Cruz&Panachuk. 2014. Saga e persistencia: a histórica formação do Sudeste do Pará desde os tempos (mais) antigos.

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Saga e persistência: A histórica formação do sudeste do Pará desde os tempos (mais) antigos

Daniel Cruz Lílian Panaachuk

Programa de educação patrimonial do projeto de arqueologia preventiva na área de intervenção das operações de níquel onça puma e linha de transmissão associada, sudeste do pará

Saga e persistência: A histórica formação do sudeste do Pará desde os tempos (mais) antigos

Organização Daniel Cruz Lílian Panachuk Consultoria Eneida Malerbi Solange Caldarelli Revisão Ortográfica Tatiane Lima Ferreira Patrocínio Companhia Vale do Rio Doce Realização Scientia Consultoria Científica Diagramação, edição e capa Estúdio Zebra Serviços Editoriais

Ficha catalográfica elaborada por Wagner de Araújo Silva – CRB 8/ 8960c

Sumário Apresentação..............................................................................................................................7 Introdução..................................................................................................................................11 Bandeirantes nos sertões da Amazônia .................................................................................13 Capítulo 1 Histórias Coloniais no Sudeste do Pará..............................................................................13 Amazônia internacional............................................................................................................16 A reação portuguesa na Amazônia..........................................................................................18 A ação missionária....................................................................................................................20 As reformas pombalinas e a Amazônia...................................................................................27 Conclusões.................................................................................................................................28 Frentes de expansão agrícola..................................................................................................33 Capítulo 2 A Formação do Povo Brasileiro no Sudeste do Pará......................................................33 Os indígenas no sudeste do Pará.............................................................................................38 O desenvolvimentismo na Amazônia......................................................................................46 As estradas................................................................................................................................49 O minério..................................................................................................................................51 A barragem...............................................................................................................................52 Conclusões.................................................................................................................................53 As fontes de pesquisa..............................................................................................................55 Capítulo 3 Breve Histórico da Formação dos Municípios...................................................................55 Xinguara....................................................................................................................................56 Tucumã......................................................................................................................................58 Ourilândia do Norte..................................................................................................................62 São Félix do Xingu....................................................................................................................65 Água Azul do Norte..................................................................................................................70

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Capítulo 4 Arqueologia no Sudeste do Pará..........................................................................................75 Alguns conceitos arqueológicos...............................................................................................76 O que é sítio arqueológico?......................................................................................................77 Como se faz uma datação?......................................................................................................79 O que é Tradição Arqueológica?...............................................................................................86 Quais as sociedades são estudadas pela arqueologia?..........................................................86 Periodização da história pré-colonial brasileira......................................................................87 Histórico das pesquisas arqueológicas na região....................................................................88 O que mudou desde as primeiras pesquisas até a contemporaneidade?.............................90 Contexto arqueológico geral: panorama amazônico..............................................................91 Contexto arqueológico regional e local: área de pesquisa.....................................................107 Conclusões.................................................................................................................................122

Capítulo 5 Sugestões de Atividades para o Contexto Escolar............................................................125 Inserção do tema patrimônio cultural no cotidiano escolar...................................................126 1: RECONHECIMENTO DE UM OBJETO.........................................................................................127 2: MUSEU DA FAMÍLIA...............................................................................................................128 3: UMA DESCRIÇÃO DO XINGU NO SÉCULO XVII........................................................................129 4: MEMÓRIAS DE FAMÍLIA.........................................................................................................130 5: MEU PATRIMÔNIO..................................................................................................................131 6: O TUPI QUE FALAMOS............................................................................................................132 7: ARQUEOLOGIA LÓGICA...........................................................................................................133 8: A ARQUEOLOGIA QUE EU VEJO...............................................................................................136 9: PINDORAMA..........................................................................................................................138 10: A LOUÇA QUEBRADA...........................................................................................................139 11: O ARQUEÓLOGO DO FUTURO...............................................................................................140 12: CADERNO DE ATIVIDADES PARA ALUNOS E SEUS FAMILIARES............................................144 Vídeo “A Fertilidade da Terra”.................................................................................................148 Atividade 1: Os ofícios do lugar...............................................................................................148

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Atividade 2: O valor da história de cada um...........................................................................150 Atividade 3: Arqueologia, a história das pessoas através das coisas....................................152 Atividade 4: Oficinas em Educação Patrimonial......................................................................155 Produção local: os planos de aula feitos pelos educadores do Sudeste do Pará..................156 Atividade 1: “O patrimônio cultural” ......................................................................................156 Atividade 2: “O Investigação dos povos Maia” .....................................................................156 Atividade 3: “Memorial de Ourilândia do Norte-PA” ............................................................157 Atividade 4: “Patrimônio Cultural Local” ...............................................................................158 Atividade 5: “Arte indígena” ...................................................................................................159 Atividade 6: “As Aldeias Indígenas” .......................................................................................159 Atividade 7: “Patrimônio Cultural de Tucumã (material e imaterial)” .................................160 Atividade 8: “As Brincadeiras Antigas” .................................................................................161 Atividade 9: “Construindo minha linha do tempo” ...............................................................161 Atividade 10: “O Surgimento de Tucumã” .............................................................................162 Atividade 11: “A História de Tucumã” ....................................................................................163 Atividade 12: “Patrimônio Cultural” .......................................................................................163 Atividade 13: “A Valorização do Patrimônio Cultural” ...........................................................164 Atividade 14: “História de Tucumã” .......................................................................................165 Atividade 15: “Cultura Indígena Kayapó” ...............................................................................165 Atividade 16: “Cultura Indígena: Danças e Costumes” ..........................................................166 Atividade 17: “Os projetos de integração na Amazônia” ......................................................167 Atividade 18: “Arqueologia em Ourilândia do Norte” ...........................................................168 Atividade 20: “Ourilândia, nossa história” .............................................................................168

Siglas utilizadas no livro.......................................................................................................169

Referências..................................................................................................................................171

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Apresentação

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o serem construídas, as grandes obras causam profundas modificações nos locais onde são instaladas: alteram a paisagem, revolvem o solo, trazem novos moradores... Para que essas modificações sejam conduzidas de modo planejado e os danos ao meio ambiente sejam reduzidos, o governo exige, das empresas responsáveis pelas obras, o Licenciamento Ambiental – isto é, um grande estudo realizado antes do início das obras, por profissionais de várias áreas de pesquisa, inclusive os profissionais da Arqueologia. Os objetivos do licenciamento ambiental são conhecer as plantas, os animais, o ambiente, as pessoas da região e sua história; saber quais modificações serão causadas pela construção e os cuidados necessários para que não se percam conhecimentos importantes. A empresa responsável deve pagar toda a pesquisa necessária1.

por meio dos vestígios que elas deixaram, que resistiram às intempéries e, de modo geral, são encontrados no solo; eles podem ser de tipos variados – utensílios, ferramentas, armas, remanescentes de moradias ou de locais de trabalho, desenhos pintados ou gravados em paredes de pedra – e frequentemente se encontram quebrados ou em estado de grande fragilidade. Cada local onde se encontram esses vestígios constitui um sítio arqueológico2. Na área de influência da Mineração Onça Puma, dezenas de sítios arqueológicos foram identificados e muitos deles estudados. Alguns dos resultados dessas pesquisas foram apresentados aos profissionais da empresa e às populações de Água Azul do Norte, Ourilândia do Norte, Tucumã e Agrovila Minerasul (São Félix do Xingu), entre 2007 e 20093.

O profissional em Arqueologia estuda as populações humanas que viveram no passado mais recente ou mais antigo,

1 ARAÚJO COSTA, 2008.

2 Idem, ibidem. 3 Municípios que integram a área afetada pelo empreendimento Mineração Onça Puma para estudos de arqueologia preventiva.

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Professora, professor, Se você participou das ações de Educação Patrimonial realizadas em Água Azul do Norte, Ourilândia do Norte, Tucumã e Agrovila Minerasul (São Félix do Xingu), entre 2007 e 2009, certamente relembrará de que, além das palestras para profissionais da Mineração Onça Puma, ocorreram oficinas com 87 professores e 713 alunos, no âmbito escolar; e também a Semana do Patrimônio Cultural envolvendo segmentos das populações municipais nas oficinas de audiovisual, argila, bordado e xilogravura, num total de 1.157 participantes. Todas essas ações ressaltaram as referências culturais regionais e locais, muitas vezes, a partir das vozes dos próprios moradores. Caso você não tenha participado diretamente daquelas atividades, o contato com seus colegas permitirá contatar essa memória. Mais recentemente, em 2013 e 2014, os educadores receberam novas ações de formação sobre o tema da arqueologia, com o atendimento de mais de 200 participantes em nossos cursos de formação; além de cerca de 250 visitas feitas pela comunidade à exposição de arqueologia apresentada em Ourilândia do Norte. Os textos de apoio e as sugestões de atividades formam um conjunto com o documentário A fertilidade da terra – uma experiência de educação patrimonial no sudeste do Pará. Foram pensados e realizados para serem instrumentos de sua prática profissional. Esse conjunto de materiais pretende mostrar que, embora municípios de origem recente, os territórios de Água Azul do Norte, Ourilândia do Norte, Tucumã e São Félix do Xingu (especificamente a Agrovila Minerasul) possuem, no presente, importante conjunto de bens culturais, que não pode ser separado do igualmente rico, embora ainda pouco conhecido, patrimônio cultural do passado. Esses bens culturais do passado, em inúmeros casos, somente foram revelados pela pesquisa arqueológica. Ora, se não conhecemos nem valorizamos nosso modo de vida, nossas paisagens naturais e culturais, nossas edificações, nossos saberes, nossas festas, não saberemos proteger nem conservar esses bens. Da mesma forma, se não soubermos inserir esse modo de vida presente no contexto do passado, se não conhecermos o significado dos fragmentos cerâmicos, dos objetos de pedra, dos sepultamentos, das terras pretas e de outros vestígios de antigas ocupações humanas que frequentemente ocorrem na região, não saberemos conferir a eles seu imenso valor, nem proteger essa riqueza histórica e cultural. Então, existe um conjunto de bens, isto é, um patrimônio cultural, que é preciso conhecer, valorizar e proteger. Incluir essa missão no cotidiano escolar, propiciar esse conhecimento e essa prática aos estudantes, pode levar ao fortalecimento da identidade local e, certamente, constitui importante exercício de cidadania. A equipe de Educação Patrimonial da Scientia Consultoria espera que você realize um bom trabalho!

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Introdução

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ste livro foi escrito com o objetivo de contar um pouco da história da região sudeste do Pará, mais especificamente dos municípios que são atendidos pelo Programa de Educação Patrimonial desenvolvido dentro da área de intervenção das operações de níquel Onça Puma, da Vale, e executado pela Scientia Consultoria Científica desde o ano de 2006. Para entendermos os processos que resultaram na recente ocupação da região é necessário retornar no tempo e compreender o processo de ocupação do espaço Amazônico de maneira mais abrangente. Para isso, dividimos o livro em dois blocos: o primeiro conta a história a partir do contato com o europeu na região, por intermédio do que chamamos de fontes secundárias, que consistem nos livros sobre os temas investigados, artigos, matérias em revistas e sites da Internet e documentos públicos; o segundo bloco conta a história antes do contato

com os europeus e tem como fonte principal as pesquisas arqueológicas realizadas no âmbito do projeto Onça Puma, além dos livros, artigos e dissertações disponíveis sobre o tema. Com o objetivo de difundir as informações aqui contidas, inserimos neste livro uma série de sugestões de atividades pedagógicas que foram elaboradas especialmente para tratar os resultados desta pesquisa. Existem atividades elaboradas para idades e disciplinas diferentes, com diversos recursos didáticos, incluindo o vídeo “A fertilidade da terra”. O material compõe o conjunto de subsídios didáticos preparado especialmente para o trabalho docente. A área de estudo tem um histórico bastante recente, com seus municípios formados na segunda metade do século XX. No entanto, a região era conhecida pelos portugueses desde o século XVI e foi visitada pelos france-

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ses e explorada pelos jesuítas no século seguinte. Além disso, antes da chegada do colonizador, o território era ocupado por um grande número de etnias indígenas, como descrevem os primeiros viajantes, dados também corroborados pela pesquisa arqueológica.

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Pretendemos, então, mostrar um pouco da história da Amazônia a partir do ponto de vista do sudeste paraense, ou seja, como a dinâmica da sociedade brasileira afetou essa região de alguma maneira em cada século, desde a sua descoberta pelo colonizador europeu.

Capítulo 1 Histórias Coloniais no Sudeste do Pará

N

este capítulo, interessa debater sobre os processos coloniais impetrados no sudeste do Pará, avaliando as consequências para a contemporaneidade. O período tratado corresponde à chegada à Amazônia dos colonizadores e a ocupação de seu território. Abordaremos desde os primeiros contatos entre os nativos e os colonos até as reformas de Marquês de Pombal, na segunda metade do século XVIII.

onde era possível extrair rapidamente os recursos que a nova colônia oferecia, como o pau-brasil. Não havia colonos suficientes para ocupar a vasta área, ainda desconhecida, e a maior parte do território da região Norte estava em terras consideradas espanholas pelo Tratado de Tordesilhas (figura 1).

Bandeirantes nos sertões da Amazônia A região Norte não teve um papel prioritário no plano de colonização dos portugueses, que haviam chegado ao território brasileiro em 1500. Durante o primeiro século (1500-1600), nenhum plano de ocupação da área foi elaborado. As primeiras cidades foram fundadas no litoral do nordeste e sudeste,

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Figura 1: Traçado do Tratado de Tordesilhas e ocupação inicial do território brasileiro. Disponível em: http://www.trabalhosescolares.net/img/tratado_de_tordesilhas_tratado_de_saragoza.jpg

Se não havia um projeto de colonização, o processo de exploração do território foi intenso. Os portugueses organizavam expedições com as mais diversas finalidades para a exploração do “sertão”. Essas viagens conhecidas na historiografia como “bandeiras”, tinham como principal ponto de partida o estado de São Paulo. Em sua maioria, eram viagens patrocinadas pela iniciativa privada. A principal finalidade era a procura por fontes de minerais preciosos, mas na ausência destas (muito comum), a fonte de renda era o apresamento dos nativos, que eram vendidos como escravos. Ocorreram mais frequentemente entre 1580 e 1730 (FERREIRA, 1977, p. 168).

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Neste contexto de exploração de um continente ainda desconhecido difundiu-se, entre outras histórias fantásticas, o mito da Paraupava (FERREIRA, 1977, p. 169). Ferreira narrou à existência de uma grande lagoa no sertão, com uma infinidade de riquezas e que originaria diversos rios, inclusive em direção ao Amazonas e teve farta representação cartográfica (figura 2). Em busca dessa terra prometida, os primeiros bandeirantes paulistas chegaram aos rios Araguaia e Tocantins, com as bandeiras de Domingos Rodrigues (entre 1596 e 1600) e André Fernandes (entre 1613 e 1615). Entre 1590 e 1720, mais de uma dezena de bandeiras partiu de São Paulo rumo

America Meridionalis - Mercator - Hondius, 1630. Antique map of South America by G. Mercator & J. Hondius, with an inset view of Cusco. Disponível em: http://digital.library.yale.edu/cdm/ref/collection/1026_1/id/2124 Figura 2: Mapa com destaque da área de Paraupava.

aos sertões, que possivelmente atingiu os cursos dos rios Tocantins e Araguaia (FLORES, 2006, p. 51). Assim, possivelmente os primeiros “homens brancos” a andarem pela região atual do sudeste paraense foram os paulistas, no final do século XVI (figura 3). No entanto, essas expedições não deixaram vestígios, pois os bandeirantes não se fixavam ou fundavam vilas. Pelo contrário, em suas expedições atacavam

e escravizavam as populações indígenas que encontravam pela frente, removendo-as de seus locais de origem ou ainda as exterminavam.

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haviam assinado o Tratado de Tordesilhas. Diversos estados haviam promovido à unificação e o fortalecimento econômico.

Figura 3: Percurso das bandeiras do século XVI e XVII.

Amazônia internacional Apesar da exploração intensa dos sertões4, a colonização portuguesa estava concentrada na costa atlântica, entre o litoral do Rio de Janeiro e Pernambuco. O contexto econômico, de modelo mercantilista, favorecia o comércio e para o desenvolvimento deste era necessário buscar novos produtos. O contexto político e econômico europeu no final do século XVI era diferente de quando Portugal e Espanha 4 Sertão atualmente costuma ser associado à região Nordeste, mas no período colonial designa uma região afastada dos centros urbanos, geralmente o interior do país.

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A França não reconhecia a legitimidade do acordo ibérico e tentou por duas vezes instalar colônias em território brasileiro: França Antártica, no litoral do Rio de Janeiro, entre 1555 e 1560; e França Equinocial, no Maranhão entre 1594 e 1615 (THEVÉT, 1944, SALVADOR, 2011, ABBEVILLE, 2002). Os holandeses, mesmo em guerra contra os espanhóis, fundaram em 1602 a Companhia das Índias Orientais, instituição privada de financiamento ao comércio e colonização. Por meio dela, estabeleceram tentativas de ocupação da foz Amazônica no litoral do Amapá (1600-1625) e no litoral do nordeste (1624 e 1654) por um longo período, até a expulsão pelos portugueses. Os ingleses organizaram uma companhia no mesmo modelo da holandesa, em 1600, e estabeleceram feitorias e fortificações na foz do Amazonas e na região da atual cidade de Macapá, de onde foram expulsos por volta de 1630. O objetivo dessas feitorias e fortificações era a coleta, armazenamento e comércio das drogas do sertão. Havia plantações de tabaco, urucum e algodão, além do escambo desses produtos com as populações locais. Não foi empregado

trabalho escravo neste e as redes de troca existentes nas comunidades nativas da Guiana foram aproveitadas pelos comerciantes, que rapidamente dominaram as línguas locais (HULSMAN, 2012). Essas nações, excluídas do Tratado de Tordesilhas, procuravam ao seu modo tirar proveito do continente ainda desconhecido. Estabeleceram redes de troca com os nativos, aprenderam a língua local e mantiveram relações amistosas. As tropas das fortalezas e feitorias eram constituídas principalmente por nativos, convencidos a aliarem-se. Não foram os portugueses os primeiros europeus a navegar pelas

águas do rio Tocantins e provavelmente do rio Xingu. O francês Monsenhor de La Blanjartier, em uma expedição de 1610 que partiu do Maranhão, foi apontado como o primeiro navegador das águas do Tocantins e Daniel de La Touche e La Planque, em 1613, foram os primeiros a navegar acima das cachoeiras de Itaboca (LEITE, 1943, p. 313-315). Para melhor entender a localização dos fortes na região durante o Período Colonial, foi feito um mapa para delimitar as áreas de ocupação holandesa, portuguesa e inglesa na Amazônia do século XVII (figura 4).

Figura 4: Fortificações estrangeiras na Amazônia brasileira em 1610.

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A reação portuguesa na Amazônia A reação portuguesa aos invasores europeus ocorreu somente após a unificação das Coroas Ibéricas, período entre 1580 e 1640, quando o rei Espanhol Felipe I governou a Espanha e Portugal. A Paraíba foi conquistada em 1584 e São Luís, no Maranhão, em 1615, decretando o fim da França Equinocial. Os portugueses estavam mais próximos do que nunca da Amazônia e o cenário internacional da União Ibérica, que eliminou as fronteiras do Tratado de Tordesilhas possibilitava a expansão da colonização para o oeste. De São Luís, no ano de 1615, partiu uma expedição comandada por Francisco Caldeira Castelo Branco, com o objetivo de conquistar a foz do Amazonas. Em 1616, foi fundada a fortaleza que deu origem à cidade de Belém chamada então de Forte do Presépio, na localidade nomeada cidade do Pará ou Santa Maria do Grão Pará (AMARAL, 2004, p. 54-55). O início da nova colônia foi conflituoso, tanto na disputa interna pelo poder quanto na relação externa, com as populações autóctones. Castelo Branco não teve um bom relacionamento com os Tupinambás, etnia indígena local que ocupava a região antes da chegada dos portugueses, e uma série de disputas pelo território teve início. Os inciden-

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tes foram violentamente punidos, o que acarretou numa rebelião indígena e uma tentativa de invasão do Forte do Presépio pelos indígenas das aldeias locais, em 1618. A investida foi malsucedida e a represália severa só piorou a situação da colônia. Os primeiros anos de existência da cidade serviram apenas para tomar posse e assegurar a região. Após o estabelecimento do novo núcleo de colonização, os portugueses passaram a combater o que julgavam serem invasores internacionais. Possivelmente, havia mais de uma dezena de fortificações e feitorias estrangeiras. A conquista destas localidades ocorreu por campanhas militares, com tropas formadas por colonizadores e nativos, aliados ou escravizados. Entre os conquistadores, dois portugueses se destacaram: Bento Maciel Parente e Pedro Teixeira. O primeiro participou da campanha de Alexandre de Moura, que expulsou os franceses de São Luís em 1615 e construiu um forte na foz do rio Erepecuru, em 1620. Foi nomeado capitão-mor do Grão Pará em 1621, quando reforçou a fortificação e ordenou a expulsão dos ingleses e holandeses instalados na Amazônia. Até 1625, Parente auxiliou na conquista dos fortes de Nassau, Orange, Mariocai e Santo Antônio do Gurupá, além de fundar novas colônias nos locais, algumas das quais

permaneceram até hoje, como Gurupá. Em reconhecimento aos seus feitos, recebeu a Capitania do Cabo Norte, atual estado do Amapá, doada por Filipe III, de Portugal. Também ficou conhecido como “o flagelo dos Tupinambás”, pela sua ação contra essa etnia no Maranhão (GADELHA, 2002). Pedro Teixeira chegou a Belém na expedição de Castelo Branco, em 1616, e participou de ataques aos fortes holandeses ao lado de Maciel Parente, em 1625. Até o ano de 1637, os portugueses expulsaram a maior parte daqueles que consideravam invasores, em geral outros europeus, da foz do Amazonas. Mas o principal feito de Pedro Teixeira foi a viagem que realizou entre 1637 e 1639, que tinha como objetivo “reconhecer minuciosamente o rio até Quito, verificar os melhores lugares em que o rio pudesse ser fortificado (...), e finalmente fundar (...), uma povoação que marcasse os limites no Amazonas da soberania portuguesa.” (CORTESÃO, 1965, p. 405 apud REZENDE, 2006, p. 72). A viagem teve início em Gurupá (outubro de 1637) e atingiu Quito, no Peru, em outubro de 1638. Em agosto de 1639, Teixeira já havia retornado para Belém. Nesta viagem de retorno, fundou o povoado de Franciscana, às margens do Rio Napo, atual Equador, com o objetivo de demarcar a fronteira do terri-

tório português. A viagem exploratória reconheceu locais com posição geográfica estratégica, onde diversas missões e fortalezas seriam instaladas anos mais tarde. Também abriu uma tentativa de rota comercial entre as terras altas andinas e a Amazônia brasileira, reconheceu e demarcou o território de domínio português, ultrapassando em mais de 1.500 km o limite do Tratado de Tordesilhas. Outro ponto importante para a expansão portuguesa na Amazônia foi a criação da unidade administrativa do Estado do Maranhão, do qual faziam parte as Capitanias do Maranhão, Pará, Piauí e Ceará, pelo rei espanhol Felipe II, em 1621, período da União Ibérica. A unidade administrativa separava a região norte, o Estado do Maranhão, das demais regiões da Colônia, unidas sob o nome de Estado do Brasil. A então Santa Maria do Grão Pará, conhecida hoje como Belém, localizava-se geograficamente mais próxima de Portugal do que o Rio de Janeiro e essa proximidade possibilitaria uma supervisão mais próxima e estimularia o crescimento econômico regional. Assim, podemos caracterizar o período da conquista do Maranhão até a viagem de Pedro Teixeira como uma fase de implantação da empresa colonial e expulsão pelos portugueses dos demais europeus que consideravam invasores estrangeiros.

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A ação missionária Para assegurar o vasto território conquistado e demarcado era necessário ocupá-lo, física e ideologicamente. A existência da população indígena era bem conhecida por intermédio dos relatos das viagens e havia grande densidade populacional na margem dos grandes rios, como foi narrado por Raposo Tavares. A sua expedição, que partiu de São Paulo, em 1647, e atingiu o alto curso do rio Madeira dois anos depois, foi descrita pelo Padre Antônio Vieira: Quinze dias depois de começar a viagem pelo rio, começaram a ver povoações e, desde então não houve um dia em que não vissem algumas, e geralmente viam muitas todos os dias. Eles viram cidades com 300 cabanas [...] com muitas famílias vivendo em cada uma delas [...] Calcularam que [uma nação] continha 150 mil almas. (ANTÔNIO VIEIRA, ao jesuíta provinciano no Brasil, c. janeiro de 1654, apud HEMMING, 2009, pg. 90).

Essa população não foi encarada como legítima e os seus direitos foram suprimidos. Os colonizadores enxergaram nela, em um primeiro momento, uma oportunidade financeira pelo uso do trabalho compulsório dos indígenas, equivalente à sua escravização. Mesmo sendo uma prática tecnicamente ilegal, com diversas leis portuguesas sobre o tema, havia grande pressão dos proprietários de terra. Assim, os habitantes locais eram obrigados a trabalhar para os colonos de duas maneiras:

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voluntariamente, saindo de suas áreas tradicionais e ficando perto das cidades ou das missões; involuntariamente, através da escravidão legal. A primeira opção consistia em trabalho obrigatório de ambos os sexos, por diversos meses do ano e no restante do tempo, poderiam produzir para o sustento próprio. Também havia um pagamento irrisório, em algodão, ou bens afins. A segunda opção era ainda mais violenta: os povos que resistissem ao domínio português ou à conversão ao cristianismo, poderiam ser legalmente escravizados (HOORNAERT, 1979). Muitas etnias resistiram e a maioria foi dizimada por ataques portugueses. Grande parte da população preferiu submeter-se às missões religiosas, que dentre as possibilidades de existência, era a menos cruel. O relato feito pelo jesuíta Cristóbal de Acuña, enviado pelos espanhóis de Quito, para acompanhar Pedro Teixeira na sua viagem de retorno à Belém é uma excelente obra, que descreve o ambiente do rio Amazonas e também as populações nativas, suas diversas etnias, hábitos alimentares, tecnologias, mas também mostra como era feita a escravização indígena. Próximo à aldeia do Tapajós – atual região de Santarém no Pará – onde a expedição de Pedro Teixeira foi acolhida pelas

populações autóctones, o filho de Bento Maciel, homônimo do pai, fez uma investida na qual capturou 200 escravos, prenderam os guerreiros da aldeia e violentaram suas mulheres e filhas. Esses relatos seriam importantes na argumentação dos jesuítas para a necessidade de outro tratamento com a população nativa (LEITE, 1943). Portanto, a política indigenista consistiu de parte chave da política do Estado para a região Amazônica nesta época. Por intermédio da ação missionária, a Coroa Portuguesa garantiu a ocupação territorial e a expansão de seus domínios. Desta maneira, foi estabelecida a implantação de um modelo cristão e católico a serviço do estado. O modelo de aldeamento foi fruto da experiência do Padre Manoel da Nóbrega, em Salvador, em meados do século XVI e foi utilizado por mais de dois séculos como metodologia para a aproximação das populações nativas. Consistia em três aspectos fundamentais: a instalação do aldeamento, com a construção da igreja e da residência do missionário em um local já existente (aldeia), ou em um novo; a catequese, conversão espiritual e batismo e ainda os “descimentos”, ou seja, o deslocamento de novos grupos indígenas para os aldeamentos já estabelecidos, visando concentrar a catequese naqueles espaços e compensar os decréscimos populacionais causados por fugas, deserções e mortes.

Segundo Serafim Leite (1943), existiam três tipos de aldeamentos: aldeamentos a serviço dos religiosos, que serviam exclusivamente a eles; aldeamentos do serviço real, que atendia aos serviços públicos, como salinas e pesqueiros; e os aldeamentos distantes da vilas e cidades, destinados à catequese dos índios e sem os encargos das outras citadas, que também pode ser denominado missão. O objetivo dessas ocupações era a evangelização das populações indígenas. No entanto, essa evangelização não consistiu apenas em disseminar uma nova crença, mas impor um sistema cultural distinto, com diferentes valores morais, políticos, religiosos e econômicos. ... na Amazônia, as missões religiosas foram extremamente importantes para a ocupação territorial e consequente expansão dos domínios coloniais portugueses. As missões contribuíram para fixar os marcos de penetração ao longo da extensa rede fluvial amazônica e foram utilizadas sistematicamente pela coroa para a realização de uma política expansionista, seja na aculturação dos gentios americanos, seja na implantação de um modelo cristão e católico a serviço do estado português. (REZENDE, 2006, p. 102).

Os aldeamentos, além de criar uma reserva de mão de obra desejada pelos colonos, propiciou um trabalho cotidiano de catequese. Os jesuítas tinham como objetivo o abandono de aspectos fundamentais da vida cultural das so-

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ciedades indígenas, como a antropofagia (canibalismo), nomadismo, poligamia, entre outros, para que pudessem ser considerados cristãos verdadeiros. Assim, foi fundamental a sujeição dos indígenas aos jesuítas, deixando de praticar o que contradizia ou impedia a aceitação do cristianismo. O aldeamento em si, a disposição das casas, a posição central assumida pela igreja (normalmente, tendo à frente um cruzeiro e uma enorme praça), a divisão da rotina entre as atividades produtivas e de aprendizado, tudo isso, para além dos conteúdos doutrinais e culturais transmitidos pelos missionários, contribuía para introduzir novos hábitos, novas concepções de tempo, espaço, moradia, família, trabalho, produção e sobrevivência, transformando a aldeia em um “grande projeto pedagógico total (NEVES, 1978:162).

Na então Santa Maria do Grão Pará, conhecida hoje como Belém, diversas ordens religiosas instalaram-se com o objetivo de promover a catequização. Os Capuchos da Província de Santo Antônio, Franciscanos, foram os primeiros a chegar, em 1617, seguidos pelos Carmelitas (1626), Jesuítas (1636) e Mercedários (1639). O início da catequese e os primeiros aldeamentos foram conduzidos pelos Franciscanos. Após a chegada do Padre Luís Figueira, jesuíta vindo do Maranhão, teve início a ação missionária da Companhia de Jesus na Amazônia portuguesa. Os Carmelitas e os Frades da Piedade encarregavam-se

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da moralização interna das conquistas (HOORNAERT, 1990). O primeiro aldeamento missionário foi fundado por Frei Cristóvão de São José, capuchinho da Ordem de Santo Antônio, na margem esquerda do rio Tocantins, para a catequização dos índios Camutás, no ano de 1617. Esse aldeamento deu origem ao município de Cametá. Em 1625, frei Cristóvão de Lisboa ultrapassou as cachoeiras do Itaboca e fundou uma missão franciscana no alto rio Tocantins, no extremo norte do estado de Goiás, para a qual não existem muitas informações. Mas é a partir da ação dos missionários da Companhia de Jesus, iniciada em 1636, que os aldeamentos seriam amplamente difundidos no vale amazônico. A ação dos jesuítas teve início com a viagem de Luís Figueira pelo Tocantins, Pacajá e Baixo Xingu. Ele visitou diversas aldeias, o que lhe proporcionou um bom conhecimento da região e da situação da população nativa. Assim que retornou dessa viagem, foi chamado a Portugal, onde publicou o livro Memorial sobre as terras e gentes do Maranhão, Grão-Pará e o rio Amazonas, no qual também apontou as prioridades missionárias: organizar e moralizar os colonos, amparar e converter os índios e criar um bispado no Estado do Maranhão, subordinado a Lisboa (LOUREIRO, 1978).

Esse relato é seguido por uma mudança política importante, o término da união das Coroas Ibéricas, com o restauro da monarquia portuguesa com o Rei Dom João VI. O apoio da Companhia de Jesus na restauração e o relato de Figueira propiciaram a exclusividade dos cuidados do projeto missionário aos jesuítas, substituta da Ordem dos Franciscanos, a partir de 1640. O crescimento da Companhia de Jesus fez com que 14 sacerdotes deixassem Portugal, rumo à Belém. A embarcação naufragou próxima à ilha de Marajó e 11 sacerdotes foram mortos pela população nativa. Entre as vítimas estava o Padre Luís Figueira. Esse acontecimento atrasou a ação missionária por mais alguns anos. Deste período, datam ainda a fundação de dois aldeamentos: Arucará ou Aricará, dos jesuítas, na margem direita do rio Xingu, fundado em 1639 e que deu origem à cidade de Souzel, atual Senador José Porfírio; Aldeamento Muturu, dos capuchos de São José, de 1635, que deu origem à cidade de Porto de Moz, também no rio Xingu. A instalação efetiva da Companhia ocorreu na década de 1650, a partir da chegada de novos religiosos, com especial destaque para o Padre Antônio Vieira, em 1653. Este período, que se estende até 1686, é caracterizado como

a segunda fase da atuação dos jesuítas na Amazônia, quando os conflitos entre os colonos e missionários sobre a mão de obra indígena são a principal marca. Os colonos exigiram o direito de escravizar os indígenas e os missionários de evangelizá-los. As leis, hora cederam aos interesses dos colonos, hora aos religiosos. Os jesuítas foram expulsos pela primeira vez do Maranhão em 1661 e novamente em 1684. Apesar das derrotas, a Companhia cresceu e instalou dezenas de missões, nos atuais estados do Amazonas e do Pará. Na área do Tocantins existiram aldeamentos no seu alto curso, região de Goiás e também na sua foz, em Cametá. É possível que tenha existido um aldeamento fundado por Luís Figueira, logo após a fundação de Belém, na região de encontro dos rios Tocantins e Araguaia, mas existem poucas e divergentes informações acerca da localização da mesma. Mas mesmo sem a fundação de aldeamentos, muitos jesuítas subiram os rios Tocantins e Araguaia para realizar a catequização. Essas viagens foram mais frequentes a partir da década de 1650, quando até o próprio Padre Antônio Vieira realizou uma viagem pelo Tocantins (1656). O Padre José Tomé, em 1655, foi o primeiro jesuíta a ter contato com os Ca-

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rajá, no Alto Tocantins, de onde trouxe mais de mil índios. Francisco Velloso, em 1658, desceu outros mil Tupinambás desta região. Manuel Nunes, em 1659, trouxe mais de 1.500 indígenas da região da ilha do Bananal. Outros missionários fizeram este trajeto até o final do século e trouxeram milhares de indígenas, pertencentes a diferentes etnias para as missões do Baixo Tocantins, na área de Cametá (LEITE, 1943). Os descimentos eram realizados com o objetivo de obter indígenas para os aldeamentos, tendo como consequências os deslocamentos populacionais, relação forçada entre diferentes etnias e, sobretudo, aculturação dos grupos indígenas. O final deste período foi marcado pela violenta expulsão dos jesuítas do Maranhão, em 1684. O Padre Antônio Vieira havia inspirado a lei de liberdade indígena, em 1680, que proibiu todo o tipo de cativeiro indígena no Estado do Maranhão. A nova legislação não agradou aos colonos e culminou na expulsão dos religiosos pela população em outubro de 1684, no episódio conhecido como a “Revolta de Beckman”, nome de família dos líderes do movimento. A Coroa Portuguesa tentou proteger o território amazônico com o auxílio das forças armadas, na construção de fortes e fortalezas e também com o auxílio de religiosos nas missões e aldeamentos.

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Por isso muitos autores chamam a ocupação de “espada e cruz”, pois havia a articulação destas duas frentes: a militarização e a religiosidade. Para mostrar como essas estruturas se articulavam no território, foi sintetizada a representação cartográfica sequente (figura 5) que mostra a organização do espaço do tipo “espada e cruz”, próprio do processo colonial português na Amazônia. No ano de 1686, D. Pedro II (de Portugal), instaurou o Regimento das Missões. O documento marcou o retorno dos religiosos da Companhia de Jesus para o Maranhão, de onde foram expulsos dois anos antes e deu início ao terceiro período de ação dos jesuítas, que durou até 1760, quando foram expulsos definitivamente do país. Além da ocupação do território, a Companhia neste período se transformou em um dos maiores e mais bem-sucedido poder privado da Colônia. O Regimento entregou aos religiosos o controle temporal e espiritual dos índios aldeados, proibiu manter indígenas em cativeiro e também a moradia de homens brancos e mestiços nos aldeamentos, incumbiu novos descimentos, entre outras medidas. O regimento vigorou até 1757, quando foi substituído pelo Diretório dos Índios. Em 1688, foi promulgada nova lei, que permitiu a escravização e foi revogada no ano de 1705 (HOORNAERT, 1990).

