CRIAÇÃO COLABORATIVA DO FUTURO NO/DO ESPAÇO PÚBLICO: O CASO DO COLETIVO SANTA SEM VIOLÊNCIA

May 27, 2017 | Autor: M. Ibarra | Categoria: Design, Design Anthropology, Codesign
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SPGD 2016 2º SIMPÓSIO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN DA ESDI Rio de Janeiro, 9 a 11 de novembro de 2016

Criação colaborativa do futuro no/do espaço público: o caso do coletivo Santa sem Violência

Collaborative creation of the future in/of the public space: the case of the collective Santa without Violence

IBARRA, Maria Cristina; ANASTASSAKIS, Zoy RESUMO: Tim Ingold (2013), antropólogo britânico, propôs liberar à antropologia da etnografia juntando-se com áreas como a arte, a arquitetura e o design. Ele sugere uma “Antropologia por meio do Design”, ou seja, uma antropologia que vá em frente com as pessoas em conjunto com seus desejos e aspirações, em vez de uma antropologia que olha para o passado. A partir desta abordagem nasceu o campo de conhecimento chamado de Design Anthropology e se edifica o papel de uma de nós como designer no Coletivo Santa sem Violência. Um grupo que surgiu a partir de uma reunião convocada por algumas mães do bairro de Santa Teresa (RJ) preocupadas com a impossibilidade de seus filhos brincarem nas ruas. Este coletivo está conformado por 7 moradores de diferentes profissões, e tem como finalidade juntar a comunidade para criar táticas que diminuíam os índices de roubos e assaltos no bairro. O objetivo deste artigo é refletir sobre o papel da designer no grupo, e por tanto, na criação colaborativa do futuro no/do espaço público em meio de um ativismo social. Palavras-chave: Pesquisa e metodologia do design, CoDesign e políticas públicas, Design Anthropology, Espaço Público, Colaboração. ABSTRACT: Tim Ingold (2013), British anthropologist, proposed liberate anthropology of ethnography joining with areas such as art, architecture and design. He suggests a "Anthropology by means of Design", i.e., an anthropology that moves forward with the people together with their desires and aspirations, rather than looking back over times past. From this approach was born the field of knowledge called Design Anthropology and is built up the role of one of us as a designer in the Collective Santa without Violence. A group that emerged from a meeting called by some mothers of the Santa Teresa neighborhood (RJ) concerned about the impossibility of their children to play in the streets. This collective is integrated of 7 people of different professions, and aims to join the community to create tactics that diminished the rates of thefts and robberies in the neighborhood. The aim of this paper is to discuss the role of the designer in the group, and therefore, the collaborative creation of the future in/public space in the middle of a social activism. Keywords: Design methodology and research; CoDesign and public policy; Design Anthropology, Public Space, Colaboration

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1 — Introdução Somos seres criadores de coisas. Na vida cotidiana encontramos múltiplos exemplos de nossa facilidade de transformação do mundo. Desde grandes construções, até pequenos consertos do dia a dia. Designers e não designers elaboramos e transformamos diariamente os espaços onde moramos; este foi o objeto de pesquisa do mestrado de uma de nós (Maria Cristina). Tomando como cenário as ruas de Belo Horizonte (MG), ela pesquisou sobre os artefatos que são produzidos e pensados por pessoas que não tinham conhecimento formal na área do design. Pesquisadores da área têm se referido a este tema como “Design vernacular”, “Design espontâneo”, “Design pelos outros 90%”, “Desenho Vernacular”, “Design Alternativo”, “Non-professional Design”, “Low Cost Design”, “Design da Periferia”, “Non Intentional Design”, “Adhocismo”, “Intuitive Design” etc. Por razões que não concernem ao objetivo deste artigo, ela chamou a esta prática de “Design por Não-designers” (IBARRA, 2014). Fazer esta mudança de nome lhe fez olhar para o objeto de pesquisa de outra maneira, e lhe fez trazer novos questionamentos que baseiam a sua pesquisa de doutorado. Como o design pode aproveitar o conhecimento das pessoas que criam objetos todos os dias, e que no final, somos todos nós? Como trazer para dentro da prática do design a criatividade e desejos dos futuros “usuários”? Qual é o papel dos designers se aceitamos que todos somos criadores? Os antropólogos Tim Ingold e Caroline Gatt falam que o: Design, longe de ser uma reserva exclusiva de uma classe de profissionais especialistas encarregados da produção de futuros para o resto de nós consumir, é um aspecto de tudo o que fazemos, na medida em que nossas ações são guiadas por esperanças, sonhos e promessas (INGOLD, GATT; tradução nossa, p.251). Ou seja, ser designers não significa que somos um grupo privilegiado de especialistas criativos. Ingold & Gatt (2013) continuam dizendo que o “design [...] não transforma o mundo. Ele, certamente, faz parte da sua própria transformação”. Sob este ponto de vista, nascem práticas colaborativas e participativas dentro do design, como o Design Participativo e o Codesign, que abrem espaço nos seus processos às partes que são tocadas pela situação, e que têm um grande componente antropológico. Entendemos que, como apontam os investigadores da Research Network for Design Anthropology (Rede de pesquisa para o Design Anthropology), A participação e colaboração entre as partes interessadas - mais proeminentemente usuários, cidadãos e especialistas profissionais - tornaram-se um forte ponto de convergência entre design e antropologia, principalmente devido à capacidade dos etnógrafos para mobilizar e envolver “pessoas comuns” nos processos de design (RESEARCH NETWORK FOR DESIGN ANTHROPOLOGY, 2016, tradução nossa) Esta é uma das razões pelas quais o design se une à antropologia, e também porque, desta maneira, se conseguem desenvolver resultados mais próximos do que todo mundo quer e espera. Sabemos que há um trabalho conjunto entre designers e antropólogos desde há alguns anos, como é colocado no livro Design Research Through Practice (2011) e também no artigo Ethnography in the Field of design de Christina Wasson (2000). Segundo estes autores, a indústria do design começou a envolver etnógrafos ainda nos anos 1970, Anais do 2º Simpósio de Pós-Graduação em Design da ESDI | SPGD 2016 ISSN 2447-3499

