Considerações sobre a resistência do livro impresso na era digital

July 15, 2017 | Autor: Pedro Pazitto | Categoria: Communication, Book History (History), Editorial Design, Digital Era, Digital Books
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Considerações sobre a resistência do livro impresso na era digital 1 GALHARDI, Pedro Pazitto (Graduando)2 SEHN, Thaís Cristina Martino (Professora orientadora)3 Universidade Federal de Pelotas/RS Resumo: O presente artigo tem o intuito de promover uma breve reflexão a sobre o panorama atual da produção dos livros físicos, visando criar uma base teórica para discutir quais são os fatores que influenciam o livro impresso a ser ainda considerado um objeto de desejo, e ser estimado pelo leitor mesmo com a crescente oferta dos livros em formato digital. A pesquisa encontra-se na fase inicial, na qual são confrontados alguns autores que discorrem tanto sobre o livro impresso como o digital, desde aqueles que defendem a “morte” do impresso frente ao virtual até aqueles que defendem a coexistência entre ambos os modelos, visando estabelecer a situação contemporânea do mercado editorial, juntamente com a análise da teoria do design emocional de Donald Norman a ser aplicada na produção editorial de um livro impresso. A pesquisa bibliográfica será base para a pesquisa de campo na qual tentar-se-á entender o que faz do livro impresso ainda um objeto de desejo através de entrevistas qualitativas com leitores. Palavras-chave: comunicação; livro impresso; era digital; objeto de desejo; design editorial.

Introdução Vivemos em um mundo onde a internet e os meios digitais estão cada vez mais presentes em todos os setores da sociedade, influenciando os modos de produção e transmissão de conteúdo. Entramos na chamada “era digital”, que vem sucessivamente causando a substituição da transmissão de conteúdo de forma impressa e física para seus diversos meios não físicos, através da representação de dados na tela dos mais diversos dispositivos. Estas mudanças, dentre tantas que podemos observar, impactam também outros tipos de projetos gráficos nos quais os profissionais do ramo editorial, sem que necessariamente sejam digitais, entre eles aquele que será base para o estudo nesta pesquisa: o design de livros impressos. 1 Trabalho apresentado no GT de História da Mídia Impressa, integrante do 10º Encontro Nacional de História da Mídia, 2015. 2 Graduando no curso de Bacharelado em Design Gráfico pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Email: [email protected] 3 Professora substituta no curso de Design Gráfico e Digital da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), mestre em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialista em Patrimônio Cultural (UFPel) e bacharel em Design Gráfico (UFPel). E-mail: [email protected]

Durante o final do século XX e início do século XXI aconteceram diversas mudanças tecnológicas que alteraram o cenário contemporâneo, como a expansão e desenvolvimento acelerado dos computadores pessoais e dos aparelhos eletrônicos portáteis, mais notoriamente gadgets4 como smartphones5, tablets6 e e-readers7, juntamente com o anterior surgimento da internet, que interligou todo o mundo em uma mesma rede virtual, alterando e modificando as formas de comunicação. Estas mudanças propiciaram, entre várias outras inovações, o surgimento dos livros digitais, popularmente conhecidos como e-books8, termo de origem inglesa para abreviação de electronic book (LAIGNIER; MARTINS, 2011). Este artefato gerou muitas discussões e reflexões acerca do livro impresso - que serão abordadas mais adiante - e julga-se importante apresentá-lo e contextualizá-lo para o leitor compreender melhor a abordagem desta pesquisa. “Revolução” da era digital Para Furtado (2006), os avanços nas tecnologias digitais, aliados ao uso da internet, têm provocado desafios no modo de ler, distribuir, acessar e gerar conhecimento. Chartier (1998, p.7) afirma que a primeira tentação dos pesquisadores da história do livro é comparar esta revolução eletrônica com a revolução causada pelo surgimento da imprensa de Johannes Gutenberg9: “em meados de 1450, só era possível reproduzir um texto copiando-o à mão, e de repente uma nova técnica baseada nos tipos móveis e na prensa, transfigurou a relação com a cultura escrita”. Porém, é possível afirmar que a 4 São comumente chamados de gadgets dispositivos eletrônicos portáteis como PDAs, celulares, smartphones, leitores de MP3, entre outros. 5 “Smartphone é um telefone celular com tecnologias avançadas, o que inclui programas executáveis em um sistema operacional, equivalente ao dos computadores.” (SEHN, 2014) 6 “E-reader é um aparelho portátil criado especificamente para a leitura de livros digitais. Normalmente sua tela possui tecnologia e-Ink, a qual não emite luz. A tela pode ser sensível ao toque ou não.” Ibid. 7 “Tablet é um tipo de computador portátil, de tamanho pequeno, fina espessura e com tela sensível ao toque.” Ibid. 8 “[...] um objeto digital com conteúdo textual e/ou outros conteúdos, que surge como resultado da integração do conceito familiar de um livro com características que podem ser fornecidas em um ambiente eletrônico. Geralmente têm características em uso tais como funções de pesquisa e de referência cruzada, links de hipertexto, marcadores, anotações, destaques, objetos multimídia e ferramentas interativas”. (VASSILIOU; ROWLEY, 2008, apud DIAS et al., 2013) 9 Embora haja controvérsias, historicamente se atribui a Gutenberg o ato de reunir “pela primeira vez os complexos sistemas e subsistemas necessários para imprimir um livro tipográfico por volta de 1450” (MEGGS; PURVIS, 2009, p. 95)