No final do século XVII, todo o Vale Amazônico esteve sob o domínio dos jesuítas, cujas fazendas e feitorias haviam se transformado em empreendimentos econômicos promissores, mas a Companhia de Jesus não conseguiu alcançar de maneira satisfatória o número de aldeamentos e fazendas que se dispôs a fundar, ficando a catequese em segundo plano. Por pressão das outras ordens religiosas, então instaladas no Estado do Maranhão, uma Carta Régia de 1693 determinou a divisão das missões da Amazônia entre as ordens religiosas já instaladas no norte. A Companhia de Jesus ficou com as missões da margem direita do Amazonas e margem

esquerda do rio Negro e Iça, os capuchos de Santo Antônio com o Cabo Norte até o rio Jari e Paru e os capuchos da Piedade o Gurupá, Urubú e Trombetas (figura 6). Em 1694, uma nova decisão cedeu aos Mercedários às missões do Urubú e aos Carmelitas, o rio Negro e Solimões (HOORNAERT, 1990). A ação dessas ordens foi fundamental para a ocupação do território e expansão das fronteiras portuguesas em milhares de quilômetros com relação ao Tratado de Tordesilhas. Por volta de 1740, havia mais de 60 missões religiosas, com população superior a 50.000 habitantes (RE-

Figura 5: Fortificações portuguesas e missões religiosas na Amazônia em 1690.

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ZENDE, 2006, p. 115). O processo de conquista da Amazônia podia então ser considerado bem-sucedido. Assim, em menos de dois séculos, houve uma transformação radical no cenário amazônico. Até o início do século XVI, pouca coisa tinha mudado desde o descobrimento. Em pouco tempo, deslocaram-se para a região os franceses, holandeses, ingleses, portugueses e espanhóis. A primeira metade do século XVI consolidou a ocupação portuguesa, com a expulsão dos estrangeiros e instalação das missões religio-

sas. As bandeiras reconheceram a geografia nacional e fizeram os primeiros e mais violentos contatos com as populações indígenas nativas. As margens dos rios amazônicos eram densamente povoadas, como foi narrado por diversos viajantes. Neste primeiro século de ações europeias, as populações nativas foram escravizadas, perseguidas e assassinadas, e por fim, reduzidas em missões religiosas. No século seguinte, as mesmas margens já estavam completamente abandonadas. As etnias que resistiram foram obriga-

Figura 6: As Missões Religiosas na Amazônia.

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das a subir os tributários do Amazonas, em busca da terra firme, longe das ações da empresa colonial. Esse processo foi o responsável pela migração e extermínio de boa parte das etnias do sudeste do Pará. Mesmo sem haver aldeamentos no médio curso do Tocantins, este serviu como caminho para os descimentos, deslocando as etnias para a região de Belém, ou as exterminando com doenças e expedições de apresamento.

As reformas pombalinas e a Amazônia Do ponto de vista da Metrópole, até a segunda metade do século XVIII, o projeto missionário estava bem encaminhado, mas as finanças do Estado Português estavam decadentes, comprometidas com acordos mercantis feitos com a Inglaterra. Neste contexto, Sebastião José de Carvalho, o Marquês de Pombal, foi instituído pelo rei Dom José I (1750-1777) como ministro de Estado. A partir de conceitos iluministas, o ministro propôs uma série de reformas administrativas com o objetivo de melhorar a administração do Império Português e aumentar as rendas obtidas por exploração colonial (SOUZA, 2009).

Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão do ministro, foi nomeado governador do Maranhão e Grão-Pará no período de 1751 a 1759, quando o Estado ainda estava submetido diretamente à Coroa Portuguesa. O administrador teve como objetivo implantar as reformas coloniais no território do Norte. Pela quarta vez, a capital da província foi transferida de São Luís para a cidade de Santa Maria do Grão Pará (HOORNAERT, 1990). Marquês de Pombal viu na região Norte um potencial de exploração e comércio de produtos e acreditou que o regime missionário desfavorecia o rendimento do trabalho indígena. As medidas imediatas adotadas por Mendonça Furtado foram a cassação dos poderes doados aos religiosos por meio do Regimento das Missões, a promoção das aldeias a lugares ou vilas, sendo que somente as últimas tiveram certa autonomia administrativa e a substituição das línguas indígenas pela língua portuguesa. Duas leis, criadas em 1757, implantaram essas práticas, a primeira, proclamou a liberdade definitiva dos indígenas, com o fim dos aldeamentos; a segunda derrubou o Regimento e implantou o Diretório, outro instrumento para a coordenação das populações indígenas. Essas medidas acentuaram os conflitos

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entre as ordens religiosas e o restante da sociedade colonial, principalmente com a Companhia de Jesus que tiveram como consequência a expulsão definitiva da ordem em 1759. Esse período também foi marcado pela criação da Capitania do Rio Negro, que deu origem ao atual Estado do Amazonas e pela inserção de um novo componente humano, os africanos escravizados, que entre 1757 e 1782 somaram mais de 20.000 (BRUNO, 1967, p. 86). Houve uma grande migração das vilas recém-fundadas, quando muitas etnias indígenas fugiram para a floresta. Poucas cidades no Norte, na época, possuíam mais de 2.000 habitantes e em algumas vilas, a população não passava de uma dezena de famílias. O contexto internacional, com a Guerra da Independência dos Estados Unidos (1775-1783) e as Guerras Napoleônicas (1803-1815) ocasionaram pequenos surtos de desenvolvimento econômico em diferentes atividades (como açúcar e algodão), mas que não acarretaram muitas mudanças para a região. A descoberta das minas auríferas em Goiás, por volta de 1730, gerou certa especulação e iniciou um fluxo

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migratório para a região do Alto Tocantins e Araguaia. Os bandeirantes já haviam confirmado a ligação fluvial entre o Sudeste e o Norte através destes rios, no entanto, a navegação não foi incentivada. Primeiramente, pelas características dos dois rios, com grande número de cachoeiras e corredeiras, empecilho à navegação comercial e num segundo momento pela proibição feita pelo Governo Colonial. Com o objetivo de evitar o contrabando de minerais de Goiás, apenas as rotas oficiais puderam ser utilizadas. A navegação do Tocantins-Araguaia foi proibida em 1737 e só foi revogada em 1782 (FLORES, 2006). Essa proibição foi vista como empecilho ao desenvolvimento econômico local, que dependia do rio para escoar a produção e se comunicar com o restante da colônia.

Conclusões O estabelecimento do empreendimento colonial português nas terras do norte do Brasil foi um processo tardio e lento, que ocorreu apenas no final do século XVI. As primeiras décadas, após a fundação de Santa Maria do Grão Pará, que marcou o início da colonização portuguesa na região Norte em 1616, foram utilizadas no reconhecimento e exploração do território. Para que os portugueses se es-

tabelecessem foi necessário expulsar os representantes europeus de outros modelos coloniais, conhecer os rios e os nativos, bem como as mercadorias de interesse comercial. Após o estabelecimento, com a necessidade de ocupar a área para garantir a posse, foram instaladas as missões religiosas, com a fundação de aldeamentos em diversas regiões, um sistema que perdurou durante mais de um século. Por fim, os poderes das ordens religiosas foram revogados e a liberdade indígena legalizada, com a reforma pombalina na segunda metade do século XVIII, o que acarretou a transformação das aldeias em lugares ou vilas, com autonomia própria. A região do Tocantins-Araguaia esteve à margem destes processos, mas suas consequências para os indígenas foram as mesmas das regiões com o impacto teoricamente mais direto. Os colonizadores, geograficamente, estavam ocupando as margens do Amazonas. Não existiam fortificações inglesas, holandesas e francesas subindo o Tocantins-Araguaia (é possível que tenha existido uma feitoria francesa antes da fundação de Santa Maria do Grão Pará, na área do Baixo Tocantins, cujos registros são imprecisos), portanto, as expedições militares tomaram o rumo oeste, principalmente na foz do Amazonas e Xingu.

Os missionários religiosos fundaram apenas um aldeamento na bacia do Tocantins, já na sua foz, na região de Cametá, que logo foi transformado em vila. Assim, quando a reforma pombalina propiciou o surgimento de vilas e lugares, houve pouca mudança na região. A cidade de Baião, segunda a ser fundada no Tocantins, teve início com uma sesmaria do final do século XVII, cujo povoado só foi organizado em 1779. Alcobaça, atual Tucuruí, terceira ocupação mais antiga do Baixo Tocantins, teve início a partir de uma missão religiosa do Padre Marcos Armulfini, em 1724, em local próximo à atual sede, onde foi construída a fortificação de Nossa Senhora de Nazaré no ano de 1782 (LARAIA e DA MATTA, 1978, p. 66). A estrutura foi destruída pelos indígenas no século XIX. A proibição da navegação nos rios da região foi um obstáculo ao desenvolvimento econômico regional e apenas com o seu fim em 1782, que empreendimentos de finalidade comercial se tornaram viáveis no sudeste do Pará. Mas no final do século XVIII, a atividade mineradora em todo Brasil colônia foi atingida por uma grave crise, criando uma estagnação da atividade comercial no Tocantins-Araguaia. Mesmo sem uma presença constante dos colonizadores, a região foi

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bem explorada. Os franceses foram os primeiros navegadores destas águas, mas possivelmente os bandeirantes vindos de São Paulo foram os primeiros colonos a caminhar pela região, ainda no final do século XVI. Os bandeirantes travavam conflitos violentos com as comunidades indígenas e faziam dos seus derrotados, escravos. Os primeiros conflitos com indígenas da região datam desse período, mas é a partir das ações dos missionários, principalmente da Companhia de Jesus, que as águas do Tocantins e Araguaia foram exploradas e seus habitantes submetidos ao sistema colonial pela cruz. Os grupos indígenas que negavam a autoridade dos religiosos e optavam em não viver sob a tutela da Igreja eram escravizados e brutalmente perseguidos. Foi durante o século XVII que essa ação foi mais intensa e bem relatada. Milhares de indígenas desceram os rios Tocantins e Araguaia para se juntarem aos missionários em Cametá, Santa Maria do Grão Pará, ou outras fazendas e missões do entorno. Diversas etnias foram descritas pelos missionários, cronistas e viajantes durante os séculos XVII e XVIII, como os Tupinambá, que sempre estiveram em contato com os portugueses, desde a fundação da cidade conhecida hoje como Belém. Os índios

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Tocantins, na região da cachoeira de Itaboca, descritos por Cristóvão de Lisboa, em 1625; os Pacajás, também na região de Itaboca, encontrados na entrada de Pedro da Costa Favella, em 1627; os Potis e Inheyguarás, nas narrativas de Antônio Vieira em 1658; os Aruaquizes (de língua geral), Caatingas e Naimiguaras, aldeados no Araguaia, em 1671; os Guarajus, em 1674, no Araguaia e cabeceiras do Tocantins, descritos por Antônio Raposo Tavares; os Tacayúna e Jaguaris, encontrados na bacia do rio Itacaiúnas, na última expedição missionária na região em 1721; os Apinayé, na viagem de Antônio Luiz Tavares, na região da cachoeira de Três Barras, em 1774; entre outros relatos menos precisos (NIMUENDAJÚ, 1982, DA MATA e LARAIA, 1978, FAUSTO, 2001, RODRIGUES, 1977). Por essas informações, fica evidente que a região do Tocantins-Araguaia era densamente povoada por diversos grupos indígenas no momento anterior à chegada dos colonizadores. No entanto, em dois séculos de contato, quase toda essa população foi dizimada pelos aldeamentos dos indígenas, apresamentos, martirizações e também por guerras e contaminações de doenças. Também não houve o processo de fundação de aldeias e fazendas pelos missionários, como

ocorreu em outras áreas da Amazônia no mesmo período. Assim, as Reformas Pombalinas trouxeram poucas mudanças para realidade da região, na qual a situação já era degradante. O processo de extermínio das populações nativas preparou o contexto para a nova frente agrícola que chegava do leste, vinda da região Nordeste e que encontrou as margens dos rios Araguaia e Tocantins praticamente despovoadas no início do século XIX.

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Capítulo 2 A Formação do Povo Brasileiro no Sudeste do Pará

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este capítulo exploraremos os processos envolvidos na colonização da bacia do Tocantins-Araguaia, desde a chegada da frente agropastoril nordestina no século XVIII até a formação dos municípios atuais do sudeste do Pará.

Frentes de expansão agrícola Até o final do século XVIII, a ocupação da sociedade neobrasileira5 tinha atingido apenas o baixo curso do rio Tocantins e as suas cabeceiras, em Goiás. A região sudeste do Pará, nosso objeto de interesse, permaneceu estagnada. As reformas pombalinas e a liberação da navegação pelo Tocantins-Araguaia, devido à crise da mineração, não surtiram efeito para o desenvolvimento

5 Sociedade neobrasileira refere-se a nova sociedade formada a partir da chegada dos conquistadores e agrupava portugueses, espanhóis, negros e índios, além de outros grupos étnicos.

econômico da região. Somente no início do século XIX a situação começaria a mudar, com o advento da frente de expansão agrícola nordestina. A criação de gado no Nordeste estava associada à atividade açucareira, em um modelo de consórcio importado de Cabo Verde. As terras mais férteis foram empregadas no cultivo da cana-de-açúcar e as de baixa produtividade reservadas à criação de gado. Salvador e Olinda tornaram-se os principais centros de dispersão desse modelo (VELHO, 1972, p. 17). A atividade exigia pouca mão de obra e dependia da abundância de terras, disponíveis no interior. Em duzentos anos, entre a segunda metade do século XVI e XVIII, a pecuária povoou todo o nordeste do país, desde a bacia do rio São Francisco, na Bahia, até o Maranhão ocidental. Após a expulsão dos holandeses do litoral nordestino, em 1654, a pecuária

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foi introduzida na região e primeiro se desenvolveu no entorno da cidade de Salvador. Com a conquista de Sergipe, se estendeu até a margem direita do São Francisco. Logo, a frente expansionista atingiu as bacias dos rios Itapicuru e Vasabarris. Os atuais estados do Ceará, Piauí, Paraíba aos poucos foram ocupados por essa nova cultura, mas os sertões preteridos pela sociedade colonial não eram terras desocupadas. O interior nordestino, assim como o litoral, era densamente povoado por nativos e formavam dezenas de etnias distintas. Os grupos que habitavam os sertões eram genericamente denominados “tapuios”, índios não falantes de línguas Tupi-Guarani. Na medida em que a frente avançava, os conflitos entre colonos e indígenas cresciam. Etnias como os Janduí foram aliados dos holandeses contra os portugueses, resistiram ferozmente às invasões em seus territórios, matando todo gado em qualquer oportunidade. Em 1655, o Governador-geral João Fernandes Vieira já havia ordenado a guerra contra a nação Janduí. A resistência indígena ficou conhecida como a Confederação dos Cariris, a partir de 1683. Em 1692, foi assinado um tratado de paz entre a sociedade colonial e os confederados, no entanto, até meados do século XVIII é possível encontrar documentação sobre a permanência dos conflitos na região. Entre as etnias con-

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federadas estavam os Inhamuns, Cariús, Crateús e Cariris, entre outros. Algumas delas foram completamente dizimadas (HOORNAERT, 1992). A crise na atividade açucareira, no século XVII, ocasionou uma alteração na ordem econômica, com a pecuária se estabelecendo como uma atividade de subsistência, cada vez mais afastada das fazendas de açúcar e penetrando nos pastos do interior. Com uma vocação autossuficiente e ocupando um território enorme, a atividade da criação de gado não participava de forma mais íntima do comércio e das fontes de riqueza da colônia e por isso desenvolveu um sistema de economia fechada, quando as trocas em espécie se avultam em importância sobre a circulação da moeda (MOREIRA NETO, 1960, p. 6). A atividade agrícola era de subsistência, praticada nas matas ciliares ou vazantes dos cursos d’água e forneciam apenas os produtos indispensáveis ao sertanejo. Esse modo de vida ficou conhecido como “civilização do couro” devido à importância do gado e de seus subprodutos. Na segunda metade do século XVIII, os sesmeiros da Casa da Torre, empresa de expansão pastoril que ocupou o sertão do Piauí afugentando e aprisionando índios para alargar as áreas de criação de gado, fundaram um povoado na margem esquerda do rio Paranaíba,

dando início ao processo de povoamento do sul do Maranhão (FRANKLIN, 2005, p. 12). Os ocupantes denominaram a região de “pastos bons” devido à exuberância e esplendor do mesmo. Além disso, “Pastos Bons” foi uma expressão geográfica, uma denominação regional geral, dada pelos ocupantes à extensão de campos para o Ocidente (CARVALHO, 2006, p. 97). Nessa região, antes da chegada da pecuária, moravam os índios Amanajós. Esses receberam os estrangeiros e ajudaram a fazer a instalação, além de fornecerem mandioca, farinha, milho, inhame, batatas entre outras produções para a subsistência dos colonos. Em pouco tempo, a etnia foi escravizada e dizimada. Além dos Amanajós, diversas etnias indígenas habitavam os pastos bons. Na metade do século XVIII, a região contava com dezenas de fazendas de gado (CAPISTRANO DE ABREU, 1998, p. 131). A partir de 1806, diversas expedições, tanto de aprisionamento indígena quanto de colonização, partiram dos pastos bons em direção ao Tocantins. Essas expedições são a origem de diversos municípios, como Riachão (1808), Porto da Chapada atual Grajaú (1811), Carolina (primeira ocupação oriunda da frente de expansão nordestina a ser fundada nas margens do rio Tocantins, em 1810), Boa Vista atual Tocantinópolis

(1825), Barra do Corda (1840) e São Vicente atual Araguatins (1868). Até meados do século XIX, o Tocantins foi a fronteira mais ocidental da frente pastoril nordestina. O estabelecimento das cidades nos sertões maranhenses dura aproximadamente um século, em um processo lento, principalmente pela resistência da população nativa que habitava a região. Assim: a região abaixo do Farinha, onde dominavam os Canelas, a do alto Grajaú e Pindaré, habitada pelos Gaviões, e as margens do Tocantins, até a foz com o Araguaia, onde viviam os Krikati e haviam outras aldeias dos Gaviões, constituíram- se em território de alto risco para os colonizadores e viajantes do Tocantins até a fundação de Santa Teresa, atual cidade de Imperatriz. (FRANKLIN, 2005, p. 16-17).

Relatos de outros estudiosos e viajantes apontam que o sudoeste maranhense, a partir da barra do rio Farinha até as matas do Gurupi e das margens do Tocantins até o Grajaú, era ocupado pelos índios Timbira, com destaque para os gaviões, poncatgês (designados também caracatigês e caracatis, depois krikatis) e canelas. Também foram descritas outras etnias, como os angetgês, apinajés, augutgês, canaquetgês, capiecrãs, gamelas, guajajaras, macamecrãs, norocoagês, ponecras, purecamecrãs, sacamecrãs, tacamedus, xavantes e xerentes (MOREIRA NETO, 1960).

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A região da confluência do Tocantins-Araguaia foi ocupada no final do século XIX, até a margem esquerda deste último rio, na altura dos campos do Pau D’Arco e Arraias. Em 1892, um grupo de criadores de gado fundou a vila de Santana da Barreira, às margens do Araguaia, na região dos campos do Pau D’Arco. A instalação da colônia foi facilitada pelos índios Irã’ãmranhre, que haviam estabelecido contato pacífico com os missionários dominicanos desde 1859, com a fundação da Missão de Santa Maria Nova. As trilhas indígenas foram utilizadas como estradas e algumas aldeias serviram de base de fixação nos campos do interior e fontes de suprimentos (GORDON, 2006). A área do Médio Tocantins-Araguaia foi alvo de disputa territorial entre os Estados do Pará, Maranhão e Goiás e a fundação de alguns municípios esteve relacionada às tentativas de assegurar a posse da região. Há divergência entre diversos autores sobre a origem de alguns dos municípios, como São João das Duas Barras e São João do Araguaia (BAENA, 1969, VELHO, 1972, NIMUENDAJÚ, 1983). Mas de fato, em 1809, o príncipe regente D. João decretou a criação da Comarca do Norte, ao norte de Goiás e que uma nova sede administrativa deveria ser construída, na confluência do rio Itacaiúnas com

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o Tocantins, onde atualmente se localiza Marabá. Essa cidade seria São João das Duas Barras, que devido à distância das demais cidades, foi transferida para a Vila de Palma, atual Paranã. Alguns autores ainda acreditam que São João do Araguaia teria origem na localização original de São João das Duas Barras. A “marcha para oeste” do sistema pecuário nordestino no final do século XIX havia alcançado seus limites máximos. Foi barrada primeiramente pela floresta tropical. As pastagens naturais foram todas ocupadas: “toda a área tribal ocupada pelos Irã-Amráire Kayapó foi convertida em pastagens. Suas roças usuais nas matas ciliares dos rios Arraias e Pau D’Arco foram ampliadas e postas a serviço da frente expansionista” (MOREIRA NETO, 1960, p. 12). Não havia tecnologia que permitisse que a cultura sertaneja desbravasse a floresta tropical. O isolamento dos fazendeiros do Baixo Pau D’Arco, embora tenha inflado o crescimento do número de bovinos, começou a contribuir para a inviabilidade da fixação dos criadores no local. O gado no lado paraense do Araguaia encontrava sérias dificuldades de comercialização devido a não existência de uma tecnologia adequada que possibilitasse a travessia dos rios Araguaia e Tocantins, sem diminuir ou inutilizar o rebanho negociado (SILVA, 2007, p. 11).

Somente o advento da extração do caucho, no século XX, permitiu um desenvolvimento para a atividade pastoril para os habitantes do Tocantins-Araguaia. A borracha, utilizada como matéria-prima industrial era encontrada nas matas contíguas aos pastos, o que possibilitou a formação de um mercado local para a produção pecuária (SILVA, 2007, p. 12).

Para sintetizar os dados, foram feitos mapas com as expansões territoriais por período e assim melhor apresentar o padrão de deslocamento e seu fluxo (figura 7).

Figura 7: As frentes de expansão agrícolas.

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Os indígenas no sudeste do Pará Os novos territórios alcançados pela frente de expansão não estavam desocupados. Na região dos Pastos Bons, a pressão territorial atingiu principalmente a área ocupada pelos índios Timbiras, que foram englobados pela fronteira econômica, por vezes como aliados para as guerras de conquista e apresamento, e em outras, vítimas do mesmo movimento (HEMMING, 1987b). As ações bélicas, assim como

ocorreu em outros contextos, vieram acompanhadas por epidemias, o que acarretou no mesmo movimento de alta mortalidade dos indígenas, como ocorrido nas margens do Tocantins no século anterior. Quando a frente agrícola alcançou as margens do Tocantins, o contexto etnográfico era predominantemente composto por alguns grupos Tupi-guarani que sobreviveram ao período das missões, como os Jundiaís, abaixo de

Figura 8: Detalhe: Etnias indígenas do sudeste do Pará segundo Nimuendajú (1981).

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Itaboca (Villa Real, 1793, apud Fausto, 2001, p. 51) e Anambés, na região de Alcobaça (1842), como é possível observar no mapa etnográfico de Curt Nimuendajú (1981), destacado na figura sequente (figura 8). Foi no início do século XIX que as etnias indígenas de origem Macro-Jê fizeram sua entrada no território Amazônico. Esses grupos são típicos do Planalto Central Brasileiro e ocupavam desde a região do Alto Tocantins-Araguaia, no estado de Goiás, até o sul do país, na região dos campos de Cima da Serra, no Rio Grande do Sul. O mesmo movimento agrícola, oriundo do Nordeste, atingiu a região de Goiás no final do século XVIII, após a crise do ouro. A pressão territorial ocorreu principalmente sobre a área Apinayé, grupo Jê, que ocupava o Alto Tocantins. Fugindo dos apresamentos e guerras, os Apinayé se instalaram na região do Pau D’Arco, provavelmente no início do século XIX. Após uma divisão interna, um grupo permaneceu ocupando a região do Pau D’Arco e o grupo ancestral dos Xikrin, os Pore-Kru, migraram rumo ao norte, para os rios Parauapebas e Itacaiúnas, já no final do século XIX. Os Apinayé da região do Pau D’Arco novamente dividiram-se, nos quais

os dissidentes deram origem a diversos grupos Kayapó, como os Gorotire e Kararaô. Já os Pore-Kru novamente cindiram-se, o que resultou na origem dos Kokorekré, que permaneceram no Parauapebas e dos Put-Karot, que rumaram para o Cateté. Em nova cisão interna, os Kokorekré deram origem aos Djoré, que sofreram intenso processo depopulacional na sua trajetória. Já os Put-Karot, após o tempo no Cateté rumaram para o Bacajá, com a finalidade de união com os Kokorekré, que em 1910 haviam sido vitimados por epidemias e expedições punitivas regionais. Porém, parte do grupo não satisfeita com o novo lugar de morada, decide viajar para o sul, voltando para o Cateté. Os remanescentes no Bacajá são os Xikrin do Bacajá, enquanto os dissidentes são os Xikrin do Cateté (figura 9). Atualmente, duas áreas indígenas fazem fronteira com a região objeto de estudo deste livro: a Terra Indígena Xikrin do Cateté, ao norte, com aproximadamente 439.000 hectares e a Terra Indígena Kayapó, ao sul, com aproximadamente 3.200.000 hectares de área. Todavia, antes da demarcação das terras indígenas, desde que adentraram o território do sudeste paraense, esses grupos de origem Jê, circularam entre o Tocantins, Araguaia e Xingu, sempre à margem da sociedade tradicional “branca”.

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Figura 9: Processos migratórios das populações indígenas no sudeste do Pará.

Eles não se mantiveram isolados da sociedade neobrasileira, que vinha do sul e leste, à procura de pastos para a criação de gado e dos extrativistas, ora atrás da borracha, ora em busca da castanha, mas conseguiram controlar o grau de interação (INDRIUNAS, 2004, p. 72). Além dos novos colonizadores os Kayapó se depararam com outros grupos indígenas, os Parakanã e Asurini. Seja na relação dentro do grupo, com

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outras sociedades indígenas, ou ainda com a sociedade tradicional, os conflitos variavam de acordo com os interesses particulares do grupo, sendo por vezes amistoso, ou mais frequentemente, violentos, mas os anos de interação com os brancos fez com que essas etnias se organizassem mais rápido e eficazmente do que outros grupos indígenas. O contato com os novos colonizadores se intensificou principalmente na

década de 1930, com o crescimento da economia castanheira no Médio Xingu e fez com que os extrativistas se aproximassem dos territórios tradicionalmente ocupados pelos Kayapó. Data deste período, o início das missões religiosas para com esses grupos, além de uma atuação mais firme do estado pela instalação de um escritório do Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Esse foi o início do processo de “pacificação” destas sociedades, mas que foi finalizado apenas em 1966 (SCHMINK & WOOD, 2012). As primeiras tentativas de delimitação das terras indígenas Kayapó datam da década de 1950, por intermédio da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), mas que nunca foi executada. Outras tentativas ocorreram nas décadas seguintes, porém sem sucesso. Somente na metade da década de 1980, as áreas indígenas foram demarcadas, após uma série de confrontos envolvendo garimpeiros e Kayapó. Em 1978, as primeiras fontes de ouro foram descobertas, na região do Rio Branco. Nos anos seguintes, outros afloramentos também foram descobertos, em diversas áreas do território reivindicado pelas etnias Kayapó. Além dos garimpeiros, os militares passaram a controlar áreas de exploração mineral. O grau de interação das diversas aldeias Kayapó com os garimpeiros foi

distinto. Algumas aldeias concordaram em receber percentuais do minério explorado, enquanto outras foram completamente contra este tipo de relação. O diferente posicionamento dos grupos fez com que o número de conflitos aumentasse com diversos ataques aos garimpeiros. Foi essa situação que pressionou a demarcação das terras indígenas e a regulamentação das atividades permitidas dentro do território indígena (SCHMINK & WOOD, 2012). A situação do garimpo foi controlada, mas as demarcações de terra não foram homologadas. Durante esse processo, os conflitos agrários passaram a fazer parte do contexto das duas áreas indígenas. Houve uma grande pressão, principalmente nas áreas limítrofes. A homologação de ambas as áreas indígenas ocorreu apenas em 1991. A partir de então, o controle da área passou definitivamente para seus habitantes. As fontes de renda se diversificaram, com o extrativismo da madeira e compensações por danos ambientais causados por grandes empreendimentos em áreas próximas às reservas. Os ciclos econômicos de exploração dos recursos naturais: o caucho, a castanha e o minério No final do século XIX, na cidade de Boa Vista do Tocantins, atual To-

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cantinópolis, ocorreu uma guerrilha denominada Primeira Revolta de Boa Vista. Carlos Gomes Leitão, um maranhense nascido em Caxias, numa família influente e latifundiária, teve sua ascensão política com a Proclamação da República e foi eleito deputado estadual pela província de Goyaz no ano de 1890. Insatisfeito com o rumo da justiça e política de Boa Vista, investiu contra a cidade com um exército particular por diversas vezes entre 1892 e 1894, todas sem sucesso. Neste mesmo período, também tentou emancipar uma província autônoma de Boa Vista, mas não contava com suporte político para obter

êxito. Após os consecutivos fracassos, o grupo liderado pelo Coronel Leitão foi expulso de Boa Vista e seguiu rumo ao norte (MONTARROYOS, 2013). Sem mandado político e patrimonialmente comprometido, Carlos Leitão procurou o apoio do governador do Grão-Pará, Lauro Sodré, que em 1895 outorgou um contrato de concessão de uma Colônia Agrícola a ser instalada na margem esquerda do Tocantins, na foz do rio Itacaiúnas. Essa concessão foi o primeiro núcleo de colonização planejado no sudeste do estado, denominado Burgo Agrícola do Itacaiúnas e foi a origem da cidade de Marabá (figura 10).

Figura 10: Burgo agrícola do Itacaiúnas (COUDREAU, 1897, p. 63).

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O valor do contrato da colônia foi dividido em parcelas que seriam pagas com o cumprimento de cláusulas que previam o desenvolvimento da região. O burgo havia sido planejado para a atividade agrícola. No entanto, a descoberta do caucho ocasionou uma mudança das atividades primárias e a colônia fracassou, sendo apenas a primeira parcela da concessão pública paga ao Coronel Leitão. Aos poucos, o burgo desapareceu (VELHO, 1972, p. 28). No entanto, a colônia já havia atraído para a área diversos migrantes, oriundos principalmente do Maranhão e Goiás. Entre eles, estava o maranhense Francisco Coelho da Silva, que se instalou a poucos quilômetros rio acima da colônia agrícola, na área do “Pontal”, confluência dos rios Tocantins e Itacaiúnas. O comerciante fundou um barracão, chamado Casa Marabá, em alusão ao poema de Gonçalves Dias, no qual comercializava os itens necessários para a exploração do caucho, além de bebidas, carne e também mantinha um prostíbulo. A área no entorno do barracão prosperou, tornando o povoado ponto de passagem obrigatória para quem subia ou descia os rios Tocantins e Itacaiúnas, envolvidos principalmente na atividade de extração do látex e do caucho. Em 1904, a Subprefeitura do burgo foi transferida para o Pontal, com o nome de Ma-

rabá e foi elevada a município em 1913, quando já contava com, pelo menos, 500 habitantes residentes e 1.500 forasteiros, em épocas de maior movimento. O ciclo da borracha, que impulsionou Marabá para o centro polarizador de uma vasta área, articulando o comércio de diversas cidades da região, teve seu declínio a partir de 1912, com o início da queda do preço da borracha e culminou com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1919. A partir de então, os habitantes, que sempre foram predominantemente flutuantes e aventureiros, partiram para áreas mais prósperas, ocasionando um processo de despovoamento que duraria até a década de 1940 (PREFEITURA NO MUNICÍPIO DE MARABÁ, 1984). A estrutura montada para a extração da borracha foi transferida para a castanha, atividade fundamentalmente do mesmo tipo e que se tornaria a nova frente extrativista. Durante a década de 1920, Marabá aumentou sua produção de castanha e atingiu a liderança produtiva no Estado do Pará em 1927, superando Alenquer e Óbidos. Assim, a cidade ficou conhecida como “terra dos castanhais” durante várias décadas, em função da produção elevada e também pela formação de grupos locais de poder político e econômico associados à economia ex-

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trativista, chamada Oligarquia Castanheira (EMMI, 1999, 2006). O início da produção da castanha ocorria, assim como na extração do caucho, de maneira “livre”, ou seja, sem restrição ao acesso aos castanhais. Mas à medida que a atividade cresceu em volume e importância econômica, a elite local que já monopolizava o comércio da castanha, passou também a controlar as áreas dos castanhais, colocando em prática o arrendamento, uma espécie de aluguel por safra a partir de 1925 (EMMI, 1999).

Apesar do predomínio da prática do arrendamento, ainda havia os castanhais públicos, inarrendáveis, mas de qualquer maneira, a oligarquia exercia o seu domínio por meio do monopólio comercial, inicialmente, e logo foram dominados pelos arrendatários, agricultores e pecuaristas (VELHO, 1972, p. 54). A agropecuária foi uma atividade secundária, voltada principalmente para o abastecimento do mercado interno, que cresceu principalmente a partir da década de 1930 (idem, op. cit. p. 62).

Título: Garimpo de diamantes, Poço da Bagagem, Marabá (PA). Local: Pará. Ano: 1949. Descrição física: 1 fot.: neg., p&b. Série: Acervo dos Municípios Brasileiros.. Notas: sem negativo. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-%20RJ/2800.jpg Figura 11: Garimpo de diamante

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Nesta época, outra frente de expansão atingiu o sudeste do Pará, vinda do norte de Goiás, trazida pela decadência das minas do Centro-Sul ainda no período do Brasil Colônia, dando início à atividade garimpeira na região. Os primeiros diamantes foram encontrados em Marabá em 1939-40, mas o garimpo não excluiu a coleta da castanha, que era sazonal. A mineração, no entanto, não consistiu em uma atividade primária e sim complementar paralela à agropecuária. O advento da Segunda Guerra Mundial impulsionou também a mineração do cristal de rocha, a partir de 1940. Os postos de mineração, também chamados corrutelas, promoveram a ascensão de novos aglomerados populacionais, na emergência de suprir a demanda do abastecimento destes locais, ou impulsionaram localidades estagnadas há mais tempo, como São João do Araguaia. Ainda houve um último surto econômico da borracha durante esse período, com os “Acordos de Washington”, feitos entre o governo brasileiro e o norte-americano, porém com um impacto econômico muito menor. Em 1946, foi comercializada a última carga de borracha da região. Ao final da Segunda Guerra, a economia do sul do Pará era diversificada o suficiente para sustentar o crescente nú-

mero de habitantes. Gradualmente, no final dos anos 40 e início dos anos 50, a população do sul do Pará cresceu, o que deu início a um mercado para a carne produzida na região. Marabá tornou-se assim, um centro de engorda do gado goiano e maranhense, aspecto econômico bastante significativo (SCHMINK & WOOD, 2012, p. 201). De maneira lenta e gradual, núcleos agrícolas avançaram em direção ao interior, iniciando a agricultura de terra firme, que substituiu a tradicional pequena agricultura de várzea. Havia a crença de que os terrenos melhoravam na medida em que se afastavam do grande rio (Tocantins) e de fato eram essas as terras devolutas que eram passíveis de serem ocupadas. Assim, criou-se um fluxo no sentido oeste e sudoeste, bastante significativo em São João do Araguaia. Esse fluxo consistiu no avanço de pequenos núcleos familiares na mata, fixando-se geralmente próximos a igarapés ou lagos, onde houvesse solo adequado à agricultura e pecuária e também fornecesse matéria-prima para a construção de casas. As famílias se estabeleceram, utilizando a coivara como técnica de agrícola. A ocupação da terra firme tem características bastante distintas das ocupações das margens, mais antigas. Com isso, criou-se a categoria de centro, onde

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se encontra a roça de um ou mais lavradores e a categoria de beira (do rio), o lugar onde se situam os maiores e mais antigos aglomerados urbanos (VELHO, 1972, p. 95). Essa nova dinâmica de ocupação do ambiente trouxe novas características às relações sociais já conflituosas existentes na região. O embate entre agricultores e castanheiros, como o ocorrido em São Domingos das Latas

(atual São Domingos do Araguaia) foi bastante violento, acusando uma das novas características das relações sociais (VELHO, 1972, p. 97). Portanto, mesmo antes das ações estatais do regime militar para “integrar” a Amazônia, havia na região um processo de crescimento demográfico e econômico baseados no desenvolvimento agropecuário.

