ConsPiracy Theory: As mãos invisíveis que facilitam o fluxo de partilha de informação online

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As mãos invisíveis que facilitam o fluxo de partilha de informação online

ConsPiracy Theory: as mãos invisíveis que facilitam o fluxo de partilha de informação online

GONÇALO BRITO, nº59748 Mestrado Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação 2012/2013

1º SEMESTRE Unidade Curricular Culturas Digitais, Fãs e Web 2.0 Docente Prof. Jorge Vieira

1 | Gonçalo Brito

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ENQUADRAMENTO Este artigo tem como objectivo a análise e reflexão sobre o actual fenómeno de partilha ilegal de conteúdos, comummente referenciado como “Pirataria”. Mais especificamente, este artigo pretende levantar um pouco o véu sobre quem são os facilitadores dessas plataformas de partilha ilegal. Sites de partilha peer to peer (P2P) como o Pirate Bay ou o Emule, e de streaming gratuito de filmes, séries televisivas e música, como o Wareztuga, o OEX7 ou o Grooveshark (e incontáveis outros), apresentam uma organização de base de dados irrepreensível – melhor do que muitos sites legais – e denotam requerer muito trabalho de manutenção e uma disciplina exemplar. Qual a motivação das pessoas que trabalham nestes sites? Como são suportados os custos de manutenção? Como é possível estas plataformas existirem sequer, quando estão a contribuir para disseminação ilegal de conteúdos protegidos por direitos de autor? O que ganham estes “João sem medo” com isto? E qual o papel destes actores sociais anónimos que constroem e reconstroem a network society?

NO PRINCIPIO ERA A PARTILHA Partilhar informação é uma acção basilar à condição de ser humano pois não existe comunicação plena sem partilha. Até mesmo quando oferecemos a alguém uma flor em silêncio ou lhe explicamos uma ideia oralmente estamos a partilhar informação. Não é, portanto, de espantar que a história da nossa espécie esteja marcada pelo desejo de criar formas cada vez melhores e mais eficientes de partilhar informação. É por isso que não podemos olhar para a internet como algo que surgiu subitamente para mudar profundamente o nosso mundo. “Contemporary P2P systems are the product of technological developments reaching back to the arrival of the Internet some 40 years ago. Yet file-sharing is also grounded in a much older social tradition of commoning that stretches back centuries. The historical conflicts between commoning and commodification have always been about the relative independence of laborers from the wage relation and access to the surpluses of social production (Neeson, 1996)” (Caraway, 2012). A internet e a web são o culminar actual do aperfeiçoamento do processo de partilha que tem vindo a ser levado a cabo desde que a tecnologia passou a ser usada em sua função. O segundo episódio da série documental “Steal This Film” resume aquilo a que podemos chamar a história “moderna” da partilha na Europa e nos Estados Unidos, ao relembrar exemplos históricos do referido desejo de partilhar (e por conseguinte de consumir) informação. É explicado como, até ao século XV, a maior parte da informação escrita era registada e quase exclusivamente consumida pelos escribas. A 2 | Gonçalo Brito

