Cultura, Propaganda e Comportamento do Consumidor na visão Transdisciplinar

August 3, 2017 | Autor: Gisele Henriques | Categoria: Marketing, Cultural Studies, Propaganda, Transdisciplinaridade, Comportamento Do Consumidor
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CULTURA, PROPAGANDA E O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR NA VISÃO
TRANSDISCIPLINAR





Gisele Henriques[1]

Orientadora: Ana Maria Oliveira[2]




RESUMO


Um dos itens do composto de marketing considerado como de suma importância
para a permanência de uma empresa no mercado é a propaganda, e seu
potencial de eficácia é determinado pela visibilidade que causa aos
produtos, serviços e marcas que dela se utilizam para a promoção. Em
contrapartida, para a definição da aplicação correta dos recursos de
divulgação da empresa, é necessário observar os aspectos culturais, sociais
e econômicos a que a empresa está inserida, visando não somente a
divulgação mecânica de informações, mas o estabelecimento de uma linguagem
voltada para as aspirações reais do consumidor alvo, o que causaria uma
melhoria na imagem de produtos e serviços, por conseqüência, causando uma
maior influência aos consumidores e mercados a atingir, refletindo
positivamente na construção do plano de marketing e de uma nova leitura do
composto mercadológico. Para este estudo foi realizada a pesquisa
bibliográfica, com consulta a conhecidos autores das áreas de estudo
abordadas.





































Palavras-chave: Comportamento do consumidor. Composto mercadológico.
Propaganda. Cultura. Transdisciplinaridade.


1 Introdução



Em uma sociedade em transformação, as mudanças impõem um rápido
posicionamento das empresas, que através de seus produtos e serviços tornam-
se traços de referência cultural, evidenciando costumes e modismos, ditando
normas e padrões, modificando conceitos e comportamentos. Por sua vez, as
empresas também necessitam aprender e analisar as possibilidades atuais e
futuras, recriando e inovando através de sua estratégia de comunicação e
adaptando sua filosofia organizacional.


O objetivo primário do artigo em tela é a análise do contexto
mercadológico atual, através da revisão dos conceitos de comportamento do
consumidor e composto mercadológico. Enfatizamos a ferramenta promoção,
pois acreditamos que a partir da revisão do conceito de propaganda é
possível implementar mudanças significativas na linguagem utilizada pelas
empresas.

Como objetivos secundários, são considerados:


1- Demonstrar a pluralidade de variáveis comportamentais e
suas influências na definição de estratégias;
2- Analisar a função da Cultura como fator mercadológico;
3- Apontar possibilidades para a criação de novos conceitos nas
linguagens midiáticas através da visão transdisciplinar.

Como metodologia, se utilizou a revisão bibliográfica, de autores de
renome nos conceitos abordados, com visão comparativa e descritiva,
objetivando expor a teoria proposta. O artigo divide-se em tópicos
essenciais para o entendimento das questões propostas: É exemplificado,
através do composto de marketing, a importância da propaganda, suas
possibilidades e mídias utilizáveis. A contextualização com a realidade
atual, traz uma compreensão do tema em sua diversidade social, cultural e
mercadológica. É traçado um perfil do consumidor atual, que modificou-se,
assim como a nova sociedade da informação, e necessita de uma abordagem
atualizada. Por fim, são abordadas, através da análise transdisciplinar,
possíveis tendências e oportunidades para o mercado.


O estudo é justificado pelas rápidas mudanças na sociedade de consumo
e a necessidade de criação de novos conceitos e padrões de linguagem que
transmitam uma cultura organizacional e estratégias mercadológicas mais
próximas dos valores humanos, e por conseqüência, mais preocupadas com
temas como responsabilidade social, consumo consciente e valorização dos
elementos locais para popularizar campanhas globais.


2 Comportamento do Consumidor

Para compreender o processo de escolha e aquisição de produtos para
satisfação de desejos e necessidades, faz-se necessário analisar os fatores
determinantes da motivação humana. Enquanto constituição física, necessita
de variados bens para a manutenção de sua integridade. Mas, enquanto
criaturas movidas por sentimentos, aspirações e ambições, os seres humanos
são impelidos a almejar um determinado status, um padrão a ser alcançado,
um referencial, geralmente acima da própria realidade aquisitiva. Não
apenas o alimento para o corpo é visado como prioridade, mas também procura-
se formas de satisfazer a alma, aqui utilizando a palavra para defini-la
como uma representação simbólica para as aspirações psicológicas.


