Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011
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Considerações sobre a velhice institucionalizada: memória social, cotidiano e ritmos de vida Consideraciones sobre envejecimiento en los hogares de ancianos: memoria social, los ritmos diarios y hogares de ancianos Considerations on aging in nursing homes: social memory, daily life and life rhythms
Lucas Graeff Université Rene Descartes, Sorbonne, Paris, França.
Resumo Apoiado na queda das taxas de mortalidade e nas novas técnicas de cuidado de si, o discurso gerontológico se interessa pela chamada “Terceira Idade” ou “Melhor Idade”, onde a velhice não figura como um problema, mas como uma possibilidade de dispor de mais tempo livre e de melhores condições de vida. Porém, há aspectos tocando a população de idosos no Brasil que não dizem respeito ao lazer e aos cuidados com a saúde. A institucionalização é um deles. A fim de descobrir como vivem as pessoas idosas institucionalizadas e como elas significam o seu processo de envelhecimento, o presente trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa etnográfica realizada em um asilo de Porto Alegre/RS. Através do ir e vir entre memória, cotidiano e ritmos de vida, os idosos estudados puderam refletir sobre seus tempos vividos no espaço asilar, propondo assim uma interpretação original da experiência de envelhecer no asilo. Palavras-chave: Envelhecimento, Asilos, Memória social, Cotidiano, Ritmos de vida.
Resumen Apoyado por la caída en las tasas de mortalidad y las nuevas técnicas de autocuidado, el discurso de la gerontología se ocupa de la llamada "tercera edad" o "Mejor Edad", donde la vejez no figura como un problema sino como una oportunidad para tener más tiempo libre y mejores condiciones de vida. Sin embargo, hay aspectos relacionados a la población anciana en Brasil que no se refieren a las prácticas de ocio y el autocuidado. La institucionalización es uno destes. Con el fin de averiguar cómo viven los ancianos institucionalizados y la manera en que ellos significan el envejecimiento, este trabajo presenta los resultados de un estudio
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etnográfico en un hogar de ancianos en Porto Alegre / RS. Mediante el movimiento de ir y venir entre la memoria, los ritmos diarios y hogares de ancianos, los ancianos estudiados podría reflexionar acerca de su vida en la institución, y por lo tanto ofrecer una interpretación original de los experiencia del el envejecimiento en el asilo. Palabras clave: Envejecimiento, Hogares de ancianos, Memoria social, Vida cotidiana, Ritmos de la vida.
Abstract Backed by the fall in mortality rates and new technologies of the self of self care, the discourse of gerontology is concerned with the so-called "Third Age " or "Best Age", where the old age does not figure as a problem but as an opportunity to have more free time and better living conditions. But there are aspects of the elderly population in Brazil that not concern free time and self care practices. Institutionalization is one. In order to analyze the conditions of life and the process of aging of the institution‟s residents, this paper presents the results of an ethnographic study in a nursing home located in Porto Alegre / RS. By going back and forth between memory, daily life and daily rhythms, the residents were able to think their lives in the daily life of the institution and therefore offer an original interpretation of the experience of aging in the asylum. Keywords: Process of aging, Asylum, Social memory, Daily life, Life rhythms.
Introdução novidades das ciências médicas, novas Diversas áreas de pesquisa tomam
atividades e padrões de consumo surgirão.
como
Para essa geração, chamada de “Terceira
justificativa para suas preocupações com a
Idade” ou “Melhor Idade”, a velhice não
“discurso
figura como um problema, mas como uma
gerontológico” , por exemplo, a queda das
possibilidade de dispor de mais tempo livre
taxas de mortalidade e a melhoria das
e de melhores condições de vida.
o
crescimento
velhice.
demográfico
Segundo
o
1
condições de higiene fará com que um
Porém, há outras formas de viver o
número cada vez maior de pessoas atinja a
envelhecimento
no
Brasil
que
têm
faixa dos 60 anos de vida. Na medida em
dificuldade para se inscrever nos discursos
que essa nova geração de idosos cuidar
que vinculam velhice, lazer e a práticas
melhor de seus corpos e desfrutar das
voltadas ao cuidado de si. O tema da
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institucionalização é um deles. Como
afastamento ou a morte de parentes,
vivem
idosas
amigos ou vizinhos; a perda da posição na
institucionalizadas? A partir de quais
hierarquia social, resultado de projetos
elementos significativos elas interpretam o
sociais ou individuais mal sucedidos; as
seu
O
modificações físicas e o estranhamento do
discurso gerontológico é preponderante em
próprio corpo. Nesse ir e vir entre memória
suas maneiras de viver a velhice? Quais
e cotidiano, uma interpretação original da
referentes
espaço
experiência de envelhecer no asilo tomou
institucional oferece ao idoso quando se
forma, a saber, a consideração dos
trata de enquadrar essas formas alternativas
diferentes
de viver o processo de envelhecer?
experiências cotidianas enquanto quadros
as
processo
pessoas
de
envelhecimento?
simbólicos
o
A fim de responder a essas questões, o presente trabalho apresenta os
ritmos
que
cadenciam
sociais organizadores da experiência de envelhecer no asilo.
resultados de uma pesquisa etnográfica realizada no Asilo Padre Cacique, em
O Cotidiano do Asilo: os Espaços e seus
Porto Alegre/RS. Durante dezesseis meses,
Ritmos
entre agosto de 2004 e dezembro de 2005, tomou-se por objeto o cotidiano asilar e
Entrar no Asilo Padre Cacique
suas interlocuções com a memória social
significa descobri-lo no contexto da cidade
das pessoas ali abrigadas. Através das
de Porto Alegre. Instalado na Avenida
técnicas de observação participante, diário
Padre
de campo, descrição densa e entrevistas de
homenagem ao patriarca da instituição, o
profundidade,
estudados
Padre Antonio Cacique de Barros, a
puderam refletir sobre seus tempos vividos
instituição oferece-se ao passante através
e sobre seu dia-a-dia no espaço asilar a
de sua imponente fachada, composta por
partir de uma relação de reciprocidade
uma grande escadaria e duas rampas que,
durável com o pesquisador.
