CONSIDERAÇÕES BIO-SOCIO-CULTURAIS SOBRE LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA

July 13, 2017 | Autor: Alan Fernandes | Categoria: Quality of life, Physics Education, Literature Review, Profitability
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CONSIDERAÇÕES BIO-SOCIO-CULTURAIS SOBRE LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA EMANOEL DE SANTANA SILVA1, KÁTIA LESSA DE AZEVEDO LOPES1, ALAN LINS FERNANDES1, MARIA CELESTE CAMPELLO DINIZ2 1 – Discente da FAL – Faculdade de Alagoas – Maceió/Alagoas – Brasil, 2 – Docente do Instituto Batista de Ensino Superior de Alagoas – IBESA. Faculdade de Alagoas – FAL. Programa Euro-americano de Pós-graduação Stricto Sensu em Saúde – Medicina do Esporte – Universidade Católica Nuestra Señora de la Asunción – UC, Maceió, Alagoas, Brasil– Maceió/Alagoas – Brasil [email protected] RESUMO Não se discute lazer sem reconhecer sua construção histórica enquanto uma elaboração cultural do desejo do homem pelo prazer, pelo gozo, pelo bem-estar, pelo lúdico. Desse modo, o lazer passa a ser entendido e assumido enquanto fenômeno social historicamente produzido e apropriado pelo homem, que se manifesta em um determinado tempo, constituindo-se um bem cultural. Uma das formas de apropriação é sua inclusão no projeto de escolarização enquanto conteúdo de ensino (FRANÇA, 1995). O presente trabalho objetivou compreender as considerações bio-socio-culturais sobre o lazer e sua correlação com a Educação Física. A presente pesquisa caracteriza-se segundo Thomas & Nelson (2007) como sendo revisão de literatura, por embasar-se em conceitos e opiniões de autores acerca do lazer, sua evolução, seus multi-aspectos e sua correlação com a Educação Física. Sabe-se que uma série de fatores opôs-se a existência do tempo de lazer, julgando-o ser desnecessário e inútil, uma vez que afetaria a lucratividade imposta em tempos anteriores; contudo, o mesmo gradativamente tem desmistificado preconceitos e idéias deturpados pelo “achismo” e o pouco conhecimento acerca e sua importância e seus benefícios quanto aos aspectos bio-socio-culturais. Ressaltase, portanto, que apesar do transcorrer dos anos ainda existem pessoa com pensamentos tão defasados acerca de um assunto tão popularmente discutido; logo, tornam-se fundamentais pesquisas cada vez mais relacionadas aos benefícios propostos pela prática do lazer e sua imensa contribuição a saúde e, principalmente, a boa qualidade de vida. Palavras-chave: Homem, Lazer, Qualidade de Vida.

ABSTRACT Do not be discussed without recognizing their leisure historic building as a cultural development of man's desire for pleasure, for enjoyment, the well-being, and playful. Thus, leisure becomes understood and addressed as a social phenomenon historically produced and owned by men, which manifests itself in a given time, providing it is a cultural. One form of ownership in the project is its inclusion of education as a subject taught (FRANCE, 1995). This study aimed to understand the considerations bio-socio-cultural and leisure on their correlation with Fitness. This search feature is the second Thomas & Nelson (2007) as literature review, by be embayed themselves into concepts and opinions of authors about leisure, their evolution, their multiaspects and its correlation with the Physical Education. It is known that a number of factors objected to the existence of leisure time, judging it to be unnecessary and unhelpful, given that affect the profitability imposed in times past, but it gradually has bias and demystify the ideas misrepresented " achismo "and little knowledge about and its importance and its benefits as to the bio-socio-cultural. It is therefore, that despite the passed the years there are still so delayed person with thoughts about a subject as popularly discussed, therefore becomes increasingly important research related to the benefits offered by the practice of leisure and its immense contribution to health and, most importantly, good quality of life. ISBN: 85-85253-69-X - Livro de Memórias do VI Congresso Científico Norte-nordeste - CONAFF

