CONTRIBUIÇÃO DA APO PARA PROCESSOS PROJETUAIS DE LOJAS

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ISBN 978-85-5953-003-2

CONTRIBUIÇÃO DA APO PARA PROCESSOS PROJETUAIS DE LOJAS Carolina Morgado de F. Silveira Mestranda, Universidade Federal de Santa Catarina, [email protected] Marlise Paim Braga Noebauer Mestranda, Universidade Federal de Santa Catarina, [email protected] Vera Helena Moro Bins Ely Doutora, Universidade Federal de Santa Catarina, [email protected] Leila Amaral Gontijo Doutora, Universidade Federal de Santa Catarina, [email protected] Resumo As Avaliações Pós-Ocupação (APO) têm produzido um sem número de recomendações importantes, visando a qualidade do ambiente construído. Com foco na qualificação de pontos de venda, este artigo objetiva se tornar uma ponte entre recomendações para a melhoria de ambientes varejistas e o processo projetual realizado para lojas. Foram sintetizados os problemas encontrados em sete avaliações publicadas, identificando-se os conflitos que podem ser generalizados para outros pontos de venda, destacando os problemas passíveis de serem evitados durante os momentos iniciais dos processos projetuais no contexto do varejo. Palavras-chave: Arquitetura do Ponto de Venda, Ergonomia, APO, Processo de Projeto. Introdução e objetivo Uma breve passada de olhos pelos resultados de pesquisas conduzidas por Avaliações PósOcupação (APO) realizadas nestes primeiros 15 anos do século XXI, é argumento suficientemente convincente para levantar a desconfiança de que projetistas e pesquisadores do ambiente construído não falam, em maioria, o mesmo idioma. As avaliações são uma linha de pesquisa consolidada no Brasil, realizadas em ambientes construídos nos mais diversos campos: residencial, comercial ou institucional, em diferentes nichos de mercado. Este artigo, voltado a pesquisadores e à projetistas de arquitetura e design de interiores, focado no mercado varejista, busca conectar processos de projeto e a identificação antecipada de conflitos, visando evitar sua incidência. Buscou-se identificar os problemas detectados em cinco pesquisas efetuadas em pontos de venda - apresentadas na seção metodologia. A análise foi concentrada nos conflitos comuns, identificados com maior frequência, apontando um potencial para a generalização dos resultados. Atenção especial foi dedicada aqueles que podem ser evitados durante o projeto dessas lojas. Com lastro científico inicial nas áreas de Avaliações Pós-Ocupação (APO), Ergonomia e da Psicologia Ambiental, esta pesquisa lança mão também dos conceitos provenientes dos estudos em Processo de Projeto. Referencial teórico A Avaliação Pós-Ocupação – APO – é uma vertente metodológica interdisciplinar utilizada para avaliar o desempenho do ambiente construído em uso, segundo a ótica de seus usuários (RHEINGANTZ, 2000). As APO são vistas como parte do processo construtivo (KOWALTOWSKI; MOREIRA, 2008;), e são, para Voordt e Wegen (2013), o seu coroamento. Estes últimos autores ressaltam que as avaliações devem ser realizadas ao longo de toda a vida útil de um ambiente construído, pois as informações que produzem devem retroalimentar o processo construtivo, auxiliando na identificação e correção de conflitos na edificação avaliada,

bem como na criação de diretrizes voltadas ao desenvolvimento de projetos semelhantes ao(s) avaliado(s). A Figura 1, disposta a seguir, ilustra esse ciclo.

Figura 1: Etapas essenciais do Processo de Construção. Fonte: Voordt e Wegen, 2013. Adaptação gráfica das autoras, 2016.

