspot.com/ Copyright® - Direitos reservados pelos autores e MAEDS. Interdita a reprodução de imagens. Capa e contracapa Arte Xávega (regresso da faina). Costa da Caparica (postal ilustrado, Passaporte Loty), década de 1960, MN COS 155; fotografia de António Carreta. Interior da capa: foto de Rosa Nunes. Execução gráfica Ana Castela Tradução Barbara Polyak Impressão e acabamento Europress Depósito legal 314176/10 ISSN 1645-0553 Tiragem 500 exemplares

Fórum Intermuseus do Distrito de Setúbal FIDS Integrado por: • Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal/ Assembleia Distrital de Setúbal • Museu Municipal de Alcácer do Sal/ Câmara Municipal de Alcácer do Sal • Museu Municipal de Alcochete/ Câmara Municipal de Alcochete • Museus Municipais de Almada/ Câmara Municipal de Almada • Serviços Culturais/ Câmara Municipal do Barreiro • Serviços Culturais/ Câmara Municipal de Grândola • Departamento de Acção Sociocultural/ Câmara Municipal da Moita • Museu Municipal de Montijo/ Câmara Municipal de Montijo • Museu Municipal de Palmela/ Câmara Municipal de Palmela • Museu Municipal de Santiago do Cacém/ Câmara Municipal de Santiago do Cacém • Ecomuseu Municipal do Seixal/ Câmara Municipal do Seixal • Museu Municipal de Sesimbra/ Câmara Municipal de Sesimbra • Museus Municipais de Setúbal/ Câmara Municipal de Setúbal • Museu Municipal de Sines/ Câmara Municipal de Sines

Índice Museus

7

Mário Moutinho Entre os museus de Foucault e os museus complexos

9

António Maia Nabais O museu como ponto de chegada e de partida

15

Joaquina Soares Ambientes Marítimos: Cultura e Natureza. Economias do trabalho em parceria

23

Inês Vaz Pinto, Ana Patrícia Magalhães & Patrícia Brum Ruínas Romanas de Tróia: a valorização de um património singular

29

Joaquina Soares Binford e a Arqueologia Portuguesa. O Curso de Antropologia Pré-Histórica do MAEDS

41

Maria Clara Santos História e Recuperação do Varino “O Boa Viagem”

47

Arqueologia In Memoriam. Jorge Costa. Ilustrador de arqueologia. 1945-2010

59 61

Joaquina Soares Sepultura Megalítica de Corte de Baixo S. Bartolomeu da Serra (Santiago do Cacém) Uma colecção à procura de contexto

63

Joaquina Soares & Carlos Tavares da Silva O Projecto de Investigação Arqueológica “CIB” e a campanha de escavações Chibanes/2012

75

José Carlos Quaresma Romanização: adaptações culturais e ambientais em Chãos Salgados (Miróbriga?)

99

José Carlos Quaresma Escavações de 2004 e 2005 na área da ponte de Chãos Salgados (Mirobriga?): estratigrafia, arquitectura e materiais de um sector público da cidade romana

125

Paula Alves Pereira Conjunto de Cetárias no Centro Histórico de Sesimbra

157

Carlos Tavares da Silva, Joaquina Soares, Antónia Coelho-Soares, Susana Duarte & Ricardo Godinho Preexistencias de Setúbal. 2ª Campanha de escavações arqueológicas na Rua Francisco Augusto Flamengo, nos 10-12. Da Idade do Ferro ao Período Medieval

161

Susana Duarte & Carlos Tavares da Silva Faianças Portuguesas em Contexto de Lixeira da Setúbal Moderna

215

Entrevistas. Arqueólogos Setubalenses. Carlos Tavares da Silva e Victor S. Gonçalves

229

Outros Patrimónios

243

Maria Teresa Caetano Da iluminura antiga vária à imago musiva única: reflexão introdutória sobre genealogia iconográfica

245

Ricardo Salomão Meia-Lua: O Saveiro da Costa da Caparica

261

Meia Lua da Costa da Caparica (Portfolio - Arquivo de Fotografia/Divisão de Museus e Património Cultural da Câmara Municipal de Almada)

273

José Augusto Vinagre O Palácio da Lagoa da Palha

279

Musa, 4, 2014, p. 157-160

Conjunto de Cetárias no Centro Histórico de Sesimbra Paula Alves Pereira*

RESUMO

RESUMÉ

No âmbito do projecto de execução dos Sistemas de Drenagem e Elevatórios do Subsistema de Sesimbra identificaram-se entre Maio e Outubro de 2007 vários vestígios que remontam à ocupação romana na área envolvente do Forte de Santiago. Registaram-se a presença de quatro tanques de preparados piscícolas com vestígios de garum e uma estrutura portuária anterior ao complexo industrial.

Au niveau du projet d’exécution des systèmes de Drainage et Élévatoires du subsystème de Sesimbra, on a identifié, de  mai à octobre de 2007, beaucoup de vestiges associés à l’occupation romaine dans la zone engageante du Fort de Santiago. On a vérifié la présence de quatre bassins desalaisons et sauces de poisson avec des vestiges de garum (LAT. - une sauce de poisson) et une structure portuaire antérieure au complexe industriel.