em curva, abrem-se para a esquerda ou
os
idosos
Cacique,
cujo
nome
é
uma
Ao narrar suas memórias, os idosos
para direita, levando a uma grande porta
pesquisados articularam signos e estruturas
em forma de arco. Ao alto, a inscrição
de
compartilhados,
“Asylo Padre Cacique” indica ao visitante
demonstrando como é possível elaborar
que ele se encontra em frente a uma
alguns
da
instituição cuja história é anterior a
experiência de envelhecer: a ruptura com
reforma ortográfica de 19112. Nesses
grupos e espaços sociais de referência; o
tempos, Asilo era rodeado pela paisagem
significado
dos
elementos
trágicos
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campestre da Chácara do Cristal e ainda
Para que uma pessoa seja aceita no
margeava o Guaíba3. Hoje, apesar de suas
Asilo Padre Cacique, ela precisa passar por
proporções monumentais – o prédio central
um processo de triagem e por um conjunto
possui aproximadamente 4 mil m2 –, é
de
possível passar em frente ao Asilo sem
padronizados, que devem garantir uma
percebê-lo, já que o estádio de futebol José
entrada
Pinheiro Borda, o Beira-Rio, ocupa boa
primeiras
parte do panorama local.
realização de algumas entrevistas com a
procedimentos
gradual etapas
no
relativamente
asilo.
nesse
Uma
sentido
das é
a
Uma vez ultrapassados a porta e o
assistente social, cujo objetivo é o de
saguão de entrada, começa-se a descobrir
descobrir, entre outras coisas, os motivos
como se dá o atendimento dos internos. No
que trouxeram a pessoa ao Asilo. O
interior de uma única edificação, cerca de
candidato a uma vaga no Asilo deve passar
150 residentes são abrigados e atendidos
igualmente por uma avaliação de saúde,
por uma equipe multidisciplinar composta
visando identificar suas necessidades em
por funcionários de enfermaria, voluntários
termos
e alguns profissionais especializados, como
Quanto ao ingresso propriamente dito, é de
uma assistente social, um médico, uma
praxe apresentar o novo residente a um
nutricionista e estudantes de odontologia e
companheiro de quarto, o qual será
enfermagem.
Em
as
responsável pela ambientação no local. Em
informações
fornecidas
Cristina
geral, esse companheiro pertence a uma
Mesquita, assistente social do Asilo,
rede de relações específica. Portanto, ao
aproximadamente 44% dos 150 residentes
ser apresentado a um companheiro de
eram mantidos em enfermaria, dado a sua
quarto, o novo asilado acaba definindo boa
dependência física ou mental. Numa
parte de suas futuras posições e relações
classificação intermediária, cerca de 29%
sociais no espaço asilar.
2005,
segundo por
de
atendimento
ambulatorial.
se encontravam em regime de semi-
Para o recém-chegado, o Asilo
dependência, necessitando de cuidados e
Padre Cacique oferece-se à visitação de
atendimentos diários. Os outros 27%
maneira regulada. No saguão de entrada, é
independiam de atendimento especial e,
preciso negociar a passagem para as outras
muitas vezes, utilizavam as dependências
dependências da instituição. Na época do
do
dormitório,
trabalho etnográfico que originou este
realizando boa parte de suas atividades
artigo, o saguão contava com a presença
diárias fora da instituição.
emblemática de Jorge (nome fictício), um
Asilo
apenas
como
de meus principais interlocutores durante a
Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011 pesquisa.
Ex-garçom
de
ouvir narrativas sobre relações familiares,
cerimônias, ele fazia questão de questionar
conflitos nos quartos, trabalho doméstico e
os
à
atividades cotidianas no Asilo. Oscilando
“diretoria”, isto é, os funcionários que ele
entre “histórias boas” e “histórias tristes”,
considerava como “os mais respeitados” da
como elas me diziam, uma preocupação
instituição.
com os riscos vividos no cotidiano se
visitantes
e
de
e
mestre
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apresentá-los
Mas o cotidiano do Asilo não se
destaca. As mulheres que entrevistei
resume ao que acontece no saguão de
recorriam muitas vezes a histórias de
entrada. Ao contrário: durante a pesquisa
quedas, doenças e morte – seja no contexto
etnográfica, quatro espaços em particular
institucional ou fora dele. Falava-se, por
se afirmaram com lugares privilegiados de
exemplo, das violências da cidade vividas
observação do que significa envelhecer no
por familiares ou pela próprias idosas que
Asilo Padre Cacique. São eles as alas
ainda se aventuram fora dos muros da
feminina e masculina, o refeitório e as
instituição.
enfermarias.
Um outro ponto interessante das
A ala feminina é composta por
“boas” e “tristes” histórias que me foram
cinco dormitórios e duas enfermarias. À
narradas são os juízos de valor que as
exceção dos três dormitórios localizados na
habitam. Quando uma pessoa adoece, cai
parte dos fundos da instituição que podem
ou se recupera de um drama pessoal ou
ser acessados através da sala de televisão,
familiar, um código moral específico rege
todas as demais salas têm saída para os
as relações entre o/a protagonista da
corredores que circundam o jardim. Nos
história, a narradora e seus ouvintes. Nele,
corredores, há sofás, poltronas e cadeiras
a manutenção da honra e do respeito, a
de rodas para uso geral. Em relação à ala
valorização do foro íntimo e o controle
masculina, a freqüência é menor e é mais
emocional são extremamente relevantes.
raro encontrar idosas conversando nesses lugares,
que
têm
caráter
público
Segundo o teor das narrativas, a
e
experiência de envelhecer das mulheres
impessoal. As relações de sociabilidade
pesquisadas no Asilo Padre Cacique
costumam ocorrer nos quartos ou na sala
contribui ao estabelecimento de micro-
de visitas, principalmente quando elas
projetos de distinção social (Bourdieu,
recebem a família ou conhecidos de fora
1979; Velho, 2004). Na medida em que se
do Asilo.
sobrevive às “histórias tristes” e que se
Caminhando pelos corredores da
vive “boas histórias”, é possível elaborar a
ala feminina, surgem oportunidades para
luta contra a senilidade e se afirmar como
Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011 capaz
“comportar
qualquer podem dar início a uma conversa
adequadamente”, isto é, segundo o código
mais longa. Mas, de maneira geral, a
de valorização do foro íntimo e do controle
ambientação sonora dessa ala é bem menos
emocional. É a “velhice como carreira”,
permeada por conversas – como é o caso
nas palavras de Guita Debert (1999), onde
da ala feminina.
alguém
de
se
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manifestações de raiva ou ciúme, a perda
Quando o silêncio dos corredores
do controle sobre as emoções ou até
da ala masculina é rompido por uma longa
mesmo falar mal – ou falar demais – da
conversa ou discussão, um código moral
família podem ser índices de senilidade.
