Da Biblioteca Nacional a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro: traços do ensino de conservação na formação de Bibliotecários

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Versão revista em abril 2016 a partir do texto publicado nos Anais do 2º Encontro Luso-Brasileiro e Conservação e Restauração, realizado em São João Del Rei em 2013. [O autor declara que nada foi acrescentado e/ou atualizado].

Da Biblioteca Nacional a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro: traços do ensino de conservação na formação de Bibliotecários. Ms. Fabiano Cataldo de Azevedo – professor do curso de Biblioteconomia da UNIRIO

Resumo Apresenta histórico do ensino de conservação na formação de Bibliotecários a partir da criação do curso na Biblioteca Nacional com objetivo de reconstituir a linha genealógica da maneira em que o tema passou a fazer parte do currículo do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Nesta sequência comenta o panorama do ensino da disciplina Políticas de Preservação em Acervos Bibliográficos, e do resultado destes dois anos em que passou a ser obrigatória, tendo mostrado o envolvimento e interesse cada vez maior dos alunos. Palavras chave: Ensino. Conservação. Biblioteconomia.

Versão revista em abril 2016 a partir do texto publicado nos Anais do 2º Encontro Luso-Brasileiro e Conservação e Restauração, realizado em São João Del Rei em 2013. [O autor declara que nada foi acrescentado e/ou atualizado].

1 Introdução Esta comunicação será apresentada em duas partes: a primeira objetivará destacar pontos referentes ao histórico do ensino de Conservação1 na formação de Bibliotecários na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) a partir da criação do curso de Biblioteconomia na Fundação Biblioteca Nacional (a partir daqui Biblioteca Nacional, pelo fato da denominação estar mais no âmbito do período histórico que trataremos); a segunda parte tem como foco dar a conhecer o ponto de situação deste ensino. Nossa abordagem será panorâmica, pois pretende-se ilustrar parte de um cenário específico. A base teórica que sustenta a primeira parte é o relatório que a Profa. Dra. Simone da Rocha Weiztel, diretora da Escola de Biblioteconomia da UNIRIO, especialista em Formação e Desenvolvimento de Coleções, apresentou após concluir investigação da Biblioteca Nacional. De 2007 a 2009, com bolsa financiada pela BN, a professora reconstruiu a “Origem e Fundamentos do Ensino de Desenvolvimento de Coleções no Brasil” a partir de documentação do acervo da Instituição. A análise incidiu, sobretudo, nos relatórios e currículos o que revelou assuntos relacionados aos temas desta comunicação, como veremos a seguir. Todavia, para além destes dados, este trabalho ainda integra nossa base metodológica para seguir na mesma seara no que tange ao ensino de conservação/preservação. No cerne desta abordagem apresentaremos algumas considerações acerca do conteúdo da disciplina “Políticas de Preservação em Acervos Bibliográficos” que vem sendo ministrada desde 2011 para os alunos de Biblioteconomia da UNIRIO, bem como reflexões de resultados (que se transformarão em pesquisa futura) deste ensino como componente curricular obrigatório. E ainda, o feedback que os alunos vem dando da relação deles com seus estágios, mercado de trabalho e como alguns estão buscando formação mais especializada e sua relação com o profissional conservador/restaurador. Por se tratarem de reflexões iniciais, certamente crê-se que a oportunidade de apresentar tal discussão em um fórum como este favorece o diálogo e contribui para o aprimoramento.

Utilizo o termo “Conservação” para estar em consonância com a época que o curso começa, ou seja, no início do século XX. 1

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2 Ensino de conservação na formação de Bibliotecários na UNIRIO A Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UNIRIO) tem sua origem na criação do curso para formação de Bibliotecários na Biblioteca Nacional, pelo Decreto 8.835, de 11 de Julho de 1911. Por falta de alunos, o curso começa a funcionar efetivamente na noite de 10 de Abril de 1915 com a aula inaugural “A função do Bibliotecário”, oficiada por Constâncio Alves.

Fig. 1. Mesa que presidiu à solenidade da inauguração do curso de biblioteconomia, na Biblioteca Nacional, em 10 de abril de 1915. Vêm-se da esquerda para direita: João Gomes do Rego, sub-bibliotecário diretor da seção de numismática, Dr. Constâncio Alves, bibliotecário diretor da 1ª seção, conselheiro Dr. Ruy Barbosa, Dr Manoel Cícero Peregrino da Silva, diretor da Biblioteca Nacional, Dr. Ancelmo Lopes de Souza, bibliotecário diretor da 3ª seção, Alfredo Mariano de Oliveira, secretário da Biblioteca Nacional. Acervo: BN Digital.