21 Keywords: Man, Leisure, Quality of Life.

INTRODUÇÃO Ao abordarmos a presente temática somos remetidos as diversas transformações sócioculturais perpassadas pelo homem, sendo este sempre o protagonista de toda a evolução histórica, sempre na busca incessante pela auto-satisfação – o prazer. Para tanto, faz-se necessário, também, o domínio de bases teórico-metodológicas, enfocando o lazer como tempo e espaço de participação cultural, para que o sujeito possa vivenciá-lo, de forma crítica e criativa, buscando formas de relacionamento social mais espontânea e emancipatória (FRANÇA, 1995). Considerando esses aspectos, garante-se o espaço lúdico, da liberdade, do envolvimento, do prazer, da espontaneidade, da gratuidade, do ser único e coletivo, recuperando-se o mundo vivido e cultural, resgatando-se as formas de expressão da cultura corporal e esportiva, através do brinquedo, do jogo, do esporte, da dança, das lutas entre outras manifestações organizadas no âmbito da educação física (FRANÇA, 1995). O que hoje concebemos como prática de atividades físicas e como exercício esportivo ou de lazer tem relação com as modificações ocorridas nos processos civilizatórios. A pessoa humana vive o lazer de forma situada e datada. Como ser datado percebe e sente o tempo fluindo em sua história. Como ser situado luta e sofre os impactos com o meio num processo adaptativo de quem nele se insere e com ele se engaja numa ação construtiva para ser mais. Gourvirtch citado por Rolim (1989) afirma: “Se é verdade que a cultura é a segunda natureza do homem, também é verdade, ao que tudo indica que não é possível compreender um tipo historicamente particular de estrutura da personalidade humana sem ter estudado os modos de percepção do tempo inerentes à cultura correspondente. O sentimento do tempo é um dos parâmetros essenciais da personalidade.”. O meio ambiente, o contexto cultural, e os grupos sociais que freqüenta influem e pressionam o fazer de suas opções. No tempo natural ou cíclico o homem primitivo vive em comunhão com a natureza, pautando seu dia pelo nascer e pôr-do-sol, e seu trabalho pelo ciclo das estações. Sua consciência não aceita abstrações (devaneio), é concreta, objetiva. O sentido de tempo é limitado em sua extensão, pois se estende apenas ao futuro mais próximo e ao passado mais recente. Para além dessas fronteiras tudo é vago e pertence já ao domínio da lenda e do mito (ROLIM, 1989). Os dois mundos, dos homens e dos deuses, são distintos, mas não estão separados. Assim como sua vida social depende do ciclo das estações, sua vida espiritual, mítica, gera a crença cíclica no “eterno retorno”. Ancestrais, heróis ou deuses voltam a se unir aos homens do presente através dos ritos e festas religiosas. O antigo se repete ciclicamente no novo. É uma forma de negar a fluidez do tempo, de impedi-lo que se vá (ROLIM, 1989). O tempo cíclico não faz separação entre trabalho e lazer. A natureza sabiamente oferece este quando bem lhe apraz. Na ruptura do tempo cíclico, a civilização hebraica apresenta uma noção de tempo já não mais voltada para o passado, mas dirigida para o futuro. Distingue o tempo eterno, não mensurável (não se pode medir), atributo de um Deus que sempre é, do tempo terreno, onde as coisas se sucedem, orientando-se para o tempo eterno. A história da humanidade se divide em antes e depois de cristo, o Messias. E se apresenta em três momentos distintos: o princípio, o apogeu e o fim do mundo. O tempo se torna vetorial, irreversível. A concepção cristã é também mitológica, mas difere da pagã porque introduz um elemento novo: a evolução histórica. Admitindo a mudança, rompe com o estático.