que organiza as trocas verbais funda-se na
Completando a divisão por gênero
honra, senilidade e respeito4. Ainda que o
do Asilo Padre Cacique, à direita da
quarto seja lugar privilegiado de disputas e
entrada da instituição encontra-se a ala
conflitos pessoais, é nos corredores que
masculina. Nos corredores, há certos sons
eles
que diferenciam esse lado em relação à ala
identidades e trajetórias sociais. Distinções
feminina: são tosses, pigarros e conversas
que
resmungadas sobre o frio – “que derruba o
abertamente conforme os anos vividos, a
cara”. Não que o frio não afete ambas as
força física, a sanidade mental, classe
alas do asilo: é a própria peculiaridade de
social e a proximidade com a direção do
habitação do espaço que define essa
Asilo.
afirmam
organizam
diferencialmente
hierarquias,
suas
definidas
ambientação sonora. De maneira geral, os
No caso da honra, o que está em
corredores do Asilo configuram-se como
questão é a virilidade. Força, ação, “dar no
espaços
por
couro” são qualidades sistematicamente
oposição ao espaço privativo e íntimo do
colocadas a prova pelos pares. Ao mesmo
quarto. Porém, os homens habitam esse
tempo – e é aqui que entra o respeito –,
espaço diferentemente das mulheres. Eles
toda virilidade precisa ser justificada. Não
costumam sentar-se em cadeiras dispostas
basta afirmar que ainda se é capaz de “dar
ao longo dos corredores, mas passam boa
no couro”: é preciso apresentar uma
parte de seu tempo calados. O jardim que
namorada ou sair a noite para ir num bar
fica em frente está sempre vazio. O
ou bordel. No caso da força, a corpulência
silêncio é dominante, sendo rompido
conta antes de tudo. Mas não só ela:
geralmente
pigarros.
mesmo um homem considerado magro ou
Certamente, quando um colega de asilo,
um pouco mais fraco pode “falar alto” e
um voluntário ou um funcionário passa por
impor respeito. Se esse “falar alto” for
perto,
acompanhado pela proximidade a alguma
públicos
uma
por
e
impessoais,
tosses
saudação
e
ou
reclamação
Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011 figura de prestígio – o diretor do asilo, por exemplo
–,
mais
significativa
é
a
provável a todos aqueles que alcançarem a mesma idade.
“presença” (física, simbólica) do idoso frente
a
compreensão do cotidiano do Asilo Padre
pelo
Cacique, o refeitório localiza-se na ala
respeito das normas internas da instituição.
masculina e abriga a função imediata de
É preciso se mostrar valente, mas jamais
oferecer alimentação para todos os idosos
ou quase nunca recorrer ao uso da força.
que não estão acamados – uma vez que as
Afinal, as agressões são proibidas no Asilo
enfermarias têm seu próprio sistema de
sob pena de expulsão.
nutrição. Porém, qualquer sugestão de
da
pares.
Finalmente,
Terceiro espaço fundamental na
a
justificação
seus
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virilidade
passa
Como pano de fundo desse código
evento extra-cotidiano a ser realizado no
moral pela honra e o respeito, encontra-se
Asilo, como jogos ou festas, tem no
o controle das emoções. Se é preciso
refeitório a sua primeira opção de lugar. A
justificar a virilidade, isso se explica
explicação da equipe técnica é simples:
também porque toda perda de controle
dada a dificuldade de reunir os idosos,
pode ser avaliada pelos pares como uma
aproveita-se os momentos do dia em que
perda prematura de sanidade. Assim
eles se encontram agrupados em grande
considerado, o descontrole emocional pode
número.
se desdobrar em “brincadeiras de mau
Após cada refeição, abre-se um
gosto”. Diz-se de um colega que ele “se
espaço potencial para sociabilidades, jogos
mija nas calças”, que “mal consegue
e festas, que interrompem o dia-a-dia asilar
lembrar o nome dos filhos” ou ainda “que
e
está sempre esperando a irmã que já
diferenciados. O espaçamento entre as
morreu”. Tais “brincadeiras de mau gosto”
atividades
servem não apenas para desqualificar o
condições mínimas para a prática de
colega senil, mas para afastar a própria
lazeres no Asilo, como ocorreu na própria
ameaça simbólica da senilidade. Por outro
fundação
lado, os “mais velhos” – isto é, que têm
(Dumazedier,
2004).
setenta anos ou mais –, costumam ser
sociabilidade
e
objeto de tolerância em relação ao controle
momentos privilegiados, extra-cotidianos,
das emoções. Eles também podem ser
que liberam energia para a deliberação e
“respeitados” mesmo estando senis, porque
formulação de projetos (Huizinga, 1973).
os anos vividos justificam a condição física
Por essas interrupções e deliberações, a
ou mental debilitada – servindo de destino
experiência de envelhecer no asilo percorre
demarcam
instantes
cotidianas
da
durações
proporciona
“Cultura
o
e
Os lúdico
do
as
Lazer”
lazeres,
a
organizam
Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011
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outros ritmos no refeitório, que contrastam
esforço de afirmar a sanidade mental e a
com os tempos vividos nos quartos e
consciência
corredores do Asilo.
envelhecimento.
da
condição
de
As formas de sociabilidade têm
A experiência de envelhecer no
uma orientação própria, que as diferencia
Asilo Padre Cacique revela seus elementos
de outras formações sociais: sua finalidade
mais dramáticos no espaço da enfermaria.
é
Com efeito, pensar o cotidiano asilar
a
própria
associação.
Ainda
que
determinados elementos da vida social se
significa
façam presentes durante os momentos de
imprevisibilidades do cotidiano, os limites
sociabilidade, como a disputa por posições
impostos pelo próprio corpo e pelos corpos
e distinções, eles não são decisivos para as
dos outros, os projetos de continuidade e as
livres
reflexões sobre o passado, o presente e o
associações
entre
grupos
e
colocar
em
Descrever
interpretar
as
indivíduos (Simmel, 1983). Tendo um fim
futuro.
em si mesmas, as formas de sociabilidade
imprevisibilidades,
criam “mundos artificiais” que, no caso do
reflexões no espaço da enfermaria implica
Asilo Padre Cacique, se contrapõem ao
em retomar a problemática da morte e da
“mundo da velhice” (Graeff, 2005, 2007,
doença – fatos da existência, como diria
2011).