revolução causada pelo avanço do domínio digital é ainda mais radical do que a da invenção da imprensa de tipos móveis ou qualquer outra anterior, pois abrangem pela primeira vez um conjunto de mutações que antes ocorreram separados, evoluindo tanto na estrutura física em que se apresenta o texto quanto na forma de se ler (FURTADO, 2003; OLIVEIRA, 2013). Vivemos em tempos de turbulência no mundo editorial, pois por mais de cinco séculos, os métodos e práticas de publicação de livros se mantiveram praticamente inalterados, e agora o setor enfrenta talvez seu maior desafio desde Gutenberg (THOMPSON, 2010, 2013). Eisenstein (1983, apud BOLTER, 2001) nota que, nessa revolução, houve uma completa mudança nos métodos de produção do livro, enquanto o produto não sofreu nenhuma mudança aparente, tornando a mudança mais suave para o grande público. Mas, atualmente na revolução causada pelos e-books, assiste-se a mudanças nas técnicas de reprodução do texto, na forma ou veículo do texto e ainda nas práticas de leitura. Esta situação nunca tinha ocorrido anteriormente. A invenção do códice no Ocidente não modificou os meios de reprodução dos textos ou dos manuscritos. A invenção de Gutenberg não modificou a forma do livro. As revoluções nas práticas de leitura ocorreram no contexto de uma certa estabilidade quer nas técnicas de reprodução dos textos quer na forma e materialidade do objeto. Ora, hoje, estas três revoluções técnica, morfológica e material – estão perfeitamente interligadas (CHARTIER, 2002 apud FURTADO, 2003, p.1).

As publicações impressas e digitais convivem há várias décadas, e embora os ebooks só tenham entrado em evidência durante a década de 90 com a popularização dos primeiros leitores de livros digitais e avanço da internet, o projeto deste tipo de publicação data de algumas décadas antes. De acordo com Lebert (2008), os livros existentes em suportes totalmente digitais existem desde o início da década de 70, com a criação do Projeto Gutenberg na University of Illinois nos Estados Unidos. Tal projeto tinha como inteção central criar versões eletrônicas de livros da forma mais simples possível, visando atingir o maior número de pessoas sem cobrar qualquer quantia10. A autora diz que a popularização da internet, interligando os computadores e demais dispositivos com acesso à web, causou um grande aumento na internacionalização do 10 De acordo com Sehn e Fragoso (2015,), quarenta anos depois o projeto ainda é uma das mais importantes bibliotecas online, possibilitando acesso a mais de 40 mil livros em dezenas de diferentes línguas mundo afora.

