Da Comunicação de Massa para a Comunicação em Rede - Pensamentos 2.0 - Capítulo 2 Livro \"Média, Redes e Comunicação\" (2009)

June 4, 2017 | Autor: Gustavo Cardoso | Categoria: Sociology, Media Studies, New Media, Social Media
Share Embed


Descrição do Produto

Da Comunicação de Massa para a Comunicação em Rede Gustavo Cardoso

A Nossa Comunicação Neste artigo procuro argumentar que é possível identificar um conjunto de mudanças no quadro da comunicação nas nossas sociedades e que essas, mesmas, mudanças podem ser lidas à luz do surgimento de um novo modelo de comunicação. Um modelo comunicativo já não assente na noção de “massa” mas sim na de “rede”. A par dessa mudança estrutural e das forças que a moldam podemos também identificar um conjunto de mudanças contextuais, por vezes produto da apropriação desse mesmo modelo de comunicação em rede, outras vezes manifestação do próprio desenvolvimento de um novo sistema dos media com uma nova identidade. Ao longo das próximas páginas procura-se enumerar as principais características desse novo modelo comunicacional em rede (Cardoso, 2008) e também salientar, entre outras, aquelas que se considera serem as principais manifestações de mudança de contexto, ou se preferirmos de futuros presentes, no quadro da comunicação, suas tecnologias, apropriações e usos. Um novo modelo de Comunicação Todas as sociedades são caracterizadas por modelos de comunicação e não apenas por modelos informacionais (Wolton, 2000; Colombo, 1993; Himanen 2006; Castells 2006; Cardoso 2006). As nossas sociedades informacionais têm testemunhado o aparecimento de um novo modelo comunicacional. Um quarto modelo, a ser adicionado aos três precedentes, que pode ser cronologicamente ordenado em termos dos seus ciclos de afirmação social (Ortoleva 2004). O primeiro é definido como comunicação interpessoal, caracterizado pela troca bidireccional entre duas ou mais pessoas dentro de um grupo. O segundo modelo, igualmente profundamente enraizado nas nossas sociedades, a comunicação de um-paramuitos, em que cada indivíduo envia uma só mensagem a um grupo limitado de pessoas. E um terceiro modelo, com o qual temos menos experiência em termos de tempo histórico, o da comunicação em massa, no qual, graças ao uso de tecnologias especificas de mediação, uma só mensagem é dirigida a uma massa de pessoas, isto é, é enviada a uma audiência cuja dimensão é desconhecida, e como tal, não está previamente delimitada (Cardoso 2008; Thompson 1995). O modelo comunicacional da nossa sociedade contemporânea é moldado pela capacidade dos processos de globalização comunicacional mundiais, juntamente com a ligação em rede entre media de massa e interpessoais e em consequência pelo

12

aparecimento da mediação em rede. A organização de usos e ligação em rede dos media dentro deste modelo comunicacional parece está directamente ligado aos diferentes graus de uso de interactividade que os nossos media actuais permitem. Se construímos modelos comunicacionais nas nossas sociedades, é também verdade que os principais paradigmas comunicacionais formatam o que um determinado sistema de media será. Os nossos paradigmas comunicacionais parecem ser construídos em torno de uma retórica essencialmente construída na importância da imagem em movimento, combinada com a disponibilidade das novas dinâmicas de acessibilidade à informação, com os novos papeis de inovação entregues aos utilizadores e com profundas alterações nos modelos de notícias e de entretenimento. Os nossos conteúdos, sejam eles informação noticiosa ou entretenimento, parecem ter mudado devido ao aumento da presença de conteúdos entregues pelos utilizadores de media e não apenas pelas empresas de media, dando origem à coexistência da diferentes modelos de notícias para diferentes audiências. Mas, não foi só a informação noticiosa que mudou, também o entretenimento o fez. A inovação nos modelos de entretenimento está assim ligada à disponibilidade dos conteúdos gerados pelo utilizador, mas também às mudanças trazidas pelas empresas de media, nomeadamente na procura de novas formas de conteúdos como os “formatos” e a experimentação através do apagar das fronteiras entre os géneros tradicionais de programas e novas abordagens a valores sociais como a privacidade, a reserva, e alterações no domínio do tempo, do espaço e da ética, todos eles reflectidos nas formas como as histórias são contadas e os roteiros escritos. O modelo comunicacional gerado nas sociedades informacionais, onde o modelo de organização social prevalecente é a rede (Castells, 2000), é a comunicação em rede. Um modelo comunicacional que não substitui os modelos anteriores, mas articula-os, produzindo novos formatos de comunicação e também permitindo novas formas de facilitação de concessão de poderes, e assim, de autonomia comunicativa. Nas Sociedades Informacionais, onde a rede é uma característica organizacional central, um novo modelo comunicacional tem vindo a tomar forma. Um modelo comunicacional caracterizado pela fusão da comunicação interpessoal e em massa, ligando audiências, emissores e editores sob uma matriz de media em rede. Num ambiente de Comunicação em Rede transformam-se a mediação (Silverstone, 2006), as dietas de Media (Colombo & Aroldi, 2003), as matrizes de Media (Meyrovitz, 1985) e o próprio sistema dos Media (Ortoleva, 2004). Estas transformações nas relações estabelecidas entre os diferentes Media, agora mais articulados em Rede do que efectivamente Convergentes, seja em hardware, serviço ou redes, tornam a mediação uma experiência integrada, combinando o uso de diferentes media, do telefone à televisão, do jornal ao jogo de vídeo, da Internet à rádio, do cinema ao telemóvel, recolocando o

13

utilizador, as suas práticas e as literacias de que necessita, no centro da análise (Livingstone, 1999; Cardoso, 2007; Cardoso, 2008). Perante esses fenómenos, é possível afirmar que nos encontramos face a um novo sistema de Media, organizado em torno de duas redes e dos seus respectivos nós centrais: a Televisão e a Internet. A televisão destinada ao exercício de baixa interactividade, e a Internet destinada aos momentos de busca de alta interactividade (Kim & Shawney, 2002). Todas as restantes tecnologias se ligam a (e interagem com) essas redes. Ainda que essa relação seja, por vezes, estabelecida entre tecnologias que partilham os mesmos ambientes técnicos (como quando alguém estabelece um link entre duas páginas), o figurino que assume depende das escolhas dos utilizadores: quanto alguém vota através de SMS (para uma rádio ou para um jornal) e essa escolha é lida ou publicada em papel, estamos perante comunicação que se estabelece entre diferentes media numa rede formada a partir das interacções entre utilizadores, companhias de Mass Media e, eventualmente, reguladores. Este exemplo ilustra o que é a Comunicação em Rede: uma reformulação permanente das relações entre Media, articulando aqueles de comunicação interpessoais (como o SMS, telemóvel ou o email) com aqueles de massa (como a TV, rádio, jornais online ou fora da Internet). O modelo comunicacional em rede é, assim, moldado por três forças indutoras de mudança, respectivamente: 1) os processos de globalização comunicacional; 2) a articulação em rede de media de massa e interpessoais e o consequente surgir da mediação em rede; 3) e por diferentes graus de interactividade disponibilizados aos utilizadores. Neste processo de mudança podemos igualmente encontrar novos paradigmas comunicacionais que estão a dar origem a um novo sistema dos media. Paradigmas comunicacionais, que compreendem uma retórica generalizante influenciando todos os media e construída em torno da imagem em movimento; novas dinâmicas de acessibilidade de informação; os utilizadores enquanto agentes inovadores ; e a inovação em modelos de notícias e de entretenimento (Cardoso, 2008). Neste texto, procura-se ir para além da caracterização do modelo comunicacional emergente e das forças indutoras do mesmo, bem como da discussão sobre os novos paradigmas comunicacionais, procurando identificar sinais de mudança de contexto que poderão vir a enfatizar ou reformular a nova estrutura emergente da Comunicação em Rede, ou se preferirmos este texto fala de futuros presentes, no quadro da comunicação, suas tecnologias, apropriações e usos. É a Informação, já não são as Notícias. A primeira tendência identificável como produto da mudança de modelo de comunicação, de massa para em rede, é a mudança do ideal público, e partilhado, de “pessoa informada”. O ideal de pessoa informada do início do século XXI deixou de assentar na leitura. Isto não

14

quer dizer que os jornais não sejam igualmente lidos, mas tão só que eles não se constituem enquanto um dos dois nós centrais do modelo de comunicação em rede, respectivamente ocupados pela Televisão e pela Internet. A mudança cultural no que se considera ser uma “pessoa informada” e as consequências de tal facto estão presentes a todos os níveis no actual sistema dos media. Robert Picard (2006) sugere a existência de cinco grandes tendências que estão a mudar a face dos media nas nossas sociedades. A abundância de oferta de canais, títulos e tecnologias para distribuir os mesmos conteúdos é uma dessas tendências, outra é uma espécie de resposta à primeira, isto é, a fragmentação e polarização de consumo por parte dos públicos, distribuindo-se por cada vez mais canais, títulos e tecnologias. A terceira é o desenvolvimento de portfolios. Desenvolvem-se portfolios porque a receita por unidade vendida está em decréscimo e portanto é problemático deter apenas um media. Tendo muitos produtos diminui-se o risco e obtêm-se economias de escala. A quarta tendência é a constatação de que as firmas de media são negócios cada vez menos importantes na escala de grandes companhias (hoje já não há companhias de media entre as 100 maiores empresas dos EUA ou entre as 500 maiores empresas mundiais). Por último, Picard (2006) sugere que ocorre uma mudança no equilíbrio de poder entre produtor e consumidor. Um sinal dessa tendência é o facto de, em geral, para as empresas de media, por cada euro obtido através da publicidade existirem 3 euros produto de pagamentos directos por parte do consumidor (exemplos abundam, desde a televisão paga aos produtos comprados juntamente com os jornais). No entanto, sugeriria que há uma sexta tendência de foro eminentemente cultural: o que é hoje valorizado não é o acesso às notícias (sejam elas as do telejornal, das notícias de meia em meia hora da rádio ou as dos jornais) mas sim a informação. Isto não é o mesmo que dizer que as notícias não são importantes, elas continuam a ser tão importantes quanto antes e continuam a desempenhar um papel central nas nossas sociedades. O que se passa, é que de um mundo onde o que era dado como central para a vida dos cidadãos era que se informassem sobre o que estava a acontecer no mundo (desde o futebol, à política e à cultura) passámos a partilhar como central o ideal de que o cidadão tem de estar informado para produzir conhecimento, por forma a ser um melhor trabalhador, custar menos ao estado e ser mais interventivo, social e politicamente. Basta pensar que os “slogans” que adoptámos como centrais para as nossas sociedades são “Sociedade de Informação e do Conhecimento”. Mas, como sempre, “slogans” só por si não chegam e sem práticas nada muda. E mudou. Mudou porque a Internet chegou e passada uma década atingiu, nos países mais desenvolvidos, valores que vão dos 40% aos 90% da população (WIP, 2006). As notícias dos jornais, televisão e rádio eram (e são) herdeiras da noção de que importa saber o que se passa para não ser apanhado desprevenido e poder agir em conformidade (os estudiosos da comunicação juntaram a essa ideia outra, a ideia de que é necessário haver mass media para se manterem os laços

15

de união social de uma população num dado território, uma noção que é discutível). A Internet, pelo seu lado, é herdeira de uma outra tradição, mais académica, a de que é fundamental estar informado para antecipar o que se possa passar, ou seja, produzir conhecimento (sobre o que quer que seja, desde a actualidade até aos gostos mais excêntricos e interesses mais eticamente duvidosos) para compreender e antecipar, estar sempre um passo mais à frente. É óbvio que estamos a falar de situações ideias e quem lê, vê, ouve notícias ou consulta informação on-line não está a pensar nestas matérias deste modo. No entanto, temos de compreender que o facto de uma tecnologia diferente, com um diferente modo de lidar com a informação, ter surgido, provocou mudanças que implicaram tendências, que por sua vez, irão (de formas já perceptíveis e outras não antecipáveis) mudar a face dos media. Aqui chegado, o leitor poderá argumentar que a gratuitidade da informação na Internet é também uma novidade e que talvez ela seja mais importante que a noção cultural de importância da informação, mas a gratuitidade (pelo menos por via da publicidade) era já a forma mais comum de fornecer notícias. Ou não é assim que a televisão e a rádio, nos habituaram durante 50 anos? A Internet não teria mudado tanto a nossa forma de percepcionar a função da informação se a própria televisão não tivesse, no espaço das últimas duas décadas, mudado ela própria. Se não se tivesse tornado numa neo-televisão com uma aposta tão forte no entretenimento, seria duvidoso que a Internet tivesse tão facilmente alterado as nossas percepções. Porquê? Porque a televisão é a tecnologia mais difundida e nela as notícias apenas ocupam 2 a 3 horas diárias de emissão e mesmo no prime-time são minoritárias (Shoemaker 2006, Cardoso 2007). Qual é então o ideal de pessoa informada deste início de século? A minha sugestão é de que se trata de quem sabe produzir conhecimento a partir de todas as notícias disponíveis, em diferentes media, com diferentes profundidades de análise e que as pode, e sabe, cruzar com análises mais extensas sobre diferentes assuntos. Ou seja, é quem sabe, e pode, ver notícias em diferentes canais de televisão, na sua língua e em inglês, quem navega e lê as notícias estrangeiras sobre um assunto interno e lê também as notícias produzidas no seu próprio país. Informado é quem pode consultar os media mais antigos, trocar ideias com os seus amigos sobre esses assuntos em busca de mais informação e consultar o que os outros escrevem e difundem sobre o mesmo assunto nos outros cantos do seu país e do mundo. Obviamente, que informado é quem se informa sobre (e normalmente apenas) aquilo que lhe interessa num determinado momento e isso pode ser muita coisa. Numa sociedade em rede o que predomina é a comunicação em rede, a comunicação que cruza diferentes media na busca da obtenção de informação e na troca dessa com outros membros das nossas redes de sociabilidades. Na Comunicação, a inovação é (quase sempre) incremental.