A partir da análise das informações coletadas, as APO geram diretrizes para a melhoria do ambiente construído, parâmetros essenciais para o desenvolvimento do programa arquitetônico que está sendo analisado e, consequentemente, do projeto. Em muitos casos, são percebidos conflitos que podem ser evitados em novos projetos. Para isto, as diretrizes geradas nestas APO devem ser incorporadas no processo através do programa de necessidades (KOWALTOWSKI; MOREIRA, 2008). Em termos de abordagem metodológica, as APO dialogam com diversas disciplinas, das quais destacam-se a ergonomia e a psicologia ambiental. O conceito mais antigo do termo ergonomia, segundo Iida (2005), encontra-se em uma publicação da Ergonomics Society, definindo-o como o estudo da relação entre as pessoas e o seu trabalho, equipamentos e ambiente. Segundo o autor, é na abrangência da ergonomia onde se encontra, de modo especial, a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia, visando a solução dos problemas que possam surgir da relação humano-ambiente. Conforme Moraes e Mont'Alvão (2003), ergonomia é o estudo das relações do homem com seu ambiente ao realizar qualquer tipo de tarefa, seja de trabalho, de lazer e atividades do dia-a-dia, e o que torna única é a sua prática que integra tanto o estudo das características físicas quanto psíquicas das pessoas, as avaliações do sistema produtivo e o diagnóstico, a projetação, a avaliação e a implantação de sistemas humano x tarefa x máquina. Alguns autores da ergonomia aprofundam o tema das abordagens metodológicas (COSTA; VILLAROUCO, 2014; RHEIGANTZ et al., 2009), em que se destacam, para os propósitos deste artigo, aquelas que abarcam, também, os preceitos e métodos de pesquisa oriundos da Psicologia Ambiental. Neste campo da ciência, o homem não é visto como agente passivo dentro do ambiente no qual vive, mas como um ator, que interage ciclicamente com o ambiente. Segundo Ittelson et al. (1974), os primeiros estudos em Psicologia Ambiental surgiram nos Estados Unidos, na década de 60, direcionados a apoiar projetos na área da saúde. Com o passar do tempo, a Psicologia Ambiental ampliou seu foco, com aplicação em outras áreas como presídios, escolas, aeroportos, espaços comerciais e de planejamento urbano, entre outros. Diretamente ligado ao tema das cinco pesquisas analisadas neste artigo, está o conceito de Atmosfera do Ponto de Venda, que procede da Psicologia Ambiental aplicada à área do marketing. Postulado por Kotler (1973-1974), este conceito é utilizado para definir as qualidades sensoriais presentes em lojas, projetadas para obter respostas positivas no que tange às vendas e fidelização de clientes.

Baker et al. (2002) apontam que a atmosfera é composta pela relação entre três fatores: de projeto, ambientais e sociais. Os primeiros, relativos às características visuais, se dividem em funcionais e estéticos. Os fatores ambientais se referem às sensações percebidas pelos demais sentidos e os fatores sociais pertencem ao universo do atendimento ao cliente. Os elementos que compõem a atmosfera são chamados Atributos Ambientais. O Quadro 1, disposto abaixo, apresenta os Atributos Ambientais que podem ser espacialmente avaliados, motivo pelo qual foram utilizados como baliza para a presente análise. ATMOSFERA DO PONTO DE VENDA Funcionais FATORES DE PROJETO Estéticos

FATORES AMBIENTAIS

A B C D E F G H I

ATRIBUTOS DO AMBIENTE Distribuição do layout Dimensionamento do mobiliário Fluxo/larguras mínimas Revestimentos e materiais Esquema cromático Estilo e decoração Iluminação Temperatura Som e aromas

Quadro 1- Atributos do Ambiente – elementos da Atmosfera do Ponto de Venda Fonte: Baker et al. (2002). Adaptação gráfica: Pesquisadoras, 2016.

