Cursinho UEM e o Ensino de Artes Pré-Vestibular

Share Embed


Descrição do Produto

Modalidade: Iniciação Científica GT: Artes Visuais Eixo Temático: Educação em Artes Visuais em Projetos Sociais.

CURSINHO UEM E O ENSINO DE ARTES PRÉ-VESTIBULAR

André Luís Onishi UEM, PR, BR Sonia Maria da Costa Mendes UEM, PR, BR RESUMO: Este estudo pressupõe uma avaliação dos processos de organização dos conteúdos de arte ministrados no projeto social denominado Cursinho UEM. A metodologia utilizada pauta-se em entrevista realizada junto ao coordenador do cursinho e na análise de questões sobre arte apresentadas na prova de conhecimento específico do último Vestibular de Inverno da UEM. Os resultados evidenciam a necessidade de rever processos quanto ao diálogo entre a preparação dos alunos para a prova e a elaboração destas provas. Portanto, espera-se contribuir para reflexões e tomadas de decisões na perspectiva de tornar-se de fato um programa pautado em processos de inclusão.

Palavras-chave: Vestibular; Projeto Social; Formação Docente;

CURSINHO UEM AND THE TEACHING OF ARTS PRE-VESTIBULAR. ABSTRACT: This study presuppose a evaluation of the process of organizing the contents of the teaching of Art taught at social project called Cursinho UEM. The methodology was guided by an interview realized with the Cursinho coordinator and by the analysis of questions about art presented on the last vestibular proof from University Estadual of Maringá. The results highlights the need to review processes related to dialogue between preparing students for the proof and elaboration of these proofs. Therefore, we expect to contribute to discussions and decision-making in the perspective of become indeed a program guided by process of inclusion. Key words: Vestibular; Social Project; Teaching Formation;

Introdução A Universidade Estadual de Maringá, no Paraná, que neste ano ocupou a 23ª colocação no Ranking Universitário Folha é muito bem lembrada por realizar anualmente dois processos seletivos para ingresso nos cursos de graduação ofertados. No último vestibular, realizado em julho de 2014, foram ofertadas no total, 1.488 vagas, sendo 286 delas reservadas para cotistas sociais. Dentro da própria

instituição, em 2004 nasceu da Diretoria de Recursos Humanos o Cursinho UEM, a princípio partindo da reinvindicação dos agentes universitários, sendo estes os primeiros a serem atendidos no projeto. A proposta pedagógica prevista neste projeto social é de oferecer, dentro de sala de aula, uma relação de ensinoaprendizagem efetiva no sentido de ter como meta principal a formação que permita aos cursistas o acesso ao ensino superior. No vestibular da UEM a prova de conhecimento específico de arte é necessária para a entrada em cinco cursos, sendo eles arquitetura, música, artes visuais, artes cênicas e comunicação e multimeios. Sabendo que a Comissão Central do Vestibular Unificado estabelece por objetivo avaliar os conhecimentos básicos do candidato sobre as artes visuais/plásticas, as músicas, as artes cênicas, a arquitetura e o cinema sendo que que o candidato deverá demonstrar capacidade de relacionar tais expressões artísticas com os diversos contextos históricos, socioculturais e políticos a pergunta que vem ao encontro desta investigação, é se, a composição da prova específica de artes está contemplando os conteúdos ministrados pela disciplina de Artes ofertada pelo cursinho pré-vestibular da UEM. Para responder tal pergunta, este estudo analisará quatro das vinte questões da prova específica aplicada no Vestibular de Inverno da UEM 2014 omparando o conteúdo das questões com o conteúdo aplicado na disciplina de Artes do Cursinho UEM. Assim ao discorrer sobre este projeto social com o aporte da entrevista realizada com o próprio coordenador, Geovanio Rossato apresentaremos sucintamente a história e política pedagógica do projeto. E por fim, será feito um breve relato sobre a prática docente realizada na disciplina investigada com o objetivo de resgatar o caráter profissionalizante desenvolvido no programa, bem como avaliar e inferir de forma a contribuir para a melhoria da prática pedagógica. Materiais e Métodos A pesquisa em questão encontra-se estruturada em conceitos específicos relacionados ao tema, bem como em entrevista e análise. Assim, são evidenciados o histórico do projeto Cursinho pré-vestibular da UEM; o público alvo e objetivos do programa, considerado de natureza social; o formato da prova de conhecimento específico de arte do vestibular da instituição, a qual será analisada. A entrevista com o Coordenador do Cursinho da UEM foi gravada em audiovisual e posteriormente transcrita literalmente. As perguntas foram organizadas e abordadas no decorrer de um conversa informal e sem uma ordem preestabelecida onde foi perguntado questões relativas ao surgimento; se o Cursinho é um projeto social; sua proposta pedagógica; se é um programa permanente; os objetivos do Cursinho em relação à aprendizagem dos conteúdos para o vestibular; sua percepção sobre a prova do vestibular da UEM; se existe relação entre o projeto e a Educação de Jovens e Adultos; os objetivos da disciplina de Artes no Cursinho; De que forma o Cursinho tem contribuído na formação de docentes; e como ocorre a questão da inclusão de alunos com necessidades especiais. A análise das questões da prova de conhecimentos específicos sobre arte teve como base as referências de Maria das Graças Vieira Proença Santos e Ernst Gombrich, já que ambos são frequentemente utilizados na elaboração da prova pela Comissão Central do Vestibular Unificado (CVU) da instituição. A justificativa para a seleção de apenas quatro questões a serem analisadas partiram das distinções dos períodos que elas compreendem, sendo separadas por Arte Clássica, Arte Moderna, Arte Contemporânea e anacrônica quando abordam

