DA LITERATURA À CULTURA: TEXTOS LITERÁRIOS, GUIAS TURÍSTICOS E VISITAS REAIS NA CONFORMAÇÃO DE IDEIAS SOBRE A GALIZA NA SOCIEDADE BRASILEIRA. HIPÓTESES E PRIMEIROS RESULTADOS.

Share Embed


Descrição do Produto

DA LITERATURA À CULTURA: TEXTOS LITERÁRIOS, GUIAS TURÍSTICOS E VISITAS REAIS NA CONFORMAÇÃO DE IDEIAS SOBRE A GALIZA NA SOCIEDADE BRASILEIRA. HIPÓTESES E PRIMEIROS RESULTADOS.*

Antia Cortiças Leira Grupo GALABRA - Projecto TUI Setembro 2008

*

Este trabalho faz parte de um projecto de investigação mais alargado, TUI Turismo e Identidade , integrado por Carmen Villarino, Raquel Bello, Luciano M de Paula, Sálvia Lois Lugilde, Marcos Garcia, Iria Mayer e Antia Cortiças Leira, e dirigido por Elias J. Torres Feijó, que visa o estudo das motivações, expectativas e atitudes que os visitantes brasileiros e portugueses têm nas suas viagens à Galiza, e, à sua vez, quais os principais agentes transmissores da imagem da Galiza nestes países e qual a imagem que transmitem da Galiza e o uso que dela é feito, assim como as repercussões que isso pode supor tanto na própria identidade quanto na organização social local.

1 PARTE I: O PROJECTO 1.1 INTRODUÇÃO A sociedade actual apresenta-se-nos cada vez mais complexa, interligada e multi-factorial. Destacando-se o papel cada vez mais relevante da difusão publicitária, dos meios de comunicação e das novas tecnologias, e os modos de gerar identidades e inter-relações na sua dinamização colocam questões aos estudos de ciências humanas e sociais que antes não eram habitualmente enunciadas. Assim, onde situaríamos ou onde ficariam os estudos filológicos neste quadro? Esta pergunta irá ser colocada particularmente na área que nos compete que é a da Filologia Portuguesa, e tendo sempre em consideração a continua evolução do sistema educativo, nomeadamente a antiga Filologia Galego-Portuguesa e a presente mudança e reestruturação do sistema universitário em andamento1, surgirão muitas outras: qual a verdadeira utilidade social dos estudos até o momento designados sob o nome de Filologia Portuguesa?, quais as aplicações práticas e reais que poderão ver-se efectivadas no mundo laboral pelas pessoas formadas nesta faculdade?, qual o papel que deve jogar uma pessoa formada em Filologia Portuguesa no contexto específico da Galiza?, quais as competências que deverá possuir terminado o seu período de formação?, quais os novos caminhos a seguir pelos actuais estudos de Filologia Portuguesa?, que novos conhecimentos e focagens irão ser ensinados e quais as suas novas possibilidades de actuação?, quais os limites, caso houver, da tão referida, requerida e procurada interdisciplinaridade? 1

Actualmente estamos assistindo à renovação do sistema universitário através do chamado Processo de Bolonha, que estabelece, na sua adaptação da versão europeia para o estado espanhol, a criação de um sistema universitário baseado em dois ciclos principais, o primeiro com uma clara orientação para o mercado de trabalho e um segundo para a obtenção de um Master e/ou Doutorado. Assim mesmo, este novo sistema tem entre os seus objectivos a criação de novos curricula baseados em conteúdos e competências e a definição dos conteúdos e do perfil profissional por áreas de conhecimento, além da procurada homogeneidade com os restantes sistemas universitários europeus.

Com estas dúvidas, incertezas e novos caminhos por percorrer começámos a sempre desconcertante aventura de explorar mundos novos. Assim, foi surgindo a ideia de veicular novos conceitos, novas disciplinas e novas maneiras de ver o mundo a partir do entendimento e a cognição de um filólogo. Desde esta perspectiva e em relação à futura estrutura e funcionamento dos estudos universitários2, assim como resultado de um longo processo de constante renovação, formação e tentativa de dotar às geralmente denominadas de ciências humanas e à própria instituição universitária e aos seus membros, de uma serventia social por vezes questionada ou relegada a âmbitos de conhecimento restritos e pouco vissíveis noutros âmbitos da realidade social do quotidiano, alargamos os nossos objectos de estudo a um campo de conhecimento mais amplo e abrangente, os estudos da cultura. Nesta linha, no ano de 2006 o Grupo de Investigação Galabra cria para a Dirección Xeral de Turismo da Xunta, DXT, uma base de dados de escritores lusófonos que falam, referem ou aludem à Galiza nos seus textos, com o propósito de constituir uma fonte de informação para possibilitar a criação de roteiros turísticos inspirados nestas menções. E no 2007 é assinado um convénio de colaboração, com esta mesma administração, para estudar as expectativas e motivações dos turistas brasileiros e portugueses em relação à Galiza que permitisse, além de melhorar o existente, vislumbrar novas possíveis vias de desenvolvimento e aproveitamento deste sector turístico concreto e fulcral para a realidade galega por diversas e manifestas razões. Nasce assim o Projecto TUI3, Turismo e Identidade.. 2

3

Que como já apontou Torres (2004: 4-5): «Ao lado do processo em que a preeminência da literatura se desactiva como construtor da identidade nacional ou comunitária e como transmissora indiscretion dum pretenso saber e valor humanos, a importante transformaçom no mundo das denominadas artes e das letras , tanto em suportes, como em difusom, ócios, etc., e as novas formas de promoçom e ascenso social, ponhem em causa os estudos clássicos (tidos já como matéria inerte, os afectados, por nom serem inerentes à Naçom, embora nom desapareçam pola reminiscência orgánicohistoricista civilizacional), afectam a literatura e às artes clássicas como escultura, pintura e arquitectura, deixam pouco sítio à música, clássica , e só invocaçons do políticamente correcto e o que esta denominaçom oculta de imposiçom e conservaçom, unidas à pressom dos indivíduos e grupos dos campos da literatura e do seu ensino interessados, mantenhem algumhas parcelas.» TUI: Turismo e Identidade.

O reto era grande e a matéria nova. O que é que tem a ver a Filologia Portuguesa com o Turismo? O primeiro vínculo vem determinado por se tratar de estudar um assunto relacionado com o turismo português e brasileiro, pelo que a ligação com 'Portuguesa' não era tão imprudente, ao menos quanto a conhecimentos linguísticos e culturais se refere. Reflexionando e relacionando um pouco, e após uma iniciação bibliográfica em temas de turismo (por outro lado assunto sobre o qual têm vindo a proliferar uma copiosa diversidade de estudos sob focagens variadas e divergentes) fezse patente a iniludível força de convicção e de alteração social desta actividade, uma das mais representativas do capitalismo tardio e da sociedade do conhecimento. O turismo relaciona-se com as necessidades e interesses subjectivos de quem o pratica, mas com a sua cada vez maior profissionalização e conversão do turismo numa actividade económica muito rendível, tem-se vindo a objectivar. E isto propícia a aparição de todo um complexo mercado, onde uma categorização dos perfis dos usuários rege a criação de uns produtos muito bem definidos e especializados. Sem querer perder-nos na definição e nos limites do turismo, o que aqui nos compete e interessa salientar é a capacidade que os produtos turísticos têm de idear e idealizar aquilo que vendem e promovem, tratando-se neste caso de monumentos, festas, tradições, actividades culturais, actividades de lazer, cultura, diversão, descanso, etc., elementos sempre vinculados a uma sociedade (no sentido mais geral de conjunto ou reunião de pessoas unidas por algo em comum) e circunscritos a um espaço geográfico determinado. Por tudo isto, resulta evidente o poder de criação de imagens do turismo, assim como de modos de ver e actuar, pois cria, ou pelo menos incentiva, modos de pensar um lugar, de identificá-lo pelo que nele se destaca e como ele deve ser desfrutado, em definitiva, o turismo cria e vende imagens sobre identidades determinadas e orienta-nos de como devemos usufrutuá-las. Com este poder de criação de imagens do turismo podemos intuir a sua

capacidade de impacto tanto nas pessoas que consomem o produto turístico, oferecendolhes uma projecção, mais ou menos verosimilhante, do lugar em venda em questão, quanto no próprio lugar receptor de turistas. E é nestes termos que fica patente a segunda vinculação da Filologia Portuguesa na imagem da identidade galega, por parte de portugueses e brasileiros, veiculada através do turismo, devido à focalização da recepção desse turismo brasileiro e português na Galiza, uma nação ou comunidade que podemos qualificar de 'emergente', e, portanto, em claro processo de definição ou redefinição. Tendo isto presente não resulta difícil prever possíveis influências ou manipulações que os produtos turísticos podem provocar nos modos de interpretar ao outro e mesmo nos modos de auto-interpretar-se. A partir daí a caminhada foi vertiginosa, o tempo pouco, os meios escassos, os recursos por vezes deficientes e o entusiasmo muito e notável. O tipo de empresa a desenvolver para a DXT fez com que da filologia passássemos a nos ocupar do turismo e a tentar relacionar e dar coesão a tudo o que ele envolve e a tudo o que o caracteriza: economia, planificação, assessoria, estudos de mercado, serviços, agências de viagem, operadoras de turismo multinacionais, natureza, sociologia, marketing, feiras promocionais, prescritores de opinião, ética, património, conservação, sustentabilidade, antropologia, impacto nos espaços receptores de turismo, cultura, negócio e produto, ócio, identidade, mediação cultural, geografia, estatística, harmonização actividade turística com a população local, viabilidade, relacionamento cultural, cooperação, e um longo etc. Em resumo, todo um fenômeno social, o do turismo, que abrange e atinge a uma quantidade de elementos, agentes e factores inumeráveis e diversificadíssimos. Deste jeito passámos de investigar só os livros a investigar a cultura, os aspectos essenciais da dinâmica e da interacção social de um determinado conjunto de indivíduos num espaço delimitado e em base a umas actividades específicas entre as muitas que compõem a 'cultura', a vida do ser humano. E desta maneira, passámos dos 'sistemas

literários' de Even-Zohar (1979) ao 'pensamento relacional sobre os processos sóciosemióticos' (Even-Zohar, 2007: 92). Evidentemente, tentar estudar e compreender esta ampla porção da realidade, combinação de tantos parâmetros, resultaria impossível, pelo que, embora relacionando o maior número possível de factores para a melhor consecução da nossa empresa, começámos a demarcar pequenas parcelas de actuação que nos foram abrindo caminho para ver mais claros os nossos próprios objectivos (um pouco além dos perseguidos pela DXT) e consequentemente o nosso objecto de estudo. Assim, entre semiótica, antropologia, sociologia, turismo, filologia e um pouco de filosofia faço minhas as palavras do sociólogo da Escola de Chicago, Becker (2008: 273) que consideram que: Interpretar os eventos da vida diária num departamento universitário ou num instituto de pesquisa como fenômenos sociológicos não é palatável para as pessoas que dirigem essas instituições ou para as que vivem nelas e delas se beneficiam; pois, como todas as instituições, a universidade e os institutos têm crenças e mitos sagrados que seus membros não querem ver submetidos à cética visão sociológica.

e que, conjugadas com as do estudioso israelita que propõe (Even-Zohar, 2007: 95): (...)un vínculo entre la heterogeneidad del sistema y el cambio, por una parte, y entre el cambio y la estructura, por la otra; [de este modo] hizo posible, al menos desde Tynianov, distinguir entre un conjunto concreto de rasgos y un conjunto de acciones que a la larga pueden llegar a establecerse como un campo de acción en la sociedad.

e ainda aplicando as noções de 'campo', de 'distinção', 'habitus' e de 'relações de poder' de Bourdieu, e unido a uma particular etiologia social galega própria, permitimo-nos licença para tentar esquadrinhar no mundo das percepções e convicções sociais no intuito de desvendar o seu funcionamento, o seu processo de estabelecimento nas consciências colectivas, conjecturar sobre o futuro das mesmas e propor eventuais acções que poderam ser postas em prática para obter eventuais mudanças de rumo no decorrer das coisas.

Assim sendo, como já foi apontado, com estes novos retos por cumprir que fizeram com que os nosso objectivos mudassem mudámos também o objecto de estudo. Agora o nosso objecto de estudo seria o repertório4 ou repertórios (pois, como aponta Even-Zohar (2007: 102), «na heterogeneidade dos sistemas socio-semióticos normalmente co-existem vários repertórios») vigentes sobre a imagem da Galiza no exterior, nomeadamente Portugal e Brasil e o uso que dela é feito, tentando discernir a partir daí eventuais (in-)fluxos de elementos repertoriais e quais os elementos centrais e quais os periféricos, alentando-nos isto para umas hipóteses de quais os interesses em jogo, quais as diferentes identidades galegas em luta, caso de existirem, e quais as questões em jogo que com tudo isto podem ser revistas a nível social. Apresentando-se-nos o turismo como esta área de estudo inter- e transdisciplinar começámos a nossa tentativa de deslocação do objecto de estudo veiculando-o através da literatura, da divulgação e desta actividade económica, social e humana tão abrangente, influente e definitória que representa o turismo. Assim, definimos o nosso estudo como uma aproximação à constatação da eventual influência ou confrontação dos diferentes elementos repertoriais existentes sobre a Galiza, veiculados, como já foi dito, através de diversos produtos culturais: literatura, divulgação e experiência turística. Como vimos apontando estamos numa época de mudanças que inerentemente implicam novidades e trabalhos que se iniciam sem podermos definir todavia o seu horizonte. O que até o momento temos feito poderíamos esquematizá-lo como um processo de investigação centrado num problema concreto mas que abrange diversos âmbitos e que se enquadra numa perspectiva teórica que tenta conjugar teorias, 4

Termo usado segundo a definição Even-Zohar (2007: 100): «El repertorio designa un conjunto de reglas que regulan tanto la construcción como el manejo de un determinado producto, o en otras palabras, su producción y su consumo. (...) Si entendemos la cultura como um marco, una esfera que hace posible la organización de la vida social, entonces el repertorio en la cultura, o de la cultura sería el almacén de los elementos necesarios para tal esfera o marco»

conceitos e elementos provenientes de diferentes ciências ou áreas de estudo. No presente trabalho aqui materializado começámos por estabelecer os parâmetros que iniciaram e que, eventualmente, guiarão o nosso longo processo. Já a nível pessoal, como licenciada em Filologia Portuguesa e como doutoranda desta faculdade gostaria de expor as motivações particulares que me trouxeram até aqui, justificar o trabalho, declarar os meus medos, agradecer as ajudas, orientações e guias e, ousadamente, adiantar os meus avanços. Da linha do que vimos expondo aqui, neste longo percurso de abertura de novos horizontes, pude, pessoalmente, encontrar uma vertente científica mais adequada às minhas inquietações pessoais, por isso me envolvi no projecto TUI, onde pude refazer-me e desenvolver-me autonomamente mas com uma boa orientação no meu processo de aprendizagem. Assim comecei este trabalho que embora continue algumas linhas teóricas já por nós utilizadas, abriu-me novas portas que me permitiram desenvolver essa perspectiva do conhecimento mais por conteúdos e competências. Só agora estou começando a aprender a aprender e a desenvolver a minha competência científica, já que o desenvolvimento deste projecto foi desde o início toda uma aventura e uma verdadeira pesquisa, onde nada era conhecido, tudo devia ser descoberto e onde miles de escolhas definiriam os nossos erros, fracassos e possíveis caminhos futuros. Pessoalmente o caminho até aqui andado foi íngreme mas muito produtivo quanto ao enriquecimento pessoal se refere, assim como para o alargamento dos horizontes particulares como actante social. Chegados a este ponto, só gostava de agradecer à totalidade da equipa humana do Grupo Galabra em geral, a sua existência e ajuda constantes e à equipa do projecto TUI em particular. Neste inqualificável grupo quero oferecer uma menção especial para Raquel Bello, que leva aturando as minhas derivas e inconstâncias desde o já longínquo 2004, pela sua incondicional e iniludível ajuda e o seu encorajamento constante. Também quero agradecer aos meus dois companheiros de projecto mais directos, Iria Mayer e Marcos Garcia que, desde que iniciamos esta aventura no passado Outubro de 2007 com a sua capacidade de trabalho, organização e concretização e a sua amizade me ajudaram em todo o momento a não me perder na imensidão das coisas e a descontrair para poder desfrutar até dos piores momentos. Também quero agradecer a Carminha as suas valiosas contribuições, a sua incessante disponibilidade e o seu tom sempre reconfortante que faz a um sentir-se em casa. Se não foi mencionado antes, é porque não tenho palavras para o Director do TIT, o Dr. Elias Torres, que desde o meu

primeiro ano de licenciatura não tem deixado de fazer-me pensar e reflectir nas coisas, o que lhe agradeço profundamente pois isso me tem ajudado a inspirar e expirar a vida. A ele se deve também a minha presença hoje aqui, pela sua perseverança, confiança e a grande capacidade de oferecer uma certa confortabilidade académica. Obrigada mesmo. Não posso deixar de nomear a outros colegas do Grupo, e amigos, como Carlos Figueiras com quem e de quem muito venho aprendendo desde o já longínquo 1999, Gonçalo Cordeiro que sempre coloca uma nota diferente nas coisas ou Roberto Sanmartim entre muitos outros e outras. Obrigada. 1.2 OBJECTIVOS E OBJECTO DE ESTUDO Como já vimos adiantando, este trabalho insere-se dentro de um projecto mais amplo, o projecto TUI que nasce a partir de um convénio de colaboração estabelecido entre a DXT e o Grupo GALABRA da USC em Outubro de 2007. O projecto visa, em sua generalidade, estudar as atitudes, motivações, expectativas e graus de satisfação que os visitantes brasileiros e portugueses têm da e na Galiza. Assim, logo de início encontramos duas linhas paralelas mas distinguidas dentro do mesmo projecto que seriam aquela que se ocupa da parte que diz respeito a Portugal e aquela dedicada ao Brasil. A partir daí outra linha que se nos abre é poder ver qual a viabilidade real destes relacionamentos Portugal-Galiza e Brasil-Galiza, quais os termos dessa viabilidade e quais os melhores termos dessa relação como galegos. No presente trabalho, centrar-nos-emos no contraste qualitativo das imagens em uso da Galiza no Brasil, desprendidas de textos literários, manuais de uso (guias turísticos) e no uso da Galiza dos brasileiros através do turismo. Assim tentaremos veicular a imagem criada e a própria identidade através do turismo, pois como já apontou Zuelow (2006: 50) em seus trabalhos: Nations only persist because different views of the nation perpetuate dialogue about what the nation means, which, in turn, alows nations to adapt to new demands and to remain pertinent. Tourism is only one nexus for discussion concerning the definition of national identity, but it is a very important one that deserves much further

scholarly attention. Modern tourism is about nothing less than selling national distinctiveness.

1.2.1 OBJECTIVOS Através da pesquisa realizada pela equipe do projecto TUI, pretende-se estabelecer o contraste entre os elementos repertoriais alvo da pesquisa, aqueles obtidos através do corpus estabelecido mediante duas vias fundamentais de trabalho: a recolha de material que especificamente se materializa através de entrevistas pessoais, questionários e notas tomadas em observação directa, e aqueles que se inferem dos produtos culturais analisados que neste caso se referem à obra de Nélida Piñon A República dos Sonhos e o livro de Paulo Coelho O Diário de um Mago como expressões literárias; três guias de viagem das de maior impacto e consumo a nível mundial, e, nomeadamente, a nível do Brasil, The Rough Guide to Spain (11ª edição), Spain Lonely Planet (6ª edição) e Fodor's Spain (2008), e um livro de viagem também com um grande impacto no Brasil: GNT Mundo Afora: Diário de Bordo de Mel Lisboa, editado pela Globo Editora, que contou com uma retransmissão televisiva dos diferentes capítulos do livro no canal GNT5 (da Globosat), tendo como autora do livro e apresentadora do programa da televisão a uma reconhecida figura mediática do Brasil como é Mel Lisboa. A partir desta análise e contraste, tentar-se-á analisar em que medida esses produtos literários constroem para os seus públicos imagens e ideias de uso sobre um assunto concreto (aqui a Galiza e as/os galegas/os) coincidentes ou não com os que segmentos desses públicos, ou outros, conhecem através de manuais de uso como os que guias de viagem fornecem e ainda com os que efectivamente praticam na sua visita à Galiza. Adiantemos aqui que, no caso que nos ocupa, esses modos de uso, como construção prévia ou como resultado de uma prática concreta, podem gerar 5

GNT: Em http://pt.wikipedia.org/wiki/GNT : GNT é um canal de televisão por assinatura brasileiro. Foi criada em 1991 com o nome de Globosat News Television, um canal que transmitia notícias. Em setembro de 2003, um novo posicionamento orientou seu foco para os assuntos de interesse do universo feminino, com uma programação que oferece entretenimento e informação, sem perder a leveza na abordagem dos mais diversos temas, como comportamento, gastronomia, moda e sexo, em séries, documentários e filmes.

equívocos, modificações ou influenciar nas identidades de origem e destino. Por outro lado, o papel de receptores na origem e no destino (públicos e autoridades políticas, por exemplo) pode também gerar reforços ou direcções determinadas nos modos de relacionamento e entendimento entre as duas comunidades em foco.

1.2.2 OBJECTIVOS ESPECÍFICOS Neste trabalho atendemos especificamente a uma das linhas abertas no projecto e pretendemos expor as bases e o início de um longo processo em andamento para poder desenvolvê-lo de maneira mais satisfatória num futuro. Pelo tanto a parte mais importante deste trabalho será a tentativa de contribuir para a elaboração de hipóteses e novos caminhos a seguir no trabalho futuro, a partir da análise e contraste dos repertórios desprendidos dos produtos culturais anteriormente citados e um breve contraste com as primeiras impressões obtidas a partir das experiências reais dos visitantes brasileiros à Galiza. Num futuro trabalho poderá ser melhor contrastada esta última parte e melhor focalizada a questão, devido a que neste momento os dados por nos compilados ainda resultam insuficientes para podermos trabalhar com eles de uma maneira fiável. 1.2.3 OBJECTO DE ESTUDO. QUADRO TEÓRICO-METODOLÓGICO Como já vimos adiantando, o início deste trabalho é resultado de um longo processo de adaptação metodológica que o Grupo Galabra vem assimilando desde há mais de uma década, e que supõe uma tentativa de renovação da velha linha textocentrista praticada nos estudos de carácter literário e filológico para os tornar mais rendíveis de face à sociedade vigente da qual fazem parte, onde predominam os meios

audiovisuais, a comunicação de massas e a publicidade, e onde a cultura pretende-se sinónimo de diversidade, heterogeneidade e mobilidade mas onde, cada vez mais, a globalização termina por procurar igualmente a distinção dentro da homogeneização. Segundo isto podemos afirmar que a nossa pesquisa pretende basear-se numa reflexão teórico-metodológica que, além de neste trabalho, poderá ser já vislumbrada em trabalhos anteriores como por exemplo a organização e posta em andamento do Galego no Mundo

Latim em pó6 ou o projecto Galeguia7.

As nossas premissas iniciais surgem de uma ponderação dos trabalhos de Itamar Even Zohar, e a teoria dos polissistemas, e de Pierre Bourdieu e a noção e desenvolvimento do conceito de campo, entre outros. Ao mudarmos os nossos objectivos a alcançar com as análises, veio quase só a mudança da metodologia e a consequente reflexão sobre a construção e análise do objecto de estudo 8, que se enquadra agora numa perspectiva mais empírica e mais qualitativa que quantitativa, de compilação de corpus através da própria experiência e observação directa frente à utilização de fontes indirectas (o que não deixa de continuar a ser um elemento de contraste também). O método foi escolhido por ser o mais adequado e ajustado, cremos, para desvendar os elementos e as estratégias que seguem os diferentes factores (agentes, produtos e realidades?) que influem no estabelecimento e funcionamento dos diversos sistemas culturais, e, portanto, que ajudam a elucidar e prever o seu próprio desenvolvimento permitindo assim estudar as possíveis actuações para modificar ou 6

7

8

O Galego no Mundo foi o resultado de uma encomenda realizada por parte da Câmara Municipal da cidade de Santiago de Compostela que solicitou os serviços e conhecimentos de Elias Torres Feijó para a realização de um encontro de pessoas relacionadas com a cultura lusófona como um dos actos comemorativos da Capital Europeia da Cultura 2000. O evento teve lugar entre os dias 11 e 15 de Dezembro de 2000 e contou com a presença de mais de quinhentos agentes e personagens de diversos âmbitos da cultura como o cinema, a literatura, o teatro, os meios de comunicação ou as comunidades linguísticas no exterior. O projecto Galeguia foi desenvolvido a partir da necessidade e interesse mostrado pela Fundación Vía Galego (entidade destinada a estabelecer pontes relacionais entre a Galiza e a lusofonia), que solicitou o desenho dum plano geral de actuação em relação ao relacionamento cultural da Galiza com o mundo lusófono e que se concretizou no desenvolvimento de um projecto de relacionamento galego-cabo verdiano. No evento atenderam-se três vias de relacionamento fundamentais: o turismo, a pesca e a cultura, criando-se espaços de intercâmbio de experiências e de convívio. Sobre este tema tem reflexionado Torres (2004), onde aprofunda mais longamente nos problemas aos que se vem confrontando o estudo e a investigação em literatura.

incidir no seu desenvolvimento ou para, pelo menos, pôr em destaque e ter consciência e evidência desse processo. Dito isto, e como já foi referido, o Projecto TUI, iniciado, entre outras coisas, pelas necessidades criadas por um convénio de colaboração entre o grupo GALABRA da USC com a DXT do Governo Galego, visava conhecer o estado do turismo brasileiro e português na Galiza para poder elucidar diferentes linhas de actuação para melhorar em quantidade e qualidade esse turismo, isto é, pretendíamos concluir quais as principais razões e/ou motivações animavam a este sector turístico a se deslocar até à Galiza. Colocados nestes termos começámos a vislumbrar uma relação directa entre a imagem que os produtos culturais oferecem e que os prescritores turísticos criam, com aquela que possuem os consumidores e que influi directamente neles na hora da sua escolha de destino, nas ideias sobre o lugar e as suas pessoas, etc, em definitiva, na imagem que deles constroem, e, portanto, nas expectativas que têm do que ali vai ser procurado, encontrado e valorizado. Na linha disto, por exemplo, encontramo-nos com um grande número de brasileiras e brasileiros (maioritariamente de classe média-alta) que, influenciados pela imagem e expectativas que lhes foram transmitidas acerca do Caminho de Santiago de Compostela através da incidência de agentes como Paulo Coelho ou de ideias fabricadas9 como a espiritualidade vivida no caminho , vêem à Galiza com uma ideia muito clara do que querem encontrar e da experiência que querem ter e, que, de facto, conseguem viver em muitos casos, segundo eles testemunham. Este fenômeno, por outro lado bem conhecido dentro do âmbito dos estudos das ciências sociais, não está a ser considerado devidamente dentro do desenvolvimento e promoção de certas acções sociais, nomeadamente o turismo, assim como para o estabelecimento de certas vinculações, relações institucionais, sociais, económicas e 9

O conceito de ideia fabricada é bem conhecido nas ciências sociais, mas o uso concreto que nós queremos proporcionar-lhe é aquele que refere Itamar (2005: 1), onde o conceito de ideia se encontra ligado a um processo de construção mais ou menos complexo.

políticas no caso concreto da Galiza com respeito ao mundo lusófono. Por isso, e sem entrarmos no velho conhecido e discutido confronto entre a pesquisa quantitativa e qualitativa, optamos por considerar certos aspectos de maneira quantitativa e outros, não tão fácil nem frequentemente quantificáveis, de maneira mais qualitativa. De qualquer maneira qualquer dado é passível de ser qualificado e contrastado pelo que a perspectiva qualitativa será uma constante ao longo deste trabalho. Na linha disto quisemos pôr em destaque as relações, correlações, vinculações, influências ou simples concomitâncias existentes entre os tópicos que se deduzem de diferentes produtos culturais criados pelos agentes responsáveis da criação de uma imagem da Galiza (literatura e elementos de divulgação turística, e aqueles que se derivam da realidade específica que se encontram na rua através das experiências e ideias que as pessoas que de facto visitam a Galiza têm. Como já vimos apontando tudo isto relaciona-se com as considerações teóricas apontadas por Even-Zohar (2007: 99) sobre os factores e as dependências na cultura: Un consumidor puede consumir un producto producido por un productor, pero para que el producto pueda ser generado y después propriamente consumido debe existir un repertorio común, cuya utilización está delimitada, determinada o controlada por una institución y por un mercado que permita su transmisión.

Assim, consideramos nós também esta lógica de um 'mercado' que funcione sistemicamente, o que implica toda uma rede de relações e 'lutas' entre os grupos interessados en controlar e dominar o repertório, isto é, a cultura, para alcançar o sucesso, as 'vendas'. É também o próprio Itamar quem nos alerta já para a relação entre os repertórios e as identidades através da extrapolação de determinados elementos destacados de um repertório que funcionaram como definitórios de um grupo. Estas premissas são base nas nossas análises.

Mas, é claro que embora para a análise de textos escritos já tivéssemos uma base tanto prática quanto teórica, faltava-nos conhecimento e planos de actuação para a recolha, análise e tratamento dos dados de tipo empírico que pretendíamos colectar. Por isso leituras de estudos de caso levados a cabo por diferentes intelectuais de universidades locais e estrangeiras foram os nossos modelos a seguir. Igualmente diversas leituras sobre a lógica da pesquisa sociológica ou sobre as técnicas do método qualitativo ensinaram-nos como poderíamos começar a abordar e conquistar este novo reto. Por isso, autores como Howard Becker, Miriam Goldenberg, Rubin Herbert ou Martin W. Bauer e George Gaskell10 foram basilares para nos orientarem na nossa organização do trabalho, na priorização de abordagens, na selecção de corpus e, em definitiva, na planificação da investigação e as suas possíveis perspectivas. Um outro problema que surgiu era como pôr em relação os resultados obtidos através dos textos escritos e aqueles obtidos empiricamente no nosso trabalho de campo, neste sentido trabalhos como os de Michel Lamont e Eric G. E. Zuelow11 dariam-nos as chaves de como consegui-lo. Os estudos destes autores estabelecem relações entre produtos culturais e projecções e criações de identidades e imagens do outro e de um mesmo perspectivada desde uma sociologia comparativa. Quanto à actividade cultural através da qual iríamos veicular os nossos estudos, o turismo, para dotá-los de um enquadramento mais sociológico e que nos era alheia, autores como Urry, Callizo, Hall e inúmeras consultas virtuais de revistas, instituições dedicadas ao turismo, etc, facilitaram-nos uma aproximação que nos permitiu começarmos a fazer-nos uma ideia da amplitude e alcance das nossas pretensões assim como começar a mapear a situação para podermos começar a pesquisar.