Nessa abordagem, o estudo do comportamento do consumidor visa, não
somente compreender a natureza humana e suas relações de compra enquanto
mantenedora dos patamares físico e mental, mas também os métodos utilizados
pelas empresas para a exposição e oferta de produtos e serviços. Analisa-se
também o(s) grupo(s) a que a organização está inserida, todas as variáveis
a que estão expostos os agentes do processo e as influências externas que
podem surgir como determinantes.


(...) o estudo do consumidor auxilia os gerentes de
marketing a elaborar o mix mercadológico de suas
empresas, a segmentar mercados, a diferenciar e
posicionar seus produtos e serviços e a elaborar uma
análise mais correta de seus ambientes de influência.
(PAIXÃO, 2011, p.22)






Logo, deve-se utilizar o estudo comportamental como um norteio para as
decisões mercadológicas, pois somente assim será possível criar um
posicionamento eficaz, voltado para as diferenças regionais, dentro de um
âmbito global. O plano de marketing, instrumento fundamental para a
implementação do planejamento eficaz, deve ser criado a partir da
compreensão do ambiente em que a empresa está inserida, observando suas
potencialidades, oportunidades de negócios, assim como as possíveis ameaças
e fraquezas. As decisões gerenciais, por sua vez, devem ter forte
embasamento, a partir de pesquisas de mercado, da análise e constante
acompanhamento dos relatórios de controle e de vendas.


Necessário se faz analisar o comportamento do consumidor em sua
amplitude, não apenas no âmbito da mercadologia, mas também em sua
multiplicidade disciplinar:


Uma ciência aplicada originária das ciências humanas e
sociais, como a economia, a psicologia, a sociologia ou
ainda a antropologia. Seu objetivo é compreender os
comportamentos de consumo adotando uma perspectiva
pluridisciplinar (KARSAKLIAN, 2004, p.20)






Através das contribuições desses diversos campos de estudo, é possível
traçar um perfil além das relações de compra, um mapeamento da sociedade e
da evolução dos conceitos mercadológicos, com todas as suas possibilidades
e em todas as perspectivas, visando uma análise dos estímulos e respostas
positivos e negativos mais apurada, e, por conseguinte, a criação de
estratégias mais coerentes com a realidade do contexto a que a empresa
esteja inserida. Uma observação do ser humano em seus grupos sociais, mas
também os resultados de sua interação com os bens adquiridos,
possibilitando a projeção de variáveis futuras para as instituições e o
mercado, estabelecendo cenários e visões do avanço da sociedade através da
cultura do consumo.


Essa abordagem também permite perceber as possíveis mudanças dentro do
composto mercadológico, que ocorrem principalmente através dos avanços
tecnológicos, com a criação de novas mídias e estruturas modernizadas para
a apresentação e divulgação de produtos e serviços. Estar a frente e
compreender essas perspectivas representa um grande potencial dentro do
novo perfil de mercado, que emerge constantemente.

3 Composto Mercadológico


Marketing mix, composto de marketing, ou mercadológico, de acordo com
os ensinamentos de Kotler (1999), é o grupo de variáveis controláveis de
marketing que a empresa utiliza para produzir a resposta que deseja no
mercado alvo.


Conhecer, aplicar e avaliar essas variáveis, tornam-se fatores
fundamentais para um bom posicionamento competitivo, e determinam o
diferencial de uma empresa no mercado. Produto, preço, praça e promoção não
são apenas uma subdivisão dentro do plano de marketing, e sim objeto de
profunda análise e foco do cronograma de ações mercadológicas.


Em uma sociedade sob constante mudança, a postura do profissional de
marketing deve ir além da visão tradicional costumeira. A inovação,
geralmente utilizada como ferramenta prioritária para o setor de criação de
campanhas, deve ser também o escopo da estratégia empresarial. Uma visão
empreendedora, que percebe oportunidades de negócios e cria diferenciais,
sempre com foco no futuro, observando as mudanças tecnológicas,
comportamentais e sociais com o otimismo da possibilidade de expansão de
horizontes e novos mercados.