A criação deste curso seguiu o modelo curricular da École Nationale des Chartes, um instituto da Universidade de Sorbonne, que há mais de um século, mantém o objetivo de recrute et forme des chercheurs expérimentés, notamment des futurs conservateurs du patrimoine et des bibliothèques, en leur dispensant un enseignement historiographique de haut niveau tourné vers l'analyse des documents de toutes sortes (matériaux archéologiques, livres, écrits, œuvres d'art, supports audiovisuels et électroniques, etc.), l’étude de l'évolution du médio, du néo-latin et des langues romanes, ainsi que l'histoire du droit et des institutions (ÉCOLE NATIONALE DES CHARTES. Présentation.)

Inferia-se que, dado as características do currículo francês, havia desde o início, uma preocupação com o tema “Conservação”i. Não obstante, esta genealogia entre um curso e outro ainda não ter sido reconstruída, a pesquisa feita pela Profa. Dra. Simone da Rocha

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Weitzel revelou que, em 1917 no curso de formação de bibliotecários, as disciplinas Bibliografia, Iconografia e Numismática possuíam no conteúdo programático vários elementos referentes ao tema Conservação. A disciplina Bibliografia corresponde aos estudos materialísticos do livro, dentre eles, sua história, composição e fabrico. Naquele ano foi ministrada por Constâncio Alves que estabeleceu o seguinte programa: 1. – Bibliographia – Noções preliminares. 2. – Typographia – Composição e impressão 3. – O Livro. Ornamentação – Ilustração – Ex-libris. – Formato. 4. – Encadernação. 5. – O Papel. História e fabricação. 6. – Conservação e restauração dos livros. 7. – Invenção da imprensa. Transição do livro manuscripto para o impresso. Primeiros impressores. 8. – Caracteristicas do livro antigo e do moderno. – Incunabulos e cimelios. – Livros raros e preciosos. – Falsificações bibliographicas. 9. – O jornal – A revista – O folheto – Publicações periodicas. 10. – Classificação – Systemas principaes. 11. – Classificação decimal – Suas modificações. 12. – Catalogação – Arrumação dos livros e preparo para a catalogação – bilhete systematico – A ficha. 13. – O catalogo – Fontes de informação – Repertorios. 14. – A imprensa no Brasil – Livros e jornaes – Impressores e editores – Bibliographia nacional – Fontes de informação. 15. – Bibliothecas – Historia – Construcção – Iluminação – Mobiliario. 16. – A Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro. Fundação e phases do seu desenvolvimento. – Bibliothecas no Brasil. 17. – Organisação e administração das bibliothecas – Pessoal – Estudos geraes e technicos. – Exames e concursos. 18. – Secretaria e Archivo – Legislação – Regulamentos – Direitos autoraes. 19. – Serviço de informações. – Serviço de permutações internacionaes. Emprestimo domiciliar. – Acquisição e remessa de livros, manuscriptos, estampas e peças numismáticas para as secções. (BIBLIOTHECA NACIONAL (Brasil), 1917 apud WEITZEL, 2009). Grifo nosso.

Já Iconografia, ministrada por Aurélio Lopes de Souza era dividida em parte teórica e prática. A primeira era composta de 29 pontos, onde no 27º constava: Conservação e restauração das estampas. Descollamento. Engommagem. Alvejamento. Tiragem de nodoas. Descoloração, Reparação de dilacerações e lacunas. Forração e entelação. Restauração do desenho. Reparação do pergaminho. Montagem simples de estampas. Montagem em passe-partout.

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Por fim, ainda no ano de 1917, a disciplina Numismática, ministrada por João Gomes do Rego possuía 24 pontos. Conservação era o último e estava neste conjunto: Exame de uma moeda. Cuidados. Conservação. Decalque. Processos de moldagem.