10 11

Ver referências bibliográficas. Ver referências bibliográficas.

2 PARTE II: ESTADO DA ARTE Os estudos sobre o turismo brasileiro na Galiza existentes são, pelo geral, de carácter quantitativo, de carácter estatístico e com pouca leitura posterior além da apresentação dos puros dados numéricos da situação desse sector turístico na Galiza e, principalmente, no Estado Espanhol, o seu aumento ou diminuição diacrónica ou a quantidade de imigrantes brasileiros da Galiza. Para o nosso trabalho este dados resultam de vital importância na hora de tentar entender todo um conjunto de relações que se estabelecem entre o Brasil e a Galiza e perceber a sua geração, o seu funcionamento e o processo de relacionamento cultural que pode ou poderá a vir ser implantado a partir dos conhecimentos obtidos. No entanto apenas constituem um elemento mais de contraste e fontes de informações específicas para podermos relacionar com outros elementos fundamentais na nossa pesquisa. 2.1 A IMAGEM DA GALIZA NO BRASIL Com respeito ao que o nosso trabalho especificamente tenta responder, não encontramos uma bibliografia específica que trate como os brasileiros acham que é a Galiza, mas sim encontramos alguma referência e artigos sobre livros e outro trabalhos que analisam obras brasileiras onde a Galiza é tratada como elemento repertorial. Sim existem alguns trabalhos que visam o relacionamento Brasil-Espanha mas mesmo assim são muito generalistas ou focados desde um ponto de vista econômico, ou em relação à imigração galega, apenas, e não representam o tema de estudo por nós focalizado. Assim, o trabalho mais extenso podemos apontar que é a tese de doutoramento da Dr. Carmen Villarino Pardo, apresentada no 2000 na USC12, e que versa sobre A 12

Ver bibliografia.

República dos Sonhos, que, intrinsecamente, refere a Galiza e como ela é usada e vista na obra de Nélida Piñon. A partir da obra de Nélida Piñon encontramos vários artigos e trabalhos dos que pode ser tirada alguma informação para o nosso objecto de estudo ou que nos podem indicar a possibilidade de verificar algumas hipóteses mas que, como vimos dizendo, não representam realmente o objecto de estudo por nós definido. Assim, além de trabalhos como os de Carmen Villarino (2000) ou os de Nelson H. Vieira (1991) que tratam o elemento galego nas narrações de Nélida, pouco existe feito sobre a visão da Galiza no Brasil, e, muito menos, se tivermos em conta a nossa perspectiva, pois pretendemos veicular essa imagem através do turismo, e as experiências pessoais dos visitantes e não apenas a que se coloca em obras literárias ou culturais de outra índole. O grupo Galabra, como já foi referido, criou também no ano 2006 uma base de dados com todas as referências que lográmos compilar sobre autores lusófonos que citavam ou tratavam a Galiza nas suas obras. Este trabalho resultou na compilação de um corpus de 581 elementos, ainda a ser estudado e analisado em pormenor, onde 503 livros são livros, 9 artigos, 23 páginas web e 43 textos de outra índole. Todos eles têm a palavra 'Galiza', e/ou variantes ou 'galego' e/ou variantes no título mesmo e são todos escritos em língua portuguesa. Com respeito a estudos similares ao nosso embora não dedicados à visão da Galiza no Brasil sim temos encontrado alguns estudos de caso feitos em Gales 13, na Escócia14 ou no próprio Brasil15, que estudam como os próprios povos criam a sua imagem ou como a percebem os que vêem de fora. Estes estudos de caso foram proliferando nos últimos anos, segundo a 13 14 15

Temos como exemplo artigos como o de Pritchard e Morgan (2003). Referimos-nos por exemplo a Zuelow (2006). Como Barretto (2003).

quantidade de exemplos existentes em plataformas como Annals of Tourism Research ou A Social Sciences Journal. Para uma revisão bibliográfica e evolução do tipo de estudos pode ser consultado o artigo de Michaud (2001) onde já se afirma que: La recherche empirique sur les conséquences du développement d'activités liées au tourisme dans le Tiers-monde n'était pas précoce. Et la démarche déductive tardait à remplir ses promesses, même si un nombre notable de publications relatait des tentatives d'application de modèles généraux à des études de cas dans le but avoué de produire une grille théorique originale pour les sciences sociales appliquées au tourisme.

que embora reflexione mais sobre as aplicações do turismo nos países em vias de desenvolvimento, acho podemos aplicar e alargar a outro lugares, e, neste caso, à Galiza por se encontrar ainda em processo de definição e fixação da identidade, onde existe uma luta real de estabelecimento da mesma, do que é vendido, do quer ser vendido ou do que realmente é consumido. Exemplos disto são também os trabalhos de Quinn (1994) ou Alberts (1992), e as primeiras bases teóricas podem ser encontradas em Augé (1997), Chambers (2000) ou Urry (1990). Já na Galiza, encontramos algum trabalho similar ao que nós estamos a desenvolver como o de Pereiro (2005), em relação à imagem da Galiza em Portugal e vice-versa, e alguns outros apresentados pelo actual director de turismo Ruben Lois e Xosé Santos Solla (2000), ou como o de Nogueira (1998), onde é tratada a imagem da Galiza em relação ao marisco, ou a imagem da Galiza nos guias turísticos. Contudo, nenhum deles analisa especificamente a imagem da Galiza no Brasil. 2.2 PANORAMA DAS RELAÇÕES GALIZA-BRASIL Os dados que aqui vão ser colocados, são resultados do inicial mapeamento da nossa pesquisa, do conhecimento da situação do âmbito da nossa pesquisa, e aparecem dados em termos basicamente quantitativos que nos servem de moldura para o enquadramento do nosso trabalho.

O Estado Espanhol e o Brasil situam-se, respectivamente, no nono e décimo postos a nível mundial entre as consideradas como principais economias do mundo no 2006-2008, ostentando 2,6% e 2,3% do PIB total mundial em bilhões de US$. O intercâmbio económico entre os dois países tem vindo a crescer o que supõe um intercambio cultural importante. Mas, pelo geral, as relações entre o Estado Espanhol e o Brasil constituem uma da lacunas mais destacadas da historiografia das Relações Internacionais, pelo que o que aqui se expõe apenas é um rascunho que pretende introduzir e localizar um pouco o nosso âmbito de pesquisa. Para os nossos propósitos, o importante é termos em consideração que essas relações não se manifestam apenas no campo económico senão que também têm os seus reflexos nas dimensões sociais, culturais e de cooperação. No caso concreto deste trabalho, centrar-nos-emos nas relações turísticas e nos fluxos migratórios por serem os dois pontos pelos que se vê atingida a nossa pesquisa e que implicam uma deslocação de pessoas de um país a outro, e, pelo tanto, representam uma via de transposições de ideias e imagens entre os dois países, como já tem adiantado Ayllón (2007: 213): En general, el turista actúa a su regreso como um multiplicador de imágenes positivas o negativas respecto al país visitado. En el caso del turista brasileño, pesan en la elección de España como país de destino para el ocio, el imaginario existente sobre la historia del país- 'o país das touradas'-, sus monumentos, museos y atractivos culturales, la gastronomía y la combinación de tradición com modernidad que lleva a una auténtica fascinación por Picasso, Miró, Dalí o por las manifestaciones más recientes del cine español y el éxito de Almodóvar en Brasil.

Em estreita relação com isto encontra-se a implicação que pode presupor um intercâmbio turístico e migratório entre dois países para o estabelecimento, assentamento e melhoramento de outras vias de relacionamento. Neste sentido afirma Ayllon (2007: 211): En la última década, el aumento recíproco de los flujos de turistas há sido un factor más que há contribuido positivamente en la creación de un clima recíproco de simpatía, productor de imágenes favorables entre los dos países que crean condiciones para las iniciativas de cooperación. (...) En consecuencia, es necesario conocer el papel del individuo en el conjunto de

las relaciones que se desarrollan en el ámbito internacional.

Em termos mais gerais, e por isso incluímos este apartado no trabalho (além da óbvia relação com os repertórios culturais que se desprendem do corpus escolhido), consideramos que tanto o turismo como a imigração constituem dois sectores onde a interacção cultural não pode ser deixada de parte, e onde podem ser criados, assimilados e modificados os repertórios culturais. Relacionando-se isto com a existência, ou co-existência, então de 'repertórios activos' e 'passivos' (Even- Zohar, 2007: 100) onde, neste caso os turistas ostentariam a representação do 'repertório passivo', pois são aqueles que não actuam consciente nem directamente sobre a criação de imagens mas que através da utilização dessas imagens criadas por outros (que neste caso representariam o 'repertório activo') podem ajudar a conformar, modificar ou simplesmente utilizar o repertório cultural que lhes é vendido do país ou lugar alvo da da sua visita turística. Assim mesmo, com o turismo como fio condutor queremos iniciar uma nova maneira de planificar o modo de estabelecer as relações internacionais (neste caso particular, no que as relações da Galiza com o Brasil se refere), e de como instituir e actuar nessa mediação cultural. Esta questão coloca-se pelo facto de entendermos que as potencialidades da Galiza em relação ao Brasil são altas e apenas necessitam um cuidado e uma atenção a certos fenômenos sociais para o seu óptimo rendimento, tanto a nível cultural quanto econômico, o que por outro lado, corresponde-se com uma tendência mais generalizada do modo de entender as relações exteriores na actualidade (Ayllón, 2007: 241): Si durante la etapa de los gobiernos de Aznar y Cardoso el énfasis de estas relaciones se colocó preferentemente en los aspectos económicos, en esta nueva fase que se inaugura com la llegada al poder de Lula y, posteriormente, de Zapatero, parecen adivinarse otras prioridades que, sin relegar a un segundo plano la dimensión económica (...), hacen pensar en nuevos caminos para las relaciones hispano-brasileñas, en la exploración de nuevas sendas propiciadas por una evidente convergencia ideológica entre los actuales gobiernos cuya piedra fundamental es el predominio de la dimensión

social(...).

Para os nossos objectivos isto apresenta-se como uma questão a ter muito em consideração pois permitirá uma melhor reflexão sobre a viabilidade e possibilidades do relacionamento internacional entre o Brasil e a Galiza, especificamente, e o como ele poderá ser formulado para lograr o melhor rendimento mutuo destas relações através do conhecimento das especificidades de ambas as culturas e a suas possibilidades de interacção usando em cada momento os recursos e práticas mais adequadas para tal fim E isto conseguir-se-á conhecendo, posicionando e averiguando o funcionamento de cada um dos repertórios vigentes que manejam tanto brasileiros quanto galegos no seu uso diário da Galiza. 2.2.1 TURISMO Quando começámos este trabalho uma das primeiras coisas a realizar, como já referido, foi a compilação, discriminação e arrumação de informações sobre o turismo brasileiro na Galiza. Assim podemos apresentar os seguintes dados de tipo quantitativo, extraídos de fontes secundárias, que constituem uma parte fundamental do nosso trabalho de mapeamento de dados e conhecimento do nosso campo de trabalho. Assim baseando-nos em diferentes fontes como os dados da OMT16, do IGE17 e do INE18, ou os da EMBRATUR19, os estudos de mercado realizados pela oficina da OIT20 de TOURSPAIN em São Paulo, ou dos estudos do IET21 entre outros e certa bibliografia específica, podemos estabelecer linhas gerais do panorama do turismo proveniente do Brasil, assim como das comunidades brasileiras já instaladas no Estado Espanhol e na Galiza. 16 17 18 19 20

21

OMT: Organização Mundial de Turismo, http://www.unwto.org/index.php. IGE: Instituto Galego de Estatística, www.ige.eu. INE: Instituto Nacional de Estatística, www.ine.es. EMBRATUR: http://www.turismo.gov.br/. OIT, Oficina Internacional de Turismo, TURESPAÑA: http://www.tourspain.es/es/Home/ListadoMenu. IET: Instituto de Estudios Turísticos, http://www.iet.tourspain.es/paginas/home.aspx?idioma=es-ES .

O turismo constata-se nos nossos dias como uma das principais actividades econômicas e fonte geradora de riqueza, chegando a valorizar-se, os ingressos mundiais devido ao turismo internacional, em 733.00022 milhões de dólares (534.000 milhões de euros) durante o 2006, sendo a Europa o continente que mais continua compreendendo este mercado. Dados também do 200622 situam ao Estado Espanhol no segundo posto a nível mundial em número de chegadas de turistas estrangeiros e também em quantidade de ingressos por turismo: 58,5 milhões de turistas não residentes recebidos durante o 2006. Os últimos dados da OMT sobre o turismo em 2008 apontam para o seguinte: •

Crescimento de 5% nas chegadas de turistas internacionais a escala mundial entre Janeiro e Abril de 2008, face ao mesmo período anterior de 2007.



Os ingressos por turismo alcançam 856.000 milhões de dólares USA (625.000 milhões de euros) em 2007, o que equivale a um aumento de 5% em termos reias face a 2006.



As chegadas turísticas internacionais ascenderam a 903 milhões em 2007, com um incremento de 6,6 % face a 2006.



1.600 milhões de chegadas de turistas internacionais previstas no mundo para o 202023. Com respeito ao turismo internacional que aqui nos compete e a nível estatal,

quantificou-se durante o 2006 um gasto turístico de 48.227 milhões de euros realizado pelos turistas internacionais. As principais comunidades receptoras: Catalunha, Baleares, Canárias, Andaluzia, Comunidade Valenciana e Madrid. Embora não se situe

22 23

Fonte IET. Segundo previsões de Turismo: Panorama 2020.

como comunidade receptora principal, Galiza segue a estas seis em volume de chegada de turistas internacionais24: 1.255.148, o que implica um 5,8% da totalidade de chegadas de turistas estrangeiros ao Estado Espanhol. Com um gasto total de 851 milhões de euros. E, destaca-se, que em Galiza cresceu em 5,8% a chegada de turistas internacionais durante o 2006. Os principais mercados emissores durante este ano foram Reino Unido, Alemanha e França, 61% dos turistas. Além destes principais, Portugal alcança 3,8% do número de turistas não residentes implicando um crescimento de 4,3% respeito ao 2005 e 16,9% corresponderia a outros mercados não europeus. Na Galiza o turismo tem-se desenvolvido largamente nos últimos anos, vindo a colocar-se progressivamente como um dos sectores econômicos fundamentais de entrada de ingressos do país, sendo um dos principais motores do progresso do sector serviços. Assim, o turismo supõe 12% do PIB e 13% do emprego na Galiza e em concreto, os viajantes à Galiza durante o 2007 foram, no total, 5.726.827 (um 7,97% mais do mesmo dato do 2006), segundo as informações recadadas pelo Instituto de Estudos Turísticos de Galiza25. Com dados mais recentes, 2008, temos ainda que os visitantes à Galiza durante o primeiro trimestre gastaram de média 116,32 euros por pessoa e dia e que as maiores percentagens de gasto dedicaram-se ao alojamento (38,8%) e à restauração (30,6%)26.

24

25

26

Segundo dados recentes: «Galicia es la séptima comunidad autónoma de España que más turistas extranjeros recibió en el segundo trimestre del año, con un total de 293.858 visitantes foráneos, según datos de la encuesta de Movimientos Turísticos en Fronteras (Frontur), elaborada por el Instituto de Estudios Turísticos y recogida por Europa Press.», em http://turismogalicia.blogspot.com/2008/08/turistas-extranjeros-en-galicia.html (23 de Agosto de 2008). O Instituto de Estudos Turísticos da Galiza é um novo órgão recém criado para o estudo e análise turística na Galiza: DOGA, Decreto 89/2007, do 19 de abril, pelo que se cria o consorcio Instituto de Estudios Turísticos de Galicia. Orde do 26 de abril de 2007. Notícia da criação do instituto: http://www.lukor.com/not-esp/locales/0601/25190855.htm , http://www.galiciadigital.com/noticia. 2696.php . (Ùltimo acesso, Agosto 2008). Fonte IGE.

Em relação ao Brasil, o IGE não discrimina nos seus inquéritos a todas as nacionalidades americanas, apenas distingue os originários dos Estados Unidos da América. Por esta razão, é-nos impossível que acheguemos o número real de visitantes brasileiros durante os últimos anos à Galiza, mas sim podemos dizer que pelas nossas pesquisas parece que tem vindo a aumentar progressivamente além de evidenciar-se uma certa tendência à fidelização do destino. Em relação aos visitantes brasileiros ao Estado Espanhol em geral, o estudo sobre as relações económicas entre o Brasil e o Estado Espanhol do Real Instituto Elcano aponta que (Arahuetes; Hirakuta: 2007: 333-334): (...) o turismo brasileiro na Espanha supera os 230.000 visitantes ao ano, apesar da alta cotação do euro que apesar de ter sido favorecido pela forte valorização do Real tornou mais atraentes outros países com moedas mais depreciadas, como os Estados Unidos e a Argentina. Na Espanha, o turismo brasileiro é um turismo de cráter principalmente cultural, muito distante do perfil de nosso turista tradicional que procura, sobretudo, 'sol e praia'.

Centrando-nos já na emissão de turistas do Brasil, podemos apontar que o Estado Espanhol constitui para o Brasil um referente econômico, cultural, artístico e gastronómico e, portanto, turístico embora os conhecimentos sejam fragmentários e baseados em tópicos à volta de cidades como Madrid e Barcelona, de Andaluzia, Castela Leão e o Caminho de Santiago de Compostela. O Estado Espanhol, constitui ademais uma porta de entrada na Europa para os brasileiros já que constitui o segundo lugar de destino escolhido a nível europeu e o quarto a nível mundial. Segundo os dados extraídos do Estudo de Mercado 2007 da OIT de São Paulo, colocamos as principais características do perfil tipo do turistas brasileiro no Estado Espanhol: - Mediana idade (50,55%: 25- 44 anos)

- Pertencem à classe média-alta (tipo A e B segundo o critério adoptado pela CCEB27 estabelecido pelo Governo Federal do Brasil). - Viajam com família - A maioria organizam a viagem pela sua conta - Permanecem de 4 a 7 noites, fundamentalmente em hotéis - O gasto médio diário supõe uns 110,8 euros - Na sua maioria viajam por lazer, estudos e por motivos religiosos. - Além disto, os destinos preferidos são Madrid, Países Catalãs (Barcelona), e depois Andaluzia (10,3%) e a Galiza (6,8%). Sobretudo, neste último caso, por motivos religiosos já que é generalizado o conhecimento do Caminho de Santiago. Ainda com relação a questões gerais do turismo brasileiro no Estado Espanhol podemos apontar que o turismo constitui para o brasileiro uma actividade de distinção social, um bem de consumo que devido ao alto nível de concentração de renda no Brasil se nos apresenta como um mercado aberto a todos os produtos de luxo. Outras linhas que podem ser destacadas em relação ao desenvolvimento e potencialização do turismo brasileiro, concentrariam-se em dar atenção ao turismo de negócios, de congressos e idiomático ou por estudos. 2.2.2 IMIGRAÇÃO Embora o nosso trabalho não se centre na imigração consideramos oportuno destacar alguns aspectos com relação a este tema e concretamente em relação à imigração brasileira na Galiza durante os últimos anos. 27

CCEB: Critério de Classificação Econômica Brasil. Ver apêndice 1.

Tratamos deste tema por o pensarmos fundamental e relacionado com todo o nosso estudo, já que, uma das questões em causa na pesquisa é a viabilidade do relacionamento cultural entre a Galiza e o Brasil e como este poderia ser mais satisfactoriamente implementado e aproveitado. E, além de mais, precisamente porque um dos nossos elementos escolhido no corpus para fazer a análise contrastiva é a obra de Nélida Piñon A República dos Sonhos, que, relatando a história da saga familiar de Madruga, emigrante galego no Brasil, vai-nos falando de determinados elementos, imagens e histórias referidos à Galiza e aos galegos, criando assim um repertório, cujo sucesso ou não e o seu uso e produtividade será tratado mais para frente, mas que tem a sua base num fenômeno migratório entre estes dois países. Por isso parece-nos pertinente destacar que, segundo os dados do IGE, para o presente ano 2008 os principais países dos que Galiza recebeu imigrantes foram o Brasil (2.782), Portugal (1.980), Suíça (1.767) e Venezuela (1.444). Segundo estes dados, resulta evidente que existe uma importante inter-relação em curso entre a Galiza e, nomeadamente, Brasil e Portugal, neste caso relacionado com os movimentos migratórios onde entram em jogo múltiplos factores e parâmetros e pelos que se irão ver afectados vários sectores e segmentos, neste caso concreto, da sociedade galega: território, população, sanidade e educação, economia, etc. Esta relação e as suas causas ou motivações, efeitos e impactos não serão objecto de análise neste trabalho, não deixando de salientar que constituem uma interessante linha de pesquisa cultural que poderá vir a ser explorada num futuro, para tentar explicar por que Brasil e Portugal se encontram em primeiro lugar e por que destacam também a Suíça e a Venezuela. Assim como para tentar elucidar quais os motores, mecanismos e dispositivos implicados neste fenômeno. Com estes dados as comunidades portuguesa e brasileira, por esta ordem, colocam-se como as duas nacionalidades mais numerosas de estrangeiros residentes na

Galiza, representado 19,4% Portugal (18.498) e 11,1% Brasil (10.512) de um total de 95.112 estrangeiros empadroados na Galiza. A estas nacionalidades seguem-lhes a colombiana (8,7%), a romena e a argentina (5,4%), e já depois se situam os marroquinos, uruguaios e venezuelanos (numa percentagem à volta de 4% cada um). 2.3 A NOSSA PESQUISA Como já foi referido em mais de uma ocasião, este projecto nasceu a partir de um convénio com a DXT e tinha como principal cometido o estudo das motivações culturais dos visitantes portugueses e brasileiros que viajam à Galiza, reflexão e análise dos resultados obtidos e adianto de linhas de aplicação dos mesmos para a promoção e a melhora do turismo na Galiza. O caso concreto deste trabalho, centra-se apenas no caso brasileiro pois é o que nos compete. Assim apresentamos aqui um resumo do processo de organização, elaboração e posta em andamento do projecto na sua generalidade para explicitar e expor os termos em que a mesma foi desenvolvida que permitam uma melhor compreensão do exposto e analisado na terceira parte do nosso trabalho onde se específica uma das linhas derivadas desta troncal e fundadora. 2.3.1 ORGANIZAÇÃO, FASES E DESENVOLVIMENTO A posta em marcha do trabalho foi complicada, pois as incógnitas eram muitas ao igual que os frentes de actuação e os novos campos de conhecimentos que se nos propunha conquistar. O nosso problema era dar conta a essa petição da DXT, e, a partir daí começámos uma extensa posta ao dia na revisão bibliográfica sobre o que nos competia e os temas que com isso se vinculavam.

Posteriormente vislumbramos os primeiros conceitos, variáveis e possíveis hipóteses de partida e estabelecemos o cronograma da investigação, que de modo muito resumido pode ser explicitado em três fase claramente diferenciadas, num início, no desenvolvimento da investigação, expomos aqui apenas a parte correspondente ao Brasil: - Primeira fase: tem como objectivo específico estudar as expectativas de brasileiros no momento prévio à sua viagem e estudar o seu conhecimento prévio sobre a Galiza, a imagem imaginada ou esperada. Esta fase da pesquisa tem o seu desenvolvimento nas cidades de Rio de Janeiro e São Paulo, no Brasil. Foram escolhidos estes dois núcleos de população por conformarem as regiões mais populosas do Brasil, assim como também som duas das três (junto com Rio Grande do Sul) que mais número de visitantes exportam à Península Ibérica, englobando 32% e 20% do turismo brasileiro28. - Segunda fase: o seu objectivo

específico corresponde-se com o

acompanhamento dos visitantes no momento da viagem e seguimento das suas escolhas turísticas na cidade de Compostela maioritariamente, e, eventualmente noutros pontos da Galiza, assim como comprovar o cumprimento das suas expectativas e o grau de satisfação com a viagem, ao mesmo tempo que observamos as suas impressões e comportamentos in situ. - Terceira fase: trataria-se de fazer um flash-back da ideia da Galiza novamente no lugar de origem dos turistas, para discriminar aqueles elementos repertoriais de maior sucesso e avaliar a capacidade de produção e transmissão de reportórios de pessoas individuas e/ou conjuntos de pessoas. Depois de um grande debate e reflexão sobre as melhores técnicas e estratégicas 28

Dados de EMBRATUR: Estudios

de mercado turísticos emisores (Abril, 2006).

para a compilação e tratamento de dados, optamos pela conjunção de métodos quantitativos e qualitativos; de tal modo que as principais estratégias que estamos a levar à prática até o momento, para a pesquisa em geral e para o caso brasileiros em particular, consistem em: - Compilação de dados estatísticos já recolhidos e publicados por diversas instituições e estudos. Levantamento de dados e recolha de informações de diversa índole que nos permitam fazer un mapeamento o mais detalhado possível da situação e do estado de coisas. E, codificação e compilação dos dados obtidos para o seu tratamento e análise. - Contacto com diversas instituições, pessoas e empresas relacionadas com o nosso âmbito de pesquisa: expertos em sociologia, responsáveis de determinadas instituições de carácter associativo relacionadas com a promoção e vinculação da Galiza com o Brasil, como por exemplo as Associações de Amigos do Caminho de Santiago de Rio e São Paulo ou a Casa de Espanha de Rio, entre outras. Assim como o contacto com todo o tipo de pessoas, associações e instituições relacionadas com o turismo: gabinete de Turspain em São Paulo, agências de viagem, feiras de turismo, etc. - Contacto e petição de colaboração a determinados agentes e profissionais involucrados em diferentes segmentos do mercado turístico: agentes de viagem, operadoras de turismo, instituições turísticas, hoteleiros e comerciantes, guias turísticos, etc, tanto para a acumulação de dados específicos como para a localização de possíveis perfis turísticos para o seu posterior estudo. - Revisão bibliográfica dos guias de viagem no mercado brasileiros e relatos de viagem que refiram à Galiza, e revisão das notícias da imprensa brasileira dos últimos anos onde é citada e/ou promocionada a Galiza e/ou Espanha com fins mais ou menos turísticos e relacionais.

- Realização de entrevistas, questionários e tomada de notas em observação directa de visitantes brasileiros à Galiza. Estas estratégias são desenvolvidas, em diferentes medidas, tanto no lugar de origem como no receptor, Galiza, assim como em pessoa ou através de meios digitais, nomeadamente internet, e guardando os registros obtidos por escritos, e em formato de audio, predominantemente, e vídeo (gravações de entrevistas). - Análise e processamento das informações e dados compilados, extracção de resultados, redacção de conclusões. Elaboração de hipóteses e de propostas de actuação concretas para a melhora da situação turística galega e para a optimização do aproveitamento dos resultados e conclusões obtidos: elaboração de roteiros turísticos, estudar viabilidade de novas vias de promoção turística, desenhar novas possíveis vias de incidência, propor actuações de adequação e melhora dos serviços em sintonia com as especificidades dos clientes portugueses e brasileiros e as relações sócio-culturais de clientes e promotores, perceber e estruturar melhor o turismo em relação a poder minimizar o seu impacto no lugar de recepção, etc. 2.3.2 PRINCIPAIS PROBLEMAS E DIFICULDADES DA PESQUISA Desde o primeiro momento em que embarcamos nesta aventura os problemas, dúvidas e medos não nos deixaram a consciência tranquila nem por um instantes. Desde as incertezas mais elementares, que não por isso simples, como a perfeita delimitação do objecto de estudo ou a selecção de técnicas, estratégias e métodos de pesquisa, assim como o fundamento teórico em que nos iríamos apoiar, apresentaram-se-nos como grandes obstáculos que tiveram de ir sendo ultrapassados com perseverança, astúcia e paciência. Enumerar todas e cada uma das eventualidades, contratempos e viragens de rumo inesperadas resultar-nos-ia muito cansativo além de que desviaria a nossa atenção

em excesso para o tema que aqui realmente nos ocupa, pelo que limitamos a nossa exposição a aquelas mais representativas, e que supõem um maior prejuízo para o correcto desenvolvimento da pesquisa e a aquelas que ainda representam uma verdadeira motivação para procurar uma boa solução a um problema: - Dificuldade de localização e contacto com as potenciais pessoas a serem entrevistadas, e a discriminação das mesmas para a efectiva realização da entrevista atendendo à melhor adequação do perfil a estudar em foco. E problemas na definição e classificação dos diferentes perfis de turistas. - Correcto desenvolvimento das entrevistas em profundidade para que resultem significativas e úteis para os nossos propósitos. A complicação reside na complexidade que uma entrevista deste género pressupõe devido aos inúmeros factores que entram em jogo: forma de apresentação e tratamento, aparência, violência da utilização de materiais audio-visuais (que ainda acrescenta deficiências a nível de conhecimentos técnicos), disponibilidade de tempo do entrevistado, adesão por parte do entrevistado à entrevista, problemas de avessamento de dados, estado de ânimo de entrevistador e entrevistado, etc. - Diluição e posposição das três fases da pesquisa previamente desenhadas. - Falta de cooperação por parte das diferentes instituições e órgãos envolvidos na promoção e planificação turística, tanto na Galiza quanto no exterior, assim como por parte de determinados organismos dedicados ao análise e estudo do turismo. - Com respeito à selecção, arrumação, e ao arquivo, tratamento e processamento de dados temos que confessar uma insuficiência de meios, de carácter técnico, e um a falha teórica quanto à sua manipulação, obstáculos que estamos em fase de superação pois encontra-se em andamento a criação de uma base de dados que nos permita

armazenar a informação assim como a posterior utilização de software de análise de dados, tanto de tipo quantitativo, SPSS29, como qualitativo, ATLAS30. - Por último, cabe apontar problemas de natureza alheia ao nosso trabalho, de carácter principalmente económico, que implicam uma deficiência na capacidade de operação, assim como o número reduzido de recursos humanos necessário para o correcto desenvolvimento de algumas das fases do projecto, nomeadamente o processo de colecção de dados, o que, num projecto destas características, produz défices e atrasos ou posposições na temporalização do projecto e no desenvolvimento de cada uma das fases do mesmo. 2.3.3 PRIMEIROS RESULTADOS Neste apartado queremos fazer uma breve e esquemática compilação de aquilo que até o momento fomos avançando na pesquisa em termos de resultados. Assim primeiro queremos fazer uma relação de aqueles dados que pelo momento têm sido recolhidos, no que à parte brasileira se refere: •

Entrevistas: As entrevistas que aqui se apresentam são aquelas que respondem à forma de entrevistas em profundidade (conversas de, no mínimo, uma hora), pelo que ficam de fora mini-entrevistas, conversas informais, encontros esporádicos e outras, assim como todas as notas e apreciações obtidas através da observação directa: - Entrevistas a brasileiros feitas no Brasil: 11 - Entrevistas a brasileiros feitas em Compostela: 12

• 29

30

31

Questionários: 6031

SPSS: Statistical Package for Socials Sciences, programa informático para a investigação em ciências sociais e nas empresas de investigação de mercado, mais informação sobre o programa http://es.wikipedia.org/wiki/SPSS (Último acesso, Junho 2008). ATLAS: http://www.atlasti.com/ e http://sophia.smith.edu/~jdrisko/qdasoftw.htm: informações e venda de software para a análise qualitativa. (Último acesso, Julho 2008). Queremos insistir em que o projecto está em andamento pelo que estes dados aqui exposto não são de

Com isto as primeiras análises e vistas de olho à documentação recolhida permitem-nos dar umas primeiras linhas de aproximação, pelo tanto o que aqui apresentamos são só tendências e primeiras impressões, e por vezes apensa constatções dos dados obtidos por outros meios: - Para o brasileiro, viajar é um símbolo de ostentação social, e só se dá nas camadas mais altas da sociedade. - O Estado Espanhol funciona como porta de entrada para Europa. - O perfil do turista brasileiro que viaja a Espanha, tem entre 20-45 anos, normalmente uma formação superior, vem de férias, e organiza a viagem pela sua conta na sua maioria. - Os focos emissores de visitantes brasileiros som SP, RJ e Rio Grande do Sul. - Grande influência do Caminho de Santiago, até o ponto de existirem rotas diferentes a modo de simulação e preparação do Caminho de Santiago no Brasil32. -

Destinos preferidos: Madrid, Catalunha (nomeadamente Barcelona),

Andaluzia e Galiza (polo Caminho de Santiago na sua maioria). - O brasileiro gosta do Caminho de Santiago porque procura um turismo de aventura e de auto-conhecimento e reflexão, além de por motivos puramente religiosos. - Parece existir um sub-perfil derivado de aquele que conhece o Caminho de Santiago de perfil sócio-económico mais bem alto, que costuma viajar com pacotes turísticos, em grupo e com motivações estritamente religiosas.