16

Actualmente, no campo da comunicação, a inovação parece ser quase sempre incremental. Algo que pode ser um sinal de crescente estabilidade de um modelo, dado que as inovações indutoras de rupturas tendem a caracterizar inícios de ciclos e não a estabilização dos mesmos (Perez, 2004). A inovação incremental na comunicação (Bakker, 2002; 2007) é outra consequência detectável no quadro da mudança de modelos comunicacionais e assumpção da centralidade da comunicação em rede. Umberto Eco (2001), por exemplo, sugere que já não estamos no tempo das análises de McLhuan (1997), nem o media era a mensagem, nem a mensagem era o media (Rantanen, 2005), mas sim o media precedia a mensagem. Ou seja, a inovação no sector dos media funciona cada vez mais na antecipação dos conteúdos que porventura poderá vir a oferecer. Segundo esse pressuposto, cabe cada vez mais ao consumidor a decisão final sobre qual será o standard vencedor e, por consequência, a definição do que virá a ser inovação no campo dos media. Por outro lado, Piet Bakker (2002; Bakker & Van Duijvenbod 2007) questiona até que ponto a inovação no campo dos media tende a ser feita, não através de melhor oferta de mediação, seja ela referente à tecnologia (máquinas ou interfaces), suportes ou formatos, mas sim de pior mediação. Pior, quando comparada com aquilo que se oferecia antes, seja isso uma melhor imagem. som de maior definição, mais páginas nos jornais, matérias mais aprofundadas textos mais complexos1. A análise de Bakker (2002; 2007) e de Eco (2001) devem fazer-nos pelo menos enumerar o número de ofertas tecnológicas que ao longo da última década não vingaram e também aquelas que, tendo convivido com o nosso dia a dia durante muito tempo, estão hoje em processos de erosão no mercado. Uma breve lista poderia incluir, no campo da erosão: os CD’s; DVD’s; ou os Jornais diários pagos. No campo das que até hoje não vingaram: o DAB (Digital Áudio Broadcasting); a Televisão Interactiva; a WebTV (que não é o mesmo que o sucesso hoje da IPTV); O MiniDisc da Sony; etc. A título de exemplo de memória histórica recente para a maioria das gerações actuais, podemos recuar até aos gravadores de vídeo e lembrarmo-nos do sistema Beta de maior qualidade na sua disputa com o VHS de inferior qualidade. Ambos prestando o mesmo serviço, a gravação e leitura de sinal vídeo, com o Beta, o preferido pelos tecnólogos, a ser preterido pela maioria dos consumidores por troca com a qualidade inferior promovida pelo VHS. E que lista poderíamos encontrar para as tecnologias que aparentemente estão hoje associadas a menor qualidade de mediação do que as suas “progenitoras” mas que, de qualquer modo, parecem ter sucesso? A maioria das transmissões de som e imagem através de IP a que hoje assistimos têm menor qualidade, no entanto, nunca se ouviram tantas músicas em formato MP3 (de qualidade inferior a um CD ou Vinil), nunca se ouviu tanta rádio em diferido através de podcasts e com menor qualidade sonora via IP do que na 1

É claro que se podem encontrar, e encontram-se certamente, falhas na argumentação de Bakker. Uma dessas falhas, por exemplo, é o facto de apenas explicar o que sucede a tecnologias de mediação já com presença consolidada no mercado e que possuem penetrações muito próximas dos 100% da população.

17

emissão hertziana, nunca se viram tantos filmes através de redes P2P (também de menor qualidade de imagem), nem nunca tantos filmes de origem caseira colocados, por exemplo, no YouTube foram visionados também. A circulação e a leitura de jornais gratuitos diários com menos notícias, notícias mais curtas e menos páginas aproximam-se também, em muitos locais do mundo, da circulação e leitura de jornais pagos (Bakker 2007). O que se pode retirar destas listas e das teorias aqui apresentadas? Provavelmente que os media que não têm tido sucesso devem-no ao facto de se terem antecipado aos conteúdos, ou seja, necessitarem de novos modelos de produção e distribuição de conteúdos. Por outro lado, também o seu insucesso se deverá a existência prévia de satisfação, do que Brian Winston (1999)

denominou no campo dos media, de uma “necessidade social

superveniente”. Talvez, da mesma forma que a Wii parece ter surpreendido a Playstation e a XBOX, haja efectivamente uma qualquer lei equiparada a de “Moore” mas neste caso para os media fornecedores de conteúdos e não apenas para os processadores. Ou seja, os media que até hoje vingaram nos mercados nunca desaparecem totalmente mas transformam-se sempre. Inovam incrementalmente mas fazem-no normalmente diminuindo a “qualidade” percebida das suas características avançando para novos clientes que procuram novas “qualidades” neles. Quando o número de novos clientes supera os originais, esse ciclo de inovação termina, mas só para se iniciar de novo. As últimas inovações disruptivas no campo dos media, ou seja quebrando ciclos de inovação incremental, datam no melhor dos casos do final dos anos sessenta. A Internet nasceu em 1969, o Satélite surge no quadro da guerra-fria, etc (Winston 1999; Abbate 2000). A Democracia e o Dia-a-Dia imersos na Mediação. A centralidade do conceito e da prática de mediação é a terceira consequência vísivel do surgimento de um modelo de comunicação em rede nas nossas sociedades. As nossas sociedades são sociedades onde se junta, cada vez mais, ao face a face a mediação. A mediação é hoje fundamental para dar sentido ao mundo que nos rodeia, ao nosso dia a dia. Dá-nos segurança, faz-nos sentir parte de algo mais vasto que a família (que continua, apesar das mudanças na sociedade, a ser o elemento primordial de identificação e pertença para a maioria das pessoas). (Castells 2003; Cardoso et al. 2005). A mediação é, também, hoje um factor fundamental nas nossas vidas e na nossa busca de ordem e sentido para a vida, bem como é, também, um elemento da nossa constante luta pelo poder e pelo controlo sobre o simbólico e o material, quer no espaço quer no tempo (Silverstone 2005; Giddens 1999). Cada época tem os seus géneros predominantes e modos de representação (as notícias, os talk shows, as novelas e séries), e tem também formas diferentes de expressar a dimensão singular de cada indivíduo (música, blogues, mensagens, partilha de ficheiros, etc).

18

Sendo a mediação central, é fundamental compreender que a mediação ocorre num ambiente que é, ele próprio, produto de forças opostas que procuram ditar rumos. Rumos, nos modelos de representação e nas oportunidades de expressão individual. Daí que o Gatekeeping seja hoje muito mais complexo do que em outros momentos históricos (Cardoso 2007, Barzilai-Nahon 2008). Ele já não se refere apenas aos jornalistas, vai para além deles, tocando-nos a todos nós, nas nossas escolhas de resultados de pesquisas online, na forma como criamos ratings de livros vendidos, canais vistos, jornais lidos, etc. A mediação e os media são, ao mesmo tempo, elementos fundamentais para o desenvolvimento económico dos países e para o exercício da democracia (Castells 2007; Bennett 2003). Não vale já a pena falar só de Internet ou só de TV. Todas as pessoas, no seu dia a dia, cruzam-se com múltiplos media, dos jornais à rádio, da Internet aos telemóveis, etc. O que vale a pena salientar é que o futuro do desenvolvimento e da democracia passa pela mediação e pela forma como a mesma é exercida. Que é o mesmo que dizer, que depende da forma como estiver enquadrado o sistema dos media (sua regulação, seus players, custos e barreiras de acesso aos indivíduos e empresas) e também de quem são os que lhes podem aceder. Em primeiro lugar, a mediação é fundamental porque, dependendo da forma como nela se retrata “o outro”, seja um outro próximo (o membro do outro partido, o médico, o ministro, o professor, o desempregado, o i(e)migrante, o jornalista, etc) ou um outro distante (o basco, o catalão, o chinês, o muçulmano, o budista, o cristão copta, o americano, etc), depende também a forma como iremos organizar a nossa realidade, a nossa experiência face a essas realidades, face a essas pessoas, os nossos valores e, quem sabe, as nossas próprias acções, propostas, práticas (Silverstone 2002). Daí que quem se auto-regula nos media, quem é regulado nos media, quem regula os media e quem concede os instrumentos e práticas de regulação, esteja, pelas simples escolhas realizadas, a determinar, em parte, que mundo estamos a construir. Ou seja, se seremos capazes de ser dignos herdeiros das liberdades, de iniciativa e mercado, de participação e democracia, que conquistámos ao longo das últimas décadas. E que se pressupõe querermos manter. Por outro lado, a mediação pressupõe que sejamos literatos (LIvinstone 2004; Cardoso 2007). Literatos para compreender a novela e as notícias. Mas também para telefonar, para participar em votações de SMS, para escrever emails, ler e editar blogues, para navegar e preencher formulários (Beyer et al., 2007; Enli & Syvertsen, 2007). Ter literacias para trabalhar na disseminação de conhecimento, sua inovação e aplicá-lo. Ora, as literacias podem ser de dois tipos. As centradas no modelo escolástico tradicional: ler, escrever, contar, interpretar, digitar e pesquisar. Ou, seguirem o padrão das necessidades de uma sociedade informacional, isto é, uma sociedade assente na criação de

19

riqueza através do conhecimento e já não apenas assente na aprendizagem desse mesmo, sem a sua transformação posterior e aplicação em novos contextos, produtos e serviços. As literacias hoje permitem simultaneamente o domínio das ferramentas necessárias à participação cívica (organização, contactabilidade, mobilidade, acesso à informação e transformação do conhecimento) e à criação de riqueza (isto é, exactamente as mesmas). Mas é a escolha da sociedade, a escolha realizada pelos que gerem o conhecimento, a riqueza, a cultura (seja em seu próprio nome ou por delegação de todos nós) de quem dependerá o futuro. Porque tudo existe e tudo é dito no campo da mediação, não há exclusões de temas ou de notícias. Pode haver condicionamentos na interpretação, na triangulação de conhecimentos de diferentes origens, mas não censura. A falta de literacias assemelha-se à censura, apenas no facto de deixar espaços vazios, espaços que poderiam ser preenchidos caso as literacias pudessem agir, transformando esse conhecimento em algo novo, em algo que permita agência, acção, produção, criação, transmissão. É esse o poder da literacia dos media e que hoje tem de ser um elemento inato, tão importante como aprender a mexer, a fazer, é ter aprendido a organizar, dissecar, interpretar, enfim, fazer o remix necessário, tanto à inovação de produtos e serviços, quanto à criatividade, à defesa de ideias e ideais, à construção de alternativas e à transformação do tradicional em novo e do novo em realidade. A profusão da mediação nas oportunidades comunicativas permitiu o surgir da comunicação em rede mas, porque se trata de um processo auto-alimentado por todos nós, ele próprio se tornou consequência desse mesmo modelo de comunicação em rede. As Três Narrativas das Indústrias Culturais A quarta mudança perceptível no quadro da comunicação e, também ela, com origem na mudança de modelo comunicacional centra-se nos modelos de desenvolvimento das indústrias culturais. De um modelo centrado no cinema e, em grande medida, Califórnia (Hesmondhalgh, 2007; Taplin, 2006, 2007), passámos para a partilha de espaços geográficos em diferentes continentes, onde predominam três narrativas possíveis envolvendo múltiplas combinações entre cinema, ficção televisiva e videojogos. Essas estratégias têm tido diferentes agentes mobilizadores, por vezes o Estado outras vezes as empresas particulares. Mas também é verdade que falar o latim contemporâneo (i.e. inglês) ou ter uma dimensão populacional considerável ajuda claramente e que, como os acordos da organização mundial de comércio através do GATT nos idos anos noventa demonstraram, todos os países nos sectores audiovisuais tem telhados de vidro, seja por subsidiarem a produção ou por fazerem dumping colocando fora do seu mercado nacional os seus produtos a preços inferiores ao custo.