mais de um período na mesma questão. A forma de análise das questões considerou as seguintes etapas: a) separação das questões de acordo com o seu conteúdo; b) seleção das questões a serem analisadas a partir do período compreendido nas proposições; c) análise com base nas teorias apresentadas pelos autores acima citados. Assim, na medida em que a pergunta é evidenciada, procuramos discorrer se a mesma é falsa ou verdadeira pautando-se nos autores, bem como em inferências próprias, tendo por referência o gabarito lançado pela própria CVU. Cursinho pré-vestibular De acordo com o artigo publicado nos anais do 10º Fórum de Extensão e Cultura da UEM, em 2012, o projeto social denominado Cursinho UEM tem como objetivo: Oportunizar cursos de formação aos servidores da comunidade interna e seus dependentes, bem como a comunidade externa, em geral, condições para melhorar sua situação socioeconômica e cultural, através de uma formação acessível que possibilite uma maior democratização da escolaridade e desenvolvimento profissional” (MIRANDA, OLIVEIRA, ROSSATO, 2012, p. 2).

Como foi mencionado anteriormente, o cursinho nasceu na Diretoria de Recursos Humanos e posteriormente se formalizou como programa e foi transferido para o Departamento de Ciências Sociais na modalidade de curso de extensão. A partir desse momento, em 2011, Geovanio Rossato assumiu a coordenação do trabalho que até então estava sob a coordenação de Eder Rossato. A ideia de departamentalizar, segundo Geovanio, foi no sentido de blindar o programa, pois “quando se departamentaliza, se torna uma política departamental e então a possibilidade de alguma ingerência é menor” 1. O cursinho é uma preparação pré-vestibular que acaba recebendo como alunos jovens e adultos matriculados na educação básica em vias de conclusão ou já concluído, sendo que uma parte do público vem da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Acreditamos que a opção por uma metodologia diferenciada, ou seja, menos comprometida com o rememorar e mais comprometida com o ensino-aprendizagem, de certo modo, chega-se muito próximo do que se pratica na EJA, que é uma modalidade considerada de ensino inclusivo e inclusive o aluno faz a prova no momento em que ele se sente preparado. A prova do vestibular que dá acesso ao ensino superior da universidade pública acaba sendo muito seletiva e a preparação ofertada pelos cursinhos tem sido muitas vezes fundamental e terminante para o ingresso nas instituições públicas. Dentro desta perspectiva, a proposta pedagógica considerada no Cursinho UEM é aquela comprometida com a relação efetiva entre ensino e aprendizagem. No programa em questão há inclusão como em qualquer outra modalidade de ensino, os portadores de necessidades especiais se matriculam e o Cursinho procura recebê-los. No caso, por exemplo, para os alunos que apresentam deficiência visual, oferta-se apostilas ampliadas e também em braile, isto é, quando dominam-no. Em relação ao processo de inclusão, as principais dificuldades por parte do professor está em como ensinar conteúdos visuais para estes cegos. Então, 1

Fala transcrita de entrevista com o Coordenador do projeto social Cursinho UEM no dia 26 de Agosto de 2014.