32

carácter definitório por estarmos ainda na fase de colecção de dados e de realização de entrevistas. Para a recolha de dados de carácter quantitativo, que diz respeito aos questionários, apontar também que o que aqui se apresentam são resultados da fase de prova, pois a categorização e estabelecimento de itens pertinentes para os questionários decorre em boa medida em relação aos resultados e indicações oferecidos pelas entrevistas em profundidade. E ainda, apontar que o número de questionários é muito reduzido ainda como para conformar uma amostra representativa pelo que os resultados sempre poderam, e deveram, ser considerados avessados. As páginas que contêm informações sobre estes roteiros são: http://www.caminhodosol.org/index.htm, http://www.caminhodafe.com.br/ , http://www.caminhodaluz.org.br/ e http://www.abapa.org.br/ . (Último acesso, Julho 2008).

- Os seguidores do Caminho de Santiago, fazem maioritariamente o caminho francês. - Os brasileiros que fazem o Caminho de Santiago viajam preferencialmente entre Maio e Outubro por causa do clima europeu, embora o período estival no Brasil, e pelo tanto as férias mais longas, correspondam com o nosso inverno. - Existe uma fidelização com respeito aos turistas brasileiros que vêm pelo Caminho de Santiago. - Caminho como espaço de sociabilidade e como espécie de cura , purga espiritual e social dos brasileiros mais ou menos 'acomodados' que fazem o Caminho. - Consideração das aldeias raianas (da Galiza e Portugal) muito semelhantes. - Tendência em ascenso do número de brasileiros visitantes a Espanha. - Motivos para a viagem: lazer na sua maioria, estudos, religiosos e familiares. - O primeiro destino europeu dos brasileiros é a França. - Possibilidades de crescimento da indústria do turismo: turismo de negócios e turismo idiomático e inter-cultural, assim como turismo de luxo. - Gostam de se mover de carro no lugar de destino. A maioria dos brasileiros que alugam carro em Compostela som de Rio de Janeiro ou de São Paulo, e são pessoas de alto nível económico. - Não gostam do tipo de guia turístico espanhol (gostam de ter a uma pessoa as 24h atendendo-as) pelo trato e, às vezes, pela língua. - Grande interesse e predilecção pelas questões históricas e do património quando visitam a Europa. - Necessidade de uma melhor informação sobre a comida e hábitos alimentares assim como de uma maior adequação do típico aqui com os hábitos alimentares dos brasileiros pois por questões óbvias são bastantes divergentes.

- Necessidade de promocionar a Galiza com outras imagens além da religiosa. - Desconhecimento geral da Galiza e da língua galega. - Quem conhece a língua galega, admite o parecido com o português de Portugal (mais semelhança com este que entre o português do Brasil e de Portugal). - Descrições míticas da Galiza nos jornais: Caminho de Santiago, medievo... - Influência para a realização do Caminho da leitura e conhecimento de Paulo Coelho. - O interesse dos brasileiros por conhecer o espanhol aparece em 6º lugar (pouca percentagem), pertencentes à classe média-alta e entre os 18 e 25 anos. Os primeiros postos estam ocupados por países de fala inglesa. O interesse do espanhol está em 2º lugar, e Espanha como principal lugar para estudá-lo. - Na prensa escrita dá-se conta além disto de Manuel Rivas, culinária galega, incêndios... (Folha de São Paulo e Globo) - Crença de que a 'paella' é uma comida típica da Galiza (pensa-se que é de todo o Estado). - Ideia de que as cidades da Galiza, e da Espanha, são muito organizadas. - Há no curso 2007-2008 na USC, 155 brasileiros no total: 61 todo o ano, 50 no 1º quadrimestre, 44 no segundo. - Quanto ao perfil de turistas que até o momento pôde ser definido encontrámos dois que podem ser discriminados nitidamente: - Um grupo de visitantes atraídos pelo Caminho de Santiago e por questões religiosas - Outro grupo mais heterogêneo e com menos coesão composto por visitantes de extracção sócio-económica superior e por vezes ligados à Galiza por razões familiares e académicas.

3 PARTE III: GALIZA AOS OLHOS BRASILEIROS Nesta terceira parte centrar-nos-emos já numa das linhas fundamentais do nosso trabalho, a da imagem que os brasileiros podem ter, por que vias a obtêm e umas primeiras apreciações de como usam a Galiza na experiência real. Neste caso usaremos diferentes produtos culturais para o possível estabelecimento de repertórios que posteriormente (neste trabalho apenas serão apresentadas possíveis linhas de aprofundamento futuro) serão contrastados com dados obtidos empiricamente no trabalho de campo por nós desenvolvido no estudo dos visitantes efectivos do Brasil na Galiza. Esta parte pode ser considerada então como uma exemplificação ou aplicação prática de toda a proposição teórica, isto é uma aplicação dos estudos literários à geografia cultural, assim como um estudo de caso, de carácter mais sociológico, que servirá de contraste e que corresponderá, num futuro, com essa parte mais de trabalho de campo relacionada com a exploração das motivações, interesses, expectativas e ideias sobre a Galiza dos turistas, e potenciais turistas, brasileiros. 3.1 SELECÇÃO DE CORPUS Como já apontou Torres Feijó (2004: 424): (...) o estudo da literatura deve focar-se, necessariamente, como actividade que incide na vida das pessoas (em cada momento determinado o público alvo e o real), seja no seu lazer ou no seu modo de ver e actuar no mundo)

É precisamente devido a isso que queremos contrastar uma obra literária com obras de divulgação e promoção turística e com a própria realidade. Pois é por meio de produtos culturais, entre outros, que ideias e repertórios som promovidos com sucesso.

Mas queremos ter sempre presente o que já apontou Torres Feijó (2007:69), que aliás serve para dar mais uma justificação da escolha destes dois livros: (...) a opiniom de um autor sobre a sua obra nom deve ser lida como o seu indiscutível modo de uso, mas como um condicionante, mais ou menos poderoso e com maior ou menor capacidade de influência, da recepçom.

Isto justifica que estudemos estas ideias e repertórios num produto como A República dos Sonhos ou O Diário de um Mago, pois representam a uns textos e produtores

que são e foram repetida e insistentemente proclamados na Galiza e

frequentemente considerados embaixadores da comunidade galega no Brasil33. Como principais critérios de selecção foram utilizados a representatividade, a amplitude de distribuição e difusão das obras a nível internacional e a nível do sistema literário e cultural brasileiro em particular, e o perfil de públicos aos que se destina ou pretende destinar o consumo dos produtos por nós escolhidos, assim como a sua implicação temática com as nossas procuras. Neste sentido, uma vinculação óbvia tem a ver com a temática tratada nestes dois livros, pois ambos relatam de alguma maneira relatos de viagem, de caminhos, que é também a actividade que realiza um turista. A República dos Sonhos relata a vida dos emigrantes galegos que embarcam na sua aventura cara o Brasil e O Diário de um Mago relata a experiência interior vivida pelo autor mesmo na sua viagem através do Caminho de Santiago de Compostela. Com efeito, a primeira das nossas escolhas corresponde-se com um romance que narra uma saga familiar de uma autora central dentro do sistema literário brasileiro, Nélida Piñon34. Esta escolha foi realizada por se colocar a autora como uma das grandes figuras da literatura brasileira, como membro da Academia Brasileira de Letras35, e por 33

34

35

E sobradamente conhecido a importância de Paulo Coelho na promoção e difussão do Caminho de Santiago, e também o uso recorrente de temática relacionada com a ascendência galega de Nélida Piñon. Para maior conhecimento sobre a posição e trajectória da autora Nélida Piñon poderá ser consultada, entre outros estudos, a tese de doutoramente da Dra. Carmen Villarino (2000). A autora além de pertencer a esta instituição, ABL, de prestígio no campo da letras no Brasil desde o ano de 1989, e convertiu-se na primeira mulher a presidi-la no ano ed 1996.

ser (re)conhecida a sua vinculação com a Galiza (de pai e mãe galegos) e tudo o que isto pode vir a reflectir-se nas suas obras. Devido a esta vinculação familiar com a Galiza e ao seu papel central no sistema literário brasileiro, particularmente no campo da produção restrita36, consideramos que a sua obra é significativa quanto à representação que se dá no Brasil da Galiza, por poder oferecer graças a isto uma maior credibilidade para aquele sector dos brasileiros leitores habituais das produções do campo literário brasileiro de produção restrita. Embora, com respeito a isto já Carmen Villarino (2000: 409) tenha afirmado que os «assuntos que trata o romance falam de realidades bastante próximas para um leitor brasileiro de formação cultural não especialmente erudita», comprova-se também que realmente o sector público-alvo fica reduzido através do tratamento da emigração galega no Brasil, pois apenas determinado grupo de consumidores restrito (vinculado com toda essa rede de emigrantes galegos no Brasil, e à esfera intelectual e literária brasileira) será quem melhor poderá compreender a obra e estabelecer as correctas correspondências entre os seus diferentes propósitos e histórias, fronte a posição de um público mais amplo onde os galegos não adquirem nenhum valor especial pois bem poderiam ter sido alemães, italianos ou japoneses, relacionado apenas com a emigração no Brasil como parte constitutiva da sociedade brasileira. Assim, o romance que colocou à autora no centro do sistema literário brasileiro, foi lançado a nível nacional o 14 de Setembro de 1984, um mês depois da sua apresentação na Bienal paulista, e segundo Villarino (2000: 555): O volume do romance (a pirâmide nelidiana) não foi nenhum problema para que o livro tivesse uma boa venda e atingisse em breve a segunda edição, especialmente com a campanha de promoção que a editora e a própria autora desenvolveram. Uma campanha que incluiu um lançamento nacional do romance numa cidade, Recife, que fica afastada do eixo Rio-São Paulo. Essa foi uma aposta pela conquista de novos leitores, pela divulgação de um livro que, propositadamente, fala da história do Brasil e chega ao público no ano em que, para muitos brasileiros a esperança da democracia real no país passava pelas eleições directas para Presidente do Governo . 36

Estabelecemos esta delimitação de possíveis consumidores porque embora o livro de Nélida Piñon tenha tido uma grande tiragem e um relativo grande número de vendas encontra-se restringido a um âmbito de consumo menor que outras obras devido à sua canonização dentro do sistema literário brasileiro, devido à sua distinção intelectual em termos bourdianos, e também por não pertencer aos best-sellers a nível mundial.

O livro teve uma grande aposta promocional por parte da editora, Livraria Francisco Alves Editora, assim como um bom seguimento por parte da imprensa e o elogio da crítica. Foi apresentado ao longo do país, com uma campanha de divulgação com a presença da autora e num mês já saia a sua segunda edição, continuando a campanha promocional a requerer a presença da autora ao longo do país durante o 2005.37Assim Villarino (2000: 563-564): Essa campanha promocional influiu no interesse dos leitores pelo novo livro da autora carioca, como manifestou, por exemplo, o rápido esgotamento da primeira edição no primeiro mês do seu lançamento e o facto de aparecer, de modo habitual, nas listas dos livros mais vendido nas semanas posteriores ao dia 18 de Agosto de 1984. (...) Difícil essa conquista do mercado do livro brasileiro em que, entre os problemas que afectavam o sector, estava o de que as obras de autores estrangeiros, especialmente os best-sellers, ocupavam boa parte das vendas, mas nem sempre representavam o repertório canonizado.

Justificamos a sua escolha também pela crescente consideração que Nélida Piñon38 tem vindo a conquistar nos últimos anos na Galiza, e no Estado Espanhol através de traduções, prémios, homenagens e outros processos de canonização e tomada de posição social.39 De facto, nos últimos anos as atenções e galardões que a autora tem vindo a receber por parte da administração e de diferentes instituições galegas manifesta o interesse existente desde há uns anos, em privilegiá-la, destacá-la e legitimá-la como produtora de textos, e pelo tanto de produtos,40 que falam e transmitem um modelo repertorial cultural determinado da Galiza.

37

38

39

40

Para um maior aporfundamento no que supus o lançamento d'A República dos Sonhos e o seu éxito pode ser consultado Villarino (2000). Para uma ampliação do percurso seguido pela autora referida pode ser consultada a tese de doutoramento, ainda inédita, de Villarino (2000): Aproximação à obra de Nélida Piñon. A República dos Sonhos. (A Trajectória de Nélida Piñon no campo literário brasileiro das últimas décadas). Entre alguns doutros galardões e reconhecimentos a nível internacional destacam: Prémio de Literatura Latino-americana e do Caribe "Juan Rulfo", Membro da Academia das Ciências de Lisboa desde 1999. Conceitos de produto e produtor utilizados nos termos de Even-Zohar (2007: 112 e 115): «por producto entiendo cualquier realización de un conjunto de signos y/o materiales, incluyendo un comportamiento determinado. (...) En otras palabras, el producto, el elemento que negocian y manipulan los factores participantes en una cultura, constituye la instancia concreta de esa cultura.», e «Un produtor, un agente, es un individuo que produce, operando activamente en el repetorio, productos bien repetitivos o bien 'nuevos'».

Neste sentido, diferentes estratégias e actos que corroboram esta nossa afirmação se têm vindo a suceder nos últimos anos. A relação deles realmente é extensa, pois já em 1992 a autora recebe da Xunta de Galicia a Medalla Castelao e no 1998 é nomeada Doutor Honoris Causa da USC tendo como padrinho ao Dr., e Director da Cátedra Unesco de

Estudos Luso-Brasileiros também na USC (desde 1996), José Luis

Rodríguez Fernández, ou a obtenção do Premio Rosalía de Castro no 2002. A estas primeiras manifestações de tributo somam-se outras de carácter mais abrangente e que terão uma maior frequência a partir do ano 2004, como a concessão do Premio Principe de Asturias de las Letras no 2005 ou a publicação na Galiza de duas das suas obras: a República dos soños editada por Xerais numa adaptação à norma ILGA41 durante o ano de 2004, e Vozes do Deserto lançado pela editora Candeia na sua versão original e apresentada em simultâneo com a edição brasileira (pela editora Record) e a portuguesa (editada pelo Círculo de Leitores). Outra das suas obras traduzida para o galego 'oficial' é A casa da Paixón, pela editora Xerais no 2006. É também no ano de 2005 quando recebe o Premio do PEN Club Galicia e é nomeada filha adoptiva do concelho de Cotobade42. Outro grande, ou quanto menos significativo, facto que acontece na Galiza é a apresentação de um documentário sobre a autora Sherezade en Galicia. As verbas de Nélida Piñon no ano 2006, que, ademais, conta com a participação de grandes representantes da cultura galega como Suso de Toro, Luis Tosar ou Ánxela Bugallo. Promoção, sucesso e importação de uma autora, dos seus produtos que ainda hoje continua, pois recebe a Medalla de Oro de la Emigración, a mãos do ministro espanhol de Trabalho e Assuntos Sociais do Estado Espanhol, Jesús Caldera, no recente mês de Agosto de 2008. A todos estes actos oficiais e com certo sentido protocolar, unem-se-lhe atenções 41

42

Norma linguística actualmente oficial e vigente na Galiza, promovida pelo Instituto da Lingua Galega, ILGA. Esta edição galega conta com mais de 3000 exemplares vendidos. Em http://www.agal-gz.org/modules.php?name=News&file=article&sid=1953.

em diferentes meios de expressão cultural galegos como o suplemento à revista Tempos Novos: Protexta, no seu passado número da Primavera do 2006 onde a portada está reservada a esta escritora brasileira por nós escolhida e onde lhe é feita uma entrevista na secção de Protagonistas , onde, além da já de por si significativa inclusão, aparece uma alusão ao nosso elemento do corpus definido como (Martínez, 2007: 8): (...) Nélida Piñon enfrontarase ao delongado proceso de escrita d'A República dos Sonhos (1984), quizais a grande novela da emigração galega e un dos títulos mais premiados da sua producción.

Com esta afirmação estamos vendo além da sua consideração por parte dos agentes do sistema literário galego a sua apropriação mesmo, fazendo sua a obra pela temática que nela é tratada, embora, como veremos mais adiante e já foi suficientemente estudado e até referido pela própria autora, a obra verdadeiramente se pretenda uma história sobre as origens do próprio Brasil e não é, ou pelo menos não só, uma história de emigrantes galegos no Brasil, aliás como a própria escritora afirma nessa mesma entrevista (2007: 11) «pero quería facer unha novela sobre o Brasil e sobre a grande emigración galega». A segunda escolha quanto à vertente literária se refere corresponde-se com o, desta vez sim, best-seller a nível mundial O Diário de um Mago de Paulo Coelho. O sucesso deste livro é amplamente conhecido e não nos demoraremos muito em justificar esta escolha baseando-nos nos sucessos e trajectória do autor devido a serem, acreditamos, suficientemente conhecidos43. Portanto neste caso, a nossa selecção responderá mais a elementos de carácter empírico. Mas não queremos deixar de ressaltar a qualidade de best-seller e de um autor pertencente ao sub-campo da grande produção, que alcançará este ano os 100 milhões de livros vendidos em todo o mundo.44 43

44

Paulo Coelho pertence ao conselho do Instituto Shimon Peres, é Conselheiro Especial da Unesco para "Diálogos Interculturais e Convergências Espirituais" e é um dos membros da diretoria da Schwab Foundation for Social Entrepreneurship. E em março de 2000, o governo francês concedeu ao autor a distinção de "Chevalier de L'Ordre National de la Legion d'Honneur". foi o autor mais vendido durante o 2003. Fonte: http://www.elpais.com/articulo/internet/Internet/reglon/libro/elpeputec/20080717elpepunet_2/Tes

O primeiro a destacar é a pertença do autor deste livro a uma 'literatura mundial'. De facto Paulo Coelho constitui uma figura de renome a nível mundial que só atendendo ao número de exemplares vendidos (o que o coloca entre um dos mais vendidos a nível mundial e o mais vendido em língua portuguesa superando a Jorge Amado com 54 milhões) das suas obras, e especialmente da que nos ocupa, e ao numero de línguas as que foi traduzido (mais de 67 em 150 países45) já adquire automaticamente uma relevância fundamental baseada na sua capacidade de difusão, estratégia de marketing e, pelo tanto, do seu consumo, sobre a que vale a pena questionar-se o como e o porque do seu sucesso, e graças a quem ou a que; embora este seja também um outro trabalho digno de consideração noutro estudo, que não este. Ao igual que Nélida Piñon o autor alcança uma enorme relação de galardões, prémios e destacamentos de diversa ordem e a nível internacional. Com respeito às distinções recebidas que mais aqui nos podem interessar aparecem a sua designação da cadeira 21 na ABL desde o 200246, e a Medalla de Ouro de Galicia recebida o 25 de Julho de 199947. Uma das últimas honras a receber foi a atribuição do seu nome a uma rua da cidade de Santiago de Compostela48. Assim, Paulo Coelho apresenta-se-nos como uma figura universal, internacional, o que lhe outorga um poder e uma influência de mais longo alcance face a Nélida Piñon,

45 46

47

48

Neste caso, um fenômeno que ajuda à nossa consideraçõa deste livro e a querermos constatar as suas influências na experiência real deve-se a, como referiu Torres num artigo em relação à crise da 'função identitária' e coesionadora da literatura (??: 7): «Deve, aliás, ter-se em conta o avanço da diluiçom entre alta e baixa literatura em grupos que antes protegiam essa distinçom, tanto na esfera infantojuvenil (como mostra o fenómeno de Harry Potter) como na destinada a adultos (caso do sucesso de Paulo Coelho), o que alguns analistas como Fernández Serrato (1997:78) julgam derivado da clausura de los valores del juicio crítico en beneficio de una creciente dinámica del best-seller: cada vez más se juzga de valor la obra artística que se vende bien ». Segundo dados da web do autor: http://www.paulocoelho.com.br/port/index.html. O seu ingresso na Academia não está livre de críticas e desacordos, assim como é posta em causa a sua 'qualidade' como escritor por parte de certa crítica, fenômenos que mereceriam uma atenção e estudo à parte. Facto que mereceu uma especial atenção também no Brasil, como por exemplo o artigo da conhecida revistas Época, 12 de Julho 1999. Evento que foi anunciado e seguido muito por extenso tanto na Galiza e na ESpanha quanto no Brasil: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u415213.shtml , http://www.elpais.com/articulo/espana/calle/Paulo/Coelho/Santiago/elpepuesp/20080623elpepunac_3 3/Tes .

e, portanto, uma maior credibilidade, legitimidade e autonomia (embora possa ser considerado um autor heterónomo no sistema da literatura mundial). Paulo Coelho representa a todo o mundo, e todo o mundo consome Paulo Coelho e, além de mais, baseia este seu texto alvo da nossa escolha num relato não ficcional, num relato de viagem, no seu diário do caminho, o que mais uma vez o dota de uma maior legitimidade e credibilidade frente a história ficcional, embora com referências históricas, apresentada por Nélida Piñon. Em verdade, um dos motivos determinantes para resolver incluir a obra O Diário de um Mago de Paulo Coelho neste estudo foram os resultados obtidos através do trabalho de campo, da compilação de dados através de inquéritos e entrevistas. Uma das nossa perguntas sistemáticas é aquela que inquire aos entrevistados sobre como conheceram a Galiza, que lhes sugere a Galiza ou Santiago de Compostela, ou porque é que se decidiram a escolher a Galiza como destino turístico, pergunta à que maioritariamente e sistematicamente recebemos respostas do tipo: «por Paulo Coelho», «pelo Caminho de Santiago e o livro de Paulo Coelho», «O Diário de um Mago de Paulo Coelho», «por Santiago e o seu caminho», «peregrinação», etc. Ao igual que Nélida Piñon, Paulo Coelho tem vindo a ser utilizado pela 'instituição' como agente de criação de produtos com capacidade de influir ou actuar sobre o repertório relacionado com a ideia 'Galiza' no exterior e na sua difusão, pelo que quisemos comprovar se isto realmente se via reflectido na experiência real dos visitantes brasileiros. Antes de continuarmos justificando o nosso corpus queremos fazer aqui uma pequena reflexão sobre o universo dos leitores no Brasil, e, pelo tanto, tentar dar uma visão generalista sobre os possíveis públicos-alvo de cada uma destas obras

seleccionadas. Segundo um estudo realizado pelo Ibope Inteligência49 sobre os Retratos da Leitura no Brasil, apenas 55% da população estudada declarou ter lido algum livro nos últimos 3 meses, o que já coloca a literatura num plano um pouco relegado na sociedade brasileira. Mas o 42% dos entrevistados acha que a leitura é uma fonte de conhecimento, o que faz da leitura um bem de consumo e de distinção social, como veremos, sobretudo para as camadas sociais mais altas. Quanto à posição que ocupa a leitura como actividade de tempo livre e ócio, esta ocupa o quinto lugar no 35% da população, mas, «entre os que concluíram o Ensino Médio, o índice chega até 48%. Entre aqueles com nível superior, o número sobe para 64% e ocupa o segundo lugar nas preferências desse segmento da população. Ou seja, este índice cresce, principalmente, em função de escolaridade e renda.»50 Ademais o estudo acrescenta ainda sobre a preferência da leitura: «Os segmentos da população onde essa preferência é maior são a Classe A51, 75%, entre os que possuem formação superior, 79%, e renda familiar acima de 10 salários mínimos52, 78%, e entre os espíritas, 76%. Outro dado interessante é que a preferência pela leitura nas horas vagas chega a 44% entre os que têm ou já tiveram algum educador na família e cai para 29% onde nunca houve ninguém ligado à educação.»53 Além desta distribuição de leitores a nível de classe social, também há no Brasil uma distribuição a nível territorial, sendo no Sul-Este do Brasil onde maior número de leitores se concentram, num 45%, distribuição provocada precisamente pela distribuição desigual da renda em termos geográficos. Depois, situaria-se a região Sul, com 14%, a região Centro-Oeste com (9%) e, por fim, a região Norte com 8%. 49

50 51

52

53

O Ibope é o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, www.ibope.com.br e um resumo do seu estudo pode encontrar-se em: http://www.educardpaschoal.org.br/web/fundacao-artigos-ver.asp? aid=26 em http://www.educardpaschoal.org.br/web/fundacao-artigos-ver.asp?aid=26 Segundo CCEB, Critério de Classificação Econômica Brasil, da ABEP (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa): www.abep.org. Dados com base no Levantamento Sócio Econômico 2000 IBOPE, o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística. Ver apêndice 1. O salário mínimo no Brasil são mais ou menos 400 Reais, pelo que estamos falando de uns 4.000 Reais que equivaleriam, aproximadamente, a uns 2.000 Euros. Ainda em http://www.educardpaschoal.org.br/web/fundacao-artigos-ver.asp?aid=26

Em relação aos nossos interesses isto põe-se em relação com a quantidade e o tipo de pessoas às que podem chegar ou que poderiam ser consumidores dos produtos por nós analisados no próprio Brasil. Assim podemos apontar como a maiorias dos leitores alvo serão brasileiros pertencentes à classe A e B, e se nós colocarmos no caso concreto da Nélida Piñon poderia ainda vir a restringir-se. Quer dizer, que o público de Paulo Coelho poderia considerar-se um pouco mais abrangente que o de Nélida Piñon, pelo facto de serem dois textos diferenciados, uma da produção maciça e outro da restrita, e devido a isso poderíamos pensar que o Paulo Coelho poderia chegar à classe A e B, e até C, quanto a Nélida apenas à A. Quanto à selecção de guias, esta foi feita baseando-nos nos mesmos critérios de consideração social e de amplitude de vendas e capacidade de distribuição a nível mundial e brasileiro, concretamente. Aqui temos que ter presente que no Brasil a maioria dos guias de viagens que encontramos à venda nas livrarias, tirando aqueles tipo diário ou relatos de viagem de um autor ou autora brasileiros, são comercializados em inglês, menos algum caso excepcional que encontramos em espanhol e alguma tradução para português (sobretudo daqueles que falam da Argentina e da Espanha); o que nos atenta para a consideração do perfil de quem sai do país: aqueles mais abastados sócioeconomicamente e com um nível de educação alto em relação a outras camadas do país devido ao uso do inglês como idioma veicular e de referência para o relacionamento exterior. Estaríamos pressupondo então, também um público alvo da classe A e B preferencialmente. E, tendo em conta que o Brasil quase chega aos 200 milhões de habitantes e que às classes A e B apenas pertence 29%54 da população, reduze-se muito o nosso leque de possíveis leitores brasileiros assim como as características, quando menos sócio-economicamente falando, do seu perfil-tipo. Quanto ao livro de Mel Lisboa, apenas voltar a repetir que foi escolhido pela 54

Fonte CCEB, ver apêndice 1.

representatividade da sua autora no mundo dos meios de comunicação audiovisuais brasileiros: apresentadora, actriz de teatro, actriz de novelas, etc, assim como conhecida figura pública das revistas de celebridades. O seu livro foi apresentado no Rio de Janeiro em Junho de 2007, com todas as galas55, e o facto de que tenha sido acompanhado com a difusão de um programa de televisão também lhe confere certa importância. O restante do corpus escrito escolhido faz parte do mercado do turismo, pois são guias de divulgação, guias de viagem, onde se explica o que ver, o que fazer e como mexer-se no lugar de visita. Os três livros que são propriamente guias de viagem, ao modo tradicional e mais conhecido, são guias gerais de 'Espanha', onde, por apartados, vão descrevendo diferentes regiões, comunidades e lugares, entre eles Galiza. Os três guias seleccionados são mundialmente conhecidos. E além de destacar a sua intencionalidade clara de 'manuais de uso' de um lugar turístico, neste caso a Galiza, queremos salientar, em contraposição à literatura escolhida, o seu carácter mais abrangente, universal e a sua intencionalidade de 'venda' de um produto; isto é, o seu motivo de existência é a divulgação e venda do lugar de destino assim como a própria vontade mercantil do produto físico em si, o livro. Neste sentido, também queremos pôr em destaque a clara pretensão de abrangência de público-alvo destes produtos assim como a sua muito particular imagem e estratégia de marketing, que poderia pressupor um perfil de consumidor algo diferente de aquele que consumiria Paulo Coelho ou Nélida Piñon, ainda que não exclusivo. Assim na página web do Lonely Planet56 encontramos no apartado «What we 55

56

http://video.globo.com/Videos/Player/Entretenimento/0,,GIM689870-7822-MEL+LISBOA+LANCA +LIVRO+SOBRE+SUAS+VIAGENS+NA+SPFW,00.html, e http://ego.globo.com/Gente/Noticias/0,,MUL325678-9798,00-MEL+LISBOA+LANCA+LIVRO+DE +FOTOGRAFIAS.html A cadeia de produção de guias nasceu de um casal aventureiro que logo com seu primeiro livro: «As

do» uma descrição do que é o guia, a sua origem, a sua destinação, etc.: «A beat-up old car, a few dollars in the pocket, and a sense of adventure.» 57, essas serão as pessoas que poderão potencialmente usar o guia, o que indica já uma certa diferença com os públicos que poderiam consumir a Paulo Coelho ou a Nélida Piñon, embora também se pudessem incluir os de Mel Lisboa pois também apresenta esse reclamo de 'aventura' de caminhar pelo mundo à procura de coisas novas e diferentes, surpreendentes, e, com uma característica que se pretende um incentivo, não gastando muito dinheiro. Algo similar acontece com os outros dois guias seleccionados, onde por exemplo no Fodor's aparece uma clara declaração de intenções, uma apresentação do que eles próprios fazem e como se 'vendem', assim como qual é a sua função: Fodor's helps you unleash the possibilities of travel by providing the insights and tools you need to experience the trips you want. While you're always at the helm, Fodor's offers the assurance of our expertise, the guarantee of selectivity, and the choice details that truly define a destination. It's like having a friend wherever you travel. (...) And we are confident that we're giving you the best information because our products are written by people who live there. (...) Our worldwide team of over 700 travel writers bring you the latest, most accurate coverage, and like trusted companions, reveal local treasures and everything you need to know before you arrive. More than an online resource, Fodors.com connects you to a like-minded community of selective travelers-living, learning, and traveling on their terms. Together, our books, our website, and you make it possible for every trip to be a trip of a lifetime.