Quadro com as características dos dois modos de ocupação segundo Otávio Guilherme Velho (1972, p. 96).

O desenvolvimentismo na Amazônia A Constituição Federal, de 1946, havia criado o Plano de Valorização Econômica da Amazônia (PVEA), como um sistema de medidas, serviços, empreendimentos e obras, destinados a incrementar o desenvolvimento da produção extrativa e agrícola pecuária, mineral, industrial e o das relações de troca, no sentido de melhores pa-

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drões sociais de vida e bem-estar econômico das populações da região e da expansão da riqueza do país (BRASIL. Lei nº 1.806, de 6 de janeiro de 1953).

Mas o plano só foi efetivado a partir do segundo governo de Getúlio Vargas, com a criação da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA), em 1953, órgão executor dos projetos federais.

Uma das ações mais marcantes desenvolvidas dentro da Superintendência ocorreu durante o mandato de Juscelino Kubitschek (19561961), com a construção da rodovia Belém-Brasília (figura 12). As obras da estrada tiveram início em 1956, contudo, atingiram o sul do Pará apenas em 1960. A rodovia proporcionou a primeira via terrestre de conexão da região com o restante do país (SCHMINK & WOOD, op. cit. p. 202).

Umas das primeiras consequências da construção da estrada foi o aumento do interesse pelas terras próximas à rodovia, caracterizadas como “terras devolutas” (PETIT, 2003, p. 73). Essas áreas foram utilizadas como objetos de trocas de favores, entre as elites estaduais do Pará e as elites locais. Essas relações estavam embasadas no poder estadual da concessão de uso ou venda de títulos de terras devolutas a particulares. Pequenos agricultores, que tradicionalmente ocupavam a região, porém sem

http://www2.transportes.gov.br/bit/02-rodo/3-loc-rodo/loc-rodo/010.htm (adaptado) Figura 12: Acessos terrestres.

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os títulos de propriedade da terra, foram empurrados pelos grandes investidores, que gradualmente monopolizaram as propriedades às margens da rodovia.

de títulos de grandes propriedades no sul do Pará na história, também marcado pela violência na relação entre os grandes e pequenos proprietários de terra.

No período de 1959 a 1963, foram concedidos 1.575 títulos de grandes propriedades, que somaram 5.646.375 hectares, enquanto no período de 1960 a 1963, os títulos de pequenas propriedades somaram um total de 3.753, distribuídos em 81.171 hectares (PETIT, 2003, p. 74). O início da década de 1960, portanto, foi o período de maior distribuição

Com o golpe de estado militar, em 1964, o papel da SPVEA foi revisto. Por meio de relatórios técnicos, foram apontadas diversas falhas no programa e a sua extinção decretada. Em substituição ao órgão, foi criada a Superintendência de Desenvolvimento Econômico da Amazônia (SUDAM), cujo território de atuação seria o mesmo do antigo ór-

Tipo de material: CD-ROM. Autor: Rubens Moreno Mazzola Título: Relevo com tabuleiro baixo na BR-14 (PA) Local: BR-14 Ano: [195-?] Descrição física: 1 fot. : neg., p&b. Série: Acervo dos Trabalhos Geográficos de Campo Notas: Negativo 13367. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-%20RJ/PA8918.jpg Figura 13: BR-14 na década de 1950.

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gão e estava subordinada ao Ministério do Interior. Um mês antes da SUDAM, já havia sido criado o Banco da Amazônia S.A. (BASA), que foi o principal instrumento para o financiamento para as ações do órgão. As políticas da SUDAM podem ser divididas em três etapas. A primeira, no final da década de 1960, tinha como objetivo o incentivo agrícola, destinado ao mercado regional, nacional e internacional, visando diminuir a importância das atividades extrativistas e da agricultura de subsistência, características criticadas na ação do SPVEA. A segunda fase, entre 1969 a 1974, durante o mandato do general Médici, foi caracterizada pelos projetos de colonização da Transamazônica, ampliação da rede viária terrestre e projetos energéticos. Na terceira fase, em meados da década de 1970, a SUDAM orientou a política econômica baseada no modelo de vantagens comparativas. Esse modelo defende que cada país deve se especializar na produção de mercadorias mais eficientes (ou com o custo menor) para exportação e importar as mercadorias com a produção menos eficiente (PETIT, 2003 p. 81-84).

As estradas A partir da construção da Belém -Brasília, diversos núcleos urbanos fo-

ram estabelecidos às margens das estradas, resultando em uma nova maneira de ocupar o espaço, nas chamadas cidades de “beira de estrada” (SCHMINK & WOOD, op. cit. pág. 206). A construção da rodovia Transamazônica, planejada no governo Médici e inaugurada em 1972, acarretou em mais transformações sociais, principalmente na região de Marabá. O projeto da SUDAM para a colonização da Transamazônica fazia parte do PIN – Programa de Integração Nacional, instrumento de cunho geopolítico criado pelo governo militar brasileiro através do Decreto-Lei nº 1106, de 16 de julho de 1970, assinado pelo Presidente Médici. Abaixo, a transcrição de alguns trechos do objetivo do projeto. 1) Deslocar a fronteira econômica, e, notadamente, a fronteira agrícola, para as margens do rio Amazonas [...]; 2) Integrar a estratégia de ocupação econômica da Amazônia e a estratégia de desenvolvimento do Nordeste [...]; 3) Criar as condições para a incorporação à economia de mercado [...] de amplas faixas de população antes dissolvidas na economia de subsistência [...]; 4) Estabelecer as bases para a efetiva transformação da agricultura da região semiárida do Nordeste; 5) Reorientar as emigrações de mão-de-obra do Nordeste, em direção aos vales úmidos da própria região e à nova fronteira agrícola; 6) Assegurar o apoio do Governo Federal ao Nordeste, para garantir um processo de industrialização tendente à auto sustentação [...]. (BRASIL, 1970, p. 31).

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Para a efetivação dos planos foram construídos programas de irrigação e colonização do nordeste, a construção das rodovias Transamazônicas e Cuiabá-Santarém e os programas de colonização associados às rodovias. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA foi o órgão responsável pela implementação dos programas de colonização utilizando um modelo de baixa densidade. Os núcleos de colonização deveriam dispor de escola primária, posto de saúde, igreja, escritório do Banco do Brasil, posto de comunicações e posto do Ministério da Agricultura (BRASIL, 1970, p. 32). No entanto, pouca dessa infraestrutura prometida foi construída (SMITH, 1982, p. 15-19). Os lotes possuíam 100 hectares de área e haveria três tipos de núcleos urbanos: os núcleos menores, ou agrovilas, entre 38 e 48 casas, os núcleos intermediários ou agrópolis, com 600 famílias e as rurópolis, com até 20 mil habitantes. Na prática, apenas uma rurópolis foi construída e algumas agrópolis. O projeto de colonização dirigida, iniciado em 1971, durou apenas até 1974, sem alcançar grandes êxitos. Mas a propaganda oficial, mesmo sem o cumprimento das promessas, acabou por atrair milhares de migrantes, que acabaram ocupando, como posseiros, milhares de hectares na Amazônia,

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principalmente no sudeste do Pará (PETIT, op. cit. p. 88). As colônias agrícolas, sem condições de receber o grande volume de colonos, acarretaram em um deslocamento destes colonos para as áreas possíveis de serem acessadas, nas margens das estradas. Esse novo modelo de colonização e as atividades resultantes acabaram por romper com a antiga oligarquia castanheira. O desmatamento acarretou no declínio da produtividade dos castanhais e a mão de obra voltou-se às outras atividades. Para se ter uma ideia da mudança na distribuição de terras na região de Marabá: 44% das terras pertenciam às oligarquias em 1972 e esse percentual cai para apenas 14% em 1981. Além da Transamazônica, data do final da década de 1960 o começo da construção da PA-150, inicialmente planejada para ligar a rodovia Belém-Brasília à periferia de Marabá. A estrada ficou pronta apenas em 1972, mas deu origem a diversos novos assentamentos, como Bom Jesus, Abel Figueiredo e Morada Nova. A PA-150 também deu acesso a ricas concentrações de mogno, que ocasionou um rápido, porém lucrativo ciclo econômico. Serrarias do Sudeste e Sul, principalmente do es-

tado do Paraná, foram atraídas pelos incentivos fiscais da SUDAM. Na década de 1970, a produção de mogno do Pará cresceu 4.000%, detendo 60% da indústria madeireira da Amazônia (SCHMINK & WOOD, op. cit., p. 214). Esse ciclo originou municípios como Pau D’Arco (nome de uma serraria instalada na região em 1972), e Rio Maria (1973). A produção do mogno estendeu-se até 1981, com o fim das reservas mais acessíveis em Redenção, Rio Maria e Xinguara.

Em 1970, as duas empresas passaram a atuar em conjunto em Carajás, com apenas 30% da mina sob o controle da empresa brasileira, sob o nome de Amazônia Mineração S.A. (AMZA). O governo tinha um posicionamento dúbio sobre a ação de companhias estrangeiras em atividades de mineração em território nacional e a CMM não tinha o mesmo objetivo de investimento na infraestrutura do projeto. Enquanto a CVRD e o Estado Nacional viam o Projeto Grande Carajás como uma saída para a crise financeira que o país vinha enfrentando, os investimentos da CMM não tinham o mesmo objetivo.

O minério As pesquisas minerais no sudeste do Pará iniciaram na década de 1960, com levantamentos geológicos realizados por empresas nacionais e estrangeiras, a partir de diversos locais, como Marabá, São Félix e Altamira. No início da década, na região de Carajás, foi descoberta o que viria a ser a maior mina de ferro com alto teor de concentração do planeta. A área havia sido pesquisada por uma empresa americana, a United States Steel Cor poration (USSCo), que operou no Brasil como Companhia de Mineração Meridional (CMM) e também por geólogos da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) (BEISIEGEL, 2006).

No final da década, os conflitos tornaram-se insuperáveis e a CMM deixou o projeto. A AMZA se dissolveu em 1977, a CMM foi indenizada pela CVRD, que assumiu inteiramente o projeto. A empresa, em função das novas perspectivas, elaborou uma proposta contida no relatório “Amazônia Oriental – Plano Preliminar de Desenvolvimento”, que propunha não somente a exploração mineral de Carajás, mas também a exploração global dos recursos naturais existentes na região, centrada nos recursos minerais. Também foram apresentadas as alternativas de transporte e logística, como o terminal portuário em São Luís/MA e a estrada de ferro que interliga a área de mineração ao porto, denominada Ramal

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Ferroviário do Sudeste do Pará (RFSP) ou Estrada de Ferro Carajás (EFC). Este conjunto de medidas consistiu no Programa Grande Carajás (PGC), que foi apresentado oficialmente no final de 1980. Como consequência, assim como outros grandes projetos, trouxe o inchaço populacional. Para a acomodação desta população emergiram novos centros urbanos, geralmente sem a menor infraestrutura necessária para funcionamento. Os interesses estatais eram atendidos, pois havia mobilização da mão de obra para a construção das estradas, ferrovias e demais instalações, mas os migrantes tinham os seus interesses deixados em último plano. Essas grandes obras, ao mesmo tempo em que empregavam um grande contingente de trabalhadores, após o seu término, deixava um rastro de miséria e desemprego quando eram finalizadas. Além dos conflitos sociais gerados pela desigualdade de condições socioeconômicas promovidas pelo projeto, a área do projeto estava dentro de uma área indígena demarcada, a Área Indígena Xikrin do Cateté. A vinda de um grande contingente populacional para o entorno da terra indígena, já traria algum tipo de conflito entre estas sociedades, certamente. Os primeiros estudos de viabilidade realizados para o empreendimento não previam nenhuma política para as etnias indígenas

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afetadas pelo projeto. Somente após a pressão de organizações não governamentais, pesquisadores e antropólogos, brasileiros e estrangeiros, envolvidos com as sociedades indígenas, a questão foi mediada e resolvida (SCHMINK & WOOD, op. Cit., p. 329). As primeiras medidas para compensar os danos causados a essas etnias datam de meados dos anos de 1980. Ao longo do desenvolvimento do projeto, o diálogo e a intervenção federal aumentaram nesta relação entre sociedades indígenas e a mineradora. Os conflitos ainda existem, mas são bem menores do que os ocorridos no início do projeto.

A barragem Na década de 1950, tiveram início os estudos sobre o potencial hidrelétrico do rio Tocantins, bem como sobre sua navegabilidade. Mas somente na década seguinte, com o fomento dos projetos federais para o desenvolvimento da região norte do país, que a construção de uma hidrelétrica foi levada adiante. Com as descobertas minerais da década de 1960 e 1970, não só do sudeste do Pará, como as reservas de bauxita em Oriximiná entre outras, era necessário aumentar o potencial elétrico do país para atender os novos empreendimentos (PINTO, 2010).

Em 1974, foi iniciada a construção da hidrelétrica de Tucuruí, que só foi encerrada em 1985. A obra é a quarta maior do mundo e abastece principalmente os estados do Pará, Maranhão e Tocantins, além disso, compõe o Sistema Integrado Nacional de distribuição de energia. Possui uma área de reservatório de 2.850 km² e está localizada próximo à Marabá, no município de Tucuruí.

vimento regional e a integração nacional. De fato, muitas áreas inacessíveis, isoladas, foram ocupadas. As cidades se multiplicaram e as riquezas naturais, como os minérios e a madeira, foram rapidamente exploradas, movimentando a economia, mas não houve planejamento para a execução destas obras e as consequências foram negativas, seja nos projetos de mineração, construção de estradas ou colonização.

Assim como outras grandes obras na Amazônia dos anos 1970-80, a barragem trouxe uma série de transformações socioeconômicas irreversíveis para a região. Atração de grande contingente populacional, formação de novos aglomerados urbanos, tensões com movimentos de luta pela terra e com indígenas. Além das consequências socioeconômicas, essa obra afetou o meio ambiente, principalmente com a inundação da área da represa. Boa parte do patrimônio material, imaterial, cultural e ambiental ficou sob as águas e as suas consequências podem ser vistas até a contemporaneidade.

O desenvolvimento foi bastante heterogêneo, com uma desigualdade muito grande entre as partes envolvidas. Essa falta de planejamento resultou em núcleos populacionais sem a menor infraestrutura, como água, esgoto, hospitais, escolas e segurança. Os ciclos de exploração foram breves, acompanhados de fartura no início (como o garimpo e a madeira), mas com um final decadente e miserável. Os projetos de reforma agrária nunca se concretizaram e a luta pela terra é constante desde o início dessas obras até os dias de hoje.

Conclusões A Amazônia, a partir das grandes obras elaboradas no regime militar, foi modificada de maneira irreversível. As ações tinham como objetivo o desenvol-

O golpe de Estado, que levou os militares ao poder, teve seu final em 1985, deixando para trás uma estrutura estatal precária e a economia em uma crise profunda, além dos conflitos sociais que tiveram impacto decisivo para o recuo do regime. Na década seguinte, o investimento federal na região diminuiu consideravelmente e

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os grandes projetos retornaram apenas no século XXI, com um novo período de prosperidade econômica. Neste período, a região do sudeste do Pará passou por um novo ciclo, desta vez de estabilidade e desenvolvimento econômico regional. A infraestrutura das cidades de maneira geral melhorou, apesar de alguns problemas persistirem, como a instabilidade no fornecimento de energia elétrica e o

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saneamento básico. A estrutura viária permanece instável, com algumas estradas em péssimo estado, principalmente durante os períodos de chuva. A agropecuária tornou-se a principal atividade em diversos municípios e o comércio local se fortaleceu. Novos projetos de mineração tiveram início nos anos 2000 e trouxeram novo desenvolvimento econômico, com impactos socioeconômicos menores devido ao planejamento, mas ainda significativos.

Capítulo 3 Breve Histórico da Formação dos Municípios

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este capítulo, o foco de interesse foram as histórias de formação dos municípios envolvidos nesta pesquisa, desde a década de 1970. Essas narrativas estão na memória de muitos residentes, que são um patrimônio vivo das cidades e precisam ser lembrados para que as futuras gerações saibam contar as histórias de sua terra.

As fontes de pesquisa Os quatro municípios envolvidos no projeto de arqueologia preventiva compartilham um contexto histórico de formação bastante semelhante. Muitas características são comuns, mas todas as cidades têm suas particularidades, que as tornam diferentes em muitos outros pontos. Infelizmente, dispomos de poucas fontes de informação para pesquisar sobre a história da região e a bibliografia encontrada para cada muni-

cípio é bastante restrita. O histórico dos municípios foi escrito com as fontes de pesquisa descritas a seguir. Os municípios de Xinguara, Tucumã e Ourilândia do Norte foram objeto de estudo de dois pesquisadores norte-americanos, Marianne Schmink e Charles Wood, que durante a década de 1980 fizeram algumas viagens pela região, que resultaram na publicação do livro Contested Frontier in Amazônia, publicado em 1992, mas que chegou traduzido ao Brasil em 2012, com o título de Conflitos Sociais e a Formação da Amazônia. Sobre Tucumã, ainda existem duas obras acadêmicas: uma dissertação de mestrado escrita por um aluno de Schmink e Wood que participou de algumas viagens, cujo título é Land, Gold and Farmers: Agricultural Colonization and Frontier Expansion in the Brazilian Amazon (tradução livre: Terra, ouro e fazendeiros: colonização agrí-

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cola e expansão das fronteiras na Amazônia brasileira), escrita em 1995, na Universidade da Flórida e uma monografia de conclusão do curso de História da Universidade Federal do Pará, escrita por Eleildo Virgolino da Silva, em 2003, com o título de Dois Pesos, Duas Medidas: A violência pensada como elemento de convivência na sociedade tucumaense. Legal ou ilegal? Os desdobramentos da violência do fim da década de 70 aos dias atuais. Ourilândia teve sua história narrada em um livro dedicado à cidade, de autoria de Antônia Alencar e Willian Gaia Farias, intitulado Ourilândia do Norte: Grandes Projetos, garimpos e experiências sociais na construção do município, publicado no ano de 2008. Sobre São Félix do Xingu foi consultado um relatório do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR), de autoria de Roberto Luís Monte-Mór, intitulado São Félix do Xingu: O Avanço da Fronteira Amazônica e um Novo Espaço em Formação, de 1984. Sobre o município de Água Azul do Norte a literatura é menor e foi identificado apenas um documento, disponibilizado no Website da Prefeitura, cuja autoria e ano de edição não estão identificados. O texto conta em 30 páginas um pouco das origens do município e das administrações públicas e provavelmente foi escrito entre os anos de 2001 e 2004.

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Além destes títulos, as principais fontes de pesquisa sobre a história dos municípios são os jornais, tanto locais, quanto de abrangência estadual ou nacional. Xinguara Ainda na década de 1970, entre as diversas estradas construídas no Pará, uma tem influência direta na área estudada. A Rodovia PA-279, que liga o município de Xinguara a São Félix do Xingu, era uma reivindicação local antiga, da década de 1950. O Departamento de Estradas e Rodagem (DER) anunciou em 1966 uma rodovia que ligaria Conceição do Araguaia a Redenção e, possivelmente, a Gorotire (reserva indígena Kayapó), no rio Xingu, mas devido à experiência da PA-150, que atravessou o território dos índios Gavião e ocasionou diversos incidentes violentos, a proposta foi abandonada. Em 1973, uma nova proposta foi apresentada pelo DER, mas o traçado não era o definitivo, esbarrando ainda na questão indígena. Mesmo sem o traçado final definido, a abertura da estrada foi iniciada em 1976 e em 1978 já haviam sido construídos 130 km de rodovia, atingindo a área próxima da propriedade da empresa Andrade Gutierrez, que futuramente sediaria o projeto Tucumã. A questão indígena foi resolvida com a demarcação da reserva Xikrin em 1978,

mas a estrada só foi concluída em 1983 (SCHMINK & WOOD, op. cit., p. 223). O primeiro município associado à rodovia PA-279 foi Xinguara, surgido a partir de um acampamento de turmas para a obra da estrada. O povoado prosperou rapidamente e um ano após a sua fundação, já havia pelo menos 1.360 residências. Outros atrativos, como uma colônia agrícola, que distribuiria terras, nunca foram efetivados, o que não diminuiu o fluxo migratório para a região. O projeto de colonização em Xinguara era parte da campanha política de Ulysses Vieira, na disputa com Giovanni Queiroz, pela prefeitura de Conceição do Araguaia. A distribuição ordenada de lotes tinha como objetivo acabar com os confrontos entre fazendeiros e agricultores, que havia se espalhado por todo o estado, mas o resultado foi exatamente o contrário. Um número muito superior ao esperado de famílias procurou o programa e outras tantas migraram para a região à procura de oportunidade. As tensões sociais se acumularam e eclodiram de forma violenta. Xinguara tornou-se conhecida pelos tiroteios e impunidade aos pistoleiros. O problema da violência primeiramente foi tratado dentro da esfera estadual, por ação de órgãos como Instituto de Terras do Estado do Pará (ITERPA,

de 1975) e a Secretaria Estadual de Agricultura (SAGRI), que não encontraram uma solução. O INCRA então passou a ser pressionado para a resolução dos problemas e reagiu por meio da criação da Coordenadoria Especial do AraguaiaTocantins (CEAT). A CEAT estabeleceu um escritório em Xinguara em 1977, mas na pressa de assentar os colonos, acabou ocasionando novos conflitos (SCHMINK & WOOD, op. cit., p. 223). Eventos ocorridos em Xinguara e demais regiões levaram o governo militar a procurar uma solução para resolver os conflitos de terra na fronteira Amazônica. O Conselho Nacional de Segurança visitou o município em 1979, tendo como resultado imediato à criação do Grupo Executivo de Terras Tocantins-Araguaia (GETAT). O novo órgão se apossou dos recursos do CEAT e INCRA na região e ficou sediado em Marabá, mas dividido em seis escritórios regionais. O GETAT estendeu sua função não apenas aos assentamentos, mas a qualquer outra necessidade que considerasse necessária à manutenção da “ordem”. Através do seu relativo poder, o grupo procurou construir uma base de apoio numa área onde as relações sociais acarretavam constante oposição ao regime militar. A concentração fundiária foi intensificada pelas políticas de títulos do GE-

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TAT. Quando um fazendeiro tinha sua propriedade invadida, recebia um título ainda mais extenso em outra área. A consequência foi o incentivo de invasões pelos próprios fazendeiros, proprietários. A violência dos conflitos aumentou a cada ano do final do regime militar e o número de pistoleiros de aluguel proliferou.

hidrelétrica de Tucuruí também chegou a Xinguara no final da década de 1980, promovendo o desenvolvimento comercial significativo. A partir de então, os conflitos ficaram menos violentos, mas até hoje não foram completamente resolvidos.

Tucumã A intenção da reforma agrária, anunciada pelo Presidente Sarney, em 1985, primeiro após o fim do governo militar, intensificou ainda mais as ameaças de morte, espancamentos, torturas e assassinatos em municípios como Conceição do Araguaia, Xinguara, Redenção e Marabá. Dentro deste plano de reforma agrária estavam inseridos projetos privados de colonização, como o Projeto Tucumã, que será abordado adiante. O GETAT estava desacreditado desde o início da década de 1980 e foi oficialmente extinto em 1987. O fim do GETAT significou a renúncia federal do controle sobre terras Amazônicas designadas como áreas de segurança nacional, que voltaram a ser do controle do estado do Pará. O projeto Grande Carajás, que também será abordado a seguir, promoveu a pavimentação da PA-150 até Rio Maria e a eletricidade gerada pela

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Dentro dos programas de colonização da Amazônia datados do final dos anos de 1970, um dos mais importante foi o Projeto Tucumã. Está na origem de dois municípios que fazem parte do programa de educação patrimonial: Tucumã e Ourilândia do Norte. A característica peculiar do empreendimento é a forma de execução da colônia agrícola. Na metade dos anos de 1970, a SUDAM havia feito um plano de colonização de uma área, chamada Gleba Carapanã, no município de São Félix do Xingu, uma área rica em terras roxas. A proposta nunca se efetivou, devido aos conflitos de interesses entre ITERPA e INCRA. A partir da construção da BR-158 e da legislação de terras, a gleba passou para o domínio federal, sob jurisdição do INCRA, que optou por uma licitação pública para companhias privadas de colonização, em 1978 (SCHMINK & WOOD, op. cit., p. 223).

A vencedora da licitação foi a Construtora Andrade Gutierrez (CONSAG), registrada como empresa colonizadora dois anos antes, com o Projeto Tucumã. A aprovação ocorreu em 1979, mas a venda dos lotes teve início apenas em 1982, devido à burocracia envolvida no processo.

A empresa planejou construir 1.000 km de estrada, três centros urbanos e 60 comunidades rurais, assim como escolas, hospitais, prédios administrativos, armazéns, aeroporto, terminal rodoviário e fornecimento de água e eletricidade (SCHMINK & WOOD, op. Cit., p. 266).

A CONSAG já havia tentado uma empreitada semelhante através da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), no Maranhão, mas o projeto não fora aprovado pela superintendência. Na época, a Andrade Gutierrez era uma das maiores empresas totalmente nacional do país. Atuava principalmente em obras de infraestrutura estatais, como estradas, portos e até mesmo a represa de Itaipu, mas este era o primeiro projeto agrícola da companhia.

A sede urbana de Tucumã foi planejada e dividida em zonas comercias e residenciais. A hierarquia social também estava representada no planejamento urbano. Os dirigentes da CONSAG ocupavam domicílios maiores, localizados no alto de uma colina, com vista panorâmica da cidade. Os chefes e burocratas ocupavam casas mais modestas, localizadas próximas ao centro da cidade. Os operários habitavam as vizinhanças das zonas comercias, em bairros sem eletricidade e sem água encanada.

O Projeto Tucumã consistia em uma área de 400.000 hectares, dividida em três seções, somando quase três mil lotes de terra. O tamanho e preço dos lotes variavam de acordo com o uso do lugar, localização e qualidade do solo. Havia 650 lotes pequenos (de 15 a 55 hectares), mais próximos dos centros urbanos, para o plantio de hortaliças. As áreas além do perímetro urbano eram lotes agrícolas maiores (55 a 280 hectares) e havia plano para lotes acima de 300 hectares, para a criação de gado (BUTLER, 1985).

O início do projeto foi custoso, com poucas famílias assentadas, excesso de chuvas e a crise econômica de 1983. Os anos seguintes foram melhores e até 1985, a empresa já havia vendido 750 lotes e assentado 184 famílias em Tucumã. Neste momento, também já era parte oficial do Projeto Grande Carajás. Por meio do sistema de venda de lotes controlado, a construtora pretendia evitar a violência e desgaste que

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outros projetos de colonização haviam enfrentado, como em Xinguara. A localização do projeto também foi estratégica, situado entre duas reservas indígenas, Xikrin ao sul e Kayapó ao norte, o que impediria invasões nas áreas do entorno. Além disso, a Andrade Gutierrez obteve o contrato estadual para a construção da rodovia PA-279, que ligaria Xinguara a São Félix do Xingu, garantindo assim a supervisão do acesso ao projeto. Mesmo com a tentativa de colonização organizada, a empresa não contava com as consequências que a descoberta de ouro no final dos anos 70 no sul do Pará traria para o projeto. O garimpo do Cuca, por exemplo, que estava localizado dentro dos limites do projeto, já era ativo antes da construção da cidade de Tucumã. Em 1981, ocorreu a primeira invasão planejada do projeto. Garimpeiros haviam descoberto ouro na Grota da Taca, mas foram expulsos pela segurança da construtora. Após noticiarem a descoberta do local, atraíram outros garimpeiros, que reunidos em grande número invadiram a área sem resistência da segurança. A grota não gerou os lucros esperados, mas serviu como incentivo à invasão de outras áreas em Tucumã.

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Assim, a atividade mineradora se consistiu no principal suporte econômico nos primeiros anos do projeto. Em 1984, menos de 10% dos habitantes eram agricultores em tempo integral (SCHMINK & WOOD, op. cit., p. 272). Negativamente, o garimpo trouxe a escassez de mão de obra para a agricultura (que pagava pouco) e epidemias de malária. Positivamente, a economia foi beneficiada pela renda extra, útil nos primeiros anos de quem chegava, para arcar com os custos iniciais da produção agrícola. No ano seguinte, intensificaram-se as invasões ao projeto por posseiros que ocupavam a área da Gurita, atual município de Ourilândia do Norte. Para resolver o problema das invasões, a CONSAG deu início à distribuição gratuita de cerca de 70 lotes. A notícia da distribuição dos lotes atraiu ainda mais famílias para a área, o que estimulou novas invasões e começava a ameaçar as propriedades dos colonos que haviam comprado os lotes da empresa. Mesmo com as tensões acumulando-se, a CONSAG publicou o primeiro relatório do projeto em 1985 e apresentou um requerimento ao GETAT para liberar 125.544 hectares da Gleba II. No entanto, a mudança política em âmbito nacional, com o final do governo militar em 1984, acarretou mudanças

nos planos de distribuição de terras. O compromisso firmado pelo Governo Federal da realização da reforma agrária ativou uma onda de invasões de terra em todo o território nacional. Essas invasões foram aceleradas a partir de 1985 e a situação do projeto já estava fora de controle. Até metade do ano, já havia mais de 3.000 pessoas em Tucumã oriundas do processo de invasão. Este foi o fim do projeto como havia sido concebido. Jader Barbalho, primeiro governador do Pará após a redemocratização, apresentou uma proposta para repasse da administração da área do projeto para a esfera estadual, junto ao novo Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário (MIRAD). Foi criado o Conselho de Desenvolvimento Comunitário Independente (CODETUC), com a finalidade de facilitar a mudança administrativa, mas acabou por ficar praticamente sozinho na tarefa de administrar o local. A partir de 1985, a negociação de valores foi iniciada. A avaliação inicial da Andrade Gutierrez chegou ao montante de U$ 31 milhões. O GETAT, em outra avaliação chegou ao valor de U$ 29 milhões, valor prontamente aceito pela construtora. Assim, o GETAT concluiu que a empresa colonizadora havia cumprido as suas obrigações con-

tratuais e a empresa deveria ser reembolsada pelos seus gastos. No entanto, uma comissão do MIRAD contestou os valores e refez os cálculos, chegando a um montante bem inferior ao inicial: U$ 10 milhões. Esse valor foi rejeitado pela CONSAG. A empresa alegou que o custo de assentamento no projeto era bem inferior ao custo médio dos projetos de reforma agrária que estavam em execução no país naquele momento. Em 1986, o MIRAD autorizou a contratação de uma consultoria externa por meio de licitação pública, para uma nova avaliação. A empresa vencedora foi a Sondotécnica, que em 1987 realizou um relatório detalhado, no qual avaliou o projeto em U$ 25 milhões, valor mais próximo ao desejado pela empresa colonizadora. A crítica que se faz à negociação é que as extravagâncias cometidas na administração da Andrade Gutierrez, que não tinha experiência em projetos de colonização, tiveram seus custos imputados ao Estado, que foi obrigado a arcar com as despesas. Em 1988, ocorreu o pagamento dos valores e a administração de Tucumã passou para os funcionários locais recém-eleitos, que herdaram uma estrutura física muito melhor do que a de cidades espontâneas que surgiram na mesma época.

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Ourilândia do Norte O município de Ourilândia do Norte tem sua história intrinsecamente associada ao seu vizinho, Tucumã. A área administrada pela CONSAG atraiu uma grande população para a região, fluxo demográfico não suportado pelo projeto. As famílias, oriundas de diversas regiões do país, mas principalmente do Sul e Nordeste, na impossibilidade de adquirir um lote de terra na área do projeto e sem recursos para retornar, acabaram formando um acampamento no portão de acesso do empreendimento, em frente a uma guarita de vigilância. Em 1981, as primeiras famílias se instalaram no povoado que ficou conhecido como Gurita (ALENCAR e FARIAS, 2008). A área de Tucumã era isolada e o acesso controlado pela empresa. Na guarita havia uma corrente que impedia o acesso, cujo significado simbólico permanece até hoje no imaginário da população mais antiga de Ourilândia. A CONSAG não acreditava que o povoado resistiria sem infraestrutura e no primeiro momento, a única preocupação era a proteção do projeto contra invasores. A descoberta do ouro atraiu ainda mais habitantes para o povoado e fomentou um pequeno desenvolvimento local, com pequenos comércios

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relacionados à atividade garimpeira. Ainda assim, nenhuma política foi adotada para o povoado que crescia cada vez mais, pois a expectativa era de que o fim do garimpo também dissiparia a população (ALENCAR e FARIAS, 2008). Com a intensificação das tentativas de invasões ao projeto e a falha das previsões quanto ao fim da Gurita, a empresa precisou adotar algum posicionamento. A primeira tentativa ocorreu entre 1983 e 1984, quando a filha do dono da CONSAG, Marília Andrade, viajou a região e propôs um acordo com os moradores do acampamento. A ideia era integrar as populações, com a concessão de lotes dentro de Tucumã para as famílias que abandonassem a Gurita. O acordo foi prontamente rejeitado. Os loteamentos localizavam-se longe do núcleo urbano e não contavam com a infraestrutura dos outros lotes do empreendimento. Os conflitos envolvendo grandes empreendimentos não eram exclusividade do projeto da CONSAG. Em outras áreas do Projeto Grande Carajás ocorreu situação análoga, com marginalização da população atraída para as novas frentes de colonização. Em resposta aos conflitos, foi criado o GETAT, no ano de 1979 e no ano de 1983 foi criado um escritório do órgão

em Ourilândia. Os loteamentos distribuídos pelo órgão deram origem às localidades denominadas Calça Amarela, Quatro Barracos e Águas Claras. No entanto, as medidas adotadas pelo GETAT, em vez de promover a resolução dos conflitos, os acentuou ainda mais, na medida em que a possibilidade de receber títulos de lotes de terra legalmente acabou por atrair ainda mais colonos para a região (ALENCAR e FARIAS, 2008).

lamento ocasionado pelas chuvas, que impediam o tráfego de veículos pela PA-279. Apesar de haver abundância de dinheiro do garimpo, que estava no seu auge, não havia produtos para comprar. Os comércios ficaram completamente desabastecidos e a troca era a principal alternativa para obter os produtos necessários para a sobrevivência. Foi necessária a intervenção federal, por meio da Força Aérea Brasileira, para o abastecimento da região.

No mesmo ano ocorreu ainda o alargamento da PA-279. A ocupação da Gurita era às margens da estrada e a sua organização urbana se desenvolveu em torno dela. No entanto, a CONSAG solicitou o alargamento da pista, de 12 para 30 metros, o que acarretaria a retirada de muitos moradores da área mais valorizada da vila. O processo foi violento, com o uso de força policial e a estrada foi construída. Os moradores associaram a obra da estrada com a tentativa dos loteamentos dentro do projeto proposto pelo empreendedor, o que gerou uma insatisfação ainda maior, mas a Gurita permaneceu.

Ainda em 1985, outro fato importante marcou a luta pela terra do local conhecido hoje como Ourilândia. Um segurança da CONSAG conhecido pela violência e humilhação à qual submetia os colonos invasores, foi linchado em meio a uma discussão no GETAT. O revide também violento dos colonos marcou um posicionamento contra a empresa administradora do projeto. O simples uso da força não era mais suficiente para intimidar os invasores e dar segurança à área.

O ano seguinte foi ainda pior para os moradores da localidade conhecida então como Gurita, de onde floresceria o município de Ourilândia do Norte. O inverno de 1985 marcou profundamente a história da região, devido ao iso-

Neste período, a CONSAG admitiu o fracasso do projeto e começou a negociar valores para repassar o empreendimento ao governo estadual. A indenização deveria cobrir os gastos e extravagâncias realizadas pela administração da empresa. O processo foi concluído em 1988, no governo de Jader Barbalho, quando a administração foi

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transferida para funcionários municipais recém-eleitos em Tucumã (ALENCAR e FARIAS, 2008). As tentativas de acabar com o povoado da Gurita haviam falhado, no entanto, a área permanecia sem a infraestrutura necessária, sem políticas públicas. A área pertencia ao município de São Félix do Xingu, cuja sede administrativa é distante cerca de 100 km e a estrada possuía péssimas condições de trafegabilidade. No entanto, não havia presença da administração municipal no local, um exemplo disso é que as vias públicas não foram abertas pelo governo municipal, mas pelos próprios moradores em regime de mutirão. A partir de 1986, os moradores de Ourilândia, organizados, exigiram que o povoado fosse elevado à categoria de distrito, com uma subprefeitura para a representação do município na localidade. Com a elevação do povoado a distrito houve a necessidade de dar nome à localidade, uma vez que a denominação Gurita não agradava as autoridades locais. As propostas mais populares foram dos nomes Ouricilândia, em homenagem ao ouriço da castanha, e pelo ouro, Ourilândia, que simbolizava a origem do povoado na extração do ouro. O segundo nome venceu a escolha popular (ALENCAR e FARIAS, 2008).