(...) o profissional de marketing deve estar em contínua
busca por inovações. Na contemporaneidade, são
perceptíveis alguns aspectos presentes nesse contexto,
com a criação de valor para o consumidor, tanto nos
produtos quanto nos serviços, e a exploração de novos
meios (redes sociais on line, internet, blogs, podcasts,
entre outros), junto aos recursos de comunicação
clássicos (revistas, jornais, rádio e TV). (ANDRADE,
2010, p. 76)






Busca-se pela excelência em produtos e serviços, com sua valoração
agregada em variáveis exploráveis pelo viés do marketing, como os potencias
de expansão da marca, com seus conceitos e filosofias de fidelização. O
consumidor não busca mais somente informações que o auxiliem na escolha da
compra, mas possui grande conhecimento sobre a empresa e suas concorrentes,
devido a quantidade de meios de comunicação a que está exposto. O valor de
um produto não está mais somente em seu potencial de uso, mas sim na
capacidade de traduzir um conceito, um grupo, um ideal. Os recursos de
comunicação virtuais considerados novos unem-se aos meios clássicos na
geração de paradigmas de consumo, que a empresa pode utilizar-se com
criatividade e baixos custos. Dos segmentos de mercado podem originar-se
consumos de massa, quando compartilhadas as experiências de uso com outros
grupos maiores, através dos virais de informação facilitados pelas mídias
sociais.

Os profissionais de marketing também podem responder ao
marketing reverso, prestando atenção aos quatro Cs do
cliente: valor para o Cliente, Custos mais baixos, maior
Conveniência e maior Comunicação. Para tanto, é preciso
explorar o espaço cognitivo dos clientes, avaliar o
espaço das competências da empresa e captar o espaço dos
recursos dos colaboradores. (KOTLER, 2002, p. 46)






É percebido através desta definição, que três fatores são de extrema
importância para a criação de uma estratégia inovadora: agregar valor para
o cliente a partir de uma análise cognitiva, onde leva-se em consideração
que as pessoas e seus contextos mudam constantemente; a empresa, por sua
vez, possui competências internas, que podem ser bem exploradas, e
transformadas em recursos para a ampliação das atividades e criação de
novas soluções de negócios; e os colaboradores, possuem capital intelectual
em competências distintas, que podem ser convertidas em capital intelectual
na estruturação das novas possibilidades.


Portanto, o composto de marketing está em constante mudança, devendo
ser construído ou recriado visando a aproximação com o cliente, e, dentro
da empresa, com a adaptação de todos os setores em uma cultura
organizacional inovadora que priorize as atividades mercadológicas, não
apenas delegando ao setor específico a função de criador e provedor do
plano de marketing, enquanto documento imutável mantenedor de cronogramas,
tarefas e funções.


4 Propaganda


Dentro do conceito do composto mercadológico, uma significativa
ferramenta é a propaganda, palavra derivada do latim propagare, que tem a
função de comunicar, informar não somente sobre os produtos e serviços
existentes, mas também ações e a filosofia organizacional contida na
missão, visão e valores. É atualmente um dos principais meios de atingir o
consumidor contemporâneo, visto que sua presença é cada vez mais efetiva,
devido a popularização das diferentes mídias de comunicação.


Doin define a propaganda como facilitadora da criação de uma imagem
expressiva para a empresa:


É uma forma de comunicação bastante eficaz, que pode ser
usada para criar uma imagem da loja a longo prazo ou para
promover vendas rápidas. Seu caráter público confere
legitimidade ao ponto-de-venda e sugere uma oferta
padronizada. É um meio universal, que possibilita a
repetição da mensagem. Além disso, possui expressividade
ampliada, visto que a mensagem pode ser investida de
criatividade no uso das palavras, sons e cores. Também é
impessoal, uma vez que o público não é obrigado a prestar-
lhe atenção ou a respondê-la. (2007, p. 111)