Continuando a perquirir a análise de Weitzel (2009), em 1936 o ponto “Conservação e restauração de livros” ainda constava no programa de Bibliografia. Neste mesmo ano somaram-se os pontos 9 e 11, Bibliothecas: construcção, organização, legislação e Arrumação dos livros nas bibliotecas, respectivamente. Cabe observar que estes dois pontos, atualmente, guardando as alterações nos nomes, são elementos presentes nas disciplinas Organização e Administração de Bibliotecas (OAB) e sob a ótica da preservação, na disciplina Políticas de Preservação em Acervos Bibliográficos (PPAB). Nos anos de 1940 houve uma proposta de curso orientada por Heloísa Cabral da Rocha Werneck para fomentar o projeto de reforma da Biblioteca Nacional. De acordo com o plano, o curso deveria ser organizado da seguinte maneira (WEITZEL, 2009): a) curso de nível superior: oferecido pela BN integrado à Universidade do Brasil com duração de dois anos; b) curso de bibliotecários-auxiliares: oferecido pela BN e bibliotecas estaduais com duração de dois semestres; c) curso de catalogadores municipais: sob a orientação do Conselho Nacional de Bibliotecários (proposta de criação) e direção do Instituto Nacional do Livro com duração de dois semestres. Pouco se alterou da estrutura do nível superior. Dado interessante foi proposta da disciplina “Higiene e limpeza dos livros e das bibliotecas” no curso de formação de catalogadores. Em 1969 os Cursos da BN foram incorporados à Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado da Guanabara (FEFIEG)ii, atual UNIRIO. A partir de então, por um longo período, seguindo a tradição, o tema “Conservação” continuou a ser abordado no âmbito de outras disciplinas, como Organização e Administração de Bibliotecas (OAB); Formação e Desenvolvimento de Coleções (FDC) e História do Livro e das Bibliotecas (sobretudo a partir dos anos 1980iii). Conservação

era

oferecida

como

disciplina

optativa

para

os

alunos

de

Biblioteconomia, pela Escola de Arquivologia. Em 2001 a Escola da Biblioteconomia da UNIRIO promoveu o I Encontro Sobre o Ensino de Preservaçãoiv como forma de consolidar uma discussão acerca da necessidade de

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implementação de uma disciplina voltada para Preservação em Bibliotecas. Como resultado deste esforço, em 2010 a disciplina Políticas de Preservação em Acervos Bibliográficos (PPAB) passou a compor a grade curricular de disciplinas oferecidas pelo Departamento de Estudos e Processos Biblioteconômicosv. Algumas conexões deste percurso ainda estão por serem estabelecidas e pretende-se reconstruir de 1917 aos dias atuais, conteúdos e programas que tangencieam ou específico de conservação/preservação. Buscar-se-á ainda perceber os enfoques, se mais voltados para intervenção ou para gestão. A genealogia desta disciplina no âmbito da nossa Universidade interessa-nos sobremaneira, visto que corrobora para afirmar algo que Nassiff (1992, p. 42) disse e que concordamos totalmente: "[...] a preservação de documentos é uma atividade muito complexa. É necessário encará-la não como um serviço periférico, mas como parte integrante da rotina de uma instituição [...]".

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2.1 Ponto de situação do ensino Conservação na Escola de Biblioteconomia da UNIRIO: uma prática interdisciplinar.

A partir do breve histórico apresentado acima, passamos a expor a metodologia aplicada desde 2011, na disciplina PPAB (60 horas), ministrada na UNIRIO. De acordo com o Projeto Político Pedagógico, consta com esta estrutura:

EMENTA

Apresentação dos conceitos, princípios envolvidos nas políticas de preservação de acervo bibliográfico. Conceitos e princípios do patrimônio bibliográfico. Políticas de preservação do patrimônio bibliográfico. Noção do instrumental básico para a identificação dos problemas de preservação do acervo bibliográfico e para o planejamento de ações de conservação. Preservação digital. A política de preservação e o desenvolvimento de coleções.

OBJETIVOS

a) Compreender a necessidade de estabelecimento de políticas e programas de preservação e conservação do patrimônio bibliográfico. b) Capacitar a elaboração e gerenciamento de ações de preservação e conservação em bibliotecas. c) Oferecer noções de gerenciamento de conservação em bibliotecas. d) fornecer conhecimentos técnicos na área de conservação de documentos em suporte papel, apresentando aos profissionais de Biblioteconomia o instrumental básico para a identificação dos problemas de preservação do acervo.