20

Mas porquê falar só de cinema, ficção televisiva ou jogos? Porque cada uma dessas indústrias culturais combina uma rede de competências e necessidades técnicas e tecnológicas que permite depois sustentar um outro conjunto de entidades e produtos culturais muito diversificados. Tanto cinema, quanto a ficção televisiva como os jogos de computador e consola, necessitam de argumentistas, actores, direcção de actores, coordenação e realização, programadores, compositores, músicos, redes de difusão e distribuição, promoção e toda a panóplia de merchandising que se constrói em torno dos produtos finais quando se realizam estratégias integradas de promoção. Daí, que um país para triunfar na área do audiovisual tenha de optar por um destes como sustentáculo para o desenvolvimento de indústrias culturais. Os EUA optaram claramente pelo cinema (assim como a Nigéria) e depois seguiu-se a ficção televisiva e os jogos, o Japão optou pelos jogos de computador, a Índia por um misto de cinema e jogos (em outsourcing para empresas estrangeiras) e o Brasil pela ficção televisiva. Jonathan Taplin (2007), analisa em “Crouching Tigers Emerging Challenges to U.S. Entertainment Supremacy” que o caso Sul Coreano se apresentava como um exemplo paradigmático de sucesso conjugando uma série de factores políticos, culturais e empresariais.O Governo Sul Coreano em 1991 avançou para a criação de um sistema de apoio à produção cinematográfica em três dimensões complementares: distribuição, produção e formação. Em primeiro lugar, criou um sistema de quotas de exibição evoluindo gradualmente até atingir 40% dos dias de exibição para filmes com origem sul coreana. Ao mesmo tempo enviou jovens promissores para realizarem cursos de formação nas escolas inglesas e americanas de realização, escrita e formação de actores. A razão foi simples, o público aprecia o cinema com as características expressas nos modelos norte-americanos, então daremos filmes coreanos baseados nesse mesmo modelo, inovaremos e faremos melhor do que eles. E por fim, o governo Sul Coreano acompanhou todo esse processo com um incremento das verbas dadas à criação cinematográfica. Em 1999, nove dos vinte filmes mais vistos na Coreia do Sul eram nacionais, hoje em dia a Coreia do Sul tem mais exibição de filmes nacionais do que estrangeiros e exporta-os. Outros países optaram por outras vias de aposta em indústrias criativas, na Europa a França optou por um misto de cinema e jogos (mas as empresas francesas após um período inicial de prosperidade vieram a perder terreno), a Itália pela ficção televisiva a par do cinema, a Espanha pelo cinema e a Inglaterra pela junção de cinema, produção de ficção “estilo BBC” e jogos de computador e consola. A identidade é importante e é um elemento de atractividade dos conteúdos televisivos e a demonstrá-lo está o concurso da RTP “Os Grandes Portugueses” ou as preferências dos telespectadores pelas séries de ficção em português, sejam elas adaptação para Portugal de um formato estrangeiro como “Floribella” ou bebam inspiração no modelo estrangeiro como os “Morangos com Açúcar” fizeram com a novela da Globo “New Wave”. Aliás, a

21

identidade como arma de estratégia televisiva não é apenas um apanágio da TV Portuguesa, tal como demonstram os relatórios da IP Network “TV Key Facts 05”. Se os analisarmos, verificamos que não é só Portugal que apostou fortemente, nos últimos anos, na produção de telenovelas. Acompanham-nos nesse processo a Alemanha, a Espanha e a Rússia. O fenómeno da adaptação de formatos de telenovelas ao contexto de um dado país não é apenas sinónimo de “Floribella”, a adaptação de “Betty La Fea” (Colômbia) chegou à Europa através da Espanha, foi sucesso na versão Alemã e está em 2006 a ter presença na Holanda. No que respeita aos filmes passados na televisão e nas salas de cinema, o domínio continua a ser dos EUA, mas nas séries esse domínio é nacional e por vezes europeu. Em países como França, Alemanha, Grécia, Reino Unido, Bélgica, Itália, Portugal, Espanha, Finlândia, Holanda, Polónia, Rússia, República Checa e Turquia, 7 em cada 10 das séries mais vistas eram de origem nacional em 2004-2005. Num mundo que se diz, e se constata ser global, num espaço político europeu, num mundo onde nos procuram impor a ideia abstracta, e incorrecta, de choque de civilizações (Huntington, 1996), as pessoas aparentemente procuram aquilo que acham que são e relacionam-no com a sua língua e com o seu território, com as histórias que lhes são próximas e familiares. Parece ser esse o poder da identidade e os media, que têm por obrigação não perder a noção do mundo onde se inserem. O poder da identidade é igualmente o poder que a comunicação e a mediação lhe conferem. O que esta análise nos permite concluir é a ruptura com modelos exclusivamente apoiados no desenvolvimento de indústrias cinematográficas nacionais. Embora esse modelo continue a produzir resultados em dados contextos, multiplicam-se as apostas em torno da ficção televisiva e dos videojogos. Num modelo comunicacional em rede as indústrias culturais prosperam em relações de rede, seja pela articulação de contextos ficcionais e identitários nacionais com modelos narrativos globais, seja através da articulação em rede entre séries televisivas e jogos de vídeo ou com a produção cinematográfica. “Users as Distributors”. O cinema e a música ilustram a quinta mudança aqui analisada, ou seja, a multiplicação de canais de distribuição e como do multimédia, dos anos noventa, se chegou à multidistribuição do início do século XXI baseada no utilizador, sendo este usado como escaparate de produtos e ponto de distribuição (Limonard & Esmeijer 2007). Os canais de distribuição, durante as décadas em que o cinema era fundamentalmente visto em “salas de cinema”, foram sempre limitados, se comparados com os canais disponíveis para o cinema “entretenimento” anglo-saxónico ou, com ainda maior expressão, o cinema norte-americano na Europa.

22

De algum modo para o cinema esse é ainda hoje um mundo de forças bipolares em que se encontra de um lado um cinema oriundo dos EUA e, do outro, cinematografias nacionais, cada vez em maior número e mais dispersas globalmente. Nos EUA o cinema foi sempre visto, sem qualquer complexo, como uma indústria, como parte da indústria do entretenimento. O que não impediu, pelo contrário, que sempre se produzisse, paralelamente, cinema de autor de origem norte-americana, também ele visto na Europa (em salas de cinema, não apenas em festivais). Falemos, por isso, de um tipo de cinema específico, aquele que não é considerado Blockbuster, aquele que não é distribuído pelas grandes empresas multinacionais de distribuição cinematográfica, que não tem uma campanha gigantesca de marketing e uma avalanche de merchandising a acompanhar a sua estreia em sala, ou seja, aquele que é fundamentalmente produzido no resto do Mundo. O que diferencia “esse” cinema do “outro”? Muitos e variados aspectos, como é evidente, mas aqui falaremos apenas de distribuição, de acesso. Porque é ele que permite ao utilizador/espectador ver efectivamente o dito filme. Nas salas de cinema ou na nossa sala (na televisão ou via DVD comprado ou alugado) não é difícil vermos qualquer produção norte-americana de distribuição ampla. O que não é tão fácil é assistir a um filme de outras origens, que apenas passa em número reduzido de salas de cinema do país e, normalmente, por períodos de tempo pouco alargados, e que, recorrentemente, não chega ao mercado de venda directa em DVD (nem tão pouco aos mercado pirata, que seguem normalmente procedimentos simétricos da via do mercado oficial). O que mudou então, com a comunicação em rede na distribuição? Podemos sugerir que a grande mudança foi o proporcionada pelas das redes peer-to-peer (P2P) na Internet. É nessas redes que podemos encontrar filmografias diversificadas e à escala global. Porque quem gosta de cinema quer ver filmes, e quer ver os filmes que escolhe e não os que escolhem por si, as redes P2P são o meio mais eficaz para a concretização desse projecto de autonomia cinematográfica. Tanto mais que se desenvolvem crescentemente, em redes mais

ou

menos

organizadas,

com

maior

ou

menos

qualidade.

Embora o modelo de negócio tenha assim que ser estabilizado ou inovado, pode desde já verificar-se que o que se poderá perder em lucros potenciais, tem como contraponto o ganho em notoriedade, em número de espectadores e entusiastas. A par do cinema a música também mudou por força da transformação dos seus mecanismos de distribuição , ouvir música em ficheiros mp3 representa uma das forças que mudou o mundo nos últimos 10 anos. As 10 forças em acção nos últimos 20 anos sugeridas por Jonathan Taplin (2006a), e em grande medida inspiradas no trabalho de Thomas Friedman (2005), são: a queda do muro de Berlim; a difusão pública do browser da Netscape; o software de WorkFlow; o movimento Open Source; O Outsourcing; o Offshoring; A tecnologia de pesquisa online promovida pelo Google e Yahoo; A combinação

23

do Digital, Móvel, Pessoal e Virtual; O modelo de comércio físico do Walmart; e o modelo de comércio online ou e-commerce. Talvez não nos tenhamos apercebido como a música mudou e como essa mudança é responsável por estar a mudar o nosso mundo. A música é tradicionalmente companhia de viagem, de trabalho e de lazer, mas para além de estados de espírito e de intensidade de prazer poderá ela mudar algo mais? Para Jonathan Taplin (2006a) a música mudou o nosso mundo, porque ela é responsável pela implementação dos processos de “Long Tail”, ou cauda comprida, do comércio (Anderson 1994). E se o comércio muda, também a nossa vida se altera. A música é apenas o exemplo máximo da mudança em curso no comércio e, tal não tem a ver com a dimensão digital ou física do produto. Cada vez mais se vende menos coisas de mais coisas. Ou seja, cerca de um terço do total de vendas das lojas online de música refere-se a músicas que não se encontram disponíveis em nenhuma loja de venda ao público, simplesmente porque este novo modelo de negócio permite ter disponível, a baixos custos, catálogos muito maiores. Mas quem diz música, diz também livros. A Amazon.com possui um inventário de cerca de 3 milhões de livros para venda. Desses títulos, próximo de 60% não se encontra à venda em nenhuma livraria tradicional ou de centro comercial. No modelo comunicacional em rede a distribuição passou a ser partilhada por empresas e por utilizadores. A tecnologia P2P e a “Long Tail” são utilizadas por uns e por outros, com diferentes modelos de negócio (existentes ou futuros), mas com semelhantes resultados: a multiplicação da oferta disponível e o uso dos utilizadores como elementos activos do processo de distribuição e venda. Criatividade Aberta ou “Open Source” da vida. A sexta tendência de mudança no contexto da comunicação em rede, simultaneamente indutora e consequência dessa mudança, é o valor dado à abertura da criatividade. O que caracteriza o nosso tempo em termos de criatividade? Provavelmente o facto de ela nunca antes ter sido tão valorizada. As consequências e os porquês de tal facto valem a pena que nos debrucemos um pouco sobre esse processo contemporâneo. Por via, da segmentação de mercados e produtos, permitida pelas tecnologias de informação, a criatividade é hoje, quando transformada em inovação ou spin-off de produtos, a principal fonte de criação de riqueza para as empresas e consequentemente para os Estados (Benkler, 2007; Castells, 2005). Também para os cidadãos em geral, por via de uma mudança da ética das nossas sociedades, do trabalho como obrigação, ou a ética protestante de Weber (Castells, 2000; Himanen et al., 2001) para o trabalho como prazer, ou ética hacker (Himanen et al., 2001), a criatividade ganhou um novo valor. A criatividade para o trabalhador é o seu livre-trânsito para a felicidade no trabalho, fazer aquilo que gosta (Himanen et al., 2001). Embora nem todos consigam concretizar esse