Elias
(2001)
e
contraste
limites,
–
no
projetos
processo
tais e
de
Tal contraposição, contudo, não
envelhecimento. Porém, vale lembrar que,
implica em uma mútua exclusão. A
ao contrário dos hospitais, que dissecam a
celebração de um noivado no refeitório
morte e a doença em pequenas etapas e
demonstra como o caráter artificial das
afastam o moribundo de seus grupos de
festas
no
referência (Ariès, 1975), as enfermarias do
“mundo da velhice”, marcado também por
Asilo fazem parte do espaço social mais
fantasias, promessas e projetos sociais
amplo
muitas vezes inverossímeis aos olhos dos
necessariamente no rompimento com as
colegas de Asilo, que procuram afirmar um
relações afetivas estabelecidas com outros
senso de realidade. O cotidiano do Asilo
moradores.
e
sociabilidades
repercute
Padre Cacique é marcado tanto por dramas,
–
Os
e
adoecer
técnicos
e
não
implica
técnicas
de
tragédias e fantasias quanto por momentos
enfermagem relatam que, se comparadas as
de festa, jogos e sociabilidade. Mesmo que
experiências de quem trabalha em hospitais
as “fantasias” sejam um dos elementos
com as de quem trabalho no Asilo, o risco
fundamentais do “mundo da velhice”, a
de sofrimento é maior nesse último caso,
oposição ao senso de realidade é um
em razão da intensidade dos contatos
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cotidianos. Além dos casos de idosos que
A construção social da experiência
passam anos nas enfermarias, dada a
de envelhecer no Asilo Padre Cacique se
fragilidade de suas condições, há aqueles
inscreve,
que se curam, retornam aos seus quartos e
cotidianos e a finitude daqueles que ali
continuam participando do dia-a-dia dos
residem.
trabalhadores da enfermaria, que podem
elaboram tudo isso? Quais os limites de
encontrá-los nos corredores do Asilo, no
sua produção dos sentidos do envelhecer
refeitório ou em atividades de lazer.
numa instituição asilar? E como o discurso
Portanto, há sempre uma certeza velada de
gerontológico se inscreve nessa produção?
que, apesar das curas e recuperações, a
Os
morte e a doença participam e conformam
oferecerão algumas respostas a essas
os limites da experiência de envelhecer de
questões. Tratam-se de dois pontos de vista
todos os moradores do asilo.
diferentes, mas que se articulam a partir de
portanto,
Mas
testemunhos
entre
como
de
os
ritmos
essas
Carlos
pessoas
e
Luísa
um mesmo quadro social: o processo de O Trabalho da Memória como
asilamento e os elementos trágicos do
Elaboração do Presente: dois pontos de
processo de envelhecer, tais como o
vista sobre a velhice no asilo
afastamento em relação a parentes, amigos ou vizinhos, a perda da posição na
Os
diversos
espaços
asilares
hierarquia social e o estranhamento do
facilitam ou dificultam as formas de viver
próprio
o processo de envelhecer em instituição.
transformações pelas quais este passou, de
Com efeito, ritmos diferentes se impõem
maneira súbita ou gradual, ao longo de sua
segundo os lugares e as práticas, estando
existência.
intimamente relacionados às experiências
corpo
em
virtude
das
Os pontos de vista sobre a velhice
de habitação dos espaços: se nas alas
no
Asilo
Padre
Cacique
que
serão
masculina e feminina o inverno e o verão
apresentados aqui resultam de uma série de
dão o tom das relações, no refeitório, local
entrevistas e encontros informais com
privilegiado da sociabilidade, a sineta
Carlos e Luísa e foram concebidos como
convida à reunião. Nas enfermarias, o
um nexo significativo entre suas trajetórias
tempo apresenta sua faceta inexorável: as
de vida e o momento no qual eles se
mortes e doenças afirmam que os ritmos
encontravam durante a pesquisa. Portanto,
sucessivos do corpo não durarão para
entende-se que esses pontos de vista são
sempre, transformando-se até atingir a
contextualizados e condicionados pelo
imobilidade.
Asilo, conforme suas regras, possibilidades
Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011
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e proibições. Dito de outra maneira, ao
Carlos nasceu em 1930 na cidade
propor uma perspectiva sobre o seu
de Caxias do Sul e morava no Asilo Padre
processo de envelhecer em contexto asilar,
Cacique desde maio de 2003. Estar no
o
está
Asilo, para ele, era a garantia de sua
compartilhando seu cotidiano com o
sobrevivência. Após ter passado por um
pesquisador
acidente
idoso
institucionalizado
e,
ao
mesmo
tempo,
doméstico,
escorregando
e
demonstrando como é possível jogar com
batendo o joelho, e sofrendo uma isquemia
as normas e as necessidades impostas por
cerebral, Carlos passou a utilizar uma
sua experiência de asilo5.
cadeira de rodas para se locomover. Ele
Os roteiros das entrevistas foram
necessitava
de
cuidados
médicos
primeiro
freqüentes – “eu to vivo graças a minha
encontro, propunha-se o seguinte: “gostaria
vinda pra cá”. Esses eventos, porém, não
que você me contasse um pouco de sua
afetaram sua capacidade de reflexão.
vida e sobre sua vinda para o Asilo Padre
“Livreiro de profissão”, como dizia, muitas
Cacique”. Essa sugestão procurava deixar
vezes ouvi-o discorrer sobre Darwin,
em aberto a possibilidade de iniciar a
Engels e alguns outros autores ligados à
narrativa pela situação atual de asilamento
temas de seu interesse, revelando uma
ou por histórias e dramas vividos no
longa trajetória de trabalho ligada à
decorrer da trajetória de vida. O início, os
comercialização de livros.
semi-estruturados:
para
o
pontos de amarração e o final da narrativa
Meus primeiros encontros com
são dados fundamentais para compreender
Carlos não foram muito animadores. Ele se
as formas pelas quais o sujeito trama
interessou pela pesquisa antropológica e
sentidos sobre sua experiências vividas,
propôs
produzindo um “artefato verbal”, nas
história e evolucionismo biológico. Era
palavras de Pierre Bourdieu (1999). Para o
época da observação participante e eu
segundo
um
perseguia um corpo de interesses que não
diagrama da trajetória de vida narrada na
envolviam tais discussões – na verdade,
entrevista anterior, que serviria como
procurava
ponto de partida para aprofundar alguns
informantes
pontos da trajetória ou para pensar o
asilamento repercutia em suas narrativas de
cotidiano
asilar.
vida.
relacionar
as
encontro,
formulava-se
Procurou-se,
experiências
assim,
sobre
estabelecer cuja
Porém,
sociologia,
relações
condição
procurei
com
atual
de
refletir
à
metodologicamente sobre esse desconforto
condição presente, marcada pelo processo
e acabei descobrindo em Carlos um
de envelhecer no Asilo.
vividas
discussões
Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011 importante interlocutor para refletir sobre o processo de envelhecer no Asilo. Após
a
primeira
P á g i n a | 13 Ao contrário de seu pai, que foi
funcionário
público,
Carlos
deu
entrevista,
seguimento a um estilo de vida de
realizada em uma mesa do refeitório
formação cultural. Através da literatura, ele
próxima à televisão, fomos obrigados a
teve acesso a visões de mundo balizadas
esperar três semanas, período no qual
por valores “vanguardistas”, “de esquerda”
Carlos se recobrou de uma cirurgia.
e “marxistas”, circulou entre
Terminada a recuperação, marcamos a
“boêmios”, que “trocavam a noite pelo
segunda entrevista, que se passou na área
dia” e descobriu que “livro é uma
do corredor em frente ao se quarto: é ali,
cachacinha que tu pega e te vicia”. O
principalmente no inverno, que Carlos faz
acesso a esses bens simbólicos não se deu
suas siestas após as refeições, aproveitando
através de uma trajetória universitária,
o sol.
própria de camadas médias, mas pelo A segunda entrevista iniciou com
ofício
de
livreiro.