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O cristianismo oferece o sentimento de um tempo que flui. Na Idade Média procura-se orientar esse tempo. É a tarefa do clero através dos sinos das igrejas marcando as horas do ofício divino e dos atos do culto. Assim, na sociedade feudal, o ritmo do tempo torna-se sagrado. Controla-o clero, não só marcando as horas, mas pontilhando o calendário de dias “santos”, onde o trabalho deve ser interrompido para que o homem coloque os bens espirituais acima dos materiais. E o gratuito tem seu lugar privilegiado. É onde se diz um sim à vida, apesar das durezas e incertezas destas (ROLIM, 1989). Nas cidades, os artesões e os comerciantes não aceitavam de bom grado essa determinação do tempo. Nos campos o agricultor lutava e dividia-se entre o tempo natural e o tempo sacral, procurando um equilíbrio nessa dualidade. Mas o desenvolvimento comercial e a atuação mais racional do homem sobre a natureza levaram-no a buscar outra forma de medir o tempo. O trabalho traz dinheiro, torna-se um valor, o tempo de trabalho tem que ser medido de forma mais exata, sem prejuízo para aquele que o executa. Assim surge a pergunta, como medir o tempo diferentemente? A mente humana sempre encontra resposta para seus problemas, e a mensuração mais exata do tempo surge com a criação dos relógios, no fim do século XIII. Plenamente aceitos no século XIV eles “dessacralizaram” o tempo, tornando-o mecânico. A reforma protestante, afirmada por Lutero e Calvino que o homem pecador se redime pelo trabalho, amplia o valor deste. O acúmulo de bens materiais passa a ser sinal de bênçãos divinas. Nasce à burguesia, que se enriquece pelo trabalho comercial, e nos burgos despontam as raízes do capitalismo, visando: trabalho – produto – riqueza. O homem passa a adequar sua vida pelo ritmo não só do relógio-máquina, mas pelo ritmo de todas as máquinas que vão aparecendo. Planeja-se o tempo a fim de que renda mais: segundos, minutos, horas, dias... Se aceita a sua fluidez: o futuro se transforma em passado e o presente é um ponto instável, ”comprido” entre ambos. Há intervalos entre um tempo de trabalho e outro. Denomina-se de tempo livre aquele que se nesse intervalo. Contudo só será livre mesmo se puder ser empregado pelo indivíduo da forma como lhe apraz. Vê-se, no entanto que a liberdade é relativa, pois não é o homem quem escolhe o momento ou quem cria esse tempo. E sim a máquina que o oferece, ou melhor, impõe ao homem (ROLIM, 1989). A revolução industrial no século XIX acentua mais ainda a prioridade do trabalho. O tempo situado fora deste é um vazio improdutivo, que se aceita com o objetivo de restaurar as forças dos operários a fim de que possam continuar trabalhando, produzindo e gerando lucro. Valorizam-se os homens apressados, ocupados, que não tem tempo. A revolução tecnológica nas sociedades industriais e pós-industriais diminuiu o tempo de trabalho, e aumentou o tempo livre. Surgindo assim o tempo psicológico que é aquele que considera o íntimo de cada ser humano na sua receptividade aos fatos, às coisas e aos seres. É o tempo que se viveu consciente e profundamente, não em quantidade, mas em qualidade. Se no tempo mecânico o passado conta pouco, no tempo psicológico ele é tudo o que temos, porque já o vivemos. Só o passado pode, pela experiência, proporcionar ao homem meios de planejar o futuro. Considerando em conjunto as noções de tempo, vemos que algo fora do homem lhe oferece, propõe ou o obriga ao não-trabalho. No tempo cíclico é a natureza, no tempo vetorial, a igreja, no tempo mecânico, o relógio e a máquina. A liberdade humana de criar e escolher o tempo do não-trabalho só existe na noção de tempo psicológico, daí a necessidade de pela educação, conscientizar o indivíduo para que se torne senhor do seu tempo (ROLIM, 1989). TEMPO LIVRE PARA O LAZER Devido à diminuição da jornada de trabalho conseguida através da revolução industrial, o indivíduo adquiriu a extensão de um tempo chamado tempo livre, que já existia desde a ISBN: 85-85253-69-X - Livro de Memórias do VI Congresso Científico Norte-nordeste - CONAFF