Atualmente, vê-se a propaganda como uma representação simbólica da
empresa, e sua presença constante significa pertencer a um contexto social.
A exposição da marca promove a aceitação do público através da
credibilidade que impõe ao associar sua marca a um veículo de comunicação,
no caso da propaganda televisiva, radiofônica e em mídias impressas. Devido
ao seu caráter impessoal, cria-se cada vez mais artifícios para atrair a
atenção do público através da empatia. Propagandas cada vez mais criativas
devido às inovações tecnológicas tornam-se até objeto de expectativa do
público, que as identifica rapidamente, transformando peças publicitárias
em ícones de referência, comparadas com obras culturais. Prioritariamente
utilizando-se de figuras públicas famosas para testemunhais de eficiência
de produtos e serviços, o caminho inverso também é comumente observado:
Personagens e atores tornam-se conhecidos e eternizados por atuação em
comerciais, comprovando sua eficácia. A repetição da mensagem nos meios de
comunicação auxilia na reafirmação e fixação das características expostas.


Alves, Antoniutti; Fontoura afirmam sobre a relevância da escolha da
mídia para a eficiência da comunicação empresarial:


Podemos, então, perceber a importância da escolha do
meio em qualquer processo de comunicação, pois ele
determina, em grande parte, o grau de eficiência da
comunicação, às vezes mais do que a própria mensagem.
Uma das inúmeras definições de comunicação diz que ela é
a "ação de utilizar os meios necessários para realizar
tal comunicação" (2011, p.103)


A definição de meio também sofreu relevantes mudanças no decorrer dos
anos, com o nascimento de novas mídias de comunicação eletrônica: a
televisão evoluiu, com maior número de funções nos aparelhos, que
possibilitam comunicação interativa com o público; canais por assinatura
estabelecem uma linguagem diferenciada para um público seleto, com perfil
de compra potencialmente superior ao público da TV paga; rádios digitais
com transmissão pela internet, e equipamentos mais baratos possibilitam até
a criação de emissoras radiofônicas internas no espaço físico da empresa; a
telefonia celular permite inúmeras formas de comunicação por voz, vídeo e
texto; aparelhos de videogame conectados à internet, rede de computadores
que ampliou o conceito de socialização através de sites de relacionamento e
programas de trocas de mensagens instantâneas. Além de todas as
possibilidades de comunicação impressa, como panfletos, placas e os mais
variados modelos de brindes e materiais de divulgação. Com tanta variedade,
os limites para a propaganda tornam-se relativos à verba possível para uso.
E a escolha de seus processos de implementação deve ser analisada de acordo
com as variáveis do ambiente em que a empresa está inserida, e o público
alvo a que pretende atingir, definindo-se assim uma linguagem específica,
observando-se também os aspectos éticos e culturais.

5 Cultura

A cultura de uma sociedade em muito define toda a sua estrutura.
Possuímos mundialmente reações e respostas semelhantes a determinados
sentimentos e ações, porém a significação de um contexto social maior está
atrelada ao conjunto de valores impostos por uma cultura regional, criando
assim um conceito maior de realidade.


a cultura de uma sociedade interfere diretamente no modo
como seus indivíduos encaram a realidade, aí entendida a
convivência, o trabalho, e a própria vida. O indivíduo
portanto é o fruto – não um fruto absoluto, pois aí
estaríamos admitindo o determinismo cultural – desse
conjunto extraordinariamente complexo que chamamos de
cultura, ou seja, é preciso uma compreensão de cultura
como partilha de significados, pois ela (a cultura)
fornece os códigos a partir dos quais é construída a
visão de mundo dos indivíduos, de suas percepções, de
seus valores, etc. (SILVA, 2010, p.96)






Assim como há diferenças regionais, existem interculturas que apontam
para diversas variáveis. Logo, a comunicação de massa pode se fazer
diferente da realidade do indivíduo como ser único, e não se fazer um
retrato de uma identidade social, ao perder o foco por falta de diálogo com
as realidades específicas, plurais.