Para
grupos
Carlos,
relatos sobre sua juventude, em Caxias,
comercializar livros foi a oportunidade de
onde viveu por pouco mais de vinte anos e
unir sua “curiosidade pela área humana”
militou em movimentos estudantis. Na
com remuneração, além de possibilitar
década de 1950, duas razões o teriam
circulação por grupos sociais que lhe
levado para Porto Alegre: a “perseguição
seriam inacessíveis, como os movimentos
política” que ele estava sofrendo em sua
estudantis.
cidade natal e o “amor platônico” que
Sobre sua vinda o Asilo, Carlos
mantinha como uma moça da Capital. A
sempre a definiu como algo necessário,
militância, porém, suplantou o romance.
quiçá desejável. Sua condição de invalidez,
Após dois anos, Carlos rompeu a relação –
somada
que tinha se transformado em noivado –
financeiras, não lhe deixaram alternativa
considerando-a um possível “entrave a sua
que não fosse a institucionalização. Porém,
liberdade”. Além disso, constituir família
a escolha do Asilo Padre Cacique foi uma
nunca foi uma aspiração: “comecei a
conquista baseada nas relações de amizade
analisar também os problemas de outros
e reciprocidade estabelecidas no decorrer
que eu conhecia, (...) meu pai e minha mãe,
de sua trajetória social. Não se trata,
que casaram, viveram tantos anos e se
portanto, de uma situação fortuita, mas do
separaram (...). Ia acontecer comigo a
resultado do processo de negociação com a
mesma coisa, então não adiantava, não
realidade. Como ele mesmo disse, foi
queria casar”.
preciso “aproveitar do momento”. Aliás,
às
limitadas
possibilidades
Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011
diferente... Vim assim na época dizendo:
em suas reflexões, foi ele quem melhor encadeou
uma
seqüência
P á g i n a | 14
“é o paraíso”. O que me trouxe pra cá foi
de
isso. Eu to vivo por aqui graças a minha
acontecimentos que o levaram ao Asilo:
vinda pra cá, isso eu tenho que dizer.
Eu morava no interior, na praia. Eu vim
Tendo
pra cá, uns dez dias depois eu machuquei o
alcançado
uma
certa
joelho. No banho. Tomando banho, o piso
estabilidade em sua condição de saúde,
lisinho, lisinho, molhado e eu escorreguei,
Carlos retomou a atividade que havia lhe
me fraturou o joelho. Ao fui pro Pronto
conferido status social diferenciado em sua
Socorro, fiquei uns onze dias lá dentro do
trajetória. Desde 2003, quando chegou à
Pronto Socorro. Tinha uma série de coisas aqui que eu não sabia mais, tava dez anos
instituição, vem contribuindo diretamente
fora de Porto Alegre. “então nós vamos te
para
botar na Sociedade Emanuel” disseram.
biblioteca do Asilo – ainda que ela esteja
Foi a pior viagem que eu fiz até hoje (...).
localizada no subsolo, local de difícil
Passei quatro, cinco meses lá. Daí saí
acesso para quem necessita de cadeira de
capengueando, vim pra encaminhar minha aposentadoria – que foi uma briga também
a
manutenção
e
expansão
da
rodas para se locomover.
– consegui e fui indo. Até que me deu
É no refeitório, porém, que Carlos
uma isquemia cerebral e aí fui pra uma
costuma passar boa parte do seu tempo.
geriatria dum cara ali, que era bom... Mas
Cinéfilo,
ele
eu tava sempre sentado na cama ou
infância
para
deitado, sentado ou deitado, fiquei uns quatro, cinco meses ali. E aí eu lutei pra vir
localiza
lembranças
explicar
seus
de
gostos,
contando que seu pai era sócio de uma
pra cá. Um amigo meu, que teve esses dias
empresa cinematográfica e ele podia
aqui até, digo: “pô, fala lá, eu quero vir, dá
assistir gratuitamente, várias vezes por
um jeito de vir pra aqui mesmo, que aqui
semana,
fica perto do centro” (...). A SPAAN eu não queria, lá eu tinha facilidade, mas não... Em último caso, iria na SPAAN, né?
os
filmes
que
a
empresa
financiava. Em Porto Alegre, chegou a trabalhar com cinema na década de 1960:
Aí pensei, mas tem um cara, o Ibsen
“fiz várias amizades, como o Romeu
Pinheiro, que me conhecia...aí o Ibsen
Grimaldi, que era diretor do Bristol lá no
Pinheiro trabalhava no Estado aqui, como
Bom Fim. (...). Tinha mais o Gastal, que é
assessor de imprensa (...). Aí o Ibsen na
o nome da outra sala, a P.F.Gastal. E
mesma hora pegou o telefone, telefonou pra cá, decerto falou com a Cristina ou com seu Júlio, não sei com quem. Uns dias
outros tantos, que não me vêm na memória e que eu conheci.”
depois me entrevistaram, aquela coisa
No Asilo, as televisões, rádios e os
toda, aí vim pra cá... Aí foi outra coisa, fui
jornais cumprem a importante função de
pra
outro
mundo,
completamente
Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011
P á g i n a | 15
mediar relações entre os moradores e o
máquina de escrever. Até que um belo dia,
mundo exterior. As imagens comunicadas,
os computadores chegaram e mataram a
acústicas
profissão completamente. (....). E o cara
e
visuais,
amenizam
a
experiência de ruptura simbólica com os
não teve tempo de se adaptar.”
grupos de referência. Para Carlos, elas
A morte social de uma profissão é
servem ainda como uma ponte de ligação
sinal da vertiginosa transformação dos
com os espaços afetivos da memória. Ao
ritmos da vida contemporânea. Como seria
asseverar
possível para Carlos, ou para qualquer
seu
gosto
relacionando-o
a
por
lembranças
filmes, sua
outro velho asilado, sobreviver a esses
infância e juventude, ele está conformando
ritmos? É nessa reflexão sobre o tempo que
marcos
ele
identitários
e
de
afirmando
a
inscreve
a
impossibilidade
de
continuidade de seu estilo de vida, apesar
ultrapassar o asilamento: “Então não tem
do asilamento e da velhice.
nada mais pra gente construir, na realidade.