A APO aplica variados métodos e abordagens provindos da Ergonomia e da Psicologia Ambiental, produzindo pesquisas que visam ajustar e qualificar os ambientes avaliados ou antever e evitar, por meio de melhores projetos, as possíveis mazelas de ambientes de natureza semelhante. Kowaltowski et al. (2006) realçam a alta confiabilidade dos dados dessas pesquisas, apontando, porém, que o êxito das APO está relacionado à sua potencialidade de tradução na prática da arquitetura. Embora seja facilmente compreensível o conceito que integra as APO e os processos de projeto ao processo construtivo, pode-se declarar: pouco ainda se avançou nesta área, como atestam Fonseca e Rheingantz (2009, p. 504): “Poucos são os projetistas que reconhecem e consideram as reais demandas e relações dos usuários dos ambientes que concebem. ” É justamente para os momentos iniciais de um processo projetual, onde se busca conhecer as necessidades e anseios dos usuários, que servem as diretrizes produzidas nas Avaliações Pós-Ocupação. Desta forma, torna-se relevante conhecer quais são as fases projetuais e a qual delas cabe o adensamento dessas informações. Lawson (2011) apresenta o projeto como negociação entre problema e solução, mediado pelas fases de análise, síntese e avaliação, que ocorrem de modo cíclico, do início ao fim do processo. Embora cíclico, o ponto de partida dos momentos iniciais de um processo projetual são marcados pela fase analítica, na qual são levantadas as informações relevantes para que possa ser desenvolvido. É nesta fase que o projetista inicia um diálogo para melhor definir o problema, visando a solução. Em outras palavras, é na fase analítica, que muitas das informações levantadas pelas APO deveriam ser pesquisadas e consideradas pelos projetistas, pois há muito o que aprender com estes resultados. Uma pesquisa sobre as APO realizadas em ambientes cujo Programa de Necessidades é semelhante ao que será projetado, mostra-se altamente recomendada. Uma das contribuições deste artigo é a sintetização e categorização dos problemas comuns encontrados na análise de sete pontos de venda, representando um apoio para projetistas de lojas, agilizando parte da pesquisa a ser feita sobre o tema. A próxima seção apresenta a metodologia empregada para a presente análise. Metodologia Voordt e Wegen (2013) indicam que o apoio da APO à projetos futuros, é mais eficiente quando há várias edificações envolvidas na avaliação. De acordo com esta perspectiva, foram

selecionadas avaliações de sete lojas, publicadas em cinco diferentes pesquisas. Os critérios adotados para a seleção destas pesquisas foram: 1) deveriam ser Avaliação Pós-Ocupação; 2) o ambiente avaliado deveria ser um ponto de venda; e 3) os métodos utilizados pelos autores deveriam priorizar os usuários trabalhadores como atores do processo. Os estudos selecionados foram caracterizados segundo três fatores: a) o setor varejista ao qual pertence o estabelecimento avaliado; b) a inserção da loja no meio urbano e c) os métodos utilizados para a avaliação. O Quadro 2, disposto a seguir, apresenta a caracterização das pesquisas analisadas. MIX DE PRODUTOS VESTUÁRIO

RUA



1

2

DOCES

ARTIGOS PARA PRESENTE3 JOALHERIA E ÓTICA4 PANIFICADORA5 MÉTODOS: 1-Visitas exploratórias 2-Pesq. Bibliográfica 3-Pesq. Documental

CENTRO COMPRAS

▪ ▪ ▪ ▪

2

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4-Questionário 5-Questionário Nórdico 6-Entrevistas

3

MÉTODOS UTILIZADOS 4 5 6 7 8 9

1

10

11

12

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7-Observação 8-Obs. Traços Físicos 9-Mapa Comportamental

10-Isovistas 11-Simulação Gráfica 12- Walkthrough

1 CAMPOS, R. A.; AMARAL,

L.; BINS ELY, V. H. M. Apreciação ergonômica em um ponto de vendas varejista. In: V Encontro Nacional de Ergonomia do Ambiente Construído, 2014, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, 2014. 2 DE QUADROS, B. M.; OLIVEIRA, F. G.; BINS ELY, V. H. M. A Influência do Ambiente na Qualidade do Trabalho e na Saúde de Garçons: Uma Abordagem Multimétodos. In: Encontro Nacional e Latino-Americano de Conforto no Ambiente Construído, 2015, Campinas. Anais... Campinas, 2015. 3 MONTEIRO, E. C. et al. Análise Ergonômica do Trabalho: Sugestões para melhoria de Lojas de Presentes. In: IV Encontro Nacional de Ergonomia do Ambiente Construído, 2013, Florianópolis. Anais... Florianópolis, 2013 4 NOEBAUER, M. P. B.; BINS ELY, V. H. M.; CARRILHO, A. Atmosfera do Ponto de Venda: Recomendações Projetuais para Joalherias. In: Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, 2014, Maceió. Anais... Maceió, 2014. 5 SILVEIRA, C. M. F.; BINS ELY, V. H. M. Avaliação do trabalho dos atendentes em panificadora sob o viés da psicologia ambiental e da ergonomia. In: Encontro Nacional e Latino-Americano de Conforto no Ambiente Construído, 2015, Campinas-SP. Anais do XIII ENCAC/ IX ELACAC, 2015.