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primeiro no centro-oeste dos Estados Unidos e na área de Chicago e um pouco depois na Califórnia. Depois nos anos 1990 muitos antropólogos foram contratados por grandes empresas incluindo Apple (1994) e Intel (1996). Nesta década ficaram bem conhecidos os trabalhos de Julton Fulton Suri na IDEO, e o de Liz Sanders na Fitch com métodos de “Design Participativo”. Várias abordagens têm surgido a partir destas aproximações entre design e a antropologia. Tim Ingold (2011), antropólogo britânico, propõe liberar à antropologia da etnografia. Ele aponta que a antropologia a fim de propor mudanças no mundo que observa e descreve, deve-se juntar a áreas mais específicas como a arte, a arquitetura e o design, não para analisá-las antropologicamente, senão para criar conhecimento convergindo esforços, aprendendo uma da outra e intercambiando mutuamente ferramentas, teorias e metodologias. Ingold & Gatt (2013), propõem, em lugar de uma “Antropologia por meio da Etnografia”, uma “Antropologia por meio do Design”, ou seja, uma antropologia que vá em frente com as pessoas em conjunto com seus desejos e aspirações em vez de uma antropologia que olha para tempos passados. Para Ingold (2013), “a antropologia estuda com e aprende de, é levada adiante em um processo de vida, e causa transformações dentro desse processo. A etnografia é um estudo de e aprende sobre, seus produtos duradouros são relatos recordativos com propósitos documentários”. (INGOLD, 2013, tradução nossa, p. 3). O que eles propõem é uma antropologia que corresponda com o mundo, não descrevendo-o, ou representando-o, como nos relatos etnográficos, mas respondendo a ele. Este conceito de correspondência emerge de uma prática do design que equipara a criatividade à improvisação, e não à inovação. Isto significa que o design reconhece que a criatividade “encontra-se não na novidade de soluções prefiguradas para problemas ambientais percebidos, mas na capacidade dos habitantes de responder com precisão às sempre mutáveis circunstâncias das suas vidas” (INGOLD & GATT, 2013, tradução nossa, p.252) Para os autores, esta improvisação criativa requer flexibilidade e previdência1. Flexibilidade, porque os designers não devem especificar pontos de chegada, senão que devem dar direções. E previdência, diferente de predição, porque prever significa adiantar-se às coisas e puxá-las (para perto de você), em vez de projeta-las fazendo extrapolações do presente. A previdência, apontam os autores, envolve o exercício da imaginação, ou seja, a percepção de um devir do mundo. Para eles, “a diferença entre planos e projetos, por uma parte, e esperanças e sonhos por outra, é que os primeiros antecipam resultados finais, enquanto que os segundos, não”. Diante disso, os autores afirmam que o designer é um apanhador de sonhos. A partir dos conceitos do Ingold, nasceu o campo de conhecimento chamado de como Design Anthropology. No Laboratório de Design e Antropologia (LaDA) da Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (EURJ), do qual as autoras fazemos parte, trabalha-se com esta perspectiva teórico-metodológica. Um campo emergente que é diferente do design e da antropologia e que se forma com a ideia de convergir esforços e aprender um do outro (Halse apud GUNN, 2012). Como Gunn e Otto (2013) apontam, um dos seus desafios é desenvolver ferramentas e práticas para a criação colaborativa do futuro. Este campo cria métodos que empregam várias formas de intervenção, pois ele é mais orientado à intervenção e transformação da realidade social 1 Esta tradução foi feita por nós para a palabra ‘foresight’ que usam os autores no texto original.