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esmagadora maioria da população era deixada na ignorância (o livro “O Nome da Rosa”, de Humberto Eco é discutivelmente o trabalho de ficção mais popular a este respeito). Contudo, o desejo de partilha não pode ser contido e, com efeito, Gutenberg surge com a prensa móvel, uma invenção que por volta do ano de 1440 revolucionou o acesso à informação ao permitir a cópia (e consequente distribuição) de livros. Na altura, como hoje em relação à partilha de certa informação na internet, as classes que detinham o poder viram esta revolução como uma ameaça à sua soberania e responderam com a criminalização e perseguição de todos aqueles que se envolvessem na cópia e partilha de publicações. Como é sabido hoje, essa repressão apenas serviu para aguçar o engenho dos “piratas” que ao longo do tempo desenvolveram todo um mercado paralelo de distribuição de informação que se estendeu pela Europa. Por alturas do século XVIII, a proliferação dessa “pirataria” esteve na base do iluminismo e na formação de elites intelectuais que legitimaram a chamada opinião pública, expandiram os direitos civis e reduziram a influência da Igreja e da Nobreza. Uma das maiores demonstrações de consequências reais influenciadas pelo livre fluxo e partilha de informação é talvez a Revolução Francesa que ocorreu entre 1789 e 1799. A resistência a novas e melhores formas de partilha de informação continuou. O surgimento da possibilidade de gravar som, criada por Thomas Edison em 1877, foi vista pelas pessoas do meio musical como uma ameaça aos direitos de autor e aos concertos, que eram então o seu principal ganha-pão. A ideia de não serem pagos por cada vez que alguém ouvisse a sua música era difícil de aceitar. As indústrias da Televisão e do Cinema têm também estado no centro da resistência às novas e inovadores formas de partilha. Quando emergiu na década de 1970, a televisão por cabo foi acusada de ser uma prática de partilha de informação desviante e foi prontamente combatida. E a proliferação dos gravadores de vídeo VHS foi por muito tempo vista como um perigoso inimigo da Televisão e do Cinema. Jack Joseph Valenti, então presidente da Motion Picture Association of America (MPAA), chegou mesmo a afirmar, em 1982, que “I say to you that the VCR is to the American film producer and the American public as the Boston strangler is to the woman home alone.”

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NO PRESENTE É A PARTILHA “Quando vento da mudança sopra, uns constroem paredes, outros constroem moinhos.” Provérbio chinês. Não deixa de ser curioso observar como todos os exemplos de partilha de informação referidos vieram a ser apropriados e tornados em negócios lucrativos. Negócios, esses, que estão hoje em declínio, em benefício do surgimento de uma forma ainda mais eficaz e democrática de consumir e partilhar informação: a internet. Mas existe uma diferença fundamental entre as plataformas de partilha passadas e a internet. Enquanto a informação copiada e partilhada gerava novos modelos de negócio (venda de livros, venda de discos, acesso pago à televisão por cabo) – em especial devido ao facto de serem produtos físicos – actualmente a informação tem um formato imaterial, sendo acedida por parte de qualquer pessoa do planeta de forma instantânea e, acima de tudo, gratuita. E porque estas variáveis são novas e este é um fenómeno recente, ainda ninguém percebeu exactamente como o explorar comercialmente – à excepção de alguns parcos casos de sucesso que infra analisaremos. A verdade é que as evoluções tecnológicas conjugadas com a ânsia de partilhar mais e melhor, não ficam, nem nunca ficaram, estagnadas à espera que os “detentores” dos mercados de informação fornecessem soluções à altura. Ainda por mais quando houve uma recusa, que vigorou até ao final do século XX, da indústria musical, em adaptar-se a este novo paradigma de partilha e consumo de música, que resultou no seu próprio declínio. É como se dissessem aos utilizadores: “Pessoal, ninguém toca em sites como o The Pirate Bay ou o wareztuga até nós percebermos isto e descobrirmos uma forma de vos cobrar por isto”. Porque os emissores e receptores de informação são, muitos deles, altamente literados em assuntos digitais e têm agora acesso a uma rede que não está sujeita a hierarquias e que funciona em tempo real, se não é apresentada uma solução “oficial” que se ajuste aos desejos das pessoas, então as pessoas criam-na. “Pierre Levy coined the term, collective intelligence, to refer to new social structures that enable the production and circulation of knowledge within a networked society. Participants pool information and tap each other’s expertise as they work together to solve problems. Levy argues that art in an age of collective intelligence functions as a cultural attractor, drawing together like-minded individuals to form new knowledge communities.” (Vieira, 2012).