de acordo com Rossato, a inclusão é uma coisa que ainda está por se fazer no mundo e no Brasil ainda mais. A forma de inclusão proposta no programa não garante uma realização efetiva em razão das dificuldades encontradas no processo, bem como na própria formulação das questões da prova do vestibular. Por exemplo, já houve cursista cego aprovado na UEM, mas nunca um surdo, devido aos problemas muitas vezes de linguagem dúbia e pegadinhas de duplo sentido. Na linguagem de libras por não existir tais “pegadinhas”, fica muito complicado a realização plena da prova. A inclusão é algo que ainda está por se fazer nas escolas do país. Ainda na entrevista, Rossato diz que no momento da utilização, o material às vezes atrasa e também não existe uma unificação do braile. E a dificuldade está em receber esse público, está em não conseguir efetivamente trata-los com dignidade apesar de ser oferecido o que se tem à disposição, tais como o interprete de libras e as apostilas em braile. Quando se fala em preparação pré-vestibular, o que comumente se faz é uma oferta muito conteudista já que o Ensino Médio e a própria prova tendem a ser deste modo. Sendo assim, na preparação do ensino para vestibular esta prática conteudista se aprofunda. Muitos dos alunos do Cursinho UEM, não vêm com uma formação muito sólida em termos de conteúdo e de relação ensino-aprendizagem, ou seja, estes cursistas se matriculam sem terem muito conteúdo memorizado e aprendido. A orientação para os professores, de maneira geral, é de não terem um compromisso maior com rememorar e despejar conteúdo no início do curso, mas partir do princípio que o aluno não sabe e tem que aprender. Tais pressupostos contribuem para a aquisição de conteúdos e por consequência obtêm-se a aprovação no vestibular. No início do cursinho existe maior preocupação com a aprendizagem do aluno e respectiva turma, como um todo, para que tenham condições de acompanhar um volume maior de conteúdos que será trabalhado posteriormente, afinal o vestibular é uma prova meritocrática tradicional no aspecto de exigir muito conteúdo, sobretudo na UEM onde a prova é muito carregada e conteudista. Estes conteúdos pedidos são raramente vistos nos cursos de graduação e mais raro ainda no Ensino Médio, mas que acabam caindo na prova. Então, na medida do possível, o Cursinho trabalha esse conteúdo, mas sem abrir mão dos objetivos iniciais e do compromisso maior com o ensino e aprendizagem. O diferencial do Cursinho UEM que tenta se consolidar como um projeto social é o de não possuir o vestibulinho tão comum nos cursinhos que inclusive se identificam como alternativos e sociais. Até entre cursinhos universitários pagos com recursos públicos existem os que praticam o tal do vestibulinho, onde obviamente serão aprovados os melhores. E geralmente quem são os melhores? São aqueles que têm um nível maior de preparação para a avaliação, e para que o candidato alcance a aprovação, segundo o Coordenador ou ele é um gênio, uma pessoa dotada com altas habilidades cognitivas ou é uma pessoa que teve mais tempo e mais condições de estudos que os outros, o que é mais comum. Geovanio também afirma que sua preferência é por aceitar aqueles que não seriam aceitos nos tais vestibulinhos, além de o programa contar como critério de seleção “ser servidor ou dependente de servidor da UEM, ser ex-aluno do cursinho, ser cotista racial e membros da comunidade externa, sendo que em todas essas modalidades de inscritos utiliza-se o critério da idade” (MIRANDA; OLIVEIRA; ROSSATO; 2012, p. 3).

Vestibular da UEM Na medida em que se ofertam poucas vagas na universidade pública e estas são consideradas, em teoria, vagas de melhor qualidade, além de não ter que pagar o ônus, as entradas para os cursos de graduação acabam congestionadas pela quantidade excessiva de pessoas que querem estas poucas vagas. Estes fatores explicam as razões das exigências, o que acabam sendo desumanas, ao solicitar muito conteúdo em pouco tempo de preparação, sobretudo para aquelas pessoas que tiveram que se dividir entre o estudo e o trabalho ou o estudo e o cuidar da família, defasagens de conteúdos, entre outros. Nesta competição meritocrática exige-se um esforço maior para aqueles que se encontram numa situação socioeconômica menos favorável, assim as vagas em sua grande maioria acabam ficando para as pessoas que vem de uma melhor condição financeira e que podem se dedicar exclusivamente aos estudos, sendo que: É notório que os avanços na educação da primeira infância, em médio prazo, resultam em uma maior permanência dos indivíduos na escola, contudo, as condições de trabalho, a evasão e a repetência, as condições de moradia e a desigualdade de gênero ainda limitam significativamente as oportunidades educacionais (CUNHA JÚNIOR; ARAÚJO, 2013, p. 3).