Quadro 2- Caracterização das APO analisadas. Fonte: Pesquisadoras, 2016.

As APO foram apresentadas na seguinte ordem: loja de vestuário feminino, ponto de venda de doces, rede de lojas de presentes - três unidades, joalheria e ótica, e panificadora. No Quadro 2 as lojas avaliadas foram marcadas por cores, para que sejam mais facilmente identificadas na apresentação da próxima etapa da pesquisa: a análise propriamente dita. As pesquisas foram também caracterizadas pela forma de sua implantação: se dispostas na rua ou se inseridas em ambientes construídos, como shoppings ou galerias. Quanto à participação dos trabalhadores dos pontos de venda, foi identificada a predominância de dois métodos gerais: 1) as entrevistas, de participação direta e 2) as observações, onde os usuários podem participar direta ou indiretamente. Resultados Os problemas encontrados nas avaliações em estudo foram categorizados de acordo com os Atributos do Ambiente (Baker et al., 2002), expostos no Quadro 1. É importante a frequência com que um problema se mostra presente em uma análise desta natureza, de modo que os conflitos encontrados foram ordenados de acordo com este critério. Assim, o Quadro 3, disposto abaixo, apresenta, em ordem decrescente, em termos da frequência com que aparecem nas pesquisas, os problemas encontrados. A primeira coluna do quadro indica a qual atributo ambiental o problema em questão está relacionado. A segunda coluna apresenta a identificação,

feita com círculos nas cores determinadas no Quadro 2, de em qual (is) ponto (s) de venda o conflito foi verificado. Por fim, na terceira coluna, são apresentados os principais problemas diagnosticados. ATRIBUTO AMBIENTAL

DIMENSIONAMENTO (B do Quadro 1)

FLUXOS / LARGURAS MÍNIMAS (C do Quadro 1)

ILUMINAÇÃO (G do Quadro 1)

DISTRIBUIÇÃO DO LAYOUT (A do Quadro 1) REVESTIMENTOS E MATERIAIS (D do Quadro 1) TEMPERATURA (H do Quadro 1) SOM E AROMA (I do Quadro 1)

APO

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PROBLEMA Dificuldades de alcance-alturas elevadas. Inadequação altura bancadas e balcões. Má relação mesa-cadeira. Mal dimensionamento dos gavetões, que se tornam muito pesados para o manuseio. Mobiliário bloqueando campo visual. Sub-dimensionamento circulações. Conflito fluxos comprometendo a multifuncionalidade. Sub-dimensionamento da zona de trabalho ou atividade – falta de espaço para abrir portas, gavetas e utilizar equipamentos. Inadequação iluminação (IRC que prejudica a visualização cores). Iluminação bancada de trabalho com fonte de luz com emissão de calor. Ofuscamento causado pela iluminação natural e a ausência de anteparos/brise. Ofuscamento painel retro iluminado - ausência de anteparo, ângulo coincide com o campo visual. Ofuscamento nichos - ausência de anteparo, ângulo coincide com o campo visual. Sobreposição de funções junto ao caixa. Dificuldade de visualização – há pontos em que atendentes não conseguem enxergar as mesas. Micro-ondas para o autoatendimento dos clientes encontra-se em local de difícil acesso e visualização. Excesso de materiais e revestimentos com propriedades reflexivos (Exemplo: vidros e espelhos). Piso desgastado e de difícil manutenção. Desconforto térmico dentro do salão de compras e consumação (forno assando pães e ganho de calor passivo pela fachada). Som ambiente inadequado (utilização improvisada de celular). Altos níveis de ruído em momentos de maior movimento.