E ainda no «About us» do Rough Guide encontramos o seguinte referido a o início da sua actividade de divulgação turística, que pretende: (...) aimed to combine a journalistic approach to description with a thoroughly practical approach to travellers' needs, a guide that would incorporate culture, history and contemporary insights with a critical edge, together with up-to-date, value-for-money listings. (...) That first Rough Guide to Greece, published in 1982, was a student scheme that Lonely Planet became a globally loved brand, Tony and Maureen received several offers for the company. But it wasn't until 2007 that they found a partner whom they trusted to remain true to Lonely Planet's principles. In October of that year, BBC Worldwide acquired a 75% share in Lonely Planet, pledging to uphold Lonely Planet's commitment to independent travel, trustworthy advice and editorial independence. BBC Worldwide is the main commercial arm, and a wholly owned subsidiary of, the British Broadcasting Corporation (BBC). Today, Lonely Planet has offices in Melbourne, London and Oakland, with over 500 staff members and 300 authors. Tony and Maureen are still actively involved with Lonely Planet. They're travelling more often than ever, and they're devoting their spare time to charitable projects. And the company is still driven by the philosophy in Across Asia on the Cheap: 'All you've got to do is decide to go and the hardest part is over. So go!'» Para mais maior informação sobre a Lonely Planet visitar: http://www.lonelyplanet.com/ 57 Em http://www.lonelyplanet.com/

became a publishing phenomenon. The immediate success of the book, with successive reprints and a Thomas Cook prize short-listing, spawned a series that rapidly covered dozens of destinations. Rough Guides had a ready market among impecunious backpackers, but soon acquired a much broader and older readership that relished Rough Guides' wit and inquisitiveness as much as their enthusiastic, critical approach. Everyone wants value for money, but not at any price.Rough Guides soon began supplementing the "rougher" information about hostels and low-budget listings with the kind of detail on restaurants and quality hotels that independent-minded visitors on any budget might expect, whether on business in New York or trekking in Thailand. These days the guides, distributed worldwide by the Penguin group, include recommendations from shoestring to luxury and cover more than 200 destinations around the globe (...)In 1994, we published the Rough Guide to World Music and Rough Guide to Classical Music; and a year later the Rough Guide to the Internet. All three books have become benchmark titles in their fields, which encouraged us to expand into other areas of publishing including popular culture, sports and digital trends. Two important additions in 2006 were the Rough Guide to Climate Change and the Rough Guide to Ethical Living, meeting the demand for the same brand of accessible and up-front writing on topical issues.

Assim podemos comprovar como cada uma delas pretende atingir a um públicoalvo determinado, onde a Lonely Planet tem um carácter mais aventureiro, a Fodor's para quem que quer experimentar a verdadeira vida de um lugar e a Rough Guide como aquela que se especializa em públicos com interesses muito específicos e que procura certos produtos culturais e de 'luxo'. Por último e como vimos relatando, também irão fazer parte do corpus total, de um futuro trabalho em andamento e baseado nesta primiera aproximação, uma quantidade significativa de entrevistas e questionários que serão outro elemento de contraste das imagens entre o que é promovido ou transmitido de algum jeito e o que é vivido mesmo. Considerando isto tudo, pretendemos examinar as correlações e concomitâncias que existem entre os repertórios produzidos por estes 'agentes culturais' e a realidade que depois é experimentada pelos visitantes efectivos da Galiza, analisando para isso alguns olhares algo distantes mas com vinculações como são o apresentado como o olhar do emigrante (através da narrativa de Nélida), e o olhar do visitante ou turista (através daquilo que o mercado transmite, guias e demais, do que Paulo Coelho difundiu com êxito sobre o Caminho de Santiago, e do que o próprio sujeito diz experimentar),

ambos, certamente de alguma maneira influenciados por aquilo que viveram, viram ou ouviram sobre o país receptor e as suas pessoas, e, também dalgum jeito, normalmente deixados à margem de aquilo que é realmente a identidade do país receptor, ou pelo menos pretendida e supostamente afastados, não existindo normalmente a consciência do papel que realmente jogam na definição, organização e desenvolvimento dessa identidade receptora. 3.2 A

IMAGEM

PROJECTADA

DA

GALIZA:

LITERATURA

E

DIVULGAÇÃO Como já foi apontado anteriormente, a nossa escolha como fontes literárias para o presente trabalho, foram O Diário de um Mago de Paulo Coelho, e a obra de Nélida Piñon A República dos Sonhos. Esta última, do ano 1984, situa-se a meio caminho do percurso da autora até a actualidade e é considerada de referência, o seu romance mais representativo e que a colocou no centro do sistema literário brasileiro. O romance é um dos produtos culturais que nos oferecerá uns determinados elementos do repertório cultural galego, de ideias, usos, imagens e 'habitus' de e na Galiza. Como é bem conhecido o romance fala de uma saga, de uma família galega emigrante no Brasil. O primeiro que nos mostra este romance é justamente esse assunto, do emigrante em si e a sua procura do sucesso no país receptor. E assim, como já apontou Carmen Villarino, em relação aos emigrantes (2002: 384), (...) são eles que nos interessam e em concreto algumas notas sobre a 'memória' que ficou das terras de origem e que atinge questões tão amplas como cultura, língua, História, nomes, espaços...

E são precisamente esses tópicos basilares que refere Villarino sobre a memória que um imigrante tem da terra de origem, os que vamos procurar, encontrar, distinguir, analisar e contrastar como elementos repertoriais extraídos do corpus

(romance e guias) e que irão representar as ideias básicas que um determinado produto cultural transmite sobre um tema em questão, neste caso, as imagens e representações que os brasileiros têm da Galiza, e porque têm essas e não outras. A própria 'ilusio' biográfica com que Nélida Piñon joga no seu romance, aponta para o uso destes assuntos basilares como referenciais da identidade de um povo; assim, coloca Nélida em boca da sua personagem principal, o patriarca Madruga (Piñon 1987: 27): «Iniciava-se em mim o lento processo de dissolver uma sólida matriz formada pela língua, o afeto, as lendas e a comida». De esta espécie de hierarquização de elementos também nos alerta já EvenZohar (2007: 111), que no tratamento da relação de repertórios e identidade afirma: Es un procedimiento común en los grupos humanos el extraer ciertos elementos destacados de un repertorio predominante para delimitar el grupo en cuanto entidad inconfundible e inequívoca. Mediante tal proceso se logra crear un «sentido de sí mismo» o una «identidad colectiva». (...) Entre los elementos comunmente utilizados para este fin se encuentran ciertos alimentos, ropas, aromas, rasgos corporales (como la barba, el bigote o las pelucas), algunos gestos o preferencias especiales por la comodidad o el orden.

Ainda em relação com isto, queremos mencionar a estrutura que lhe atribui Even-Zohar aos repertórios, o nível dos 'elementos individuais' e o nível dos 'modelos globais', segundo a qual justificamos a nossa organização dos parâmetros que irão reger a nossa análise das obras e dos produtos cultura em foco, assim como a das ideias transmitidas pelos diferentes produtos culturais de aquilo que dizem deve ser 'consumido' de e na Galiza. Os parâmetros, que irão ser utilizados como compartimentos abstractamente estanco, e que fornecem imagens genéricas da realidade galega, são aqueles que consideramos discriminar como 'elementos individuais' dos diferentes repertórios galegos em funcionamento e em questão. Assim, e uma vez debruçados e mergulhados sobre o nosso corpus estabelecemos uma primeira hierarquia de itens básicos que são tratados, destacados e utilizados por cada um dos produtos culturais analisados e de onde, posteriormente,

tentaremos extrair o repertório predominante que está a ser transmitido como imagem da Galiza. Estes parâmetros básicos poderíamos encaixá-los, numa tipologia reduzida, em seis itens agrupados sob as seguintes etiquetas genéricas: a) Questão linguística ou tratamento da língua b) Memória, genealogia e origens c) História d) Tradição, lendas e crenças e) Espaço e paisagem f) Hábitos, costumes e alimentação Acrescentamos a estes um outro de especial interesse relacionado com os objectivos específicos do Projecto TUI e a própria relação pretendida entre produtos culturais e realidades empíricas, e que diz respeito às motivações e expectativas da viagem: g) Motivações e expectativas da viagem Além destes parâmetros basilares outros elementos irão sendo salientados e apreciados segundo vaiam aparecendo em cada um dos elementos do corpus em foco e que se relacionem em algum sentido com os nossos propósitos, estamo-nos a referir a questões mais vinculadas com a actividade turística como o alojamento ou o grau de satisfação com os serviços ou a viagem, por exemplo. Queremos advertir para o facto desta hierarquia não ser aleatória, embora nela pudessem estar contemplados muitos outros aspectos ou pudesse não aparecer algum dos presentes. Em realidade e como já apontamos, a escolha e classificação desta

hierarquia foi feita por aqueles elementos destacados do repertório dos que mais ocorrências fomos encontrando ao longo da análise do corpus. 3.2.1 AS OBRAS LITERÁRIAS 3.2.1.1 A REPÚBLICA DOS SONHOS O romance que nos ocupa, A República dos sonhos de Nélida Piñon e cuja escolha já foi suficientemente justificada no apartado da selecção do corpus é um romance, como também já foi adiantado, sobre o Brasil através dos olhos da imigração galega. a) Questão Linguística ou tratamento da língua: Já entrando em questão, no romance de Nélida Piñon um dos primeiros tópicos a ser tratado, além da própria imigração, é a questão linguística, da qual encontramos referências controversas, ou antes, contrapostas. Na maior parte das citações trata-se a língua como um problema para o estabelecimento e sucesso do emigrante no país receptor, como aponta o narrador omnisciente do romance (Piñon 1987: 9): E isso sem mencionar o entrave da comunicação. Quando deveria conquistar uma nova língua mediante acertos com a alma. Para tanto havendo que destroçar um sistema de fantasias e de defesas, que teimariam em resistir.

E colocando em palavras do protagonista Madruga (Piñon 1987: 613): (...) se tivéssemos obedecido a eles, jamais atravessaríamos o Atlântico. E como estaríamos hoje juntos, falando esta língua dos filhos e que também já amamos?

E ainda (Piñon 1987: 72): Ganhar a vida, em país estrangeiro, equivalia no início a dolorosas amputações. A perda da alma e da língua ao mesmo tempo. Não expressava apenas a descoberta de que o seu mundo, até então conhecido, antagonizava em aberto a tudo que se passava a conhecer. Tinha sobretudo o significado primário de tropeçar nas palavras mais banais, perder entre os dedos o que

elas poderiam dizer, quando bem usadas. Com a agravante de sua condição de imigrante sujeitá-lo à desconfiança geral. Como se o seu corpo, recémdesembarcado, pudesse transmitir malefícios funestos para o brasileiro confortavelmente nascido naquela terra. Assim precisou sempre lutar em dobro para ganhar alforria, conquistar a confiança dos senhores legítimos da terra, simular familiaridade com a língua portuguesa, a ponto de entrosar fala e sentimento, sem os cindir, mesmo sob o tumulto das emoções. Precisava en fim tonificar idealmente o cérebro e os músculos no mesmo passo.

Ou (ibid., 1987: 62) em afirmações do narrador, sobre Eulália, tipo: «(..) o próprio timbre da voz, marcado por um sotaque de que jamais se livrou». Num momento parece vislumbrar-se uma ligeira facilidade por aprender essa língua estrangeira que é apresentada como um travão para o assentamento do imigrante galego (Piñon, 1987: 99): E no esforço de familiarizar-se com o Brasil, para nada lhe ser estranho no futuro, recusava-se a falar o castelhano ou o galego, até com Venâncio ou patrícios. Embora o seu português se aperfeiçoasse velozmente, faltava-lhe tempo para consolidar a gramática, os escaninhos da língua.

No romance aparecem também apreciações de como os galegos vivem a própria língua e o seu uso (ibid., 1987: 118): E sempre que os peregrinos se confrontavam ao largo das veredas tradicionais, recorriam ao latim, língua comum a todos, para os cumprimentos e trocas de informações. Pois estando eles em território espanhol, não dominavam as línguas de Castela e Aragão.

Ainda a obra refere num momento o antigo 'esplendor' da língua galegoportuguesa, denominada apenas de 'galega', que o narrador em voz do avô Xan (pai galego do protagonista Madruga) inquire: «(...) em outra época ainda, os castelhanos, os andaluzes e os de Extremadura faziam suas obras em língua galega?» Pela ocasião da viagem da neta do protagonista, Breta, a Sobreira (Ponte Vedra), sobressai o facto de que ela «falava o galego com desenvoltura», (Piñon, 1987: 164). E ainda, num momento põe em boca de Miguel, um dos filhos de Madrugada (Piñon, 1987: 297): Não queria Espanha em sua casa. E que seus vapores lhe consumissem a

imaginação. Era brasileiro e, nesta condição, integrava um território soldado graças ao uso e uma língua que embora comportasse divergência, ódios, rupturas, hiatos, jamais se dissolvera. Esta mesma língua arrastando sentimentos brasileiros.

E temos também uma referência à origem da língua (Nélida, 1987: 331): «Em Sobreira vinha eu fazendo um soberano percurso, por meio do qual devassava ancestrais e mitos, inconscientemente desvelando a origem da língua portuguesa.» Num significativo episódio onde é narrada a conquista do Brasil desde um muito particular ponto de vista refere-se (Nélida, 1987: 385-386): «(...) se pareciam aos nossos castelhanos, que há séculos nos dominam, dando-se até o desplante de proibir-nos o uso da nossa língua.», e segue, em boca do amigo de Xan, Salvador : - Acaso vocês podem ensinar o galego nas escolas? Eu, por exemplo, falo castelhano. Mas, de que me serve, se tenho a língua catalã no coração. Esta língua eu aprendi com o leite materno. Só por isso eles me querem condenar. Assim como a vocês. Quem sabe, se não fosse este maldito castelhano, nos entenderíamos todos? Pelo que sei, segundo Elcano contou, o Brasil consegue falar uma só língua, apesar do seu tamanho. Aí está um fenômeno de nos causar inveja. Só por esta circunstância, vale irmos de visita a este país.

Num outro momento aparece a 'consciência' da diversidade linguística do Estado Espanhol e com ela do conflito linguístico (Nélida, 1987: 388) ao falar de «um país que exibe tantas línguas, que todos julgam estar falando a língua errada». O que também aparece referido com relação à ex-diversidade linguística brasileira (Nélida, 1987: 430). No episódio em que Eulália lê um trecho do diário de Venâncio, este tem escrito em relação à língua (ibid., 1987: 412-413): A conquista desta língua portuguesa me é penosa. Trava-me a língua, quando a falo. Ela é tirânica e traiçoeira, e não basta conhecê-la. (...) Esta língua lusa, como todas as outras, organizou-se de forma a impedir que o povo a tome a si e rompalhe os grilhões. Os senhores da língua sempre temeram que o povo convivesse com aquela camada subjacente da língua, capaz de conduzi-lo à apostasia do imaginário. À liberdade.

onde se intui uma origem do português em Portugal. Num outro episódio o narrador põe em boca de Eulália (esposa, e originária também de Sobreira, de Madruga) (Nélida, 1987: 442): - E o que nos passou, pai, quando nos roubaram a língua? Acaso sofremos muito para aprender o castelhano? Será por isso que até hoje o falamos com

tanta dificuldade? Dom Miguel enterneceu-se. Por momentos, sentiu-se debilitado. Exausto de velar por um país pobre e chuvoso. De proteger continuamente seus mitos, que ameaçavam deixá-los em face dos maus-tratos recebidos. (...) - Nebrija disse que a língua segue o Império. Mas isto não é verdade. Ele não sabe o que diz. Apesar do domínio castelhano, até hoje falamos galego e ninguém conseguiu apagar as nossas lendas, que estão instaladas bem nas nossas tripas.

E até aparece uma consideração do uso do galego nas cidades (Piñon, 1987: 682-683): Dom Miguel padecia por diversas razões. Pela falta de sucessores. Pelo fracasso da Galícia, submissa à triste e desolada meseta castelhana. Pelas cidades galegas, mesquinhas, arrogantes e inseguras, cujos habitantes, constrangidos com a própria origem, haviam abdicado do idioma galego, em troca da adoção do castelhano como língua de nascimento. Um tal dramático repúdio às origens levando-os mesmo a desprezar os camponeses de visita aos centros urbanos, na ocasião em que lhes traziam ovos, pernis defumados, nabiça fresca, e que se expressavam unicamente em galego. O peito de Miguel doía-lhe por tantos desmandos. Sentia-se um Dom Quixote a defender o território mítico da conspurcada alma galega.

Já nas últimas páginas do livro (Nélida, 1987: 740-741) fala-se da existência de algumas frases em galego no diário de Venâncio (amigo e companheiro da aventura nas Américas do protagonista Madruga) e a referência e até a transcrição de uma cantiga da lírica medieval (Mendinho) que aparece qualificada e identificada apenas como «lírica galega», fronte a galego-portuguesa. Por último, não queremos deixar de incluir uma apreciação a respeito do português falado no Brasil já no século XVII (ibid., 1987: 59 e 148-149): «aos portugueses devíamos o idioma robusto, jamais repartido em quistos pelo território nacional, aos africanos devíamos a doçura que se impregnava pelas camadas da língua, a ponto de ensinar-nos entoações verbais oriundas directamente da alma», unido a uma qualificação de «um português padecendo visível transmutação, já de muito fugindo dos padrões lusitanos.» b) Memória, genealogia e origens Este parâmetro é fundamental no que a esta obra se refere, devido à sua

temática, ao seu conteúdo e estrutura a modo de saga familiar, de uma família de origem galega, e por isso as citas e episódios que se referem a este ponto são inumeráveis, nós apenas transcrevemos aquelas que consideramos mais relevantes e significativas para a nossa pesquisa.58 O romance inaugura-se colocando à Galiza como o lugar da infância, das lembranças, da memória, das origens, das raízes e da família, (Piñon, 1987: 8) «A memória levava-o directamente à Galícia, cenário da sua infância. Por onde se movia como um caçador de borboletas. Sem se esquecer porém de recorrer ao avô Xan». Em relação a isto, também aparecem referências à heráldica e os sobrenomes e as lembranças constamente espalhados por todo o livro, ressaltaremos as mais significativas aos nossos olhos. E também vinculações familiares e com elas as de escutar e contar histórias e lendas dos mais velhos. Como vimos assinalando o livro em si pode ser considerado umas memórias de vida, mas destacam alguns capítulos onde se acentua o tratamento deste tópico, por exemplo aquele que ocupa as primeiras páginas e o seguinte onde já se aponta para as memórias e as lembranças da iniciativa e decisão de Madruga embarcar para as Américas (Piñon, 1987: 7 e seguintes). Já desde as primeiras páginas do livro também aparece Breta, a neta de Madruga como herdeira da sua história e das suas memórias (ibid., 1987: 23): Abro meus poros para a memória invadir-me com a sua água fétida. Breta tem sorte que isto seja assim. - Não se preocupe, Breta. Ainda tenho alguns restos de Sobreira para lhe dar. Você tem medo que eu morra antes de extrair tudo o que precisa de mim. E que será o seu segredo no futuro. Eu só lamento que me falte o talento do avô Xan.

A memória, os recordos enlaçam-se sempre com a ideia do Brasil, da criação e estabelecimento no próprio país (ibid., 1987: 29): «Apenas meu destino é ir ao encontro de uma terra arrastando a memória da outra. Sem Galícia que vou deixar atrás, a

58

Que como já apontou Villarino (2000: 407): «um dos elos mais utilizados é o do fio da memória1, uma memória cultuada que atravessa o corpo da narrativa em todas as suas vertentes».

América me chegaria sem apreço, sem a paixão que já me toma todo.» No episódio que relata quando Madruga volta a Galiza para casar com Eulália há uma clara referência às 'nobres' origens da sua família, às quais no momento ela se opõe, numa passagem em relação também à história galega do passado sob domínio castelhano (Piñon, 1987: 67): Obcecados (...) em rastrear a própria genealogia, instaurada em Galícia muito antes do domínio castelhano, por meio de documentos e narrativas esparsas. sobre cujo percurso heráldico pesavam, no entanto, a sombra e a pecha de um ancestral que, por ambição, serviu justamente aos dominadores Isabel e Fernando.

c) A História De alguma maneira relacionada com as raízes e a memória aparecem alusões históricas, tanto em relação à História do Brasil (p.83) quanto à da Galiza e/ou do Estado Espanhol (por exemplo, Piñon, 1987: 67). Aparecem referências constantes à conformação histórica da Galiza como chamamentos aos godos e visigodos, a Prisciliano (Piñon, 1987: 108), aos francos, celtas, levantinos ou fenícios (ibid., 1987: 113) «Todos povos que se determinam a semear a península com o pó da discórdia e da invenção», que alude à própria existência de um certo conflito identitário, onde diferentes elementos se encontram em luta. E aparecem referências à construção histórica da Galiza (Piñon., 1987: 21): «Através delas [montanhas de Sobreira] haviam passado os romanos, os visigodos, os celtas, e outros povos, que invadiram nosso sangue, só para nos construir.» No interessante capítulo em que se narram as primeiras impressões da neta de Madruga em Sobreira, relatam-se outros episódios como o caso do madrileno que vivia em Sobreira (a quem, por acaso, lhe matam o seu bode), a quem lhe é atribuído um desprezo só por ser castelhano (Piñon, 1987: 170): «Aquele nefano crime devendo-se,

sem dúvida, ao fato de ser castelhano, e de Madrid mesmo, e de não querer relacionar-se com aquela espécie de gente». No mesmo capítulo, e em relação à luta travada contra o madrileno, encontra-se citada brevemente a exaltação nacionalista na Galiza de 1924 e o poeta Eládio Rodrigues, (ibid., 1987: 171): Chegara o momento de desencadear a guerra contra Saavedra. e, por seu intermédio, bater-me contra o poder central, sediado em Madrid, que nos privara da autonomia. E roubara-nos, ainda por cima, a imaginação. Passando a até a subscrever como suas as nossas histórias. E o episódio fazia-me lembrar com que alegria Venâncio e eu, desde o Brasil, acompanháramos a exaltação nacionalista que assolou a Galícia em 1924. Os jornais e as notícias davam-nos conta das festas realizadas em Compostela, em louvor do apóstolo Santiago. Ao mesmo tempo que se dedicava a primeira efeméride dedicada à língua galega.

No capítulo seguinte fala-se da Guerra Civil espanhola, de Franco e a sua política, etc, (Piñon, 1987: 183): «Os desabafos de Venâncio se sucediam contra os nacionalistas. Foram eles que interromperam o sonho de se construir a grande república espanhola! (...) Por sua vez, Madruga guardava mágoas da República, que não cedera autonomia à Galiza. Não lhes havendo liberado a língua, a história, as lendas, portanto.» O capítulo continua inteiro falando de impressões sobre a história e os acontecimentos espanhóis da época. É também referida a guerra civil espanhola como, em boca de Eulália, (Piñon, 1987: 197) «tragédia espanhola» e como causa de «desordem que a guerra estabelecera no coração de todos os espanhóis.» (Piñon., 1987: 347). No avanço do livro, aparece um capítulo onde através da leitura do diário de Venâncio se narra a história do século XIX no Brasil, e como este país se foi conformando até a sua independência. Ainda neste capítulo também há uma anotação histórica do conflito de Olivença. Quando a autora refere Prisciliano, entre o mito e a história, também narra as sensações místicas que produz olhar o Pórtico da Glória e as suas origens. Também é aludida a consideração que mereceram os ciganos na Espanha de

Carlos III, assim como é narrada a partida e descoberta da América desde Bayona (Piñon, 1987: 469). Por último queremos apontar para a consideração da história, que tem a ver com a História mesmo e com a diegese que neste romance tem a ver com a História (do Brasil e da Galiza) e as memórias (onde indivíduos conformam países com os seus sentimentos, percepções e actuações), (Piñon, 1987: 725): «Havia um único vencedor, a própria história, que era diariamente contada. Sendo a história a única a seleccionar o que merecesse resguardo.» Nas últimas páginas do livro volta a ser referida a Guerra Civil e falasse em Franco e em Garcia Lorca. d) Tradição, lendas e crenças Um outro elemento repertorial que identifica à Galiza e contribui para criação do seu bestiário59 é a referência aos antepassados celtas. Ao longo de todo o romance é referida esta vinculação galega com o mundo celta, que por sua vez aparece muitas vezes associada às lendas e ao misticismo, mais dois elementos recorrentes na consideração que da Galiza é feita na obra da autora. Desde o início coloca-se também a interligação entre as tradições e a origem celta da Galiza assim como com as lendas e demais histórias orais, relacionado intimamente com a 'maneira de ser' dos galegos. Na voz do narrador (Piñon, 1987: 61): «Madruga voltara sempre para o lado dramático da existência. Nele se cumpriam mais regiamente certos rituais de possível origem celta, em que se salientavam as mais sinistras lendas.»

59

Palavra utilizada na sua acepção de tratado medieval, em prosa ou verso, no qual se descrevem as características físicas e os costumes de animais, verdadeiros ou fantásticos, atribuindo-lhes, muitas vezes, significados alegóricos ou morais.

As tradições, lendas e crenças entrelaçam-se durante o desenvolvimento da história entre elas e com relação à essência galega assim como à sua própria história, conformando um todo, que é o galego, assim em palavras do narrador mas pensamento de Madruga (Piñon, 1987: 73): Era sem dúvida o último defensor das tradições familiares. Sob o jugo da história galega, iludiu-se que esta história viesse a reproduzir, em escala maior, a memória da sua própria estirpe. Mas já não restava na sua grei quem se empenhasse em preservar o inestimável patrimônio. Os próprios filhos, afetados por outros interesses, exibiam uma realidade em contraste com a sua. Só Eulália o compreendia, porque lhe herdou a melancolia. Os mesmos olhos voltados para o firmamento, conciliando assim o espírito e a matéria, esta sob forma de lendas.

Uma das referências mais claras e extensas aos celtas, e a função das lendas na conformação da Galiza e em relação com a história de dominação castelhana e ainda que denota o conflito linguístico, aparece colocada em boca do avô Xan (Piñon, 1987: 85): (...) debaterava-se contra os castelhanos, acusando-os de espoliar Galícia. Um ponto de vista igualmente abraçado por Dom Miguel. Ambos convictos de que Isabel, Fernando e sucessores, além de privá-los da autonomia, haviamlhes roubado a língua e o acervo de mitos. e muitas destas lendas galegas, arrastadas pelo chão até Madrid, em meio à poeira da meseta seca e desconsolada, com que a natureza os obsequiara merecidamente, passavam agora por invenção dos castelhanos. - Eles furtaram justamente aquelas histórias que nós engendramos para atrair o sono e tornar suportável o convívio humano, disse Xan ao neto. Xan referia-se às lendas que de tal forma confundiram-se com o espírito galego, que se podia facilmente identificar na rua o tipo de rosto com que fora dotado o povo de Pontevedra, de tanto ouvirem sempre as mesmas histórias. (...) Contudo, não se mostrava indiferente, pois reagia irritado ante o fausto de Castela, que os desfalcara do imaginário mais poderoso de Espanha. - Esta graça que temos de narrar se deve ao fato de sermos celtas, Breta. É a nossa maior herança. mas, também, o que sobra de um povo sem o seu imaginário?