Desde o início esta disciplina tem primado por um caráter teórico com foco na formação de gestores, não de conservadores-restauradores. A disciplina é ensinada tendo como suporte outras duas disciplinas, que consideramos fundamental na formação do Bibliotecário Gestor da Preservação, ou seja, Formação e Desenvolvimento de Coleções (FDC) e Organização e Administração de Bibliotecas (OAB). Além disso, busca-se uma relação interdisciplinar com conservadores-restauradores, seja por leitura e análise de textos produzidos por estes, seja convidando-os para oficiarem palestras. Acredita-se que esta relação deve ser fluída e pautada na ética, pois peremptoriamente um trabalho de gestão estará condicionado ao fracasso se o gestor se supuser soberano e suficiente. Como componente curricular, Políticas de Preservação de Acervos Bibliográficos é oferecida para alunos de Bacharelado e Licenciatura em Biblioteconomia a partir do 7º período, sendo obrigatório terem cursado FDC e OAB.

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Em 2011, a primeira turmavi começa com o seguinte conteúdo programático:

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

Preservação de acervos bibliográficos: deslocamentos do passado no presente A Preservação de acervos bibliográficos como prática biblioteconômica Acervos de Memória Fatores de deterioração em acervos bibliográficos Políticas de Preservação em Acervos Bibliográficos Reprodução de documentos Segurança do acervo Higienização e acondicionamento Ética na Preservação e a atuação interdisciplinar Se no primeiro momento os alunos relatavam frustação pelo conteúdo voltado para gestão e não para ensino de técnicas, nas turmas que se seguiram observou-se o contrário, ou seja, uma demanda dos próprios para temas ainda mais no âmbito de planejamento e gerenciamento. Lançando mão de termos em nossa Universidade além de Biblioteconomia, os importantes e tradicionais cursos de Museologia e Arquivologia, ambos com componentes curriculares voltadas para algumas técnicas, alunos com interesse para estas áreas são incentivados a cursarem as disciplinas cujo conteúdo atenda suas necessidades. Ademais, estamos na cidade o Rio de Janeiro, um local com grande concentração de instituições culturais que oferecem cursos nas áreas de preservação e conservação. Além de cursos de especialização. Destarte, verificamos que muitos de nossos alunos, depois de buscar orientação, participam de atividades de formação no Museu de Astronomia e Ciências Afins (em maior número devido à natureza continuada de cursos de formação e capacitação); Fundação Casa de Rui Barbosa, Fundação Biblioteca Nacional, Arquivo Nacional e Fundação Nacional de Artes (sobretudo em atividades oferecidas pelo Centro de Conservação e Preservação Fotográfica). Assim, eles complementam a formação. Outro reflexo de relevante nota é o interesse crescente do tema para Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC). Abaixo seguem um quadro relacionando tema/fase:

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Tema

Situação

Análise de Políticas de Preservação de Bibliotecas Universitárias.

Defendido (2013)

Política de Segurança Física em Bibliotecas e Protocolos contra incêndios e evacuação do prédio. Levantamento quantitativo e qualitativo do tema “Políticas de Preservação” em periódicos de Biblioteconomia e Documentação Levantamento quantitativo e qualitativo do tema “Políticas de Preservação” em fóruns científicos de Biblioteconomia e Documentação Análise da percepção sobre os temas “Preservação e Conservação” entre estudantes de Biblioteconomia da UNIRIO

Defendido (2013) Em andamento Em andamento

Em andamento

Além das orientações em andamento, há três projetos, dois de pesquisa e outro de extensão, sobre os quais passamos a comentar a seguir: Projeto de extensão (em andamento) “Diagnóstico de conservação da Coleção Memória da Biblioteconomia” Este projeto está sendo realizado numa parceria entre professores do Departamento de Estudos e Processos Biblioteconômicos e a Biblioteca Central da UNIRIO como um produto de um projeto de pesquisa. O objetivo deste projeto é realizar o diagnóstico de conservação desta coleção que reuni o acervo básico-histórico dos Cursos da BN.