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do que a antropologia, e trabalha em equipes multidisciplinares em processos de design e inovação. A partir desta abordagem se edifica o papel de Maria Cristina como designer no Coletivo Santa sem Violência. Um grupo que surgiu a partir de uma reunião convocada por algumas mães do bairro de Santa Teresa (RJ) preocupadas com a impossibilidade de seus filhos brincarem nas ruas. Este coletivo está conformado por 7 moradores de diferentes profissões, e tem como finalidade juntar a comunidade para criar táticas que diminuíam os índices de roubos e assaltos no bairro. O objetivo deste artigo é refletir sobre o papel da designer no grupo, e por tanto, na criação colaborativa do futuro no/do espaço público em meio de um ativismo social. Para isto, mostraremos os resultados obtidos até o momento da pesquisa empírica que faz parte da tese de doutorado em andamento de Maria Cristina e analisaremos e o papel da designer na atuação com o coletivo. A continuação, ela relata algumas das experiências obtidas atuando como designer, pesquisadora e moradora do bairro no Coletivo Santa Sem Violência.

2 — Santa sem Violência: Design, ativismo e participação? Moro em Santa Teresa há um ano e meio desde que cheguei ao Rio de Janeiro. Este é um bairro de classe média localizado em um morro entre a zona central e zona sul da cidade. Devido a seu ambiente artístico, às vistas panorâmicas que oferece, e ao bonde, que tem sido por muitos anos um dos seus principais meios de transporte, o bairro é visitado por muitos turistas. Desde 1980, conta com a Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (AMAST) que defende os interesses comunitários e esta comprometida com o bemestar dos moradores. Mas, apesar disso, o território sofre certo abandono por parte das autoridades. Havia elegido como o cenário da pesquisa o Largo dos Guimarães (Figura 1), uma área situada no coração do bairro conformada por bares, restaurantes, cafés, lojas, um pequeno cinema, uma estação do bonde, uma estação de ônibus, uma banca de revistas, uma delegacia, vendedores ambulantes etc. Não obstante, depois de escutar vários apontamentos sobre a violência do bairro provenientes de amigos e vizinhos, e de participar de uma reunião no Largo das Neves convocada por mães insatisfeitas com a impossibilidade das crianças brincarem na rua, mudei o foco da pesquisa para a violência, correspondendo desta forma ao que estava sendo percebido em campo. O objetivo do encontro no Largo das Neves foi conversar com outros moradores sobre a situação atual de insegurança e sobre possíveis soluções.

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Figura 1: Localização de Santa Teresa, o Largo das Neves e o Largo dos Guimarães. (Mapa feito por Maria Cristina Ibarra tomando imagens de Google Maps)

Naquela reunião estavam presentes mais ou menos 50 pessoas. Ao escutar o desejo de várias delas de fazer cartazes para manifestar a insatisfação sobre a situação e alertar aos visitantes e moradores sobre as recorrentes zonas de assaltos, como designer, coloquei na roda a possibilidade de liderar um workshop de cartazes. Isso resultou em encontros regulares todas as semanas conformando assim, o Coletivo Santa sem Violência, um grupo de moradores engajados com a luta contra a violência no bairro e com a motivação de trabalhar coletivamente por esta causa. Várias reuniões foram feitas até hoje, desde o 5 de maio de 2016, dia que ocorreu a primeira reunião no Largo das Neves. As primeiras tiveram o objetivo de pensar conjuntamente sobre o cartaz que seria colocado nas ruas. Para isto organizei uma atividade para ser feita com alguns assistentes à segunda reunião que consistia no preenchimento de uma ficha e na discussão, posterior, das respostas. A ficha (Figura 2) continha perguntas relacionadas ao conteúdo dos cartazes, ao público ao qual estariam dirigidos, os materiais com que estariam feitos, a forma, os custos e os lugares onde estariam colocados. Participaram dela 8 pessoas, e com as respostas se gerou uma discussão que ia sendo registrada em folhas grandes de papel com canetas de várias cores para criar um panorama visual que todos pudéssemos ver (Figura 3). Finalizamos a reunião com a ideia de colocar nos cartazes um boneco, que foi encontrado na internet por um dos assistentes e que representava um assaltante, com um signo de proibido encima. Foram necessárias outras reuniões para concluir nosso cartaz.