Anualmente a atividade do Cursinho UEM consiste em abrir uma turma de jovens e adultos para cada semestre, oferecendo de 80 a 90 vagas e recebendo alunos de diversos municípios de Maringá e região que pretendem entrar no ensino superior. Ao se observar a força de vontade dos que estão afastados dos estudos, objetivarem a entrada na universidade pública é nítido o desejo de autoformação e emancipação, os quais são conceitos abordados nas teorias do educador Paulo Freire. Segundo este, a emancipação está somente nos seres capazes de refletir sobre sua própria limitação, exercitando ações que transformem a realidade condicionante sem se perder em reflexões vagas e descomprometidas (FREIRE, 1981). Neste ponto, o papel do professor em desenvolver seu trabalho para que os alunos alcancem esta reflexão é imprescindível. Porém, antes de se cogitar se os alunos estão alcançando uma reflexão crítica sobre si mesmos e até mesmo sobre a sociedade, cabe neste estudo analisar a última prova aplicada com conteúdo específico de artes e compará-lo ao relatório deixado pelo professor da disciplina para refletirmos se o conteúdo pedido no vestibular está sendo trabalhado de forma mediada em sala de aula. A nível de elucidação, o Vestibular da UEM consiste em três provas aplicadas em dias diferentes, no caso do último intitulado Vestibular de Inverno 2014, ocorrido entre 6 a 8 de julho. A primeira prova consistiu em quarenta questões de alternativas múltiplas sobre conhecimentos gerais, aplicadas a todos os candidatos e contendo às seguintes disciplinas e respectivos conteúdos do Ensino Médio: Arte, Biologia, Filosofia, Física, Geografia, História, Matemática, Química e Sociologia. Das quarenta questões, duas foram referentes ao conteúdo da disciplina de Artes, a respeito dos conceitos de cultura e os movimentos artísticos e culturais modernos, melhor abordados enquanto vanguardas artísticas na Europa do século vinte. Em sala de aula, é mais nítido o ensino da história da arte do que dos conceitos sobre cultura. Por exemplo, em observação realizada nas disciplinas de estágio supervisionado na Educação Básica do curso de licenciatura em Artes Visuais da UEM, foi constatado que as vanguardas artísticas são apresentadas muitas vezes descontextualizadas, não permitindo aos alunos apreenderem por

meio de assimilações multidisciplinares com os conteúdos da disciplina de História, ou os conceitos sobre culturas que são vistos de maneira genérica e esporádica, onde poderiam ser potencializados em trabalho interdisciplinar com a disciplina de Sociologia. O assunto da aprendizagem vem à tona subsidiado na teoria de Freire onde “inexiste validade no ensino de que não resulta um aprendizado em que o aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado, em que o ensinado que não foi apreendido não pode ser realmente aprendido pelo aprendiz” (1996, p. 13). Uma proposta que se tem trabalhado nas escolas para tornar a aprendizagem em arte mais efetiva é a abordagem triangular de Ana Mae Barbosa, onde a história da arte, enquanto contextualização histórica deve estar aliada à leitura de imagem e o fazer artístico, sendo esta uma maneira de medir o que foi aprendido pelo aprendiz. Também deve-se considerar as diretrizes curriculares para o ensino da arte na educação básica, as quais pressupõe nos encaminhamentos metodológicos três momentos da organização pedagógica: teorizar, sentir e perceber e o trabalho artístico. Entretanto, na modalidade pré-vestibular esta prática não acontece com frequência e o foco fica apenas na história da arte com eventuais leituras de imagens de obras de arte para auxiliar a compreensão dos alunos e permiti-los refletir melhor acerca das questões de arte do vestibular. Prova de conhecimento específico de arte e análise de questões No site oficial da CVU, é possível encontrar, além dos gabaritos das provas aplicadas em vestibulares anteriores, os programas das provas de conhecimentos específicos, que no caso da prova especifica de arte tem por conteúdo: 1. Definições de arte e suas funções ao longo da História; 2. As expressões artísticas no Mundo Antigo e Medieval; 3. As expressões artísticas na época do Renascimento; 4. As expressões artísticas do Barroco ao Século XIX; 5. Arte Moderna: do Impressionismo à Arte Computacional; 6. Os Movimentos de Vanguardas no Brasil: do Modernismo aos dias atuais; 7. O cinema no Brasil: da Chanchada aos dias atuais; 8. A música popular e seus estilos na história do Brasil contemporâneo; 9. Arte e Mídia: Indústria Cultural e Meios de Comunicação. Estes conteúdos são aplicados em vinte questões de alternativas múltiplas com cinco proposições indicadas com os números 01, 02, 04, 08 e 16. Tendo por resposta correta a soma dos números associados às proposições verdadeiras. Neste estudo, ao analisar a última prova específica de arte, foi possível classifica-la da seguinte maneira: Cinco questões dentro do primeiro conteúdo (Definições de arte e suas funções ao longo da História), seis questões dentro do segundo (As expressões artísticas no Mundo Antigo e Medieval), uma questão dentro do terceiro (As expressões artísticas na época do Renascimento), uma questão dentro do quarto (As expressões artísticas do Barroco ao Século XIX), duas questões dentro do quinto (Arte Moderna: do Impressionismo à Arte Computacional), duas questões dentro do sexto (Os Movimentos de Vanguardas no Brasil: do Modernismo aos dias atuais), nenhuma questão dentro do sétimo (O cinema no Brasil: da Chanchada aos dias atuais), uma questão dentro do oitavo (A música popular e seus estilos na história do Brasil contemporâneo) e por fim duas questões dentro do nono conteúdo (Arte e Mídia: Indústria Cultural e Meios de Comunicação). Das vinte questões aplicadas nesta última prova (Vestibular de Inverno 2014) seis delas abordaram a Arte Clássica, seis a Arte Moderna, três a Arte Contemporânea e cinco foram anacrônicas, no sentido de abordar mais de um período histórico na mesma questão. Deste modo, se torna nítido a compreensão da