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Castells evidencia também esta questão, referindo que "It is mass communication because it reaches potentially a global audience through the P2P networks and internet connection. It is multimodal, as the digitization of content and advanced social software... allows the reformatting of almost any content in almost any form, increasingly distributed via wireless networks. And it is self-generated in content, self-directed in emission, and self-selected in reception by many that communicate with many." (Castells, 2007). Mas algures no turbilhão que é a partilha de informação via internet, estão aqueles dispostos a quebrar regras e a construir e a gerir religiosamente as plataformas que facilitam essa troca de informação. Mais especificamente, pessoas que facilitam a partilha de música, filmes e livros (entre outros bens digitais) protegidos por direitos de autores e leis desajustadas para lidar com o novo paradigma da internet. Para compreendermos um pouco mais sobre o que move estas pessoas, vamos olhar para dois casos concretos, um internacional e um português.

O CASO THE PIRATE BAY A The Pirate Bay é possivelmente a plataforma facilitadora de partilha ilegal mais famosa do mundo. Trata-se de um site sueco que lista magnetic links que permitem partilhar ficheiros em regime de Peer to Peer (P2P), recorrendo ao protocolo BitTorrent. O website foi fundado em 2003 por quatro pessoas, o relações públicas Peter Sunde, o programador Fredrik Neij, o especialista em computação Gottfrid Svartholm, e o empresário Carl Lundström. Numa entrevista concedida em 2008 ao programa BBC Click, Frederik explica que o site foi criado sem um “grande” propósito em mente “We didn’t aim at all. At first the site was just in Swedish and then we realized 80% of our visitors were foreign.” Peter viria a elaborar sobre esta ideia em 2011, quando entrevistado pelo site StrategyEye: “The problem is that Pirate Bay was not meant to be some sort of big website, it was just meant to be a place for Swedish people to share files, as they were in every other country, but in the end everyone else closed and that’s a bad thing. I’m not happy Pirate Bay is the only one surviving all these legal battles, because there needs to be other people taking responsibility for the community.” Parece existir uma certa ingenuidade e visão romântica do mundo por trás das motivações dos criadores de The Pirate Bay. Quando questionado sobre a legitimidade de copiar material protegido por direitos de autor, Fredrik explica que “I think it’s ok to copy. They get money from so many places that sales are just a small part. Take the latest Bond movie: what car was it? Oh it’s a BMW! His phone is a Sony Ericsson. I don’t think that’s a coincidence, I think they got a shitload of money for having those 5 | Gonçalo Brito

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products in the movie.” Peter, por seu lado, defende que se está nas tintas para o facto de aquilo a que está a aceder, e a que ele facilita o acesso, ser ou não legal, e que deve ser ele a decidir o que descarrega. “I don’t care. I download it if I want it. I take it because I can. It might be immoral to some people but I think it’s up to me to decide. (…) Everybody does it, everybody wants to download movies, so, the public opinion should be what is legal. Nobody is crying that people who used to go around selling ice don’t have a job anymore because of the fridge. It’s stupid, but it’s the same thing. Technology has changed, you can’t go back, there’s no way to go back, and I think there’s no will to go back.” No entanto, com o passar do tempo – e após diversos problemas para com a lei –, a postura do quarteto tornou-se mais rebelde e politizada. No primeiro episódio do documentário “Steal This Film”, Gottfrid deixa claro que “I see the Pirate Bay as a sort of organized civil disobedience, to simply force a change of the current copyright laws and the copywrite climate”. Fredrik é peremptório ao afirmar que “You don’t own the internet, we the users do.” Este tipo de sites é frequentemente criticado pelo facto de explorar receitas publicitárias, aproveitando-se de tráfego que apenas existe graças a conteúdos sobre os quais os donos do site não têm direito. Quando confrontado com essa questão em 2011, em entrevista para o site StrategyEye, Peter admite que houve tentativas de explorar o The Pirate Bay comercialmente, mas que as coisas não correram como esperado: “It’s never been a profitable system; if you put up ads on Pirate Bay you will get a call the day after, or maybe an hour after, from some lawyer working for Hollywood or the record industry saying that you’re financing possible copyright infringements that they’ll sue you for. So there are always sh*t ads on Pirate Bay and essentially they don’t pay. It’s been a big loss as a project when it comes to finance, which is good actually.”

