‘Darwinização’ do jornalismo: evolução, comunicação e transformação

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Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cognitive Science Volume nº 3, Número 1 - Agosto 2015

Artigo

‘Darwinização’ do jornalismo: evolução, comunicação e transformação Aparecido Antonio dos Santos Coelho*

Resumo A proposta deste estudo é mostrar como que, com o rápido avanço e a chegada das novas tecnologias, o jornalismo brasileiro ainda não acompanha com a mesma velocidade tecnológica a sua própria modernização. Enquanto outros setores buscam alternativas para otimizar e aprimorar sua atividade e as de seus profissionais envolvidos, vagarosamente o jornalismo faz ajustes pontuais e, ainda, gradativamente perde-se o medo de implantar novas práticas jornalísticas para contar uma história e, assim, prender o público-alvo, mesmo sob ameaça de produtores de conteúdos que não são do jornalismo. Neste artigo, pontuarei algumas ideias de Squirra, Lima Junior, Shannon, Johnson, Barnes, Kelly, Ferreira, entre outros autores, para analisar a evolução do jornalismo nos dias atuais e quais são as suas saídas.

Palavras-chave Comunicação. Tecnologia. Jornalismo. Narrativas. Redação.

Abstract The purpose of this study is to show how that with the rapid advancement and the arrival of new technologies, Brazilian journalism is not moving in the same speed as its own modernization. While other sectors seek alternatives to optimize and improve its activity and its professionals involved, journalism slowly makes specific adjustments and gradually loses the fear to deploy new journalistic practices to tell a story and, by doing so, hold the targeted audience, even under the threat of content producers not involved in journalism. In this article, I will be writing in order to explain the ideas of authors such as Squirra, Lima Junior, Shannon, Johnson, Barnes, Kelly, Ferreira, etc., so that I can analyze the evolution of journalism in the modern days and what their outputs are.

Keywords Communication. Technology. Journalism. Narratives. Newsroom.

* Jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) e formado em Ciências Sociais (Sociologia e Política) na Escola de Sociologia e Política de São Paulo (ESP/Fespsp). Mestrando em Comunicação e Tecnologia pela Universidade Metodista de São Paulo. Membro do grupo de pesquisa TECCCOG (Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva). E-mail - [email protected]. Currículo Lattes - http://lattes.cnpq. br/3020220084960938.

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Uma questão de evolução

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Os avanços tecnológicos fazem parte de todas atividades humanas. A invenção do fogo, a descoberta da roda, a chegada da primeira e segunda Revolução Industrial, a chegada dos computadores, a tecnologia espacial, os avanços na medicina e a criação e organização da internet mudaram muito a forma com que o homem se relaciona e interage com a máquina. Novas atividades surgem e outras serão arcaicas, sendo assim, a sociedade moderna tenta se adaptar com o rápido avanço científico e tecnológico. Levando em conta que tanto o jornalismo como a tecnologia estão em evolução, podemos considerar que ambos têm proximidade com as ideias do naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882). Mas, levando como parâmetro, que o darwinismo provoca contínuas mudanças em populações de seres vivos, o jornalismo e a tecnologia também passam por mudanças importantes em seus ecossistemas. Veja os referenciais de Darwin para evolução: variação, pois não são semelhantes, mesmo que tenham parentesco; herança e transmissão de características; seleção natural, onde a competição pelos recursos seria determinante para a continuidade da espécie; tempo, onde as mudanças são contínuas; e adaptação, que seria a característica que determina a sobrevivência dos indivíduos em um determinado ambiente. Só sobrevivem os mais fortes ou aptos naquele cenário. O ex-editor e fundador da revista Wired1, Kevin Kelly, mostra que a vida e a tecnologia têm caminhos distintos para evolução (2012.).

Enquanto a ‘vida’ tem a sua tríade da evolução, onde temos o funcional (adaptivo) que se adapta ao ambiente, sobrevive e reproduz como a teoria darwiniana da evolução; histórica (contingente), que é uma evolução que acontece de forma não esperada ou programada, pois

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1 Uma das pioneiras e principais publicações de tecnologia e cultura digital no mundo. Disponível em . Acesso em: 30 de jul. 2015.

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há vários antecedentes para surgir um novo organismo no meio; e a evolução estrutural (ine-