Em seguida

realizaremos a higienização e pequenos reparados, na fase de aprofundamento do que eles tiveram na formação promovida em sala de aula. O grupo de trabalho é formado por três professores e seis alunos, dentre estes quatro cursaram a disciplina PPAB e já na época manifestaram interesse para trabalhos futuros. Seja como for, todos passaram por treinamento prévio. Este teve duas etapas, a primeira no Núcleo de Preservação e Conservação de Bens Culturais (NUPRECON), espaço de ensino e pesquisa gentilmente cedido pela Escola de Museologia da UNIRIO para realizar estudos se caso e o segundo na sala Guilherme de Figueiredo – local de guarda desta Coleção Especial na Biblioteca Central. O trabalho de diagnóstico e fases posteriores serão executados no “Eterna” – Laboratório de Conservação-Restauração e Geração de Imagem – sediado dentro da Biblioteca Central da UNIRIO. Vale dizer ainda que outro fruto positivo da implantação da disciplina foi o estabelecimento desta linha de ação e canal de treinamento aberto pela diretora da biblioteca, a bibliotecária Marcia Valéria da Silva de Brito Costa.

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Projeto de pesquisa “História do conceito e prática de conservação em Bibliotecas”

Esta investigação procura identificar, com recorte cronológico no início do século XVII a primeira metade do XX, procedimentos que visavam à conservação, desde higienização até métodos de fumigação em Bibliotecas.

Para evitar anacronismos e

observações distorcidas, buscamos adotar como base teórica para a história dos conceitos o livro “Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos históricos” (Contraponto, 2006) do historiador alemão Reinhart Koselleck. A pesquisa vem se dedicando a mapear manuais, livros, anais de congressos a partir da produção francesa (séculos XVII a XIX) e americana (primeira metade do século XX) cuja temática tangenciam o tema proposto. Projeto de pesquisa “Análise da percepção sobre os temas ‘Preservação e Conservação’ entre estudantes de Biblioteconomia da UNIRIO”

Este trabalho busca, através da aplicação de um questionário a alunos que cursaram PPAB, compreender a visão dos alunos de temas relacionados à “Preservação e Conservação”, destes elementos do programa da disciplina a questões conceituais. Dentre as perguntas, para este fórum cabe destacar a quinta questão: Como você analisa o papel do profissional conservador-restaurador?”. Dos 50 enviados, 34 até o momento responderam. Em todas as respostas não houve nenhum tipo de percepção negativa, muito pelo contrário. Supomos que isto se deve a forma como a disciplina vem sendo ministrada, bem como a participação destes alunos em atividades acadêmicas interdisciplinares, como mencionado anteriormente. Ainda não se pode realizar uma análise qualitativa, porém, à guisa de exemplo seguem abaixo algumas respostas:

1. De grande importância, pois o mesmo e responsável não só pela preservação de documentos antigos, mas também dos documentos atuais. 2. Em plena era da digitalização, considero que a atuação deste profissional seja de suma importância, pois para que haja a preservação digital é necessário que a obra esteja em perfeitas condições. Não estando, se faz necessárias ações pertinentes à preservação. Contudo, este processo deve ser acompanhado pelo bibliotecário que deve conhecer pelo menos o básico sobre o assunto. 3. Fundamental, relevante e muito pertinente ao campo biblioteconômico. 4. Quem conserva, restaura e preserva... Mantém a informação e seu acesso. 5. Este profissional é fundamental para trabalhar em consonância com o bibliotecário, pois o conservador-restaurador domina as técnicas de preservação, sendo o profissional capacitado para os trabalhos minuciosos e mais intensos (como a restauração, pequenos reparos com princípios em conservação, consultorias de diagnóstico de ambiente) do universo da

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preservação. O conservador-restaurador de maneira alguma rouba o papel do bibliotecário, e sim agrega valor a um trabalho que é multidisciplinar. Fundamental. Se estivermos falando em preservação, este profissional é peça-chave no processo. Com seu conhecimento em preservação e restauração, saberá antes de tudo, evitar ao máximo que uma obra se deteriore ao ponto de precisar ser restaurada. E se não for possível evitar, saberá a maneira adequada para colocar em prática essa restauração. O papel do profissional é de extrema importância para as Instituições e para formação de novos profissionais. A delicadeza do trabalho requer dedicação, competência e eficiência para que se prolongue a vida útil do exemplar. Penso que o papel deste profissional muito contribui para a área da Biblioteconomia, mas ele não deve por de lado o papel do bibliotecário como agente de preservação de um acervo, os dois profissionais devem juntos trabalhar para este fim. De extrema importância. O papel desse profissional é de extrema importância. Ele precisa conhecer de forma ampla as obras nas quais está trabalhando para realizar um bom trabalho de conservação e restauração, reconhecer causas da deterioração do material para estabelecer critérios coerentes para realizar a atividade. O papel do profissional conservador-restaurador é de vital importância para uma sobrevida aos acervos. Analiso esses profissionais como colegas de trabalho, pois são essenciais para a biblioteconomia. Este trabalho é de grande importância e responsabilidade. Requer muito cuidado e demanda constante estudo, pois danos irreversíveis podem ser causados em uma obra, que não poderá ser substituída.