Uma das passagens de maior interesse para o nosso trabalho em relação às lendas e tradições e aquela que refere e lembra a viagem ao Cebreiro de Madruga com o seu avô Xan (Piñon, 1987: 113-123), uma espécie de viagem iniciática que além de vincular a Galiza com as suas origens, dota-a de um ambiente místico que poderemos

contrastar com a obra de Paulo Coelho. No capítulo em que é narrada esta história há uma constante associação à capacidade de contar histórias do povo galego e à importância das suas lendas, como parte da sua conformação como tal (Piñon, 1987: 116): «Essas lendas encantavam Madruga. Aquelas lendas há séculos fundamentais à própria nacionalidade galega.», onde volta a ser referida a apropriação das lendas sofrida por parte de Castela. Ainda neste capítulo cita também, com motivo dessa viagem ao Cebreiro, o Caminho de Santiago de Compostela (ibid., 1987: 117), onde ademais aponta para uma das motivações para fazer o caminho (ibid., 1987: 118): «Valia-lhes muito mais conhecer o mundo que o próprio santo, lá instalado em Santiago de Compostela quase no Finisterre, extremo do continente europeu.» Ainda no capítulo dedicado à viagem da Breta à Galiza nomeam-se as gaitas de foles (Piñon, 1987: 171) narrando um concurso no 1924 que fez com que os estudantes «intuíram o quanto a alma galega fazia-se representar pela gaita de foles, soprada em geral pelos conjuntos formados por camponeses empenhados em exaltar as pedras e os tojos de suas aldeias longínquas». A religião também é associada à Galiza, através da fé de Eulália, entre outras paragens (Piñon, 1987: 215): «Na Galícia, eles não só cultivavam os deuses, mas também os levavam para dentro da casa, como animais domésticos, a que lambiam, acariciavam e esqueciam debaixo da mesa. (...) Os galegos conheciam de perto a amargura dos deuses quando julgavam o destino humano.» Outro elemento significativo quanto à vinculação da Galiza com os celtas se refere é a que fica palpável no nome da neta do protagonista, Breta, «em homenagem a Bretanha, uma das últimas regiões celtas.» É referido o São Martinho como «o período áureo das festas» (Piñon, 1987: 533).

Nas últimas páginas há ainda uma dissertação por parte de Esperança, falando com a mãe, Eulália (Piñon, 1987: 754): - E não ouvimos juntas a chuva cair sobre o telhado. Me lembro que nestes dias chuvosos meus olhos sempre brilharam. Nunca descobri as razões. Se de alegria ou de tristeza. Talvez por lhe doer o coração de tantas lembranças. A senhora pensava em Sobreira, não é? Ou quem sabe no avô Miguel, o contador de histórias. Cada família dispõe sempre de um narrador. Ai daquela família que não tiver um só deles sentado à mesa. Neste caso, será uma família órfã, sem história que passe adiante. Já conosco foi diferente. Ouvimos histórias em excesso. O que não nos fez bem. Sinto às vezes as nossas vidas envenenadas. E sabe por quê? Porque as histórias converteramse de repente em lendas. E as lendas converteram-se em fábulas. E fábulas moralizantes.

que deixa ver o poder das histórias, e neste caso as orais, no estabelecimento do 'habitus' das pessoas e da dinâmica de um lugar. e) Espaço e paisagem Quanto ao espaço que é apresentado na obra, contamos com um eminentemente espaço rural, Sobreira (como lugar de origem da família de Madruga). Também aparece referenciado Santiago de Compostela (associado à universidade e à religião), Vigo (qualificado como a 'cidade' galega por excelência), Ponte Vedra, Mondariz (referindo as suas águas minerais), Ponte Nova, «Puente Sampaio» (Piñon, 1987: 291) ou Terra de Montes. Vigo é a cidade de onde sai o barco com destino às Américas e Sobreira o lugar de onde vêm todas as lembranças e a vida da infância e as tradições familiares. E em relação a outros lugares da península aparecem também referidos Sevilha, Madrid, mas apenas são lugares citados de passagem, como outro porto de saída de barcos (Sevilha) ou como pontos de ligação com a Europa (Madrid). Também se fala em Andaluzia (Sevilha, Cádiz e Córdova) quando é tratada a origem de Venâncio (Piñon, 1987: 457-458). Também é referida a França, Paris, onde a neta do protagonista Madruga passará uma temporada a estudar e com carácter de 'semi-exilada' por causa

dos acontecimentos do AI-560. O que sobressai é a imagem da Galiza preponderantemente rural face à urbana, (Piñon, 1987: 42) em voz do narrador omnisciente: «ele viera das rústicas montanhas de Sobreira, povoadas de ovelhas, cabras, vacas, animais de rara antigüidade.» Nas referências à paisagem, esta aparece frequentemente como inóspita, muito verde e dura (Piñon, 1987: 21, 23, 53, 99, 105, 119, 121, 161, 162 e 296): «montanhas que afundavam Sobreira no verde vale», «o áspero campo», «pelas montanhas cruas e escarpadas do alto Minho», «os espinhos da alma de Venâncio recordavam a madruga os tojos da Galícia, com sua delicadas flores amarelas, raiadas de verde», «nunca a realidade de Sobreira pareceu-lhe tão antiga e perpétua como naquele ano.(...) Uma terra antagônica ao progresso. (...) Eulália comovia-se com a modéstia daquela vida campesina», «o vinho rubro, as rias flamejantes, as montanhas apinhadas de lobos e o tojo da Galícia», «no sopé da montanha do Cebreiro. (...) frente a eles via-se um conjunto de perturbadora beleza. (...) As árvores, a brisa, as pedras arcaicas, e os sentimentos instalados nas coisas», «o verde da paisagem, às vezes excessivo, abrandando-se unicamente com a chuva, um doce elemento da alma galega». Um dos capítulos que dá uma visão mais completa da Galiza, como lugar físico e também psíquico é onde se narra a viagem que realiza Breta a Galiza (Piñon, 1987: 161-180): «terra agreste e verde», «fazia frio e a chuva alargava os caminhos», «Galícia era uma terra velha. Com um povo cercado pelas pedras e entidades. As pedras espalhadas por todas as partes. Até mesmo encontravam-se na alma galega.» Assim vai narrando diversas impressões e sentimentos que Breta vai experimentando na sua estadia em Sobreira.

60

O AI-5 foi um conhecido ato institucional dos que entre 164 e 67 foram promulgados pelo governo golpista (Golpe militar de 1964) no Brasil para restringir, reprimir e centralizar mais o sistema implantado, para fortalezer a chamada 'linha dura'.

Sobreira aparece como a vila da infância, das memórias e das lembranças e com um espaço rural e com poucas possibilidades (por isso a 'lógica' a sua ida para América). Assim como várias vezes aparece referida a retroalimentação entre Espanha e o Brasil, tanto nas suas relações quanto nas sua vida por separado. Um outro lugar que queremos destacar pelo simples feito da autora tê-lo escolhido para nomear é a cidade de Ávila (Piñon, 1987: 337): «Ficaríamos cinco dias em Madrid. Para rever paisagens, especialmente retomar o espírito de Teresa de Ávila.», o que contrasta com algumas apreciações que vimos constatando empiricamente sobre a promoção turística que foi feita no Brasil desde os anos 70 onde costumam aparecer destacados Toledo, Ávila, Santiago e Barcelona61. E mais uma vez obtemos a mesma imagem da verde Galiza (ibid., 1987: 365): «Nascido, com ele, em Sobreira, onde Madruga apalpou a terra pela primeira vez, comeu de suas batatas, galgou os seus montes, surpreendendo-se com os intensos dias de verão, quando o verde da Galícia luzia entre os espinhos despontados dos tojos.» E também uma descrição do físico galego tilado de «beleza agreste», que lhe é atribuído a Bento, um dos filhos de Madruga (ibid., 1987: 366): «cabelos caídos na testa, exibia uma beleza agreste, como se desde a sobrancelha até o queixo escorresse por ele o leite de cabra (...) Surpreendiam-lhe traços que remontavam ao passado galego.» Também é citada a feira de Caldelas, como lugar onde iam vender os animais, as empanadas de bacalhau, as sardinhas, e as rosquilhas, (Piñon, 1987: 371), «sem esquecer a pandereta, para nos acompanhar nas danças e nos cantos.(...) Assim poderão divertir-se à vontade, ao som dos melhores gaiteiros da Galícia.» f) Hábitos, costumes e alimentação

61

Primeira impressões tirada da revisão bibliográfica das publicações em jornais como o Golbo, o Boa Viagem e outros suplementos turísticos brasieliros.

Outros elementos substantivos que ajudam a definir e adjectivar um lugar ou cultura têm a ver com os hábitos vitais e alimentares, no romance alvo encontramos referências a várias comidas denominadamente galegas como o cozido, ou (Piñon 1987: 66) o «bom vinho do Ribeiro». E à dieta tradicional galega de Sobreira (ibid., 1987: 99): «Não sei porque os de Sobreira reclamam tanto [...] se não lhes faltam batatas, nabiça, pão de milho e carne de porco.» Logo nas primeiras páginas (ibid., 1987: 107) aparece já mencionada a «tortilha de batata e pimentão». Numa outra referência à alimentação e o seu significado na Galiza encontramos (ibid., 1987: 121): «Em certas aldeias lhes forneciam pão, lingüiça, toucinho, como prova de hospitalidade», e (ibid., 1987: 331) «junto ao leite de ovelha, ao pão de milho, aos pimentões fritos no azeite, tinha ao alcance a minha génese», onde a comida já é associada directamente com a origem da pessoa, com as lembranças de infância. Ainda em relação à comida, a Nélida Piñon (1987: 393) no episódio que apresenta a Salvador, um curioso viajante que casualmente vai dar a Sobreira e enlaça amizade com Xan, o avô de Madruga: Como Xan, Salvador dispunha de esplêndida memória. Alimentada com batata e toicinho. Aliás, no que se referia à gastronomia, Salvador demonstrava aptidão em detectar os diversos sabores produzidos pelas regiões que iam percorrendo a pé. (...) Só nas montanhas, suas narinas livravam-se do cheiro do azeite, impregnando-se da clorofila das folhas dos carvalhos, dos pinheiros, dos eucaliptos. Para Salvador, os cheiros tinham rica linguagem. Por isso protestava contra aquelas províncias que tinham o hábito de sufocar a comida com o uso excessivo do açafrão. - Essa gente pensa que basta amarelar a comida para ela ganhar gosto e aparência. São uns brutos, irritou-se. Seu estômago educara-se positivamente para tragar as mais contraditórias comidas da Espanha.

Ao longo do texto, como era de esperar aparecem também citas referentes à dieta brasileira como acontece nas refeições de Madruga no «Bar Adolfo», (Piñon,

1987: 149): «Comia salada de batata, o pão de centeio, os frios alemães, acompanhados de largos goles de chope negro62, como se não tivesse almoçado.» Alguns outros alimentos que aparecem referidos são as sardinhas, os legumes ou o pescado. E a nabiça definida como «uma verdura de frequência obrigatória nas panelas galegas quando se fazia o caldo» (Piñon, 1987: 372-373). Além das iguarias o livro mostra por vezes traços do carácter galego ou da Galiza, através de generalidades ou da caracterização de personagens concretos (Piñon, 1987: 24, ): «Era simplesmente um camponês», em relação a Ceferino, pai de Madruga. E até fazendo alusões directas à «raça galega», (Piñon, 1987: 27): Aquela raça galega, que jazia ao pé da montanha, fazia amor expiando uma culpa originária quem sabe de uma Igreja que, sob a égide do pecado, os entreteve com lendas e amargos deveres.

Ou até mencionando e fixando o físico galego, através neste caso de Eulália, a esposa de Madruga, como traço distintivo da 'raça', da identidade (ibid., 1987: 58): De maçãs proeminentes, o rosto de Eulália não negava a procedência celta. Um etnia só desrespeitada no que tangia aos olhos salientes e puxados, que a tornavam uma eurasiana em vez de galega legítima.

E ainda, Eulália julgando o físico de Madruga (Piñon, 1987: 69): De joelhos, contrita na reza, confundiu de repente o Cristo com Madruga. Ambos dotados de fulgurantes olhos azuis, Pois, na versão galega, o Nazareno não se apresentava moreno, semita, ou andaluz. Mas ariano, louro, a pele clara, parecido a muitos homens de Sobreira.

E sempre pondo em destaque a dificuldade que atravessa uma pessoa quando emigra a um outro país, salientando a por vezes insalváveis, questões culturais que influem na adaptação de uma pessoa (ibid., 1987: 58): «Além do mais não passava de uma estranha naquele país, apesar dos primeiros filhos brasileiros. Muitos dos hábitos e costumes daquele povo escapavam-lhe pelos dedos, não lhes ia ao alcanço.» 62

O chope é uma marca de cerveja que se tornou o nome mais habitual para designar a imperial, o fino ou a canha .

Alusões específicas ao comportamento ou carácter dos galegos também aparecem referidas (Piñon, 1987: Não fosse Dom Miguel, filho, bem pouco saberíamos da nossa história e de onde viemos. E menos ainda do comportamento da nossa alma galega, que sempre nos assustou mais além da conta. Não tem ele feito outra coisa que explicar por que somos nós teimosos e ásperos, com tendência a choros e cantos inesperados.

Assim também nalguma parte da história se contrapõe a maneira de ser de Madruga com a do avô, e a do 'povo galego' que se resigna a sofrer e lamentar-se quanto ele vai na procura da fortuna (ver Piñon, 1987: 101). Factos este, entre outro que levariam depois ao protagonista a procurar certa redenção do seu pecado 'pátrio' ao querer que um filho nasça na Galiza, filho que virá a morrer, como a sua origem, apenas preservada nas suas memórias através da narração preservada por Breta, a sua neta. Na passagem que narra a viagem iniciática de Madruga ao Cebreiro também se entrevêem umas tendências do espírito galego, justificadas, aliás, na própria história da Galiza (Piñon, 1987: 121): (...) Galícia fora o centro espiritual da Europa. (...) - Vivemos todos essas lembranças. Até o mais modesto camponês galego, Depois que se apagou o chamado caminho francês, nunca mais fomos os mesmos. Nossa alegria é melancólica, permeada de prantos. Não vê você a morriña? Afinal, de que sentimos tantas saudades? Só pode ser da grandeza perdida. Um país se empobrece depressa quando lhe roubam suas histórias. Ou quando seus filhos descuidam de descrever ou inventar outras em seu lugar. Você já pensou que houve uma época em que a Europa inteira sonhou conosco? E que, em outra época ainda, os castelhanos, os andaluzes e os de Extremadura faziam suas obras em língua galega?

E num dos capítulos que mais se fala do Brasil e da sua história não deixa de entrar também a Galiza e os galegos como elemento de contraste (Piñon, 1987: 147), onde, neste caso, salienta pela sua coincidência em relação ao tratamento de assuntos em discussões ou conversas de certa importância, onde galegos e brasileiros gostam mais de «linhas curvas» e «não se recomenda ir ao assunto diretamente». Ainda neste capítulo (ibid., 1987: 150) caracteriza-se a Venâncio como de físico de «corpo magro, miúdo, fazendo parecer-se a um cigano andaluz» fronte ao de Madruga «físico

imponente, os ombros eretos, de charuto entre os dedos, a cabeça pirando sobre obstáculos eventuais». E é aludida a referência de «gringo, turco, galego ou português» como estrangeiros e imigrantes no Brasil. No capítulo que narra o episódio do madrileno que mora em Sobreira encontramos (Piñon, 1987: 176-178): «Efetivamente, os galegos eram rústicos, mas jamais hipócritas», e ainda representando ao pensamento do madrileno: Tinha à sua frente, inimigos galegos, montanheses de origem celta. E, como tal, cultores de um velho orgulho. (...) Afinal, ele nunca confiou naquele povo, de origem tão heterodoxa. Constituído de espermas variados, com predominância do esperma celta, este último de orientação verbal, o que explicava os galegos perderem-se em lides oratórias, quer nas tribunas, como nas tabernas. Mentindo e dizendo a verdade indiscriminadamente (...) Jamais suspeitou que os galegos abandonassem o território lírico e bucólico, em que os galegos abandonassem o território lírico e bucólico, em que os via há quatro séculos atolados, período que marcou nossa decadência, para agora matar os inimigos, comerem-lhe as vísceras com insuspeitado gosto.

Seguindo no avanço do livro encontramos a narração do primeiro regresso de Madruga à Galiza (ibid., 1987: 343): - Dez anos depois, voltei a Sobreira. (...) Estava eu esquecido de que embora Urcesina e Ceferino fossem pobres, em Sobreira eles eram reis? Ali, naquele local, ambos desfrutavam da própria cultura, quer dentro como fora da casa. Castela, ali, não os vencera. Eles não haviam de forma alguma transigido com as manifestações modernistas, já vigentes então na Galícia, por influência de Madrid. Em todos aqueles anos, ainda comiam o pão de milho, o toucinho do porco regiamente cevado, mantinham a mesma lavoura arcaica

Num momento que se fala das origens de Venâncio põe-se a Andaluzia em relação com os ciganos e como lugar de nómadas (ibid., 1987: 457). Ainda, como vimos vendo, aparece Galiza sempre como uma terra campesina (Piñon, 1987: 720): «(...) Sobreira, da lavoura galega, que premiava as mãos com a calosidade proveniente das enxadas, do machado.» g) Motivações e expectativas da viagem Quanto às motivações que se desprendem do romance como causas que arrastam às pessoas, e neste caso em particular aos galegos, a emigrar colocam-se diversas razões: de tipo económico, ambição vital, aventura, ou a América como destino vital e

inevitável de todo galego, mas geralmente com a constante, que não sempre conseguida, da expectativa final de obter riqueza, sucesso e uma melhor posição ou consideração social. No romance estabelece-se uma luta, oposição e contraste latente ao longo de todo o livro das motivações de Madruga e de Venâncio, o seu amigo e companheiro de viagem, na hora de irem para o Brasil, (Piñon, 1987: 44): Madruga esquecido de que Venâncio não viera para a América movido pela fortuna. A América não passara de um sonho copiado de outros homens, que o precederam no mesmo roteiro. Ainda que, na Espanha, Venâncio jamais perguntasse aos egressos da América, que certamente sobreviviam apenas graças às memórias e às mentiras, os motivos de haverem atravessado o Atlântico no passado. (...) Venâncio opunha-se à tese de que apenas o mito do ouro, ou melhor, as pepitas da desgraça e da corrupção, serviram de impulso inicial para os portugueses e espanhóis se lançarem às grandes descobertas. (...) - Você jamais entenderá meu desprezo pelo ouro, Madruga. Não se esqueça que pertenço à raça dos sonhadores. E, se escolhi a América, é porque aqui poderia conquistar o angustiante sortilégio de esboçar as linhas do meu mapa pessoal. mesmo sabendo que as traças terminam por devorara as linhas do sonho, nada restando desta cartografia imaginária. Nem mesmo a memória.

Durante todo o livro também é referida a viagem de Madruga para o Brasil, assim como a de outros tantos galegos, como coisa do «destino» além de por motivos económicos, insinuando uma certa tendência do povo galego ao abandono do seu país (Piñon, 1987: 65), como declaram em certa ocasião os pais de Madruga: «- Mas que filho é este que abdicou de Sobreira em nome do dinheiro? disse Ceferino, em raro confronto com Urcesina, que reconhecia ser a América o destino do homem galego.» Ainda em relação às expectativas da viagem e as referidas esperanças de obter o sucesso, sobretudo económico, o livro deixa transparentar uma certa resignação de que isso pode não vir a acontecer nunca, que em voz de Eulália se traduz como (Piñon, 1987: 67): «Ansiava em saber como seria este Brasil que, segundo voz geral, tragava os melhores filhos da Galícia.», e ainda, em voz de Amâncio (amigo de Sobreira de Madruga) (ibid., 1987: 70): «numa América que não cansa de matar nossos melhores filhos.», e ainda, justificando as motivações de ir para a América por desavenças

históricas, entre outras (Piñon, 1987: 80): Madruga sempre quis a América como lar. Apesar de Ceferino denunciar aquele continente como motivo de discórdia na Galícia. Havendo famílias que enviavam os filhos indolentes para a América, como castigo. Enquanto outros, ante a ameaça das crias lhes fugirem para o Brasil, acorrentavam os jovens nos seus porões. Insensíveis aos gritos dos filhos que lhes afirmavam ser a América o pulmão da fantasia, a única saída prevista para os galegos, em débito com Castela.

Num momento, compara aos imigrantes com os peregrinos (Piñon, 1987: 185) e fala da sua motivação de ir às Américas pelo ouro, gosto ademais no que diz terem sido educados (pelo dinheiro) tanto espanhóis quanto portugueses. E em próprias palavras de Madruga (Piñon, 1987: 690): Madruga custou classificar a natureza do seu exílio. Não era fácil provar que a Galícia, de índole persuasiva, convencera-o no passado a ausentar-se da realidade galega, em troca do paraíso terrenal, do outro lado do Atlântico. Ou mesmo admitir-se mero seguidor de Eulália, que se referia constantemente àquela espécie de exílio a que todo homem se condenava a partir do nascimento.

mais uma vez a emigração como sino. 3.2.1.2 DIÁRIO DE UM MAGO O best-seller de Paulo Coelho é um caso particular de produto cultural que funciona como promotor turístico e cultural, embora em si o livro apenas passe de um relato de viagem com certo tom intimista e esotérico. O livro está dividido em 26 capítulos, além de inaugurar-se, na presente edição, com um prólogo a cargo de Claudia Castello Branco, seguido de um prefácio do autor e finalizado com um epílogo dedicado a Santiago de Compostela. Entre o prefácio e o prólogo o autor coloca uma nota de sua mão e mais uma citação bíblica. Para o nosso interesse destacamos o seguinte excerto da nota (Coelho, 1991: 9): «Isto tornou muito difícil nosso relacionamento, até que entendi que o Extraordinário reside no Caminho das Pessoas Comuns». Essas 'pessoas comuns' serão uma constante da sua narração para quem escreve e de quem reclama uma atenção

constantemente, esta captatio benevolentiae ressaltada ao longo de todo o texto e também é utilizada como recurso para achegar-se ao leitor e fazer-lhe sentir-se identificado com o que ele narra procurando sempre a empatia emocional para com e do leitor. No tratamento outorgado aos parâmetros por nós estabelecidos nesta análise encontramos o seguinte: a) Questão Linguística ou tratamento da língua O livro não apresenta grandes reflexões ou apreciações linguísticas, apenas refere a língua basca (Coelho, 1991: 26), e até referindo a celebração de uma cerimónia religiosa em basco (ibid., 1991: 50): «Percebi que era incapaz de entender uma palavra, pois a missa estava sendo rezada em basco», e, evidentemente, o espanhol (ibid., 1991: 30)., ou como a menção de dizer «buenos dias» a uns camponeses que trabalham no campo (ibid., 1991: 77): Mas estas referências não implicam nenhuma valorização nem qualificação ao respeito. A única consideração em quanto à língua é a que segue (ibid., 1991: 97): «(...) mas estar criando um novo código de comunicação com o mundo. O código secreto da alma, a língua que conhecemos e que ouvimos tão pouco». Onde se reflecte a tónica geral do livro com pretensões universalistas, de entendimento, não entrando assim nunca em valorizações nem apreciações de nenhum tipo em relação ao plurilinguismo no Estado Espanhol, e tampouco, por lógica, ao galego. Existe uma lacuna de carácter cultural e linguístico ao longo do texto pois o autor refere-se aos cruzeiros espalhados ao longo de todo o caminho mas ao não fazerem parte do repertório cultural do Brasil não conhece a denominação e então cita-o como: «Sentamos aos pés de um rollo , coluna medieval com uma cruz em cima que marcava trechos da rota jacobea» (ibid., 1991: 129), e que volta a referir várias vezes ao

longo do texto como «rollo». b) Memória, genealogia e origens Este parâmetro não é tratado neste livro, apenas é referido ao início do livro como impedimento para começar o caminho por estar preso ao «passado» (Coelho, 1991: 35) e nalgum outro ponto onde se alude à idílica vida da infância e se invocam as suas lembranças, mas sempre desde a perspectiva da inocência que uma criança tem perante a vida e não como definitória de nada particular na sua existência nem na sua identidade. Embora num dos primeiros capítulos sim refira a memória como parte de todo ser humano, como elemento de manifestação e corroboração da existência, ( Coelho, 1991: 43): «Minhas memórias de homem começaram lentamente a se apagar, e eu já não estava realizando um exercício, tinha virado uma árvore». c) História A História sim recebe atenção por parte do escritor carioca, através da sua visão histórica da Rota Jacobea, as suas origens e significação assim como alguns apontamentos da História do Estado Espanhol. No primeiro capítulo há uma recensão histórica da origem do caminho e do seu significado (Coelho, 1991: 22-23) onde chama a atenção para diversos elementos históricos que influíram na consideração do caminho e que ajudaram na sua mistificação: Via Láctea, Aymeric Picaud, Carlos Magno, Codex Calixtinus, Liber Santi Jacoibi, Les Amis de Saint-Jacques, etc. Por exemplo (ibid., 1991: 165): «Estes campos aqui a nossa volta foram o cenário de sangrentas batalhas entre suevos e visigodos, e mais tarde, entre os soldados de Alfonso III e os mouros»; onde fala dos antigos povos povoadores da península e da Reconquista. Ou (ibid., 1991: 84): - Fazem cinquenta anos, em pleno século XX, um cigano foi queimado aí em frente. Acusado de bruxarias e de blasfemar contra a santa hóstia. O caso foi abafado pelas atrocidades da guerra civil

espanhola, e ninguém hoje em dia se lembra do assunto. Exceto os habitantes destas cidade

onde ressalta a consideração como atrocidade, em pleno século XX, da Guerra Civil e estes actos que parecem ter uma certa consideração de fora de tempo por acontecerem em Europa, que em contraste com o Brasil, é um continente avançado, mais democrático, mas antigo em valores e na democracia, etc. Num dos capítulos do livro até é relatado um episódio vivido com um vendedor de pipocas onde a história da Guerra Civil espanhola, e os seus traumas, volta a reluzir (ibid., 1991: 101): - Na época de Franco havia muito mais respeito disse. - Hoje em dia ninguém dá mais atenção à família.Mesmo estando num país estranho, onde não é aconselhável falar de política, eu não podia deixar passar aquilo sem resposta. Disse que Franco era um ditador, e que nada na época dele podia ter sido melhor. O velho ficou vermelho. - Quem é o senhor para falar desse jeito? -Conheço a história do seu país. Conheço a luta do seu povo pela liberdade. Li sobre os crimes da guerra civil espanhola - Pois eu participei da guerra. Posso falar porque correu o sangue da minha família. A história que o senhor leu não me interessa; me interessa o que se passa na minha família. Eu lutei contra Franco, mas depois que el me venceu, minha vida melhorou. Não sou pobre e tenho uma carrocinha de pipocas. Este governo socialista que está aí não me ajudou a conseguir isto. Vivo pior agora do que vivia antes.

Assim ao longo do texto vai introduzindo outros nomes e factos de distintos personagens e momentos históricos (ibid., 1991: 52, 61, 62, 125): «Sancho El Fuerte», «El Cid», «Reconquista», «a Guerra e Franco»; elementos que geralmente são utilizados para conduzir a história e dotá-la desse carácter mais antigo, mítico e «primitivo», caracterizado pelas pegadas que o tempo e a História foi deixando ao seu passo. Uma das constantes do livro é a Idade Média, pois é onde supostamente se origina toda a tradição de ritos, lendas e exercícios que ele irá aprendendo e realizando ao longo do seu caminho, e ainda por ser quando tem o seu esplendor a Ordem dos Templários, elemento mitificante e mitificado em todo o relacionado com o Caminho, os mosteiros e os ritos de consagração espiritual.

d) Tradição, lendas e crenças Este item é uma das principias linhas temáticas e fio argumental da história de Paulo Coelho, pois a própria congregação à que o autor diz pertencer logo no início do livro e seguir os seus postulados recebe o nome de «Tradição». Esta congregação ele mesmo define como (Coelho, 1991: 1) «a grande fraternidade que congregava as ordens esotéricas em todo o mundo», o que mais uma vez nos remete para a universalidade e a condição de que a história que aqui é contada é para todo o mundo (ibid: 1991: 15) «Porque o caminho da Tradição não é o caminho dos poucos escolhidos, mas o caminho de todos os homens». Este vocábulo aparece ao longo de todo o texto, com esta intenção de evocar à ordem e com a intenção de dotar à sua histórias de elementos míticos e legitimadores que infestem o ambiente de magia, mas sempre abalada pelo tempo, pelas tradições e as crenças que vão desde o cristianismo, passando pelo esoterismo, a magia e a própria espiritualidade mais ou menos livre de cada ser humano. O livro encontra-se também repleto de pequenas mitificações da história e lendas que além de dotar à história de elementos misteriosos, a envolve num ambiente de misticismo transmitido através das sensações que vai narrando Paulo Coelho. Ainda encontramos um dos capítulos do livro intitulado propriamente como «A Tradição», (Coelho, 1991: 203) onde se anuncia «um ritual de iniciação coletivo, um ritual de honra à Tradição. Aos homens e mulheres que durante todos estes séculos têm ajudado a manter acesa a chama da sabedoria, do Bom Combate, e de Ágape» (ibid., 1991: 207), ao que assistirá e participará o protagonista. Na explicação da origem do nome Compostela (ibid: 1991: 22) e no milagre que se conta que aconteceu no Cebreiro (ibid, 1991: 241): «(...)caminhou em direcção àquela cidadezinha

também chamada Cebreiro, como o monte. Ali, certa vez um

milagre havia acontecido

o milagre de transformar aquilo que você faz naquilo que

você crê», faz-nos associar a maneira em como as actividades sociais ou determinadas

inquietudes são mitificadas e assimiladas passando a formar parte do imaginário colectivo, das crenças.63 Quanto aos rituais e tradições a seguir no próprio Caminho de Santiago, aparece logo nas primeiras páginas (Coelho, 1991: 26-27) a referência à vieira como «símbolo de peregrinação até o túmulo do apóstolo, e que servia para que os peregrinos se identificassem entre si», assim como cita os restantes elementos que devem compor a vestimenta e acessórios de um peregrino: um chapéu, um manto, um cajado e uma cabaça. e) Espaço e paisagem Neste apartado temos que destacar a grande imagem de contraste que nos apresenta o autor da paisagem que vai conhecendo ao longo do seu percurso passando desde a aridez à frondosidade e vigorosidade de quando o narrador homodiegético e protagonista entra na Galiza, que pode ser resumida à seguinte apreciação feita nas últimas páginas do livro (Coelho, 1991: 242-243): Os altos cumes que me cercavam pareciam dizer que só estavam ali para desafiar o homem. e que o homem só existia para aceitar a honra deste desafio. (...) Chovia e fertilizava a terra, e aquela água só tornaria a voltar para o céu depois que tivesse feito nascer uma semente, crescer uma árvore, abrir uma flor. Chovia cada vez mais forte e eu fiquei de cabeça erguida, sentindo pela primeira vez em todo o Caminho de Santiago a água que vinha dos céus. Lembreime dos campos desertos, e estava feliz porque naquela noite estavam sendo molhados. lembrei-me das pedras de Leão, dos tigrais de Navarra, da aridez de Castela, dos vinhedos da Rioja, que hoje estavam bebendo a água que descia em torrentes, trazendo a força do que está nos céus.