Projeto Gutenberg em meados dos anos 90. Este aumento causado pela difusão da internet não proporcionou apenas maior visibilidade ao projeto em si, mas, de acordo com Furtado (2002), também a todo o novo mercado de e-books. Ele diz que o momento de crescimento da “world wide web” coincide com uma grande mediatização dos livros digitais, juntamente com a entrada em cena de grandes empresas do ramo e novas emergentes, fazendo com que algumas das mais respeitáveis empresas de estudo de mercado do mundo propusessem previsões sobre o surgimento de um segmento novo e altamente rentável. Conforme sintetiza Gruszynski (2009), Furtado (2002), “ao discutir as transformações nos modos de preservar, distribuir, acessar conhecimentos, atribui ao desenvolvimento da Internet o aparecimento de novas formas de escrita, de edição, de distribuição e de leitura”. Porém, o autor diz isto ainda no início dos anos 2000, antes da ascensão dos aparelhos móveis. A internet causou uma grande popularização no hábito da leitura digital, não necessariamente associada ao livro digital, mas, como podemos notar hoje, os gadgets, como o iPad, e os e-readers, como o Kindle, fizeram ainda maior diferença no cenário editorial, como nota Sehn (2014). A ‘morte’ do livro impresso? Este aumento da popularidade dos livros distribuídos virtualmente, sem necessitar de um suporte físico de papel, fez reacender uma antiga discussão no plano editorial: em algum momento o livro como conhecemos desde a invenção da imprensa de Gutenberg viria finalmente a desaparecer, dando espaço a um substituto mais prático e acessível? Segundo Machado (1994, s/n), desde o século XIX e início do século XX é possível encontrar autores que falam na “‘morte do livro impresso’, que estaria fadado a desaparecer diante das vantagens de suportes e formas mais versáteis ou mais atraentes de reprodução e disseminação de ideias”. Belo (2002, apud OLIVEIRA, 2013) nota que esta ideia de que o livro como suporte material estaria com os dias contados evoca uma noção que esteve em vigor quando os jornais se popularizaram ainda no século XIX, alcançando um maior número de pessoas que ainda não tinham como hábito a leitura. Dizem Eco e Carrière (2010) que a opinião pública sempre manteve a ideia fixa de que o livro físico desapareceria, formulando incansavelmente sempre as mesmas

indagações. Em 1929, o grande pensador da modernidade Walter Benjamin (1978 apud MACHADO, 1994) já profetizava, impressionado com os anúncios luminosos e escritura icônica e vertical que tomava conta das ruas, que o livro, em sua forma tradicional, estaria se encaminhando para seu fim. Enquanto os intelectuais de seu tempo ainda discutiam a legitimidade do uso da máquina de escrever como substituta da escrita manual, Benjamin (1978) já apontava para o horizonte dos bancos de dados interativos e dos sistemas informatizados de hipertextos e hiper-mídias, que tendem a se impor como as formas escriturais da próxima etapa sucessora do livro impresso: "Podemos supor que novos sistemas, com formas de escritura mais versáteis, se farão cada vez mais necessários. Eles substituirão a maleabilidade da mão pela nervosidade própria dos dedos que operam comandos" (MACHADO, 1994).

O desenvolvimento crescente de novas tecnologias digitais de informação, principalmente nas últimas décadas, causaram uma grande diversidade de reflexões e fortes controvérsias sobre o futuro da edição tal como a tínhamos conhecido, mais especialmente sobre o destino do livro impresso, “a quem se vaticinou, com persistente regularidade, a morte ou o desaparecimento, substituído que seria pelas novas formas e técnicas de produção, reprodução e difusão de conteúdos” (FURTADO, 2003, p.1). Porém, ao contrário do que previram estes autores, ao analisar o cenário atual, esta possibilidade parece distante, pois mesmo com o aumento do mercado para os livros digitais, as suas contrapartidas impressas não dão qualquer sinal de estarem prestes a desaparecer. A criação ou evolução de determinada mídia não implica em extermínio premente de outro. A televisão não extinguiu o rádio ou mesmo o teatro ou cinema. A fotografia não aniquilou a pintura. A internet não suprimiu a produção televisiva, nem aboliu os telespectadores. A convivência e convergência entre as mídias existem e possibilitam que meios diferentes coexistam, se complementem e ajudem no desenvolvimento do outro (LAIGNIER; MARTINS, 2011, p. 7).