A intercultura refere-se a um complexo campo de debate
entre as variadas concepções e propostas que enfrentam a
relação entre processos identitários socioculturais
diferentes, focalizando especificamente a possibilidade
de respeitar as diferenças e de integrá-las em uma
unidade que não as anule. A intercultura vem se
configurando como uma nova perspectiva epistemológica,
ao mesmo tempo que é um objeto de estudo
interdisciplinar e transversal, no sentido de tematizar
e teorizar a complexidade (para além da pluralidade ou
da diversidade) e a ambivalência ou o hibridismo (para
além da reciprocidade ou da evolução linear) dos
processos de elaboração de significados nas relações
intergrupais e intersubjetivas, constituídas de campos
identitários em termos de etnias, de gerações, de
gênero, de ação social. (FLEURI, 2003, p. 7)






É necessário analisar cada processo identitário como único, e
portador de diversidades e pluralidades específicas. Também faz-se clara a
necessidade de criar linguagens específicas, mas ao mesmo tempo
integradoras, o que parece contraditório, mas necessário no campo da
comunicação, principalmente na criação de propagandas, evitando-se assim a
massificação de conceitos sociais, o que pode evidenciar preconceitos, ou
visões da sociedade fora da realidade. O consumidor não é um ser híbrido,
desprovido de identidade; ao contrário, possui culturas múltiplas e
diferenças regionais, étnicas, de gênero, sociais, de valores. Trabalhar as
diferenças é a base da segmentação de mercado, e deve ser visto não somente
como criador de grupos de consumo, mas também como gerador de valores
psicológicos, de responsabilidade social, de consumo consciente, de
formação ética.


6 Transdisciplinaridade


A partir do uso dos conceitos de análise de mercado, gerou-se o
aperfeiçoamento da comunicação, com seus métodos, técnicas e linguagens. As
exigências do mercado competitivo transformaram a propaganda em uma
atividade visionária e inovadora, que contribui decisivamente para o
sucesso de empresas e produtos. A evolução dos meios de comunicação e o
avanço técnico possibilitaram a produção de anúncios publicitários que se
tornaram ícones de gerações, verdadeiras obras artísticas e culturais, que
ultrapassam os objetivos da simples divulgação de produtos e se tornam
registros do comportamento de uma época.


A propaganda como atividade formal repercutiu durante a
Revolução Industrial, que, devido a uma produção em massa
decorrente de uma economia de escala, necessitou promover
o consumo em massa, e a única forma de uma resposta rápida
seria estabelecer também uma comunicação de massa. Porém,
adotando uma visão mais romântica e historiada, podemos
considerar que a propaganda faz parte de nossas vidas
desde os primórdios, quando os homens sentiram a
necessidade de trocar bens entre si para garantir a sua
subsistência. (ALVES, ANTONIUTTI; FONTOURA, 2011, p.89)


Atualmente vivemos uma nova era, que Baudrillard (2005) define como
uma "verdadeira fascinação pelo virtual", que aponta como uma forma de
fazer desaparecer a essência da espécie humana e recriar uma espécie
artificial. "Anulação da paisagem, desertificação do território, abolição
das distinções reais. O que até agora se limita ao físico e ao geográfico,
no caso de nossas auto-estradas, tornará toda a sua dimensão no campo
eletrônico com a abolição das distâncias mentais e a compreensão absoluta
do tempo" (p. 18). Um esvaziamento do real, onde as mediações tecnológicas
criam prédicas de pensamento, descartando a existência do senso crítico
usual:


(...) agora, o virtual é que está no lugar do real, é
mesmo sua solução final na medida em que efetiva o mundo
em sua realidade definitiva e, ao mesmo tempo, assinala
sua dissolução. (...) é o virtual que nos pensa: não há
mais necessidade de um sujeito do pensamento, de um
sujeito da ação, tudo de passa pelo viés de mediações
tecnológicas. (BAUDRILLARD, 2007, p. 42)


Nessa nova era globalizada, há a potencialização do ciberespaço, que
além de ditar regras comportamentais, difunde modismos e sugestões de
compra, com a rapidez de um clique em um botão, seja do teclado do
computador ou do controle remoto do televisor; não há mais fronteiras de
distância ou de tempo, a sociedade percebe seus fenômenos coletivamente,
apropriando-se de condutas, informações, formatos. Ou seja, ao concentrar
os esforços exclusivamente nas práticas de uma nova sociedade da
informação, corre-se o risco de entender apenas parcialmente o conceito
universal de ser humano, de se criar uma nova cultura virtual cada vez mais
afastada das necessidades reais. É preciso criar uma nova forma de
interação cultural, entre as múltiplas culturas que se complementam e se
entrelaçam, sem a invasão de limites. Em uma visão otimista, uma nova
modelagem de verdades e valores, que deve ser amadurecida através da visão
transdisciplinar de mundo.