O bucolismo da paisagem, e a sua função de reflexar o estado da alma, o locus amoenus recriado, consegue uma vez mais dotar de um carácter mágico e universalista ao relato. Além deste uso do espaço, temos referências ao longo de todo o texto dos lugares por onde vai passando o caminho, e pelo tanto ele: começando desde o início 63

Crença na sua acepção mais generalista de atitude de espírito que admite, em grau variável (certeza, convicção, opinião), uma coisa como verdadeira.

onde há um erro de interpretação toponímica do aeroporto madrileno «Bajadas» (que bem pode ser da própria edição não muito cuidada) ao resto dos pontos do caminho San Juan Pied-de-Port (onde se verifica uma confusão e mistura entre espanhol e francês na toponímia), Roncesvalles, Puente de La Reina (mais um erro toponímico ao incluir o determinante), Estella (no rio Ega), Pamplona, Logroño, Azofra, Santo Domingo de la Calzada, Astorga, Leon (sem a correcta acentuação castelhana), Foncebadon (idem), Ponferrada, Triacastela, Cebreiro, Pedrafita e Santiago de Compostela, etc. Mas não aparecem usados com uma finalidade mais além da que balizar o caminho, e justificar a tradição de fazê-lo devido à antiguidade e história de todas estes lugares pelos que durante séculos têm passado milhares de pessoas. Queremos destacar que muitas vezes, a estes lugares que vai passando os designa de «cidadezinhas», «vilarejo» ou «povoado rural», denotando um contraste do rural com o urbano (Santiago também é considerado «cidadezinha») e um certo tom de simplicidade que lhe ajuda a remarcar o tom geral do livro. Por motivos de contraste aparecem citadas as cidades de Roma e Jerusalem, como os outros dois grandes e importantes lugares de peregrinação da Europa. f) Hábitos costumes e alimentação Em verdade, embora o autor demonstre em várias ocasiões o facto de conhecer e saber da cultura e da história do Estado Espanhol, auto-legitimando-se, não há ao longo do texto muitas considerações e valorizações sobre os costumes ou hábitos locais. Apenas um capítulo onde se fala de um casamento e se narra o ambiente festivo mas em tom geral, sem especificações de nenhum tipo. Uma costume que sim parece marcar ao autor e ao seu companheiro de viagem é a referida «siesta» (Coelho, 1991: 23, 57, 79), que é vista como necessária para não andar ao sol entre as 2h e as 4 horas da tarde onde tudo se paralisa. Podemos chamar a

atenção para este facto de incorporação imediata de um costume, pois este não é questionado, ainda quando no Brasil também faz muita calor a essas horas mas onde a vida não se paralisa como diz acontecer no livro. Em relação aos hábitos alimentares aparecem elementos pelo geral não considerados muito típicos e que tampouco se encontram muito tipificados pelo próprio relato, pois a base da alimentação dos peregrinos costuma ser de «pão com azeite», «café preto» ou «café com leite» e «vinho» como fundamentais. Sim que ao longo das distintas paragens são referidos outros produtos mais ou menos característicos de lugares mas sem muita demarcação de tradicionais ou típicos. Assim fala em comidas habituais quando uma pessoa vai de excursão, de pique-nique ou de mochila às costas (Coelho, 1991: 39): «sanduíches com um paté de foi-gras» quando ainda se encontram no início do caminho, na França. Na sua passagem pelos Pirineus aponta para uma alimentação muito frugal (ibid, 1991: 44) «peixes e frutos silvestres» e o jantar de Puente La Reina (ibid., 1991: 70) «sopa de legumes, pão, azeite, peixe e vinho» e o «café da manhã» com «pão de centeio, iogurte e queijo de cabra» oferecido pelos monges do convento do mesmo lugar. A seguinte chamada de atenção para uma comida é numa aldeia da qual não revela o nome onde relata um episódio que pode ser ressaltado pela sua relevância quanto ao grau de satisfação que os brasileiros têm dos serviços e do tratamento no Estado Espanhol e a sua consideração no trato e no atendimento público (ibid., 1991: 77): Paramos numa aldeia para o almoço, e o rapaz que nos atendeu estava visivelmente de mau-humor. Não respondia nossas perguntas, colocou a comida de qualquer maneira, e no final conseguiu derrarmar um pouco de café na bermuda de Petrus. Vi então meu guia transformar-se: enfurecido, foi chamar o dono e esbracejava contra a falta de educação do rapaz.

Param em Estella a jantar e aprecia (ibid, 1991: 80):

O autor do primeiro guia da Rota Jacobea, Aymeric Picaud, descreveu Estella como um lugar fértil e de bom pão, ótimo vinho, carne e pescado. Seu tio64 Ega, tem a água doce, sã e muito boa . Não bebi água do rio, mas quanto à mesa, Picaud continuava a ter razão, mesmo depois de oito séculos. Serviram perna de cordeiro guisada, corações de alcachofra, e um vinho Rioja de ótima safra.

Na sua passagem por Logroño encontramos uma apreciação e valorização do que até o momento tinha sido a alimentação no caminho (ibid., 1991: 99): «Apesar da aridez da paisagem, da comida nem sempre boa, e do cansaço provocado por dias inteiros na estrada, eu estava vivendo um sonho real». Já na paragem feita em Astorga sim que faz referência a um dos alimentos típicos da zona (ibid., 1991: 161): «(...) os deliciosos biscoitos amanteigados que havia comprado em Astorga». Uma das últimas alusões culinárias relevantes é a que se localiza quando estão em Ponferrada (ibid., 1991: 204): Jantamos no próprio restaurante do hotel. Petrus pediu a especialidade da casa uma paella valenciana que comemos em silêncio, acompanhados apenas do saboroso vinho Rioja.

g) Motivações e expectativas de viagem Sobre isto logo nas primeiras páginas do livro o autor faz-nos uma declaração de intenções (Coelho, 1991: 24): «Mesmo que não descobrisse minha espada, a peregrinação pelo Caminho de Santiago ia terminar com eu descobrisse a mim mesmo». Além de especificar as motivações individuais para fazer o caminho, o autor, através da voz do seu guia, coloca uma reflexão mais abrangente do próprio acto de viajar e à peregrinação mesmo(Coelho, 1991: 42): - Quando você viaja, está experimentando de uma maneira muito prática o ato de Renascer. está diante de situações completamente novas, o dia passa mais devagar e na maior parte das vezes não compreende a língua que as pessoas estão falando. Exatamente como uma criança que acabou de sair do ventre 64

A citação é literal da edição por nós consultada, mas achámos esta palavra deve constituir um erro tipográfico e realmente querer ser 'rio'.

materno. (...)Ao mesmo tempo, como todas as coisas são novas, você enxerga apenas a beleza nelas, e fica mais feliz em estar vivo. Por isso a peregrinação religiosa sempre foi uma das maneiras mais objectivas de se conseguir chegar à iluminação.

Outro elemento que podemos destacar da totalidade do texto de Coelho é uma falsa humilitas65 que além de mais uma vez o colocar ao nível de qualquer possível leitor e fazê-lo sentir-se identificado com as suas própria vivências, também lhe dá legitimação para tufo o que narra e para transmitir aquilo que quer transmitir, mas colocando-se sempre numa posição de poder (poder que conseguirá enquanto encontre a sua espada no percurso do caminho), e conseguido, aliás, através da humildade, do esforço e da 'penitência' do caminho, o que qualquer pessoa poderá fazer se desejar. Por vezes desprende uma certa complacência ou mais bem resignação, ou até de um implícito sentimento de culpa (que por outro lado é uma das razões pelas que normalmente se sente uma dívida com algo e faça com que se sinta a necessidade de expiar os 'pecados' e liberar-se de certas coisas, de alcançar o poder)

que ao mesmo

tempo é o que lhe dá o poder, ou mais bem o que lhe permite chegar ao poder. E pomos tudo isto, e tudo isto tendo em consideração e em relação com a já referida 'desigualdade social' brasileira (Coelho, 1991: 35): As práticas de RAM são tão simples que as pessoas como você, acostumadas a sofisticar demais a vida, muitas vezes não lhe dão nenhum valor. Mas são elas, junto com mais três outros conjuntos de Práticas, que fazem o homem ser capaz de conseguir tudo, mas absolutamente tudo. Petrus tinha toda razão. Seria uma injustiça divina permitir que só as pessoas instruídas, com tempo e dinheiro para comprar livros caros, pudessem ter acesso ao verdadeiro Conhecimento.

O que também se põe em relação com o que o livro também expõe da vida diária actual cheia de responsabilidades e desatendida de outros aspectos que vão ser 65

Questão que se verifica em palavras do próprio autor, as que coloca no prefácio do livro Diário de um Mago na sua versão electrónica [www.paulocoelho.com.br O Diário de um Mago, Paulo Coelho, Jardim Massey, Tarbes, França, dia 1 de junho de 2001 (p.2)], que faz 15 anos depois de ter feito o Caminho de Santiago, onde aponta: « Estou duvidando de minha sinceridade na busca espiritual (...) Por todos estes dias Petrus tem dito que o caminho é de todos, das pessoas comuns, o que me deixa muito decepcionado. Eu pensava que todo este esforço fosse me dar um lugar de destaque entre os poucos eleitos que se aproximam dos grandes arquétipos do universo. Eu pensava que ia finalmente descobrir que é verdade todas as histórias a respeito de governos secretos de sábios no Tibete, de porções mágicas capazes de provocar amor onde não existe atração, de rituais onde de repente as portas do Paraíso aparecem adiante. Mas é exatamente o contrário que Petrus me diz: não existem eleitos. »

encontrados no caminho. 3.2.2 ENTRE A LITERATURA E A DIVULGAÇÃO: A REPORTAGEM 3.2.2.1 MUNDO AFORA: DIÁRIO DE BORDO DE MEL LISBOA Como já foi explicado no corpus, neste trabalho também quisemos atender a um livro que pela sua actualidade e grande alcance nos pareceu interessante. Trata-se de um livro a meio caminho entre um guia de viagem e umas memórias de viagem em tom de reportagem, ao antigo modo da clássica literatura de viagens mas com formato e expressão modernas. Como também já foi apontado o livro foi um trabalho que surge depois da actriz e apresentadora ter viajado pelo 'mundo afora' para realizar a gravação da série Oi Mundo Afora, do canal GNT (da rede Globosat).66As informações do livro são as próprias impressões da autora face ao programa da TV. O livro foi lançado ainda em Junho de 2007, pelo que as suas possíveis repercussões e influências reais estarão ainda por ser verificadas num futuro mais ou menos próximo, mas, contudo está a falar da Galiza de uma maneira determinada que queremos aqui contrastar. E ainda no 16 de Setembro o apresenta na Bienal do Livro 200767. O livro da conhecida figura pública Mel Lisboa (2007: contracapa) apresenta o seguinte reclamo: Com a sua câmera, a atriz Mel Lisboa apresenta um olhar único dos lugares para onde viajou ao gravar a série OI Mundo Afora, do canal GNT (Globosat). Dê um passeio pelos instantes capturados pela atriz, conheça os roteiros por meio dos relatos de Mel e programe sua próxima viagem pelo mundo afora.

O que nos leva para um público dinâmico, jovial, com inquietudes. O livro estrutura-se em nove capítulos, dedicados cada um deles a um país: EUA, Portugal, Espanha, Panamá, Ilhas Virgens Britânicas, Chile, França, Holanda e

66

67

Esclarescer que estamos à espera de poder conseguir a gravação do programa, para podermos ver e analisar mais profundamente qual a imagem da Galiza que ficou no olhar desta repórter. http://diversao.terra.com.br/bienaldolivrorio2007/interna/0,,OI1913676-EI10297,00.html .

Emiratos Árabes Unidos. À sua vez cada capítulo consta de um número variável de subcapítulos que reflectem os lugares escolhidos para visitar em cada um dos países, e um sub-capítulo a modo de secção fixa denominada «Destaque», onde se põe relevância o mais notável, sob critério da autora e produtora, de cada um deles. No caso do capítulo dedicado a Espanha, esta secção de destaque está dedicada a «Galícia», o que foi um dos motivos para incluir esta obra no nosso corpus, além dos já apontados na parte de selecção do corpus do presente trabalho. Já no capítulo referente a Espanha, constata-se que apenas são referidas duas cidades como dignas de atenção: Santiago de Compostela e Salamanca. O primeiro que temos que pararmos a reflexionar é que ambas as duas cidades são consideradas como o 'berço' das universidades no Estado Espanhol, o que já denota uma certa tendência de chamar a atenção de um público mais jovem e dinâmico também, ter como audiência um perfil mais cultural, estudantes e novos aventureiros do século XXI, e aos actualmente conhecidos por 'mochileiros'. Quanto ao seu conteúdo, a parte referida a Santiago de Compostela abre-se já com a seguinte afirmação (Lisboa, 2007: 65): Quando cheguei a Santiago de Compostela, vinda do norte de Portugal e entrando na Espanha pela Galícia, tive uma vontade inexplicável de ficar naquela cidade por alguns dias.

Com esta apresentação já se nos transmite essa ideia recorrente ao místico, à magia que de jeito «inexplicável» motiva às pessoas a visitarem Santiago de Compostela. Segue destacando o hotel em que ficou hospedada ao que atribui (Lisboa, 2007: 65): «O hotel em que fiquei hospedada foi um dos melhores de todas as viagens que fiz. O São Francisco Hotel Monumento tem a classificação quatro estrelas, mas, para mim, poderiam ser seis ou sete», destacamos esta valorização por se reflectir em alguns dos

dados por nós compilados empiricamente, onde os turistas brasileiros elogiam notavelmente a limpeza, o serviço e a qualidade dos alojamentos galegos. Depois relata a origem do convento de São Francisco, conta uma lenda sobre a peregrinação de São Francisco de Assis a Santiago, e descreve e elogia as instalações destacando a sua confortabilidade e requinte com a «arquitectura antiga». A descrição que faz sobre a cidade também nos parece representativa (Lisboa, 2007: 65-68): O centro histórico de Santiago de Compostela tem ruas estreitas, chão de pedras grandes e alguma das mais belas praças do mundo. A energia que sentia era tão forte que algo me dizia para ficar mais tempo na cidade. Talvez por ser o ponto final de centenas de peregrinos que chegam lá, cheios de fé todos os dias, depois de passarem por árduos momentos no caminho de Santiago. Ou talvez porque a cidade seja especial mesmo e por isso tenha sido escolhida como ponto de peregrinação espiritual, independentemente de credo ou religião que se tenha. Desconhecia os motivos de minha emoção ao chegar àquele lugar. A cidade é permeada de mistérios. (..) Depois de assistir à missa e visitar o interior da catedral, senti que havia revigorado minhas energias e saí para conhecer outros lugares.

Relata mais um pouco da história, do estabelecimento da catedral em Santiago, e também explica as possíveis hipóteses do nome de Compostela e fala e descreve os peregrinos e a sua caminhada. E descreve o obradoiro e os seus prédios. Em relação à comida Mel Lisboa (2007: 68) destaca os «inúmeros restaurantes que exibem imensas lagostas, polvos e outros frutos do mar», e as «tapas (pequenas porções de queijos, presuntos, chouriços e até omeletes de batata) ou massas, sempre regadas com o melhor vinho espanhol». A actriz não deixa de nomear as lojas, galerias e museus, e destaca a já encerrada galeria de arte contemporânea «A Chocolataría» onde ressalta ter tido uma exposição o artistas José Bechara, do Rio de Janeiro.

Relata a sua visita a Sargadelos (Lisboa, 2007: 69) que qualifica de «museu e loja que vende as famosas cerâmicas galegas» da qual dá umas pequenas explicações históricas e confessa ter adorado e comprado pequenas peças. Por último revela (Lisboa, 2007: 69): Naquele dia, ao voltar ao hotel, tratei de arrumar minhas coisas e levar as malas comigo, porque eu e a turma da série OI Mundo Afora iríamos embora depois do jantar. Entretanto, mudanças de rumo fizeram com que eu pudesse passar mais duas noites em Santiago de Compostela. Voltei ao quarto eufórica. Havia conseguido o que queria desde o primeiro momento: ficar alguns dias na cidade que tanto me encantou logo de cara. Mesmo passando o dia fora, para concluir o programa sobre a Galícia, dormir em Santiago já era algo que me alegrava imensamente.

A seguir fala de Salamanca e finalmente conclui o capítulo com o «Destaque: Galícia», que maioritariamente faz reflexões sobre a língua e conta aquilo que visitou na cidade da Corunha (Lisboa, 2007: 76). Transcrevemos quase a totalidade do capítulo já que é curto mas substancioso para a nossa pesquisa (Lisboa, 2007: 76-78): O galego tem um fator que o torna ainda mais especial: é mais próximo do português que do espanhol. Quando soube da existência do galego, pensei que seria uma espécie de corruptela do espanhol. Estava enganada. Vigo, a primeira cidade da Galícia que visitei, tinha algumas particularidades linguísticas que reparei antes mesmo de conversar com alguém. Palavras como caixa, colexio, xesuítas, feira, praza e facer já eram um indício de que, mesmo com algumas letras diferentes, o som era bem parecido com o de palavras faladas em português. No começo, devo confessar que me confundi um bocado. Quando comecei a me comunicar efetivamente, falei em espanhol, mas as pessoas respondiam em galego automaticamente, passei para um safado ''portunhol''. Depois entendi um pouco o mecanismo da língua e, antes de iniciar uma entrevista, sempre perguntava se eles preferiam que eu falasse em português ou em espanhol. Na maioria das vezes, as pessoas foram bastante simpáticas, dando de ombros e pedindo para que eu escolhesse. Alguns, porém, bateram o pé e disseram: «Você pode falar a língua que quiser, mas eu vou responder em galego». Preferi, então, perguntar em português para não ofender ninguém. (...) Em Vigo, o nome de um banco, entre tantas outras coisas, chamou a minha atenção: Caixa. Quase todas as conclusões ''linguísticas'' a que cheguei como a forte similaridade com o português -, mesmo que toscas, foram elaboradas em apenas uma trade na cidade. (...) De Vigo segui para Santiago de Compostela. Lá, além de ter visto todas as maravilhas já contadas, tive uma idéia mais fundamentada do que viria a ser Galícia. A cidade de Compostela foi uma das que me causaram mais comoção

durante os sete meses em que estive viajando pelo mundo. Um lugar que não estava em meus planos imediatos de viagem pessoal, mas que agradeço por ter tido a oportunidade de conhecer. Em um dos dias em Santiago, saí cedo com destino a A Coruña, como dizem os galegos, ou La Coruña, como é chamada pelo restante dos espanhóis. Na cidade em que os jogadores brasileiros de futebol Bebeto, Mauro Silva, César Sampaio e Rivaldo foram estrelas do time Deportivo de La Coruña, percebi como se comportavam os galegos e como são suas tradições.

A autora além do até agora exposto, refere Finisterre, a Costa da Morte e «uma das paisagens mais bonitas que vi em toda a minha vida» desde o alto da Torre de Hércules. Da comida encontramos esta citação (Lisboa, 2007: 79): Para mim, a tortilha foi a grande atração da tarde. Feita de maneira totalmente diferente daquela que se encontra em restaurantes espanhóis convencionais, a pequena omelete de batata estava mais crua e molhada mas o sabor era delicioso.

Por último refere a História e faz uma valorização e avaliação da visita (Lisboa, 2007: 80): Conhecer a Galícia, região tão singular da Espanha, foi um presente para mim. É estranho pensar que o general-ditador Francisco Franco, ele próprio um galego de Ferrol, tirou, durante seu governo (1939-1975), a autonomia dada à região desde os anos 1930. Somente depois de sua morte, a Galícia voltou a ter o status de autônoma. Fico tentando entender até que ponto o poder e ambição levam uma pessoa a abrir mão do lugar de que veio. A total negligência de Franco em relação às suas origens foi pouco se for possível comparar com o período de quase quatro décadas em que manteve seu governo ditatorial. Um marco na história da Espanha que não se pode mudar, porém apenas se aprender a não repetir os mesmos erros. Fico com a simplicidade dos camponeses e com os deliciosos frutos do mar oferecidos em restaurantes e tabernas. Fico com a vista que as varandas de A Coruña, fechadas com vidro e madeira, formando inúmeras janelinhas, e chamadas pelos locais de galerías, podem proporcionar e com a fé dos peregrinos que chegam todos os dias a Santiago de Compostela. Fico, na verdade, com o melhor que a Galícia tem a oferecer. Fico também com a linda palavra da língua portuguesa que certamente será entendida pelos galegos que a escutarem: saudade.

3.2.3 DIVULGAÇÃO: OS GUIAS TURÍSTICOS O até agora visto refere-se à obra literária de Nélida Piñon, que pela sua repercussão social, o número de vendas, e, logicamente, a sua temática consideramos

representativa para termos em conta no nosso trabalho. É hora agora de nos aproximarmos daquilo que é efectivamente vendido e promocionado como Galiza com fins apenas turísticos, a aquilo que aparece em destaque em guias de viagem de grande tiragem e distribuição mundial. Os guias são aquilo que nos ensinam o que quer ser mostrado e o que quer que seja visto, e como deve ser visto, isto é, como deve ser usada a Galiza, e como se deve consumir, através de umas escolhas face a outras, através de recomendações de comportamento e hábitos do lugar, ou através de dizer que ver e que fazer. Isto entra em relação directa com os estudos de carácter mais empírico de estudos de casos concretos de influência da imagem vendida para o uso de um lugar e na sua identidade, como no caso claro que expõe Zuelow (2006), onde evidencia a relação entre a publicação de uma espécie de 'guia de comportamento e viagem' num jornal em Gales por causa de uma visita do rei George IV à região, onde se davam normas de vestimenta e padrões de comportamento para os assistente ao acto. Como já foi assinalado, os tópicos e elementos repertoriais que daqui surgirem serão aqueles que fomos discernindo dos três guias seleccionados: o Lonely Planet, o Fodor's e o Rough Guide dedicados a Espanha. Os três guias, no sentido mais tradicional, são coincidentes em que, é logo bem no início que referem à Galiza, e a Santiago de Compostela em particular, antes de outras regiões e cidades do Estado Espanhol. Em todas elas o Caminho de Santiago constitui um ícone do Estado Espanhol e da Galiza mais em concreto, relacionado com os santuários mas também com a espiritualidade num sentido mais amplo. Por exemplo na Lonely Planet, aparece um capítulo destacado, dos introdutórios ao que é Espanha, onde só se fala do Caminho, dando dicas sobre o itinerário, a história, a cultura, o clima, a comida e onde comer e a bebida ao longo do seu percurso. Como já foi referido na justificação do corpus estes produtos culturais têm um

sentido muito claro de promoção, divulgação e de instruir o que merece a pena fazer e visitar em cada lugar. Esta declaração de intenções vincula-se com o último apartado por nós proposto como parâmetro de análise nos diferentes produtos culturais, isto é, aquele que diz respeito às motivações e expectativas da viagem. Assim o que cada um dos guias aí expõe, implica o conhecimento de umas motivações e expectativas muito gerais das pessoas que irão consumir esses produtos: generalizando, o Lonely Planet para 'mochileiros' que procuram aventura e gastar pouco dinheiro; o Rough Guide para um público mais abrangente e até mais abastado que procura cultura, história, modernidade e qualidade; e o Fodor's para aqueles que querem conhecer a verdadeira essência de um lugar como através das recomendações de um nativo que procura a experiência de vida no lugar de destino. Também temos que destacar que na análise dos guias turísticos não entrará a fazer parte dela o apartado que dedicamos noutros capítulos à memória, genealogia e origens, devido a que, por lógica, nada disto será referido. E também deixar constância de que as citas que aparecem de cada um dos guias, são tiradas todas das versões on-line dos guias e que se encontram citados na bibliografia de corpus68. 3.2.3.1 SPAIN LONELY PLANET Seguindo, dentro das possibilidades, o nosso esquema de tratamento de assuntos e elementos repertoriais, comprovámos que nestes produtos o tema linguístico é tratado diferente segundo o guia. Na Lonely Planet parece-nos muito destacável a citação a seguir: Long suppresses during the Franco years (strange, since Franco was born in Galicia), the Galician language (galego or, in Castilian, gallego) sounds and looks like a cross between Portuguese anda Castilian. Like both those thongues, it's another Romance language (latter-day version of Latin).

Como pode ser aprecidao nesta exposição, neste guia paresenta-se a noção do 68

Que nas suas páginas iniciais as referências são: www.lonelyplanet.com, www.roughguides.com e www.fodors.com.

galego ser uma língua igual que o castelhano e que o português e diferenciada destas duas, derivada directamente do latim. Como é óbvio, neste guia, e também nos outros, não é tratado o tema da memória, pois não existe essa vinculação entre os usuários dos guias com a Galiza já que não se destinam, especialmente, para consumo de aqueles que têm família ou qualquer outra ligação com a Galiza. A História é sim referida, para a explicação da origem, como já foi dito, do Caminho e também em relação à própria história da Galiza como região particular onde é introduzido o tema do celtismo e as seguintes considerações que achamos convenientes salientar: By the Iron Age Galicia was populated by people living in castors, villages of circular stone huts surrounded by defensive perimeters. Most Galicians believe these ancestors were Celts, though skeptics claim that Galicia's Celtic origins are an invention of romantic 19th-century Galician nationalists. (...) By the time the Reconquista was completed in 1492, Galicia had become an impoverished backwater in wich Spain's centralist-minded Catholic Monarchs (Reyes Católicos), Isabel and Fernando, had already begun to supplant the local tongue and traditions with Castilian wethods and language. The Rexurdimento, an awakening of Galician national cousciousness, did not surface until late in the 19th century, and then suffered 40 year interruption during the Franco era. Rural, with its own language, and much ignored by the rest of Spain, Galicia is still today in many aspects another country.

E aqui podemos observar a imagem da Galiza rural de novo, justificada, além de mais, historicamente, assim como se apela a uma certa 'discriminação' do resto de Espanha que levam a achar e 'justificar' a sua qualidade de 'outro país', uma vez que, na lógica do guia, é ignorada pelo resto do estado. Ainda em relação à história e os factos sociais cabe dizer que o guia faz referência ao caso do Prestige e do movimento civil Nunca Mais, que nasceu como reacção político-social ao desastre. Ainda com relação ao Caminho e as suas principais motivações que levam a percorrê-lo aponta: The motivation of today's pilgrims is in many ways similar to that of their predecessors hundreds of years ago. Medieval pilgrims trod the Camino for faith, penance, salvation, hope for the future, and a dab of aventure. Modern

pilgrims do it for the Romanesque and Gothic art, the physical challenge, the gorgens ever-changing landscapes, or to enjoy a cheap holiday, bul also to decide what's next in life, take a spiritual or religious journey, or work out a midlife crisis. Today, too, the pilgrimage to Santiago can be a life-changing experience, and it will certainly be the experience of a lifetime.

Deixando assim constância do misticismo e espiritualidade que a Galiza parece, e deve, levar ao leitor a interpretar, através da valorização e estimulação do caminho como fenômeno de 'mudança de vida', 'physical challenge' ou 'what's next in life'. Além disto, dá informações sobre o Caminho, e fala da História do Caminho e como desde o esplendor da Idade Média reviveu no século XX de novo. No capítulo que fala propriamente da Galiza divide os assuntos a tratar em: Santiago de Compostela (de uma perspectiva mais urbana fronte à do Caminho, mas sempre evocando-o), A Corunha, Rias Altas, Costa da Morte, Rias Baixas, Sul Oeste e o Este. Por último este guia faz um elogio das 'qualidades' e recursos da Galiza onde são mencionados o peixe, a emigração, a agricultura, a fabricação de barcos, a ensamblagem de carros, o têxtil, o turismo, e, a cocaína, no mesmo sentido que aparece no apartado seguinte, de considerar o contrabando como umas das actividades económicas 'destacadas', ou merecente de consideração e pelo tanto considerada como representativa fonte de ingressos, da Galiza. Temos que especificar ainda com relação a este guia que o resto das informação que apresenta são muito práticas e directas sobre lugares onde comer, que visitar e onde sair à noite, e sobretudo referido à Corunha e a Santiago de Compostela. 3.2.3.2 ROUGH GUIDE SPAIN A Rough Guide chama a atenção para que só alguns espanhóis vêem os touros e que o flamenco só é dançado no sul: «A minority of Spaniards attend bullfights; it doesn't rain much on the plains; and they only dance flamenco in the southern region of Andalusia», o que vem a desmontar a mais recorrente imagem que no exterior foi projectada do Estado Espanhol, como de facto se verifica neste guia cuja capa é um

touro dos que publicitam uma conhecida bebida alcoólica pelas estradas do estado, como um todo a partir da criação, como já apontou Pereiro (2005: 4), «da marca turística 'Spain is different', promovida nos anos 1960, quando Manuel Fraga era ministro do turismo.», a Espanha do «sol, touros e flamenco». Imagem, que por outro lado é a que mais se corresponde com o sul da Espanha, mas não com o norte, nem com a Galiza, pelo tanto onde se verifica uma divergência entre o projectado e o que realmente nos achámos de nós próprios. Ainda no apartado «Introduction to Spain» indica que uma vez ali «you will have notice that there is not just one Spain but many» e ainda julga: This regionalism in an obsession, and perhaps the most significant change to the country over recent decades has been the creation of seventeen autonomías autonomous regions with their own governments, budgets and cultural ministries. The old days of a unified nation, governed with a firm hand from Madrid, seem to have gone forever, as the separate kingdoms that made up the original Spanish state reassert themselves. And the differences are evident wherever you look: in language, culture and artistic traditions, in landscapes and cityscapes, attitudes and politics.