O CASO OXE7 O OXE7 é um site português de streaming gratuito de filmes e séries televisivas e de download de música, videojogos e software em geral. Para melhor fundamentar o argumento apresentado neste artigo, realizei uma entrevista com um dos membros da equipa que gere o site (não identificado). Embora o entrevistado não seja fundador do site e não saiba por isso o que levou à sua criação, explicou amplamente o que o motivava a dedicar-se ao site: “Eu diria que a principal motivação é a convivência com o grupo de trabalho no site, e a interacção com todo o público. Recebemos muitos comentários negativos de gente que não dá qualquer valor ao trabalho porque já dão o site como valor pessoal adquirido. E quando este lhes é “retirado” por qualquer razão, reclamam como se 6 | Gonçalo Brito

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estivessem a ser roubados. Mas também existem muitos comentários que nos deixam extremamente realizados com o trabalho feito. O desafio de nos mantermos “no topo” é também uma motivação para continuarmos com o site e sempre a melhorar. Ao contrário do que muitos pensam, o factor económico não é o factor mais importante.” Não obstante o desdém económico, um site como o OXE7 tem custos de funcionamento que, assegura o entrevistado, são suportados através da exploração comercial de publicidade. Mas nem tudo são rosas: quererão as marcas estar associadas a um site com uma natureza legalmente polémica como este? “Porque razão deviam temer? Afinal de contas, quem anuncia quer resultados… O tráfego que nós “entregamos” não é nenhuma escumalha da sociedade. Existe de facto gente que prefere manter-se afastado, mas nós normalmente recorremos a sites que aceitam sites do tipo warez para publicidade. Muito raramente lidamos com o anunciante directamente. O problema é que a publicidade neste tipo de sites é muito mal paga. Se sites como o Google aceitassem o nosso tipo de sites, muitos dos comentários que recebemos sobre os valores que ganhamos seriam verdadeiros. O que acontece é que as empresas que permitem este tipo de sites aproveitam-se, pois ou são eles ou não é ninguém. Entre eles, temos que escolher o que paga melhor, mas mesmo o melhor paga mal. No Google existem anúncios que, por clique único, pagam tanto como nos pagam a nós por cada mil. Por isso nós temos que produzir mil vezes mais para termos os resultados de sites bem pagos.” “Trabalhar” parece ser mesmo a batuta que guia o espírito da equipa do OXE7. Mesmo quando falamos de problemas legais, a resposta vai ao encontro do brio profissional e da dedicação. “Nunca tivemos nenhum tipo de processo associado ao nosso site. Nunca tivemos que recorrer a nenhum representante legal. Normalmente também evitamos arranjar problemas com conteúdos nacionais. (…) Preferimos trabalhar e ter reconhecimento, com o mínimo de polémicas possíveis, pois acreditamos que no trabalho é que está a base para o sucesso.” Para o entrevistado parece claro que trabalho é trabalho, independentemente da natureza legal ou moral desse ofício. Trabalho, preços e inovação como veículo para salvaguardar o futuro de indústrias como a da Música e a do Cinema. “Os preços são uma das principais causas para a falta de consumo... Mas parece que nós é que somos os culpados por as editoras estarem “em crise”. Curiosamente, cada vez existem mais sites como o nosso, mas as receitas de bilheteira voltaram a bater recordes em 2012. “ O entrevistado faz aqui referência a três pontos, sendo o primeiro a problemática dos preços praticados no comércio do entretenimento, algo amplamente estudado por Joe Karaganis, que defende que “High prices for media goods, low incomes, and cheap digital technologies are the main ingredients of global media piracy.” (Karaganis, 2011).