Quadro 3- Problemas levantados pelas APO analisadas, ordenados pela intensidade em que surgiram. Fonte: Pesquisadoras, 2016.

Discussão Para um projetista é relevante saber onde está o calcanhar de Aquiles, isto é, onde se localizam a maior parte dos problemas encontrados nos ambientes similares àquele que está a projetar, ideia defendida por diversos autores, como, por exemplo, Kowaltowski et al. (2006) e Fonseca e Rheingantz (2009), supracitados no referencial teórico deste artigo. Uma vez categorizados e hierarquizados os problemas, é importante a reflexão sobre estes problemas e as possíveis formas de evitá-los em projeto. Para a realização da análise, foram aglutinadas em três grupos as categorias de problemas, por afinidades em termos de solução, visando a identificação de oportunidades de solucioná-los projetualmente.

O primeiro grupo é denominado por Baker et al. (2002) como Fatores Funcionais de Projeto, reúne os problemas relativos a: dimensionamento, fluxos/larguras e distribuição de layout. As categorias deste grupo ocupam, respectivamente, o primeiro, o segundo e o quarto lugar no ordenamento de frequência de aparição na análise e abarcam onze dos vinte e um problemas encontrados. Observa-se que ao projetista alcançar a solução de um, com quase toda a certeza, surge, concomitantemente, a solução do outro, resolvendo de uma vez, quase a metade dos problemas levantados. O segundo grupo reúne duas categorias, a) revestimentos e materiais e b) iluminação, intimamente relacionadas, devendo, nos processos projetuais serem tratadas como duas faces da mesma moeda, pois dizem respeito à percepção visual dos usuários. Elas ocupam, respectivamente, a quinta e a terceira posição na hierarquia de posicionamento nas pesquisas analisadas e somam sete problemas. O terceiro grupo inclui duas categorias: a) temperatura e b) sons e aromas. Estas categorias estão, na hierarquia apresentada, na sexta e na sétima posição, abrigando três problemas. Além de analisar os problemas encontrados, para que se faça a ponte entre os problemas encontrados em pesquisas APO e as possíveis soluções a serem elaboradas em novos projetos, os métodos das APO devem ser considerados. Esta reflexão deve ser conduzida pela questão: quais métodos utilizados para avaliar o ambiente construído em uso podem ser utilizados no processo projetual, a fim de evitar o surgimento de problemas? Não se pretende esgotar o assunto, porém este artigo centrou-se nos métodos utilizados nas pesquisas analisadas. Considerando os doze métodos utilizados nas avaliações foco deste estudo, pode-se identificar, quatro grupos. O primeiro, inclui as consultas aos participantes – entrevistas, questionários nórdicos, demais questionários e, parcialmente, o walkthrough (observação com entrevista não-estruturada). O segundo abrange as observações, com destaque para a observação de traços físicos e o mapa comportamental. Os outros dois grupos podem ser identificados pelas pesquisas bibliográficas e documental e por métodos técnicos de leitura espacial e das necessidades dos usuários, como as isovistas e a simulação gráfica digital. As visitas exploratórias não foram incluídas em nenhum dos grupos, pois entende-se que este é o veículo por onde se alcança a realização dos demais métodos. Conclusão Quanto aos problemas, pode-se afirmar que os encontrados no primeiro e no segundo grupos, supracitados na seção discussão, devem receber especial atenção no processo de projeto de ambientes comerciais, visando identificar suas causas e possíveis soluções, apoiando o projetista em sua tarefa de diminuir a incidência de conflitos, qualificando a atmosfera do ponto de venda. Interessante pontuar que tanto os métodos que abordam os usuários, quanto os abrigados sob o guarda-chuva das observações, ou os que se referem a questões técnicas, podem ser aplicados no processo de todo e qualquer projeto do ambiente construído, seja direta ou indiretamente. Quando se trata de uma reforma, ou mesmo em obras novas, a menos que haja um impedimento por parte do contratante, esses métodos podem ser aplicados com sucesso. Além disso, como tradicional método científico, destaca-se as pesquisas bibliográfica e documental, bem como as leituras técnicas, sendo quase desnecessário dizer que na base de todo bom projeto, está uma boa pesquisa e a expertise do projetista e sua equipe. Sobre as fases projetuais e a sua relação com as informações que aportam este artigo, pode-se dizer que embora os problemas devam ser identificados na fase da primeira análise, é nas fases de síntese e avaliação que as soluções devem ser formuladas e colocadas à prova, onde o processo iterativo que ocorre no projeto é o principal condutor de boas soluções. Não há consenso sobre um modelo único de criação e desenvolvimento de um projeto de arquitetura. Tampouco um mesmo profissional conduz os seus diferentes projetos com uma mesma cadência, cabendo, a cada projetista, eleger, de acordo com a situação projetual, os métodos