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antiguidade e significava o tempo de não-trabalho, onde se pode utilizar para fazer o que, porque, para que e da forma que quiser. O lazer surge assim mais do que uma necessidade, mais, do que uma reivindicação, ele se torna um direito da pessoa humana, que passa a vivenciá-lo como um valor. É através do lazer que o indivíduo vai se recuperar do cansaço físico e nervoso. Dono do seu tempo livre, ele pode fugir do aborrecimento cotidiano das tarefas, divertindo-se em fazer algo que o interesse e do qual ele gosta. O lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (MACHADO, 1973). Com a ampliação do tempo livre, e este cada vez mais disponível para os indivíduos da sociedade, torna-se mais difícil ocupá-lo com algo importante a ser feito. A internet, a TV, os jogos eletrônicos, tomam tempo e espaço das atividades culturais, sociais que poderiam ser praticados por crianças, jovens e adultos, diminuindo as atividades motoras, favorecendo a substituição da experiência de praticar esporte pela de assistir esporte. O estilo de vida gerado pelas novas condições socioeconômicas (urbanização descontrolada, consumismo, desemprego crescente, informatização e automatização do trabalho, deterioração dos espaços públicos de lazer, violência, poluição) leva um grande número de pessoas ao sedentarismo, à alimentação inadequada, ao estresse, etc. A inteligência e os padrões comportamentais e estéticos estão sendo alterados por causa do mau uso do chamado tempo livre. EDUCAÇÃO PARA O LAZER A educação para o lazer, ou a educação do tempo livre, tem como objetivo formar o indivíduo para que se viva o seu tempo de forma mais positiva, sendo um processo de desenvolvimento total através do qual um indivíduo amplia o conhecimento de si próprio, do lazer e das relações do lazer com a vida e com o social. Por tal, deve ser considerado como um processo integral da vida diária da escola, no sentido de que é necessário ensinar o lazer ativo. Educação física é uma expressão que surge no século XVIII, em obras filosóficas preocupadas com a educação. A formação da criança e do jovem passa a ser concebida como uma educação integral – corpo mente e espírito, como desenvolvimento pleno da personalidade. A educação física vem somar-se à educação intelectual e à educação moral. A educação física enquanto componente curricular da educação básica deve assumir então outra tarefa: introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, das atividades rítmicas e danças, das ginásticas e práticas de aptidão física, em benefício da qualidade de vida (BETTI & ZULIANI, 2002). “A integração que possibilitará o usufruto da cultura corporal de movimento há de ser plena, é afetiva, social, cognitiva e motora. Vale dizer, é a integração de sua personalidade” (BETTI, 1992, 1994a). Para isso, não basta aprender habilidades motoras e desenvolver capacidades físicas. Se o aluno aprende os fundamentos técnicos e táticos de um esporte coletivo, precisa também aprender a organizar-se socialmente para praticá-lo, precisa compreender as regras como um elemento que torna o jogo possível, aprender a respeitar o adversário como um companheiro e não um inimigo, pois sem ele não há competição esportiva (BETTI & ZULIANI, 2002). É tarefa de a educação física preparar o aluno para ser um praticante lúcido e ativo, que incorpore o esporte e os demais componentes da cultura corporal em sua vida, para deles tirar o melhor proveito possível.