história da arte para que o candidato analise as proposições indicadas em cada questão, que como já foi falado, muitas vezes carregam um discurso ambíguo que o levam ao erro. A seguir será analisada quatro questões referentes as quatro distinções de período realizadas neste texto utilizando como base os clássicos livros sobre história da arte de Maria das Graças Vieira Proença Santos e Ernst Gombrich, frequentemente utilizados na elaboração da prova de conhecimento específico. Questão 02 do Vestibular de Inverno 2014, Prova 3, Arte

Fonte: Site oficial da Comissão Central do Vestibular Unificado

Nesta primeira questão, classificada por anacrônica por apresentar períodos distintos em cada proposição foi ordenado no primeiro conteúdo, ou seja Definições de arte e suas funções ao longo da História. Para Santos (2001), o que importa na pintura realista é a criação a partir de uma realidade imediata e não imaginada, desse modo, os artistas procuravam recriar os seres tais como eles são não se preocupando com a idealização da realidade, assim sendo a primeira proposição é falsa. A segunda proposição é verdadeira e o livro do filósofo Alexander Gottlieb Baumgarten mencionado chama-se Meditações filosóficas sobre algumas questões da obra poética, publicado em 1735. Dando sequencia, são incontáveis as relações entre arte e religião na história da arte. Santos (2001) descreve que a religião orientou toda a produção artística da civilização egípcia, então a terceira proposição é falsa. A civilização grega criou sua arquitetura, sua escultura e sua pintura "movidos por concepções muito diferentes" (SANTOS, 2001, p.25). Para a época, sendo que seus artistas não se limitavam a seguir nenhuma fórmula e puseram-se a “experimentar por conta própria” (GOMBRICH, 2013, p.65). Assim sendo, a quarta proposição é dúbia, mas não é falsa. Já a última proposição é falsa, pois “os

românticos procuraram se libertar das convenções acadêmicas em favor da livre expressão da personalidade do artista” (SANTOS, 2001, p.126). O gabarito no site oficial da CVU aponta como verdadeiras as proposições de número 02 e 08, assim sendo, o candidato precisaria estar com o conhecimento em arte latente em sua cabeça para ter acertado a questão completa. Questão 03 do Vestibular de Inverno 2014, Prova 3, Arte

Fonte: Site oficial da Comissão Central do Vestibular Unificado

A segunda questão aqui analisada foi enquadrada no conteúdo das expressões artísticas no Mundo Antigo e Medieval, classificada por Arte Clássica mesmo tendo proposições que relacionem a arte romana com manifestações artísticas de outros períodos. Assim, as duas primeiras proposições são falsas. Coliseu não era um circo, mas sim um anfiteatro (exemplo de pegadinha) e a produção escultórica dos romanos retratavam os “traços particularizadores de uma pessoa” (SANTOS, 2001, p.42). A terceira proposição é verdadeira, pois somente através dos afrescos das cidades próximas do Monte Vesúvio que se tem ideia da pintura romana antiga (GOMBRICH, 2013), mas nem Gombrich e nem Santos mencionam a data da redescoberta dos afrescos em Herculano e Pompéia, então o candidato precisaria ter memorizado esta data de outra fonte bibliográfica. Aumentando a complexidade da questão, a quarta proposição também se faz verdadeira, mesmo com a licença poética em dizer que o uso das abobadas de aresta permitia que os construtores romanos rasgassem grandes vãos na parede, pois a origem deste elemento arquitetônico só foi possível devido a grande especialidade que os romanos tinham em construir abóbadas (GOMBRICH, 2013) o que tornavam os espaços internos da construção mais amplos. A última proposição