Seguindo esta linha de pensamento de que uma nova mídia digital não causa o desaparecimento de sua predecessora, segundo Ungaretti e Fragoso (2012, p. 2), o surgimento da possibilidade de publicação em suportes digitais não implica o fim do design editorial no livro impresso, mas pelo contrário, abre várias novas possibilidades

para seu avanço e renovação. A coexistência de livros impressos e e-books não implica apenas em uma relação de concorrência, é mais produtivo entendê-los em termos de seu potencial para complementaridade. Apesar desta introdução ao atual cenário da era digital e das discussões sobre a diferença entre os livros eletrônicos e impressos, o objetivo desta pesquisa, ainda em desenvolvimento, não é definir qual dos dois meios é mais vantajoso e apresenta uma melhor perspectiva de futuro, até porque, como dito anteriormente, é possível que estes dois meios coexistam e se complementem de forma a ajudar no desenvolvimento de ambos. O problema de pesquisa para a continuação desta é discutir quais são os fatores que influenciam o livro impresso a ainda ser estimado pelo leitor como um objeto de desejo mesmo com a crescente oferta dos livros em formato digital, analisando não apenas os aspectos formais do design editorial, mas também os aspectos emocionais incitados no usuário, e a possível influência que o design pode ter nesta relação produtoleitor. Livro como objeto de desejo Conforme Magalhães (2014), existe um fator na leitura que vai além da simples visão comercial, e de certa forma supera as vantagens que podem ser apreendidas da leitura digital: o amor pelo livro físico, como objeto de desejo. Um livro querido pelo leitor certamente tem a preferência deste pelo apelo emocional do objeto em si, pois este é palpável, presente, capaz de ser autografado e exibido para as pessoas ao redor e passível de estar sempre visível na estante, até como objeto decorativo, fatores que ainda são impossíveis de serem encontrados em uma versão digital. É inegável que facilidades trazidas pela era digital trouxeram qualidades para o incentivo à leitura e vieram para ficar, porém existem aspectos emocionais relacionados ao livro físico como objeto de desejo que são impossíveis de substituir em uma versão digital. “Se o fã acompanha a obra, e tem carinho por ela, mesmo lendo a versão digital ele irá querer o físico, para guardar de recordação” (MAGALHÃES, 2014). Fatores da tridimensionalidade como o formato, a textura e até o cheiro do papel impresso, por mais superficiais que pareçam, são extremamente importantes e permanecem na memória afetiva do leitor, marcando sua relação com o objeto livro.

Norman (2008, p. 102) define estes fatores através do termo “tangibilidade”, valorizando o prazer da interação física como um fator que pode fazer enorme diferença na avaliação de um produto. Os livros, por serem objetos tridimensionais, proporcionam sensações visuais, táteis, olfativas, auditivas e cinestésicas a cada virada de página, e “estas sensações definem parte da qualidade da interação entre leitor e objeto”, conforme Fontoura (2007, apud SEHN, 2008, p. 84). A qualidade literária do texto é o fator principal para definição da experiência do leitor, mas, certamente, os aspectos visuais e gráficos do projeto de design de um livro contribuem significantemente para os aspectos emocionais da relação emocional entre as partes (FONTOURA, 2007, apud SEHN, 2008, p.84). Do ponto de vista da influência do design gráfico, este relacionamento emocional do leitor com o livro como seu objeto de desejo será analisado na continuidade desta pesquisa através de da teoria do “design emocional” criada pelo professor Donald Norman (2008), na qual ele traz muito mais do que respostas para a razão pelas quais adoramos ou detestamos objetos do dia-a-dia, [...] ressalta o poder do design de afetar as pessoas, a sociedade e o planeta, muito, pouco, para o bem, para o mal. Ele [o autor] fortalece que a ideia que o design não é uma atividade neutra, mas resultado de um processo consciente e intencional (DAMAZIO; MONT’AVÃO. In: NORMAN, 2008, p.19).

Norman (2008) identifica três níveis de atuação do design sobre o emocional do usuário (visceral, comportamental e reflexivo), todos passíveis de serem entrelaçados e identificados na reação deste usuário com os objetos, podendo ser mapeados em termos de características de produto, segundo Damázio e Mont’avão (In: NORMAN, 2008, p. 14). Visceral, comportamental e reflexiva: essas três dimensões muito diferentes estão sempre entrelaçadas em qualquer design. Não é possível ter design sem todas as três. Todavia, o mais importante é entender como esses três componentes combinam ao mesmo tempo emoções e cognição ao usuário (NORMAN, 2008, p. 26).