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É preciso prepará-lo para ser um consumidor do esporte-espetáculo, para o que deve possuir visão crítica do sistema esportivo profissional. A educação física instrumentaliza no aluno uma apreciação estética e técnica, fornece as informações políticas, históricas e sociais para que ele possa analisar criticamente a violência, o doping, os interesses políticos e econômicos no esporte. É preciso preparar o cidadão que vai aderir aos programas de ginástica aeróbica, musculação, natação, etc., para que possa avaliar a qualidade do que é oferecido e identificar as práticas que melhor promovam sua saúde e bem-estar. É preciso preparar o leitor e espectador para analisar criticamente as informações que recebe dos meios de comunicação sobre a cultura corporal de movimento (BETTI, 1992). Num processo de longo prazo, a educação deve levar o aluno a descobrir motivos e sentidos nas práticas corporais, favorecer o desenvolvimento de atitudes positivas para com elas, levar à aprendizagem de comportamentos adequados à sua prática, levar ao conhecimento, compreensão e análise de seu intelecto os dados científicos e filosóficos relacionados à cultura corporal de movimento, dirigir sua vontade e sua emoção para a prática e a apreciação do corpo em movimento (BETTI, 1992). O processo de construção do conhecimento é incentivado e facilitado pela sistematização e organização do pensamento estruturado por ciclos, tratando o sentido e o significado dos temas e conteúdos, desde a constatação do fenômeno estudado, passando à compreensão das relações de interdependência desses conteúdos, até a explicação do referido tema (FRANÇA, 1995). A educação física deve, progressivamente e cuidadosamente, conduzir o aluno a uma reflexão crítica que o Leve à autonomia no usufruto da cultura corporal do movimento (BETTI,1994a, 1994b ). Portanto, esse é um processo que possui fases, com objetivos específicos, que respeitam os níveis de desenvolvimento e as características e interesses dos alunos. Na educação infantil as atividades corporais cujo conteúdo implique o reconhecimento do prazer e da alegria, devem ser apresentadas como noções elementares sobre o lúdico e dados da realidade. As experiências lúdicas de uma criança vão lhe sofisticando representações do seu universo social. Pelo brinquedo acontecem às adaptações, os acertos e erros, as soluções de problemas que vão tornar-lhe sujeitos autônomos. Uma criança com possibilidades lúdicas variadas terá mais riqueza de criatividade, relacionamentos, capacidade crítica e de opinião. O contato a exploração do meio ambiente, brinquedos, expressão musical, artes, dança, teatro, e vivências corporais ampliam sua visão de mundo na medida em que com ele interage. Assim sendo, ela própria vai instituindo seus limites, desafios e criando novos brinquedos (REVISTA CORREIO DA UNESCO, 1991). Na primeira fase do ensino fundamental (1º a 3º / 4º anos), é preciso levar em conta que a atividade corporal é um elemento fundamental da vida infantil, e que uma adequada e diversificada estimulação psicomotora guarda estreitas relações com desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança, deve-se também privilegiar o desenvolvimento das habilidades motoras básicas, com jogos e brincadeiras de variados tipos e atividades de autotestagem (BETTI & ZULIANI, 2002). A partir do 4º / 5º anos do ensino fundamental, devem-se promover a iniciação nas formas culturais do esporte, das atividades rítmicas/dança e das ginásticas. É importante considerar que, nessa fase, a aprendizagem de uma habilidade técnica deve ser secundária em relação à concretização de um ambiente e de um de espírito lúdico e prazeroso, levando em conta o potencial psicomotor dos alunos (BETTI & ZULIANI, 2002). O aperfeiçoamento em habilidades especifica e a aprendizagem de habilidades mais complexas deve ser buscada no 7º e 8º anos do ensino fundamental, quando também pode iniciar-se um trabalho voltado para aptidão física, entendida como desenvolvimento global e equilibrado das capacidades físicas (resistência aeróbica, resistência muscular localizada e