Conjugadas as dramaticidades da
Com a tecnologia que tá aí, vai te
vinda para o Asilo e a disputa simbólica
encurtando, cada vez mais o teu caminho.
pela habitação do espaço do refeitório,
A vida mudou toda, né? Hoje tá tudo
Carlos
mudado... Emprego é só pra quem é jovem
investe
suas
motivações
no
cotidiano asilar. “Não dá pra lutar lá fora”,
e tá estudando. Não dá pra tu te adaptar”.
diz, referindo-se ao não-lugar do velho no mercado
de
trabalho.
Não
O caso de Luísa é bastante diferente
havendo
do de Carlos. Nascida em 1931 no
perspectiva de emprego, tampouco haverá
município de Mariana Pimentel, no Rio
projeto realizável de retornar aos espaços e
Grande do Sul, ela veio morar no Asilo no
grupos de referência ou da constituição de
início de 2005. Fomos apresentados em
novos, tendo em vista os custos concretos
março do mesmo ano, durante um dos
do envelhecer. Em sua cadeira de rodas,
encontros do grupo de trabalhos manuais.
Carlos reconhece que o asilamento não é
Desde então, quando me encontra, Luísa
um capítulo intermediário de sua trajetória
faz questão de me relatar as últimas
social, mas constitui a etapa final dela: “O
notícias do Asilo e, por vezes, me conduz
cara que vem pra cá, tem que ficar aqui o
ao encontro de alguma “velhinha” que
resto da vida. E é isso aí, mas o que que eu
“está
vou querer lutar lá fora? Não tenho
procurando
condições de arrumar emprego, nem
visitantes, funcionários e moradores do
arrumo nada. (...). Tu vê só, eu tenho um
Asilo, ela foi uma das pessoas que melhor
amigo, ele é mecanógrafo, trabalhava com
compreendeu a pesquisa: “é um trabalho
precisando
conversar”.
facilitar
Sempre
associações
entre
Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011
P á g i n a | 16
que ele está fazendo para apresentar lá
Essa Manuelinha aí. Hoje ela está no
fora. Que ele tem que trabalhar com os
aniversário do filho. O filho dela, não sei se hoje completa 50 anos. Olha, tu não
idosos, conversar com eles, fotografar e
dizes a idade que ela tem. Essa aí é faca na
tudo”, como contou certa vez para o
bota. Essa trabalha na lavanderia, ela sai e
professor de dança.
faz as compras na rua. É uma pessoa ativa
foram
(...). A minha irmã, que eu cuidei, foi aos
realizadas na sala de visitas. Foi ali que
92 anos. Mas, se ela ficava na cama! Essa
As
duas
entrevistas
hora ela estava lá vendo o movimento da
Luísa me contou de sua trajetória de
estrada,
da
faixa.
Quantos
ônibus
trabalhadora doméstica e fez questão de
passavam. Ela queria ver movimento. É o
destacar os anos de serviços prestados a
meu caso: eu tive na cozinha até a hora da
importantes famílias do Estado – “fui em
ginástica. Servi água para os velhinhos. Saí
quem criou aquelas crianças”, disse.
da ginástica e chegou a hora do almoço. Agora ajudei na louça, fui lá na roupa.
Sempre envolvida em alguma atividade,
Estendi umas roupinhas (...).Eu acho que
nunca deixou de atualizar seus saberes
esse é o viver, tu não achas?
práticos no cotidiano do Asilo: quando a entrevistei, ela disse já haver trabalhado na
Em seu cotidiano, Luísa procurava
cozinha e na lavanderia e que poderia até
“manter-se ativa”: promovia encontros
limpar o seu quarto, mas “aqui tem essas
entre voluntários e os “velhinhos” e
funcionárias que fazem o serviço”.
trabalhava na cozinha, na enfermaria da
Recém-chegada no Asilo, Luísa já
Ala Feminina e na lavanderia do Asilo.
assumia posições morais claras sobre a
Com efeito, ela parecia estar o tempo
instituição
inteiro
e
sobre
a
velhice.
A
“performatizando”
práticas
responsabilização do indivíduo por seu
associativas, de lazer e filantrópicas. Nesse
próprio
da
sentido, é interessante notar o vínculo
“reprivatização da velhice” (Debert, 1999)
afetivo que ela estabeleceu junto à
faz parte dessas posições: Luísa falou-me
instituições católicas, como a PUC-RS ou
inúmeras vezes das noções de “atividade”,
o próprio Asilo Padre Cacique, sustentando
“animação” e “disposição”, próprias ao
suas
discurso gerontológico. Ao jogar com tais
carismáticos” (Stiel, 2004) – ela relatou,
categorias, Luísa não apenas inscrevia sua
por exemplo, suas experiências pessoais
visão de mundo nas representações da
com o sagrado a partir de elementos
Terceira
mediadores, como o Padre Marcelo Rossi.
bem-estar,
Idade,
mas
próprio
afirmava
identidade social a partir delas.
uma
ações
em
“valores
católicos
Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011 Outro elemento significativo que explica as práticas sociais de Luísa no contexto asilar refere-se à lógica relacional
P á g i n a | 17 Difusora “Um Novo Dia Começa Para Ti”, aquele programa com Frei Renato. E foi lá que noticiaram a morte dele. Aí, na mesma hora que eu liguei e ela já me disse:
do apadrinhamento. Pelo que foi possível
“Nós não vamos velar em Guaíba. Vamos
identificar
velar na casa dele” – que é ali onde é o
a
partir
das
observações de
sítio do meu irmão hoje. O genro era um
profundidade, a noção de apadrinhamento
dos da empresa Guayba. Dono da empresa
etnográficas
e
das
entrevistas
que aparece na narrativa de Luísa é
Guayba. Um deles. Uma delas era casada, e depois ele morreu, a coitada é viúva. E
análoga àquela apresenta por Roberto Da
disse: “Vai ter uns dez ônibus Guayba que
Matta (1997): no Brasil, onde as noções de
vão levar o pessoal”. E eu acho que foi uns
indivíduo
e
uma
trinta ônibus. Mas o homem era tão
dinâmica
bilateral,
apadrinhamento
famoso, tão famoso. Para lá não precisou,
pessoa
demarcam o
oferece um tratamento diferenciado em espaços
sociais
onde
operam
todo mundo escutou a rádio já tava sabendo e foi lá.