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vitável), que proporciona uma nova história, uma nova estrutura no organismo que se auto organiza devido a outros fatores de interferência como que aponta que o ferrão venenoso da aranha, escorpião, urtiga, arraia, centopeia, peixe-pedra, abelha, água-viva e cobras já evoluíram ao menos 12 vezes devido a força interna de seu organismo auto estruturado. Por outro lado, a tecnologia também acompanha a evolução dos organismos vivos e também tem sua pirâmide com a tríade de evolução tecnológica, o ‘tecnio’, que atende por estrutura (inevitável), histórica (contingente) e intencional (aberto). Nos âmbitos estruturais e históricos, onde o inevitável e o contingente são próximos a evolução da vida. O diferencial está no intencional (aberto), ou seja, está determinado pelo livre arbítrio e pelas escolhas determinadas dos seres humanos (KELLY, 2012). Como por exemplo o advento da internet, onde os usuários de tecnologia modificam a sua estrutura, da mesma forma que outras atividades tiveram modificações nos seus processos, gerando um grande impacto no cotidiano das pessoas. Um dos pioneiros na internet no Brasil, Demi Getscko2 fala, no site de tecnologia “NoReset”, como estamos vivendo uma situação darwiniana na tecnologia que mostra que, por meio desta criação, as pessoas de diversas partes do mundo, que não conhecem o idioma um do outro, conseguem se comunicar pela linguagem do código, proporcionando a evolução da rede, conseguindo desenvolver novos sistemas para que velhas criações abram espaço para as novas criações. Na verdade, os usuários se misturam com os criadores. Se você pensar direito, qualquer pessoa com habilidade consegue gerar novas coisas na rede. Antigamente, computação era uma coisa de marfim, onde só grandes especialistas davam palpite. Com a história da troca de informações, você pode ter programadores que nem falam a mesma língua, e nem se entenderiam no mundo real, mas se entendem no mundo virtual, trocando palavras em linguagem computacional. Eles podem gerar linguagem computacional, sem entender o que falam no dia-a-dia. Porque eles vão trocar pedaços de código. Outra coisa interessante é isso, não é que Internet seja grátis ou que tudo na Internet é grátis, mas sim que ela inventou uma cultura de código aberto, que certamente não tinha antes. Mesmo os sistemas operacionais abertos que existem de monte, hoje, de certa forma, a Internet ajudou os sistemas abertos e os sistemas abertos ajudaram a Internet. É um caminho de duas mãos porque a própria Internet foi escrita de forma aberta. Umas criações sobrevivem, outras morrem. Mas isso é uma condição Darwiniana. Nem todo mundo sobrevive. A evolução vai escolher os melhores, mas você pode criar de monte. (NORESET, 2010)

Sendo assim, a sociedade moderna abraçou a cultura da internet e ela se adapta ao novo invento há pelo menos 20 anos no Brasil. Isso, não deixa de ser diferente no jornalismo. O jornalismo já é um senhor secular, que ajudou e ainda ajuda a contar a história da humanidade.

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2 Demi Getscko é um engenheiro elétrico nascido na cidade de Trieste, na Itália. Ele é considerado um dos pioneiros da internet no Brasil. Atualmente é conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e desde 1995 é diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). Em abril de 2014 foi homenageado com a indicação ao prêmio Internet Hall of Fame, na categoria “Global Connectors”, da instituição Internet Society. É o primeiro brasileiro no hall da fama da internet, que é o panteão das personalidades cruciais para o desenvolvimento da rede.

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Como um historiador do presente, ele sempre está ali acompanhando os piores, bem como os melhores momentos da humanidade. Períodos de paz e de guerra, de fartura e fome. Algum registro jornalístico estará sendo feito em qualquer parte do mundo. No entanto, a tecnologia, que também vem sendo acompanhada pelo jornalismo, não atraiu o interesse dos jornalistas da forma como deveria. Ela agora avança sobre o campo da comunicação e estes profissionais acomodados perdem o bonde da transformação e da mutação de forma dramática, quase como um dramalhão mexicano que é transmitido sempre por uma das principais redes de televisão brasileiras.

Uma questão de comunicação Como sempre, é importante lembrar que a forma de como é feita comunicação ainda não foi alterada. E talvez não seja. O jeito de comunicar é o mesmo, como explica e mostra a teoria da comunicação elaborada por C. E. Shannon, em uma equação matemática elaborada em 1948, sob o título “The Mathematical Theory of Communication”. A fonte de informação é transmitida por um transmissor, onde ele reenvia o sinal por um canal, que atravessa uma fonte de ruído, que por sua vez chega ao receptor, transmitindo a mensagem ao destinatário.

No entanto, a forma de contar a história está mudando radicalmente. O personagem que conta a história do cotidiano ainda não percebeu a sua nova realidade ou tenta entrar em confronto com algo que está em uma evolução sem volta. É como uma questão darwiniana, onde a evolução e as mutações acontecem por questões de adaptação ambiental. O jornalismo brasileiro demorou muito e ainda demora para perceber tal realidade. Desde o surgimento dos computadores, até o início da modernização das redações.

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Em um artigo, Walter Teixeira Lima Junior (2012) mostra que, vagarosamente, os grupos de mídias brasileiros foram introduzindo as tecnologias de comunicação. No entanto, enquanto o veículo paulistano Folha de S. Paulo veio a ser a primeira redação brasileira informatizada, num processo que durou pelo menos 25 anos, o jornal norte-americano The New York Times, já tinha alguma relação com a informação no computador desde o fim da década de 1960 e a agência de notícias Reuters já tinha terminais de computadores interligados na redação. Entretanto, demoramos cerca de duas décadas para inserir tais equipamentos no cotidiano profissional do jornalista brasileiro. No final dos anos 60 e início dos 70 do século passado, o The New York Times estruturou o primeiro banco de dados, que foi inserido nas etapas de produção da notícia. A agência de notícias Reuters, em 1968, foi pioneira a utilizar máquinas computacionais nas conexões da sua rede interna para gerenciar a demanda de notícias recebidas (LIMA JUNIOR, 2012).