O nível visceral é o primeiro a ocorrer, ainda pré-conscientemente, antecedendo o pensamento, onde o indivíduo obtém as primeiras impressões sobre o objeto através da aparência. É totalmente relacionado ao impacto emocional direto, imediato: a forma,

a cor, a sensação física, as texturas dos materiais e até o peso do produto são importantes. O objeto deve ser, de certa forma, “sensual” aos olhos da pessoa – deve passar uma sensação agradável e ter boa aparência (MÜLLER, 2013). De acordo com Norman (2008, p. 91), o design visceral é imediato, exigindo talento e habilidade do designer ao projetar o objeto, pensando na primeira impressão que este passa ao usuário. O nível comportamental diz respeito ao prazer e efetividade do uso do objeto (NORMAN, 2008). O bom design comportamental pode ser identificado em quatro princípios básicos: função, compreensibilidade, usabilidade e sensação física. Diz respeito ao manuseio do objeto, valoriza as funções que o objeto desempenha, à eficácia com que cumpre o seu dever e o grau de compreensão na operação e no seu modo de comportamento (NASCIMENTO, 2009, p. 24), além da sensação física, fator possível de ser observado na diferença entre o digital e o físico: Qualquer objeto físico tem peso, textura e superfície, e os melhores produtos são aqueles que conseguem fazer a interação com os sistemas sensoriais do cérebro humano, atraídos pela tangibilidade desses objetos. Norman diz que o mundo virtual/digital é um mundo de cognição: ideias e conceitos apresentados sem substância física. Já os objetos físicos, do mundo real, envolvem o mundo da emoção, onde você vivencia as coisas, onde você pode experimentar a sensação confortável de uma superfície ou aspereza de outra (MÜLLER, 2013).

Por fim, o nível reflexivo envolve aspectos conscientes do usuário, como autoimagem, satisfação pessoal e lembranças, de acordo com Norman (2008, p. 59). Enquanto os níveis visceral e comportamental se manifestam no tempo presente, envolvendo dos sentimentos que acontecem no ato de se ver e usar um objeto, o nível reflexivo se estende por muito mais tempo e envolve sentimentos como orgulho de ter, exibir ou usar um objeto. É neste nível de design emocional que a “consciência e os mais altos níveis de sentimento, emoções e cognição residem. É somente nele que o pleno impacto tanto do pensamento quando da emoção são experimentados.” (NORMAN, 2008, p.57). O design de um livro impresso, se pautado em todas estas possibilidades dos níveis abordados por Norman (2008), pode fazer com que a este tipo de publicação deixe de ser mais um simples tipo de suporte para leitura, e passe a ser um artefato projetado de maneira a se tornar desejável pelo leitor por vários motivos que vão além

da leitura e afetam o aspecto emocional do usuário. A partir desta ideia, na continuação desta pesquisa serão abordados os três níveis do design emocional em relação à produção editorial do livro impresso, visando descobrir de que maneira a aplicação bem estruturada destes aspectos pode influenciar da desejabilidade de um livro físico como objeto em detrimento de um digital. Considerações finais Conclui-se até aqui que, apesar do aumento exponencial da possibilidade de publicação e leitura de livros em suporte digital, que vem surgindo desde a década de 70, não é possível cravar o desaparecimento do livro impresso, ou como muitos chegaram a afirmar, a sua “morte”, pois este ainda continua sendo para o leitor um objeto palpável de desejo, não apenas um suporte de leitura. Mesmo com o surgimento de uma nova mídia, que vive um crescimento desde fim do século passado com a criação da internet, e já neste século com a popularização dos gadgets, não necessariamente causa o desaparecimento da sua predecessora, mas sim abre espaço para sua renovação, mesmo que seja em novos âmbitos. A partir do que foi introduzido até aqui, os próximos passos desta pesquisa são entender os aspectos do design aplicado que influenciam no emocional da relação entre o livro e seu usuário leitor em plena era digital, com base na teoria de Donald Norman, e exercitar os conhecimentos teóricos adquiridos sobre o assunto na realização do projeto gráfico e criação de protótipo de uma série de livros utilizando diretrizes que os caracterizem como objetos desejáveis para um público-alvo predeterminado. A continuidade da pesquisa se basear-se-á no pressuposto de que o livro, para o seu possuidor, deixa de ser um mero suporte de leitura, pois além do conteúdo escrito a pessoa também deseja ter o objeto palpável, logo, caracterizando-o como um objeto de desejo.

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