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Neste mesmo ano, foi realizado o primeiro abaixo-assinado pela emancipação da localidade, promessa de campanha assumida pelo candidato a deputado estadual Giovanni Queiroz. O candidato eleito apresentou o projeto de emancipação à Câmara dos Deputados em abril de 1987, e entre a aprovação do projeto e consulta à população por plebiscito, a emancipação foi efetivada em maio de 1988, com o nome de Ourilândia do Norte, pois já havia um município chamado Ourilândia no Paraná (ALENCAR e FARIAS, 2008). Ourilândia e Tucumã se emanciparam na mesma data e a organização social promovida pela necessidade de sanar seus problemas fez com que a comunidade de Ourilândia conseguisse algumas vitórias durante o processo, como a instalação de um hospital público. No mesmo ano da emancipação houve eleição municipal, na qual foram escolhidos o primeiro prefeito e vereadores e a administração pública começou a ser organizada. Após a emancipação de Ourilândia, três povoados ficaram submetidos à administração municipal: Bannach, Cumaru do Norte e Brilhante. Essa escolha se deu por questões meramente geográficas, pois ficavam mais próximos à sede de Ourilândia do que de São Félix do Xingu. No entanto, nenhum

deles estava relacionado socioeconomicamente com o município de Ourilândia. Bannach foi emancipado em 1993 e Cumaru do Norte em 1991. Brilhante foi integrado à última e permanece como distrito de Camuru do Norte.

São Félix do Xingu O município de São Félix do Xingu localiza-se na margem direita do médio curso do rio Xingu, onde este se encontra com o rio Fresco. Diferente de Ourilândia e Tucumã, São Félix não é uma cidade de “beira de estrada”, apesar de situar-se no final da PA-279. Mas como cidade da “beira”, não é antiga como outras localizadas próximas à foz do rio Xingu. Assim como os rios Tocantins e Araguaia, o rio Xingu não foi colonizado durante muito tempo, mas suas margens, suas áreas. Os únicos municípios foram fundados por portugueses e jesuítas, como Altamira, Porto de Moz e Senador José Porfírio estão localizados na foz do grande rio, próximos ao Amazonas. Essa região despertou o interesse do Estado brasileiro após a descoberta da borracha, no início do século XX. Até então, as terras eram ocupadas por etnias Kayapó, estabelecidas na área

desde o século XVIII, após a fuga do Planalto Central Brasileiro, seu local de origem. A invasão dos seringueiros nas terras indígenas iniciou um processo social conflituoso que se estendeu durante décadas. Ataques de surpresa, sequestros e assassinatos passaram a fazer parte da realidade local. É neste contexto da descoberta da borracha no Médio Xingu que o município de São Félix tem origem. O comércio da borracha na foz do rio Xingu, no final do século XIX, era dominado por um ex-coronel da Guarda Nacional, José Porfírio de Miranda. Com o objetivo de aumentar os seus lucros, contratou outro ex-coronel, Tancredo Martins Jorge, para controlar um posto comercial de borracha na ilha de Ilhota, próxima à atual São Félix. O barracão foi inundado em 1914 e posteriormente transferido para a atual localização do município. O nome da cidade está associado a uma imagem de São Félix, trazida por Tancredo para o novo barracão (SCHMINK & WOOD, op. cit.). Durante mais de uma década Tancredo prosperou, mas na medida em que a borracha perdeu importância, sua influência também diminuiu. A rota comercial estabelecida por terra entre São Félix e Conceição do Araguaia, também foi um fator importante, possibi-

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litando a migração e entrada de outros produtos na vila. Como um tradicional coronel, o uso da violência é comum nos relatos sobre o seu comportamento. E em 1920, já sem a mesma influência e após um desentendimento com o seu principal apoiador, José Porfírio, foi assassinado por um antigo desafeto, em situação de pobreza total. Após o declínio da borracha, as atividades na vila de São Félix se diversificaram na medida do possível. No final da década de 1920, a economia girava em torno do comércio da castanha. A população não indígena havia sido reduzida a algumas centenas de pessoas, envolvidas nas atividades de extração. Nesta época, o contato com os grupos Kayapó que habitavam a região se intensificou, geralmente com ações violentas tanto do lado indígena, quando dos extrativistas. Como resposta, houve uma maior atenção do Estado para região, com a intensificação da sua ação por meio do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), com a construção do Posto Indígena Gorotire. No mesmo período, também se intensificou a ação missionária, que se estendeu pelas décadas seguintes. Durante as décadas de 1930 e 1940, com a II Guerra Mundial, houve novo incentivo à produção da borracha e a população do Xingu voltou a crescer,

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principalmente com o recrutamento dos “soldados da borracha”. O adensamento populacional fez com que os conflitos já existentes ficassem ainda mais graves. Os grupos indígenas já estavam habituados ao contato e haviam aprendido a utilizar armas de fogo. O SPI era acusado de fornecer armas aos indígenas e os comerciantes da borracha iniciaram uma campanha contra o órgão. A instituição argumentava que a defesa indígena era uma resposta à violência dos colonos e seringalistas (SCHMINK & WOOD, op. cit.). O final da II Grande Guerra Mundial e o declínio da borracha não fez com que as animosidades diminuíssem. Na década de 1950, o Governo Federal procurou alternativas para a solução dos conflitos, principalmente depois a criação do SPVEA, com as propostas do antropólogo Darcy Ribeiro. Foram criadas pista de pouso e instalações de rádio e telégrafo. No entanto, o SPI foi incorporado pelo Ministério da Agricultura, na metade da década e o seu quadro administrativo foi completamente modificado. Essa ação fez com que os defensores dos direitos indígenas, como Darcy Ribeiro, deixassem o órgão, que foi extinto na década de 1960 e substituído pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Durante as décadas de 1940 e 1950, mais da metade dos índios contatados morreu. A “paci-

ficação” de todos os grupos Kayapó só ocorreu a partir de 1966, quando o declínio populacional se estabilizou. A queda do preço da borracha após a guerra implicou no colapso nos arranjos de mão de obra e crédito na região de São Félix. O Governo Federal mudou o foco da exploração da Amazônia ainda na década de 1960, substituindo os incentivos e créditos das atividades de exploração, como a castanha e borracha, pelas atividades industriais e agrárias modernas. Uma das alternativas mais rentáveis encontradas pelos seringueiros foi a procura por peles de animais, como a lontra gigante e onça pintada, atividade também baseada no sistema de aviamento no qual o comerciante ou aviador adianta bens de consumo e alguns instrumentos de trabalho ao produtor, e este restitui a dívida contraída com produtos extrativos e agrícolas. Apesar de bastante lucrativa, principalmente na década de 1960, a atividade foi considerada ilegal a partir de 1971 (SCHMINK & WOOD, op. cit.). O fim das atividades de extrativismo acarretou uma maior urbanização de São Félix e a cidade foi emancipada de Altamira em 1961, tornando-se o terceiro maior município do país. O fim do aviamento enquanto sistema

tornou o serviço público um forte atrativo, com disputas por cargos públicos assolados por corrupção. As receitas públicas permitiram algum desenvolvimento da infraestrutura do município, como uma pista de pouso e uma estrada rumo a Gorotire, mas a situação das escolas, hospitais e saneamento básico urbano eram graves. No decorrer da década de 1960, tiveram início as atividades de pesquisa mineral, quando foram descobertos depósitos de ouro, prata, chumbo, zinco, diamante, cobre, manganês, níquel, volframita e cassiterita. Na década seguinte, várias empresas nacionais e multinacionais se instalaram na região e centenas de licenças para pesquisas minerais foram solicitadas ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). A maior parte dos depósitos foi considerada economicamente inviável, no entanto, algumas mineradoras se instalaram em São Félix no início da década de 1970. A Mineração Serras do Sul explorou um território próximo ao rio Cateté entre 1973 e 1978, com autorização da FUNAI e a Produtora de Minério Xingu S.A. (PROMIX), que em 1972 obteve o direito de minerar ao longo do rio Branco, foi invadida no final da década por garimpeiros que descobriram ouro na área da empresa.

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Esse garimpo deu origem à atual agrovila do Cuca, em Tucumã, em um conflito que só terminou em 1984. Durante a década de 1970, as atividades de mineração cresceram. A urbanização da cidade inverteu-se novamente e a maior parte dos habitantes de São Félix passou a ser residente em áreas de garimpo. A atividade principal era a extração do estanho, em áreas legais ou ilegais. Em 1986, São Félix era o município que possuía maior número de concessões para mineração no estado, quase todas para o estanho. A partir de 1974, São Félix passou a fazer parte dos programas nacionais para o desenvolvimento da região Norte. As imagens de satélite do programa Radam6 publicadas no início da década de 1970, identificaram áreas de terra roxa em pelo menos 10% do território do município. Ao todo, mais de 700 mil hectares eram aptos à produção agrícola, e outros 200 mil poderiam ser utilizados para pastagem ou reflorestamento. Até 1973, duas mil requisições por títulos de terra haviam sido protocoladas nas agências estaduais para a região do Médio Xingu.

6 Projeto de levantamento e mapeamento de recursos naturais do Brasil (solo, geomorfologia, geologia, vegetação e uso da terra) utilizando como base imagens gerados por radar. Conhecido também como Projeto RADAM.

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As verbas do Governo Federal alcançaram São Félix por meio do Programa de Pólos Agropecuários e Agromineral da Amazônia (POLAMAZÔNIA) (1974-1980). As estratégias de ação do programa estavam baseadas no conceito de polos de crescimento, descritos no Segundo Plano de Desenvolvimento Nacional (1975-79). Foram delimitadas 15 áreas prioritárias na Amazônia, ou pólos de desenvolvimento, focados em pontos setoriais, como extração de recursos minerais ou áreas de criação de gado. São Félix não consistia em nenhum polo específico para a Amazônia, mas os limites do polo de Carajás foram estendidos para abranger o município. O programa investiu mais de U$ 20 milhões em projetos para São Félix, entre eles a construção da PA279, um plano de desenvolvimento urbano, a demarcação de terra, um novo aeroporto, sistema de abastecimento de água e expansão de escolas. O projeto Tucumã foi elaborado nessa época. Munidos do conhecimento gerado pelas imagens de satélite e a identificação de grandes áreas de terra roxa, alguns membros da diretoria da CONSAG em 1975, decidiram diversificar os investimentos por meio da execução de projetos de colonização. Até então, a empresa esteve envolvida na construção de diversas obras de engenharia de caráter público, com conces-

sões de trechos da Belém-Brasília e BR319. Em 1976, foi construída a fazenda Krimet, em São Félix, às margens do rio Fresco. A propriedade tinha como objetivo ser uma fazenda experimental, com o teste de plantas para o futuro uso nas colônias agrícolas da empresa, além de servir como propaganda para o projeto. Com a construção de Tucumã, a fazenda declinou e foi extinta (BUTLER, op. cit.).

da foi finalizada em 1983, após protestos e pedidos de investigação por parte das autoridades de São Félix (SCHMINK & WOOD, op. cit.).

Ainda em 1976, teve início a construção da PA-279, que só alcançou São Félix em 1983. A CONSAG também venceu a concorrência para a rodovia e em 1977 deu início aos estudos de viabilidade do projeto Tucumã, em uma área demarcada pelos órgãos fundiários estaduais, denominada Gleba Carapanã, com 400.000 hectares. No ano seguinte, um contrato privado garantiu à empresa colonizadora o direito à colonização da Gleba Carapanã, subsidiada pelos projetos de desenvolvimento da Amazônia.

A finalização da estrada marcou a história de São Félix, com efeitos irreversíveis. Antes mesmo do término da obra, muitos migrantes já haviam chegado ao município em busca de terras para cultivar. Foi o início dos conflitos pela terra no município. Quando os migrantes chegaram, a maior parte das terras do município já havia sido reivindicada. Milhares de lotes, denominados glebas, foram demarcados e leiloados pelo ITERPA e GETAT. Houve farta distribuição de títulos de terras entre o final dos anos de 1970 e metade da década de 1980. Com a proliferação dos títulos foi a ocupação do território que garantiu o uso da terra. A ação violenta dos posseiros ou titulares para com os pequenos produtores rurais foi o mecanismo de ação para a garantia esta posse.

A estrada alcançou Tucumã em 1981, quando o projeto já estava em execução, mas ainda eram necessários mais 95 km de construção para a obra alcançar São Félix. Quando a estrada atingiu o projeto, as verbas estaduais pararam de ser repassadas e o interesse da construtora diminuiu. Por meio da pressão pública, a construção da estra-

O fluxo de migrantes, principalmente vindos do Nordeste e Centro-Oeste transformou a cidade demográfica e socioeconomicamente. Durante a década de 1980, São Félix do Xingu deixou de ser uma pequena cidade ribeirinha. O centro se tornou um distrito comercial e novos bairros residenciais foram construídos, muitos comércios

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cresceram às margens da nova estrada. A qualidade das habitações melhorou, mas os serviços básicos, como água e eletricidade eram precários. A agricultura e extração permaneceram como setores importantes da economia, mas o trabalho assalariado passou a dominar como fonte de renda.

Água Azul do Norte A região de Água Azul do Norte pertencia ao município de Marabá e era conhecida também como Rio Branco. O primeiro núcleo populacional se assentou na área em 1977 e era constituído por madeireiros e garimpeiros à procura de novas praças, mas a madeira foi a principal atividade desde o princípio da localidade. O povoado assentouse às margens da nascente do rio Itacaiúnas, cuja cor das águas deu origem ao nome do município. Em 1978, quatro madeireiras se instalaram na localidade, o que atraiu um contingente populacional e também desenvolveu o comércio local. Em 1979, foi nomeado o primeiro administrador do povoado. Até então, o único acesso à área ocorria por uma picada que alcançava a localidade de Xinguara. Neste mesmo ano, teve início a construção da PA-279, que interligaria Xinguara a São Félix do Xingu, passando por Água

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Azul do Norte, Ourilândia do Norte e Tucumã. Um grande número de madeireiras e migrantes foi atraído com a chegada da estrada, todos em busca de novas oportunidades. Entre 1980 e 1984, ocorreu o auge da atividade madeireira. A exploração ocorreu de forma indiscriminada, o que acarretou em dizimação da flora e da fauna locais, com isso as áreas degradadas deram origem a pastagens e transformaramse em grandes fazendas. Apesar de o seu impacto econômico ser reduzido em comparação a outros municípios vizinhos, foi o suficiente para causar a destruição de mananciais e poluição dos rios, alterando completamente a paisagem local em um curto espaço de tempo. Além da atividade madeireira, o garimpo do ouro também teve a sua importância. A ocupação desordenada e rápida costuma trazer um padrão de consequências já conhecido, e com o povoado de Água Azul não foi diferente. O período da exploração da madeira e do garimpo foi marcado por conflitos violentos, nos quais a força imperou nas relações sociais e econômicas da região. Mesmo havendo um destacamento policial no povoado, este era insuficiente e inoperante.

Em 1985, a matéria-prima das madeireiras havia se esgotado. A nova estrada deu acesso a novos recursos. Tucumã, Ourilândia do Norte e São Félix do Xingu tornaram-se polos mais atrativos para as indústrias de Água Azul, o que deflagrou a maior crise econômica e demográfica da localidade. Com a principal fonte de renda comprometida, muitas famílias também abandonaram a cidade, atrás de oportunidades, que como vimos anteriormente, geralmente foram frustradas. Durante o restante da década, apenas algumas obras de infraestrutura básica foram desenvolvidas na vila. Havia algumas escolas, posto de saúde, uma subprefeitura, além de alguns serviços. Neste período, a atividade agrícola passou a dominar as relações econômicas, o que se consolidaria na década seguinte. A partir de 1988, com a emancipação de Parauapebas, o território de Água Azul passou a fazer parte deste. Em 1990, a vila passou à condição de distrito, mas as mudanças na estrutura administrativa não implicaram em mudanças na situação do então distrito. Devido à própria distância, de mais de 270 km da sede municipal de Parauapebas, a chegada dos serviços públicos municipais era precária e o distrito ficou abandonado à própria sorte.

Na década de 1990, a crise da madeira havia sido parcialmente superada e a cidade gradativamente se recuperou. Em 12 anos de fundação, o distrito já contava com aproximadamente 12.500 habitantes. A população, a partir de então, se mobilizou em função da emancipação do distrito, processo já concluído em municípios vizinhos, como Xinguara, Tucumã e Ourilândia. O plebiscito que decidiu a emancipação do distrito ocorreu em agosto de 1991. No dia 13 de dezembro de 1991, foi sancionada a lei que criou o município de Água Azul do Norte. Desde a sua emancipação, o município se desenvolveu bastante, cresceu e diversificou as suas atividades. Foram construídas e equipadas novas escolas, hospitais, novos serviços foram instalados. A pecuária, que era dedicada à criação do gado de corte, passou a fomentar uma crescente indústria leiteira, com a instalação de diversos laticínios no município. A agricultura passou a ter o cultivo mecanizado de lavouras e os pequenos agricultores formaram grupos de lavouras comunitárias.

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Título: PA - 70 em Marabá (PA) Local: Marabá (PA) Ano: s.d. Descrição física: 1 fot. : neg., p&b. Série: Acervo dos Trabalhos Geográficos de Campo Notas: Negativo 19180. PA - 70, atravessando reserva de mata, a 44 km da junção com a Belém - Brasília. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-%20RJ/PA9394.jpg

Título: Garimpeiros em viagem pelo Rio Tocantins Itupiranga (PA) Local: Itupiranga (PA) Ano: [195-?] Descrição física: 1 fot. : neg., p&b Série: Acervo dos Municípios Brasileiros Notas: Sem negativo. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-%20RJ/2779.jpg Foto 1: Fotografias de épocas antigas

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Autor: Rubens Moreno Mazzola Título: Cidade de Ligação (MA) Local: Ligação (MA) Ano: [196-?] Descrição física: 1 fot. : neg., p&b. Série: Acervo dos Trabalhos Geográficos de Campo Notas: Negativo 13370. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-%20RJ/MA9932.jpg

Título: PA - 70 em Marabá (PA) Local: Marabá (PA) Ano: s.d. Descrição física: 1 fot. : neg., p&b. Série: Acervo dos Trabalhos Geográficos de Campo Notas: Negativo 19180. PA - 70, atravessando reserva de mata, a 44 km da junção com a Belém - Brasília. Disponível em: http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-%20RJ/PA9394.jpg Foto 2: Fotografias antigas

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Capítulo 4 Arqueologia no Sudeste do Pará

A

ocupação humana no sudeste do Pará, da maneira que conhecemos hoje, é um fenômeno recente. As primeiras cidades surgiram no início do século XX, mas somente na segunda metade deste século é que o processo de urbanização foi acelerado. As terras ditas “devolutas” pelo Governo Federal, ou seja, sem proprietários, eram ocupadas pelos povos Tupi, e principalmente Jê, há pelo menos dois séculos, quando estes abandonaram o Planalto Central, fugindo da frente de expansão agropecuária no século XVIII. Mas antes destes grupos Jê, os Kayapó, habitarem o sudeste do Pará, os viajantes e jesuítas descreveram diversas etnias indígenas, ocupando principalmente as margens dos rios Tocantins, Araguaia e Xingu. No entanto, a maior parte destes povos acabou desaparecendo, vítimas da escravidão, doenças, ou ainda coagida a deixar seu local de origem pelos jesuítas, que os levaram para a região de Belém.

É possível encontrar informações sobre o nome, local e língua de alguns destes grupos nos relatos de viajantes e jesuítas, mas faltam informações e de um ponto de vista bastante particular, não são suficientes para conhecer como era o modo de vida destes povos, sua cultura, objetos e história. A arqueologia é uma ciência social, assim como a história, sociologia e antropologia e tem como objeto as sociedades humanas. O que diferencia a arqueologia das outras ciências é a sua fonte de informação sobre essas sociedades. Enquanto os historiadores pesquisam sobre as sociedades humanas em documentos e livros antigos, os antropólogos estudam o comportamento dos seres humanos vivendo nas comunidades pesquisadas. A arqueologia estuda as sociedades por meio da cultura material, ou seja, os objetos inteiros ou fragmentados

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que foram produzidos de diferentes matérias-primas e que em conjunto podem auxiliar no entendimento sobre o modo de vida dos diferentes grupos sociais do passado. Vale lembrar que as diferentes matérias-primas passam por processos de deterioração durante o tempo, assim, os objetos produzidos com pena, madeira, resina e outros elementos mais frágeis podem não resistir ao tempo, e, portanto, faltará o registro de exemplares da cultura material estudada, mas isso não afetará o trabalho arqueológico. A arqueologia observa também a paisagem ocupada e manejada pelos grupos do passado, a fim de entender o padrão de assentamento, os recursos utilizados e o modo de utilizar o território. Portanto, a arqueologia é fundamental para entender melhor a história do sudeste do Pará, principalmente a história indígena, que de outra maneira, não teria como ser contada.

Alguns conceitos arqueológicos A arqueologia trabalha no entendimento das sociedades humanas por meio dos objetos produzidos por ela e também pelas modificações feitas na paisagem por essas populações. Cada objeto produzido implica em conhecimento mental e prático sobre

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a técnica a ser utilizada e sobre o meio ambiente de onde serão extraídos os recursos naturais. Para produzir uma vasilha de argila, por exemplo, será preciso conhecer cada etapa de sua produção (desde o tratamento do barro, produção da vasilha, decoração e queima da peça para tornar-se cerâmica), saber onde buscar cada recurso natural necessário (o próprio barro, pigmentos, madeira para queima etc.) e ainda atender o gosto da comunidade que irá utilizá-lo. Todo esse arcabouço é acionado quando alguém executa alguma técnica e é esse processo que a arqueologia busca entender com seus estudos. Além disso, quando uma comunidade (pequena ou grande) ocupa um determinado local este é beneficiado com alguns elementos mínimos para que se instale, como acesso à água, área de plantio, terreno plano para habitações, dentre outros. As comunidades alteram o relevo ao se instalarem e essas modificações podem ser percebidas ao longo dos anos. A análise da paisagem permite identificar quando as sociedades, por exemplo, regularizaram o terreno para instalação de habitações, criaram caminhos de acesso, semearam suas hortas e roças, retificaram um córrego, desviaram um rio, criaram açudes, dentre outras ações. A modificação da paisagem também é entendida como objeto para a arqueologia e entra no entendimento das sociedades a serem estudadas. Na Amazô-

Os sítios arqueológicos são diversificados, pois diverso é também o comportamento do ser humano. Assim, os sítios arqueológicos podem ser identificados como uma pequena área de acampamento ou uma grande extensão decorrente de uma moradia intensa, um cemitério, uma ruína ou uma área com arte rupestre. Em geral, em um sítio arqueológico é possível identificar diferentes atividades: para morar, para cozinhar, para a produção de instrumentos, para o lazer, dentre outras.

abandonada por seus moradores, seja por vontade própria ou por força maior, como em momentos de guerra ou fome. O abandono, não importa o motivo, causará impacto na cultura material deixada. Isto porque, com o tempo, os objetos começam a se deteriorar e não terá ninguém para reparar o dano, assim um pequeno defeito na madeira da casa pode se tornar, com o tempo, um grande estrago em toda a estrutura. Os materiais mais frágeis – concha, semente, resina, pena, palha, madeira, dentre outros – vão se desintegrando até desaparecer. Os materiais mais resistentes – como cerâmica, lítico, ferro, louça, dentre outros – têm maior durabilidade e resistem ao longo de milênios. A relação entre o tempo cronológico e a resistência dos materiais é importante para os estudos arqueológicos e a consequência direta é que temos acesso somente a uma parcela das informações materiais produzidas por uma sociedade, pois lidamos somente com o que resistiu aos danos das intempéries e das ações humanas ao longo dos milênios. Ao pesquisar uma área, a equipe de arqueologia deve sempre buscar entender os aspectos que modificaram o sítio arqueológico: árvores e tocas de bichos podem sempre afetar os estratos do solo e carregar material mais recente para as camadas mais antigas, por exemplo.

Muitas vezes, o sítio arqueológico de hoje foi uma antiga área de ocupação

Os sítios arqueológicos podem ser classificados de diferentes maneiras,

nia é comum a presença de terra preta de índio (TPI), também conhecida por terra preta antropogênica ou terra preta arqueológica (TPA), essa terra, como o nome sugere é bastante escura e foi produzida em decorrência da ocupação indígena em uma área por longo tempo. Essa terra é mais fértil, pois é muito rica em elementos como o ferro, o potássio, o cálcio, dentre outros. Esse é um exemplo das mudanças causadas durante a ocupação humana.

O que é sítio arqueológico? O local onde se pode identificar objetos produzidos pelo ser humano em um espaço que foi modificado para receber uma comunidade é chamado de sítio arqueológico.

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de acordo com sua localização na paisagem, forma de uso, tipo de cultura material, organização social atribuída, dentre outros. Essas classificações não são excludentes e podem ser combinadas para melhor descrever o local. Em relação à sua localização na paisagem, os sítios arqueológicos podem ser a céu aberto, em abrigos sob rocha ou ainda podem ser construídos. Os sítios a céu aberto são aqueles que não apresentam nenhuma cobertura atual que dê proteção aos vestígios, mas convém observar que podia haver no passado moradias construídas de materiais frágeis que não resistiram ao tempo. Os abrigos sob rocha possuem cobertura de pedra, que protege o solo das intempéries criando um microclima muito favorável à preservação dos vestígios. Os sítios construídos incluem tanto as antigas edificações desde o período colonial, estejam em ruína ou ainda intactas, quanto às construções indígenas como os sambaquis, os aterros, os círculos de pedras, os megalitos (grandes blocos organizados) ou os geoglifos (escavações no solo formando um objeto, geométrico ou figurativo). Para classificar um sítio arqueológico quanto à sua função ou forma de uso é preciso observar a espessura e a extensão da área ocupada, localização na paisagem, reconhecer as áreas de atividades

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e os materiais arqueológicos envolvidos. Se observarmos esses aspectos, podemos identificar sítios como área de habitação, acampamento, oficinas líticas, depósitos, cemitério, dentre outros. Quanto ao tipo de cultura material associada, podem-se ter sítios arqueológicos pré-coloniais ou pré-históricos, que comportam o período de tempo antes da colonização europeia no Brasil, mas com presença massiva da população autóctone; sítios arqueológicos pós-coloniais ou históricos, referentes à presença europeia no local ou, ao menos, seus utensílios, modificando o panorama anterior de forma contundente. Pode-se falar, ainda, em sítios arqueológicos cerâmicos, líticos, de arte rupestre, com ossos. Nesses casos a classificação será de acordo com o material predominante na amostra recolhida no sítio arqueológico. Neste sentido, um sítio cerâmico conterá grande quantidade de vestígios cerâmicos, um sítio lítico será composto por predominância de material feito em rocha e assim sucessivamente. Em geral, um mesmo sítio comporta mais de um tipo de vestígio. Nessa forma de classificar vale o predomínio. É possível classificar um sítio arqueológico pela organização social atribuída à sociedade pretérita que estava instalada na área, indicada pelo material e que re-

quer conhecimento de uma parte representativa da cultura material, que deve ser conhecida e estudada. Assim, pode haver sítios associados a grupos caçadores-coletores, que comportam materiais arqueológicos feitos de pedra e ossos, além de vegetais e sepultamentos. Esses grupos apresentariam baixa quantidade de pessoas, dieta baseada na caça e na pesca, além da coleta de frutos e recursos locais, alta mobilidade do grupo, domínio de grande área geográfica. Atribui-se a arte rupestre, em sua maioria, aos grupos caçadores-coletores devido a sua antiguidade, mas não foi exclusividade desses grupos, pois grupos ceramistas certamente decoraram as paredes rochosas, a julgar pelas datas encontradas para essa atividade. Os grupos sambaquieiros viviam no litoral brasileiro, principalmente, e constituíam de grupos maiores, com ocupação sazonal entre interior e litoral, dieta baseada na pesca e na caça, além da coleta. A produção dos amontoados de conchas (ditos sambaquis), que serviam como habitação e cemitério, é característica. Além disso, adornos de pedra polida, que remetem à fauna aquática (baleia, golfinho, dentre outros) e esqueletos com musculatura robusta, diferenciam os sambaquieiros dos demais grupos aos quais foram contemporâneos.

Os grupos ceramistas envolviam populações de tamanhos variados, que tinham em comum a produção da cerâmica, a horticultura e a agricultura, compreendendo, portanto, a produção do alimento, modificando a dieta. Estavam presentes, ainda, a caça, a pesca e a coleta, mas o controle do alimento ocorria via produção. Além destes sítios mais antigos temos os sítios mais recentes, como casas antigas e palacetes, engenhos, quilombos, dentre outros; que marcam o período pós-colonial ou histórico. Em geral, os arqueólogos utilizam todas essas classificações de forma simultânea, pois se referem a variáveis diferentes, que se complementam para traçar o perfil da sociedade estudada. Pode-se dizer que na área de estudo, em geral, foram identificados sítios a céu aberto, pré-coloniais, lito-cerâmicos (ou seja, com presença de lítico e cerâmica), ligados aos grupos ceramistas e foram entendidos como área de moradia.

Como se faz uma datação? A arqueologia utiliza diferentes formas para obter o dado cronológico do evento estudado e lança mão de cronologias relativas e cronologias absolutas. Existem diferentes formas de obter datações relativas e absolutas, vamos ver algumas delas nesta seção.

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As cronologias relativas podem ser entendidas com as camadas estratigráficas do solo, em geral, se não há inversão nos estratos, o mais antigo será o que está mais profundo no solo, e ao contrário, quanto mais próximo à superfície atual, mais recente o objeto. Com essa perspectiva é possível organizar em sequência um ou mais eventos, em uma ordem relativa saberemos o que é mais antigo e o que é mais recente, mas não será possível inserir estes dados em um calendário. O mesmo ocorre quando se observa pinturas rupestres, por exemplo: se uma pintura foi feita sobre outra é possível deduzir que aquela que está por baixo foi pintada antes daquela que está em cima. Assim, obtemos uma cronologia relativa para ordenar uma sequência de eventos, indicando os mais antigos e os mais recentes. A própria classificação do material em tradições arqueológicas é uma forma de datação relativa, pois cada grupo de materiais apresenta características específicas que são localizadas no tempo e no espaço. O método da seriação, utilizado no Brasil para a análise e categorização dos vestígios arqueológicos, é uma forma de se obter uma cronologia relativa na medida em que estes objetos são classificados de acordo com os padrões formais, que podemos chamar de moda, é alterada ao longo dos anos. Seria possível para qualquer observa-

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dor mediano reconhecer um corte de cabelo, a roupa ou a música dos anos de 1980, mesmo que estivessem sendo usadas atualmente. Isto porque conhecemos as características dos padrões culturais daquela época, que são diferentes de hoje. A arqueologia organiza sua tipologia da mesma forma e assim reconhece as modas através dos objetos que estão carregados de padrões culturais e através deles é possível deduzir a cronologia relativa dos objetos. A periodização histórica é outro modo de organizar o tempo de forma relativa, através de períodos nomeados de acordo com critérios econômicos (uma grande invenção ou uma mudança de modo de vida) e em observância aos eventos climáticos e geológicos (como as marcas nos depósitos de solo sobre as mudanças ambientais e climáticas, ou evento geológicos). Os métodos de datação absoluta radiométrica são diversos, mas convém salientar que o termo “datação absoluta” não explica de fato o resultado obtido com a aplicação destes procedimentos. Em geral, através das datações, os pesquisadores recebem um período dilatado de tempo para definir a ocorrência do evento (1249 +- 42 a.D., entre 1207 e 1291 de nossa Era) e não uma data definida no calendário (agosto de 1200 d.C.).

Para maior fluência na leitura das datas é importante entender o que significam. A comunidade de arqueologia marca o tempo de muitas maneiras, pois ele é essencialmente para o entendimento das sucessões dos eventos estudados, que representam dilatado período. Muitas vezes, em um mesmo texto, aparecem diferentes siglas, que podem ser facilmente convertidas em uma mesma unidade de tempo. Muitos nomes são utilizados como sinônimos, pois têm o mesmo significado, como d.C. (depois de Cristo) e a.D. (anno Domini) que é a nossa Era atual, sendo o ano de 2014 d.C. o ano corrente. Em nossa Era, a contagem do tempo ocorre de forma crescente, começando do ano 1 ou +1, enquanto a anterior, o período antes de nossa Era, começa no ano -1, não existindo para esta contagem o ano 0 (figura 14). No entanto, para a comunidade arqueológica há uma convenção própria que é designada como “antes do presente” ou pela sigla A.P. O presente arqueológico é marcado no ano de 1950 de nossa Era, dez anos depois do advento do C14, e depois do lançamento da bomba nuclear no Japão. Neste caso, o ano zero existe e será considerado em 1950. Para esta forma de ordenar o tempo há uma continuidade numérica já que o tempo é contado tendo como marco o ano de 1950.

É preciso então entender como fazer a conversão entre as datas do ano calendário e as datas do calendário arqueológico, cujo marco é o ano de 1950. Para tanto, é preciso subtrair caso a datação esteja no período depois de Cristo e somar caso a data esteja antes de Cristo. Para facilitar o entendimento foram criadas as figuras sequentes (figura 15 e 16). Existem diferentes procedimentos realizados por especialistas em seus laboratórios, como físicos e químicos, para obter datações absolutas. Os métodos radiométricos baseiam-se em um fenômeno físico de declínio de determinado isótopo. No caso dos métodos radiocarbônicos, potássio-árgon e as séries de urânio ocorrem o decaimento dos seguintes elementos químicos, respectivamente, C14, K40, U235 e U238. Existem ainda outros métodos radiométricos, que utilizam a exposição à radiação de determinado elemento, como a luminescência (termoluminescência ou TL e OSL, sigla em inglês para luminescência opticamente estimulada), a ressonância de Spin e rastos de fissão (BICHO, 2006, p. 235). Para os limites desta obra, nos deteremos nas duas análises realizadas na área de estudo, o radiocarbono ou C14 e a termoluminescência.

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Figura 14: Convenções cronológicas.

Figura 15: Conversões entre unidades cronológicas, A.D e A.P.

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Figura 16: Conversões entre unidades cronológicas, a.C. e A.P.

O radiocarbono ou C14 é um dos métodos mais conhecidos entre entusiastas e mais utilizados entre os profissionais da arqueologia. Foi descoberto ainda na década de 1940 por Willard Libby, o que lhe rendeu o prêmio Nobel em 1960 (BICHO, 2006). O carbono é um elemento químico encontrado em todos os organismos vivos na forma dos isótopos C12, C13 e C14, sendo que o primeiro é bastante estável e o último radioativo (por isso o nome radiocarbono, é o carbono radioativo). A formação do isótopo ocorre na alta atmosfera e o C14 se liga ao nitrogênio formando o dióxido de carbono radioativo (14C02) que se dispersa e atinge a superfície terrestre. A maioria do dióxido de carbono é absorvida pelo oceano e uma pequena parcela é incorporada na biosfera através da fotossíntese. As plantas fotossintéticas estão em equilíbrio com a quantidade de C14 da atmosfera e devido ao processo meta-

bólico, ao se alimentar destas plantas os organismos vivos irão obter a quantidade de C14 e ficarão estáveis em relação à quantidade de C14 e C12 da atmosfera. Vale dizer que o C14 é instável, mas seu processo de formação é contínuo, o que permite a estabilidade do elemento. No organismo vivo, este isótopo também é instável, mas é reposto com a dieta alimentar. No entanto, quando o organismo morre sua taxa de C14 irá decair a um ritmo constante, a chamada meia-vida, que no caso do C14 é de 5730+-30 anos. Para obter a datação é preciso então comparar a taxa de decaimento do isótopo e com a taxa inicial, estabelecendo assim o lapso de tempo para o evento, a própria datação. Muitos cuidados precisam ser tomados para que a amostra não seja contaminada e mesmo assim, quando se obtém o resultado físico-químico (a própria data) é necessário interpretar este dado, entender o que ele signifi-

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ca dentro do contexto humano tratado. Note que a meia-vida do carbono é menor que a entrada do ser humano na América, então este não é o melhor método para as datações muito antigas, pois quanto mais antiga a data que se deseja obter, maior o lapso temporal obtido e maior o erro padrão. Ou seja, para uma amostra de 500 anos o erro do método será de 50 anos, mas para uma amostra de 50000 anos o erro será de 2700 anos (BICHO, 2006, p. 240).

a sua formação, chamada paleodose. A exposição do cristal à luz ou à radiação irá desalojar os elétrons que ficaram presos nas imperfeições cristalinas, fazendo-os operar com um nível mais baixo de energia, próximo ao equilíbrio atômico e emitirá uma luz ultravioleta (a luminescência). A energia da luz emitida de uma amostra é proporcional ao número de elétrons liberados durante a exposição à radiação pelo cristal, a própria paleodose.