24

objectivo de adesão prática ao trabalhar naquilo que se gosta, a adesão à ética hacker está nos bancos de todas as nossas escolas através da escolha do curso que se pretende seguir. Podemos, igualmente, argumentar que a ética hacker (Himanen et al., 2001) não estará difundida numa parcela alargada população, mas está presente em todas as profissões relacionadas com os diferentes poderes das nossas sociedades, do poder económico ao cultural, do tecnológico ao educacional, do político à segurança e defesa. A criatividade também ganhou a valorização que hoje possui por causa da democratização da publicação digital nas nossas sociedades. A Internet é, assim, com os seus blogues, páginas, programas de troca de ficheiros em P2P e chat’s, Hi5’s e YouTubes, a grande responsável pela mudança dos valores em torno da criatividade, ao permitir a milhões de pessoas tornarem-se editores e darem-se a conhecer (Tremayne, 2007). No entanto, essa criatividade tem diferentes graus para diferentes pessoas. Jo Pierson (2008) sugere que a leitura do papel dos utilizadores como geradores de conteúdos e/ou inovadores passa pela compreensão da chamada regra do 1-9-90. Um exemplo, a Wikipedia oferece um universo de entradas novas realizadas por apenas 0,5% dos seus utilizadores totais e a edição de entradas já existentes por 2,5% do total dos seus visitantes. Noutro exemplo, o campo do Open Source, encontramos o início de novos projectos desencadeado por líderes carismáticos, em 0,5% do total de participantes. Também no campo do Open Source, apenas 5% do total de utilizadores edita o próprio código fonte das aplicações. A regra 1-9-90 traduz a existência de diferentes funções de inovação atribuídas aos utilizadores, ou melhor por eles próprios definidas através das suas práticas e apropriação de tecnologias e produtos. Os utilizadores que representam 1% do total e que Jo Pierson denomina de “Using Producers” são os que possuem tanto as qualificações técnicas quanto a motivação para fazer contribuições significativas e a sua actuação ocorre essencialmente nos mercados industriais e de consumo (ex: mercados de produtos de desporto). Este grupo pode ser definido como um grupo de co-design, ou seja, colaboram com as indústrias no design de novos produtos, trata-se de um trabalho em que o utilizador não age autonomamente mas sim em colaboração com as empresas. O segundo grupo, “Producing Users”, são os 9% de utilizadores que participam activamente através da autoria e partilha de conteúdos (conteúdos colaborativos). È a este grupo que cabem as novas áreas de inovação activa como a Web 2.0, a Web participativa, o “user generated content”, ou seja, os wiki, o social tagging, blogging, podcasting, sns, etc. Por último, Jo Pierson (2008), sugere-nos caracterizar os restantes 90% de inovadores enquanto “everyday users”, ou seja, aqueles que gerem as tecnologias colocadas à sua disposição na sua relação diária com os outros, trata-se das inovações do dia a dia. Já não no campo da partilha de conteúdos ou criação colaborativa, mas sim através de novas

25

práticas sociais. Os exemplos mais conhecidos são a disseminação do Mp3 como formato musical ou a apropriação da funcionalidade de SMS pelos mais jovens e a sua posterior incorporação como modelo de negócio da telefonia móvel. A par de todo esse movimento as empresas que vivem da gestão de direitos de autor (editoras de livros, discos, filmes, media em geral, etc.) assistiram, e assistem, a um mundo em mudança para o qual apenas têm tido como resposta o combate através da criminalização ou da sensibilização para o facto de constituir crime um tipo de uso de conteúdos digitais2. Entretanto, a sociedade vai inovando e da mesma forma que se vai produzindo software para suprir dadas necessidades supervenientes, como sempre aconteceu na história da comunicação com todos os inventos (Winston, 1999), também o direito encontra novas formas de suprir as necessidades sociais (Cardoso, 2007). Por exemplo, o Creative Commons (Lessig, 2005) é uma dessas formas e é também uma maneira de explorar a dimensão comercial dos conteúdos digitais. E como sempre é mais fácil para as empresas que respiram o ar do seu tempo, como os jornais gratuitos, adoptar as soluções do seu tempo, sem grandes fricções nem dificuldades. Por exemplo, o diário gratuito espanhol 20 minutos, com edições locais em diversas cidades espanholas é publicado, pela empresa "Multiprensa & Mas S.L.", sob uma licença Creative Commons, podendo também ser feito o download do jornal gratuitamente do seu site. Para o autor, antes de chegar o momento da sua valorização monetária pelo mercado há lugar a um caminho de criação daquilo a que chamamos correntemente “Nome”. Esse é um processo que é tradicionalmente demorado e onde se encontram muitos intermediários, o que as novas formas de publicitação autoral trazem é o facto de permitirem acelerar os processos de visibilidade pública e, ao mesmo tempo, dispensar alguns dos intermediários. O Creative Commons não é exemplo único, sendo as publicações académicas Open Access outro exemplo. De entre as empresas da comunicação, as editoras de livros e revistas são um mercado não desprezível. Por exemplo, só a editora Reed Elsevier representaria em 2005 um mercado de 10 mil milhões de dólares a nível mundial (Machado, 2006, 2008). Daí, que quando uma inovação, como os Open Access Journals, surge e congrega, segundo a Biblioteca da Universidade de Lund na Suécia, um universo aproximado de mais de 2500 revistas científicas de publicação mundial em várias línguas e de conteúdos tão variados da medicina à comunicação e da engenharia à arquitectura e artes, se compreenda que há algo em mudança nas universidades, o que por sua vez se está a reflectir na publicação, na

2

. Na realidade as editoras apenas pretendem ganhar tempo para perceberem qual será o novo paradigma de negócio que se avizinha.

26

forma de fazer ciência e consequentemente na sociedade e nos modelos de negócio existentes. Algo que é Open/Aberto não quer dizer que não seja objecto de uma troca ou valorização monetária, apenas se está a referir, como sugere a Wikipedia (Benkler, 2002; Quiggin, 2006; Auray et al., 2007; Halavais et al., 2008) que está aberto a mais pessoas e que nos seus diferentes contextos pode ser usado livremente e transformado. Openness ou abertura apenas quer dizer que, desde que se dê o crédito a quem criou algo ou disponibilizou a matéria-prima, essa informação, processo ou produto pode ser usado por terceiros. De algum modo encontramos aqui de novo os dois modelos de negócio que conhecemos já no campo dos mass media: conteúdos pagos ou conteúdos gratuitos, baseados em publicidade ou outro patrocínio. No entanto, com o modelo comunicacional em rede a tendência parece ser a de um maior equilíbrio entre o não pago e o pago, colocando em causa tendências anteriores que pareciam generalizar a ideia de pagamento de conteúdos como única via para um novo modelo comunicacional em formação. A iLife do iPhone Este pequeno título poderia servir para fazer a síntese de tudo aquilo que a seguir dizemos sobre o papel do telefone na nossa vida e a razão pela qual a mobilidade e a portabilidade constituem a sétima tendência de mudança aqui analisada no quadro da comunicação em rede. A mobilidade e a portabilidade, introduzidas pelo telemóvel, mudaram a nossa sociedade (Castells et al., 2006; Colombo & Scifo, 2006; Katz & Aakhus, 2002; Caron & Caronia, 2007) tornando-a mais móvel e flexível mas, foram elas mesmas mudadas pelas práticas de comunicação em rede, pois o telemóvel é a tecnologia que faz a ponte entre os dois nós centrais (Cardoso 2008) deste modelo de comunicação: a televisão e a Internet. Adaptar muitos dos filmes realizados até aos finais dos anos 80 à nossa época actual seria impossível, pois muitos perguntariam: porque é que o actor ou actriz naquela situação de perigo não ligou o telemóvel? Estará sem rede naquela zona? Ter-se-á esgotado o carregamento pré-pago? Ou, porque é que o número do assassino, amante ou colega não estava na lista das chamadas atendidas e marcadas? Cultural e tecnologicamente, um longo caminho parece ter já sido percorrido desde o tempo em que o telefone surgiu com o intuito de transmitir peças de teatro e concertos directamente dos auditórios e teatro para a casa de cada um. De objecto fixo, apenas acessível nas casas das elites culturais e financeiras do século XIX, a objecto móvel utilizado nas ruas. Se tivéssemos de escolher um objecto que nos tenha acompanhado e ao mesmo tempo transformado o nosso dia a dia, do amor ao trabalho, da casa à rua, ao longo dos últimos três séculos, poderíamos apontar: o telefone. E, hoje em dia, o seu herdeiro mais directo, o

27

telemóvel (Castells et al., 2006; Colombo & Scifo, 2006; Katz & Aakhus, 2002; Caron & Caronia, 2007). O telemóvel mudou e continua a mudar a nossa relação com o tempo, o espaço e os ritos sociais (Castells et al., 2006; Cardoso et al., 2007). O telemóvel é um objecto nómada, leve, pequeno que lida com a vista, o tacto e com a audição (Colombo & Scifo, 2006). O telemóvel é um repositório das nossas memórias, dos nossos afectos, da nossa vida profissional, encontram-se nele infinitos traços do nosso modo de vida, da nossa história e das nossas atitudes. Só a ideia de o perder causa calafrios, não pelo custo da máquina em si, mas por tudo que ela encerra emocional e profissionalmente. Embora a máquina, já denominada de Smartphone, não realize um processamento análogo ao pensamento humano, transporta em si as marcas do nosso pensamento. Ao mesmo tempo que o telemóvel faz cada vez mais parte das nossas vidas também, fruto da evolução de processadores, do crescimento da capacidade de armazenamento de dados e das leis de redução dos custos na indústria de computadores e do Wi-Fi, o computador de secretária tem vindo a desaparecer dos lares e empresas e a ser substituído pelo computador portátil. O que as duas tendências tecnológicas atrás apontadas nos mostram é que as empresas, por um lado, estão cada vez mais crentes na valorização da mobilidade por parte do consumidor e cidadão, por outro lado, diz-nos também que cada vez mais o telemóvel está a evoluir para qualquer coisa diferente de um mero suporte para comunicação de voz e texto. Não é necessário ser o James Bond nos seus novos filmes para perceber as vantagens do GPS incorporado, não no carro, mas no telemóvel, nem ser hoje adolescente para perceber o porquê da Apple lançar um iPod que também é telemóvel, isto é o iPhone e porquê a Sony dizer que os seus telemóveis são os únicos que são também Walkmen. Os telemóveis estão cada vez mais smartphones, isto é, com funcionalidades que os aproximam de pequenos computadores, mas sem o verdadeiramente serem, porque a sua génese implica ecrãs pequenos e não funcionam bem para processamento de texto ou para ler texto em blogues ou jornais. Se juntarmos todos estes sinais, que leitura fazer deles? Se não considerarmos os países menos desenvolvidos (onde os crescimentos são sempre marginais para as vendas) o mercado dos computadores é hoje um mercado maduro que vive da substituição de modelos antigos por novos. Logo o crescimento para o acesso nas sociedades informacionais e em transição (Himanen 2006; Castells 2006; Cardoso 2006) ter-se-á de fazer através dos terminais que cheguem à maior parte das pessoas. Isto é, não os PC’s mas sim os telemóveis e outros sistemas portáteis como os leitores de música. Estas são as boas notícias para os definidores de políticas e para as empresas. As más notícias, são que esse mercado também se esgotará rapidamente, porque a maior parte da população está disposta a pagar por terminais de telemóvel, a pagar um certo valor de chamadas de voz e

28

envios de texto, mas não está disponível para pagar mais serviços (Cardoso et al., 2007). Acresce a isso que, na maioria dos casos, para os que não usam a Internet no PC, a probabilidade de saberem utilizar, necessitarem e valorizarem o uso de transmissão de dados, é muito baixo. Estamos assim, pela primeira vez, em mais de uma década de crescimento acelerado da utilização da Internet e na adopção de telemóveis, perante mercados onde a substituição de equipamentos parece ser o móbil de crescimento do sector dos fabricantes de telemóveis, e onde quem vende acesso à Internet começa a ver esgotado o seu potencial de crescimento de novos clientes. Mas o que é verdadeiramente interessante neste processo é que, por motivos diferentes, Mercado e Estado defendem hoje o mesmo objectivo, a necessidade de ter mais pessoas envolvidas na definição activa da sociedade de informação, isto é, mais pessoas capazes de possuir as literacias necessárias para operar os instrumentos de mediação que lhes permitem chegar à informação, tenha ela origem nos media tradicionais ou em todos aqueles que despontam (Livingstone, 2004; Cardoso, 2006). Tanto empresas como ministérios já perceberam que não serão os computadores de secretária ou portáteis que estarão nas mãos da maioria dos cidadãos, pois quem os usa ou é jovem ou tem, normalmente, pelo menos o ensino secundário (Cardoso et al. 2008; Drotner & Livingstone, 2008). A outra coisa que também já compreenderam é que os telemóveis podem ser uma solução, mas também têm limites. Esses limites chamam-se: capacidade financeira para utilização de serviços; existência de conhecimentos adquiridos para usar os interfaces; e descoberta do interesse em os usar. Nos próximos anos iremos assistir, provavelmente, à necessidade de baixar os preços, já não apenas dos terminais de acesso, mas sim dos serviços, para incluir mais pessoas no circuito de utilização, mas tal será inútil se, por outro lado, não tivermos mais pessoas com maior formação educacional e experimentação informal das tecnologias. A comunicação em rede é, assim, também uma combinação da rigidez, quer em termos físicos quer de estratégias de comercialização, dos interfaces do computador portátil, do telemóvel e das redes de acesso, em combinação com a sua portabilidade. Media ainda bastante jovens. A influência do modelo de comunicação em rede é também visível entre os media há mais tempo presentes no nosso dia a dia. Embora a imagem que hoje tenhamos deles tenha sido criada ainda no século XX, eles encontram-se em mudança. A Rádio tem uma terceira via, a Televisão deixou de ser uma tecnologia e passou a ser apenas identificável pelo seu tipo diferenciado de conteúdos e os Jornais são cada vez mais agências noticiosas. A Terceira vida da Rádio.