INTRODUÇÃO

Aquelas estruturas encontram-se muito destruídas e a sua localização na faixa de rodagem dificultou a realização de uma intervenção mais profunda. Procedeu-se então à limpeza, definição, desenho de todas as estruturas arqueológicas, bem como à sua geo-referenciação. O consórcio TPF PLANEGE/ PENGEST promoveu a adopção de medidas que permitissem a salvaguarda dos achados e sua protecção com geotêxtil e areia.

No âmbito do acompanhamento arqueológico do Projecto de Execução dos Sistemas de Drenagem e Elevatórios do Subsistema de Sesimbra da SIMARSUL, assegurado pelo consórcio TPF PLANEGE/ PENGEST, identificaram-se no centro histórico de Sesimbra quatro tanques de preparados piscícolas.

ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO Os achados arqueológicos localizam-se na ZEP da Fortaleza de Santiago, na margem de uma ribeira que está actualmente encanada e dista aproximadamente cinquenta metros da praia da Califórnia. AVENIDA DA LIBERDADE

Fig. 1 - Localização das estruturas arqueológicas.

No dia 28 de Maio de 2007, no cruzamento da Avenida da Liberdade com a Rua da Fortaleza, registaram-se, no Corte Oeste da vala, a existência de duas cetárias, parcialmente danificadas, com 7,50 metros de comprimento.

* Arqueóloga. [email protected] 157

Cetária I A Cetária I apresenta um metro de largura por um metro de altura de parede conservada. As paredes visíveis (Sul e Norte) estão revestidas a opus signinum (u.e. 508) constituído por areia, cal e brita calcária, aplicado directamente nos muros da cetária e na base do tanque.

Cetária II A Cetária II, de dimensão superior à da Cetária I, apresenta 2,40 metros de comprimento por um metro. Observaram-se as paredes sul e norte do tanque, embora a parede norte esteja muito destruída. O opus signinum foi utilizado para revestir ambas as paredes e a base do tanque. No interior da cetária registaram-se depósitos de entulho com telha de meia cana que cobriam um depósito com vestígios de garum assente na base do tanque. Os tanques estão delimitados por um muro com 0,5m de largura constituído por várias fiadas de blocos de arenito e calcário, muito irregulares e de média dimensão, ligados por uma argamassa de coloração castanha acinzentada bem consolidada de areia e cal. O muro exterior do complexo fabril, de construção semelhante ao do muro supra descrito, parcialmente destruído, assenta sobre um estrato de entulho sem vestígios arqueológicos. Este conjunto de cetárias foi detectado a poucos centímetros de profundidade e apresenta-se muito des-

Fig. 2 - Cetária I.

truído. Porém, no interior dos tanques identificaram-se contextos preservados. LARGO DE BOMBALDES No decurso da remodelação da Estação Elevatória da Fortaleza (construída na década de 1960) e da substituição de equipamentos, detectaram-se, no Corte Oeste, um conjunto de vestígios arqueológicos muito danificados em risco de colapsar. Concluídos os trabalhos de definição e limpeza das estruturas, observaram-se quatro momentos de ocupação/abandono.

Cetária III e IV

Fig. 3 - Cetária II. 158

As cetárias III e IV encontram-se muito destruídas pelo que foi impossível determinar as suas dimensões. A Cetária III localiza-se na extremidade Sul do complexo fabril. Observou-se, em corte, a base do

tanque e a parede norte, revestidas a opus signinum. Na base da cetária constatou-se um depósito com vestígios de garum. A Cetária IV encontra-se a norte, está completamente destruída, sendo apenas visível um pequeno troço com aproximadamente 50 cm. O muro que delimita as cetárias é idêntico à estrutura da Avenida da Liberdade e foi rebocado em ambos os alçados por opus signinum com um espessamento de 5cm. No interior das cetárias observaram-se restos de produção de garum. No interior dos dois tanques registaram-se as u.e.’s 209 e 220 constituídas por blocos de calcário em bruto e argamassa que poderão eventualmente corresponder aos alicerces do Forte de Santiago. Este não apresenta fundações em toda a extensão intervencionada e os tanques prolongam-se para o interior da Fortaleza.

Estrutura Portuária/Muralha (?) Identificou-se um grande aparelho isódomo com seis metros de comprimento por 2,40 de altura. A u.e. 207 é composta por várias fiadas de blocos de calcário de forma rectangular aparelhados e ligados entre si e rebocados no paramento por uma argamassa muito bem consolidada de tonalidade branca, constituída por cal hidráulica e areia. O miolo