regras
impessoais ou proporciona a passagem da condição de indivíduo para a de pessoa, posicionando-o na hierarquia social. Quando Luísa narra sua vida e aponta a importância de seus patrões como “homens de poder”, por exemplo, seu esforço é o de se inscrever positivamente no campo social. Falar de pessoas que trabalharam na Petrobrás ou na Rádio Difusora é uma maneira de se autoatribuir uma relevância social, como mostra o exemplo a seguir:
O
caráter
fundamental
dessas
relações para Luísa se expressa no cotidiano asilar. Quando ela promove associações
entre
pessoas,
assume
a
posição de porta-voz em atividades lúdicas e oferece sua força de trabalho para o cuidado com os “velhinhos”, ela está reinventando a lógica do apadrinhamento no Asilo. Agora, é ela quem serve de referência na definição de relações de pertencimento e, por extensão, de posições mais ou menos valorizadas no espaço asilar. Ainda que essa autoridade não seja
Eu tenho uma cunhada, mãe desse rapaz que está na Petrobrás. E as outras duas são
amplamente reconhecida, trata-se de um
minhas grandes amigas. Mas o pai delas
importante signo organizador do processo
era... O meu tinha falecido e ele ficou
relacional entre identidade, memória e
como um pai pra mim. De repente o
imaginação. É através dela que Luísa
homem deu derrame. Deu derrame, e aí a
concretiza seus juízos sobre a instituição.
minha cunhada de Pelotas veio para cuidar (...).No dia que ele morreu, tinha na Rádio
Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011
P á g i n a | 18
Nesse contexto, o papel exercido
das lembranças e do envelhecimento de
por Luísa no Asilo Padre Cacique é
cada asilado. Sem romper com a lógica
bastante peculiar. Afirmando-se como
institucional pautada por normas, espaços
tutora ou madrinha dos “velhinhos”, ela
coletivos e distanciamento em relação à
exclui
os
trajetória social anterior, os residentes
elementos simbólicos que caracterizam o
organizam novos quadros sociais, que
de
sua
autorepresentação
estigma da velhice
–
a doença, a
podem estar pautados tanto por dramas e
desesperança e a proximidade do fim da
tragédias
como
por
situações
vida. Isso fica claro quando Luísa se utiliza
sociabilidade e de solidariedade.
de
da categoria “derrubar” para compreender
Por um lado, a densidade e a
não apenas as vicissitudes da velhice, mas
duração dos tempos vividos no Asilo Padre
para
Cacique dependem dos ritmos apreendidos
justificar
o
esvaziamento
das
atividades lúdicas e a perda da “animação”
e elaborados no interior do asilo.
por parte dos “velhinhos”.
formas de habitar os espaços institucionais,
As
assim como “trabalho da memória” (Bosi, Tá meio brabo pra reunir a turma da
1987; Halbwachs, 1990) realizado em
ginástica. Foram só doze hoje. Sempre iam
situação de entrevista, são expressões do
trinta, trinta e oito, quarenta pessoas. Hoje foram só doze. Está tudo resfriado.
esforço de consolidação da experiência que
Parecem que estão tudo desanimados. É a
cada residente realiza. Por outro lado,
velhice que derruba essa gente. Eu não sei
alguns
se tu não tens notado, que parece que não
discurso
se vê velho na rua. Estão tudo na cama. Eu
igualmente presentes nesse esforço de
estou vendo isso. Seis meses estão fazendo essa semana que eu estou aqui. Eu cheguei
elementos
característicos
gerontológico
se
do
fazem
consolidação. Como foi possível perceber
aqui parece que eu via mais animação.
a partir do exemplo de Luíza e de Carlos, o
Agora parece que está tudo, como é que eu
lazer e as práticas voltadas para o cuidado
vou te dizer? Parece que eles estão... Como
de si são amplamente valorizadas, seja nas
é que eu vou te dizer? (...). É a velhice
narrativas ou no cotidiano asilar.
derrubando...
Considerações Finais
Os acontecimentos sociais que tomam lugar nas diversas dependências do Asilo Padre Cacique conformam os ritmos
Mais
precisamente,
Luísa
se
mostrou com uma espécie de porta-voz de algumas idéias-valor próprias ao discurso gerontológico ao procurar interpretar as condições de vida no Asilo ou ao comentar as práticas de suas colegas de instituição. Participante ativa das atividades lúdicas
Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011
P á g i n a | 19
(canto, dança, trabalhos manuais), ela
reconstrução social da velhice e vem
ainda faz questão de se apresentar como
aplicando uma política de abertura onde o
cuidadora dos “velhinhos”. Quanto a
controle social dos residentes é cada vez
Carlos, seu depoimento corrobora a lógica
menos
de risco que está embutida no cuidado de si
mudanças nos critérios de seleção e nos
6
despersonalizador:
desde
as
característico da “velhice bem sucedida” .
horários de visitas, passando pelo convite à
Como comentado anteriormente, o declínio
participação de familiares e voluntários no
físico não pode ser tomado como uma
dia-a-dia e nas festas do Asilo, até as
situação plástica a ser superada através de
pequenas modificações nos quartos, cada
exercícios e boa alimentação. Ao contrário:
vez menores, privados, proporcionando
em casos como o de Carlos, uma queda
espaços de intimidade.
pode
transformar
completamente
a
experiência de envelhecer.
Em segundo lugar, os próprios residentes se mostraram capazes de refletir
Como se explica o cruzamento
sobre suas práticas e suas condições de
entre ritmos asilares, quadros sociais e
vida. Uma das hipóteses da pesquisa
discurso gerontológico no caso do Asilo
realizada no Asilo Padre Cacique é que o
Padre Cacique? Em primeiro lugar, é
esforço
preciso considerar que as imagens da
interpretação de sentidos, possível em
velhice no Brasil vêm se transformando e,
virtude da redução do controle social
com elas, as práticas de cuidado em
exercido no espaço asilar, permite a
relação aos idosos. Desde o início da
constituição de novas figurações sociais.
década de 1990, circula na mídia impressa
Nesse sentido, as pressões exercidas pela
e televisiva e nos meios acadêmicos e
instituição se tornariam cada vez menos
profissionais voltados ao envelhecimento
necessárias uma vez que os próprios
uma série de idéias-valor ligadas ao
residentes são capazes de avaliar suas
discurso
práticas e de cuidar de si mesmos.
gerontológico.