desta questão pode ser contrariada, pois o auditório dos anfiteatros não precisava mais ser assentado nas encostas de colinas já que era construído usando filas sobrepostas de arcos (SANTOS, 2001). Assim o candidato que estudou muito acertaria a questão completa registrando as proposições 04 e 08. Questão 17 do Vestibular de Inverno 2014, Prova 3, Arte

Fonte: Site oficial da Comissão Central do Vestibular Unificado

A terceira questão que tem por conteúdo a Arte Moderna vem de encontro ao candidato que pretende entrar no curso de Arquitetura e Urbanismo. Novamente nem Gombrich e nem Santos são suficientes para confirmar a primeira proposição, entretanto em Frankfurt ocorreu o Congresso Internacional de Arquitetura Moderna de 1929 onde projetos de conjuntos habitacionais foram desenvolvidos com base no conceito de Padrão mínimo (FOLZ, 2005). A segunda proposição é falsa na medida em que Frank Lloyd Wright formulou a tendência chamada organicismo, integrando o edifício com a natureza (SANTOS, 2001). Le Corbusier planejou e desenvolveu a planta de Chandigargh apoiado nos conceitos de Urbanismo Progressista, informação esta que pode ser encontrada na internet, mas não nos livros dos historiadores mencionados. Enfim segundo o gabarito da CVU, esta terceira proposição está correta. No caso da quarta proposição, não foi possível encontrar referências bibliográficas que confirmem a criação dos panos de vidro na América do Norte do século XIX, portanto é falsa. Mies van der Rohe é um exemplo de arquiteto alemão que se destacou nos Estados Unidos da América após sua emigração, o que

faz da última proposição verdadeira e torna a somatória das proposições 01, 04 e 16 a resposta correta desta questão. Questão 19 do Vestibular de Inverno 2014, Prova 3, Arte

Fonte: Site oficial da Comissão Central do Vestibular Unificado

Já na penúltima questão da prova de conhecimento específico em artes, é requisitado maior conhecimento do candidato e também sintonia com o que vem acontecendo na Arte Contemporânea. Neste estudo, esta questão foi pressuposta enquanto conteúdo de Arte e Mídia: Indústria Cultural e Meios de Comunicação. Para o candidato acertar a resposta ele deveria marcar as proposições 01 e 06, onde a primeira não se consegue comprovar facilmente nas biografias consultadas neste estudo, embora na França exista o Museu de Histórias em Quadrinhos de Angoulême, o que leva a entender esta mídia como objeto de arte que inclusive faz parte de acervos permanentes em museus e centros culturais, como na Gibiteca de Curitiba. Como se não fosse óbvia a última proposição vale lembrar que “o cinema pode ser apontado como a expressão mais característica de uma arte criada a partir de descobertas tecnológicas, produzida em série e voltada para o consumo de grandes massas” (SANTOS, 2001, p.185). A segunda proposição pode ser considerada falsa, pois no século XIX, mesmo período da invenção do daguerreotipo, Degas já sofria influência da fotografia em seu trabalho (SANTOS, 2001). A terceira proposição se mostra dúbia e pede do candidato o conhecimento sobre o trabalho deste artista, ainda assim, nesta pesquisa não foi encontrado nenhum dado que a comprove como verdadeira. Ao contrário do que afirma a quarta proposição, a videoarte está ligada à própria expansão das pesquisas nas artes plásticas e nas experimentações com imagens fotográficas e fílmicas, portanto a proposição é falsa.