No apartado inicial, na secção de «Fact file» fala de que o regionalismo é a maior força na política espanhola e diz que as regiões autónomas mais poderosas são Catalunha e o País Basco. O guia tem logo um apartado «Where to go» onde não aparece mencionada a Galiza. No que diz respeito ao tratamento da língua já nesse mesmo apartado fala de percentagens de falantes da diferentes línguas do Estado Espanhol: Spanish (Castilian) is spoken as a first language by 74 percent of the population, while seventeen percent speak variants of Catalan (in Catalunya, parts of Valencia and Alicante provinces, and the Balearic Islands), seven percent speak Galician and two percent Basque. As the regional languages were banned under Franco, the vast majority of the people who speak them are also fluent in Castilian.

Ainda no referente à língua diz que o galego parece uma mistura entre espanhol

e português mas que existe desde o mesmo momento que eles: «The gallegolanguage sounds like a fusion of Castilian and Portuguese, but has existed every bit as long as either» o que nos indica mais uma vez um certo grau de confusão que o galego cria no exterior por não saber-se se é galego, se é castelhano, se é português, mas referido como língua própria que existe desde o nascimento do espanhol e do português, o que não deixa de ser um erro. E continua a sua exposição onde refere o uso do «gallego» na Galiza: and is still spoken by an estimated 85 percent of the population. It is definitely a living language, taught in schools and with its own contemporary literary heroes. Road signs and maps these days tend to be in gallego (though the Castilian version is often given as well). We have therefore used the gallego name for towns, supplying the Castilian version in parentheses where it varies significantly, or is helpful. The most obvious characteristic of gallego is the large number of Xs, which in Castilian might be Gs, Js or Ss; these are pronounced as a soft sh. You will also find that the Castilian la becomes a (as in A Coruña), el is o (as in O Grove), de la is da and del is do.

Vemos que primeiro se refere ao galego como «Galician» e depois como «gallego» recorrentemente, o que pode ser explicado pela influência da denominação espanhola ou, até, pela própria auto-denominação que tem sido utilizada, igualmente pela influência do castelhano, na própria Galiza para nos referir ao galego assim como aos galegos/as também. Depois das considerações que apresenta sobre a língua, expõe um relação de vocábulos em inglês com a sua correspondente tradução ao galego (números, saúdos e dias da semana) que são apresentados como que divergem significativamente dos vocábulos castelhanos: «Below is a glossary of common words that you are likely to come across and that differ significantly from the Castilian.» Em relação à História e a actividade económica apresenta o seguinte discurso: «While it is a poor part of the country, a wave of road improvements, motorways and new building in the last decades is rapidly changing the character of the region». Apresenta uma região onde «Food is plentifu» e que é cultivada por todas partes e que são as mulheres as que se dedicam a esta actividade enquanto os homens vão ao mar, valorizando isto como que «there's a strength and solidity in the culture, run, uniquely

for Spain». Nomeia também como comércio as «mejilloneiras» e ainda aponta que «Others, undoubtedly, are engaged in the old standby of smuggling as which, these days, means drugs as well as more traditional contraband». Também diz ser um país de emigrantes, a Argentina e actualmente mais ao Norte de Europa. Das questões políticas e sociais recentes, destaca o seguinte: Galicia has always been deeply conservative and since 1875 has provided Spain with a gallery of prominent right-wing leaders; it was the birthplace of General Franco, and is today dominated by the right-wing Partido Popular, whose founder, Manuel Fraga, is another local boy. Nonetheless, there is a strong and proud gallego nationalist movement, which capitalized on the wave of public protest in the wake of the Prestige oil disaster (see also "The Costa da Morte").The nationalists have formed links with Celtic groups in Brittany and Ireland and encouraged the revival of the long-banned local language. Though the nationalists do not reach the intensity of the Catalan or Basque movements, many gallegos feel that they are demanding too much too soon.

Aqui vemos a qualificação de Galiza como povo conservador e a relação histórica com os celtas que aparece aqui como a causa do estímulo de reviver a língua local longamente banida. Ainda aparece também a consideração: Galicia has a similar history of famine and poverty, with a decline in population owing to forced emigration which is only now slowly being reversed with government subsidies for returning emigrants of gallego ancestry.

Na parte em que dedica a dar umas pequenas noções de história e de instalação dos povos pré-históricos no Estado Espanhol, fala da herança celta: Hence the Celtic urnfield people established themselves in Catalunya, the Vascones in the Basque country and, near them along the Atlantic coast, the Astures. Pockets of earlier cultures survived, too, particularly in Galicia with its citanias of beehive huts.

E continua fazendo um pequeno repasso ao longo de toda a história do Estado Espanhol, desde os primeiros assentamentos até a política contemporânea. O guia estabelece ainda o ranking «42 things not to miss» de todo o estado, onde destaca diferentes museus, lugares, cidades, festas ou comidas, onde no posto 7 se encontra o «jamón serrano», no 24 a «paella», no 35 o «seafood in San Sebastian» e ainda no posto 40 destaca «El Camino de Santiago».

Em relação à tradição, lendas e crenças, logo no início do capítulo da Galiza refere a relação com os celtas: «Remote, rural, and battered by the Atlantic, Galicia is a far cry from the popular image of Spain. It not only looks like Ireland; there are further parallels in the climate, culture and music, as well as the ever-visible traces of its Celtic past.» Quanto ao espaço e à paisagem fala de «the unspoilt coves of Galicia's estuaries» e de uma «green and fertile appearance», assim como que Galicia is lush and heavily wooded in native oaks and pines, although subsidized plantations of imported eucalyptus are becoming dominant. The coastline is shaped by fjord-like inlets, source of some of the best seafood in Europe.

E fala da distribuição de população entre o norte e o sul da Galiza. E também aponta que um «archaic inheritance laws have meant a constant division and redivision of the land into little plots too small for machinery and worked with primitive agricultural methods; ox carts with solid wooden wheels are still seen on the backroads.» E termina referindo a existência dos hórreos que diz servirem para manter conteúdo protegido dos ratos. Os lugares que aparecem em destaque da Galiza são «the obvious highlight of Galicia is the splendid regional capital of Santiago de Compostela, the end of the road for pilgrims following the various routes of the Camino de Santiago since medieval times», Ponte Vedra, Betanços ou Lugo. E em Santiago de Compostela destaca a pedra o «medieval core» e diz que as pessoas hoje em dia o visitam tanto pela sua arte e história como por questões religiosas. Embora ofereça um lugar saliente a Compostela, afirma que «for all this fame, however, Santiago remains surprisingly small», e que rapidamente nos podemos encontrar no meio de uma aldeia se sairmos dela em qualquer direcção. O guia conta com informações sobre A Corunha, Finisterra, Rias Baixas, Padrão

(onde cita a lenda do corpo de São Tiago), as Ilhas Cies, Baiona (destacando o facto da nau de Colombo ter desembarcado aí ao voltar da América), de Pedrafita do Zebreiro que diz: «marks the gallego frontier. This is a desolate spot (...) you can only be impressed bay the sheer scale of work that medieval builders put into providing spiritual material amenities for the pilgrims». Também relata sobre as Rias Altas, Betanços, Malpica, «Finisterre represented the end of the world», a Costa da Morte (onde faz referência ao desastre do Prestige onde além de dar dados da tragédia expõe «thanks to the extraordinary efforts of tens of thousands of volunteers and troops, however, barely a trace of oil remained on most beaches even twelve months later»), Muros e Noia, etc. De Finisterra narra ser o último lugar da peregrinação e ainda chama a atenção para «traditionally, this is where pilgrims would come to burn their clothes, signalling the end of the pilgrimage, and also collect their scallop shell; the wearing of a scallop throughout the journey is a relatively recente phenomenon». Ainda refere: The coastal countryside is always spectacular. The Rías Altas of the far north provide a relatively gentle introduction, but the most definitively Galician environment of all is found among the tiny, picturesque fishing ports of the Costa do Morte, where the traditional gallego lifestyle of smallholdings and small-scale fishing still survives. Entretanto

reserva «the best and safest swimming beaches» às Rias Baixas. E

destacando a ribeira do Minho assim como «Ribadavia» no interior. E por último quanto ao item de hábitos, costumes e alimentação encontramos logo no início, depois do apartado inicial de «Where to go», tem outro de «Tapas» onde fala da cultura do 'tapeo' espanhol, com a tradição de ir de um bar a outro e onde destaca as tapas de «Jamón Serrano», de «pulpo Gallego (deliciously tender pot-cooked octopus)», «the bizarre pimientos de Padron (strange small peppers

about one in ten

of which is chilli-hot)», e por último fala do «fino» de cerveja de barril num «smoky old bar».

No próprio capítulo dedicado à Galiza, tem uma moldura dedicada à «Gallego food and drink» que inaugura a secção com a valorização dos «Gallegans boast that their seafood is the best in the world» e ressalta a seguir: «vieiras, mejillones, cigallas, anguilas, zamburiñas, xoubas, navajas, percebes, nécoras e centollas», onde vemos uma clara confusão entre os nomes em galego e em castelhano. Ainda fala do «pulpo» e das festas culinárias do Grove (do marisco) ou de Vila Nova de Arousa (do polvo). Finalmente destaca os mercados, as 'praças de abastos' de toda a Galiza onde pode ser esperado o peixe fresco e das «churrasquerías» que diz serem uma importação da segunda terra galega na Argentina. Quanto às festas da Galiza que aparecem citadas são bastantes e vão desde festas gastronómicas às festas patronais, romarias assim como o carnaval (Verim), a Rapa das Bestas (Viveiro e Sabucedo) ou o «San Juan» e o 25 de Julho e o «San Martín» (Bueu) e o Magosto (Ourense). 3.2.3.3 FODOR'S SPAIN Na matéria em foco, o Fodor's volta a colocar e destacar a Galiza nos primeiros capítulos do guia, mais concretamente no quarto, onde fala conjuntamente da Galiza e das Astúrias. Nas páginas iniciais de descrição das generalidades do Estado Espanhol, fala das línguas da Espanha onde refere: Spain's other main language, most of predate Castilian Spanish, include the Romance languages Catalan and Gallego (or Galician-Portuguese), and the non-Indo-European Basque Language, Euskera.

e ainda da questão linguística também diz: In the Gallego language, the Castilian Spanish plaza (town square) is praza and the Castilian playa (beach) is praia. closer to Portuguese than Castilian Spanish, Gallego is the language of choice for nearly all road sings in Galicia.

O que coloca uma diferença com respeito aos outros guias onde o galego era

uma mistura entre o espanhol e o português, aqui já o refere apenas que é mais parecido com o português do que com o espanhol, e até o designa como galego-português. Mas continua parecer existindo certa confusão de se o galego provem do latim, se é uma evolução própria, etc. E continua a ser denominado pela sua versão em castelhano em vez de em galego, que é da língua que falam. E ainda refere «In the rural areas, the main language is Galician, wich sounds like Portuguese», apontando também que nas cidades também é mais ou menos utilizado o galego. No referente às dicas históricas e de actualidade social, apontam: Asturias, north of the main pilgrim trail, has always mainained a separate identity, isolate by the rocky Picos de Europa. This and the Basque Country are the only parts of Spain never conquered by the Moors, so Asturian architecture shows little Moorish influence. (...) the Reconquest of Spain, wich, though it took some 700 years, made Spain one of the world's most uniformly Catholic countries.

O que denota certa confusão com relação à divisão política do Estado Espanhol, assim como a sua referência e 'fama' de 'católico'. Também faz referência ao Prestige, que diz provocou uma potenciação, por parte da Xunta e do Estado Espanhol, do turismo para paliar a perda de peixe. E refere Pedrafita como uma dos lugares destacados também como um museu ao ar livre da vida na Idade Média e da herança celta. Com relação ao espaço e à paisagem destaca o verde, as rias, os hórreos e a gaita que cita como legado celta, e também as praias, fazendo a seguinte consideração: Be prepared to fall in love with these magical, remote regions. In Gallego they call the felling morriña, a powerful longing for a person or place you've left behind

Assim com isto fica também notificada a relação com os celtas, a saudade, e uma certa espiritualidade que tudo isto pode sugerir ou potenciar. Também cita o Caminho, com um pouco menos de destaque e insistência em relação aos outros dois guias consultados. Quanto ao tema da comida fala do peixe do marisco, dos berberechos, da

«merluza a la gallega», do lacón com grelos, do queixo de tetilla, do «caldo gallego», a empanada e o «membrillo» referindo ainda: The scallop, a symbol of the pilgrimage to Santiago, is popular in Galicia, where you can also find bars serving nothing but wine and pulpo a feira (boiled and broiled octopus).

Consideramos importante a denominação do polvo à feira na sua forma mais ou menos galega, «pulpo a feira», pois até o momento apenas fora referido em castelhano nos outros guias.

3.3 GALIZA ATRAVÉS DA EXPERIÊNCIA BRASILEIRA: PRIMEIRAS IMPRESSÕES Como já foi apontado, além da análise dos produtos culturais e a imagem que eles transmitem, queremos contrastar o que eles nos dizem com o que a experiência vital dos brasileiros e brasileiras que viajam à Galiza têm, e, caso for possível, auxiliá-la também com os olhares prévios que eles traziam e os elementos que os fabricaram, para assim poder contrastar o seu uso concreto. Para poder fazer isto está a desenvolver-se uma recolha de material através de entrevistas em profundidade (em formato áudio, notas e vídeo), questionários e diversos métodos de observação directa. Esta recolha de material encontra-se ainda em andamento pelo que o que aqui se aponta são apenas hipóteses, possíveis linhas de trabalho futuro e umas primeiras impressões do que até o momento foi feito, assim como, eventualmente, conclusões preliminares que terão de ser aprovadas ou refutadas com a análise do cômputo total do corpus quando o tivermos disponível. Os primeiros resultados desta pesquisa mais genérica já foram expostos genericamente no apartado 2.3.3 deste mesmo trabalho, mas aqui serão um pouco mais focalizados segundo a estrutura e taxionomia de análise que vimos aplicando aos restantes produtos culturais constituintes do corpus. Assim os poucos comentários que aqui são apresentados apenas pretendem

constituir o ponto de partida para o seguimento da nossa pesquisa no futuro e começando desde agora. E, insistimos, não devem ser considerados como conclusivos nem definitivos pois só são as primeiras impressões e intuições do que poderá vir a ser num futuro quando o tamanho da amostra alcance o desejado e a significatividade, o que se corresponderá com um número limitado de entrevistas por cada perfil-tipo categorizado (variável entre 5 e 1069, segundo as suas características nos permitam, ou não, extrapolar os dados requeridos para podermos fazer generalizações). a) Questão linguística ou língua Em relação à questão linguística as nossa primeiras apreciações apontam para uma certa confusão no referente à língua da Galiza. A maioria das pessoas entrevistadas ou que preencheram os nossos questionários, ou não apresentam uma clara consciência nem conhecimento da língua que era falada na Galiza, ou consideram o galego uma língua familiar, próxima e parecida com o português. A isto apresenta-se-nos uma excepção, que é a que representa o sector do turismo idiomático ou por realização de estudos, este conjunto, na verdade não o mais significativo mas sim com possibilidades de expansão e melhora, sim parece , demonstra ter conhecimentos mais alargados sobre a situação linguística na Galiza e até vislumbrar a existência de um conflito, que se verifica pela confusão entre o galego e o espanhol e o português, que dificulta, por exemplo, a sua aprendizagem. b) Memória, genealogia e origens Como já referimos em alguma ocasião existe um determinado grupo de brasileiros que visitam a Galiza por motivos familiares, por conhecer a terra dos pais ou avôs, mas que por enquanto ainda não temos dados suficientes para estabelecermos um 69

Este será o número final de entrevistas que farão parte do corpus para proceder à sua análise exaustiva, mas temos que apontar que o número de entrevistas reais será muito maior porque devido ao seu carácter complexo e de fácil avessamento, as que finalmente façam parte da pesquisa deverão ser cuidadosamente seleccionadas entre a totalidade das realizadas e conseguidas.

perfil diferenciado de outros. c) A História Com respeito ao item do tratamento histórico, nas experiências pessoais recolhidas não aparece este elemento em destaque, apenas em alguns depoimentos de pessoas vinculadas ao âmbito académico que já têm um interesse especial por esse assunto, e também aparece referido por algumas das pessoas vinculadas às Associações de Amigos do Caminho de Santiago de Compostela do Rio de Janeiro e de São Paulo (lugares que foram contactados e estudados)70?. Pelo geral a história é associada à antiguidade e à Idade Média. Dos celtas temos algumas, ainda pouco representativas, referências de pessoas de diversa índole que associam a cultura celta às origens da Galiza. d) Tradição, lendas e crenças O tratamento que se faz do misticismo por parte das pessoas entrevistadas sim é uma constante, sobretudo no perfil que engloba aos visitantes com motivações explicitamente religiosas e aqueles que fazem o Caminho de Santiago, que se revela como um das principais motivações para visitar a Galiza, esse misticismo e espiritualidade, em muitos casos está veiculada directamente com o cristianismo mas em outros apenas com o próprio desenvolvimento e auto-conhecimento pessoal. e) Espaço e paisagem Em relação aos espaços, lugares e conhecimentos do Estado Espanhol e da Galiza, existem bastantes heterogeneidades nas respostas, dependendo do tipo e perfil da pessoa interpelada. Dentro desta heterogeneidade aparecem uns lugares comuns como podem ser Madrid, Catalunha, o Caminho e Santiago de Compostela, assim como 70

As Associações de Amigos do Caminho de Santiago de Compostela, constituem uma sociedade civil sem fins lucrativos, fundada para reunir pessoas e organizações interessadas no percurso, na preservação e na divulgação do Caminho de Santiago de Compostela. http://www.caminhodesantiago.org.br/ (RJ), http://www.santiago.org.br/associacao.htm (SP).

ocorre com frequência, em relação a Santiago, a imagem peregrina e a religião. A paisagem é normalmente um tema recorrente, para destacar a sua beleza, a sua frescura e lindeza, invitando à contemplação e meditação, o que entra mais uma vez em ligação com o tema do misticismo. Os lugares galegos mais citados, além de Santiago de Compostela, são o Cebreiro, Finisterra, e sempre pela sua vinculação com o Caminho de Santiago, como pontos destacados. Além dos lugares na Galiza, as pessoas referem pelo geral Barcelona, Sevilha, Madrid e Toledo em menor medida, além de Santiago de Compostela. f) Hábitos, costumes e alimentação Em relação à comida, as pessoas brasileiras que visitam ou visitaram a Galiza, e mais especificamente Santiago de Compostela, referem quase unanimemente a paella como prato típico galego. A tortilla é outra das iguarias ressaltadas, seguida da torta de Santiago; a uma maior distância encontramos elementos como o caldo, o polvo, ou o 'puchero'. Com isto vemos a grande influência em temas culinários que tema a imagem mais geral promovida da Espanha, onde a paella é prato típico. Os brasileiros inqueridos até o momento não apresentam conhecimento ter saber a 'paella' valenciana (mesmo quando se encontra explicitado no livro de Paulo Coelho e, evidentemente, nos guias), e ademais como normalmente leva frutos do mar, consideram-na completamente um prato típico galego. Ambos os partos mais citados, tortilha e 'paelha' não são galegos, embora a tortilha possa considerar-se já completamente assimilada e adaptada à nossa dieta (aliás porque os seus ingredientes são bem consumidos na Galiza). O 'puchero' é um dos elementos que se destaca por influência do Caminho, pois é um dos pratos que costuma fazer parte do «menu do peregrino» (outras das comidas que por vezes ressaltam como típica espanhola, devido ao Caminho), o 'puchero' é uma espécie de cozido que se prepara em Andaluzia, Uruguay e Argentina. Outra comida que é considerada típica e

definitória são as tapas. g) Motivações e expectativas de viagem Quanto às razões que declaram os visitantes do Brasil que os motivou a visitar a Galiza, e sobretudo, Santiago de Compostela encontramos como as mais recorrentes as de carácter religioso, ao que se vincula de maneira muito salientável o conhecimento do Caminho de Santiago, as motivações por questões de vinculação familiar, as de lazer e culturais, e por motivos de estudo. Também podemos generalizar a partir das experiências vitais de visitantes do Brasil à Galiza sobre a ideia existente sobre os galegos, onde costumam aparecer adjectivos como simpáticos e hospitaleiros ou acolhedores. Assim como apontar que aqueles que se encontram mais vinculados ao Caminho, normalmente ficaram sabendo do destino através da televisão, de Paulo Coelho e de amigos; e as suas motivações são mais de carácter religioso e espiritual. 3.4 CONTRASTE QUALITATIVO DO USO DA GALIZA Neste apartado do trabalho tentaremos elucidar brevemente quais as coincidências e divergências que apresentam os diferentes produtos culturais em análise, e mais concretamente, tentar-se-á desvendar quais os repertórios, em luta ou não, que cada um deles privilegia; e ainda mais concretamente veremos quais os 'elementos destacados71 (de um repertório predominante) são usados em cada um dos casos para dar uma imagem da Galiza, ou, ontologicamente falando, para a identificar. Primeiro faremos um resumo das principais concomitâncias e discordâncias que se apresentam nos diferentes produtos culturais analisados (literatura, divulgação e experiência) seguindo o rol dos itens por nós propostos no início da nossa análise para posteriormente proceder a tentar desvendar quais os elementos repertoriais mais recorrentes e qual a imagem predominante. 71

Itamar (2007: 111).

a) Questão linguística ou tratamento da língua Como fomos vendo existem notáveis diferenças entres os diferentes tratamentos e considerações linguísticas em cada um dos diferentes corpus analisados. Assim em Nélida vemos uma clara vinculação com a língua e até uma pequena defesa e consciência do problema de censura linguística e de diglossia vivido na Galiza, mas não existe uma clara exposição de se ser consciente das origens da língua, tanto galega quanto portuguesa, embora se fale e tudo da época medieval onde eram uma língua ainda. Fronte a isto em Paulo Coelho nem aparece referenciado o galego, apenas o basco e o espanhol nem é feita nenhuma valorização ao respeito. Já nos guias o tratamento é divergente mas com um claro conhecimento parcelar da realidade linguística galega, chegando a apresentar-se até uma visão que parece ser de existência de um bilinguismo quase harmónico no Rough Guide onde diz ser falado o galego pelo 85% da população, e uma certa confusão também em relação à conformação da língua. Assim, consideramos generalizado o desconhecimento da origem e conformação da língua portuguesa, também da galega e a constatação de confusão sobre o que vem sendo a língua galega, devido às suas similitudes e coincidências com o português e com o castelhano, chegando a ser visto, em algumas ocasiões, como uma mistura, (o que, em vias de constatação, poderia ser comparado a uma consideração similar à do portunhol72, por parte dos brasileiros). b) Memória, genealogia e origens Neste apartado joga o papel mais importante o romance da escritora carioca, e a emigração galega no Brasil, onde é usada a memória e a genealogia como linha argumental da história e como elemento narrativo. 72

O portunhol é a denominação que designa à interlíngua (ou língua de confluência) que sai misturando o espanhol e o português.

c) História No que diz respeito à este item, vemos que no romance da escritora carioca é um elemento recorrente e com um tom sempre de confrontação e constatação do passado de domínio e imposição castelhana na Galiza e as suas consequências. Enquanto em Paulo Coelho é usado para veicular as tradições e a mitificação das coisas através da sua antiguidade, do seu primitivismo e, por isso, da sua pureza e legitimidade como elementos válidos para a experiência de vida humana. Nos guias a história revela apenas tópicos generalistas que não permitem reconhecer bem a sequência e consequência dos acontecimentos mas que também, por vezes, servem de justificação para dar valor e legitimidade a certas ocorrências. Em qualquer dos casos faz-se referência à origem ou influência celta na conformação da Galiza, o que apenas é constatado como uma 'invenção' dos nacionalista do século XIX no guia Lonely Planet. E, em qualquer dos casos, é recorrente também a consideração do povo galego como fonte de emigração. Nos guias de viagem, existem diferentes tratamentos da história da Galiza: relação com celtas, referência ou não de certo conflito político, etc. Nas experiências dos visitantes, estes não costumam conhecer nem a origem nem história da Galiza, mas costumam associá-la, sobretudo a Santiago de Compostela, à Idade Média e, por vezes também fazem a vinculação com os celtas. O uso que é feito da história também varia segundo o produto

cultural analisado: nas obras literárias serve de apoio à narração, de fonte de conhecimentos para justificar certas histórias; nas obras de divulgação apenas quer dar uma informação e visão prática e rápida das coisas como introdução ao lugar a visitar; e na experiência é mais para verificação das origens e do estabeleciemnto civilizacional (por contrapor-se ao Brasil, país de recente criação). d) Tradição, lendas e crenças Aqui as duas obras literárias usam as histórias, lendas e tradições para dar um tom de misticismo e fabulação à história. Lendas são usadas, quase unanimemente, como elementos que dotam de magia que unido ao clima galego, chuvoso, dão-lhe um certo tom misterioso à Galiza, no que também ajuda para esta imagem a suposta manutenção dos modos de vida mais tradicionais e rudimentares. Igualmente, comprova-se que no que se refere à relação da Galiza com os celtas em todo o corpus leva a fazer querer ver uma associação desta característica à magia e ao misticismo, baseando-se na sua antiguidade, originalidade e ritualidade. e) Espaço e paisagem A paisagem é sempre considerada como bucólica, agreste e explosivas, sendo um dos elementos destacados do repertório como característico da Galiza e pelo tanto, definitivos da sua essência (fronte a outros elementos que não são usados para este fim como a modernidade, ou a música ou qualquer outro). E em qualquer dos casos, menos no de Paulo Coelho, e referida a presença dos eucaliptos, sendo apenas a Rough Guide a que explicita serem estas árvores

forâneas que estão começando a dominar a paisagem. E predomina a visão rural, tradicional e atrasada da Galiza face à uma mais urbana, moderna e progressiva. f) Hábitos, costumes e alimentação Aqui podemos estabelecer uma clara confrontação de elementos. Assim, vemos como em Nélida Piñon aparece a 'comida tradicional galega' (cozido, pão, toucinho, vinho, nabiças, porco, etc), nos guias uma 'comida típica' (que não necessariamente tradicional, como polvo, pimentos de padrão, marisco, etc.), e uma comida 'típica distorcida, tipicalizada ou aperegrinizada' no livro de Paulo Coelho e na experiência real dos visitantes, embora no caso de Paulo Coelho não esteja muito explorada esta questão e não seja um elemento destacado para a fabricação de ideias sobre a Galiza. g) Motivações e expectativas de viagem Este item representa diferenças substanciais em cada um dos elementos do corpus analisados de difícil clasificação e agrupamento, pois em Nélida Piñon, a motivação de viajar ao Brasil é fundamentalmente económica e serve para uma definição posterior do Brasil; em Paulo Coelho tem um carácter mais existencialista e serve para procurar e alcançar os sonhos de cada ser humano como indivíduo; nos guias pretende-se abranger qualquer motivação possível que um indivíduo tenha (aventura, inquietações culturais, diversão, luxo e distensão, conhecimento de realidades e vivências diferentes, etc.) para conseguir o perfeito, máximo e mais adequado aproveitamento da viagem; e na realidade as coisas são muito divergentes mas parece existir

uma clara

motivação ligada às experiências espirituais, intimistas e religiosas e uma outra mais ligada à genealogia e aos interesses de progresso educativo e de progresso e enriquecimento intelectual individual, ainda podendo apontar-se, sem ter ainda

o perfil definido, a existência de um outro grupo com motivações de progresso económico e social também (brasileiros imigrantes na Galiza). Segundo isto vemos como Nélida Piñon destaca fundamentalmente os elementos repertoriais que constituem o apartado b), c) e d) como para a fabricação do seu repertório que criam uma imagem de uma Galiza da tradições e lendas orais, rural e com problemas de certo desenvolvimento e progresso que causam défices nas possibilidades de progresso vital do indivíduo. No livro de Paulo Coelho, aparecem mais utilizados elementos como os representados pelos apartados c), d), e) e sobretudo d), onde o Caminho, e com ele Galiza, servem de elemento de espiritualidade e de chegar ao hedonismo em harmonia com o universo e o resto dos seres humanos. A Galiza que se apresenta apenas diz respeito à religiosidade de Santiago de Compostela e à paisagem. Em Mel Lisboa aparecem como mais recorrentes os elementos pertencentes aos apartados a), d) e) e f), assim como a motivação do prazer de viajar. A Galiza que se apresenta embora ainda com esse tom de paisagem surpreendente e de antiguidade (pela arquitectura, a pedra, etc) acrescenta uma nova visão que lhe oferece ao mesmo tempo modernidade e encanto, imagem que em boa medida é conseguida mediante o 'poder simbólico' e a 'distinção' da narradora e não pelas próprias características inerentes do repertório (o que aliás costuma acontecer no processo de fabricação das ideias e imagens). Os guias turísticos apresentam também uma Galiza maioritariamente rural com algum toque de modernidade pela parte das cidades e caracterizada principalmente pela sua comida e as suas paisagens, além de pelo próprio Caminho também e a magia que este lhe outorga. E estes manuais de uso utilizam principalmente os elementos repertoriais que se derivam dos apartados e) e f), além do g) constituir o eixo

fundamental pois o importante é própria experiência turística e a sua percepção e não a realidade mesmo.

4 CONCLUSÕES –

Verificação da função da literatura como 'idea-maker': Paulo Coelho e potencialidade real disto, Nélida Piñon ou Mel Lisboa; assim em Paulo Coelho é clara a utilização de certos elementos individuais, ao mesmo tempo coincidentes com elementos prévios e destacados do repertório que delimitam a um grupo, que combina numa fórmula para a criação de um produto específico (a 'magia' do Caminho) e que, por diversas razões, acaba por ser exitosa. E em Nélida Piñon, também são usados determinados elementos repertoriais, que combina com outros, para elaborar um produto concreto (Brasil).