da estrutura foi construído com recurso a calhaus de calcário ligados por uma argamassa esbranquiçada muito consistente de cal hidráulica e areia de grão médio, que também foi utilizada para rebocar todo o paramento do aparelho. O alicerce é constituído por calhaus de calcário muito irregulares dispostos em fiadas e ligados por argamassa. Observou-se, a uma profundidade de 1,20m, um orifício quadrangular com quinze centímetros de altura e doze de profundidade. Esse aparelho pertence à primeira fase de ocupação e a sua função poderá estar relacionada com um amuralhado que delimitaria o núcleo urbano ou com uma estrutura portuária. Na extremidade sul observou-se um acrescento ou uma cofragem da estrutura. Salienta-se que a u.e. [207] foi abandonada e posteriormente reaproveitada para a edificação dos tanques de preparados piscícolas. Com base nas observações e registo arqueológico identificaram-se quatro momentos de ocupação: Fase 1: Ocupação pré-romana ou romana. Construção da estrutura portuária; Fase 2: Produção de preparados piscícolas em época romana; Fase 3: Construção do Forte de Santiago no período Moderno; Fase 4: Construção da E.E. da Fortaleza e respectivas infra-estruturas no Século XX.

Fig. 4 - Enchimento de tanque de salga, com peças esqueléticas de peixes, resultantes da última produção de salgas ou garum. 159

OCUPAÇÃO ROMANA EM SESIMBRA Embora não se conheçam até ao momento as origens da povoação de Sesimbra, as suas excelentes condições portuárias e marítimas e a sua riqueza em recursos marinhos terão certamente influenciado o estabelecimento de ocupação na época romana como ficou agora comprovado com a identificação do complexo industrial de preparados piscícolas e de uma estrutura portuária/muralha. A localização geográfica da baía de Sesimbra, entre as importantes urbes do Baixo Sado e da Bacia do Tejo, poderá ter permitido o desenvolvimento de um comércio marítimo de longa distância. O núcleo urbano de Sesimbra possuiria então um poder económico, político e social que comportaria toda a dinâmica e estrutura necessárias ao desenvolvimento desse comércio. No entanto, a produção de garum está também relacionada com outras actividades: pesca, exploração de salinas, exploração de madeiras e produção de ânforas. Presentemente, desconhecem-se vestígios de centros oleiros e de produção de sal, no concelho de Sesimbra, que pudessem ser associados à produção e armazenamento dos molhos e salgas de peixe. O desenvolvimento de uma rede comercial de trocas de produtos a nível regional poderia explicar essa ausência. No baixo Sado estão identificados diversos centros oleiros e Setúbal é conhecida, desde a Idade Média, pelas suas salinas. Relativamente à cronologia das cetárias, não foram recolhidos quaisquer fragmentos cerâmicos que permitissem aferir uma datação. Todavia, as características construtivas dos tanques são idênticas às das oficinas de Setúbal, Tróia e Sines que funcionaram no Alto Império.

No que diz respeito à localização da povoação em relação ao oceano, sabe-se que o nível das águas do mar era inferior ao da actualidade. Segundo informações da comunidade de pescadores e do Dr. Luís Ferreira, existe uma muralha submersa que dista da Praia da Califórnia cerca de 400 metros; durante as marés-vivas são avistados restos de muros a este e oeste da Fortaleza de Sesimbra que poderão remontar ao período romano. CONCLUSÃO A nascente da Fortaleza de Santiago foi construída, em época romana, uma fábrica de preparados piscícolas, na margem de uma linha de água. Parte deste complexo foi edificado sobre uma estrutura talvez de carácter portuário de grande dimensão. A presença destes vestígios no centro histórico de Sesimbra permitiu confirmar uma ocupação da época romana. BIBLIOGRAFIA GUERRA, J. P. (2006) - Estudos históricos e outros escritos. Sesimbra: Câmara Municipal de Sesimbra. LEAL, A. A. B. P. (s.d.) - Cezimbra. In Portugal Antigo e Moderno. Diccionario. Lisboa: Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, p. 261-263. MOREIRA, R. (1997) - Uma planta de Sesimbra de cerca de 1568-70. In Sesimbra Monumental e Artística. Sesimbra: Câmara Municipal de Sesimbra. PAULO, J. A. S. (1992) - Aspectos do desenvolvimento da vila de Sesimbra: do Castelo à Ribeira (1165-1535). Sesimbra Cultural, ano 3. Sesimbra: Câmara Municipal de Sesimbra, p. 22-25. PORTO CARRERO, G. (2001) - Uma reavaliação do papel dos fortes costeiros de Sesimbra. Patrimonia, Identidade, Ciências e Fruição Cultural, 7, p. 52-63. SERRÃO, E. C. (1959) - Investigações arqueológicas na região de Sesimbra. Resultado das campanhas realizadas pelo Centro de Estudos de Etnologia Peninsular. Trabalhos de Antropologia e Etnologia, (s.n.). Porto, p. 187-203. SERRÃO, E. C. (1962) - Alguns problemas arqueológicos da Região de Sesimbra. Arqueologia & História, 9. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses. SERRÃO, E. C. (1994) - Carta arqueológica do concelho de Sesimbra: do Vilafranquiano médio até 1200 a.C. Sesimbra: Câmara Municipal de Sesimbra.

Fig. 5 - Paramento da [207]. 160

TAVARES DA SILVA, C. & SOARES, J. (1986) Arqueologia da Arrábida. Lisboa: Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza.

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