No caso da termoluminescência ou TL, diferente do radiocarbono, é um método que averigua acúmulo de certo elemento em decorrência da radiação. Neste sentido, o procedimento ocorre com a exposição da amostra que se quer datar à radiação. Em teoria, este tipo de teste é mais indicado para se obter datas de objetos muito antigos.

Diversos métodos podem ser utilizados para obter uma datação, mas é preciso observar os procedimentos de coleta e ainda mais importante, interpretar os resultados colhidos. Neste estudo foram realizadas 17 datações por C14 e TL, conforme tabela abaixo que contém todos os dados relevantes para caracterizar a amostra. Durante as discussões, problematizaremos os resultados obtidos, problematizando as datações de forma crítica.

Para solicitar uma datação por termoluminescência é preciso obter uma estrutura cristalina, como os elementos minerais dentro de um fragmento cerâmico ou mesmo uma peça lítica feita com rochas cristalinas (como o quartzo). Essa amostra, em laboratório, será exposta à radiação por determinado elemento e os especialistas irão medir a quantidade de elétrons que ficaram presos nas imperfeições da estrutura cristalina e descobrir a dose de radioatividade que a amostra recebeu desde

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Sítio arqueológico

Nível (profundidade)

Tipo de amostra

Classificação cultural

Datas calibradas

Amostra

Unidade de escavação

Ourilândia 2

30-40 cm

Carvão (C14)

Borda Incisa

190+/-40 a.D.

Beta 236418

S1-137N499E

Ourilândia 2

60-70 cm

Carvão (C14)

Borda Incisa

1060+/-70 a.D.

Beta 236417

120N480E

Ourilândia 2

60-70 cm

Cerâmica (TL)

Borda Incisa

774+/-91 a.D.

UW2296

120N480E

Onça Puma 3

10-20 cm

Cerâmica (TL)

Mista

1249+/-42 a.D.

UW2297

TPA1180N530E

Onça Puma 3

50-60 cm

Carvão (C14)

Mista

1190+/-40 a.D.

Beta 236412

TPA2210N560E

Onça Puma 3

30-40 cm

Cerâmica (TL)

Mista

1104+/-61 a.D.

UW2295

TPA1180N544E

Onça Puma 3

30-40 cm

Carvão (C14)

Mista

1030+/-40 a.D.

Beta 236413

TPA2210N560E

Onça Puma 3

30-40 cm

Cerâmica (TL)

Mista

932+/-70 a.D.

UW2293

S5-141N480E

Onça Puma 3

10-20 cm

Carvão (C14)

Mista

760+/-40 a.D.

Beta 235414

TPA2194N560E

Onça Puma 3

50-60 cm

Carvão (C14)

Mista

4150+/-40 a.C.

Beta 236415

S5-142N480E

Ourilândia 11

10-20 cm

Carvão (C14)

Borda Incisa (?)

770+/-30 a.C.

Beta 297749

927N-480E

Ourilândia 11

20-30 cm

Carvão (C14)

Borda Incisa (?)

770+/-30 a.C.

Beta 297750

927N-480E

Ourilândia 11

30 cm

Carvão (C14)

Borda Incisa (?)

790+/-30 a.C.

Beta 297751

927N-480E

Ourilândia 12

60 cm

Carvão (C14)

Tupiguarani

760+/-30 a.D.

Beta 297751

SA 1

Ourilândia 12

10-20 cm

Carvão (C14)

Tupiguarani

960+/-30 a.D.

Beta 297752

1100N-440E

Ourilândia 12

30-40 cm

Carvão (C14)

Tupiguarani

800+/-30 a.D.

Beta 297753

1081N-557E

Ourilândia 12

40-50 cm

Carvão (C14)

Borda Incisa

4150+/-30 a.C.

Beta 345923

999N-540E

Tabela 1: Datações obtidas pelo projeto de estudo.

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O que é Tradição Arqueológica? Para a organização dos dados advindos das pesquisas arqueológicas, o Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA) estabeleceu uma diretriz, que é utilizada até o presente, mesmo que com um significado às vezes um pouco distinto. Os artefatos recolhidos nos sítios arqueológicos, principalmente cerâmicos, deveriam ser organizados de acordo com as suas características tecnológicas, como a composição da argila e a decoração. A persistência temporal e geográfica destas características dá origem ao que é chamado de “Tradição Arqueológica”. Dentro de uma mesma tradição arqueológica é provável que existam variações, associadas ao tamanho dos sítios, cronologia, geografia, que refletem também na cultura material. Um complexo cerâmico, lítico, de padrões de assentamento, que estejam relacionados no tempo e no espaço consiste em uma subdivisão da tradição, denominada “Fase”. Portanto, a tradição é uma categoria maior, mais abrangente, que pode conter uma ou mais fases. Uma fase ou tradição pode ou não estar associada a um determinado tronco linguístico ou grupo cultural. Existem exemplos mais claros, como na chamada Tradição Tupiguarani, um conjunto caracterizado principalmente pela cerâmica, que é associado aos grupos culturais Tupi e Guarani, conforme os relatos de

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cronistas, viajantes e jesuítas, na época do contato. Mas essa relação não é possível em todos os casos e também pode variar com os pressupostos científicos adotados pelo pesquisador.

Quais as sociedades são estudadas pela arqueologia? Em geral, associamos a arqueologia com o estudo das sociedades antigas, e de fato, este é o foco maior dos arqueólogos que atuam no Brasil: seja estudando populações autóctones existentes antes do contato com o colonizador – arqueologia pré-colonial ou pré -histórica, seja estudando as populações durante e depois do Período Colonial – arqueologia pós-colonial ou histórica. Embora a maioria se dedique ao estudo das sociedades pretéritas é possível utilizar a metodologia arqueológica para estudar a sociedade contemporânea, tendo como foco sua cultura material. Poderíamos fazer uma análise crítica sobre os termos citados, arqueologia pré-histórica e histórica, pois insinuam que somente um dado período é “histórico” sendo o anterior não histórico. Atualmente, os primeiros termos indicados (pré-colonial e pós-colonial) são mais utilizados, mas na produção acadêmica brasileira e mundial os demais termos ainda existem e são utilizados.

Como foi consagrado pelo uso é importante que os educadores conheçam o termo, mas que sim, façam a crítica a eles e discutam em sala essas questões. Periodização da história pré-colonial brasileira O sistema de periodização utilizado pelos cientistas para a arqueologia das Américas é distinto do sistema europeu, bastante conhecido, que utiliza os termos “paleolítico”, “idade da pedra” ou “idade dos metais”. O sistema classificatório, embora não adotado de maneira unânime pelos arqueólogos (Prous, 1991, Neves, 2004), é baseado na proposta de Gordon Willey e Philip Philips (1958). Os estágios mais relevantes foram definidos a partir de critérios econômicos (utilização dos recursos naturais) e cronológicos (mudanças nas temperaturas médias do planeta). Os estágios não são mutuamente exclusivos e também não seguem uma ordem evolutiva linear (NEVES, 2004). Para facilitar o entendimento, cada termo será definido a seguir.

Paleoíndio: estágio de adaptação das primeiras sociedades americanas, desde a sua chegada até o final do Pleistoceno, cerca de 10000 anos

atrás, marcado pelo término das glaciações. As evidências correspondem aos artefatos de pedra lascada, de populações de caçadores especializados em grandes animais, ou ainda grupos que faziam uso de um número mais diversificado de recursos. Arcaico: incluem populações de caçadores, adaptados às condições climáticas, próximas das atuais. Cronologicamente, essas populações estão no Holoceno, período geológico posterior ao Pleistoceno que se estende até o presente. Com a extinção de animais caçados pelos Paleoíndios (megafauna, como a Catonyx, ou preguiça gigante e o Glyptodon, ou tatu gigante), as populações precisaram adotar estratégias mais diversificadas, que incluíam recursos aquáticos como moluscos e a domesticação de algumas espécies de plantas (NEVES, 2004). Formativo: definido pela existência da agricultura ou outra economia de subsistência comparável e a ocupação sedentária em aldeias. Essas práticas tiveram como consequência um grande aumento populacional. A domesticação de espécies como a mandioca e o milho tem evidências de pelo menos 4000 anos A.P., portanto, é possível que existam datas mais recuadas para este período.

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Histórico das pesquisas arqueológicas na região As primeiras informações que temos sobre a arqueologia da região do sudeste paraense são de dois sítios arqueológicos identificados pelo cientista alemão Protásio Frikel (1963, 1968), em duas aldeias Xikrin, na região do Cateté. O material coletado foi levado para o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), em 1963, e estudado pelo arqueólogo Napoleão Figueiredo (1965). Pouco tempo depois, outra coleção, desta vez de alguns sítios localizados na bacia do rio Fresco, em São Félix do Xingu, foi coletada por geólogos, em trabalho de campo de pesquisa mineral e levada para o MPEG. A análise deste material foi realizada pela equipe do arqueólogo Mário Simões e seus resultados foram publicados em 1973 (SIMÕES, CORRÊA E MACHADO, 1973). Nessa mesma publicação, o autor menciona outros dois conjuntos de cerâmica, um na região do rio Fresco, em São Félix, e o outro no Castanhal do Cumaru, no rio Pau D’Arco que foram levados ao MPEG, na década de 1950. Este período, entre as décadas de 1950 até 1970, pode ser caracterizado como a primeira fase dos estudos arqueológicos na região e está associado com descobertas fortuitas realizadas por entusiastas, pessoas que conheciam

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a importância dos vestígios arqueológicos e tiveram interesse em levar o material para uma instituição, mas que não eram arqueólogos. Apesar de estas coleções fornecerem algumas informações, o conhecimento gerado é restrito. Apenas com a cerâmica, não é possível saber o tamanho dos sítios arqueológicos, profundidade, localização na paisagem, características importantes para a compreensão da sociedade que habitou o sítio arqueológico. As pesquisas sistemáticas ocorreram a partir da segunda metade da década de 1970, em três contextos diferentes. O primeiro trabalho de cunho acadêmico na região foi realizado pelo Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná (CEPA/UFPR), em 1975; o segundo momento corresponde ao início do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica (PRONAPABA), entre 1976 e 1978, e o terceiro consiste nas pesquisas realizadas nas áreas de influência dos grandes empreendimentos, Projeto Grande Carajás (1980) e Hidrelétrica de Tucuruí (1974). A UFPR dispunha de um campus no município de Imperatriz, no Maranhão, e realizou a pesquisa acadêmica como atividade de extensão universitária. Foi percorrida a margem direita do Tocantins, na região entre o município

maranhense e a confluência Tocantins -Araguaia. Neste trabalho foram identificados sete sítios arqueológicos e os resultados da pesquisa constam apenas em relatórios técnicos.

sítios, principalmente às margens do Tocantins, foram identificados e resgatados, proporcionando um grande número de informações sobre o passado da região.

O PRONAPABA foi um projeto nos mesmos moldes do que foi implantado no Brasil na década de 1960, denominado PRONAPA. As regiões amazônicas foram agrupadas por bacias hidrográficas e em cada uma das áreas um grupo de pesquisadores foi designado, todos sob a tutela do MPEG, instituição que naquele momento respondia pela arqueologia de toda Amazônia Legal brasileira. Para a região do sudeste do Pará foi elaborado um subprojeto, denominado Projeto Baixo Tocantins (SIMÕES, 1976). No entanto, desde 1974, havia começado a construção da hidrelétrica de Tucuruí, cujo lago formado pela represa inundaria boa parte da região de estudo do projeto arqueológico. A partir de 1977, as Centrais Elétricas do Norte (ELETRONORTE) assinaram um convênio com o MPEG, com o objetivo de identificar e resgatar os sítios arqueológicos na área de inundação. O resultado dessas pesquisas deu origem à dissertação de mestrado da arqueóloga Fernanda Araújo-Costa, em 1983. A pesquisa avançou até o ano de 1987, quando foram publicados novos dados (SIMÕES E ARAÚJO-COSTA, 1987). Com esses estudos, dezenas de

Ainda no mesmo período, houve o primeiro programa de arqueologia para grandes obras não hidrelétricas do Brasil, realizado em duas áreas de mineração no Pará. A primeira, em Porto Trombetas, distrito minerário do município de Oriximiná, oeste do estado (ARAÚJO COSTA et al., 1985; HILBERT, 1988; KALKMAN E COSTANETO, 1986; LOPES, 1981). A segunda ação foi o Programa Grande Carajás, da Companhia Vale do Rio Doce, na região de Carajás, bacia do rio Itacaiúnas, sudeste do estado. As pesquisas iniciais foram realizadas por Simões e Lopes, entre 1983 e 1986, e seus resultados foram parcialmente divulgados (SIMÕES, 1986). Entre 1990 e 1998, o projeto de arqueologia em Carajás, foi retomado, sob a coordenação de Magalhães (1994). Ambos os projetos foram executados pelo MPEG. A partir da virada do milênio e da mudança nos processos de licenciamento ambiental, que passaram a exigir estudos arqueológicos sistemáticos nas áreas de impacto dos empreendimentos, a quantidade de pesquisas arqueológicas no sudeste do Pará se multiplicou:

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• Projeto Sossego, na região da Serra do Sossego, município de Canaã dos Carajás (MAGALHÃES, 2001, apud PEREIRA et. al, 2008); • Projeto Salobo, na região da Floresta Nacional Tapirapé-Aquieri, no município de Marabá (SILVEIRA et al., 2008); • Projeto de Salvamento Arqueológico da Linha de Transmissão Tucuruí/PA – Presidente Dutra/MA (SCIENTIA, 2002a, 2002b, 2003a, 2003b, 2008); • Projeto de Salvamento Arqueológico da Linha de Transmissão Tucuruí/PA – Açailândia/MA (SCIENTIA, 2003, 2004, 2008); • Projeto de Salvamento Arqueológico na Área de Intervenção da Mineração Onça Puma e Linha de Transmissão Associada (SCIENTIA 2004, 2007b, 2008, 2009a, 2009b, 2010a, 2010b, 2010c). • Projeto Carajás (SCIENTIA) Os projetos citados são os de maior envergadura, muitos outros já foram implantados, ou estão em processo, como novas linhas de transmissão, novas áreas de mineração e linhas de distribuição de energia elétrica para o interior.

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O que mudou desde as primeiras pesquisas até a contemporaneidade? As primeiras pesquisas arqueológicas na região foram feitas de forma não sistemática, por meio de coletas aleatórias por pesquisadores de áreas afins, como a antropologia. Neste momento não havia ainda um corpo de pesquisadores no Brasil, como os arqueólogos. Neste período, os amadores e interessados pelo passado do Brasil faziam coletas assistemáticas, em geral das peças mais “vistosas”, bonitas e excepcionais. As primeiras pesquisas sistemáticas foram realizadas através de projetos de extensão das universidades, que buscavam entender a diversidade de ocupação do passado. A partir da década de 1970, houve muito interesse em conhecer a Amazônia. O Brasil já possuía então seus primeiros arqueólogos com formação específica e muitos subprojetos foram criados, através do PRONAPA, e seus pesquisadores, ligados às universidades brasileiras, começaram a se debruçar no entendimento das diversas áreas do Brasil, desde o Sul até o Norte. Ainda se conhecia pouco ou nada de algumas áreas, em especial a Amazônia, e os pesquisadores queriam entender como se deu a ocupação na região. Ainda na década de 1980, começaram os primeiros projetos ar-

queológicos ligados aos empreendimentos econômicos, como Tucuruí. E desde então, a legislação mudou muito com o interesse de proteger o patrimônio cultural, entre ele o patrimônio arqueológico.

Contexto arqueológico geral: panorama amazônico As primeiras sociedades humanas da floresta amazônica chegaram há, pelo menos, 10000 anos A.P. (Roosevelt 1989, 1992, 1998, Roosevelt et.al, 1996, Neves 2006), período entre o final do Pleistoceno e início do Holoceno. A antiguidade da ocupação é bastante aceita no meio acadêmico, mas existem divergências sobre o modo de vida dessas sociedades. Enquanto alguns autores acreditam que essas sociedades eram compostas de caçadores-coletores especializados na caça da megafauna (Piperno e Pearsall, 1998), Roosevelt e Neves defendem o modelo de sociedades com economia baseada em estratégias de exploração de recursos diversificados, como a caça de pequenos animais, pesca, coleta, coerentes com a biodiversidade da região. Devido ao modo de vida destas sociedades, nômade ou seminômade, os vestígios são menos numerosos e mais difíceis de serem encontra-

dos. Em comparação com o número de sítios arqueológicos de sociedades sedentárias, as ocupações de caçadores-coletores são raras e a visibilidade dos vestígios é baixa. Neste cenário, o estado do Pará possui importantes sítios arqueológicos, em duas principais regiões: Monte Alegre e Carajás. A Caverna da Pedra Pintada, situada no município de Monte Alegre, possui datações situadas entre 11730 e 9880 anos A.P. (ROOSEVELT et.al, 1996). A segunda área, no sudeste do estado está próxima da região de estudo, situado no mesmo complexo de serras que divide os rios Xingu e Tocantins. As pesquisas arqueológicas na região de Carajás estão associadas aos projetos de exploração mineral da Vale, iniciados na década de 1980, e foram realizadas a partir de 1983 pela equipe do MPEG (MAGALHÃES, 1994). Nesta ocasião, entre outros sítios, foi descoberta a Gruta do Gavião, primeiro sítio associado à ocupação de caçadores-coletores na Amazônia brasileira (MAGALHÃES, 1994, ROOSEVELT, 1989, KIPNIS et. al. 2005). Após uma interrupção em 1986, houve a retomada das pesquisas a partir de 1993, também pela equipe do MPEG. Na década seguinte, a Scientia Consultoria também desenvolveu um projeto de arqueologia preventiva em Ca-

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rajás, cujos resultados foram divulgados em um artigo (Kipnis et. al 2005), e uma dissertação de mestrado (OLIVEIRA, 2007). Até o momento, aproximadamente, 14 sítios associados a caçadorescoletores na região de Carajás possuem datações, com cronologias entre 9000 e 1020 anos A.P. (OLIVEIRA, 2007). Esses sítios associados a caçadores-coletores estão em sua grande maioria localizados em abrigos sob rocha, mas existem dois contextos na Amazônia brasileira de sítios paleoindígenas a céu aberto. O primeiro foi localizado em 2001, na Amazônia central, pela equipe do arqueólogo Eduardo Góes Neves, na Amazônia central, próximo ao município de Iranduba/ AM (COSTA, 2009). As datas deste sítio o situam entre 9460 e 4500 anos A.P. O segundo foi identificado no ano de 2003, através de um projeto de arqueologia preventiva, realizado em função construção da Linha de Transmissão em 500 kV Tucuruí/PA–Açailândia/MA. A equipe da Scientia Consultoria localizou dois sítios líticos a céu aberto, no município de Breu Branco, nas margens do rio Tocantins. Esses sítios apresentaram cronologias entre 11160 e 5490 anos A.P. (CALDARELLI et. al. 2005). Outros sítios a céu aberto com material associado aos caçadores-coletores foram identificados na região de Carajás, no igarapé Mirim, dentro do Projeto Salobo, com datações entre 5780 e 3700 anos A.P. (SILVEIRA et. al., 2008).

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Assim, apesar de nenhum sítio arqueológico associado às ocupações paleoindígenas ter sido encontrado nos municípios de Ourilândia, Tucumã, São Félix e Água Azul do Norte até o momento existe um potencial bastante elevado, comprovado pelas importantes evidências regionais já estudadas e é possível que os primeiros habitantes também tenham chegado há mais de 10000 anos. Além dos sítios de caçadores-coletores, na região também existem sítios com arte rupestre, ou seja, que contenham desenhos elaborados sobre superfícies das rochas pelas técnicas de pintura ou gravação. Esses sítios ocorrem em toda Amazônia brasileira (PEREIRA, 2002). Para o recorte geográfico delimitado neste estudo, duas áreas têm o contexto arqueológico rupestre de interesse: bacia dos rios Araguaia e Tocantins e a bacia do rio Xingu. A bacia do Araguaia-Tocantins corresponde a segunda maior concentração de sítios rupestres no Pará, com 16 sítios identificados, sendo seis com pinturas e dez com gravuras. Essas gravuras estão distribuídas em três áreas principais: o baixo curso do rio Tocantins, entre as cidades de Tucuruí e Baião, com dois sítios arqueológicos, o baixo curso do rio Araguaia, na região da Ilha dos Martírios, nos estados do Pará e Tocantins, entre os municípios de São Ge-

raldo do Araguaia e Xambioá, com oito sítios arqueológicos e o médio curso do rio Araguaia, na região de Conceição do Araguaia, com outros seis sítios. Essas inscrições foram observadas por diversos exploradores destes rios e constam em muitos relatos, como os de Hartt (1895), Baena (1839), Ingácio de Moura (1989), Coudreau (1897) entre outros. Comparada as outras áreas da mesma bacia hidrográfica, o Baixo Tocantins apresenta um pequeno número de sítios arqueológicos, apenas dois, todos de gravuras rupestres. As figuras foram representadas no trabalho de Hartt (1895). Os sítios rupestres da região de São Geraldo do Araguaia e Xambioá também constam em relatos antigos, como os de Coudreau (1897) e foram identificados em diversos momentos. O mais conhecido deles sem dúvida é a Ilha dos Martírios, conhecido desde pelo menos 1746, que possui pelo menos 4.000 figuras (Pereira, 2002), um dos principais sítios rupestres do país e ainda pouco explorados. A última área da bacia do Tocantins -Araguaia está localizada na região do município de Conceição do Araguaia, com um conjunto de seis sítios, todos de gravuras. A maior parte destes sítios foi identificada pelo projeto “Regis-

tros rupestres e contexto arqueológico no baixo/médio Araguaia” (Pereira, 2001), mas o potencial arqueológico já havia sido explorado por Jean Vellard, médico e etnólogo francês, cujo relato associa a descoberta da área ao Pe. Gil de Vilanova, no início do século XX (VELLARD, 1931). Na bacia do rio Xingu existem 13 sítios rupestres registrados (Pereira, 2002), sendo que quatro destes estão localizados no município de São Félix do Xingu. Esses sítios foram identificados por Avelino Oliveira (1928) Melchiades Borges (1933) e Manoel Rodrigues Ferreira (1960), mas nunca foram alvos de trabalhos acadêmicos sistemáticos. As sociedades produtoras destes grafismos também não são conhecidas. Em Monte Alegre, algumas pinturas foram associadas com ocupações de caçadores-coletores (Roosevelt, 1996 e Pereira, 2002), mas na região aqui descrita não existem informações do tipo. Como existem tanto sítios com grande profundidade temporal de caçadores-coletores como sítios de horticultores ceramistas, nenhuma hipótese pode ser descartada. Portanto, mesmo que nenhum sítio arqueológico deste tipo tenha sido encontrado durante o projeto de arqueologia na Mineração Onça Puma, a região tem um potencial elevado para a ocorrência deste tipo de vestígio.

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O período entre o Pleistoceno Tardio (18000 a 12500 anos A.P.) e a transição para o Holoceno Inicial (125009000 anos A.P.) foi marcado por grandes mudanças climáticas e de vegetação em todo o planeta. O impacto dessas transformações na floresta amazônica divide a opinião de cientistas. A diminuição da umidade poderia causar uma redução da floresta, que daria lugar à vegetação xeromórfica, do tipo savana (OLIVER,

2001); outro grupo de cientistas acredita que a diminuição da umidade não seria suficiente para ocasionar a diminuição da floresta (COLINVAUX et. al. 1996), mas ambas as correntes teóricas concordam que cerca de 9000 anos atrás as condições climáticas e de vegetação estavam mais estáveis, próximas das condições atuais, apesar de haver períodos mais ou menos secos (OLIVER, 2001, KIPNIS et al., 2005).

Figura 17: Grafismos rupestre reproduzidos por Hartt (1895) e por Ehrenreich (1892).

Figura 18: Grafismo rupestre reproduzidos por Vellard (1931).

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Após a estabilização climática, um modo de vida baseado na exploração dos recursos aquáticos surgiu na região do Baixo Amazonas. As primeiras sociedades produtoras de cerâmica da Amazônia foram encontradas na região de Santarém e Monte Alegre, no baixo rio Amazonas, estado do Pará. O sítio da Caverna da Pedra Pintada em Monte Alegre é um abrigo sob rocha e o sítio Taperinha, localizado em Santarém é um sambaqui fluvial. Sambaquis ou concheiros são sítios arqueológicos formados pelo depósito intencional de materiais orgânicos e calcários, como conchas e moluscos, que ao longo do tempo sofrem certo tipo de fossilização, formando uma espécie de montanha artificial. No sítio Taperinha foi encontrada uma datação de 7080 anos A.P. (ROOSEVELT, 1991, 1995). O sítio da Caverna da Pedra Pintada, em Monte Alegre, possui uma ocupação paleoíndia nos estratos inferiores, associadas também à pintura rupestre, como já mencionado anteriormente. No entanto, em certa camada foi identificado material cerâmico, associado aos restos de alimentação. Este horizonte da caverna foi datado entre 7600 e 6300 anos A.P. (ROOSEVELT, 1995). A cerâmica dos dois sítios descritos é semelhante e possui tratamento de superfície bastante simples, com aplicação de técnicas plásticas decorativas em poucos casos, do tipo incisão e pintura

vermelha apenas na cerâmica de Monte Alegre. Essas ocupações estão relacionadas com sociedades relativamente sedentárias, dedicadas à exploração intensiva de recursos aquáticos e utilizando a domesticação de plantas de forma incipiente (OLIVER, 2001). Esse mesmo padrão de utilização dos recursos ambientais também pode ser observado na foz do rio Amazonas, litoral do Pará e Maranhão e no Alto Guaporé. A Tradição Mina, com sambaquis que apresentaram datações entre 5700 e 3300 anos A.P., pode ser encontrada no Pará e Maranhão (OLIVER, 2001, BANDEIRA, 2008, SILVEIRA & SCHAAN, 2005). No Alto Guaporé vestígios deste tipo têm entre 8350 e 810 anos A.P., com cerâmica a partir dos últimos 4000 anos, da fase Bacabal (MILLER, 2009). Estes grupos semissedentários podem ser classificados como sociedades Arcaicas, conforme o quadro cronológico exposto anteriormente. Não existem evidências deste modo de vida na região sudeste do Pará, tampouco sítios do tipo sambaqui. Pudemos observar até o momento dois modos de ocupação da floresta tropical: o primeiro dos caçadores-coletores, baseados em uma exploração diversificada de recursos, como caça,

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pesca, coleta e relativamente nômades; o segundo, que explorava principalmente os recursos aquáticos, que também manipulava algumas espécies de plantas e foi responsável pelo surgimento da cerâmica. Esses dois modos de vida não representam uma evolução linear, ou seja, nem todos os grupos caçadores-coletores viraram pescadores-horticultores. As duas maneiras de explorar os recursos da floresta existiram ao mesmo tempo, mesmo que não necessariamente no mesmo local. É provável que a importância econômica dos produtos cultivados tenha aumentado a partir de processos bemsucedidos de experimentações e domesticações de espécies, como o milho e a mandioca durante o período Arcaico e a troca de uma economia pela outra caracteriza a transição para o período Formativo. A opção pela agricultura traz uma série de transformações para a sociedade. A sedentarização pela necessidade da manutenção das roças e tempo de colheita, o aumento populacional, pela garantia de um estoque de alimentação para o futuro, e a complexificação social são as principais características deste modo de vida. A cerâmica faz parte do conjunto tecnológico de quase todas as sociedades de horticultores, embora não seja uma regra. Ela permite o processamen-

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to de tubérculos e cereais em alimentos digeríveis para o organismo humano. A sedentarização ocasiona uma transformação maior no ambiente. A ocupação de uma área durante mais tempo por uma quantidade maior de pessoas acaba por resultar num acúmulo de matéria orgânica do solo. Esta matéria orgânica tem origem vegetal e animal, nos restos de alimentação, madeiras e palhas das casas, carvão das queimadas, entre outros resíduos domésticos. O solo destes locais é caracterizado pela sua coloração escura, por isso denominado de Terra Preta Arqueológica (TPA) (KERN & KÄMPF, 1989; KERN, 1996). O Formativo marcou também as separações das diversas famílias e troncos linguísticos que hoje existem na Amazônia, que acompanharam a diáspora dos primeiros agricultores. Provavelmente, surge os falantes de línguas dos troncos Tupi e família Arawak, entre outras, em diferentes locais nas terras baixas. Esses eventos ainda não foram precisamente locados na escala temporal, mas as evidências atuais os colocam nos últimos 4000 anos (OLIVER, 2001). Durante o formativo que ocorrerão as separações linguísticas, e diásporas dos primeiros grupos agricultores. Provavelmente, surge os falantes de línguas dos troncos Tupi, Arawak, Caribe, entre

outras, em diferentes locais nas terras baixas. Esses eventos ainda não foram precisamente locados na escala temporal, mas as evidências atuais os colocam nos últimos 4000 anos (OLIVER, 2001).

Aqui, veremos as principais tradições encontradas na Amazônia Brasileira: a Tradição Hachurada Zonada, a Borda Incisa, a Incisa Ponteada, a Polícroma e a Tupiguarani.

As primeiras evidências deste novo modo de vida na floresta tropical surgem em diferentes locais, mas quase ao mesmo tempo. Portanto, é possível que a descoberta da agricultura e cerâmica tenha ocorrido como processos independentes em locais afastados, ou seja, não estariam associados a processos de difusão e migração.

A Tradição Hachurada-Zonada ocorre na bacia do rio Ucayali, no Peru, e também na foz do Amazonas, na região de Alenquer e Marajó, representada pela fase Ananatuba (MEGGERS, 1961, ROOSEVELT, 1992). A cerâmica tem como principais características a decoração zonada, principalmente pela técnica de incisão, e a pintura. A principal

Figura 19: Mapa de localização das ocupações paleoíndias e semissedentários.

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técnica é a aplicação de linhas paralelas e perpendiculares em uma área demarcada, fazendo um sombreamento da área desejada. A pintura ocorre em faixas vermelhas, na borda ou no corpo do vaso (MEGGERS, 1961). As datas da bacia do Ucayalli são de 3450 anos A.P. (Bruhns, 1994) e de aproximadamente 3000 anos A.P. na foz do Amazonas. A Tradição Borda Incisa também foi definida por Meggers. Este material tem como principais características as bordas largas, expandidas, com o topo achatado e silhueta seccional triangular. A superfície das bordas geralmente apresenta incisões e em alguns casos pintura ou engobo vermelho ocorre no interior e/ou exterior dos vasos (MEGGERS, 1961). É frequente o uso de apliques zoomorfos e antropomorfos, alças e apêndices (LIMA, 2008). Os sítios arqueológicos mais antigos que possuem a cerâmica da Tradição Borda Incisa ou Saladoide-Barrancoide tem 4750 anos A.P., na bacia do rio Orinoco, na Venezuela (ROOSEVELT, 1992). Corresponde a um primeiro momento da tradição cerâmica, classificado como Série Saladoide. Cerâmicas com características semelhantes foram identificadas na Amazônia Brasileira, como a Fase Pocó, no Baixo Amazonas e Trombetas, com datações mais antigas de 3280 (Hilbert, inf. pessoal, apud Gomes,

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2011) e 2100 anos A.P. (GUAPINDAIA, 2008), fase Açutuba, no baixo rio Negro, entre 1100 e 500 anos A.P. (Lima, Neves e Petersen, 2006) e a cerâmica da região de Parauá, na foz do Tapajós, com 3800 anos A.P. (GOMES, 2011). A Tradição Borda Incisa também aparece em outras fases, com cronologias mais recentes, em diversos locais, sendo uma das tradições mais abrangentes das terras baixas. Dentre as fases representadas na Amazônia estão a Manacapuru (na Amazônia Central), Boim (Médio Amazonas), Japurá (rio Japurá/Caquetá) e Mangueiras (na Ilha de Marajó). No Orinoco, ela se manifestaria através das fases Nericagua, Cotua e Los Caros (LIMA, NEVES e PETERSEN, 2006). Esses contextos têm cronologias entre 1700 e 500 anos A.P., mas as datas e a geografia das ocorrências variam bastante. Não existe até o momento um consenso sobre o local de origem desta cerâmica, mas as datas mais antigas estão fora da Amazônia Brasileira. Segundo alguns autores, a dispersão da cerâmica Borda Incisa está associada aos grupos falantes de línguas da família Aruaque (LATHRAP, 1970, NAVARRETE, 2006, HECKENBERGER, 1996). O próximo horizonte cerâmico, ou Tradição arqueológica da Amazônia corresponde à Tradição Incisa-Ponte-

ada. A cerâmica tem a decoração caracterizada pelo uso de incisão, ponteados e modelados de diversas formas, aplicadas no interior das bordas de panelas e na superfície externa dos pescoços de jarros. Os adornos são comuns e variados, incluindo apliques antropomórficos, zoomórficos e formas geométricas (MEGGERS, 1961). Sítios arqueológicos com este tipo de material são encontrados ao longo do Orenoco (Arauquín), do Amazonas (Santarém, Itacoatiara e Konduri) alcançando a Guiana Inglesa (Mabaruma) e no Amapá (Mazagão). A cerâmica de Santarém (PA) consiste na expressão mais famosa e complexa deste estilo (LATHRAP, 1975). A exuberância da arqueologia do Baixo Amazonas chamou a atenção de estudiosos desde o século XIX, desde os trabalhos do botânico Barbosa Rodrigues (1875, 1899), que descreveu os ídolos de pedra, contas de colar, muiraquitãs e cerâmicas elaboradas. A popularidade da rica arqueologia do Baixo Amazonas foi reforçada pelas observações de Nimuendajú, João Barbosa de Farias e Nordenskiöld, etnógrafos do início do século XX. A Tradição Incisa-Ponteada está cronologicamente situada em posição mais recente que as demais tradições descritas. As datações mais antigas até

o momento estão situadas próximas do ano zero, na região de Santarém (GOMES, 2002; SCHANN, 2009; MARTINS, 2012; HILBERT e HILBERT, 1980). Na bacia do Orinoco, Venezuela, a cerâmica com as características Incisa-Ponteada recebe a denominação de Arauquinoide e substituem os produtores da cerâmica Borda Incisa a partir do ano 500 da era cristã (ROSTAIN, 2008). As datas dessas cerâmicas atingem até o século XVI, época da conquista europeia da Amazônia. Segundo o modelo proposto por Donald Lathrap (1970), a cerâmica Incisa-Ponteada está associada com a dispersão de grupos de língua da família Caribe. A última das grandes tradições cerâmicas é a Polícroma. A última das grandes tradições cerâmicas é a Polícroma. Essa tradição é a mais difundida pelo território amazônico, e possui mais de 30 fases. A complexidade deste material ocorre em função do grande número de sítios e vestígios associados a ela e é menos homogênea entre as tradições da Amazônia Brasileira. Diferente das demais é improvável que a dispersão da tradição esteja associada a apenas um tronco linguístico (SCHANN, 2001). Alguns autores relacionam a cerâmica com a expansão de grupos Tupi, ou ainda Arawak (LATHRAP, 1975, BROCHADO, 1982).