Verificação das possibilidades que oferece conhecer como, quem e para que se criam as imagens do outro para o seu melhor aproveitamento e adaptação.



A imagem de um lugar turístico transmitida pelos prescritores e outros agentes culturais por vezes cria conflito com a que os próprios habitantes do lugar em questão têm, transmitindo noções erróneas, onde não são coincidentes a imagem que se tem do outro com a que um próprio tem de si. Assim como a falta de correspondência da ideias fabricadas com a realidade (exemplos como a paella ou Pedrafita do Zebreiro73).



Frequentemente, no estabelecimento das imagens de um lugar turístico ocorrem metonímias, onde micro-espaços e micro-elementos se identificam com macroespaços: Santiago de Compostela = Galiza, Caminho de Santiago = Galiza, Touros e Flamenco = Espanha, etc.



Verificação da influência e êxito de Paulo Coelho como ideia-maker e como agente promocional da Galiza, e mais concretamente do Caminho de Santiago74, e ver a sua

73

74

Como vimos vendo, Pedrafita é referido sempre como espaço do Caminho e mágico, mas realmente este lugar não fazia parte da rota original do Caminho, pois foi uma ideia que elaborou o párroco do Zebreiro, elias Valiña. Em palavras do próprio autor no prefácio à edição electrónica d'O Diário de um Mago: «Utilizei

trajectória. –

Verificação da maior capacidade de influência das ideias e imagens das obras pertencentes à grande produção, fronte as da produção restrita: caso Paulo Coelho face a Nélida Piñon. 5 HIPÓTESES E NOVAS LINHAS DE PESQUISA



Terminar esta fase e esta primeira aproximação no contraste entre literatura, divulgação e, sobretudo, a parte referida às experiências pessoais vividas pelos próprios turistas no lugar de destino (Galiza).



O apartado anterior permitiria estabelecer uma perfeita delimitação e classificação de cada um dos perfis turísticos significativos em que puderam incluir-se os visitantes brasileiros à Galiza, podendo assim conhecermos em profundidade o campo do turismo brasileiro na Galiza.



Verificar a validade do método e do procedimento de construções literárias concretas a partir de elementos repertoriais destacados que são usados por determinados agentes culturais para a fabricação ou elaboração de ideias e imagens. Em concreto verificar a função e influência real da literatura como criadora de imagens fronte a outros elementos culturais que, parecem, ter mais possibilidades de sucesso.



Verificar a verdadeira correspondência entre a olhada do outro e a própria consideração identitária galega (o que somos, o que vendemos que somos e o que vem que somos), e as repercussões que isto tem no intercâmbio cultural e nas bases em que se colocam os modos de relacionamento.



Estudar quais os factores que influem no possível êxito de uma ideia fabricada, neste caso a da imagem e consideração da Galiza (a sua identidade segundo o outro), e algumas metáforas em O Diário de um Mago , que terminaram sendo confundidas como realidade pelos leitores.»

pelo tanto dos grupos que a promovem. –

Descobrir o uso, a função e a influência real que tem exercido Paulo Coelho na imagem da Galiza no Brasil e quais as suas vias de influência e implantação.



Analisar quais as estratégias seguidas por parte da 'instituição' galega e do sistema literário galego com respeito à consideração de Nélida Piñon e a sua obra e tentar desvendar quais os interesses e motivações em jogo.



Estudar e propor a elaboração de novos produtos turísticos galegos para o Brasil através do uso de outras imagens (nomeadamente Nélida Piñon ou Mel Lisboa) tendo em consideração factores como a sustentabilidade ou a manutenção da qualidade de vida no lugar receptor, e diminuindo ao máximo o impacto que o turismo possa ter na comunidade receptora.



Estudar origem, trajectória e consolidação dos principais tópicos, elementos repertoriais destacados, que são utilizados da imagem da Galiza, e qual o seu processo de elaboração e implantação.



Estudo pormenorizado de quais os verdadeiros agentes em jogo na elaboração de cada um dos produtos culturais e as possíveis influências e estratégias que a 'instituição' e o poder provoquem para a sua actuação segundo os seus interesses. (Isto verificaria-se através do mapeamento e análise de todas e cada uma das linhas seguidas pelo poder institucional e político, durante os últimos anos, para a planificação e promoção cultural, de onde se desprendem interesses e predomínios de uns elementos face a outros).



Estudar os fenômenos migratórios, em termos relacionais, ocorridos nas últimas décadas entre os dois países em foco: Brasil e Galiza.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 6.1 TEORIA E METODOLOGIA 6.1.1 MANUAIS ABBOTT, Andrew (2004): Methods of discovery: heuristics for the social sciences; New York: W .W. Norton. ALBERTS, P. (1992): Postcards, Travel and Ethnicity: A Comparative Look at Mexico and the Southwestern United States , em American Anthropological Association Meeting, São Francisco. AUGÉ, M. (1997): El viaje imposible. El turismo y sus imágenes. Barcelona: Gedisa. BABBIE, Earl (1989): The Practice of Social Research, 5ª ed., New York: Wadsworth Publishing Co. BECKER, Howard S. (2008): Segredos e Truques da Pesquisa, trad. de Maria Luiza de A. Borges, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. BOURDIEU, Pierre (1988): La Distinction. Tradução espanhola: La distinción: critérios y bases sociales del gusto, Madrid: Taurus. BOURDIEU, Pierre (2004): O campo literario, Santiago de Compostela: Laiovento. BOURDIEU, Pierre (2004): O poder simbólico: Memória e Sociedade, (trad. de Fernando Tomaz) Brasil: Bertrand Brasil. CALLIZO, J. (1991): Aproximación a la geografia del turismo, Madrid: Síntesis. CASTELLS, M. (2002): A sociedade em rede, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. CHAMBERS, E. (2000): Native Tours. The Anthropology of Travel and Tourismm, Illinois: Waveland Press. CUNHA, L. (2001): Introdução ao turismo, Lisboa: Editorial Verbo.

DA COSTA PEREIRA, Varico (2008): Turismo cultural e religioso em Braga e Santiago de Compostela: Proposta de criação de um produto conjunto, Consellería de Innovación e Industria-Dirección Xeral de TurismoRelatorios, Santiago de Compostela: Xunta de Galicia. ELSTER, Jon (1989): Nuts and Bolts for the Social Sciences, 10a. Edição, Cambridge U. Press. EVEN-ZOHAR, Itamar (2007): Polisistemas de Cultura (Un libro electrónico provisional), Tel Aviv: Cátedra de Semiótica, em http://www.tau.ac.il/~itamarez/works/papers/trabajos/polisistemas_de_cultur a2007.pdf (Último acesso: 29/07/2008). FIGUEROA, ANTÓN (2001): Nación, Literatura e Identidade: communicación literaria e campos sociais en Galicia, Vigo: Xerais. GIDDENS, A. (1993): Sociology, Second edition. Cambridge: Politiy Press. GOLDENBERG, Mirian (1999): A arte de Pesquisar: Como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Socias, Rio de Janeiro: Editora Record. HALL, M. (2001): Planejamento turístico, São Paulo: ed. Contexto. LORENZO, Ramón (coord.): Homenaxe a Fernando R. Tato Plaza, Servizo de Publicación e Intercambio Científico-Universidade de Santiago de Compostela Publicacións: Santiago de Compostela. MACHADO, Álvaro Manuel; PAGEAUX, Daniel-Henri (1981): Literatura Portuguesa. Literatura Comparada. Teoria da Literatura, Lisboa: Edições 70, Colecção Signos, 36. MACHADO, Álvaro Manuel; PAGEAUX, Daniel-Henri (1988): Da Literatura Comparada à Teoria da Literatura, Lisboa: Edições 70, Colecção Signos, 46.

MARTINELLI, Maria Lúcia (org.) (2003): Pesquisa Qualitativa: um instigante desafio, NEPI/PUCSP – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre IdentidadePrograma de Estudos Pós- Graduados em Serviço Social-Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Série Núcleo de Pesquisa - 1, São Paulo: Veras Editora. MERTON, Robert (1949): Social Theory and Social Structure, New York: Free Press. QUINN, B. (1994): “Images of Ireland in Europe: A Tourist Perspective”, em KOCKEL, U. (ed.): Culture, Tourism and Developement: The Case of Ireland, Liverpool: Liverpool University Press, pp. 61-73. TARRÍO V., Anxo; ABUÌN GONZÁLEZ, Anxo (2004): Bases metodolóxicas para unha historia comparada das literaturas da península Ibérica, Santiago de Compostela: Servizo de Publicacións e Intercambio Científico da Universidade de Santiago de Compostela. URRY, J. (2002): The Tourist Gaze: Leisure and Travel in Contemporary Societes, Londres: Sage, 2ª ed. W. BAUER, Martin; GASKELL, George (2002): Pesquisa Qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático, (trad. de Pedrinho A. Guareschi), Petrópolis (RJ): Editora Vozes, 5ª ed. 6.1.2 ARTIGOS E ESTUDOS DE CASO BARRETTO, Margarita (2003): “La delicada tarea de planificar turismo cultural: Un estudio de caso com la 'germanidad' de la ciudad de Blumenau- SC (Brasil)”, em Pasos: Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, vol. 1, nº 1. pp. 52-63, em www.pasosonline.org. (Última consulta, Maio 2008). BAXTER, Jamie; EYLES, John (1996): “Evaluating qualitive research in social geography:estabilishing 'rigour' in interview analysis”, em Transactions of

the Institute of British Geographers, New Series, vol. 22, nº 4, pp. 505-525, em http://links.jstor.org/sici? sici=0020-2754%281997%292%3A22%3A4%3C505%3AEQRISG %3E2.0.CO%3B2-V . BAXTER, Jamie; EYLES, John (1997): “Evaluating Qualitative Research in Social Geography: Establishing 'Rigour' in Interview Analysis”, em Transactions of the Institute of British Geographers, New Series, Vol. 22, No. 4., pp. 505-525. http://links.jstor.org/sici? sici=0020-2754%281997%292%3A22%3A4%3C505%3AEQRISG %3E2.0.CO%3B2-V BERENT, Paul H. (1966): A Entrevista em Profundidade , em Journal of Advertising Research, 6:2, pp. 32-39. EVEN-ZOHAR, Itamar (2005): “Idea-makers, culture entrepreneurs, makers of life images, and the prospects of success”, em Papers in culture research, edição on-line: http://www.tau.ac.il/~itamarez/works/papers/papers/ideamakers.pdf. (Último acesso, 24/07/2008). EVEN-ZOHAR, Itamar (2008): “Culture planing, cohesion and the making and the mantenaince of entities”, this is a revised version of a paper delivered at the Dartmouth Colloquium, "The Making of Culture", Dartmouth College, 22-27 July 1994, with a followup presented to the seminar "Literatura Galega: ¿Literatura Nacional o Subalterna?", Mondoñedo, Galicia, 3-5 September 1994. GARCIA MUÑOZ, Tomás (2003): “El cuestionario como instrumento de investigación/evaluación”, em http://prometeo.us.es/recursos/instrumentos/cuestionarios.htm GORDEN, Raymond L. (1956): “Dimensions of the Depth Interview”, em The

American Journal of Sociology, Vol. 62, No. 2, Of Sociology and the Interview. (Sep.), pp. 158-164. http://links.jstor.org/sici? sici=0002-9602%28195609%2962%3A2%3C158%3ADOTDI%3E2.0.CO %3B2-E GUETZKOW, Joshua; LAMONT, Michèle; MALLARD, Gregoire (2004): What is Originality in the Humanities and the Social Sciences? , em American Sociological Review; 2004; 69, 2; pp. 190 -212. JONES, Edward E.; PITTMAN, Thane S. (1982): Toward a general theory of strategic self-presentation , em E. E. Jones (ed.): Psychological perspectives on the self; Hillsdale, NJ: Erlbaum, pp. 231-262. LAMONT, Michèle; GUETZKOW, Joshua (2004): What's is Originality in the Humanities and the Social Sciences? , em American Sociological Review, vol. 69, pp. 190-212. LAMONT, Michèle; KAUFMAN, Jason; MOODY, Michael (2000): “The Best of the Brightest: Definitions of the Ideal Self among Prize-Winning Students”, em Sociological Forum, Vol. 15, No. 2. (Jun), pp. 187-224, em http://links.jstor.org/sici? sici=0884-8971%28200006%2915%3A2%3C187%3ATBOTBD %3E2.0.CO%3B2-F LAMONT, Michèle; MALLARD, Grégoire; GUETZKOW, Joshua (2006): Rules of fairness. Beyond blind faith: overcoming the obstacles to interdisciplinary evaluation , Research Evaluation, volume 15, number 1, April, pp. 43 55. LAMONT, Michèle; MOLNAR, Virag(2002) : The study of boundaries in the social sciences , Annu. Rev. Sociol, 28:167 95 LAMONT, Michelle (2001): Culture and identity , em Turner, J. (ed.): Handbook of sociological theory, New York: Kluwer Acad./Plenum, pp. 171 85.

LOIS GONZÁLEZ, R. C.; SANTOS SOLLA, X. (2000): Seafood consumption and Galicia's image. A cultural geography approach , em Actas do II Simpósio Anglo-Espanhol de Geografia Rural, Valladolid: Universidad de Valladolid, em http://www.ub.es/geoagr/401.PDF (Último acesso, Junho 2008). LÓPEZ, Juán J. (1990): “A Escolha da Teoria na Investigação Social Comparativa”, em Revista Brasileira de Ciências Sociais, ano 10:27, Fev 1995, pp. 61-72., em http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_27/rbcs27_04.htm MARCKWARDT, Albert M. (1973): “Evaluation of an Experimental Short Interview Form Designed to Collect Fertility Data: The Case of Peru”, em Demography, Vol. 10, No. 4. (Nov.), pp. 639-657, em http://links.jstor.org/sici? sici=0070-3370%28197311%2910%3A4%3C639%3AEOAESI%3E2.0.CO %3B2-N MERTON, Robert K.; KENDALL, Patricia L (1946): “The Focused Interview”, em The American Journal of Sociology, Vol. 51, No. 6. (May), pp. 541-557: http://links.jstor.org/sici? sici=0002-9602%28194605%2951%3A6%3C541%3ATFI%3E2.0.CO %3B2-A MICHAUD, Jean (2001): “Anthropologie, tourisme et sociétés locales au fil des textes”, em Anthropologie et Sociétés, vol. 25, nº 2, pp. 15-33. MIRA MATEUS, Maria Helena (2001): “Se a língua é um factor de identificação cultural, como se compreenda que uma língua viva em diferentes culturas?”, esta conferência é uma versão próxima da apresentada em Évora por ocasião do Congresso sobre os 500 anos dos Descobrimentos Portugueses, em http://www.iltec.pt/?action=investigadores&act=view&id=mhm (Última consulta, Maio 2008).

NOGUEIRA GARCIA, M. C. (1998): A imaxe de Galicia a través das guías turísticas, Santiago de Compostela: Facultade de Xeografia e História USC (tese de licenciatura inédita). PEREIRO, Xerardo (2005): “Imagens e narrativas turísticas do ‘outro’: PortugalGaliza, Portugal-Castela e Leão” em PARDELLAS, X. (dir.), Turismo e natureza na Eurorrexión Galicia e Norte de Portugal, Vigo: Universidade de Vigo, pp. 57–79, em http://home.utad.pt/~xperez/ficheiros/publicacoes/turismo_cultural/Artigo_i magens_turisticas_Xulio_Pardelas_Setembro2005.pdf, (Último acesso: 29/07/2008). PRITCHARD, Annette; NIGEL Morgan (2003): Mythic Geographies of Representation and Identity: Contemporary Postcards of Wales em ROBINSON, Mike & ALISON Phipps (ed.): Tourism and Cultural Change, vol. 1, nº 2, pp. 111-130. QUALITATIVE RESEARCH COUNCIL (1985): Focus Group: Issues and Approaches , NY, Advertising Research Foundation, 28 pp. REY GRAÑA, Carla; RAMIL DÍAZ, María (2000): Estructura del Mercado Turístico gallego , em Revista Galega de Economía, vol. 9, núm. 1, pp. 1-23, Departamento de Economia Aplicada da UDC. ROSS WHITE, Naomi & PETER B. White (2004): Travel as transition. Identity and Place , em Annals of Tourism Research, 31, pp. 200 218. SENABRE LÓPEZ, David (2007): Es Cultural el 'Turismo Cultural'? , em Foro de Educación, nº 9, pp. 71-79.

THOMAZ, Rosângela Custodio Cortez (2005): A Revalorização e o uso do Patrimônio Arqueológico como Estratégia para o Desenvolvimento do Turismo Rural e Cultural na Galicia , em III Congreso Virtual de Turismo Cultural, 2005, virtual - Internet. Los Derechos Humanos en el Turismo, 2005. TORRES F., Elias J. (2004): Sobre objectivos do ensino e da investigaçom em literatura , em MENDES, Carlos; PATRÍCIO, Rita (org.): Largo mundo alumiado. Estudos em homenagem a Vítor Aguiar e Silva, Braga: Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho, vol. I, pp. 221-249. TORRES F., Elias J. (2004): Contributos sobre o objecto de estudo e metodologia sistémica. Sistemas literários e literaturas nacionais , em ABUÍN, Anxo; TARRÍO, Anxo (2004): Bases metodolóxicas para unha historia comparada das literaturas da península Ibérica, Santiago de Compostela: Servizo de Publicacións e Intercambio Científico da Universidade de Santiago de Compostela. TORRES F., Elias J. (2006): Para uma revisom da historiografia literária: objecto de estudo e métodos , em EUNICE MOREIRA, Maria; VELLOSO CAIORO, L. Roberto (orgs.): Questões de crítica e historiografia literária, Porto Alegre: Nova Prova Editora. WILLIAMS, Christine L.; HEIKES, E. Joel (1993) : “The Importance of Researcher's Gender in the In-Depth Interview: Evidence from Two Case Studies of Male Nurses”, Gender and Society, Vol. 7, No. 2. (Jun.), pp. 280-291. http://links.jstor.org/sici? sici=0891-2432%28199306%297%3A2%3C280%3ATIORGI%3E2.0.CO %3B2-1

WILLIAMS, Lindy; SOBIESZCZYK, Teresa; PÉREZ, Aurora E. (2001): “Consistency between Survey and Interview Data Concerning Pregnancy Wantedness in the Philippines”, em Studies in Family Planning, Vol. 32, No. 3. (Sep.), pp. 244-253. http://links.jstor.org/sici? sici=0039-3665%28200109%2932%3A3%3C244%3ACBSAID%3E2.0.CO %3B2-X ZUELOW, Eric G. (2006): “'Kilts versus Breeches': The Royal Visit, Tourism, and Scottish National Memory”, em Journeys: The International Journal of Travel and Travel Writing, 7 (2), pp. 33–53, em http://www.hnet.org/people/editors/show.cgi?ID=125540 (Último acesso Maio 2008) ZUELOW, Eric G. (2006): Making Ireland Irish: Tourism and National Identity since the Irish Civil War , Forthcoming from Syracuse University Press. ZUELOW, Eric G. (2007): National Identity and Tourism in 20th Century Ireland: The Role of Collective Re-Imagining , em Nationalism in a Global Era: The Persistence of Nations, Mitchell Young, Eric Zuelow, and Andreas Sturm (edit.), Routledge. VIEIRA, Nelson H. (1991): Saudade, 'morriña' e analepse: o elemento galego na ficção memorialista de Nélida Piñon , em CARREÑO, Antonio (coord. e ed.): Actas do Segundo Congresso de Estudios Galegos. Homenaxe a José Amor y Vázquez, Vigo: Galaxia, 1991, pp. 327-336.

6.2 BIBLIOGRAFIA E CORPUS 6.2.1 CORPUS

ARAHUETES, Alfredo; HIRATUKA, Célio (2007): Relaciones Económicas entre España y Brasil Relações Econômicas entre Brasil e Espanha, Madrid: Real Instituto Elcano de Estudios Internacionales y Estratégicos. AYLLÓN PINO, Bruno (2007): Las relaciones hispano-brasileñas: de la mutua irrelevancia a la asociación estratégica (1945-2005), Salamanca: Ediciones Universidad de Salamanca, Biblioteca América, 34. INSTITUTO GALEGO DE ESTATÍSTICA (2008): Dados estatísticos básicos de Galicia 2008, do Plan Galego de Estatística 2008-AE404, Santiago de Compostela: Xunta de Galicia, www.ige.eu. MARTÍNEZ, IAGO (2007): “Entrevista a Nélida Piñon”, em Protexta: Suplemento da Revista Tempos Novos, nº 2, Primavera 2007, Secção: Protagonistas, pp. 7-12. VILLARINO PARDO, M. Carmen (2001): “A Galiza: um material de repertório priorizado na obra de Nélida Piñon”, em Cadernos Vianenses, v. XXX, Câmara Municipal: Viana do Castelo (Portugal), p. 93-120. VILLARINO PARDO, M. Carmen (2002): “Comunidades emigrantes no Brasil: imprensa, publicações literárias e língua(s) que as veiculam. O caso dos galegos”, em LORENZO, Ramón (coord.) (2002): Homenaxe a Fernando R. Tato Plaza, Santiago de Compostela: Universidade de Santiago de Compostela, pp. 383-395. 6.2.2 OUTRAS COELHO, Paulo (1991): Diário de um Mago, Rio de Janeiro: Editora Rocco Ltda, 64ª ed. FODOR'S SPAIN 2008, ttp://www.randomhouse.com/category/fodors/display.pperl? isbn=9781400018161&cat_id_ex=Europe , www.fodors.com.

LISBOA, Mel (2007): GNT Mundo Afora: Diário de Bordo de Mel Lisboa, Editora Globo: São Paulo. PIÑON, Nélida (1987): A República dos Sonhos, 3ª edição, Livraria Francisco Alves Editora: Rio de Janeiro. SPAIN LONELY PLANET, www.lonelyplanet.com THE ROUGH GUIDE TO SPAIN, www.roughguides.com VILLARINO PARDO, M. Carmen (2000): Aproximação à obra de Nélida Piñon. A República dos Sonhos. (A Trajectória de Nélida Piñon no campo literário brasileiro das últimas décadas), Tese de Doutoramento, USC (versão inédita). 6.3 CONSULTAS ELECTRÓNICAS 6.3.1 CONSULTAS SOBRE TURISMO http://www.spain.info/br/tourspain: Oficina Internacional de Turismo (OIT) - Tourspain de São Paulo http://www.lonelyplanet.com/: Guia LONELY PLANET http://www.fodors.com/ : Guia FODOR'S http://www.roughguides.com/: Guia ROUGH GUIDES www.exceltur.org: Alianza para la Excelencia Turística http://www.tourspain.es/es/HOME/ListadoMenu.htm : web de Tourspain http://www.spain.info/ : web oficial do turismo de Espanha http://www.world-tourism.org: página da OMT http://www.unwto.org/index.php : OMT http://www.usc.es/cetur/ : CETUR, Centro de Estdudos Turísticos da USC http://www.revistahoteis.com.br : múltiplas informações sobre associações, operadoras, faculdades de turismo...) http://www.turismobrasil.info/faculdade-de-turismo.php : Faculdade de

Turismo. http://www.roteirobrasil.jor.br/page2.php?codtipo=4:Jornal diferentes informações também http://www.revistaturismo.com.br/artigos/artigos.htm sobre turismo

de

Turismo,

:múltiplos

artigos

http://www.facasper.com.br/turismo/agenda.php : diversas informações e localização eventos ~turismo FACULDADE CÁSPER LÍBERO http://www.braztoa.com.br/site/home/index.php: brasileira das operadoras de turismo. http://www.revistaturismo.com.br:Revista informações e artigos.

de

web

Tuismo,

da

com

associação

diversas

http://www.feiradasamericas.com.br/layout/congresso/congresso_frameset.p hp?idioma=port. Feira de Turismo, ABAV. 6.3.2 CONSULTAS SOBRE NÉLIDA PIÑON http://www.agal-gz.org/modules.php?name=News&file=article&sid=1953: notícia do 30 de Março de 2005 com manchete: Dia 2 de abril o Concelho de Cotobade vai declarar «Filha Adotiva» a escritora galego-brasileira Nélida Piñon . (Último acesso: 28/07/2008.) http://www.elmundo.es/elmundo/2005/06/15/cultura/1118830353.html

:

notícia Nélida Piñon, una autora brasileña muy vinculada com España . (Último acesso: 28/07/2008). http://www.elpais.com/todo-sobre/persona/Nelida/Pinon/3347/: secção do país sobre Nélida Piñon. (Último acesso: 28 de Julho de 2008.) http://www.fundacionprincipedeasturias.org/esp/04/premiados/trayectorias/t rayectoria808.html : notícia do prémio Principe de Asturias a Nélida Piñon no 2005. (Último acesso:28/07/2008). http://www.nelidapinon.com.br/ : página oficial da autora. (Último acesso: 28/07/2008). http://media.vieiros.com/vieiros/protexta_primavera.pdf Revista Protexto

on-line. (Última consulta Julho 2008). http://www.culturagalega.org/noticia.php?id=5978 : Notícia «Publican en Galicia a versión orixinal de “Vozes do deserto” da brasileira Nélida Piñón mentres Galaxia lle traduce “A república dos soños”». (Último acesso, 25 Agosto 2008). 6.3.3 CONSULTAS SOBRE PAULO COELHO http://www.paulocoelho.com.br/index.html: página oficial de Paulo Coelho. (Último acesso, Agosto 2008). http://www.elpais.com/articulo/internet/Internet/reglon/libro/elpeputec/2008 0717elpepunet_2/Tes : Paulo Coelho celebra sus 100 millones de libros vendidos com los internautas (última consulta Junho 2008). •

Sobre a inauguração da rua com o seu nome em Santiago de Compostela, seguimento brasileiro e galego(últimos acessos, Agosto 2008:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u415213.shtml http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL611273-5602,00.html http://br.truveo.com/Paulo-Coelho-vira-nome-de-rua-naEspanha/id/3384039377 (vídeo-reportagem da notícia). http://apocalipsetotal.blogspot.com/2008/07/escritor-paulo-coelho-vaiganhar-rua.html http://www.elpais.com/articulo/espana/calle/Paulo/Coelho/Santiago/elpepue sp/20080623elpepunac_33/Tes http://www.laopinioncoruna.es/secciones/noticia.jsp? pRef=2008062400_13_200933__Cultura-Paulo-Coelho-dice-vida-cambiotras-recorrer-Camino-Santiago

http://br.youtube.com/watch?v=L014GT6XeT8

(vídeo da conferência de

imprensa).

6.3.4 CONSULTAS SOBRE MEL LISBOA http://viagem.uol.com.br/ultnot/2007/08/13/mellisboa.jhtm http://globolivros.globo.com/busca_detalhesprodutos.asp?pgTipo=BESTSELLERS&idProduto=936 : web de venda e promoção do livro. http://ego.globo.com/Entretenimento/Ego/Noticias/0,,MUL61246-5877,00.h tml http://videochat.globo.com/GVC/arquivo/0,,GO10163-3362,00.html :página do Globo de chat e contacto, neste caso, com Mel Lisboa. http://celebrities.click21.com.br/galeria/galeria.asp?ID=300 : notícia Mel Lisboa recebe amigos em lançamento de livro . http://viagem.uol.com.br/album/mundoafora_album.jhtm: página da secção de viagemda UOL com notícia sobre livro de Mel Lisboa. (Última consulta 25 agosto 2008). 6.3.5 OUTRAS CONSULTAS

http://www.educardpaschoal.org.br/web/fundacao-artigos-ver.asp?aid=26 página com artigo “O universo dos leitores no Brasil”. www.ige.eu : Instituto galego de Estatístita . www.ine.es: Instituto Nacional de Estadística. http://www.caminhodosol.org/index.htm : Caminho do Sol. http://www.caminhodafe.com.br/ : Caminho da Fé. http://www.caminhodaluz.org.br/ : Caminho da Luz.

http://www.caminhodesantiago.org.br/ : Associação Brasileira dos Amigos do Caminho de Santiago, Rio de Janeiro. http://www.santiago.org.br/ : Associação de Confrades e Amigos do Caminho de Santiago de Compostela, São Paulo. http://pt.wikipedia.org/wiki/GNT : Informação sobre o GNT.

7 APÊNDICES 7.1.1 APÊNDICE 1: TABELAS CCEB CORTES DO CRITÉRIO DO BRASIL Classe

Pontos

Total Brasil %

A1

30-34

1

A2

25-29

5

B1

21-24

9

B2

17-20

14

C

11-16

36

D

6-10

31

E

0-5

4

RENDA FAMILIAR POR CLASSE Classe

Pontos

Renda Média Familiar (R$)

A1

30-34

7.793

A2

25-29

4.648

B1

21-24

2.804

B2

17-20

1.669

C

11-16

927

D

6-10

424

E

0-5

207

7.1.2 APÊNDICE 2: SIGLAS ABL Academia Brasileira de Letras ATLAS Association for Tourism and Leisure Education CCEB

Critério de Classificação Econômica Brasil

DXT Dirección Xeral de Turismo

EMBRATUR

Página web do Governo Brasileiro

GNT Globosat News Television IBOPE

Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

IET Instituto de Estudios Turísticos IGE Instituto Galego de Estatística ILGA Instituto da Lingua Galega INE Instituto Nacional de Estadística OIT Oficina Internacional de Turismo OMT Organização Mundial do Turismo PIB

Produto Interior Bruto

SPSS

Statistical Package for Socials Sciences

USC

Universidade de Santiago de Compostela

DOGA Diário Oficial de Galicia

8 APÊNCICE 3: IMAGENS DAS CAPAS DO CORPUS ESCRITO - A REPÚBLICA DOS SONHOS, edição de 1987:

- O DIÁRIO DE UM MAGO, edição de 1991:

- DIÁRIO DE BORDO DE MEL LISBOA, edição de 2007:

- LONELY PLANET SPAIN 2008

- ROUGH GUIDES SPAIN

- FODOR'S SPAIN '08

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.