Considerações finais No que tange ao primeiro ponto, ou seja, o histórico do ensino de conservação na formação de Bibliotecários, o trabalho de Weitzel (2009) no acervo da BN foi fundamental para responder uma série de indagações e abriu uma linha metodológica importante que vem nos permitindo reconstituir este caminho anterior a criação do curso e depois o mesmo deixa o prédio sede da Biblioteca Nacional. Sobre ensino da disciplina Políticas de Preservação em Acervos Bibliográficos, o resultado destes dois anos em que passou a ser obrigatória, tem mostrado o envolvimento e interesse cada vez maior dos alunos. Se no início, percebia-se uma frustação dos discentes ao notarem que o escopo não era prático, agora compreendem a necessidade do conteúdo e há um número significativo de alunos que buscam cursos para aprofundar o conhecimento da área. A procura do tema como objeto de pesquisa nos Trabalhos de Conclusão de Curso é um relevante indicativo. Outro bom resultado é o estabelecimento de parcerias com a Biblioteca Central da UNIRIO e com demais colegas de áreas afins.

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Referências BIBLIOTHECA NACIONAL (Brasil). Programmas do curso de Bibliotheconomia para o anno de 1917. Rio de Janeiro: Officinas Graphicas da Bibliotheca Nacional, 1917. 8 p. EVANS, G. Edward. Developing library and information center collections. 4th. ed. Englewood, Colorado: Libraries Unlimited, 2000. FOOT, Mirjam M. Preservation of the National Collection. In: LUSENET, Yola de (Ed.). Preservation Management: between policy and practice. Amsterdam: European Commission on Preservation and Access, 2000. HAZEN, Dan C. Desenvolvimento, gerenciamento e preservação de coleções. In: PLANEJAMENTO de preservação e gerenciamento de programas. 2. ed. Rio de Janeiro: Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos: Arquivo Nacional, 2001, p. 7-15. HERNAMPÉREZ, Arsenio Sánchez. Políticas de conservación en Bibliotecas. Madrid: Arco Libros, 1999. WEITZEL, Simone da Rocha. Origem e Fundamentos do ensino do Desenvolvimento de Coleções no Brasil: a partir da 1ª. Fase do Curso de Biblioteconomia da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, 2009. Relatório Final de Projeto de Pesquisa.

Notas i

Um projeto para o mapeamento sistemático do caminho deste currículo está em andamento. “Com a Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado da Guanabara (FEFIEG), pelo Decreto-Lei n. 773, de 20; 08/1969, surge a Escola de Biblioteconomia e Documentação – EBD. E com Decreto n. 76.832, de 17/12/1975, surge a Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado do Rio de Janeiro (FEFIERJ), tendo em vista a fusão dos Estados da Guanabara e Rio de Janeiro. Em 5 de junho de 1979, a Lei n. 6.655, transforma da FERIERJ em Universidade do Rio de Janeiro – UNIRIO”. (UNIRIO. Projeto Pedagógico do Curso de Bacharelado em Biblioteconomia. Rio de Janeiro, 2010). iii Isto acontecerá quando a Profa. Ana Virginia Pinheiro assume a disciplina. iv Nos dias 9, 10 e 11 de 2012 realizamos na Fundação Casa de Rui Barbosa o II Encontro II Encontro sobre o Ensino de Preservação: Biblioteconomia, Documentação e Preservação de Acervos de Memória na cidade do Rio de Janeiro. v A criação da disciplina de Políticas de Preservação em Acervos Bibliográficos foi um projeto levado a consecução pelos Professores do Departamento de Processos e Estudos Biblioteconômicos, Ana Virginia Pinheiro, Marcos Luiz Cavalcanti de Miranda e Simone da Rocha Weitzel. vi Desde que começou a ser oferecida venho administrado a disciplina em dois turnos. Na primeira turma, porém, foi possível contar com o primoroso apoio da colega Ozana Hannesch (Museu de Astronomia e Ciências Afins) que, a convite, oficiou algumas aulas. ii

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