Da mudança nos paradigmas aos paradigmas da mudança

May 26, 2017 | Autor: Aryana Vicente | Categoria: Interdisciplinarity, Edgar Morin, Interdisciplinary Studies, Human Sciences
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Da mudança nos paradigmas aos paradigmas da mudança: o saber complexo e a questão da interdisciplinaridade
Aryana Vicente de Sousa
O termo interdisciplinaridade tem alcançado, nas últimas décadas, uma enorme repercussão nos vários ambientes escolares e, principalmente acadêmicos, em que a questão da produção do conhecimento torna-se o centro das atenções. Com o advento da globalização em sua fase de mundialização, e com o consequente desenvolvimento das tecnologias de informação, o termo alcançou ainda uma conotação mais explícita na perspectiva de ser uma alternativa ao conhecimento fragmentado proposto pelo retalhamento disciplinar.
O modelo tradicional de divisão disciplinar foi, assim, esgotando suas possibilidades diante daquilo que o filósofo francês Edgar Morin chama de "mundo complexo". Para ele, a complexidade é um fenômeno cognitivo bastante amplo e, exige, antes de mais nada, a compreensão das teias de saberes que organizam os conhecimentos contemporâneos. O conhecimento passa a ser visto assim, não como um mero fenômeno disciplinar definido pelos limites estreitos de cada disciplina, mas sim sujeito a diferentes contribuições de saberes que, provenientes de áreas diferentes, se entrelaçam de maneira a ampliar as possibilidades de entender um determinado objeto de estudo.
A complexidade é, portanto, um processo que se sujeita as práticas interdisciplinares para que estas consigam justamente dar conta das mais variadas facetas dos objetos de estudo. Para tanto, torna-se necessário que o pesquisador aposte em três posturas diante dos objetos do conhecimento:
A construção de relações dialógicas entre a cultura metafórica e a cultura científica: Para Morin, a formação científica deve ser pautada por uma profunda reflexão ética que desencadearia uma ampliação dos meros limites técnicos. Utilizando como exemplo a Medicina, Morin defende a inclusão da disciplina Literatura no currículo dos cursos superiores da área da saúde. Justifica ele sua proposta, alegando que a Literatura é uma "escola de vida", capaz de levar à reflexão sobre os grandes dilemas da existência humana, dilemas estes que deverão ser pensados pelos futuros médicos quando estiverem diante de seus pacientes.
A contextualização das informações obtidas à luz do estabelecimento de relações e busca de significados: As informações são consideradas, por Morin, "matéria – prima do conhecimento". Logo, devem ser submetidas a um profundo processo de estabelecimento de relações entre dados e saberes, a fim de que estas informações possam compor a teia de saberes complexos que ampliam o entendimento dos objetos de conhecimento.
Uma postura de humildade diante do seus objetivo e objeto de estudo, percebendo que toda a produção de conhecimento é sempre parcial: Esta "humildade cognitiva" se revela, antes de mais nada, na consciência de que conhecimentos que tem origem monodisciplinar acabam não oferecendo teias mais complexas para a compreensão dos fenômenos. Nesse sentido, o diálogo entre saberes com origens disciplinares diferentes amplia possibilidade de percepção e compreensão dos fenômenos estudados.
Diante das considerações anteriores, concluímos que as práticas interdisciplinares se colocam hoje como uma resposta necessária dos pesquisadores não apenas para a compreensão de seus objetos de estudo, mas também como um desafio ético para a construção de sociedades em que os fenômenos possam ser vistos sem simplificações maniqueístas ou reducionismos que, ao fim e ao cabo, poderiam ser uma ameaça à própria construção do conhecimento.

Referências
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.




Aryana Vicente de Sousa é mestranda em Ciências Humanas pela Universidade de Santo Amaro (UNISA/SP), pós-graduada em Docência para o Ensino Superior pelo Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas-FMU e membro do GP CONDESIM-FOTÓS/ DGP-CAPES.




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