Figura 2: Ficha para pensar conjuntamente sobre o cartaz que seria colocado nas ruas do bairro.



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Figura 3: Assistentes à segunda reunião e registro da discussão em folhas grandes de papel com canetas coloridas.

A terceira e a quarta reunião foram feitas no Largo dos Guimarães, exatamente no Mercado das Pulgas, uma casa grande, muito famosa, que funciona como moradia e casa de eventos. Nestas reuniões conversamos sobre outras possibilidades de conteúdo, vários assuntos já tratados reapareciam, como que se o cartaz devia estar dirigido para turistas ou para moradores. O público não era constante, diferentes pessoas assistiam às reuniões, éramos recorrentes 2 ou 3 pessoas. Na terceira reunião combinamos que faríamos um estêncil com o boneco em preto e o signo de proibido em vermelho, e que levaríamos materiais como chapa de raios x, e tintas em spray na próxima reunião para começar a fazer os moldes e fazer testes. Na quarta reunião, levei impresso um guia para o molde com a figura do boneco e do signo de proibido. Este desenho desatou a conversa (Figura 4). Exatamente nessa semana, o 28 de maio de 2016, foram queimados no bairro dois ônibus na rua Almirante Alexandrino, perto da comunidade do Morro dos Prazeres, como respostas a algumas mortes derivadas de enfretamentos da polícia com traficantes. Um dos argumentos de um dos assistentes era que com o grupo não desejávamos o assassinato dos assaltantes, e que o desenho estava passando essa ideia. Baseados nesta opinião, tiramos o signo de proibido do desenho e combinamos que faríamos dois estêncis: um com a figura do boneco, e outro com o hashtag #SantaSemViolência (Figura 5). Nesta reunião também decidimos que faríamos uma manifestação no Largo dos Guimarães, e que nesse dia colocaríamos os estêncis nas paredes de lugares mais perigosos perto do Largo.



Figura 4 : Guia para estêncil com figura representativa de um assaltante, signo de proibido, e proposta de estêncil final.





Figura 5: Estêncil com figura representativa de um assaltante e estêncil com hashtag #SantaSemViolência



Foi feito um evento no Facebook para convocar à manifestação a palhaços, bailarinos, artistas, músicos, circenses, e em geral, a todos os moradores do bairro. Numa reunião, Anais do 2º Simpósio de Pós-Graduação em Design da ESDI | SPGD 2016 ISSN 2447-3499

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com outras 4 pessoas, na noite anterior confeccionamos alguns moldes para estêncis e fizemos testes. Á manifestação foram mais ou menos umas 40 ou 50 pessoas. Várias ações foram feitas: duas palhaças liam através de um megafone um texto composto pelo Coletivo, foi escrita uma parodia de um funk famoso para falar sobre violência, foi feita uma performance chamada “Santa de cabeça para baixo”, outros estêncis surgiram, camisetas foram estampadas na hora, houve falas também em espanhol e inglês, lambelambes, e também um pequeno discurso de uma representante da AMAST (Figura 6). A manifestação serviu como plataforma de encontro dos moradores, como grito de inconformidade, e com uma forma de mostrar que há pessoas preocupadas com assuntos que tocam a todos, dispostos a contribuir para que a situação atual mude.



Figura 6 – Manifestação no Largo dos Guimarães contra a violência no bairro organizada pelo coletivo.

Apesar dos esforços, ao parecer não houve resultados concretos relacionados à diminuição da violência no bairro a partir de nosso protesto. Porém, outras reuniões e ações foram feitas, como foi o caso de um show realizado por Pirarucu Psicodélico, um grupo local de música, que apoia o coletivo, e que está comprometido com a causa. Com a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, as reuniões do coletivo pararam, mas foram retomadas com ideias novas que contribuem para cumprir com nossos objetivos. Uma delas é a constituição do conselho de segurança e a instalação de algumas câmeras em áreas chaves. Nesta reunião me disponibilizei a fazer uma pesquisa sobre todos os posts relacionados a assaltos e roubos que forma publicados no Facebook desde março de 2016.