99

O principal elemento para o grupamento de uma diversidade de artefatos tão diversa é o uso da pintura como elemento decorativo principal na técnica decorativa da cerâmica. A policromia clássica é composta pelas cores branca, preta e vermelha, mas também o laranja e amarelo, além de diversas tonalidades do vermelho são encontradas. É importante relembrar que a pintura também ocorre nas outras tradições arqueológicas e nem por isso elas são classificadas como policromas. Na Amazônia Brasileira, a fase Marajoara, encontrada principalmente na Ilha de Marajó, é o estilo mais exuberante e conhecido desta tradição. As urnas funerárias são vasos utilizados para o sepultamento de indivídu-

os e geralmente trazem a figura humana em destaque, sempre associada com animais, como a cobra, o escorpião, urubu-rei, lagarto, entre outros (SCHANN, 2007). Além da cerâmica Marajoara, existem diversas fases no Rio Negro, Japurá e Amazônia Central, médio e alto Solimões, médio e baixo Madeira, no Uatumã, baixo Xingu e Tocantins, Madeira, no rio Napo, Equador, rio Caquetá, na Colômbia, Ucayali, no Peru, entre outras (TAMANAHA, 2012). Essas cerâmicas são bastante distintas da cerâmica Marajoara, mas apresentam alguns elementos estruturais da forma da pintura semelhantes. Também existem urnas funerárias, menos elaboradas, mas com formas e motivos complexos. O grafismo

a) b)

PE-A-2. Altura: 35 cm; PE-A-2. Altura 22 cm

(PALMATARY, 1949, prancha 27, p. 385) Estatuetas Marajoara.

Figura 20: Objetos cerâmicos Marajoara

100

A e b) CL-A-2. Altura: 46 cm (PALMATARY, 1949, prancha 94, p. 4529) Vasilha com representação biomorfa e antropomorfa Marajoara.

puro é mais frequente que as representações biomorfas. A cronologia da cerâmica Marajoara é próxima ao ano zero (Schann, 2007), enquanto a fase Guarita, por exemplo, no baixo rio Negro é datada no entorno do ano 1000 da era cristã (TAMANAHA, 2012). De maneira geral, correspondem aos horizontes cerâmicos mais recentes da bacia amazônica. A última tradição da qual trataremos é a Tupiguarani. Dentro do sistema classificatório da arqueologia adotado pela maioria dos pesquisadores brasileiros, ela é uma exceção. Está diretamente associada aos grupos falantes do tronco linguístico Tupi e recebe a nomenclatura em função dos grupos étnicos Tupi e Gua-

rani, que ocupavam toda faixa costeira brasileira, até o Paraguai e Argentina. A cerâmica é caracterizada pela pintura policroma, nas cores vermelho, preto e branco, geralmente organizadas da mesma maneira (o branco cobre o “fundo” da pintura, o vermelho marca os ângulos e pontos principais, como diâmetro maior e o lábio, em toda a circunferência do vaso, na forma de faixas, e o preto e vermelho preenchem a pintura, com linhas geométricas, formando os mais variados motivos) (PROUS, 2005). A decoração plástica característica é o corrugado, que consiste em uma série de cristas, deixando a superfície da cerâmica com aspecto ondulado. Além

101

disso, a cerâmica da tradição Tupiguarani apresenta formas com ângulos bastante marcados, denominadas carenas e a cerâmica é frequentemente utilizada em rituais funerários, para o enterramento de indivíduos.

1981, entre outros). Apesar das hipóteses sobre a origem Tupi, as pesquisas sistemáticas são insuficientes para comprovar a ideia. É neste ponto que se encaixa a discussão sobre a arqueologia do sudeste do Pará.

Essa tradição arqueológica provavelmente é a mais bem conhecida do Brasil e foi estudada por um grande número de profissionais. Como se estende por todo território nacional, existem muitas variações regionais e as classificações também variam de acordo com os autores e período em que os estudos foram escritos. E o que chama a atenção nos estudos sobre essa tradição é que a sua origem é associada à Amazônia por boa parte dos pesquisadores (BROCHADO, 1984; NOELLI, 1998; MEGGERS, 1961; SCHMITZ,

As datações mais antigas para os sítios da Tradição Tupiguarani localizadas fora da Amazônia estão nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, situadas aproximadamente 300 anos a.C. No território amazônico, pesquisas recentes identificaram cronologias com mais de 4000 anos de antiguidade em Rondônia (CRUZ, 2008; ZIMPEL, 2009; MILLER, 2009). Ainda é necessário um maior número de resultados para a comprovação destes dados, mas tratam-se das datas mais antigas para essa tradição. No sudeste do Pará, existem

Foto: Adriano Carvalho

museuantropologico.blogspot.com

Salinas/MG

Rio Grande do Sul

Figura 21: Cerâmica Tupiguarani com pintura (branca, vermelha e preta) e com decoração plástica (corrugado).

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cronologias antigas, com mais de 2000 A.P., no entanto, essas datas não foram associadas diretamente a sítios Tupiguarani. A fase Itacaiúnas, na região de Marabá possui a datação mais antiga para sítios Tupiguarani no sudeste do Pará, do ano de 280 a.D. Mas a cerâmica encontrada no sudeste do Pará não apresenta as características comuns à cerâmica da Floresta Amazônica. O resultado na análise de Figueiredo (1965) classificou a cerâmica dos rios Itacaiúnas e Cateté como possivelmente pertencente a grupos Tupi, pois na época da sua publicação, o sistema de fases e tradições do PRONAPA não havia sido criado. Posteriormente, Simões no seu Índice das fases arqueológicas brasileiras (1972) incluiu este material dentro da Fase Itacaiúnas e esta, por sua vez, era parte da Tradição Tupiguarani. Essa classificação foi a mesma adotada nos trabalhos seguintes e as variações regionais deram origem a novas fases. A Fase Carapanã foi definida a partir do material encontrado na região de São Félix do Xingu (Simões, Corrêa e Machado, 1973), a Fase Itacaiúnas a partir do material analisado por Figueiredo e do Programa Grande Carajás (Simões, 1986) e as fases Tauá, Tucuruí e Tauarí, na área da hidrelétrica de Tucuruí (ARAÚJO COSTA, 1983). A Fase Tauarí, posteriormente foi subdivida em mais três fases: Marabá, Itupiranga e Tauarí.

Duas dissertações de mestrado recentemente defendidas no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE/USP) versaram sobre a arqueologia no sudeste do Pará. O trabalho de Fernando Ozório, resultado de um trabalho de licenciamento ambiental executado para a construção da linha de transmissão Tucuruí-Presidente Dutra e realizado pela Scientia Consultoria Científica, intitulado “O complexo Tupi da Amazônia Oriental”, defendido no ano de 2008 e também a pesquisa de Lorena Garcia, também dentro do licenciamento ambiental, pela Scientia Consultoria, na área da mineração Onça Puma/Vale, em Ourilândia do Norte, intitulada “Arqueologia na região dos interflúvios XinguTocantins – A ocupação Tupi no Cateté” (2012). Uma síntese com os trabalhos envolvendo os sítios Tupiguarani do sudeste do Pará estudados pelo MPEG foi publicada em 2008, no livro “Os Ceramistas Tupiguarani, Vol. 1” (Prous e Lima, 2008), no artigo “A tradição Tupiguarani na Amazônia” (PEREIRA et. al, 2008). O volume de informações disponíveis sobre a arqueologia regional é grande, com dezenas de sítios identificados, datados e analisados. Condensar essas informações é uma tarefa difícil, pois é necessário selecionar quais as informações mais relevantes e as menos relevantes e isso pode variar de acordo com o objetivo do pes-

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quisador. Aqui, foram elencadas duas características que proporcionaram as discussões contemporâneas mais interessantes sobre a arqueologia regional, sendo a primeira a classificação da cerâmica e a segunda, a inserção temporal dos sítios arqueológicos. Desde os primeiros trabalhos, a cerâmica da região foi classificada dentro da Tradição Tupiguarani, mas todos os pesquisadores também perceberam que a cerâmica tinha suas características peculiares. Simões (Simões, Corrêa e Machado, 1973) associou os atributos incomuns à cerâmica da Tradição Incisa-Ponteada (SIMÕES e ARAÚJO COSTA, 1987). As características da cerâmica associadas à Tradição Inciso -Ponteada consistiam principalmente de decorações plásticas na forma de apliques com representações de animais (zoomorfos), de seres humanos (antropomorfo) e representações de outros seres vivos não reconhecíveis (biomorfos), além de apêndices e alça, mas os estudos anteriores à década de 1990 não explicaram como essas características foram incorporadas na cerâmica Tupiguarani. Essa questão foi mais bem explorada com o trabalho de Garcia (2012), que identificou as mesmas características apontadas na bibliografia em sítios localizados no município de Ourilân-

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dia do Norte/PA. Ela realizou a análise cerâmica de dois sítios arqueológicos e revisitou as coleções que deram origem às fases Itacaiúnas e Carapanã. A arqueóloga separou o material em dois conjuntos tecnológicos distintos. O que havia sido entendido com um material bastante heterogêneo foi reinterpretado como duas tradições, a Tupiguarani e a Borda Incisa, relacionada com as fases Ipavú e Diauarum, do Alto Xingu. A partir da caracterização de uma outra tradição arqueológica, a autora reviu o significado das fases Itacaiúnas e Carapanã. As coleções que originaram as fases possuíam limitações amostrais, pois provinham de achados fortuitos e eram pouco numerosas. A caracterização das duas tradições era difícil de ser percebida a partir dessas amostras. Garcia reconheceu que os atributos das duas fases eram semelhantes e englobavam tanto fragmentos agora considerados Borda Incisa, como fragmentos Tupiguarani. Assim, propôs que a fase Itacaiúnas fosse usada para designar apenas o material da Tradição Tupiguarani e a fase Carapanã para designar o material da Tradição Borda Incisa.

Figura 22: Quadro temporal das comunidades pretéritas.

Figura 23: Mapa de localização dos grupos ceramistas na Amazônia.

105

Tradição Tupiguarani 1) Pasta: a presença de grãos de caco moído parece ser a característica mais importante da pasta atribuída a fatores culturais e quase sempre é acompanhado de grãos de areia de dimensões variáveis. 2) Tratamento de superfície: a) decoração plástica: corrugado e demais subtipos ungulado, escovado, entalhado na borda. b) decoração pintada: a mais popular consiste em linhas finas e faixas mais largas em vermelho e/ou castanho, desenhadas sobre um fundo pintado de branco ou creme. As linhas finas podem ser acompanhadas por linhas de pontos e desenham padrões geométricos, como paralelos, ziguezague, quadriculados, círculos, retângulos e cruzes concêntricas e gregas. Mais raras são as linhas brancas e/ou pretas sobre o engobo vermelho, pinturas monocromas vermelhas ou pretas, faixas vermelhas aplicadas diretamente sobre a superfície (BROCHADO, 1980).

Tradição Borda Incisa 1) A cerâmica da tradição Borda Incisa tem como principal diferença os atributos decorativos. Apliques em forma de animais, chamados de zoomorfos (morcegos, gaviões, peixes e répteis), na parede externa ou próximos a borda, são as características marcantes desta cerâmica. 2) Além da decoração, as morfologias dos vasos e as decorações sobre o lábio reforçado (ausente na cerâmica Tupi) compõem as principais expressões plásticas dessas coleções. 3) Essas expressões plásticas, distintas da cerâmica Tupi tradicional, podem ser reconhecidas na cerâmica encontrada nos sítios arqueológicos do Alto Xingu. 4) As bordas reforçadas identificadas nos sítios Ou1 e Ou8, e as decorações do sítio Ou7 são semelhantes às identificadas por Becquelin (2000), para as fases Ipavú e Xinguana localizadas no alto Xingu.

Figura 24: Exemplos de peças atribuídas à Tradição Tupiguarani exumadas nos sítios do sudeste do Pará.

Figura 25: Exemplos de peças atribuídas à Tradição Borda Incisa

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Contexto arqueológico regional e local: área de pesquisa A microrregião de abrangência do projeto possui 57 sítios arqueológicos registrados no IPHAN e outros quatro não registrados, mas descritos (PEREIRA, 2009). A maior parte dos sítios está localizada nos municípios de São Félix do Xingu e Ourilândia do Norte. Tucumã e Xinguara não possuem nenhum sítio arqueológico registrado até o momento, mas a falta de registro está associada à ausência de pesquisas e não ao baixo potencial arqueológico destes municípios. Podemos perceber a predominância de sítios lito-cerâmicos e ausência total de sítios históricos. Entre os sítios líticos, apenas um, em São Félix do Xingu (Sítio Mundo Novo IV) é um sítio lítico, possivelmente associado com grupos pré-ceramistas. O sítio lítico em Ourilândia do Norte corresponde ao sítio Ourilândia 9 e é constituído por um conjunto de polidores, associado a um sítio lito-cerâmico (Onça Puma 3).

Município

Total

Água Azul do Norte

1

Os sítios com arte rupestre são descritos por Edithe Pereira (2009), mas não existem estudos sistemáticos sobre tais ocorrências. Um sítio arqueológico localizado em São Félix do Xingu foi alvo de uma pesquisa arqueológica na década de 1970, que deu origem à fase Carapanã. O sítio no qual a cerâmica foi recolhida (PA-RF-01, Fazenda Mangueiras) não consta no cadastro nacional de sítios arqueológicos, mas é descrito na pesquisa (SIMÕES, CORRÊA e MACHADO, 1973). O projeto de arqueologia teve início no ano de 2006, quando iniciou a etapa do levantamento prospectivo. Desde então, foram produzidos diversos relatórios técnicos com os resultados obtidos (Scientia, 2006, 2007, 2008, 2009a, 2009b, 2010a, 2010b, 2011a, 2011b), além de uma série de trabalhos acadêmicos (SILVA et. al. 2012; KERN et al, 2010; HERON, 2011, 2012). Entre os trabalhos acadêmicos estão os estudos

Lito-cerâmico ou

Lítico

Arte rupestre

1

0

0

cerâmico

Ourilândia do Norte

20

19



0

São Félix do Xingu

38²

35

1



Tucumã

0

0

0

0

Xinguara

0

0

0

0

Total

59

45

2

4

107

Figura 26: Localização dos sítios arqueológicos da área de estudo.

dos solos (Soares, 2011), a dissertação de mestrado de Lorena Garcia, que estuda a cerâmica de dois sítios arqueológicos de Ourilândia do Norte (2012) e as diversas comunicações e pôsteres em eventos científicos nacionais e internacionais (CRUZ, 2010, 2011, 2013; HERON et al., 2013). Até o momento, foram identificados 33 sítios arqueológicos, em dois subprojetos distintos: 1) Linha de Transmissão Carajás-Ourilândia; 2) Mineração Onça Puma. O projeto da linha de transmissão resultou no registro de sete sítios ar-

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queológicos, sendo dois no município de Parauapebas, quatro em Canaã dos Carajás e um em Água Azul do Norte. O projeto da área de mineração resultou no registro de outros 26 sítios arqueológicos, sendo dois em São Félix do Xingu, um em Parauapebas e os outros 23 em Ourilândia do Norte. Do total de sítios identificados, apenas oito não foram alvos de intervenções arqueológicas até o momento, por não se encontrarem em perigo de sofrerem algum tipo de impacto. Para a simplificação da grafia, no decorrer do texto, será empregada apenas as letras inicias

dos sítios arqueológicos, seguidas de seu número de registro: Água Azul – AA; Canaã – CA, Onça Puma – OP; Ourilândia – OU, Parauapebas – PB e São Félix – SF. O grande número de sítios resultou em uma grande diversidade de características. Alguns atributos dessas ocupações são importantes para o estudo arqueológico, como a paisagem onde o sítio está inserido, a bacia hidrográfica, a extensão, profundidade e densidade da ocorrência de material arqueológico. Quanto à paisagem, existem sítios nos mais diversos locais. A maior frequência é de sítios localizados em topos de colina, em áreas que não alagam nunca, representam mais que 50% do total encontrado. Também existem sítios localizados nas encostas da Serra do Onça e Serra Arqueada, como os sítios Ou14 e OP3, e outros na área de várzea, ou entre a várzea e a terra firme, principalmente na bacia do rio Parauapebas. A bacia hidrográfica na qual o sítio está inserido também é importante. Os rios, para grande parte das sociedades amazônicas, funcionam como as estradas contemporâneas. As viagens e rotas migratórias costumam ser orientadas pelos cursos d’água, tanto pela rapidez

quanto pela facilidade, em frente à floresta tropical. O conjunto de serras da Mineração Onça Puma (Serra Onça, Serra Puma e Serra Arqueada) é o divisor de águas entre os afluentes do médio curso da margem direita do rio Xingu e afluentes da margem esquerda do rio Tocantins. Os sete sítios arqueológicos localizados na parte sudoeste da Serra Onça (SF1, SF2, OU4, OU5, OU8, OU9 e OU10) estão próximos aos pequenos igarapés que deságuam na margem direita do igarapé Carapanã, afluente da margem direita do rio Fresco, que por sua vez deságua na margem direita do rio Xingu, próximo à sede municipal de São Félix do Xingu. O sítio encontrado na área urbana de Ourilândia do Norte (OU2) também se localiza na bacia do Xingu. Em Água Azul, a área registrada está localizada na cabeceira do rio Itacaiúnas, afluente da margem direita do Tocantins. Os demais sítios da linha de transmissão ocupam as margens do rio Parauapebas (CA1, CA2, CA3, CA4, PB31, PB32, PB33). Esse é o curso d’água mais volumoso entre as áreas investigadas por essa pesquisa e apresenta trechos com planícies aluviais, o que não ocorre nas áreas das serras. Os registros localizados na metade leste da Serra Onça, Serra Puma e Serra Arqueada estão próximos a igarapés afluentes do rio Cateté, ou do

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próprio rio, como o OP3 e OU11 e a oficina de polimento (OP9). Quanto à área dos sítios, o menor registrado até agora é o Ourilândia 3, com 16.800 m² (120 x 140 m), e o maior o Canaã 4, com 288.000 m² (600 x 480 m). Entre estes dois extremos é possível identificar uma média das áreas, ou pelo menos um valor que se repetiu em diversos sítios, entre 60.000 e 70.000 m². A profundidade do material também varia muito de um registro para outro, principalmente por fatores pós-deposicionais, ou seja, alterações que o sítio sofreu após seus primeiros habitantes abandonarem a área. Isso inclui a ação de insetos, como formigas e cupins, animais como tatus e porcos-do-mato e o crescimento de plantas. A construção de tocas de insetos e animais, por exemplo, pode transportar o material de camadas mais próximas à superfície para camadas mais profundas, ou o contrário. Grandes árvores, quando são queimadas ou quando caem, também afetam o solo, podendo modificar a posição dos artefatos arqueológicos. Em função dessas perturbações, em alguns sítios, como no Ourilândia 1, foi encontrado material arqueológico até 150 cm de profundidade. Mas o percentual mais significativo, superior a 95% do total, encontrava-se entre a superfície e 50 cm de profundidade, sendo que a maioria está entre 20 e 40 cm de profundidade.

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Assim, é possível perceber a diversidade dos sítios arqueológicos. Variam em tamanho, profundidade e inserção na paisagem. Essas características refletem como estes grupos estavam se relacionando com o meio que os cercava. A diferença entre a área pode estar relacionada ao tamanho do grupo, ou ainda à função que a aldeia ocupava. Hoje em dia, alguns grupos indígenas mantêm uma aldeia principal, que é ocupada a maior parte do ano, mas pode manter aldeias menores afastadas, para ocupar em épocas quando os recursos naturais estão mais escassos e o grupo precisa se dividir. Ou ainda existem casas de roça, pequenas aldeias ocupadas durante um curto espaço de tempo para uma tarefa específica, como a manutenção das roças e a colheita. Para a compreensão dessas diferenças no registro arqueológico, além da análise dos artefatos em si, seria necessário um quadro cronológico mais completo, para saber se as aldeias maiores e menores foram ocupadas em épocas distintas, o que não está disponível neste momento. Portanto, as interpretações sobre as diferentes funções dos sítios arqueológicos são meramente especulativas. Como já foi visto no início deste item, a quase totalidade dos sítios arqueológicos pode ser classificada como lito-cerâmica. Isso quer dizer que ocorre tanto material lítico quanto material

cerâmico, mas nos casos investigados neste estudo, a quantidade de cerâmica é sempre superior ao de material lítico. Esse material lítico consiste principalmente em peças produzidas pela técnica do polimento, como machados, adornos labiais (tembetás) e pingentes. É uma indústria menos sofisticada que a utilizada pelos caçadores-coletores, que produziam instrumentos complexos, como pontas de flecha e raspadores. É válido relembrar que não foram encontrados sítios de caçadores-coletores na área do projeto até o momento, o que não significa que eles não existem. Portanto, os grupos que se instalaram nesta área de estudo eram sociedades que conheciam a tecnologia da produção cerâmica e também faziam machados, entre outras ferramentas. Os machados são utilizados principalmente no desmatamento para a produção de roças ou aldeias. A cerâmica, além dos possíveis significados simbólicos, serve para a transformação de alimentos, como tubérculos e cereais, em produtos digeríveis pelo ser humano. Aliando a isso as evidências de solo antropogênico (solo mais escuro, rico em matéria orgânica, presente na maioria dos sítios arqueológicos da região) é certo que são sociedades posteriores às inovações do período formativo. O estudo de grupos ceramistas geralmente tem este objeto como o prin-

cipal foco, devido a uma série de fatores: um exemplo é a própria abundância da evidência. A cerâmica é uma argila que passou por um processo físico-químico irreversível de perda de moléculas de água, o que a torna muito resistente. A água e o oxigênio são os principais fatores de deterioração do material cerâmico, mas é necessário muito tempo para que todas as informações se percam. A antiguidade da cerâmica na Amazônia Brasileira, com menos de 10000 anos, não é suficiente para que ela se perca. Além disso, ela é um ótimo indicador social. As sociedades indígenas geralmente são organizadas em famílias extensas. As aldeias, geralmente, consistem em poucas casas com muitas famílias em cada casa e as refeições são compartilhadas pelos membros da família extensa. Assim, quanto maior o número de pessoas envolvidas na alimentação de uma mesma família, a capacidade do recipiente cerâmico deverá ser proporcional. Grandes recipientes, portanto, são correlatos de grandes famílias. Já a quantidade de material cerâmico presente no sítio pode ser relacionada ao tempo de ocupação de uma aldeia ou a sua função. A cerâmica não é um item que possa ser facilmente transportado no caso de uma mudança de aldeia, pois é pesada, volumosa e corre risco de quebra. Apesar de ser uma matéria-pri-

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ma resistente e a sua durabilidade alta, o uso altera a sua vida útil. Alguns potes são empregados na cocção de alimentos e a variação da temperatura pode ocasionar rachaduras. A cerâmica também é utilizada para armazenar água ou sementes, sendo pouco movida. Esses potes têm tendência de menor desgaste e risco de quebra e a necessidade de reposição é menor do que potes que quebram mais frequentemente, portanto, haverá menor registro arqueológico dessas formas. Um tempo maior num mesmo local exigirá a reposição das peças mais utilizadas ou que se quebram mais facilmente. Ou seja, a quantidade de material cerâmico pode variar de acordo com o tempo que a aldeia foi ocupada. Além destes fatores de ordem mais funcional, a cerâmica está relacionada a questões de ordem simbólica, subjetivas, cujas informações são de acesso limitado ao estudioso. Os grupos Tupi, por exemplo, costumavam enterrar seus mortos em grandes panelas de cerâmica, denominadas neste caso de urnas funerárias. Mas sabemos que os desenhos formados pelas pinturas e incisões na superfície dos potes podem ter um grande número de significados. Atualmente as sociedades indígenas utilizam os grafismos corporais para transmitir mensagens, sobre a identidade, status so-

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cial, família, mas o significado de cada grafismo é reconhecido apenas pelos membros da mesma. Ou seja, sabemos que as decorações provavelmente têm uma série de significados, mas desvendá-los é impossível. A arqueologia utiliza sistemas classificatórios para a compreensão dos objetos. Para o estudo das sociedades produtoras de cerâmica, o objeto cerâmica será o indicador para a classificação da ocupação dentro de uma Tradição, como já foi apontado anteriormente. Entre os sítios estudados na área de abrangência do projeto foram identificados conjuntos de cerâmica pertencentes a duas tradições distintas: Tupiguarani e Borda Incisa. O trabalho de Garcia (2012) foi o primeiro a classificar o material do projeto Onça Puma e serve como base para a discussão do contexto regional. O primeiro ponto é o significado das duas tradições distintas. A Tradição Tupiguarani já havia sido identificada no Sudeste do Pará na década de 1960 e é entendida como correlato de material de grupos falantes de línguas do Tronco Tupi. A classificação deste material foi bastante simples, pois os principais atributos da tradição foram encontrados, como os tratamentos crômicos em policromia clássica e o tratamento plástico do tipo corrugado, além do sepultamento em urnas funerá-

rias. São as mesmas características dos sítios Tupiguarani do projeto Onça Puma. Além das características clássicas da tradição, também ocorrem decorações não típicas, principalmente na forma de apliques zoomorfos e antropomorfos, mesmo que em baixa quantidade. Essas decorações não típicas foram encontradas em diversos sítios e podem ajudar a identificar uma regionalização do material Tupiguarani. A identificação da Tradição Borda Incisa é o principal novo elemento da arqueologia regional. Até então, a cerâmica com atributos não Tupiguarani do sudeste do Pará havia sido classificada como Incisa Ponteada (SIMÕES, CORRÊA, MACHADO, 1973; ARAÚJO-COSTA, 1983). A mesma classificação foi dada à cerâmica das fases Ipavu e Diauarum, localizadas no Alto Xingu durante as pesquisas do PRONAPA (SIMÕES, 1967). A diferença das classificações não é uma questão de fácil resolução. Primeiramente, tanto a região Sudeste do Pará quanto o Alto Xingu podem ser caracterizados como áreas periféricas da floresta amazônica. Localizam-se a centenas de quilômetros das principais representações da Tradição Borda Incisa, como as fases Pocó e Manacapuru e Tradição Inciso-Ponteada, como as fases Santarém e Konduri. Os dois complexos cerâmicos, tipicamente ama-

zônicos, possuem muitas características em comum, como o uso de apliques biomorfos na decoração de seus vasos. Essa distância entre as zonas consideradas “originárias” da cerâmica do Alto Xingu seja ela Borda Incisa ou Incisa-Ponteada, possivelmente acarretou uma regionalização na maneira de fazer a cerâmica, que faz com que os seus atributos possam ser confundidos com mais de uma tradição. O contato com um novo ambiente ou com outros grupos humanos podem ser os causadores dessas mudanças. É provável que muitos hábitos e costumes antigos permaneçam, mas também que novos elementos sejam introduzidos como parte do processo de adaptação da nova realidade. Esses padrões de comportamento são semelhantes à formação social contemporânea do sudeste paraense, que por diferentes motivos congrega comunidades de diferentes regiões do país, cada uma com seus traços culturais. A partir disso, forma-se uma nova comunidade, que conserva traços de seus locais de origem e também constrói a sua realidade. Essa transformação dos atributos, difíceis de serem reconhecidos, ocasionou a divergência de opinião entre os pesquisadores. Neste caso, o principal elemento que levou a classificação do material não Tupiguarani como pertencente à Tradição Bor-

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da Incisa foi a associação com o histórico da ocupação indígena conhecido no Alto Xingu. Heckenberger e Garcia seguem a linha proposta por Lathrap (1970), que associa a Tradição Borda Incisa com a dispersão de grupos de línguas Arawak e a Tradição Incisa-Ponteada com a dispersão de grupos de língua Caribe. Na área do Alto Xingu existem tanto etnias Arawak (Waujá e Mehinako) quanto Caribe (Kuikuro), no entanto, a primeira seria muito mais antiga (HECKENBERGER, 2000). A migração Caribe para essa área só teria acontecido em período mais recente, devido à pressão da sociedade neobrasileira. Assim, as evidências arqueológicas mais antigas estariam associadas às migrações Arawak, cujo correlato seria a cerâmica da Tradição Borda Incisa. Essa ocorrência regional do Alto Xingu é representada pelas fases Ipavu e Diauarum. Portanto, a classificação da cerâmica está mais associada com elementos indiretos, como o histórico indígena e linguístico, do que com elementos diretos, como os atributos da cerâmica. A cerâmica não Tupiguarani do projeto Onça Puma possui mais características em comum com as cerâmicas das fases Ipavu e Diauarum do que com a cerâmica da Tradição Borda Incisa em si, ou Incisa -Ponteada (CRUZ, 2013). A ocorrência dessas duas tradições nos sítios estudados não segue um único padrão. Existem 28 sítios com cerâmica

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exclusivamente da Tradição Tupiguarani. Dois sítios possuem apenas material da Tradição Borda Incisa (OU2 e OU7). Em outros quatro sítios (OU1, OU8, OU12 e OP3) foi identificado material das duas tradições. Não foi identificado nenhum padrão geográfico ou paisagístico entre os sítios, pois ocorrem nas duas bacias hidrográficas, em diferentes lugares na paisagem. Estão ausentes na pesquisa da linha de transmissão, mas não são restritos às áreas das serras. O sítio OU2, por exemplo, está localizado na zona urbana de Ourilândia do Norte. Os sítios com material misto possuem características interessantes. A distribuição da cerâmica, na maioria dos casos, possui um padrão típico. As duas tradições não são encontradas no mesmo lugar, apesar de estarem próximas. Esse tipo de padrão ficou claro durante a análise do sítio OU1, que possui um grande núcleo com material Tupiguarani e uma pequena concentração de material Borda Incisa. Como já vimos, os atributos decorativos de ambas as tradições são distintos, a primeira é caracterizada pela pintura policroma e pela técnica plástica do corrugado; a segunda possui apliques zoomorfos e decoração incisa. Localizando onde ocorreu a maior quantidade de cada tipo de decoração foi possível perceber uma área Tupiguarani, no setor noroeste e uma área Borda Incisa no setor sudeste.

Sítio Canaã 4: decoração corrugada, comum entre os grupos Tupiguarani

Sítio Canãa 4: a decoração corrugada é eficiente para reunir os roletes, e criar efeito visual

Sítio Parauapebas 34: neste caso é possível que a decoração corrugada tenha sido feita por uma oleira destra, pois as cristas da direita estão sobre as da esquerda.

Sítio Canaã 4: observe que cada crista é o resultado de um movimento do produtor, e mostra o final de cada gesto.

Sítio Canaã 4: A remontagem dos potes permite conhecer melhor a morfologia e o uso dos recipientes.

Sítio Canaã 2: Recipiente com provável representação antropomorfa, com “orelhas” laterais em segmento de círculo e alto relevo, “olhos” incisos por traços pequenos.

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Sítio Canaã 2: outra possível representação humana, mais comum entre os produtores Borda Incisa.

Parauapebas 31:decoração em alto relevo, em geral associada neste contexto à Tradição Borda Incisa.

Sítio Canaã 2: Pintura em faixas vermelhas delimitadas por linhas pretas. Associado à tradição Tupigurani.

Sítio Parauapebas 31: Pintura vermelha e preta com incisão marcando o vermelho. Associado à tradição Tupigurani.

Sítio Canaã 4: fragmento de vasilha grande remontada, detalhe da face externa (esquerda) e interna (direita). Notar decoração incisa na face externa.

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Sítio Parauapebas 33: Notar a disposição da decoração pintada, comum em outros sítios da região.

Sítio Canaã 2: a decoração pintada está bastante erodida, mas foi possível reconhecer o padrão e atribuir classificação arqueológica a ele.

Sítio Canaã 2: Notar decoração mista, engobo vermelho e decoração plástica.

Sítio Parauapebas 33: exemplar com decoração mista, uma combinação entre pintura e plástica.

Sítio Onça Puma 4: decoração modelada e incisa, como as representações figurativas, foram classificadas como Borda Incisa

Sítio Parauapebas 31: notar decoração pintada em vermelho no lábio do recipiente e decoração plástica logo abaixo. Relacionada à tradição Tupiguarani

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Sítio Ourilândia 8; representação zoomorfa, comum entre o material da tradição Borda Incisa neste contexto.

Sítio Onça Puma 4: duas representações zoomorfas, possível peixe de uma mesma vasilha, são as alças de uma vasilha (esquerda), e detalhe (direita).

Sítio Ourilândia 3: Notar a forma da representação, sugerida por boca, olhos, cabeça e orelhas.

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Sítio Ourilândia 1: Outra representação zoomorfa, semelhante ao peixe, em outro sítio. Mostra relação em um espaço maior que a aldeia.

Figura 27: Distribuição do material no sítio arqueológico

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A resolução da problemática das duas tradições ocorrendo na mesma área esbarra na falta de dados cronológicos consistentes. Infelizmente, as cronologias realizadas para um sítio Borda Incisa (OU2) e para dois sítios com as duas tradições (OP3 e OU12) não foram suficientes para determinar se os dois grupos habitaram a região ao mesmo tempo ou um chegou a momento anterior ao outro e se a relação entre eles existiu. Até o momento, foram feitas 17 datações para quatro sítios, sendo quatro pela técnica de TL e as demais por C14. Infelizmente, as amostras para datação dependem das condições do sítio arqueológico e nem sempre as amostras desejadas são obtidas. É neste contexto que se encontra a problematização da cerâmica não Tupiguarani. A questão poderia começar a ser debatida se os sítios com cerâmica exclusivamente não Tupiguarani apresentassem uma consistência. O sítio OU11, por exemplo, não possui elementos suficientes para caracterizar nenhuma das tradições, mesmo com algumas características da tradição Borda Incisa. O sítio OU2, também Borda Incisa possui três datações, por duas técnicas distintas. Infelizmente, o resultado das amostras é problemático. A amostra de TL foi realizada no mesmo nível de uma amostra de C14 e mesma unidade de escavação, mas existe uma diferença de 260

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a 300 anos. É um período bastante longo e só poderia ser resultado de uma extensa ocupação, ou de reocupações, mas a evidência cerâmica não é compatível com nenhuma das hipóteses. A quantidade de material é pouca para a extensão temporal e o solo possui pouca alteração antrópica. A terceira datação, situada em período muito mais antigo, com uma diferença temporal de mais de 800 anos, está três níveis acima das outras amostras, mas em uma unidade de escavação diferente. Essa diferença das datações caracteriza uma inversão. A data mais recente está no nível mais profundo e a mais antiga no nível mais próximo à superfície. Assim, apesar de existir um conjunto de datações, não é possível chegar a uma conclusão sobre qual amostra é válida para este sítio. As outras datações pertencem a dois sítios mistos: OU12 e OP3. O sítio OU12 tem o mesmo padrão de distribuição de material descrito para o sítio OU1, enquanto o sítio OP3 apresenta as duas tradições “misturadas”, ou seja, ocorrem no mesmo local do sítio arqueológico. O caso do sítio OP3 é o mais complexo. Existe um conjunto de resultados entre 760 e 1250 a.D., e um resultado isolado, datado em 4150 a.C. Entre as análises existe uma diferença de aproximadamente 5000 anos. Neste caso, é importante observar que existem duas amostras datadas que pertencem ao nível 50-60 cm, mas em

duas sondagens distintas. Uma delas corresponde à datação mais antiga e a outra está entre as mais recentes. Portanto, existe um lapso temporal muito dilatado e uma datação com tamanha antiguidade colocaria o sítio entre as ocupações ceramistas mais antigas da Amazônia. Entre as quatro amostras datadas do sítio OU12, também existe um resultado bastante antigo. Neste sítio foi identificada uma área com material Tupiguarani e outra Borda Incisa. A amostra antiga foi retirada da base de uma sondagem da área Borda Incisa. O resultado de 4150 AC foi semelhante ao identificado no sítio OP3. As amostras associadas com a cerâmica Tupiguarani são bem mais recentes. A questão da ocorrência da cerâmica Borda Incisa não foi resolvida com as datações realizadas até o momento. O conjunto de amostras demonstra resultado inconsistente, ora muito antigo, ora mais recente. Os resultados mais antigos foram, a princípio, descartados pela falta de dados que corroborem com o modelo de ocupação bastante antiga do sudeste do Pará. Se estes horticultores ceramistas, principalmente no caso do sítio OU12, estariam associados à cerâmica Borda Incisa, habitaram a região durante mais de 4000 anos, deveria haver maior quantidade de sítios e de cerâmica do tipo na área, mas a

predominância é do material Tupiguarani, em número de sítios e quantidade de cerâmica também. As datações possuem diversas inversões, com níveis datados de período mais antigo, em nível superior, e níveis mais profundos com datações mais recentes. É necessário o prosseguimento dos estudos para que essa questão possa ser resolvida. O quadro cronológico da Tradição Tupiguarani, a princípio, é mais simples. Existem cronologias de dois sítios mistos. As datações do sítio OP3 podem estar associadas tanto com o material Tupiguarani quanto com o material Borda Incisa e não há uma correspondência entre a profundidade das amostras e o resultado da cronologia. As amostras do sítio Ou12 correspondem à área de material da Tradição Tupiguarani. Mesmo que as datações tenham sido realizadas a partir do carvão de três sondagens distintas, existe coerência entre a profundidade e as cronologias. A amostra mais antiga data de 760 a.D. e provém do nível mais profundo da escavação. Em um nível intermediário (30-40 cm), o resultado foi de 800 a.D., e no nível mais recente, 960 a.D. O intervalo temporal no qual o sítio arqueológico abrange é entre 260 e 140 anos, aproximadamente. A cronologia Tupiguarani não apresenta os mesmos questionamentos da

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cronologia Borda Incisa. As datas do sítio OU12 são mais recentes que as datas mais antigas da Fase Itacaiúnas. Em comparação com o quadro cronológico regional, as datas estão em um período intermediário. A Fase Itacaiúnas tem a datação mais antiga, 1670 A.P. As cronologias mais recentes são pós-contato, no século XVI e XVII. O período do sítio OU12 está entre essas datas, em um momento que a tradição Tupiguarani atinge sua maior popularidade na região, ou pelo menos a maior quantidade de datações. Mesmo sem ter a questão da relação entre as tradições Tupiguarani e Borda Incisa resolvida é possível caracterizar os dois grupos como elementos distintos. O elemento Tupi é conhecido historicamente na região e foi relatado pelos primeiros viajantes e missionários que cruzaram os rios Tocantins e Araguaia. Essas tribos Tupi foram os principais alvos das missões Jesuítas e milhares de índios foram convencidos a deixar seu local de origem rumo aos aldeamentos, no baixo curso do rio, próximos a Belém. Os relatos históricos são corroborados pelas evidências arqueológicas. A primeira missão jesuítica data do ano de 1636. Existem apenas duas datações de sítios arqueológicos posteriores a esse período de sítios do Pará (PEREIRA et. al, 2008, FIGUEIREDO, 1965). Nesses relatos também existem evidências de etnias

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não Tupi, possivelmente de origem Awarak, que poderiam estar associados ao material Borda Incisa da região. A violência do processo de declínio populacional é facilmente percebida na análise arqueológica. A ocupação da região pelos grupos ceramistas ocorreu em aproximadamente 2000 anos, conforme as datas já apresentadas. A quantidade de sítios e a densidade dos mesmos são evidências das narrativas históricas que apontam uma grande densidade populacional indígena do Sudeste do Pará na época dos primeiros contatos. Para o século XIV existem sete datações, para o XV são seis, para o XVI são seis e no XVII dois. É possível perceber certa estabilidade na quantidade de datas ao longo dos últimos séculos, que acabam de maneira abrupta no período que as missões foram iniciadas.