(...) o que está em jogo, de fato, é o aparecimento de uma
nova civilização, por um lado certamente mais global e,
presumivelmente mais "virtual" ou "pós-industrial", mas,
por outro lado, globalmente mais instável cada vez mais
eficiente para os super ricos e insensíveis às
necessidades dos pobres, excluídos da "eficiência" exigida
pelo mercado livre. Céticos e otimistas têm razão, cada um
a seu modo (...) Este planeta está encolhendo rapidamente
e, por isso precisamos começar a pensar globalmente, e não
apenas a partir das vantagens tecnológicas ou econômicas,
mas também do ponto de vista político, cultural, social e
ético (QUÉAU, 1998, p. 198 e 199).


Logo, na busca por este ponto de vista diferenciado, surge a
necessidade de uma nova forma de pensar as campanhas mercadológicas, não só
visando um consumo mecânico através de uma linguagem massificada que ignora
as diferenças típicas de cada local, e sim um pensar regionalizado,
valorizando as potencialidades de um indivíduo único, em contraposição ao
modelo antigo de comunicação, onde a audiência é vista sem personalidade
individual; o que a princípio significava homogeneizar a comunicação para
atingir o maior público possível, deve ser revisto de forma a valorizar o
indivíduo em suas potencialidades, buscando através dos meios de interação
informações sobre como atingir os diversos públicos existentes em um
cenário de múltiplas realidades. Imprescindível que se pense a comunicação
de uma forma individualizada, porém com consciência global.


Andrade cita em sua obra: as novas tecnologias da informação trouxeram
modificações nos relacionamentos, bem como se constituíam como fator que
agrega valor ao produto. Portanto, também trouxeram modificações nas
atividades de marketing. E complementa:


Na etapa de adaptação das empresas a este tipo de
marketing, há necessidade de fomentar uma cultura
diferenciada que provoque a assimilação de valores e
processos da web. Simplesmente aplicar tecnologia não
implica em transformação significativa que permita a
criação de modelos de negócios. (2010, p.66)


Logo, também é necessário pensar uma interligação entre a visão
mercadológica (linguagem, técnicas e métodos de comunicação com o público
alvo) com os elementos do subsistema social a que a organização está
inserida (como por exemplo, ética, responsabilidade social, consciência
ambiental, cultura e realidade local), elementos presentes na visão
transdisciplinar, ou seja, de acordo com o pensamento de Nicolescu (1999),
aquilo que está ao mesmo tempo entre as disciplinas, através das
disciplinas e além de qualquer disciplina. Seu objetivo é a compreensão do
mundo presente, para o qual um dos imperativos é a unidade do conhecimento.



Alves, Antoniutti; Fontoura nos trazem uma visão global sobre a
evolução da comunicação ante o conhecimento:


As grandes transformações ocorridas na maneira como se
cria, produz e acontece a transmissão da comunicação, por
meio dos meios interativos, repercutem no público. Numa
linha do tempo, podemos observar que o comportamento das
gerações é reflexo da evolução das sociedades. (...) Sendo
assim, a comunicação – propaganda e meios – reflete cada
época, ao mesmo tempo que precisa antecipar tendências por
meio de formatos inovadores. (2001, p. 137 a 138)


Para uma prática transdisciplinar no contexto mercadológico, é
preciso analisar as transformações ocorridas, tanto no viés tecnológico da
evolução das ferramentas de comunicação, quanto pelo viés social,
distinguindo os diversos conhecimentos, sem redução ou simplificação,
respeitando-se a essência do todo.