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O segundo ponto é o aumento que se tem vindo a registar de sites facilitadores de partilha ilegal. Uma tendência que estima vir a manter-se. “Indeed, according to the Cisco Visual Networking Index, the volume of P2P traffic is predicted to double to more than 7 petabytes per month by 2014, despite the best efforts of copyright groups to stem the tide (McDaniel, 2010)” (Caraway, 2012). O terceiro ponto refere-se ao maior recorde de bilheteira alguma vez conseguido pela indústria de Hollywood: 10.84 mil milhões de dólares em bilhetes vendidos durante o ano de 2012. Isto só nos Estados Unidos. (www.hollywood.com, 2012). O entrevistado sugere ainda formas alternativas de rentabilizar a produção de conteúdos, como o sistema de donativos, “se os consumidores gostassem do conteúdo, contribuíam com um donativo no valor que bem entendessem para quem produziu o conteúdo”, e critica o actual sistema de aluguer de vídeo praticado pelos videoclubes e pelos serviços televisivos Zon e Meo, como um “campo com falta de inovação.”, que devia seguir o exemplo de serviços de aluguer digital como o Netflix. No final, remata com convicção absoluta que “a primeira produtora a aliar-se a um site de pirataria só terá a ganhar.”

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Embora este artigo se foque especificamente naqueles que criam plataformas facilitadoras de partilha ilegal de informação, não pode deixar de ser referido que todos os que usam a internet para partilhar algo com alguém são facilitadores de partilha, por vezes até ilegal, de informação. O que parece aparente é que o que diferencia uma pessoa que cria e/ou gere um site de partilha ilegal, de outra que apenas usa a internet para partilhar conteúdo no Facebook, é o nível de envolvimento. Tanto no caso The Pirate Bay como no caso OXE7 é possível identificar as seguintes factores motivacionais: . Sentimento de pertença a uma comunidade . Desejo de partilhar com outrem . Sentimento de rebeldia . Desejo de mudar o estado das coisas . Obter reconhecimento social . Obter satisfação pessoal . Ganhar dinheiro

Veja-se, em comparação, o testemunho de um residente no Reino Unido, de 24 anos, que participou no estudo Survey of File-Sharing Culture levado a cabo por Brett Robert Caraway. O excerto que se segue refere-se ao private trackers, ou seja, ficheiros cujo download é apenas possível introduzindo uma palavra-chave que apenas é conhecida por uma determinada comunidade. “What I and a lot of people like I think is the sense of community and the social aspect to the whole thing. You can go on what.cd and discuss your favorite band with other fans who will also help you with technical stuff. Or you can go to iTunes and get reamed for 99 pence per track and be made to feel that you’re a mindless cog in a consumerist machine handing the money over to a faceless monolith of a company who doesn’t give a shit about how you feel about the band. The social aspect to the whole p2p scene is a very important part I think, perhaps one of the main driving forces behind it in fact.” (Caraway, 2012)