4 — Considerações finais Com o relato podemos perceber como pesquisa desviou-se por outros caminhos, correspondendo a questões de interesse para os moradores. Este é um exemplo que desafia a visão modernista de fazer design, pois em contraste, improvisa, experimenta e segue os fluxos da vida. Também vemos como o papel de Maria Cristina como designer no coletivo tem sido diverso. Primeiro foi o de juntar pessoas através de ferramentas de construção conjunta, neste caso a ficha para pensar o conteúdo, forma, custos e lugar onde colocar os cartazes. Apesar de que a figura escolhida por todos foi uma sugestão encontrada na internet, a ficha deu suporte para empezar a discussão, pensar juntos e produzir algumas ideias que talvez possam ser usadas mais para frente. Anais do 2º Simpósio de Pós-Graduação em Design da ESDI | SPGD 2016 ISSN 2447-3499

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Por outro lado, o apoio na elaboração de estêncis, e em geral a participação da designer no coletivo entende-se como uma troca de conhecimentos: ela procura contribuir com suas habilidades e aprende muito mais de todas as vivências, a experiência, formas de prosseguir e habilidades dos outros membros do coletivo, é um aprender com, como aponta Ingold (2013). Grande parte do tempo nas reuniões a pesquisadora se dedica a escutar, tomar apontes, e entender o que cada pessoa expressa. Também, a atuação no coletivo coloca a designer/pesquisadora num papel de ativista, quando levanta questões locais e as torna visíveis. Por exemplo, o apoio na organização da manifestação, na elaboração de material gráfico para expressão da inconformidade e no seu registro fotográfico. Ingold & Gatt (2013) falam da conversão da observação participante, própria da antropologia, em participação observadora, quando se experimenta uma antropologia por meio do design. Nela a criação de relações e a construção de coisas é mais deliberada e experimental, e tudo o que é produzido durante o trabalho de campo é de igual valor, se não maior do que é produzido depois do trabalho de campo na forma de textos etnográficos. Assim como podemos perceber que há vários artefatos que tem nascido no processo, também há um esforço por criar relações, e inspirar confiança, que acreditamos que se dá com a ajuda do tempo, com a transparência no trabalho da pesquisadora, e com a sua interação com os membros do coletivo e moradores do bairro. Contudo, percebemos como a designer, expandindo sua área de atuação, se auto-convida para o campo, com o objetivo de contribuir na solução de questões que são de interesse dos moradores do bairro. Participa do processo de congregar pessoas, estimular a imaginação, mobilizar a comunidade a fazer, comunicar, compartilhar conhecimentos, escutar outros pontos de vista, levantar questões, torna-las visíveis, diagramar e organizar informações, abrir discussões, pensar juntos, criar relações. Atua, assim, não para a massa, mas para a coletividade, fazendo um design mais conectado com a realidade das cidades e das pessoas.

Referências GATT, C; INGOLD, T. From description to Correspondence: Anthropology in Real Time. In: Design Anthropology: Theorie and Practice., edição: GUNN, W; OTTO, T; SMITH, R. p. 175-198. Bloosmbury, 2013. GUNN, W.; OTTO, T.; Smith, R. C. (Eds.). Design Anthropology: Theory and Practice. London/New York: Bloomsbury, 2013. INGOLD, Tim. Making: Anthropology, Archaeology, Art and Architecture. Abingdon: Routledge, 2013. KOSKINEN, I; ZIMMERMAN, J; BINDER, T; REDSTROM, J; WENSVEEN, S. Design Research Through Practice: From the Lab, Field, and Showroom (1st ed.). Morgan Kaufmann Publishers Inc., San Francisco, CA, USA. 2011 RESEARCH NETWORK FOR DESIGN ANTHROPOLOGY. Seminar 3: CollaborativeFormation of Issues (January 2015). Disponível em: . Acesso em: 14 de jun. 2016. Anais do 2º Simpósio de Pós-Graduação em Design da ESDI | SPGD 2016 ISSN 2447-3499

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WASSON, C (2000) Ethnography in the Field of Design. Human Organization: Winter 2000, Vol. 59, No. 4, pp. 377-388. . . . . . . . . . . . . . . . . .

Notas sobre os autores:

IBARRA, Maria Cristina; Doutoranda; Título provisório da Tese: O papel do design no contexto de práticas criativas desenvolvidas por não-designers no espaço público de Rio de Janeiro; Orientador: Zoy Anastassakis; Ano previsto para defesa: 2019; Link para Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3707517093961615 [email protected] ANASTASSAKIS, Zoy; Doutora; Link para Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/0975982165468022 [email protected]

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