Ainda
nesse
sistemático
de
produção
e
período, foi promulgado o Estatuto do
Finalmente, é preciso incluir a
Idoso no Brasil, que vem servindo de
participação de voluntários e profissionais
instrumento de reivindicações políticas e
na circulação do saber gerontológico no
para o próprio Estado, que se apóia na Lei
interior do Asilo Padre Cacique. Com
para fiscalizar as instituições filantrópicas,
efeito, as pessoas que se dispõem a
religiosas e privadas de amparo à velhice e
trabalhar ou a prestar serviços voluntário
à Terceira Idade. O Asilo Padre Cacique se
numa instituição asilar são portadoras de
inscreve
um capital cultural atravessado pelas
nesse
contexto
geral
de
Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011
P á g i n a | 20
idéias-valor da gerontologia (Mazza e
evidenciando em análises como as de
Lefevre, 2004). Além disso, os asilos são
Guita Debert e de Simoni Lahud Guedes
muitas
(Debert, 1993; Guedes, 2000).
vezes
objeto
de
práticas
reformadoras (Veras, 1997; Tomasini e
2
Alves, 2007) e costumam servir como uma
em 1881, época na qual a velhice e a
espécie
mendicidade
de
laboratório
para
estudos
Mais precisamente, o Asilo foi fundado
eram
intoleradas
emocionais7.
A
propunha moderna e progressista. Nas
pesquisadores
também
desses
uma
cidade
que
e
comparativos de capacidades funcionais e presença
em
confundidas
se
a
palavras de Sandra Pesavento, “[...] um
circulação do discurso gerontológico no
novo imaginário urbano se constCarlosu
espaço asilar.
em torno da busca de uma cidade limpa,
contribui
Em resumo, as idéias-valor de um
bonita e ordenada (...). Objeto de um
discurso como o da geriatria e da
discurso higienista, que se articulava a uma
gerontologia são capaze de ultrapassar os
política moralizadora, as vivências e
muros de uma instituição outrora definida
territórios dos pobres era tematizada como
como “total” (Goffman, 1974) e de
focos de criminalidade, prostituição e
permear os ritmos asilares e os pontos de
promiscuidade” (Pesavento, 1999, p. 58).
vista sobre o processo de envelhecer em
Em Porto Alegre, o início do século XX foi
asilos. Espera-se que, ao contextualizar os
marcado pela política social de subvenções
moradores do Asilo Padre Cacique no
do governo Borges de Medeiros , que
quadro de seus dramas e de seu cotidiano,
contribui
o presente trabalho venha a contribuir para
continuidade das
evocar o caráter de construção social de
como o Hospital Psiquiátrico São Pedro,
algumas dessas idéias e valores – as quais
fundado em 1884, e a Santa Casa de
não passam muitas vezes de pré-noções
Misericórdia, fundada em 1826. Junto com
ligadas
o Asilo Padre Cacique, essas “instituições
a
representações
da
velhice
para
o
custeamento
grandes
e
instituições,
enquanto problema social.
pias”
tinham a finalidade de atender a
_________________________
indivíduos carentes e, no caso do Hospital
Notas
Psiquiátrico,
“loucos
e
alienados”
(Guzinski, 1995). 1
Por discurso gerontológico, entenda-se
alguns
pressupostos
orientadores
do
3
Na década de 60, a área à frente do Asilo
seria aterrada, dando espaço ao novo
discurso e da prática de geriatras e
estádio
gerontólogos
Internacional, o Beira-Rio.
brasileiros
que
vêm
se
de
futebol
do
Sport
Clube
Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011 4
Define-se honra como um sentimento de
orgulho
ligado
a
afirmação
de
P á g i n a | 21
trajetória singular em detrimento de outras possíveis (Velho, 2004). As entrevistas e
determinadas normas sociais (Pitt-Rivers,
histórias
1979; Fonseca, 2000). O conceito de
configuram, agora, um conjunto de textos:
distinção é pensado a partir de Pierre
trata-se de um narrador – o idoso
Bourdieu (1996; 2001) enquanto posições
institucionalizados
ocupadas no espaço social do Asilo, que
encadeamento entre o presente e o passado,
são constantemente definidas conforme o
entre suas escolhas, seus sucessos e
capital econômico e cultural dos indivíduos
fracassos.
que participam e organizam esse espaço
6
social. A distância entre as posições varia
de
de acordo com as diferenças nos estilos de
autonomizada como objeto, desenha-se o
vida afirmados pelos velhos, seja em seu
modelo que pode ser sintetizado na
cotidiano no asilo, seja em suas trajetórias
categoria “nativa” velhice bem-sucedida.
de vida narradas. Respeito, em Luiz
Na expressão concisa de um dos mais
Fernando Duarte (1987), é uma medida de
atuantes membros da Sala de Espera, um
avaliação dos outros própria das classes
senhor de 77 anos, torneiro mecânico
trabalhadoras urbanas, mas que se faz
aposentado:
presente no espaço asilar. Assemelha-se,
envelhecimento: o de caráter biológico e o
também, à noção de “orgulho pessoal”
essencialmente social. No biológico, quero
formulada por Cláudia Fonseca, enquanto
que Deus me dê saúde e, para ter saúde,
um “esforço de enobrecer a própria
tenho que seguir as orientações médicas e
imagem” (Fonseca, 2000, p.15).
ter uma vida normal, dentro dos meus
5
Para a realização das entrevistas, utilizou-
limites. No social, fazer o possível para
se o conceito de “trajetória social”
estar sempre atualizado. Ter contato com
elaborado por Alfred Schutz (Schutz,
os colegas de grupo, estar bem com a
1979), o que permitiu analisar como o
minha família e com jovens, até chegar o
ponto de vista atual sobre a condição de
meu dia‟” (GUEDES, Simoni L., Op. Cit.,
asilado se relaciona com as escolhas de
p. 77).
vida,
7
preferências
entrevistado. trajetória
era
Na
e
aspirações
medida
narrada,
em foi
que
do a
possível
compreender o “campo de possibilidades” –
limites que permitem determinada
contadas
pelos
entrevistados
–
contando
o
“Ao se propor como objetivo a qualidade vida
dos
idosos,
„Há
numa
dois
velhice
tipos
de
Como exemplos desses trabalhos, ver
Menezes e Marucci, 2005; Félix e Souza, 2009; Araújo, 2007; Lucena et al, 2002
Polis e Psique, Vol.1, n.1, 2011
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Lucas Graeff. Graduado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2004), mestrado em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2006) e doutorado em Etnologia e Sociologia Comparada Université
Rene
Descartes,
Paris
V,
Sorbonne (2010). Atualmente é professor pesquisador do Centro Universitário La Salle.
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Tem
experiência
na
área
de
Antropologia, com ênfase em Memória