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CONCLUSÃO A história da humanidade está repleta de exemplos que demonstram que, com o tempo, as coisas mudam e que em virtude disso alguns tipos de negócios se tornam obsoletos e dão lugar a outros novos que florescem. Praticamente todos os negócios que vigoram actualmente no novo paradigma de acesso e consumo de informação, como o iTunes ou o Netflix, são baseados em plataformas de partilha ilegal. Curiosamente, nenhum deles foi criado pelos gigantes do entretenimento, como a Sony, a Warner Bros, ou a EMI. Com mais de uma década de livre circulação de informação, a internet enquanto mass media, já moldou a sociedade actual. Basta pensarmos, por exemplo, na livre partilha de informação enquanto veículo de formação. Imaginemos, por momentos, um mundo sem as incontáveis pessoas que por todo o mundo se especializaram em certos softwares, instrumentos musicais, Línguas, primeiros socorros ou qualquer uma das inúmeras áreas que podem ser apreendidas graças ao acesso gratuito à informação. Curiosamente, a gratuitidade da informação não tem abrandado a criação de mais informação. Pelo contrário: “Today, more than 60% of internet traffic consists of consumers sharing music, movies, books and games. Yet, despite the popularity of the new technology, file sharing has not undermined the incentives of authors to produce new works. (…) The cannibalization of sales that is due to file sharing is more modest than many observers assume. Empirical work suggests that in music, no more than 20% of the recent decline in sales is due to sharing. File sharing increases the demand for complements to protected works, raising, for instance, the demand for concerts and concert prices. The sale of more expensive complements has added to artists' incomes. In many creative industries, monetary incentives play a reduced role in motivating authors to remain creative. Data on the supply of new works are consistent with the argument that file sharing did not discourage authors and publishers. Since the advent of file sharing, the production of music, books, and movies has increased sharply.” (Oberholzer-Gee e Strumpf, 2010). Karaganis, por seu lado, refere que ”It’s cheaper to buy cops than lawyers”. Este autor defende que é mais barato fazer raids aos servidores dos “piratas” do que fazer as coisas correctamente. Mesmo os casos que vão a tribunal pouco fazem para mudar o actual panorama da pirataria e não são mais do que “punishement as spectacle”. Anos de prisão e multas de milhões de dólares apenas servem para tentar dissuadir os outros piratas. (Karaganis, 2012). Ironicamente, o então presidente da MPAA, Dan Glickman, confirma as afirmações de Karaganis, ao afirmar numa entrevista para o documentário “Steal This Film” que “We recognize and we know we

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will never stop piracy. Never. We just have to try to make it as difficult and as tedious as possible and we have to let people know there are consequences if they’re caught.” Independentemente das questões legais associadas a este tema, a realidade é que “a good part of the populations is building its mediation through alternative channels of obtaining content” (Castells e Cardoso, 2012) e são actores como os estudados neste artigo que estão no centro da criação desses canais de distribuição alternativos. É por isso que é urgente saber mais sobre eles e perceber de onde vêm e para onde estão a ir. “P2P file-sharers deserve a more nuanced treatment by academics. The term piracy tends to eclipse the structural dimensions of file-sharing, while the notion of market imperfections unduly privileges social relations premised on commodity exchange.” (Caraway, 2012). “I think that the law is gonna be rewritten as the technology insists that it is. It’s not a question of right or wrong anymore. People will do what they wanna do in order to get what they want. Behind every great fortune lies a big crime. The guys who started this business all cheated somebody to get there. So now their being cheated, perhaps.” (Richard Dreyfuss do video in Steal This Film, 2006).

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Castells, Manuel (2007), Communication, Power and Counter-power in the Network Society, International Journal of Communication 1, 238-266, http://ijoc.org

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“Pirate Bay founder talks about online music and new startup Flattr” (2011), StrategyEye, http://digitalmedia.strategyeye.com/article/afBZ2BkxuE/2011/04/12/int erview_pirate_bay_founder_talks_about_online_music_and_ne

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“Record Box Office Year for 2012” (2012), Hollywood.com, http://www.hollywood.com/news/Hollywoodcom_Box_Office_Record_Box_Office_Ye ar_for_2012/47192243

Oberholzer-Gee, Felix e Strumpf, Koleman (2010), File-Sharing and Copyright, Harvard University e University of Kansas

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Whelan, Andrew (2010), Leeching Bataille: Peer-to-peer Potlatch and the Acephalic Response, University of Wollongong

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“Do Pirate Sites Really Make That Much Money? Um... No”, Techdirt, http://www.techdirt.com/articles/20120124/04532617525/do-pirate-sites-reallymake-that-much-money-um-no.shtml

Informação dada em aula pela docente.

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