29

A chegada da Internet não veio apenas criar o ambiente certo para fazer surgir títulos da imprensa escrita com variantes da interrogação “O fim da Imprensa?”. Os jornais que hoje conhecemos são diferentes dos de há 20 anos e de 70 anos, a rádio também o é. O que a história dos media nos ensina é que regularmente os media se inovam, no entanto há inovações mais abruptas do que outras, em particular quando o anterior modelo de negócio dá sinais de se esgotar e se procura o próximo. A rádio é considerada por muitos autores como um meio de futuro e também eu creio que o que assistimos é à sua vitalidade e não ao seu desaparecimento, daí que concorde com Enrico Menduni sobre a rádio como um media de futuro (Menduni; 2002). Começando pelas duas anteriores vidas da rádio há em grande medida uma semelhança entre a primeira vida da Rádio e a Internet. Quando Berthold Brecht (1932), dramaturgo alemão, considerava nos anos 30 que a rádio era um media de liberdade afirmava-o convicto que o uso pelos cidadãos das frequências disponíveis para emitirem o que quisessem e dar azo à criação era uma das grandes conquistas do século XX. O surgir de regimes de inspiração ditatorial, por quase toda a Europa, fez esse argumento esboroar-se e parecer mais um desejo do que uma realidade, dando ao mesmo tempo origem à primeira idade da rádio: a idade das grandes emissoras de carácter nacional, detidas maioritariamente pelo estado, mas também nalguns contextos nacionais por entidades privadas. A segunda idade da rádio foi aquela que teve como auge o período da difusão da microelectrónica a preços acessíveis, a qual, em conjunto com movimentos sociais das décadas de setenta e oitenta do século XX trouxe ao panorama internacional a possibilidade do surgimento das chamadas “rádios piratas”. Rádios essas, que num segundo momento foram em parte assimiladas pelo status quo dos media dando origem à institucionalização de novas empresas radiofónicas de emissão local, regional e nacional. De novo aí o ideário de Berthold Brecht (1932) teve um regresso, ainda que fugaz, ao tecido social para depois, por motivos diferentes dos da década de trinta, voltar a submergir. A terceira vida da rádio foi antecipada pela chegada de uma nova tecnologia: a Internet (Ortoleva, 2002). A Internet tal como a Rádio foi algo de um discurso similar sobre as suas capacidades libertadoras da criatividade e da comunicação humana. E em grande medida foi capaz de viver, até hoje ao nível das expectativas criadas pelo seu discurso. Embora tecnologicamente diferentes no seu âmago, as duas tecnologias de massa mais similares nas suas características de proximidade e criação de laços sociais são de facto a Internet e a Rádio. Daí que a resposta às diferentes variantes sobre “O fim da rádio” só possam ter como resposta que a “Internet não matou a rádio mas deu-lhe uma terceira vida”. Uma vida diferente das anteriores, é claro. Mas uma nova vida sem dúvida. Uma vida alicerçada no facto de a rádio ser o media que mais facilmente se adapta à Web 2.0 (Carpentier, 2007).

30

A argumentação em torno desta possibilidade, já explorada inclusive por rádios cuja origem remonta às décadas anteriores à segunda guerra mundial, está directamente relacionada com a questão da publicidade na Internet. Agências, mediadores, anunciantes (e também os próprios media) se têm interrogado sobre como obter ganhos com a publicidade na Internet. Uma resposta comprovada é a articulada pelas rádios que a partir das suas comunidades de ouvintes criaram online novos espaços para as comunidades que se podem formar em torno dela num novo ambiente. As estratégias utilizadas são muitas e vão do download ou streaming de vídeos das músicas que se encontram a tocar na emissão num dado momento, intervaladas com publicidade até à utilização da primeira página para os blogues alojados no servidor da rádio que mais comentários possuírem por parte da comunidade de ouvintes. A rádio é também o espaço que mais facilmente, num contexto nacional, pode competir com redes sociais como o myspace.com na descoberta de novos talentos musicais e também é o espaço, por excelência, para a partilha de receitas com os artistas que seguem o modelo “livre de editora”. È claro que nem todas as rádios estarão preparadas para este novo modelo ou, se quisermos, vida. As rádios que nas suas emissões mais apostam na intimidade com os seus ouvintes são, porventura, as que melhor podem passar à criação de comunidades online. O sucesso está em conseguir criar redes alargadas, ou seja, chamar os seus ouvintes até esses espaços, num processo lento e de respeito para com essa relação e ao mesmo tempo diversificar para outros espaços falantes de português ou onde portugueses se encontrem, pois os espaços virtuais tais como os outros espaços precisam de diversidade para atraírem novos elementos e consolidarem as redes. A Rádio possui uma aliança natural com a Internet e é, porventura, hoje o media que em Portugal melhor explorou as potencialidades da Internet. Ou melhor, aquele que aliou à experimentação resultados concretos em termos de aumento (ou fixação de audiências) a par de aumento da interactividade com os seus destinatários. A rádio conseguiu estabelecer quais os pontos de contacto entre as suas características inatas (Meneses, 2007) e as características oferecidas pela Internet. A esse fenómeno não são alheios os modelos de negócio radiofónico (assente na publicidade), a facilidade de conversão e distribuição do sinal sonoro em formato digital e acima de tudo a dimensão intimista da rádio, a qual se casa perfeitamente com a construção de redes sociais permitida pela Internet. A rádio e a Internet completam-se assim na procura de uma mais forte proximidade com aqueles que ontem, a ouviam, e hoje a ouvem mas também a vêem e interagem com ela: os ouvintes. Se as pessoas que usam a Internet, a parte mais jovem da população (Cardoso et al, 2008) , dedicam mais tempo à audição de rádio que ao visionamento televisivo, se em multitasking passam mais tempo a ouvir música que rádio e se acham mais interessante ouvir música que rádio, o que é que isto nos diz sobre as futuras apropriações da rádio pelos seus

31

ouvintes e seus produtores? O melhor campo da percepção da relação e gosto dos jovens com a música, não são hoje as vendas de música, ou os lançamentos promocionais das editoras junto das rádios, mas sim a audiência dos concertos e o tipo e a quantidade de música trocada nas redes P2P. Se assim for, o casamento, ou união de facto, da rádio com a Internet produzirá uma rádio mais quente do que a de hoje, onde a interactividade será maior e as músicas passadas continuarão a ter a ver com as opções das pessoas, só que serão opções mediadas pelas escolhas feitas na Internet e pelo tipo e número de pessoas que vai olhar, olhos nos olhos, o seu vocalista ou guitarrista preferido num dado concerto. A rede da rádio será assim feita de momentos quentes e frios, para além de McLhuan (1997), a rádio poderá ser um meio quente e frio em simultâneo. A Televisão é uma narrativa, não uma tecnologia. A televisão deixou de ser identificável apenas pela caixa que estava presente nas nossas salas ou quartos, pois passou a estar em muito mais lados. Por outro lado deixou também de ser possível de ser definida apenas pela imagem em movimento, tornou-se em algo mais complexo. A televisão hoje são conteúdos produzidos, ou comissionados, pelas estações de televisão mas também conteúdos gerados pelos utilizadores, ou User Genertated Contents (UGC). Empresas de Telecomunicações, empresas de Televisão, empresas de Internet (como o Google), Empresas de Media (como as de Rupert Murdoch), empresas de Publicidade e empresas de software parecem, neste momento, viver uma nova descoberta de potencial de negócio: o User Generated Content ou se preferirmos, conteúdos gerados pelos utilizadores (Slot & Frissen, 2007). Depois da chamada Web 2.0, que as empresas tardiamente descobriram como objecto de negócio, abre-se uma outra nova área de negócio, a dos conteúdos de vídeo gerados pelos próprios utilizadores e não por empresas. Essa nova área de negócio surge, porque só agora a banda larga se tornou uma realidade entre aqueles que já dominavam a outra tecnologia digital necessária: a gravação de vídeo. A aquisição do YouTube pelo Google é apenas um exemplo de apropriação comercial do UGC, outros poderiam ser encontrados nos programas das cadeias de televisão que convidam os seus telespectadores a realizarem vídeos e os mais vistos na Web têm depois passagem em programas de Televisão. A aquisição de sites de partilha de vídeos mostranos uma tendência emergente mas, também, um modelo de negócio já bastante antigo. A tendência emergente é a de combinar conteúdos de grande investimento e complexidade (como as séries televisivas e telenovelas) com conteúdos de maior simplicidade (como são os reality-shows, programas de vídeo caseiros e agora os mais elaborados, pelo menos nos seus scrips, vídeo blogues e vídeos divulgados em sites de partilha como o YouTube, MySpace ou Hi5).

32

Os exemplos são múltiplos, desde as versões alternativas de vídeos de bandas produzidos pelos seus admiradores, até à interpretação de músicas em playback ou séries em machinima ou em episódios de curta duração colocados online com alguma regularidade, ou ainda criando o seu próprio canal de televisão como no caso do sistema BrightCove. Quanto ao modelo de negócio já antigo, e testado, é o baseado na publicidade tal como o conhecemos na televisão das nossas salas de estar, cozinhas e quartos. Na realidade, o modelo de pagar conteúdos continua presente mas há um novo modelo nas distribuições em formato digital que regressa ao modelo inicial da televisão, antes desta ser paga. Um exemplo dessa opção, foi o da TV2 Norueguesa que no dia em que acordou com o seu operador de telecomunicações uma flat rate para a distribuição de vídeo para telemóveis viu aumentar 300% os seus clientes de subscrição do serviço. O que todos os novos modelos de vídeo, ou se quisermos a nova rede televisiva (que engloba TV, Internet e Telemóveis), mostram é que para além da televisão que chega a 99% da população em Portugal (e nos países desenvolvidos), há também espaço para uma cobertura de disseminação de vídeo para os utilizadores de Internet portugueses e para os que verão vídeo no seu telemóvel. Se o vídeo chegou em força à Internet, também os conteúdos televisivos a ela estão a chegar. Exemplos vários podem ser encontrados, como por exemplo, a novela Wannabes da BBC, que consiste de dois episódios entre 2 e 3 minutos cada, de publicação semanal, durante cerca de sete semanas. Ao contrário das experiências interactivas televisivas, muitas vezes falhadas, onde se podia esperar escolher o final de uma novela, este modelo para a Internet não permite aos espectadores mudar o enredo do drama mas permite-lhes mudar a forma como cada um vê a história, os momentos chave estão sempre presentes o que muda é o debate em torno dos porquês das escolhas. A interactividade aqui está centrada na aproximação aos personagens e às suas vidas e formas de olhar o mundo e de lhes proporcionar ajuda na tomada de decisões pessoais difíceis. As novelas da Era do User Generated Content chegaram e com elas virão novas formas de contar histórias cuja origem escrita está nas tragédias gregas e na oralidade que mergulha ainda mais fundo na história da humanidade. Mais uma vez, com a democratização do acesso à produção surgem novas possibilidades

de

intervenção

cívica

e

novas

formas

de

mercado.

Se o modelo de produção de conteúdos mudou na televisão, também onde a televisão é por nós vista mudou. Muitos de nós lembrar-se-ão ainda de quando a televisão chegou à portabilidade. No início dos anos oitenta, do século passado, muitas famílias adquiriram pequenos televisores que levavam consigo nas deslocações de fim-de-semana ou de férias, eram televisores muito semelhantes, em tamanho, aos nossos ecrãs de computador de secretária. Esta análise não se refere a essas televisões portáteis, mas esta chamada de atenção permite-nos perceber que embora só hoje tenhamos telemóvel a portabilidade da televisão é já algo que nos acompanha há muito tempo.