Conclusões A bacia amazônica, principalmente no território brasileiro, tem sido alvo de um grande número de empreendimentos de engenharia de grande porte, como a construção de barragens, linhas de transmissão de energia elétrica, minerações, entre outros. Todas essas obras exigem o estudo arqueológico da área que será impactada, conforme exige a legislação ambiental em vigor.

O desenvolvimento dos estudos arqueológicos no Sudeste do Pará está diretamente relacionado ao licenciamento ambiental, praticamente desde o seu início, com os projetos da barragem de Tucuruí e da mineração em Carajás. O projeto de arqueologia da Mineração Onça Puma – Vale está dentro deste contexto. Os estudos arqueológicos revelaram um contexto de ocupação regional complexo e colocaram a área de estudo no mapa da arqueologia brasileira. A partir dos resultados obtidos, foi possível rever a classificação do material de todo o Sudeste do Pará e caracterizar o tipo de ocupação de terra firme entre as bacias do Xingu e Tocantins-Araguaia.

O resultado tem importância tanto na esfera regional quanto em uma esfera mais ampla, da Amazônia como um todo. Regionalmente, foi importante para a caracterização do quadro local, com a descoberta de dezenas de novos sítios e a classificação do material, resultados inéditos. Também foi possível rever o material de todo o Sudeste do Pará e reclassificá-lo de acordo com as novas descobertas. Na esfera mais ampla, foi possível relacionar as descobertas locais com as de outras áreas da Amazônia. As influências da tradição Borda Incisa, por exemplo, podem estar associadas com grupos vindos da bacia do Orinoco, na Venezuela.

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Capítulo 5 Sugestões de Atividades para o Contexto Escolar

C

om este livro objetivamos introduzir conceitos ligados ao patrimônio arqueológico e condensar as informações sobre a grande história do sudeste do Pará. Principiando no capítulo 1 com a apresentação os processos coloniais na região, debatendo sobre as ações da Coroa Portuguesa, das Missões Religiosas e as implicações para a vida dos indígenas que ali estavam. No capítulo 2 tratamos a formação do povo brasileiro no sudeste do Pará, debatendo as frentes de expansão e os movimentos de migração. No capítulo 3 apresentamos um breve histórico da formação de alguns dos municípios da região, como Xinguara, Tucumã, Ourilândia do Norte, São Félix do Xingu e Água Azul do Norte. No capítulo 4 apresentamos tanto o histórico de pesquisas quanto os resultados obtidos com a pesquisa para o projeto “Arqueologia Preventiva na área de Intervenção das Operações de Níquel Onça Puma e Linha de Transmissão Associada, Sudeste

do Pará” para o empreendimento da Vale. O interesse do capítulo 5 foi em apresentar propostas pedagógicas para que os educadores tenham apoio no momento de aplicar os conteúdos com seus alunos. As atividades que aqui propomos, podem e devem ser alteradas para melhor atender às necessidades de cada grupo de professores e estudantes, bem como ao conteúdo programático ministrado. Propositadamente, nas atividades não recomendamos aplicação a determinadas faixas etárias, pois cada educadora e/ou educador poderá adaptar a atividade para a sua área de atuação. Aplicamos estas atividades com diferentes grupos, modificando a maneira de abordar o tema e as questões provocadoras.

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Inserção do tema patrimônio cultural no cotidiano escolar As atividades que compõem este primeiro item são algumas possibilidades para o educador e a educadora inserirem as discussões sobre o patrimônio cultural aos seus estudantes.

Estas atividades foram executadas durante o “Programa de Educação Patrimonial do Projeto de Arqueologia Preventiva na área de Intervenção das Operações de Níquel Onça Puma e Linha de Transmissão Associada, Sudeste do Pará”7 que ocorreram nos municípios afetados.

7 Fonte: Arqueologia Preventiva na Área de Intervenção da Mineração Onça Puma e Linha de Transmissão associada, Sudeste do Pará. Programa de Educação Patrimonial. Relatório final 2007/2008/2009. Belém, Scientia Consultoria Científica, 2009. Textos e atividades adaptados.

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1: RECONHECIMENTO DE UM OBJETO Objetivo: estimular de forma lúdica e divertida, a criatividade dos alunos na percepção do trabalho do arqueólogo, na compreensão da cultura das diversas sociedades. Componente Curricular: História e Língua Portuguesa. Na sociedade atual, o ser humano produz uma diversidade de objetos, que podem ser de fácil ou difícil decomposição. Conforme vimos anteriormente, o arqueólogo estuda as sociedades a partir dos objetos por elas produzidos e que resistiram ao tempo. Sendo assim, imagine-se um arqueólogo do futuro, daqui há muito tempo, tentando entender a sociedade atual. 1º- Observe os objetos: caneta, panela de barro, vestido, fruta, pote de madeira, computador. 2º- Entre os objetos apresentados, quais durariam num futuro distante? 3º- Escolha um dos objetos e aprenda a fazer um pouco do trabalho do arqueólogo: descreva o objeto por meio da aplicação da ficha:

Ficha de identificação do objeto Aspectos principais a observar

Responda as seguintes questões: O que é este objeto? Qual a sua cor?

Aspectos físicos: O que parece ser este objeto?

De que material é feito? Qual a sua textura? (é liso? é áspero?...) O material é um produto da natureza ou do trabalho do ser humano?

Construção: Como foi feito?

Foi feito à mão ou à máquina? Com o uso de molde ou modelado à mão?

Função:

Como foi ou é usado?

Para que foi feito?

Quais pessoas utilizam ou utilizaram este objeto?

Valor:

Para as pessoas que o usam (ou usaram)?

Qual o valor (a importância) deste objeto?

Para suas famílias?

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2: MUSEU DA FAMÍLIA Objetivo: mostrar a importância de se preservar referências de uma sociedade em museus. Componente curricular: História e Artes. Se você fosse fazer um museu contando a história de sua família, quais objetos você escolheria? Desenhe os objetos e escreva a história de cada um deles. Monte a exposição com os desenhos e textos.

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3: UMA DESCRIÇÃO DO XINGU NO SÉCULO XVII Objetivos: refletir sobre os impactos causados na natureza pela ação humana; conhecer a visão de um padre jesuíta que esteve no Brasil durante o século XVII. Componente curricular: Geografia, História e Língua Portuguesa.

Leia atentamente o texto abaixo. “As primeiras terras que seguem para riba da Capitania do Gurupá para banda do sul, são as do bello rio do Xingu, que os índios também chamam Paranayba. Nestas esteve sempre residência nossa até o prezente; são as terras boas pra tudo se não houvesse a praga das formigas, e sem embargo disso, são ricas para tabaco. Seus ares são sadios, suas águas até as do mesmo rio excellentes, por descerem por cachoeiras e áreas, assim da banda do Tacoanhapes, como da banda do Jurunas, não falta caça e mel em seus mattos, nem peixe em seus rios, além de boas tartarugas em seu tempo; (...)” . Fonte: Padre João Felipe Bettendorf8. Crônica dos padres da companhia de Jesus no Estado do Maranhão. 2ª ed. Belém: Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves; Secretaria de Estado da Cultura, 1990, 697 p. Pesquise sobre a paisagem da atual região que contém os municípios de Gurupá e Porto de Moz. Compare com a descrição do padre Bettendorf. Aponte diferenças entre a descrição da paisagem presente no texto e sua observação no dia de hoje.

8 O padre João Felipe Bettendorf (nascido em Luxemburgo, em 1625; falecido em Belém/PA em 1698, aos 73 anos de idade) graduou-se em Direito Civil e Artes na Itália e, aos 22 anos, ingressou na Companhia de Jesus. Poliglota e detentor de vasta cultura, foi também pintor e poeta. A convite do padre Antônio Vieira, veio ao Brasil como missionário, em 1661; atuou nos arredores de Belém, fundou a missão na aldeia dos Tapajós – aldeamento que deu origem à cidade de Santarém; foi Superior das Missões entre 1669 e 1674, e entre 1690 e 1693 (www.santarem.pa.gov.br).

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4: MEMÓRIAS DE FAMÍLIA Objetivo: estimular a investigação científica e mostrar a importância da memória oral como fonte de pesquisa. Componente curricular: História. 1° Procure na sua casa um objeto antigo. 2° Entreviste alguém da sua casa e descubra: a história desse objeto, a quem ele pertenceu ou pertence, do que é feito e qual a importância desse objeto na sua família. 3° Traga este objeto para a sala de aula e conte a todos sobre sua pesquisa.

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5: MEU PATRIMÔNIO Objetivo: identificar a apreensão da noção de patrimônio familiar. Componente curricular: História e Artes. Desde quando nascemos é com nossa família que aprendemos sobre o lugar em que vivemos, sobre os comportamentos aceitos em nossa comunidade, sobre nossa alimentação, entre outras coisas. As pessoas mais velhas de nossa família têm muitas coisas a nos ensinar. 1º. Desenhe as pessoas com quem você mora, ou seja, a sua família. Escreva os nomes delas.

2º Desenhe e pinte objetos que você reconhece como muito importantes na sua família e que você gostaria de manter.

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6: O TUPI QUE FALAMOS Objetivo: reconhecer as palavras de origem Tupi usadas no dia a dia. Componente curricular: Língua Portuguesa, História, Ciências e Geografia. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, muitas línguas eram faladas pelos povos indígenas que aqui habitavam. Com o passar dos anos, muitas palavras dessas línguas foram integradas à língua portuguesa. Atualmente, usamos o vocabulário indígena sem perceber, como por exemplo, utilizando o vocabulário do povo Tupi, que chegou a ocupar a região onde estamos. Agora, vamos ler o texto abaixo. As palavras em vermelho são de origem tupi; sublinhe as que você conhece.

O Tupi que você fala Autor: Cláudio Fragata Você sabe falar tupi? Pois acho que sabe E eu provo aqui. Você entende Quando dizem guri, Jabuticaba ou jabuti? Sabe que bicho é Quando falam sagui, Tamanduá ou siri? E jiboia, jacaré, Capivara, arara, urubu, Tucano, paca ou tatu? Sabe que fruta é Se falam caju, guaraná, Pitanga ou maracujá? Sabe o significado Da palavra abacaxi? Então, isso é tupi. Também é tupi Samambaia, mandioca, Sabiá e paçoca.

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E piranha, Taquara, perereca, Taturana e peteca. Você entende Quando falam pororoca Ou faz cara de boboca? Se falam saci Você sente um arrepio E procura um desvio? Viu como você Entende tudo, sim senhor, Sem precisar de tradutor? Você já falava tupi E nem percebia Mesmo falando todo dia. Comendo pipoca Ou amendoim Você é um pouco curumim.

2. Além da língua, recebemos outras heranças dos povos indígenas. Escreva os nomes de algumas delas no quadro a seguir. Na alimentação

Utensílios

Formas de morar

Nomes de lugares

7: ARQUEOLOGIA LÓGICA Objetivos: estimular o conhecimento do aluno no uso da geometria e cálculo de áreas bem como sua aplicação no cotidiano. Componente curricular: Matemática. 1- Observe as figuras 1 e 2. Elas mostram uma forma de escavação arqueológica* chamada de Superfície Ampliada. Nesta escavação, o arqueólogo optou por escavar a área alternadamente formando um “xadrez” arqueológico. Considerando que a escavação é constituída por quadrados de 1 metro de lado: A) Calcule a área total escavada. B) Qual a fração que representa o número de quadrados não escavados? C) Qual o perímetro da escavação inteira?

Figura 1: Vista da área de escavação - Setor 1, Sítio Ourilândia 2 (Scientia, 2008).

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Figura 2: Vista da área de escavação do Setor 1. Sítio Ourilândia 2 (Scientia, 2007).

Lembre-se: *Escavação Arqueológica é um dos métodos de pesquisa utilizados pelo arqueólogo para recuperar os vestígios do passado (fragmentos cerâmicos, partes de construções, pontas de flecha etc.). Antes da intervenção, o sítio arqueológico é medido detalhadamente, dividido em quadros; depois, escolhe-se cada quadro a ser escavado; todos os procedimentos são registrados por fotos, filmagens e desenhos. Todo material encontrado deve ser identificado, registrado com desenho e fotografia e depois embalado para ir a laboratório. Ao final dos trabalhos de escavação, o buraco é coberto por uma lona e sobre esta se joga a terra de volta – assim, os futuros arqueólogos saberão que ali já foi escavado. Esse local recebe uma placa de identificação, que deve ficar em local bem visível.

Medição do sítio, para verificação dos limites e extensão da malha de quadros.

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Registro da escavação, dos vestígios e de tudo que se possa observar no solo e no perfil.

Registro da escavação, dos vestígios e de tudo que se possa observar no solo e no perfil.

Responda: 1) O que o arqueólogo está fazendo?

2) Que tipo de vestígio foi encontrado? De que material é feito? Qual teria sido sua função?

Escavação no sítio arqueológico Ourilândia 3 (SCIENTIA, 2007).

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8: A ARQUEOLOGIA QUE EU VEJO Objetivos: conhecer a percepção artística e representativa do aluno. Mostrar as possibilidades da decoração indígena no cotidiano. Componente curricular: Artes. A seguir, a figura 1 mostra uma vasilha cerâmica Proto-Guarani (isto é, dos antepassados dos atuais indígenas Guarani) decorada com fundo pintado de branco e linhas vermelhas que formam triângulos. O desenho da pintura está reproduzido na figura 2.

Figura 1. Vasilha cerâmica com decoração pintada.

Figura 2. Motivos da pintura (Fonte: PROUS, 2007).

A figura 3 mostra fragmentos arqueológicos com decoração incisa* usada para enfeitar alguns potes cerâmicos de povos do passado. *Incisa: tipo de decoração cerâmica que consiste em fazer marcas com instrumentos variados na superfície da cerâmica, antes da queima. As incisões variam em comprimento, largura e profundidade, podendo ser regulares ou irregulares, isto é, mais finas, mais largas etc. (Fonte: MENDONÇA, 1997).

Figura 3. Fragmentos de vasilhas cerâmicas com decoração incisa (Fonte: ALMEIDA, 2008).

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1- Desenhe no pote abaixo utilizando os exemplos de decoração incisa no pote representado a seguir.

2- Agora, crie um tipo de decoração pintada; com ela, decore o pote representado abaixo.

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9: PINDORAMA Objetivos: ativar no aluno a observação, atenção, concentração e descrição de atividades. Componente curricular: Língua Portuguesa, História, Geografia e Artes. Cante a música Pindorama, junto com o grupo Palavra Cantada - Sandra Peres e Luís Tatit. Depois, leia com atenção a letra da música. Busque, no dicionário, o significado das palavras desconhecidas. Caso seja possível, veja o clipe animado do Palavra Cantada no site: http://www.youtube.com/watch?v=DrVJCRT0H4Q Terra à vista! Pindorama, Pindorama É o Brasil antes de Cabral Pindorama, Pindorama É tão longe de Portugal Fica além, muito além Do encontro do mar com o céu Fica além, muito além Dos domínios de Dom Manuel Vera Cruz, Vera Cruz Quem achou foi Portugal Vera Cruz, Vera Cruz Atrás do monte Pascoal Bem ali Cabral viu Dia 22 de abril Não só viu, descobriu Toda terra do Brasil. Pindorama, Pindorama Mas os índios já estavam aqui Pindorama, Pindorama Já falavam tupi-tupi Só depois, vem vocês Que falavam tupi-português Só depois com vocês Nossa vida mudou de vez Pero Vaz, Pero Vaz Disse em uma carta ao rei Que num altar, sob a cruz Rezou missa o nosso frei Mas depois seu Cabral Foi saindo devagar Do país tropical Para as Índias encontrar

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Para as Índias, para as Índias Mas as índias já estavam aqui Avisamos: “olha as índias!” Mas Cabral não entende tupi Se mudou para o mar Ver as Índias em outro lugar Deu chabu, deu azar Muitas naus não puderam voltar Mas, enfim, desconfio Não foi nada ocasional Que Cabral, num desvio Viu a terra e disse: “uau!” Não foi nau, foi navio Foi um plano imperial Pra aportar seu navio Num país monumental Ao Álvares Cabral Ao El Rei Dom Manuel Ao índio do Brasil E ainda a quem me ouviu Vou dizer, descobri O Brasil ‘ta inteirinho na voz Quem quiser vai ouvir Pindorama ‘ta dentro de nós Ao Álvares Cabral Ao El Rei Dom Manuel Ao índio do Brasil E ainda a quem me ouviu Vou dizer, vem ouvir É um país muito sutil Quem quiser descobrir Só depois do ano 2000

Agora, junte sua equipe e com ajuda das professoras ou dos professores, escreva: o significado da palavra Pindorama; b) o significado das palavras Índias e índias, no texto. Sugerimos a leitura e o exame das imagens do livro “Pindorama, Terra das Palmeiras” de autoria de Marilda Castanha, Editora Cosac-Naify, 2000.

10: A LOUÇA QUEBRADA

Objetivos: iniciar o aluno na compreensão da evidência cultural e nos diferentes modos de analisá-la, buscando a percepção do processo de reconstituição do passado por meio dos vestígios observados no presente. A experiência pode ser usada como preparação para o estudo de qualquer evidência, de objetos de museus a monumentos em ruínas ou sítios históricos e arqueológicos. Componente curricular: Artes, Língua Portuguesa e História. Etapas: Apresente aos alunos um objeto qualquer de cerâmica ou louça comum (xícara, prato, bule, pote, caneca etc.), previamente quebrado em pequenos pedaços, dentro de um saco plástico transparente. Peça aos alunos para identificar o que é este objeto. A resposta nem sempre será óbvia. Faça perguntas que levem à observação do material empregado, vestígios de decoração e a forma dos fragmentos.

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Escolha um dos fragmentos que permita uma fácil identificação (a alça, por exemplo). Faça perguntas que levem a uma interpretação deste fragmento de evidência. Nem sempre você pode ter certeza de como era o objeto original. A borda de uma caneca, ou de um pote, podem ser semelhantes. Repita o exercício com os demais fragmentos. Os alunos podem desenhá-los para tentar montar o quebra-cabeça, ou tentar reconstituir o objeto juntando os próprios fragmentos (desde que não haja risco de acidentes).

11: O ARQUEÓLOGO DO FUTURO

Objetivos: iniciar o aluno na compreensão da evidência cultural e nos diferentes modos de analisá-la, buscando a percepção do processo de reconstituição do passado por meio dos vestígios observados no presente. Conhecimento de variedade de matérias-primas e de materiais, e de sua durabilidade em relação à ação do tempo. Componente curricular: Ciências e História. Material necessário: sacos plásticos; luvas descartáveis; texto Cavucando o lixo; Quadros Quanto tempo leva para que o lixo se decomponha? e Materiais mais frequentes nos sítios arqueológicos. Etapas: Os alunos podem imaginar que são arqueólogos do ano 3000. A sala de aula ou o jardim da escola podem ser sítios arqueológicos, que serão explorados para descobrir pistas sobre a vida no início do século XXI. Em sala de aula, trabalhar o texto Cavucando o lixo e os Quadros Quanto tempo leva para que o lixo se decomponha? e Materiais mais frequentes nos sítios arqueológicos.

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Organizar grupos de alunos. Cada grupo deve receber um saco plástico, luvas descartáveis suficientes para todos os membros e uma ficha para análise de objetos. Cada grupo de alunos deve recolher, no saco plástico, alguns artefatos ou coisas que foram para o lixo seco, na sala ou no pátio da escola. Cada aluno, em cada grupo, descreve em uma ficha um objeto encontrado. Quando todos os objetos estiverem descritos, o grupo pode discutir a função de cada um, as várias hipóteses de uso, como se não soubessem como era a vida em nossa época. Cada grupo apresentará aos demais suas hipóteses sobre o material encontrado. No final da atividade, fazer um painel, em classe, com todas as informações obtidas a partir da análise do material recolhido, discutindo ainda tudo o que não está representado por esse material, o que está faltando, ou o que fica pouco claro, a partir dessas evidências. Este exercício, que pode ser bem divertido e lúdico, estimulando a criatividade dos alunos, também os fará perceber as limitações da Arqueologia, na descoberta dos mundos passados.

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Cavucando o lixo (Adaptação da matéria de Flávia Ribeiro e Fábio Varsano. Revista Superinteressante, Edição Verde - 12/2008) Segundo o Dicionário Houaiss, arqueologia é a “ciência que, utilizando processos como coleta e escavação, estuda costumes e culturas dos povos antigos através do material (fósseis, artefatos, monumentos etc.) que restou da vida desses povos”. Um pequeno grupo de pesquisadores, com as mesmas técnicas científicas, procurou desvendar o comportamento de uma comunidade atual analisando os restos por ela descartados: eles fuçaram latas de lixo e se embrenharam em grandes aterros. Ao assim proceder, criaram um ramo da arqueologia, em inglês denominado garbology (garbage, “lixo”+ archeology, “arqueologia”). Essa especialidade desenvolveu-se a partir de 1973, quando o norte-americano William L. Rathje, estudioso da Pré-História, fundou o Garbage Project, ou Projeto do Lixo, na Universidade do Arizona. “A história de nossa civilização é contada a partir de potes e panelas quebradas. Tudo o que sabemos vem do que os antigos jogavam fora”, diz Rathje, que criou o projeto após assistir, na TV, entrevista de um catador de latas da cidade de Kenwood (Califórnia), que era também um cronista do estilo de vida, desperdício e reciclagem na vizinhança onde trabalhava. Rathje e seus alunos coletaram objetos em latas de lixo domésticas que, classificados, permitiram analisar hábitos alimentares e de consumo. A partir de 1987, com uma equipe multidisciplinar que incluiu microbiólogos, químicos, engenheiros e antropólogos, Rathje enfrentou um desafio maior e mais malcheiroso: mergulhar nos lixões das grandes cidades: em 12 anos, foram escavadas, separadas, classificadas e analisadas mais de 30 toneladas de dejetos de 15 aterros dos EUA, Canadá e México. As conclusões das etapas dos estudos encontram-se no livro Rubbish: The Archeology of Garbage (“Refugo: A Arqueologia do Lixo”). Exemplos das informações obtidas: 15% da comida comprada acabava no lixo, desperdício nem sempre percebido pelas próprias famílias. Fraldas e recipientes térmicos de cadeias de fast food representaram, juntos, menos de 2% do lixo acumulado nos aterros – assim, as mães não precisam se sentir culpadas por cobrir os bumbuns de seus bebês com fraldas descartáveis; essas peças demoram para se degradar, mas não são as responsáveis por entupir os depósitos, e não é preciso retornar às velhas fraldas de pano, cujo processo de lavagem desperdiça bastante água. As sacolas plásticas ocupavam um espaço 80% menor do que os de papel; e os papéis representavam mais de 40% do total do lixo. Tais descobertas ajudaram a orientar campanhas de reciclagem. O engenheiro e arqueólogo André Wagner Oliani Andrade, pioneiro na arqueologia do lixo no Brasil, pesquisou o aterro desativado de Volta Fria (Mogi das Cruzes, SP) durante três anos. Disse que, dependendo das condições de umidade, temperatura e iluminação de determinado ponto da montanha de lixo, materiais orgânicos não se degradam rapidamente. Exemplos dos achados: enterrado a 6 metros de profundidade, um pedaço de bisteca, de pelo menos 5 anos antes, com cheiro, cor e textura preservados, se decompôs rapidamente quando chegou ao laboratório. Analisados os grupos de alimentos mais comuns no aterro, apareceram dados importantes sobre os hábitos e a saúde dos moradores: em 1º lugar, ficaram os açúcares (chocolate, bala, refrigerante), com 27% do total, seguidos dos produtos de panificação (pão, bolo, biscoito), com 21%, e dos lácteos (leite, queijo, iogurte), com 14%. E, em uma classificação mais detalhada, o item que apresentou maior incidência foi de refrigerantes, com 3,3% do total. Dos 14 693 itens coletados e identificados por Andrade e sua equipe de 45 pessoas, 61,5% eram plásticos, que costumam demorar dezenas de anos para se degradar, mas que em alguns casos apareceram bastante deteriorados. Papel, só representou 8% do universo pesquisado em Mogi.

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Quanto tempo leva para que o lixo se decomponha? (Fonte: www.cincoerres wordpress.com.bmp )

Materiais mais frequentes nos sítios arqueológicos

louças

tijolos

conchas

rochas

metais

madeiras

carvão

cerâmicas e ossos

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12: CADERNO DE ATIVIDADES PARA ALUNOS E SEUS FAMILIARES AS MINHAS HISTÓRIAS

Quem sou eu? Meu nome é: ............................................................................................................................................ Nasci no dia................. de...................................... de............................, em.......................................... Tenho ............... anos. Meu apelido é............................................................................................................................................ A brincadeira de que mais gosto é.......................................................................................................... Minha comida preferida é......................................................................................................................... Estou cursando o.................ano, na escola.............................................................................................. Gosto de estudar....................................................................................................................................... Moro com................................................................................................................................................... Em minha comunidade gosto de..............................................................................................................

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Minhas brincadeiras preferidas Com seus familiares, leia a letra da música Bola de meia, bola de gude, de Milton Nascimento. Há um menino

Não quero viver

Há um moleque

Como toda essa gente

Morando sempre no meu coração

Insiste em viver

Toda vez que o adulto balança

E não posso aceitar sossegado

Ele vem para me dar a mão

Qualquer sacanagem

Há um passado no meu presente

Ser coisa normal.

Um sol bem quente lá no meu quintal

Bola de meia, bola de gude,

Toda vez que a bruxa me assombra

O solidário não quer solidão

O menino me dá a mão

Toda vez que a tristeza me alcança

E me fala de coisas bonitas

O menino me dá a mão

Que eu acredito

Há um menino

Que não deixarão de existir

Há um moleque

Amizade, palavra, respeito,

Morando sempre no meu coração

Caráter, bondade, alegria e amor

Toda vez que o adulto fraqueja

Pois não posso

Ele vem pra me dar a mão.

Não devo

O poema de Milton Nascimento mostra a criança que existe em cada adulto. E, também, algumas brincadeiras das quais as crianças costumam gostar. E você, gosta de brincar de quê? Desenhe a brincadeira de que você mais gosta.

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O que vou ser quando crescer? Com seus familiares, leia o poema O menino que carregava água na peneira, de João de Barros.

Tenho um livro sobre águas e meninos.

Com o tempo descobriu que escrever seria

Gostei mais de um menino

O mesmo que carregar água na peneira.

Que carregava água na peneira. A mãe disse que carregar água na peneira

No escrever o menino viu

Era o mesmo que roubar um vento e sair

Que era capaz de ser

Correndo com ele para mostrar aos irmãos.

Noviça, monge ou mendigo Ao mesmo tempo.

A mãe disse que era o mesmo Que catar espinhos na água.

O menino aprendeu a usar as palavras.

O mesmo que criar peixes no bolso.

Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. E começou a fazer peraltagens.

O menino era ligado em despropósitos. Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.

Foi capaz de modificar nela. a tarde botando uma chuva O menino fazia prodígios.

A mãe reparou que o menino

Até fez uma pedra dar flor!

Gostava mais do vazio do que do cheio.

A mãe reparava o menino com ternura.

Falava que vazios são maiores E até infinitos.

A mãe falou: Meu filho, você vai ser poeta. Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Com o tempo aquele menino

Você vai encher os vazios com suas peraltagens

Que era cismado e esquisito

E algumas pessoas vão te amar

Porque gostava de carregar água na peneira

Por seus despropósitos.

O menino do poema de João de Barros descobriu que queria ser escritor quando crescesse. E você, o que quer ser quando crescer? Escreva e desenhe a seguir seu desejo.

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Eu tenho um sonho Todos os seres humanos têm um sonho especial, mas as crianças sempre conseguem sonhar mais e nunca colocam limites para seus desejos. Desenhe seu maior sonho.

Minha família Quando nascemos é com nossa família que aprendemos sobre nós mesmos, os outros, o lugar em que vivemos, os comportamentos aceitos em nossa comunidade, nossa alimentação, e tudo o mais. As pessoas mais velhas de nossa família, porque viveram mais têm muitas coisas a nos ensinar. Desenhe as pessoas com quem você mora, quer dizer, a sua família.

Um momento especial com minha família Descreva, com palavras ou com desenhos, algum fato ou algum momento importante que você viveu junto com sua família.

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Vídeo “A Fertilidade da Terra”

Atividade 1: Os ofícios do lugar

O filme “A Fertilidade da Terra” (2009) é parte constituinte do material de apoio fornecido a cada educador e educadora e pode ser utilizado como recurso no contexto escolar para abordar diferentes temas relacionados ao patrimônio cultural. O vídeo tem duração de cerca de trinta minutos, foi dirigido por Laiza Lemos e Mariana Sampaio (2009). Toda a filmagem foi realizada nos municípios atendidos e nela as histórias da comunidade ganham voz. A equipe acredita que é muito importante que os educadores utilizem o filme em sala, explorando as narrativas da comunidade, relacionando o patrimônio na teoria e na prática.

Objetivo: estimular o debate sobre os ofícios existentes no município, avaliando as mudanças e as permanências ocorridas ao longo do tempo, como o garimpo (rememore com o capítulo 2, para o contexto de formação).

Neste item apresentaremos sugestões de atividades a serem realizadas em contexto escolar, e para tanto a fonte de inspiração foram os cerca de 200 educadores que participaram conosco da Formação em Educação Patrimonial durante 2013 e 2014. É importante que as futuras gerações conheçam bem o sudeste do Pará através da saga vivida por gerações anteriores a nós que ocuparam este mesmo território, rico em histórias grandiosas em um cenário de ocupação bastante recuado no tempo, muito embora a formação dos municípios seja mais recente.

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Componente Curricular: História, Geografia, Estudos Amazônicos, Artes e Língua Portuguesa. Trecho do filme: 3’00“ a 7’30” Ao longo dos milênios muitos foram os ofícios desenvolvidos pelo ser humano, a importância de cada um foi diferente em cada época. Alguns eram populares no passado paleoíndio da humanidade e hoje existem em pontos isolados, como o ‘ofício’ de lascar pedras, que ainda existe, mas está restrito a poucas fontes de exploração mineral que exigem o lascamento manual da rocha. A olaria é também uma produção que existe há muitos milênios e hoje é utilizada em larga escala em nossa sociedade, em especial seus derivados como a porcelana. Muitos vaqueiros hoje no sudeste do Pará conduzem o gado com moto, o que é uma mudança possível em decorrência de múltiplos fatores: as estradas melhoraram, o poder aquisitivo aumentou, o preço da moto reduziu e as formas de pagamen-

to foram expandidas, dentre outros. É o mesmo ofício, mas houve mudanças ao longo do tempo. Resgate da memória o passado, como fizeram os educadores de Ourilândia do Norte, nos trechos transcritos abaixo e reflita sobre as profissões do passado. Ourilândia surgiu em um processo de colonização semelhante ao processo colonial, com a vinda de gente de muitas regiões. Os mesmos eram impedidos de atravessar para a cidade de Tucumã com uma corrente. Professora Diana Silva Borges. Diretora da C. M. E. I. José Cassiano, Ourilândia do Norte. O Sr. Mário Cândido, para conhecer suas terras na década de 1970, veio a cavalo, abrindo estrada com facão e foice. O mesmo levou dez dias para chegar na região. Autoria: Eliane Alves Silva Moura, professora da E. M. E. F. Pedro Domingos Cabral. Um dos lugares de diversão era o cinema, Cine Kelly, promovido pelo Senhor José Cândido. Autoria: Janacy Brito de Santana, professora da C. M. E. I. José Cassiano, Ourilândia do Norte. “As primeiras formas de transporte ocorreram com o uso de égua e as carroças só foram compradas quando saiu o empréstimo para os colonos. Exis-

tiam na região sumidores que engoliam animais inteiros”. Autoria: Coletivo da Oficina de Ourilândia do Norte. “Quando as estradas eram ruins, mais do que hoje, a população economizava nos produtos alimentícios e fazia fila para comprar determinados alimentos nos mercados. Os pais deixavam suas filhas na porta do mercado para conseguir fazer as compras”. Professor Welter de Jesus Silva, professor da E. M. E. I. F. José Cândido dos Santos, Ourilândia do Norte. Com o auxílio do filme (trecho selecionado) discuta com os estudantes sobre os ofícios conhecidos na localidade. Avaliem em conjunto as mudanças ocorridas no município, especialmente as mais recentes, para que eles possam se lembrar também. Faça-os refletir sobre o tempo passado, como seria o município, as construções, as necessidades do povo. Um bom foco é a Feira Municipal, que passou por muitas mudanças ao longo do tempo, com venda de cavalo em seu início e hoje com a venda de produtos artesanais e industrializados. Neste ponto, o educador pode compartilhar histórias conhecidas, mostrar fotos antigas ou convidar algum dos pioneiros da cidade para contar sobre o início do município.

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Divida os estudantes em grupos e peça que escolham algum ofício (garimpo, castanheiro, vaqueiro, benzedeira, parteira, professora, quebradeira de coco, costureira) para a pesquisa. Incentive-os a entender a profissão escolhida, conhecendo seus instrumentos, sua forma de trabalho, a importância do ofício, se é mais comum entre algum gênero e entender as causas. Peça para que cada grupo desenvolva um cartaz, com imagens e texto, para apresentar os resultados do trabalho realizado aos demais colegas de sala.