que mais se adequam ao processo em desenvolvimento. Assim, embora a organização do processo de projeto seja opção de cada projetista, mostrou-se importante, nesta pesquisa, apontar caminhos para um melhor entendimento dos problemas de projetos de lojas. Entendese que para solucionar um problema, seja qual for a sua natureza, primeiramente, é necessário conhecê-lo, para que se possa construir soluções. Assim, se aplicados os métodos de APO apontados por esta pesquisa nos momentos iniciais de um projeto de loja, inicia-se a construção de pontes entre problemas existentes neste setor e a qualidade ambiental no varejo. Fica, ao final desta pesquisa, a sugestão de aprofundamento de estudos que correlacionem os métodos utilizados nas Avaliações Pós-Ocupação realizadas em pontos de venda e os processos projetuais de lojas, visando a qualidade ambiental para os usuários: tanto clientes, quanto colaboradores. Referências Bibliográficas BAKER, J. et al. The influence of multiple store environment cues on perceived merchandise value and patronage intentions. Journal of Marketing. v. 66. p. 120-141, 2002. COSTA, A. P. L.; VILLAROUCO, V. Que metodologia usar? Um estudo comparativo de três avaliações ergonômicas em ambientes construídos. In: MONT'ALVÃO, C. R.; VILLAROUCO, V. (Org.). Um novo olhar para o projeto: a Ergonomia no Ambiente Construído. Volume 2. 1a. ed. Recife, PE: Editora UFPE, v. 1. p. 27-47, 2014. FONSECA, J. F.; RHEINGANTZ, P. O ambiente está adequado? Prosseguindo com a discussão. In: Produção, v. 19, n. 3, set./dez. 2009, p. 502-513. IIDA, I. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: editora Edgard Blucher, 2005. ITTELSON, W. H. et al. An Introduction to Envvironmental Psychology. New York: David Dempsey Editorial Associate, 1974. KOTLER, P. Atmospherics as a marketing tool. Journal of Retailing. v. 49, p.48-64, 19731974. KOWALTOWSKI, D. C. C. K. et al. Reflexão sobre metodologias de projeto arquitetônico. Ambiente Construído, v. 6, n. 2, p. 7-19, abril-jun. 2006. LAWSON, B. Como os Arquitetos e Designers Pensam. São Paulo: Oficina de textos, 2011. MORAES, A. de; MONT’ALVÃO, C. Ergonomia: conceitos e aplicações. 3.ed. Rio de Janeiro: Ed. iUsEr, 2003. RHEINGANTZ, P. Aplicação do Modelo de Análise Hierárquica COPPETEC-COSENZA na Avaliação do Desempenho de Edifícios de Escritório. Rio de Janeiro, 2000. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – COPPE, UFRJ. RHEINGANTZ, P. A. et al. (Orgs.). Observando a qualidade do lugar: procedimentos para a avaliação pós-ocupação. Rio de Janeiro: UFRJ-FAU, Pós-Graduação em Arquitetura, 2009. VOORDT, T. J. M. Van Der; WEGEN, H. B. R. Van. Arquitetura sob o olhar do usuário: programa de necessidades, projeto e avaliação de edificações. São Paulo: Oficina de Textos, 2013.

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