Algumas Reflexões Com base na análise efetuada, torna-se difícil afirmar que uma determinada prova avalia conhecimentos básicos do candidato, quando os conteúdos presentes nas questões se mostram em nível de ensino superior. Tem-se, por exemplo, em uma escola pública de Maringá a falta da disciplina de Artes no terceiro ano do Ensino Médio o que ainda evidencia uma discriminação muito forte ao tratar a matéria como dispensável dentro do currículo disciplinar das escolas. A arte, assim como a filosofia e a sociologia teve momentos difíceis na história da educação, foi quase excluída dos currículos escolares e ainda sofre uma discriminação muito grande na educação básica. Sobre as inquietações descritas sobre o ensino da arte na educação básica, o professor Geovanio Rossato, comenta que muitas pessoas se esquecem de que inclusive a arte para o mercado de trabalho é muito importante. São vários os campos e áreas que hoje se abrem à necessidade das artes enquanto conhecimento, então é algo que ainda precisa ser superado nos nossos meios estudantis. Desse modo, pedir este conhecimento para o vestibular é uma forma de mostrar sua importância para as pessoas. Por exemplo, temos o caso de concursos jurídicos, que depois de começarem a pedir conhecimentos em sociologia e filosofia, as pessoas começaram a prestar mais atenção e viram que estas faculdades são importantes para o desempenho da sua profissão. O Coordenador do Cursinho da UEM ainda considera que a disciplina de arte é de extrema importância para a formação das pessoas como um todo e não só para o vestibular. Mas o que se pode tirar da analise destas questões é que o professor de Artes deve estar muito bem preparado para apresentar todo este conteúdo para seus alunos, seja na educação básica, ou nos cursinhos, mesmo sendo evidente que isto é humanamente impossível. Para a plena realização da prova de conhecimento específico de arte, o candidato precisa ter acesso a muita bibliografia sobre arte e também arquitetura, já que a concorrência para o curso de Arquitetura e Urbanismo é a maior e a prova é elaborada por uma banca de professores dos departamentos de História, Música, Educação e principalmente de Arquitetura indicados pela Comissão Central do Vestibular Unificado. Cabe ao professor de Artes auxiliar o acesso a esses conhecimentos específicos para que ele e aqueles alunos que já optaram por prestar vestibular para o curso que contempla a prova de artes como conteúdo específico construam juntos uma relação efetiva entre ensino e aprendizagem para englobar todos estes conteúdos. Neste aspecto, é importante que o docente também se preocupe com sua formação contínua e possa manter o material didático sempre atualizado com novas fontes bibliográficas. Prática docente O Cursinho UEM enquanto trabalho social, de certo modo, é uma via de mão dupla porque não só quer contemplar alunos com menor formação escolar e menor preparação para que possa passar na prova, mas também procura contribuir com a profissionalização das pessoas que colaboram com o projeto, sejam professores, monitores ou equipe técnica. O programa tem contribuído efetivamente, ao longo de sua existência, para profissionalizar sua equipe e, sobretudo os professores, pois eles se deparam com uma heterogeneidade muito grande em sala de aula. Tem pessoas que às vezes estão vinte anos, ou até mais sem estudar e que entram no Cursinho pelo critério idade. Então os professores se depararam com esse e também com outro público que às vezes já se encontra mais bem preparado para o

vestibular. Então o que acontece com esse professor? Mesmo diante das dificuldades, ele acaba ganhando bagagens, adquirindo uma habilidade acadêmica, pedagógica e uma formação que o capacita em larga escala para enfrentar as salas de aulas mais adversas. Já houve caso de professor que ministrou aulas para cegos e surdos, para quem estava preparado para a prova e pra quem há trinta anos não estudava. Cabe ao professor dar conta dessa ampla realidade e tentar ser um bom professor para todas essas diferenças. Assim, de acordo com Geovanio Rossato, os professores que permanecem um bom tempo no Cursinho saem efetivamente preparados para serem professores. Seguindo a mesma linha de pensamento, de acordo com Silva e Araújo (2010, p.176) de que “[...] é impossivel se pensar a formação continuada do Arte/Educador sem proporcionar-lhes exercícios de criação, acesso ao universo da arte, compreender os contextos habitados pelos diferentes fenômenos culturais e artísticos”. Segundo uma pesquisa realizada, por algumas bolsistas do Cursinho sob supervisão de Geovanio Rossato, “o projeto entre 2004 a 2012 profissionalizou entre 80 a 100 professores, que iniciaram suas atividades docentes no Cursinho UEM como acadêmicos ou recém-formados os quais atualmente estão inseridos no mercado” (MIRANDA; OLIVEIRA; ROSSATO, 2012, p. 3). O atual professor da disciplina de Artes é acadêmico do curso de Licenciatura em Artes Visuais. Sua trajetória iniciou no ano de 2012 a ministrar aulas juntamente com outra acadêmica do curso. Em 2014, entretanto, as aulas começaram a ser ministradas por apenas um destes cujo é responsável agora por todo o conteúdo da pré-história ao pósmodernismo. Os Estudos Visuais tem mostrado seu potencial de criar novos objetos de estudos não somente pautados na premissa de que a cultura contemporânea é uma cultura imagética, pois neste campo é necessário analisar as experiências visuais em situações, contextos e períodos históricos diversificados (PEGORARO, 2011). A investigação desde campo se faz necessária para se compreender as Culturas Visuais e assim buscar a criação de novas situações de ensino e aprendizagem, de preferência a superar os modos hegemônicos de apreender pelos livros de história da arte, já que está sendo comprovada a urgente importância em se analisar as relações entre visualidade, visibilidade e poder em nossos dias. Considerações Finais Buscamos neste estudo reflexões e possíveis soluções para a prova de conhecimento específico sobre arte, no Cursinho pré-vestibular ofertado pela UEM, quanto à aprendizagem dos conteúdos. As análises efetuadas evidenciaram que o que é pedido na prova de conhecimentos específicos de arte está acima do conteúdo dos livros de história da arte evidenciados. Sendo estes livros referências do material didático utilizado no projeto, presumimos que a disciplina de Artes ofertada ali está aquém do que é pedido no vestibular. Deste modo a formação docente, a capacitação continuada, as avaliações dos processos de ensino, bem como, apoio em referenciais de qualidade, são necessárias para que as aulas consigam atender os objetivos propostos pelo programa do referido cursinho. Esta investigação considera o professor de Artes também como um estudante permanente, que necessita se emancipar e assim auxiliar seus alunos a também conquistarem esta emancipação de forma interventiva no mundo.