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flexibilidade). A prevenção de problemas posturais deve ser um objetivo sempre presente, mediante exercícios específicos e informações sobre o tema (BETTI & ZULIANI, 2002). Na segunda fase inicia-se também a sistematização de conceitos teóricos sobre a cultura corporal do movimento, sempre buscando uma associação entre a vivência e o conhecimento, bem como a inter-relação com outras matérias (em especial Ciências, História e Estudos Sociais). O ensino médio merece atenção especial. Estudos demonstram uma progressiva desmotivação em relação à educação física já desde o final do ensino fundamental (BETTI, 1986; ZONTA, BETTI & LIZ, 2000). Os adolescentes adquirem uma visão mais crítica, e já não atribuem à educação física tanto crédito. A atividade física, central em suas vidas até 12 ou 13 anos, cede espaço para outros núcleos de interesse (sexualidade, trabalho, vestibular, etc.). No ensino médio, caracterizam-se dois grupos de alunos: os que vão identificar-se com o esforço metódico e intenso da prática esportiva formal, e os que vão perceber na educação física sentidos vinculados ao lazer e bem-estar. No ensino médio, a educação física deve apresentar características próprias e inovadoras, que considerem a nova fase cognitiva e afetivo-social atingida pelos adolescentes. Tal dever não implica em perder de vista a finalidade de integrar o aluno na cultura corporal de movimentos. Pelo contrário, no ensino médio pode-se proporcionar ao aluno o usufruto dessa cultura, por meio das práticas que ele identifique como significativo para si próprio. Por outro lado, o desenvolvimento do pensamento lógico e abstrato, a capacidade de análise e de crítica já presentes nessa faixa etária permitindo uma abordagem mais complexa de aspectos teóricos (aspectos socioculturais e biológicos), requisito indispensável para formação do cidadão capaz de usufruir, de maneira plena e autônoma, a cultura corporal de movimentos (BETTI & ZULIANI, 2002). A aquisição de tal conjunto de conhecimentos deverá ocorrer na vivência de atividades corporais com objetivos vinculados ao lazer, saúde, bem-estar e competição esportiva. CONSIDERAÇÕES FINAIS O aumento do tempo de lazer colocou para a sociedade um problema difícil: como preparar para viver adequadamente esse tempo, pessoas que foram educadas na idéia de que o trabalho é o único valor importante na vida? O aumento do tempo livre foi uma conquista histórica que não devemos desperdiçar. Portanto temos que atentar para as necessidades de quem construirá o nosso futuro (crianças e jovens), e conscientemente promover imediatamente a melhora da qualidade do seu tempo livre. Os sistemas de ensino ocupam uma posição central para implementação da educação para o lazer, incentivando e facilitando o envolvimento do indivíduo neste processo. A finalidade básica da educação é desenvolver os valores e atitudes das pessoas e provê-las com o conhecimento e aptidões que lhes permitirão sentirem-se mais seguras e obter mais prazer e satisfação na vida. Essa perspectiva subtende que a educação, além de ser importante para o trabalho e para a economia, é igualmente importante para o desenvolvimento do indivíduo como um membro plenamente participativo da sociedade e para a melhoria da qualidade de vida. Cabe à escola a responsabilidade de criar condições objetivas, concebendo o lazer enquanto possibilidades de educação e fator de qualidade de vida, dando ênfase ao lúdico, ao participativo, organizando e estruturando manifestações no âmbito da cultura corporal, que viabilizem compreensão e interpretação, objetivando a construção do tempo de lazer.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BETTI, M. Atitudes e opiniões de escolares de 1º grau em relação à Educação Física. In: XIV SIMPÓSIO DE CIÊNCIA DO ESPORTE. São Caetano do Sul. Celafiscs. Fec. do ABC, 1986.p. 66. BETTI, M. Ensino de 1º. E 2º. Graus: Educação Física para quê? Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.13, n.2, p. 288-7, 1992. BETTI, M. Valores e finalidades na Educação Física escolar: uma concepção sistêmica. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v.16, n. 1, p. 14-21, 1994 a. BETTI, M. O que a semiótica inspira ao ensino da Educação Física. Discorpo, n.3, p.25-45, 1994 b. BETTI, M.; ZULIANI, L. R. Educação Física escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte – Ano 1, n. 1, 2002. FRANÇA, T. L. de. A disciplina recreação no processo de construção coletiva do saber: a prática pedagógica no ensino superior. Revista Motrivivência, Educação Física: Teoria & Prática, ano 7, n. 8, p. 187-97. dez. 1995. REVISTA CORREIO DA UNESCO, julho de 1991. “Brincadeiras e jogos” n 170.p.5, artigo “Um oásis de felicidade”, de Martine Maurinas-Bouquet/ p 14, Um impulso vital, Chalva Amonachvili. ROLIM, L. C. Educação e Lazer: a aprendizagem permanente. São Paulo: Ática, 1989. THOMAS, J.R.; NELSON, J.K. Métodos de pesquisa em atividade física. 23. ed. São Paulo: Cortez, 2007. ZONTA, A. F. Z. ; BETTI, M.; LIZ, L.C. Dispensa das aulas de Educação Física: os motivos de aulas do ensino médio. In: VII CONGRESSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E CIÊNCIAS DO DESPORTE DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA. Anais... . Lisboa, 2000. Universidade Técnica de Lisboa

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