Atividade 2: O valor da história de cada um Objetivo: estimular o debate sobre a história familiar de cada um e os territórios envolvidos, tornando divertida a compreensão sobre a geografia e história dos grupos locais, em sua diversidade cultural (rememore com o capítulo 3). Componente Curricular: História, Geografia, Estudos Amazônicos, Artes e Língua Portuguesa. Trecho do filme: 7’33” a 11’36”

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1) Introduza o tema mostrando a diversidade cultural no sudeste do Pará através do trecho selecionado do vídeo. O educador pode contar sua própria história de vida para seus estudantes. Destaque alguns bens materiais, compartilhando com os estudantes sobre os objetos de memórias, carregados de valores e significados. Abaixo, algumas narrativas feitas pelas educadoras e educadores do Colégio Pitágoras de Ourilândia do Norte, fonte da inspiração desta atividade. “Tenho um urso de pelúcia que me acompanha desde meus três anos de idade: me remete a minha infância e a bons momentos dela. Tenho um quadro que simboliza a fé de minha família e pretendo que ele seja passado para meus netos, bisnetos (...)”. Professora Daniela Paula Balbino de Moraes, Colégio Pitágoras de Ourilândia do Norte. “Meus livros. Porque eles me ajudaram e ajudam a ser uma pessoa mais capaz de viver no mundo e em sociedade e família”. Professora Saadne Macêdo Alencar de Faria, Colégio Pitágoras de Ourilândia do Norte. Não se esqueça de destacar os lugares de interesse, apresentando a paisagem e os lugares que marcaram a vida, bem como as maneiras de registrar a memória, como a fotografia.

“Minha casa. Porque demorou dois anos pra ser construída e passei muita dificuldade para vê-la totalmente acabada”. Professora Jorckdean Rodrigues Vieira, Colégio Pitágoras de Ourilândia do Norte. “Fazenda, pois a mesma representa uma continuidade física ou emocional da união do grupo familiar pois são expressos nossos sonhos, estilos, modos e culturas“. Professora Ana Fábia Brito, Colégio Pitágoras de Ourilândia do Norte. “Álbum de fotografias, registro do passado das pessoas da família”. Professora Bartira Freitas Borges, Colégio Pitágoras e da rede pública de ensino de Ourilândia do Norte. 2) Em conjunto com os estudantes, faça um cartaz que localize cada um no mapa do Brasil com os limites políticos dos estados, de acordo com o local de nascimento. Para o registro é possível utilizar uma foto ou um desenho com nome. Abaixo, cartaz apresentado durante o 2º Módulo de Formação em Educação Patrimonial realizado no Colégio Pitágoras de Ourilândia do Norte.

Mapa apresentado durante o 2º Módulo de Formação de Educadores em Educação Patrimonial, no dia 24 de junho de 2014. Cartaz feito de cartolina, com desenho do Mapa Político do Brasil e as fotos dos estudantes. Foi produzido durante o Projeto Arqueologia realizado na instituição no primeiro semestre de 2014. Fonte de inspiração para esta atividade.

3) Solicite aos estudantes que busquem informações sobre as histórias de suas famílias através de entrevistas com os parentes mais velhos. Peça a eles, se possível, que lancem mão de diferentes formas de registro audiovisual existentes em telefones celulares: câmeras fotográficas, gravador de áudio e filmadora. É possível criar roteiros das perguntas, focalizando temas específicos. 4) Peça aos estudantes que apresentem os resultados da pesquisa realizada através de um texto escrito, ou mesmo de forma mais criativa, utilizando os recursos tecnológicos.

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5) Valorize cada narrativa através dos diferentes temas que irão florescer, os processos migratórios, patrimônios culturais, expressões artísticas e folclóricas, dentre outros. 6) Avalie em conjunto a diversidade regional, lugar de muitos “brasis”, mostrando que todos contribuíram para a formação do sudeste do Pará.

Atividade 3: Arqueologia, a história das pessoas através das coisas Objetivo: inserir o alunato na discussão sobre a arqueologia local (rememore o capítulo 4) tendo como ponto de vista a perspectiva indígena (rememore também o capítulo 1). Componente Curricular: História, Geografia, Estudos Amazônicos, Artes e Língua Portuguesa. Trecho do filme: 12’19” a 18’18” A arqueologia se relaciona ao entendimento do passado à diversidade socioeconômica e cultural, a história das pessoas, da humanidade (rememore o capítulo 4, em especial “Alguns conceitos arqueológicos”). Converse com os estudantes sobre as pesquisas arqueológicas na região, que

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começaram ainda na década de 1960 (rememore o capítulo 4, especialmente o “Contexto arqueológico regional e local”) e recentemente novos dados apresentados pelo presente estudo modificaram o panorama explicativo anterior. A arqueologia local indica um contexto diversificado de ocupação indígena antigo (capítulo 4), o mesmo ocorre quando observamos os dados etno-históricos (capítulo 1). Mostre aos estudantes a antiguidade dos achados, valorize os objetos descobertos e ajude-os a entender a importância destes achados. Assista com eles o trecho selecionado do vídeo, quando houve uma interessante descoberta, uma estrutura de enterramento; muito embora nenhum osso tenha sido encontrado dentro dela, sua disposição indica esta função. A área do sítio é na Estrada do Jeep, muito conhecida na região. As imagens mostram algumas etapas do trabalho em arqueologia e devem ser exploradas ao máximo. Seria ideal tratar o tema em equipe, incluindo diversas disciplinas. Em colaboração com outros educadores e o auxílio da pedagogia de projetos, organize formas de distribuir o tema do patrimônio arqueológico entre os componentes curriculares. Os educadores de Português podem apresentar textos de época e pedir para

transcreverem em português corrente, ao mesmo tempo interpretar a vida daquela época. Podem ainda mostrar a grande influência indígena em nossa vida com o uso cotidiano de palavras Tupi, como maracujá, abacaxi, pipoca, jabuticaba, piranha, Pará, Marajó (rememore a letra da música do Palavra Cantada no item anterior). Os educadores de Artes podem solicitar aos estudantes que produzam objetos cerâmicos indígenas (se realizado com antecedência poderiam ser utilizados, em combinação com os alunos, para a produção da caixa arqueológica (descrita no item 10 desta atividade), objetos esportivos (como a peteca) ou adornos (com miçangas e sementes). Os educadores de História podem apresentar aos estudantes a complexidade da ocupação humana do Sudeste, através da perspectiva indígena. Os educadores de Geografia podem tratar as Eras Geológicas e a mudança ambiental ao longo do tempo, bem como a estratigrafia do solo arqueológico. Os educadores de Ciências podem tratar os alimentos consumidos no período pretérito, bem como a flora e a fauna existente. Os educadores de Química e Física podem tratar os processos de datação, bem como as mudanças físico-químicas

no solo, depois da ocupação humana. Os educadores de Matemática pode calcular a área de ocupação do sítio arqueológico, bem como o tamanho dos objetos inteiros, através de seus fragmentos (geometria). Depois de apresentado o tema, em cada uma das disciplinas, monte em conjunto caixas (pode ser de madeira) de aproximadamente 1,50 x 50 m e altura de no mínimo 20 cm e no máximo 40 cm. Crie camadas com materiais diversos, como fragmentos cerâmicos adquiridos através de artesanato local, sementes carbonizadas (para simular a alimentação e uma amostra para C14), pedras para simular machados, martelos, batedores, dentre outros, para representar a ocupação indígena. Crie uma camada com objetos que remetam ao período colonial, com louça/ porcelana, vidro (dependendo da idade e sempre enterrado com a porção cortante para o fundo da caixa), prego com ferrugem. Na camada mais superficial coloque objetos atuais, como garrafa pet, papel de bala, dentre outros, para representar a nossa ocupação contemporânea. Os objetos devem estar quebrados ou envelhecidos, para simular a ação do tempo; alterne fragmentos de materiais e areia. Caso seja possível, utilize areia de cor e espessura diferentes para algumas camadas.

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Realize, como culminância, a escavação da caixa arqueológica, previamente montada, e apresente na prática o trabalho em arqueologia. Como visto no trecho selecionado do filme, a escavação deve ser feita com cuidado, tudo deve ser coletado com cuidado, com auxílio de pá de pedreiro, pincéis e pazinhas para a coleta do solo. Cada objeto identificado deve ser deixado no solo, exposto, para ser fotografado em conjunto. Cada fragmento retirado deve ser guardado com uma etiqueta, com os seguintes dados: nome do sítio arqueológico, quadra (divida a área da caixa em um eixo cartesiano e nomeie cada espaço de forma alfanumérica, este será o nome da quadra), profundidade (em

centímetro, de acordo com a camada escavada), o tipo de material identificado e seu tamanho menor e maior, em centímetros, além da data e nome do responsável pela escavação. Cada educador irá se envolver de acordo com o tema tratado, a fim de colaborar com a formação global do estudante. Cada turma deve observar os objetos coletados, como um todo, para interpretar os achados, como um detetive do passado, qual a importância, significado para cada uma das populações identificadas. Ao final, os estudantes podem apresentar trabalhos escritos, sobre diferentes componentes curriculares.

Sítio Arqueológico na Escola Nome do sítio arqueológico: ................................................................................................ Quadra: .................................................................................................................................. Profundidade: ....................................................................................................................... Tipo de material: .................................................................................................................. Tamanho:............................................................................................................................... Data: ___/___/______ Responsável: .........................................................................................................................

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Atividade 4: Oficinas em Educação Patrimonial Objetivo: inserir os estudantes nas discussões sobre patrimônio local sejam culturais materiais, culturais imateriais ou naturais. Componente Curricular: História, Geografia, Estudos Amazônicos, Artes e Língua Portuguesa. Trecho do filme: 18’19” a 24’08” Assista o trecho selecionado com os estudantes e peça para que observem especialmente os objetos utilizados para expressar o patrimônio cultural. Depois do filme, debata com eles sobre o patrimônio local, de forma ampla, entendendo o que tem valor para eles, dentro da comunidade ou do bairro da escola. Observe o que disseram os educadores de Tucumã e busque inspiração sobre a sua cidade. “O nosso município (Tucumã) é rodeado por grandes e lindas serras que são marcantes para mim. Um dos nossos patrimônios culturais é a Capela São José Operário e o patrimônio cultural imaterial é a Sra. Edite Woobeto”. Elisandra Maria, Secretaria de Educação e Cultura de Tucumã.

“O rio Fresco. A capela São José Operário. Os relatos dos pioneiros sobre o critério de seleção das famílias para entrar no Projeto Tucumã”. Professor Paulo José Correa, E. M. E. I. F. Pró Mulher, Tucumã. “Patrimônio natural: a geografia local, como tipo de solo, vegetação, rochas existentes no nosso município. Patrimônio cultural material: são as casas antigas, como, por exemplo, a antiga igrejinha São José Operário. Como patrimônio cultural imaterial podemos citar a cultura de nosso povo como festas e tradições. Professora Neusa Maria de Oliveira Rotkoski, E. M. E. I. F. Samuel Nava, Tucumã. “Rio Tapajós: está aqui desde que começou a cidade e hoje não está preservado. As igrejas: elas contam a nossa história. As diversidades de comidas, especialmente gaúchas e maranhenses da região”. Professora Núbia Aires Cutrim dos Santos, U. E. E. I. Creche Deuza Rocha, Tucumã. Instrua-os para uma pesquisa sobre os patrimônios elencados por eles, através de livros, entrevistas e visita ao local (se possível). Peça aos estudantes que apresentem em um cartaz os resultados da pesquisa realizada. É possível focalizar em temas

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específicos, construções, festas, artesanato, dentre outros, e explorar a fundo cada um dos patrimônios locais.

Produção local: os planos de aula feitos pelos educadores do Sudeste do Pará Durante os trabalhos de educação patrimonial, os educadores foram envolvidos em uma formação que tem entre os objetivos a construção de planos de aula para que os educadores efetivamente utilizem o tema em suas salas de aula. A produção dos educadores foi primorosa, e será transcrita aqui.

Atividade 1: “O patrimônio cultural”

RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: projetor multimídia, imagens, pesquisas de campo e científica, cartazes, computador, aulas práticas. OBJETIVO GERAL: conhecer e identificar o patrimônio cultural da região. Preservar o patrimônio cultural da região. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: mediar o processo de ensino-aprendizagem e construção de conhecimento referente ao conteúdo do patrimônio cultural da região. METODOLOGIA: apresentação em projetor multimídia de vídeos dos patrimônios culturais da região. Pesquisas. Registros fotográficos, orais e escritos. Pesquisas de campo. Passeios. Exposições de trabalhos. Sarau. Mostra de artes.

Autores: Claudia Pacheco Souza, Elaine Caetano de Aquino, Eliane Bernardo de Oliveira Machado, Gilma D’arc da Paz Lopes, Maria Sandra Fernandes de Castro Bacelar, Marinês Colombelli Hornichk.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: a avaliação será no decorrer do processo por meio de observações e registro fotográfico e escrito.

Instituição de ensino: Colégio Pitágoras de Ourilândia do Norte.

Atividade 2: “O Investigação dos povos Maia”

ANO: maternal. COMPONENTE CURRICULAR: transversal.

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Autores: Carolina Aranha, Eduardo Costa, Eloísa Camargo, Fany Figueiredo, Francisco Everton Pereira, Michela Braga.

Instituição de ensino: Colégio Pitágoras de Ourilândia do Norte. ANO: 1º série do Ensino Médio. COMPONENTE CURRICULAR: Biologia, Química/Geografia/História/Espanhol/Literatura e Língua Portuguesa. RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: objetos Maias, recursos audiovisuais, literatura específica. OBJETIVO GERAL: conhecer, analisar e exercitar características do patrimônio cultural Maia. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: analisar e conhecer os mitos Maias. Comparar com os indígenas brasileiros. Analisar propriedades químicas dos materiais. Conhecer e discutir a hipótese causal hidráulica como forma de dispersão do povo Maia. Localizar o espaço geográfico e o espaço de convivência bem como o relevo e aspectos morfológicos da região. Estudar e identificar as espécies animais e o ambiente natural que compunha os hábitos culturais Maias METODOLOGIA: levantamento Bibliográfico. Interpretação e análise de documentos. Relatório dos vídeos assistidos em sala de aula. Análise das peças dos povos Maia. Análise dos compo-

nentes hídricos dos cenotes. Estudo dos fenômenos naturais e biológicos vinculados ao calendário Maia abrangendo os rituais de sacrifício humano em oferta aos deuses. Construção de maquetes relativas às divisões das tribos Maias. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: estande, estátuas vivas, teatro sobre os rituais Maias, réplicas de utensílios Maias, gincana de perguntas sobre o tema, mostra de dança e músicas maias.

Atividade 3: “Memorial de Ourilândia do Norte-PA” Autores: Cláudia Magela, Érika Ramalho, Erasmo Costa, Fabiana Jardim, Márcia Coelho, Márcia Verônica, Saadne Alencar. Instituição de ensino: Colégio Pitágoras de Ourilândia do Norte ANO: 5º ano do Ensino Fundamental. COMPONENTE CURRICULAR: História, Geografia, Língua Portuguesa, Matemática, Artes e Ciências. RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: arquivos fotográficos. Relatos orais (entrevistas). Filmagens. Pesquisa bibliográfica.

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OBJETIVO GERAL: resgatar a história de Ourilândia do Norte.

COMPONENTE CURRICULAR: multidisciplinar.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: conhecer o surgimento de Ourilândia do Norte. Analisar os dados coletados. Socializar as informações coletadas. Construir o memorial com as informações coletadas.

RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: vídeos, músicas, teatro, contos, passeios, rodas de conversa, artesanato (produção), argila.

METODOLOGIA: levantamento bibliográfico em revistas da região. Entrevistas orais com pessoas pioneiras da comunidade. Levantamento de dados de arquivos pessoais (fotos, vídeos, objetos, utensílios etc.). Filmagens dos relatos orais e entrevistas. Confecção dos painéis de álbum seriado com imagens, legendas e textos informativos. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: exposição do material, por meio de painéis, vídeos, estandes e álbum seriado.

Atividade 4: “Patrimônio Cultural Local” Autores: Jorckdean Rodrigues Vieira, Louise G. de O. Rodrigues, Mitchiara Vasques Simiscula, Sônia Maria de Paula. Instituição de ensino: Colégio Pitágoras. ANO: maternal.

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OBJETIVO GERAL: proporcionar aos alunos conhecimento do patrimônio cultural, para que por meio desse possam valorizar o patrimônio cultural de Ourilândia do Norte. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: desenvolver na criança a curiosidade e o respeito pelo patrimônio cultural local. Coordenação motora/expressão corporal. Gosto pela leitura. Desenvolver a escrita. Conhecer novos locais. METODOLOGIA: através da ludicidade, proporcionar atividades prazerosas que tenham significado para a criança, aproveitando seus conhecimentos prévios e ampliando seu cognitivo. Serão propostos passeios, entrevistas e pesquisas. Vídeos, teatros e contos que narrem o tema em questão. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: a avaliação será realizada durante todo o projeto, num processo contínuo. Avaliando o desenvolvimento, interesse e participação da criança nas atividades propostas.

Atividade 5: “Arte indígena” Autores: Alex Liandro, Ana Fábia Brito, Bartira Freitas Borges, Fernando Rezende Faria, Gabriella Nascimento Damasceno, Lauana de Vasconcelos Moreira, Vicente D. Leonel. Instituição de ensino: Colégio Pitágoras.

tema, pesquisa, elaboração através de seminário e exposição de uma produção artística. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: conhecimento, fazer artístico e a apreciação (julgar e interpretar). Avaliação. Apresentação oral, teatral (expressão).

Atividade 6: “As Aldeias Indígenas”

ANO: 1ª série do Ensino Médio. PERÍODO: 3 aulas (50 minutos). COMPONENTE CURRICULAR: História da Arte e Língua Portuguesa. RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: humanas (docentes, discentes, comunidade indígena). Materiais (livros, tintas, carvão, tala, óleo, urucum). Físico (ônibus). OBJETIVO GERAL: compreender as diversidades culturais e sociais analisando as manifestações artísticas indígenas.

Autores: Ana Gina Barberato, Ana Paula Batista, Eliane Farias de Souza, Guilliano E. J. S. B. C. Marechão, Jaqueline Mendes Gonçalves, Luciane C. do Carmo Alves Marechão, Marcus Vinícius Porto Alves, Maria Regina Batista. Instituição de ensino: Colégio Pitágoras. TEMA: Aldeias. ANO: Ensino Médio. PERÍODO: Primeiro semestre.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: pesquisar, conhecer. Aproximação entre os povos indígenas e não indígenas para conhecer os papéis e funções da cultura.

COMPONENTE CURRICULAR: variação linguística, levantamento de dados, diversidade cultural, atividades físicas tradicionais indígenas, produção textual.

METODOLOGIA: visitar o local da pesquisa, criação dos alunos com o

RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: pesquisas, entrevistas, registros,

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observação, relatórios, coleta de dados, imagens, gravadores, máquinas fotográficas.

Atividade 7: “Patrimônio Cultural de Tucumã (material e imaterial)”

OBJETIVO GERAL: reconhecer a importância da diversidade cultural indígena bem como a influência nos nossos hábitos.

Autores: Alessandra Gonçalves da Silva, Andra Lucinda da Costa, Liane Alzira Selbach, Plínio Miguel Müller, Serlane Vieira, Silvania Carvalho Gomes.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: observar a variante linguística falada pelos índios. Mensurar delimitando as áreas dos sítios e quantificando o número de objetos encontrados. Comparar a organização social indígena com as sociedades circunvizinhas. Conhecer através de vivências as atividades físicas desenvolvidas pelos povos indígenas. METODOLOGIA: realizando visitas à comunidade indígena. Antes da visita, realizar uma preparação com os alunos com palestras, conversas informais, elaboração de questionários, vídeos com temas previamente estabelecidos, textos informativos, sondagem dos conhecimentos prévios dos alunos acerca do cálculo de área e perímetros. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: através de uma mostra cultural organizada pelos alunos para apresentar à comunidade escolar os resultados, observados analisados e quantificados.

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Instituição de ensino: E. M. E. I. F. Elcione Barbalho. PERÍODO: durante todo o ano letivo. COMPONENTE CURRICULAR: História, Estudos amazônicos, Artes, Língua Portuguesa, Ciências, Geografia, Matemática. RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: livros, Internet, filmadora, máquina fotográfica, computador, papel sulfite, cola, tesoura, argila. OBJETIVO GERAL: conhecer e valorizar o patrimônio cultural material e imaterial do município de Tucumã. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: identificar o que é patrimônio cultural material e imaterial e diferenciá-los. Reconhecer o patrimônio material e imaterial como parte da história do município e dos cidadãos.

METODOLOGIA: pesquisas, entrevistas, vídeos, fotos, slides, painel, produção de texto, produção de artefatos com argila. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: por meio de todas as atividades desenvolvidas em sala de aula e fora dela.

Atividade 8: “As Brincadeiras Antigas” Autores: Ana Cleudes Moreira da Silva, Antônia Alencar de Freitas, Cleonice M. da Silva Ramos, Elisangela da Silva Cornélio, Elisângela Pereira Pinheiro, Elzanira Coelho de Albuquerque. Instituição de ensino: U. E. E. I. Creche Machado de Assis. ANO: 1º e 2º períodos COMPONENTE CURRICULAR: Movimentos, artes visuais, natureza e sociedade e linguagem oral. RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: filmes e músicas. OBJETIVO GERAL: resgatar histórias de uma sociedade através de uma maneira lúdica para as crianças. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: resgatar brincadeiras antigas. Fazer com-

paração entre elas. Envolver em brincadeiras antigas e mostrar as diferenças das atuais. METODOLOGIA: brincadeiras de roda - cair no poço, passar o anel, esconde -esconde, pular elástico e jogar pedrinha. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: continuada.

Atividade 9: “Construindo minha linha do tempo” Autores: Delma Pereira Vaz, Jozilda Pereira da Costa e Núbia Aires Cutrim dos Santos. Instituição de ensino: U. E. E. I. Creche Deuza Rocha. TEMA: Construindo minha linha do tempo. ANO: 1º e 2º períodos. COMPONENTE CURRICULAR: Natureza e sociedade, Artes, Linguagem oral e escrita. RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: fotos, cartazes, papel ofício, lápis de cor, caneta hidrocor, quadro branco, música Criança Feliz. Elaboração de um livro representado por desenhos.

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OBJETIVO GERAL: observar fotos e entrevistar pais e avós sobre relatos da construção da sua linha do tempo. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: valorizar a história de vida, observar a evolução na história de vida. Desenhar em um livro sua biografia. Elaborar em classe uma linha do tempo de um aluno para exemplificar. METODOLOGIA: conversação com os alunos, entrevista com os pais de aluno, recolher as fotos dos alunos, construção de um livro por meio de desenhos, execução de uma linha do tempo com as fotos. Contar músicas relacionadas ao tema. Ouvir histórias dos pais de alunos. Exposição de fotos em painéis. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: observação do desempenho dos alunos no decorrer do projeto. Livro construído pelos alunos. Envolvimento individual dos alunos e pais. Conversação informal avaliando através da oralidade suas construções.

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Atividade 10: “O Surgimento de Tucumã” Autores: Carmem Maria Saviczki, Ivone de Oliveira, Lucilene Borges Andrade, Maria das Dores, Olga Abreu Barbosa. Instituição de ensino: E. M. E. I. F. Anexo Alfredo Balko. ANO: Fundamental I e II. COMPONENTE CURRICULAR: História, Geografia, Língua Portuguesa, Matemática, Ciências e Religião. RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: fotos antigas, filmes, música de Tucumã, mapas, recursos humanos (moradores e fundadores), visita à Primeira Igreja Católica São José Operário, visita ao antigo rio Tapajós (popular Sebozinho). OBJETIVO GERAL: resgatar as origens, vivenciar um pouco do passado. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: conhecer um pouco do surgimento do município ao qual está inserido. Vivenciar locais e objetos que fizeram parte desta história municipal. Ampliar os conhecimentos locais de forma interdisciplinar.

METODOLOGIA: aula dialogada, aula expositiva, manuseio de objetos concretos tais como: fotos, construções etc. Visitas aos pontos históricos, tais como: igrejas (católicas e adventistas, que são as iniciantes), praça e rio Tapajós. Atividade escrita e cantada (letra e melodia da música de Tucumã). Palestra com a autora da música de Tucumã, Professora Francisca. Assistir ao filme em classe e refletir. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: participação oral e escrita tais como: atenção, manuseio dos materiais, visitas efetuadas, música, palestra, relatório do filme.

Atividade 11: “A História de Tucumã” Integrantes: Alzira de Santana Amaral, Dulcina Ehlicker, Jorcelina Teles de Oliveira. Instituição de ensino: E. M. E. I. F. Santo Antônio. ANO: 1º ano do Ensino Fundamental COMPONENTE CURRICULAR: todas as disciplinas.

RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: painel, vídeo, textos ilustrativos sobre a história de Tucumã. OBJETIVO GERAL: despertar nas crianças a curiosidade pela história de Tucumã. OBJETIVO ESPECÍFICO: pesquisar em livros e DVDs a história do município de Tucumã. Mostrar como era o município antes e novo. Criar atividades relacionadas ao tema. METODOLOGIA: diálogo entre professor e aluno. Assistir ao vídeo sobre a história de Tucumã. Pintura, confecção de painel. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: recontar a história que ele ouviu e assistiu no vídeo e por meio de desenhos criados por ele, o estudante. Através do interesse e da participação de cada um na atividade proposta.

Atividade 12: “Patrimônio Cultural” Integrantes: Jaci Ferreira, Luzélia Araújo de Melo, Maria de Nazaré Gomes da Silva, Rosimere Rocha. Instituição de ensino: U. E. E. I. Chapeuzinho Vermelho.

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PERÍODO: Maternal. COMPONENTE CURRICULAR: Natureza e sociedade, linguagem oral e escrita, matemática, música e movimento.

Atividade 13: “A Valorização do Patrimônio Cultural”

RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: vídeos, histórias, teatros, conversa informal, cartazes, dinâmicas, pinturas, atividades xerocopiadas, reciclagem e oficinas.

Autores: Beniuza Maria R. Viela, Delvanira Pereira Dias, Eliane Soares Pereira, Fabricia Cardozo de Oliveira, Gezeir Farias, Luzia Conceição Andrade, Luzinete Mendes Teles, Margarete Ferreira Santos, Sirlei Ferreira, Vilma Soares Macedo.

OBJETIVO GERAL: preservar e estudar nosso patrimônio cultural envolvendo essa divulgação sobre o passado da região.

Instituição de ensino: E. M. E. I. F. Samuel Nava, E. M. E. I. F. Donato de Andrade, Secretaria Municipal de Educação e Cultura.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: identificar nosso patrimônio cultural local, conhecer os costumes dos povos antigos, reconhecer o valor do patrimônio cultural local.

ANO: 9º ano do Ensino Fundamen-

METODOLOGIA: essas atividades serão aplicadas através de conversa informal, palestras com os alunos, vídeos, pinturas, atividades xerocopiadas, livros didáticos, cartazes, oficinas e reciclagem. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: por meio do processo contínuo, desenvolvimento de cada criança e em grupo.

tal. COMPONENTE CURRICULAR: História RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: câmera, computador portátil, pen drive, projetor multimídia, materiais pedagógicos, professor, aluno e comunidade. OBJETIVO GERAL: valorizar a cultura patrimonial do município reconhecendo sua importância para as gerações futuras. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: identificar bens materiais e imateriais que constituem o patrimônio cultural

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do município. Despertar o interesse do aluno sobre o tema abordado.

OBJETIVO GERAL: resgatar a história do município no seu período de implantação.

METODOLOGIA: pesquisas, entrevistas, visitas, exibição de documentários, produções de textos, exposições de slides, leitura, seminários.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: reconhecer a origem do nome do município. Identificar alguns pioneiros do município, resgatar a história do patrimônio material.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: exposição de seminários, teatros, poemas, jogral, documentários, painéis, músicas.

Atividade 14: “História de Tucumã” Autores: Ana Cristina Garcia Gonçalves, Lucimar de Andrade Menezes, Paulo Faustino, Wezilaine Cabral de Souza. Instituição de ensino: E. M. E. I. F. Donato de Andrade. TEMA: História de Tucumã. ANO: 5º ano do Ensino Fundamental. COMPONENTE CURRICULAR: História RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: fotografias, jornais e revistas, Internet, projetor multimídia.

METODOLOGIA: pesquisa de campo, entrevistas com pioneiros, murais de fotos, palestras, atividades intra e extraclasse, dramatização, debates. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: a avaliação será de forma contínua no decorrer do projeto, por meio de expressão verbal e escrita.

Atividade 15: “Cultura Indígena Kayapó” Autores: Dorivan Alves de Sousa, Edilene Lima Alves, Junio Oliveira de Paula, Lindinalva Aparecida Parodo, Maria Marlene Araújo. Instituição de ensino: U. E. E. I. Cantinho da Paz, E. M. E. F. Educandário Maria Gontijo. TEMA: Cultura indígena Kayapó ANO: Educação Infantil e ensino Fundamental do 1º ao 5º ano

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PERÍODO: um semestre COMPONENTE CURRICULAR: Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Artes, Educação Religiosa, Ciências etc. RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: argila, areia, folhas, urucum, jenipapo, penas, papelão, tinta guache, saco de estopa, DVD, massa de modelar etc. OBJETIVO GERAL: conhecer a cultura indígena local. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: reconhecer a importância da cultura indígena local a partir do costume de sua comunidade. Identificar os costumes adquiridos através do convívio dos povos com os indígenas. METODOLOGIA: educação Infantil: por meio de histórias, músicas, brincadeiras, pinturas, recortes e colagem, atividades com argila, vídeos e confecção de acessórios indígenas. Ensino fundamental: histórias, vídeos, palestra, pesquisas, produção de texto, confecção do trabalho indígena, atividades com argila, teatro com fantoches e apresentação de danças indígenas. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: a avaliação será contínua de acordo com as atividades propostas no decorrer do semestre.

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Atividade 16: “Cultura Indígena: Danças e Costumes” Autores: Adelina Maria da Silva, Aline Soares Lima, Diego Soares de Sousa, Eduardo Araújo Martins dos Anjos, Enésia Rosa Gomes, Geni Pereira da Paz, Maria Aparecida Tobias S. Rocha, Renivaldo Mendes Teles. Instituição de ensino: U. E. E. I. Coração de Maria “A”, U. E. E. I. Arco Iris “A”, E. M. E. F. Maria Carolina de Jesus, E. M. E. F. São Cristóvão “D”, E. M. E. F. São Cristóvão “A”, E. M. E. F. Dom João VI “D” Nova República. COMPONENTE CURRICULAR: Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia, Ciências, Artes, Educação Religiosa. RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: saco de nylon, tinta guache, penas, algumas frutas como jenipapo, urucum, casca da castanheira, arco e flecha, lança, zarabatana e chocalho. OBJETIVO GERAL: estimular de forma lúdica e divertida a criatividade dos alunos na percepção e na compreensão da cultura indígena. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: identificar os indígenas das aldeias próximas, divulgar alguns costumes pra-

ticados pelas tribos pesquisadas. Pesquisar algumas palavras utilizadas pela comunidade escolar. METODOLOGIA: as atividades serão trabalhadas através de danças, entrevistas, roda de discussão, leitura coletiva, teatro, brincadeiras de roda, pesquisas e dramatizações. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: será avaliado através da participação coletiva e individual.

PERÍODO: 8 aulas. COMPONENTE CURRICULAR: Migrações RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: projetor multimídia, TV e DVD para exposição de documentários sobre o período, entrevistas com pioneiros da região, papel sulfite e papel madeira; jornais e revistas, tesoura e cola.

Atividade 17: “Os projetos de integração na Amazônia”

OBJETIVO GERAL: compreender o momento histórico do Brasil (Ditadura Militar) o que propicia a elaboração e o desenvolvimento de projetos de exploração mineral e colonização da Amazônia durante as décadas de 1970 e 1980.

Autores: Ana Lúcia Morais Martins, Cassilene S. Moreira, Conceição Tavares Santos, Daiane Cristina Dias Linhares, Daniel José Corrêa, Edite Rodrigues Cantaliêde, Elvira Soares de Oliveira, Paulo José Correa, Rita de Cássia Pinheiro, Simone Neves Duarte, Solange Pinheiro da Silva, Vera Regina da Silva.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: resgatar a história da ocupação da região amazônica no auge da Ditadura Militar, compreender as distorções socioeconômicas como resultado de uma política pública ineficiente. Distinguir os fluxos migratórios que resultaram no sincretismo cultural da região

Instituição de ensino: E. M. E. I. F. Pró Mulher e E. M. E. I. F. Donato de Andrade.

METODOLOGIA: aula expositiva e dialogada, aula audiovisual, dinâmica de grupo, confecção de cartazes, elaboração de relatório.

TEMA: Os projetos de integração na Amazônia ANO: 7º e 8º ano do Ensino Fundamental.

EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: apresentação dos trabalhos confeccionados pelos educandos em sala de aula.

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Observação individual e em grupo durante todas as etapas do trabalho, bem como o preenchimento de um formulário com questões básicas sobre o tema. Atividade 18: “Arqueologia em Ourilândia do Norte” Autores: Cristiane Araújo, Silene Lopes, Luzimar Veloso Frasão, Maria Gonçalves de Oliveira. Instituição de ensino: E. M. E. F. Madre Carolina Friess, E. E. E. M. Dr. Romildo Veloso e Silva, E. M. E. F. Teresa de Jesus, de Ourilândia do Norte. ANO: Ensino Fundamental e Médio COMPONENTE CURRICULAR: História, Artes, Geografia. RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: máquina fotográfica, filmadora, fotos antigas, objetos antigos. OBJETIVO GERAL: resgatar o patrimônio histórico cultural de Ourilândia do Norte por meio dos objetos pesquisados pelos alunos. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: conscientizar os alunos sobre a importância da nossa cultura, incentivar os alunos a preservar a cultura, valorizar

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o que temos e perceber as mudanças ocorridas com o tempo. METODOLOGIA: diálogo em grupo, questionário, pesquisas feitas pelos alunos, utilizar mapas da região, entrevistas com os mais antigos. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: participação dos alunos, relatórios, atividades desenvolvidas.

Atividade 20: “Ourilândia, nossa história” Autores: Adelmar Soares Domiense, Maria Gonçalves dos Santos, José de Sousa Leite. Instituição de ensino: E. M. E. F. Madre Carolina Friess, Turumaré (Reserva Indígena kaiapó), SEMED de Ourilândia do Norte. ANO: Ensino Fundamental I e II COMPONENTE CURRICULAR: Geografia, História. RECURSOS A SEREM UTILIZADOS: questionários, máquinas fotográficas, câmeras, microfones, fotos, caixas de som, celulares. OBJETIVO GERAL: resgatar o processo histórico e cultural de Ourilândia.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS: desenvolver o processo de cidadania. Criar um espaço cultural para mostrar o desenvolvimento e crescimento da cidade. METODOLOGIA: trabalhar a história da cidade. Realizar entrevistas com pioneiros da cidade. Palestras com pioneiros por sala. Criar um projeto da Casa da Cultura com os alunos. Realizar uma sessão com os vereadores mirins para realizar a votação do projeto. Enviar o projeto para a Câmara de vereadores. EXPRESSÃO E AVALIAÇÃO: a culminância do projeto será na Câmara de Vereadores com a comunidade, apresentando os resultados do projeto. Será avaliado a participação e o interesse dos alunos.

Siglas utilizadas no livro Amazônia Mineração S.A. (AMZA) Banco da Amazônia S.A. (BASA) Centrais Elétricas (ELETRONORTE)

do

Norte

Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná – (CEPA/UFPR) Companhia de Mineração Meridional (CMM) Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) Conselho de Comunitário (CODETUC) Construtora (CONSAG),

Desenvolvimento Independente

Andrade

Gutierrez

Coordenadoria Especial do AraguaiaTocantins (CEAT) Departamento de Estradas e Rodagem (DER)

Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) Estrada de Ferro Carajás (EFC)

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Fundação Nacional do Índio (FUNAI) Grupo Executivo de Terras TocantinsAraguaia (GETAT) Instituto de Terras do Estado do Pará (ITERPA) Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) Ministério da Reforma e do Desenvolvimento Agrário (MIRAD) Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) Plano de Valorização Econômica da Amazônia (PVEA) Produtora de Minério Xingu S.A. (PROMIX) Programa Grande Carajás (PGC) Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA) Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica (PRONAPABA) Ramal Ferroviário do Sudeste do Pará (RFSP) Secretaria Estadual de Agricultura (SAGRI) Serviço de Proteção ao Índio (SPI)

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Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) Superintendência de Desenvolvimento Econômico da Amazônia (SUDAM) Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) United States (USSCo)

Steel

Corporation

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