Em um contexto onde cada vez mais o virtual assume espaço e
posicionamento ante o considerado real, com novos conceitos e valores, faz-
se necessário reinventar posturas, de empresas e produtos, adaptar
linguagens, assumir posturas ousadas apropriando-se da criatividade exposta
característica das redes sociais, perceber os novos públicos e grupos com
seus nichos de mercados específicos, e, se não há possibilidade de atingi-
los com produtos especialmente redesenhados, mas comunicar informações dos
produtos de modo a gerar interesse, em um mundo tão saturado de mídias e
informações.

7 Considerações Finais


Vivendo em uma realidade com traços regionais, mas com forte
influência global, o desafio das ações mercadológicas dentro da nova ordem
sociológica é interagir com as novas culturas recebidas, sem perder a
essência do modo de vida das comunidades locais. Pois possuem diversidade,
desejos e necessidades específicos.


Salienta-se que, todas as transformações mercadológicas apontam para
uma ampla gama de possibilidades. Que poderão surgir através de ações de
marketing potencializando as características do composto de marketing em
seus 4 P´s, ajustados as competências e potencialidades de clientes –
empresas – colaboradores; ou vivenciando de maneira a incorporar à cultura
organizacional os novos conceitos da era da comunicação virtual. Amplas
possibilidades podem surgir a partir de lojas virtuais locais ou pela
criação de campanhas publicitárias mais específicas utilizando as novas
mídias sociais e virtuais como ferramenta de interação contínua.


Também torna-se interessante adaptar as campanhas mercadológicas ao
viés transdisciplinar, visando produtos e serviços não só como meros
agentes de satisfação dos desejos e necessidades, e sim como fatores de
transformação política, social, econômica, cultural e ética. O que se
traduz em uma nova identidade na filosofia organizacional, voltada para a
responsabilidade social, sustentabilidade e valorização das competências
humanas.


O assunto necessita de mais ampla pesquisa e proposição de diferentes
soluções, devido a sua extensão e complexidade.


REFERÊNCIAS

ALVES, Márcia Nogueira; ANTONIUTTI, Cleide Luciane; FONTOURA, Mara. Mídia e
produção audiovisual: uma introdução. 2 ed. rev., atual e ampl. Curitiba,
Ibpex, 2011.

ANDRADE, Carlos Frederico de. Marketing: o que é? quem faz? quais as
tendências? 2. ed. ver., atual. e ampl. Curitiba, Ibpex, 2010.

BAUDRILLARD, Jean. Senhas. Rio de Janeiro: Editora Difel, 2007.

BAUDRILLARD, Jean.Tela total. Porto Alegre: Editora Sulina, 2005.

DOIN, Eliane; SILLAS, Edson Paes. Marketing no varejo. Curitiba, Ibpex,
2007.

FLEURI, R. M. Intercultura e Educação. Revista Grifos, n. 15, p. 16 – 47,
maio, 2003.

KOTLER, Philip; ARMSTRONG, Gary. Princípios de Marketing. 7º edição. Rio de

Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora, 1999.

KOTLER, Philip. Administração de Marketing. 10 ed, 7 reimpressão. São
Paulo: Prentice Hall, 2000.

NICOLESCU, Basarab. Um novo tipo de conhecimento – transdisciplinaridade.
In Educação e Transdisciplinaridade. CETRANS, São Paulo, 1999

PAIXÃO, Márcia Valéria. A influência do consumidor nas decisões de
marketing. Curitiba. Ibpex, 2011.

QUÉAU, Philippe. A revolução da informação: em busca do bem comum In:
Ciência da informação. Brasília: Instituto Brasileiro de Informação em
Ciência e Tecnologia, 1998, v. 27,n.2, disponível em
http://www.scielo.br/pdf/ci/v27n2/queau.pdf , acessado em 28 de setembro de
2012.

SILVA¨, Golias. Sociologia Organizacional. Florianópolis, Departamento de
Ciências da Administração, UFSC, Brasília, CAPES, UAB, 2010
-----------------------
[1] Pós Graduanda do curso de MBA em Administração e Marketing (Uninter),
Bacharel em Administração pela Fundação Universidade do Tocantins
(UNITINS).
[2] Relações Públicas (Pontifícia Universidade Católica do Paraná),
Especialista em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas, orientadora de TCC
do Grupo Uninter
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