33

A televisão móvel é mais um exemplo, dos muitos que abundam no quadro dos media, de um modelo de inovação incremental onde, através de baixar a percepção da qualidade técnica associada ao produto (neste caso a transmissão de imagem em movimento, mas no caso dos jornais veja-se os jornais gratuitos), se procura alargar a massa de utilizadores. No entanto, essa inovação incremental move-se num campo muito particular: o da televisão e o do telemóvel. E por isso merece ser analisada a pormenor, pois a sua adopção e criação de mercado obedecerão a especificidades ainda não trabalhadas em nenhum outro mercado dos media. Em primeiro lugar, tratam-se das duas tecnologias mais disseminadas a nível dos países desenvolvidos. Em segundo lugar, no caso particular da televisão móvel, a tecnologia que vier a ser usada é a menos importante de todas as condicionantes. Ou seja, saber se a transmissão será em Unicast ou Broadcast e qual será o standard e/ou protocolos de transmissão é importante para os decisores técnicos, mas terá muito pouca importância para a decisão final de adopção do serviço. A televisão obedece a outras regras que não as tecnológicas. As regras para a televisão são as ditadas pelos conteúdos, basta pensar nos diferentes sistemas televisivos com que vivemos, em diferentes países, ao longo dos últimos 50 anos (Hesmondhalgh, 2007; Miège, 1997). È claro que é necessário que exista interoperabilidade entre redes, mas para o consumidor o que conta é a rede de contactos, e essa é a rede que ele já adquiriu na tecnologia de suporte ao acesso à televisão móvel: o telemóvel. A TV móvel, tal como as outras, tem também um primetime. Esse primetime é o do espaço dos fluxos (Castells 2000), ou seja, o espaço de mobilidade entre ecrãs (Tubella et al., 2008). O espaço em que não estamos frente a nenhum dos dois ecrãs de eleição para lidar com o audiovisual: o ecrã da televisão de casa (ou do café/restaurante) e o ecrã do computador em casa, na escola ou no trabalho. Há também que ter presente que cada país terá o seu modelo de TV Móvel, não só pela apetência por consumos de conteúdos diferenciados, mas também porque, tal como no norte da Europa há um único primetime e no Sul da Europa há dois, também os modelos de vida de cada país condicionarão a adopção da TV Móvel. No caso de Portugal há algumas condicionantes endógenas a ter em conta. Por exemplo, a TV Móvel (ou Mobile TV) terá nos transportes públicos um espaço de eleição – tal como hoje já têm os jornais gratuitos. Logo, há duas situações a ter em atenção. Por um lado a existência de um meio já implantado fortemente nesses espaços de fluxos, o jornal gratuito, por outro lado, o facto de o número de portugueses que usa transportes públicos em zonas urbanas de elevada densidade ser percentualmente menor quando comparado com outros países da Europa. Para quando será a Mobile TV? Ela será para as deslocações, para as férias, para os finsde-semana, para as saídas nocturnas, para as deslocações ao estrangeiro (com roaming),

34

será enfim, para onde não houver outros ecrãs onde se pode ver com melhor qualidade, o que quer dizer que será também para os públicos juvenis nas escolas, onde o número de computadores é ainda muito baixo. Que conteúdos se devem esperar encontrar? Neste contexto, Portugal tem um problema e uma oportunidade. Ambos radicam na especificidade do nosso mercado audiovisual e no facto de sermos, quase, o único país da União Europeia que tem legendagem e não dobra as produções audiovisuais. A legendagem é impraticável na Mobile TV devido ao próprio tamanho dos ecrãs, pelo que a maioria dos conteúdos de entretenimento, em Portugal, terão de ser produzidos localmente. Há no entanto, uma série de produtos audiovisuais que se adaptam muito bem ao telemóvel. Um deles são os videoclips de música, outro são as séries de animação e todos os produtos já dobrados ou em língua original. No entanto, mesmo esses terão de ser adaptados para durações médias abaixo dos 5 minutos, o que constitui acima de tudo um desafio para os argumentistas. Outra possibilidade pode ser o denominado “User Driven Content”, o que significa que a Mobile TV pode ser usada na editorialização de conteúdos já disponíveis em plataformas como o YouTube, ou votar através da web (ou sms) num determinado vídeo e depois o broadcast ser o produto das escolhas de todos os votantes. Se a mobilidade se intensificar, a multiplicação de ecrãs ocorrer, os produtores de televisão se multiplicarem, será que o serviço público de televisão está ele próprio em mudança no quadro da comunicação em rede, isto é, será que a oferta de conteúdos televisivos nos manterá num estádio de Neotelevisão (Eco, 1985; Casseti & Odin, 1990) ou algo mais nos será proposto? Serviço público é um conceito que se encontra associado aos media de forma mais generalizada desde, pelo menos, os anos 50 do século XX (Raboy 2001, 2001a; Kung, 2002, 2007). Por outro lado, inovação é uma palavra relativamente antiga mas que agora ganhou destaque mediático em tudo o que se relaciona com a economia portanto, também em tudo o que se relaciona com os media. Embora possam parecer dois conceitos aparentemente são contraditórios na sua génese (em particular para os críticos da prática de serviço público de televisão) na verdade, quando olhamos para muitos exemplos europeus, serviço público e inovação são uma e a mesma coisa (Iosifidis, 2007). Em Portugal dado os atribulados anos que Televisão e Rádio de serviço público viveram entre 1991 e 2002 (turbulências em que quase todos os agentes envolvidos no sector dos media tiveram alguma participação: desde os políticos até aos empresários e dos jornalistas ao próprio público radiofónico e televisivo) essa noção de inovação não tem uma forte tradição (Cardoso 2007; Cádima, 1999, 2002). No entanto, se olharmos para casos como os da BBC e das televisões escandinavas verificamos que muitas delas foram as percursoras de novos produtos e novas abordagens

35

da comunicação, nas quais as empresas privadas não podiam ser líder porque, simplesmente, não possuíam os meios financeiros necessários nem o tempo para esperar pela criação lenta de novas audiências (Ytreberg 2004, 2004a). A BBC abriu portas à informação escrita na Internet e criou as condições para habituar audiências a usá-la para se informar com o mesmo grau de credibilidade a que estavam habituadas fora dela (Born 2003; Kung 2002). Mas,dado que o sector público é regido por políticas públicas de media (Freedman, 2008), qual deve ser a missão dos operadores de Televisão Pública? Isofidis (2007) propõe uma definição não negativa do que é serviço público, fugindo a que normalmente é dada, isto é: ser diferente do que fazem as televisões que não são públicas. Para responder à pergunta atrás formulada o autor sugere uma resposta à questão: “Em que sociedade queremos viver? Quais os valores a serem protegidos?”. Numa sociedade com rosto humano e não totalitária os valores chave são de facto o pluralismo, a independência, acessibilidade, qualidade de conteúdos, coesão social e protecção da privacidade. No entanto, essa é uma carta de princípios que deve estar presente nas direcções de programas e de informação de todas as televisões, públicas ou privadas. Não chega para diferenciar qual a missão da TV Pública. Para falarmos em missão da TV pública temos de ir mais além e passar para lá do informar, educar e entreter e focar a atenção na criação de autonomia dos cidadãos (Castells et al. 2003, Espanha, 2008), dando-lhes a opção de escolha de qualidades diferentes, no leque de programas oferecidos, e inovação face ao actualmente feito nos outros canais e ao já experimentado no passado. No contexto da comunicação em rede a TV pública tem de tratar os seus telespectadores não apenas enquanto audiências mas também como cidadãos. No campo do financiamento, o modelo actual Europeu (onde coexistem modelos duais de publicidade e financiamento do Estado) deve evoluir, no espaço das próximas décadas, para um modelo assente apenas no financiamento público de gestão de longo prazo. Pois, o facto de existir subvenção dos estados só se pode justificar se houver verdadeira inovação de programas, diferenciação de oferta e qualidade (como sempre um conceito subjectivo) sem demasiadas amarras publicitárias e de audiências. No entanto, como se escrevia em 1984 no texto introdutório do livro “A Comunicação no Quotidiano Português” (1984) onde surgiam textos de, entre outros, José Manuel Paquete de Oliveira, José Bragança de Miranda, José Mário Grilo “Seremos nós capazes – temos meios, condições, consciência possível – para alterarmos a ordem estabelecida?”. Se não formos capazes teremos certamente um sistema dos media mais enfraquecido com menor vitalidade e capacidade de inovação. O que quer dizer também um mercado com menores taxas de crescimento e menores rendimentos das empresas de media. Um mercado onde todos, privados e público, perdem. Por essas, e outras razões, tão importante quanto as pessoas são as ideias que as pessoas têm, é essa a génese do funcionamento de um modelo de comunicação em rede: o poder da criatividade e da articulação da criatividade de muitos para dados fins específicos.

36

A televisão passou, no contexto de um modelo de comunicação em rede, a ser definida não pela tecnologia que a transmite, ou pelo ecrã de recepção, mas pelo género de conteúdos ficcionados e informativos que disponibiliza. No entanto, ela poderá continuar a ser uma Neotelevisão (Eco, 1985; Casseti & Odin, 1990) ou evoluir para outro estádio, disso dependem os tipos de conteúdos que ela nos vier a disponibilizar. Do papel de jornal à Agência Noticiosa Muitos se devem lembrar da interrogação colocada na capa da edição semanal do The Economist (2006): “Quem Matou o Jornal?”. Mas, o The Economist talvez tenha que, a breve trecho, reescrever o seu epitáfio acerca da morte prematura dos jornais. Pelo mundo inteiro, multiplicam-se as experiências no campo dos jornais. Em comum entre elas? O uso de multi-tecnologias. Ou seja, durante o século XIX e XX o surgir de culturas diferenciadas de jornalismo ficou, em grande medida, a dever-se ao contexto de monopólio tecnológico. Os Jornais (e Revistas) detinham o papel, a Rádio a voz e a difusão no éter e o mesmo se pode dizer da Televisão com a imagem. Com a chegada da Internet tudo se confundiu um pouco, nomeadamente porque a TV tomou também conta da palavra escrita (como no caso da BBC News Online), a rádio experimentou activamente o escrever nas suas páginas online e a imprensa escrita viu-se desprovida do monopólio da escrita. Como é lógico, tal foi visto como uma ameaça para mercados como o Europeu onde, devido à quebra demográfica o número de novos consumidores de jornais não se repõe à mesma velocidade, e onde a juventude, criada numa retórica da imagem em movimento, parece relegar os jornais para 4ª ou 5ª posição nos seus rankings de preferências (Cardoso et al., 2007a). Para complicar tudo um pouco mais, o Google e outras empresas popularizaram o blogue, o que nos países mais desenvolvidos nas indústrias de media (como os EUA) quis dizer multiplicação dos jornalistas de palavra escrita online (Bentley et al., 2007; Tremayne, 2007). No entanto, o cenário mudou em 2007, provavelmente graças ao próprio artigo do “The Economist”. Pois, a melhor forma de reagir às crises é perceber que elas existem, por muito que tal seja difícil de assumir. De há alguns anos a esta parte (também porque a tecnologia e os mercados parecem estar mais amadurecidos), o número de experiências em novos mercados e novas formas de dar notícias parece multiplicar-se (Bentley et al., 2007; Deuze et al.,2007; Bakker, 2007ª; Boczkowski, 2002)). E, o que tal parece indicar, para o negócio dos jornais, é que a Era do jornal de papel assente nas receitas de publicidade (e classificados), compra pelo leitor, marketing e venda de produtos tangíveis (Livros, CD, etc.) e assinaturas, terminou. O Jornal enquanto empresa, lugar de trabalho e modelo jornalístico assente apenas na escrita e fotografia terminou, ou melhor, não terminou ainda, mas encontra-se num processo de mutação, que nos fará olhar para este momento actual como o início dessa ruptura.

37

Em termos da cultura organizacional e gestão de recursos humanos o desafio é enorme, porque implica dizer, por parte das empresas, que “somos um Jornal” mas na realidade “agiremos como uma Agência Noticiosa”, produtora de notícias para serem distribuídos através das tecnologias e marcas que detivermos. Isto quer dizer ter ciclos de produção adaptados às dietas de media (Cardoso, 2007) dos consumidores. Exemplos dessa adaptabilidade serão muitos. Por exemplo: produzir rádio através da Web para as primeiras horas do dia ou da manhã; gratuitos e pagos em papel para distribuir, e vender, no trânsito e nos transportes públicos; SMS gratuitos, pagos com a publicidade dos serviços oferecidos pelas operadoras de telemóveis do consumidor; novos produtos pagos em papel mas autónomos do jornal (quer de carácter permanente, quer efémero); diferenciação de preços, conforme o local de aquisição, das edições em papel; edições na Internet; abertura à segmentação de opinião publicada em papel em função dos destinatários (geográfica ou em função das escolhas e preferências dos consumidores); anunciar jornais na televisão; utilizar redes de distribuição pré-existentes como autocarros, hospitais e centros de saúde, postos de correios, bancos, clubes desportivos e associações, etc.; edições vídeo das notícias; open newsrooms e open journalism; o jornal como ponte de social networking segmentado, ou não, etc. (Bentley et al., 2007; Deuze et al.,2007; Bakker, 2007a). No entanto, todos os exemplos atrás referidos implicam a resolução de dois grandes problemas: a cultura das redacções e a cultura de gestão (Actenhagen & Rav, 2007; Fee Jr, 2007). Começando pela cultura de gestão, a mudança necessária para atingir um novo modelo de negócio implica incutir na empresa culturas de criatividade dirigidas para a conquista de leitores e a recusa de soluções únicas, estanques e permanentes. Ou seja, aprender a inovar nos modelos e não apenas nos conteúdos, recusando também a ideia de um produto final único. Exemplos operacionais dessa abordagem, são por exemplo processos bottomup, prémios à inovação e articulação em rede entre todos os níveis da empresa, recusando intermediários nos processos de canalização de criatividade entre quaisquer indivíduos ou grupos (Actenhagen & Rav, 2007; Fee Jr, 2007). Quanto à cultura de redacção, a multimedialidade (escrita, fala, gesto, imagem) na comunicação é uma necessidade. É certo que alguns farão algo melhor que outros, mas também é verdade que, entre os jornalistas que hoje se reformam (ou se irão reformar em breve), há muitos que fizeram rádio, jornais e televisão, tudo formas de comunicar com diferentes retóricas. Mas, acima de tudo, importa recusar o pensamento monopolizante. Ou seja, não há “1” público, existem “1000” públicos que querem coisas diferentes e, para além disso, o fazem em diferentes horas do dia e em media, também eles, diferentes. A outra dimensão cultural que a mudança atravessa em torno da vida das redacções é de mais difícil resolução, talvez precisamente por culpa do próprio motor da mudança aqui analisado: a Internet.