Referências ALBUQUERQUE, Carlos. 1886: Nasce o arquiteto alemão Mies van der Rohe. Disponível em: . Acesso em: 4 set. 2014. BARBOSA, Ana Mae. A cultura visual antes da cultura visual. Revista Educação, Porto Alegre, v. 34, n. 3, p. 293-301, set./dez. 2011. Disponível em: < http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/faced/article/viewFile/9288/6778>. Acesso em: 14 set. 2014.

BARBOSA, Ana Mae; CUNHA, Fernanda Pereira da (Org). Abordagem triangular no ensino das artes e culturas visuais. São Paulo: Cortez, 2010.

Comissão Central do Vestibular Unificado. 2014. Disponível em: . Acesso em: 4 set. 2014.

CUNHA JÚNIOR, Adenilson Souza; ARAÚJO, Maria Inêz Oliveira. O lugar da aprendizagem ao longo da vida nas políticas públicas para a educação de pessoas jovens e adultas no Brasil. Revista Brasileira de Educação de Jovens e Adultos, Salvador, v. 1, n. 2, p. 116129, 2013.

FERNANDES, Daniela. França inaugura museu de história em quadrinhos. 2009. Disponível em: . Acesso em: 4 set. 2014.

Folha de São Paulo. Ranking universitário folha. 2014. Disponível . Acesso em: 14 set. 2014.

em:

FOLZ, Rosana Rita. Industrialização da habitação mínima: discussão das primeiras experiências de arquitetos modernos - 1920-1930. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte, v. 12, n. 13, p. 95-112, dez. 2005.

GOMBRICH, Ernst Hans. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 2013.

Itaú Cultural. Videoarte. 2008. Disponível em: . Acesso em: 4 set. 2014.

MIRANDA, Cíntia Daniele de; OLIVEIRA, Daniele Monteiro da Silva; ROSSATO, Geovanio. Cursinho UEM: formação para a democratização da escolaridade e desenvolvimento profissional. In: FÓRUM DE EXTENSÃO E CULTURA DA UEM, 10., 2012, Maringá. Anais... Maringá: UEM/PEC/DEX, 2012.

PEGORARO, Éverly. Estudos Visuais: principais autores e questionamentos de um campo emergente. Domínios da Imagem, Londrina, n. 8, p. 41-52, maio 2011. Disponível em: < http://www.uel.br/revistas/dominiosdaimagem/index.php/dominios/article/view/124/87> Acesso em: 14 set. 2014. TEIXEIRA, Bruna Talita; ESSER Renata; FACHIN, Stella. Chandigarh. 2005. Disponível em: . Acesso em: 4 set. 2014.

André Luís Onishi Ator, Músico, Graduando em Artes Visuais – UEM e Professor do Cursinho Pré-vestibular UEM – Disciplina Artes. Link do currículo lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4316424H1. Sonia Maria da Costa Mendes, Doutora em Comunicação e Semiótica – PUC/SP; Mestre em Educação – UNESP/SP. Docente do Departamento de Teoria e Prática da Educação – Artes Visuais – UEM; Docente do Programa de Mestrado em Ensino de Linguagens e suas Tecnologias – Unopar. Link do currículo lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4775944E9.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.