38

O “jornal” para renascer enquanto “agência de notícias de integração vertical” e multimédia terá de dar notícias diferentes (o que é o mesmo que dizer coisas diferentes das que já sabemos, ou proceder à introdução de dinâmicas de aprofundamento, actualização, contextualização e tudo isso à base de infografia, som, texto, vídeo, etc.). Porquê? Porque o mediado já chega por via de diferentes fontes, profissionais ou outras, tanto ao jornalista quanto ao público. O que é o mesmo que dizer que para haver diferença tem de haver mais tempo no terreno, fontes face a face, estar na rua, ir onde a redacção não chega, gravar, escrever a partir dos locais dos acontecimentos. Para a inovação e criatividade e a segunda vida do jornal enquanto agência de notícias de integração vertical (da produção de notícias à sua distribuição multicanal de som, imagem, escrita), é fundamental seleccionar a realidade e colocar os princípios da ética específica do jornalismo ao serviço: 1. da busca da novidade (retomar as mesmas temáticas, acontecimentos e/ou estudos só porque capturam a atenção não representa novidade e portanto são estratégias de curto prazo); 2. e da selecção e validação de factos (pois, o jornalismo deve validar ele mesmo mais fontes sem recorrer a especialistas. O jornalista tem de ser validador generalista mas também ser capaz de o ser em áreas específicas, da sociologia à medicina, da engenharia civil à climatologia). O Jornal não está apenas na rede, o Jornal está a constituir um novo nó da rede que liga os media entre si, e a reconfigurar-se como um elemento central da Comunicação em Rede, tal como o foi na Comunicação de Massa. Wikis, Blogues E Youtube. E Agora? Não há dúvida que algo mudou entre a Web de hoje e a Web que Tim Berners Lee e seus alunos criaram nos idos anos 90 (Abbate, 2000). No entanto, embora a Web o não tenha sido até agora, a Internet sempre foi social (Castells 2000, Cardoso 1998). Sempre se comunicou mais do que se publicou informação e entretenimento. Se o email foi a ferramenta de eleição dos maiores de 25 anos, o chat com o MSN, Yahoo e Google Talk (e antes deles o IRC, Newsgroups e mailing lists) eram as ferramentas mais usadas e mais vezes utilizadas por quem se ligava e liga à Internet (Castells et al., 2003, Cardoso et al., 2005). O que mudou não foi a característica social da Internet foi o facto de, essa mesma característica, ter chegado à Web através de programas como, entre outros, MySpace, Facebook, hi5, Friendster, ou mesmo, Second Life. Mas, para além dessas considerações, há também que não confundir a “nuvem com Juno” ou “a árvore com a floresta”. As questões que a divulgação da Web social coloca prendem-se muito mais com a informação do que com os denominados perigos de falar com “estranhos” (os “estranhos” são os

39

mesmos que sempre andaram fora do mundo virtual, agora apenas se moveram para lá). O que a Web 2.0 nos traz é a mudança de paradigma de relação com a informação e isso encerra problemas maiores, porque não nos atinge apenas individualmente, atinge-nos individual e colectivamente em todas as dimensões da nossa vida. É óbvio que as novas dimensões da acessibilidade da informação, em quantidade e em mobilidade são uma mudança fundamental para as nossas sociedades e, trata-se, de uma mudança positiva. Essa mudança quer dizer, em teoria, mais liberdade de pensamento, maior reflexividade e maior democraticidade (Silverstone 2006) entre os sujeitos comunicantes, isto é: nós. No entanto, importa questionar se essa mudança não está também a mudar as regras do jogo sem que nós nos apercebamos e, como tal, podendo colocar-nos fora dele. Não por nosso erro, mas por desconhecimento de que as regras mudaram algures ao longo de um jogo em curso. Na Era da Comunicação de Massa, a “verdade” (algo sempre subjectivo, como convêm relembrar) costumava estar associada àquilo que era dito pelos jornalistas (também aos professores e autores publicados e encadernados em papel, mas o que esses nos contavam tinha normalmente menos impacto na nossa vida diária). O que diferencia, em última analise, o jornalista do contador de histórias é a dimensão ética (Paulussen et al., 2007; Franklin et al., 2005; Heinonen 1999). Não é a sua capacidade de escolha e selecção, pois essas são, tão só, ferramentas ao serviço da ética. Algures nos primeiros anos do século XXI produziu-se um fenómeno fundamental: o surgimento da Wikipedia. Porquê a Wikipedia? Porque a Wikipedia mudou a nossa relação com as fontes de informação avalizada e de carácter não actual, ou seja, as que não eram notícias (Benkler, 2002; Quiggin, 2006; Auray et al., 2007; Halavais et al., 2008). A lógica deixou de ser “o que está escrito lá é o que vale” (o modelo da enciclopédia) para passar a ser “o que a maior parte das pessoas não alterar, é o que vale”. Até aqui nada de preocupante, a validação por mais pessoas normalmente quer dizer menos gralhas. Mas o problema que a Wikipedia, os Wikis e, seus parentes, os blogues nos trouxeram foi o facto de que, embora convivamos com diferentes categorias de informação, na generalidade as pessoas, tal como confiam na informação televisiva, também confiam na informação que encontram na Web (WIP, 2006). O que essa constatação implica é a necessidade de adaptar o ensino das dimensões da validação de informação no quadro das novas literacias, isto é, que os textos escritos e publicados podem ou não valer, podem ou não dar-nos certezas, mas que devemos encarar a informação, toda, sempre como duvidosa até prova em contrário. Mas passemos à segunda questão que o surgir da Web social, ou 2.0, coloca tem a ver com a difusão da imagem em movimento, do filme, e da imagem estática (a fotografia). Costuma-se dizer que uma imagem vale mil palavras. Será tal ainda correcto? Talvez sim num passado próximo, hoje não. É certo que a montagem fotográfica é tão antiga quanto a

40

fotografia. (Reynolds, 2007). No entanto, com o surgir das tecnologias digitais o número dos que podem manipular fotos e filmes aumentou exponencialmente (Lessig, 2004). A questão não é se é possível, mas sim com que qualidade se faz e quantos têm capacidade para entrever o que é real e o que é “trabalhado”. O que a difusão das técnicas de manipulação de imagem provoca é que devemos habituar-nos a pensar que não podemos acreditar no que vemos, pondo em causa a velha máxima do “ver para crer”. Mas há algo mais que esta análise nos diz. Arriscaria dizer que, o que nos diz, é que o jornalista, lentamente, está de novo num processo de valorização profissional enquanto alguém que, pela sua ética, pode ser considerado de confiança, porque o que ele escrever, disser ou filmar terá um valor diferente de muito do que é actualmente publicado. E se não podermos contar com essa ética profissional os nossos problemas serão muito maiores. Mas essa nova valorização (ou regresso da percepção) do papel do jornalista implica também que ele volte a ser diferente do utilizador da Internet. Ou seja, ele terá de ver com os seus olhos para crer e deixar de ver pelos olhos de outros. Isto é, terá de abandonar a secretária e ser essencialmente um repórter de terreno. No geral, o que nos sugere esta mudança é positivo para a comunicação e para as sociedades. É claro que, como em todas as mudanças, há riscos mas também muitas oportunidades. O que importa é estarmos cientes que ambos estão lá. E acima de tudo passar da intuição à consciência do facto. Porque talvez a maior parte de nós (embora intuindo) não verbalizou essa mudança de paradigmas comunicacionais. E como sugeria Roger Silverstone (2006): se não se comunicou publicamente nos media, então não existe. Wikis, Blogues, Youtube, e agora? É uma pergunta que só a investigação e a análise futura podem responder. Como no futuro não existem factos é impossível ao cientista social prever. No entanto, a certeza que podemos apresentar, porque a regularidade histórica isso parece indicar, é que a um modelo de comunicação se junta sempre um novo, pelo que à Comunicação em Rede sucederá um outro modelo, a ser construído por nós.

41

Bibliografia Abbate, J. (2000). Inventing the Internet. - Cambridge, Massachusetts; London, England, The MIT Press. Actenhagen, L., & Rav, E. (2007). Organizing Internal Tensions: Duality Management of Media Companies in Achtenhagen, Leona. (2007). Organizing Media: Mastering the Challenges of Organizational Change, JIBS Research Report Series Nº2007-1. Anderson, Chris (2004) "The Long Tail", Wired, Oct. 2004, [Online] Available: http://www.wired.com/wired/archive/12.10/tail.html Aroldi, P., & Colombo, F. (2003). Le Età della Tv, Milano: VP Università. Auray, N., Poudat, C., & Pons, P. 2007 Dec 6. Democratizing scientific vulgarization. The balance between cooperation and conflict in french Wikipedia. Observatorio (OBS*) [Online] 1:3. Available: http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/152 Bakker, P. & Van Duijvenbode, Matthijs. (2007). Measuring Newspaper Innovations. Ideas, the magazine of the International Newspaper Marketing Association, May/June 2007, 10-13. Bakker, P. (2007). Free Daily Readership. In Worldwide Readership Research Symposia Vienna 2007, pp. 63-74. Bakker, P. (2002) Reinventing newspapers; Free dailies - readers and markets. In R. Picard (ed.). Media Firms (pp. 77-86). New York: Lawrence Erlbaum. Bakker, P. (2007a). Free daily journalism – Anything new? Journalistica, 4, 22-32. Barzilai-Nahon Karine, (2008), "Toward a Theory of Network Gatekeeping: A Framework for Exploring Information Control", Journal of the American Information Science and Technology. Volume 59 Issue 9, Pages 1493 – 1512. Benkler, Y.. (2006). The Wealth of Networks, New Haven: Yale University Press. Benkler, Y. (2002) Coase's penguin, or, Linux and The Nature of the Firm The Yale Law Jounal. v.112, n.3, pp.369-446. 2002. [Online] Available: http://www.firstmonday.org/issues/issue7_6/stalder/ Bennett, W. L. (2003). New Media Power: The Internet and Global Activism. In N. Couldry & J. Curran (Eds.), Contesting Media Power: Alternative Media in a Networked World. Oxford: Rowman & Littlefield. Bentley, C., Hamman, B., Littau, J., Meyer, H., Watson, B., & Welsh, B. (2007), Citizen Journalism: A Case Study, in Tremayne, M. (ed.), Blogging, Citizenship and the Future of Media, New York: Routledge. Beyer, Y., Gunn, S., Enli, A. M, & Ytreberg, E. (2007). Small talk makes a big difference: recent developments in interactive, SMS-based television, in Television & New Media, vol. 8 no. 3, pp. 213-234. Brecht, B. (1932), “Der Rundfunk als Kommunikationsapparat”, in Bjitter des Hessischen Landestheaters Darmstadt, no. 16, July, [Online] Available: http://telematic.walkerart.org/telereal/bit_brecht.html

42

Born, G., Strategy, Positioning and Projection in Digital Television, Media, Culture & Society vol.25 (2003): 773-799. Boczkowski, P. (2002), «The Development and Use of Online Newspapers: What Research Tells Us and What We Might Want To Know», in L. Lievrouw – S. Livingstone (Eds.), The Handbook of New Media, London: SAGE, pp.270-286. Cardoso, G., Rita Espanha e Tiago Lapa (2008), Relatório e-generation, Lisboa, CIESISCTE. Cardoso, G. (2008), From Mass to Networked Communication: Communicational models and the Informational Society.. International Journal of Communication [Online] 2:0. Available: http://ijoc.org/ojs/index.php/ijoc/article/view/19/178 Cardoso, G. (2007). The Media in the Network Society: Browsing, News, Filters and Citizenship, Lisboa: lulu.com and CIES-ISCTE, Available Online: http://www.obercom.pt/en/content/mPublications/35.np3 Cardoso, G., Rita Espanha, Vera Araújo e Carmo Gomes (2007). Portugal Móvel, Comunicação & Cultura, no. 3, Primavera_Verão, Lisboa: Quimera. Cardoso, G. (2006). Societies in Transition to the Network Society, in Castells, M. & Cardoso, G., A. Costa, C. Conceição & C. Gomes (2005), A Sociedade em Rede em Portugal, Porto: Campo das Letras. Cardoso, G. (1998), Para uma Sociologia do Ciberespaço: comunidades virtuais em português, Oeiras: Celta Editora. Caron, A., & Caronia, L. (2007). Moving Cultures: Mobile Communication in Everyday Life, Montreal, MQUP. Castells, M. (2006). Observatorio global: crónicas de principios de siglo. Barcelona: La Vanguardia Ediciones. Castells, M. (2005). “Innovation, Information Technology and the Culture of Freedom,” communication presented at the World Social Forum (29 Jan 2005). Available Online: http://www.openflows.org/article.pl?sid=05/01/31/2028221 Castells, M. (2000). The Rise of the Network Society, Oxford: Blackwell. Castells, M. et al. (2003). La Societat Xarxa a Catalunya, Barcelona: Editorial UOC. Castells, M. (2007). Communication, Power and Counter-power in the Network Society, International Journal of Communication 1 (2007), 238-266 Available Online : http://ijoc.org/ojs/index.php/ijoc/article/view/46/35 Castells, M., Fernandez-Ardevol, M., Linchuan Qiu, J., & Sey, A. (2006). Mobile Communication and Society. A Global Perspective. Cambridge: MIT Press. Colombo, F. (1993), Le nuove tecnologie della comunicazione, Milano: Bompiani. Colombo, F., & Scifo, B. (2006). The Social Shapping of Mobile Devices by the Italian Youth, in Haddon L. et al., Users as Innovators, Dordecht: Springer.

43

Carpentier, N. 2007 Apr 22. The on-line community media database RadioSwap as a translocal tool to broaden the communicative rhizome. Observatorio (OBS*) [Online] 1:1. Available: http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/44 Cádima, F. (1999), Desafios dos Novos Media: a nova ordem política e comunicacional, Lisboa: Editorial Notícias. Cádima, F. (2002), “Televisão, Serviço Público e Qualidade”, Observatório, Obercom, no. 6, November, 9-18. Caseti, F., ODIN, R., "De la paléo à la néo-télévision", Communications, nº 51, Paris,1990, Seuil. Deuze, M., Bruns, A., & Neuberger, C. (2007). Preparing for an age of participatoiry news. Journalism Practice 1 (3), 322-338. Drotner, K., and Livingstone, S. (2008) The International Handbook of Children, Media and Culture. London: Sage. Eco, U. (2001). Il Medium Precede Il Messaggio, Available Online: http://www.espressoonline.kataweb.it/ESW_articolo/0,2393,12424,00.html Eco, U. (1985). La Guerre du Faux, Paris: Grasset. Enli, G., & Syvertsen, T. (2007). Participation, Play and Socializing in New Media Environment in Nightingale, V., & Dwyer, T. (eds.), New Media Worlds, Oxford: Oxford University Press. Espanha, R. 2008 Jul 2. Internet and Health Contents. Observatorio (OBS*) [Online] 2:3. Available: http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/228 Franklin, B., Hamer, M., Hanna, M., Kinsey, M., & Richardson, J. (2005). Key Concepts in Journalism Studies, Sage. Friedman, T. L. (2005), The World is Flat: A Brief History of the Twenty-first Century, New York, Farrar, Straus and Giroux. Fee Jr., Frank E. (2007). Firestorm in the Newsroom: Cultural Issues in Altering Media Organizations in Achtenhagen Leona. (2007). Organizing Media: Mastering the Challenges of Organizational Change, JIBS Research Report Series, Nº2007-1. Freedman, D. (2008), The Politics of Media Policy, Cambridge, Polity Press. Hesmondhalgh, D. (2007). The Cultural Industries, London: Sage. Heinonen, A. (1999). Journalism in the Age of the Net. Changing Society, Changing Profession, Acta Universitatis Tamperensis, 685, Tampere: Tampere University Press. Halavais Alexander, Derek Lackaff (2008) An Analysis of Topical Coverage of Wikipedia Journal of Computer-Mediated Communication, Vol. 13, No. 2. (2008), pp. 429-440. 2008 [Online] Available: http://www.blackwell-synergy.com/doi/abs/10.1111/j.10836101.2008.00403.x Himanen, P., Torvalds L. & Castells M. (2001). The Hacker Ethic and the Spirit of the Information Age, London: Vintage.

44

Himanen, P. (2006). Challenges of the Global Information Society, in Castells, M., & Cardoso, G., The Network Society: From Knowledge to Policy, DC: Johns Hopkins Center for Transatlantic Relations. Huntington, S. P. (1996), The Clash of Civilizations and the Remaking of World Order, New York, Simon & Schuster. Iosifidis, P. (2007). Public Television in the Digital Era, New York: Palgrave Macmillan. IP NETWORK GmbH (2005), European TV Key Facts, January. Katz, J.E., & Aakhus, A. (eds.). (2002). Perpetual Contact. Mobile Communications, Private Talk, Public Performance, Cambridge: Cambridge University Press. Kung, L. (2002). How to Ensure that Ugly Ducklings Grow into Swans. BBC News Online and the Challenge of Incumbent Response to Disruptive Technology, Available Online: http://www.mediamanagement.org/modules/pub/download.php?id=mediamanagement-56 Kung, L. (2007). When Innovation Fails To Disrupt. A Multi-Lens Investigation of Successful Incumbent Response to Technological Discontinuity: The Launch of BBC News Online, Media management and Transformation Centre, Jonkoping International Business School, Jonkoping. Kim, P., & Sawhney, H. (2002). A Machine-Like New Medium—Theoretical Examination of Interactive TV, Media, Culture& Society, vol. 24: 217-233. Livingstone, S. (1999). New Media, New Audience?, New Media & Society 1 (1): 59-66. Livingstone, S. (2004), Media Literacy And The Challenge Of New Information And Communication Technologies, The Communication Review, 7:3–14, 2004. Lessig, L. (2005). Commons on the Wires, in Hartley, John (ed.). (2005). Creative Industries, Oxford: Blackwell. Limonard , S. & Jop Esmeijer (2007), Business requirements and potential bottlenecks for successful new CITIZEN MEDIA applications, [Online] Available: http://www.tno.nl/downloads%5CD6.1.1_BusinessRequirementsAndPotentialBottlenecks1.pd f Lessig, L. (2004). Free Culture. How Big Media Uses Technology and the Law to Lock Down Culture and Control Creativity, New York: The Penguin Press. Machado, J. (2008). Desconstruindo “Propriedade Intelectual”. Observatorio (OBS*) [Online] 2:1. Available: http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/92/139 Machado, J. (2006) & Ortellado, P., Direitos autorais e o acesso às publicações científicas. Revista da Associação dos Docentes da Universidade de S. Paulo, Adusp, n.37 - agosto de 2006 [Online] Available: http://www.adusp.org.br/revista/37/r37a01.pdf Mcluhan, M. (1997). Understanding Media — The Extensions of Man, London: Routledge. Meyrovitz, J. (1985). No sense of Place. The impact of Electronic Media on Social Behavior. New York: Oxford University Press.

45

Menduni, E. (2002), La Radio. Percorsi e Territori di un Medium Mobile e Interattivo, Bologna: Baskerville. Meneses, J. 2007 May 7. Os equívocos da rádio generalista: reflexões sobre a rádio em Espanha, nos EUA e em Portugal. Observatorio (OBS*) [Online] 1:1. Available: http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/47 Miège, B. (1997). La Société Conquise par la Communication, Grenoble: PUG. Ortoleva, P. (2002), “Un Mondo di suoni. La Radio e il Resto”, in Menduni, Enrico (2002), La Radio. Percorsi e Territori di un medium mobile e interattivo, Bologna, Baskerville. Ortoleva, P. (2004). O Novo Sistema dos Media, in Paquete De Oliveira, J.M., Giddens, Anthony. (1999). DNW Interview met Anthony Giddens, Available Online: http://www.vpro.nl/programma/dnw/download/Interview_Giddens.shtml Paquete de Oliveira, J. (ed.) (1984) A comunicação no quotidiano português: Colectânea de comunicações apresentadas nas I, II e III Jornadas de Comunicação do CES/ISCTE (Comunicação), Lisboa, Relógio de Água. Pierson, J. (2008), Identifying users as innovators, Presentation made at the COST 298 Management Committee Meeting Delft WG Users as innovators 27-29 February 2008. Perez, C. (2004), "Technological revolutions, paradigm shifts and socio-institutional change", 2004, in E.Reinert, ed. Globalization, Economic Development and Inequality, An Alternative Perspective, pp. 217-242, Edward Elgar, Cheltenham, UK. [Online] Available: http://www.carlotaperez.org/papers/TRs%20TEP%20shifts%20and%20SIF%20ch.pdf Picard, J. (2006), Drivers and Implications of Change in Media Industries, Presentation made at ISCTE, November 2006, Lisboa. Paulussen, S., Heinonen, A., Domingo, D. & Quandt, T. (2007). Doing it Together: Citizen Participation in the Professional News Making Process, Observatorio(OBS*) Vol 1, No 3 (2007), Available Online: http://obs.obercom.pt/ Quiggin, J. (2006) Blogs, wikis and creative innovation International Journal of Cultural Studies Vol. 9, No. 4, 481-496 2006 [Online] Available: http://www.uq.edu.au/rsmg/WP/WPP06_1.pdf

Raboy, M. (2001), Public Service Broadcasting in Transition: A Documentary Reader (with Monroe E. Price), Report prepared for the European Institute for the Media. Raboy, M. (2001a), National, Transnational and Global Approaches to Public Media, paper presented at “Rethinking Public Media in a Transnational Era”, Center for Media, Culture and History, New York University. Reynolds, C. (2007) Image Act Theory. Seventh International Conference of Computer Ethics: Philosophical Enquiry. July 12-14, 2007, San Diego, California, USA. Available Online: http://www.k2.t.u-tokyo.ac.jp/members/carson/papers/reynolds_cepe2007.pdf

46

Shoemaker, P. (ed.). (2006). News Around the World: Content, Practitioners and the Public, New York, Routledge. Silverstone, R. (2006). Media and Morality: on the Rise of Mediapolis, Oxford: Polity. Silverstone, R. (2005). The Sociology of Mediation and Communication, in Calhoun, C., Rojek, C., & Turner, B.S. (eds.), The International Handbook of Sociology. London: Sage. Silverstone, R. (2002). Mediating Catastrophe: September 11 and the Crisis of the Other, Dossiers de L’Audiovisuel, 105, September 2002. Slot, M., & Frissen, V. 2007 Dec 6. Users In The 'Golden' Age Of The Information Society. Observatorio (OBS*) [Online] 1:3. Available: http://obs.obercom.pt/index.php/obs/article/view/153 Taplin, J. (2006). The IP TV Revolution, in Castells, M., & Cardoso, G., The Network Society: From Knowledge to Policy, DC: Johns Hopkins Center for Transatlantic Relations. Taplin, J. (2007). 'Crouching Tigers': Emerging Challenges to U.S. Entertainment Supremacy in The Movie Business, Observatorio(OBS*) Vol 1, No 2 (2007), Available Online: http://obs.obercom.pt/ Taplin, J. (2006a) The Politics of The Future; The American Crisis, Moore’s Law & The Third Way, Speech delivered at The Annenberg School for Communication, University of Southern California, May 7,2006, [Online] Available: http://www.rcf.usc.edu/~jtaplin/ThePoliticsofTheFuture.pdf Thompson, J. B. (1995), The Media and Modernity, Cambridge: Polity Press. Tubella, I.; Tabernero, C.; Dwyer, V. (2008). Internet y Televisión: La Guerra de las Pantallas. Barcelona: Editorial Ariel . Tremayne, M. (2007). Examining the Blog-Media Relationship, in Tremayne, Mark (ed.), Blogging, Citizenship and the Future of Media, New York: Routledge. Terhi Rantanen (2005) "The message is the medium: An interview with Manuel Castells," Global Media and Communication, Volume 1(2): 135-147, 2005. The Economist (2006), “The future of newspapers Who killed the newspaper?”, Aug 24th 2006, [Online] Available: http://www.economist.com/opinion/displaystory.cfm?story_id=7830218 WIP, The World Internet Project. (2006). Available Online: http://www.worldinternetproject.net Winston, B. (1999). Media Technology and Society. A History from the Telegraph to the Internet, London: Routledge. Wolton, D. (2000), E depois da Internet?, Lisboa: Difel. Ytreberg, E. (2004). Premeditations of performance in recent live television: a scripting approach to media production studies, European journal of Cultural Studies 2006; 9(4): 421440.

47

Ytreberg, E. (2004a). Formatting participation within broadcast media production, Media, Culture & Society, Vol. 26 (5), 2004.

48

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.