Com o avanço da internet e a sua liberação comercial pela Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel), em 1995, os jornais tentaram se antecipar a novidade. Construíram sites e portais de internet como o jornal O Estado de S. Paulo, que desenvolveu o site da Agência Estado, onde propagava informação pela rede a todo instante, notícias que, em parte, também estariam na edição impressa em outros jornais do grupo como o Jornal da Tarde e a rádio Eldorado. O jornalismo também começou a buscar novas formas de transmitir a informação, fugindo do tradicional artigo, áudio e imagem que, com a chegada da web, se tornaram um complemento informacional (SQUIRRA, 2012, p.107). Esse universo digital está na Ciência da Computação que, dentro de uma faixa dos últimos 60 anos das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s), gerou muitas mudanças na sociedade contemporânea. Ou seja, com a máquina computacional, o conhecimento humano ganhou novos domínios, como ciência voltada aos computadores (LIMA JUNIOR, p. 51, 2011). Sendo assim, houve um novo patamar no jornalismo, que trouxe modificação nos processos, imensa concorrência e pouca informação disponível no mercado. [...] os meios de comunicação analógicos, surgidos a partir das concepções econômicas da Revolução Industrial, cujo mercado estruturado teve como base os modos de produção baseados na escassez da informação, enfrentam a concorrência de múltiplas plataformas digitais” (LIMA JUNIOR, 2010, p. 2).

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Uma questão de transformação

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O jornalismo brasileiro, como em boa parte no mundo, está em crise com o seu modelo tradicional de financiamento, crise de credibilidade, entre outras demandas. Mas, uma das principais considerações que se deve apontar é o receio de inovação. Quase todos os meses temos notícias de demissão de jornalistas nos grandes grupos de mídia e também nos médios e nas pequenas empresas jornalísticas. Sendo assim, os donos das empresas de comunicação junto com especialistas do setor devem buscar saídas para que o seu jornalismo, que tradicionalmente foi montado e lapidado em cima de uma mídia, não se perca ou se torne arcaico. Até mesmo o The New York Times, que é um jornal tradicional e influente no mundo inteiro, segue cortando empregos para priorizar os investimentos no digital, como a própria publicação anunciou em seu site3. Pode ser algo momentâneo, doloroso, mas eles estão conseguindo vagarosamente manter um bom resultado, pelo menos o número de assinantes não caiu. O lucro foi menor, mas a base de assinantes no digital cresceu4. No entanto, cabe considerar que o jornal norte-americano já possui uma estrutura bem resolvida, profissionais preparados para produzir um bom conteúdo que atenda às necessidades de seus leitores espalhados pelo mundo. Ou como a própria emissora de televisão britânica, British Broadcast Corporation (BBC) que, ao mudar sua sede em Londres para instalações

3 New York Times Plans to Eliminate 100 Jobs in the Newsroom. Disponível em: . Acesso em: 18 jun. 2015.

maiores, melhorou o fluxo de trabalho, configurando a sua redação em formato estrela – onde cada ponta é uma editoria e no centro dessa mesa, as principais decisões são tomadas em conjunto pelos editores responsáveis que já estão próximos e prontos para definir e publicar as informações nos veículos da rede BBC. Sendo assim, como pode ser feita uma mudança no Brasil? As redações deveriam ser modernizadas. Elas precisam de novos formatos, onde o fluxo da notícia siga um caminho mais objetivo e rápido, que faça com que o conteúdo possa ser melhor lapidado. Pelo mundo afora, há redações que adotam o formato estrelar ou semicircular, onde as notícias que chegam são rapidamente avaliadas e preparadas para o público. Cabe considerar que as redações devem dar mais espaço para os núcleos de dados, pois, as informações ganharam novo fluxo com a melhoria tecnológica e o avanço da internet. A informação ainda permanece nas fontes tradicionais. As fontes oficiais e ocultas precisam ser conservadas, no entanto, outras informações podem ser encontradas direto na web e por meio destas informações, novas histórias podem ser contadas. Os dados abertos e sua exploração devem fazer parte do dia a dia do jornalista para fazer uma apuração precisa e, assim, produzir informações relevantes para a sociedade.

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4 New York Times reduz lucro, mas aumenta base de assinantes digitais. Disponível em: . Acesso em: 18 jun. 2015.

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Fonte: The Broadcast House, BBC.

As informações podem ser captadas da comunidade, de um determinado local, cruzando estes dados com séries históricas, com dados mais específicos, para, assim, comparar, entender, aprofundar e contar melhor a história. A prática do hacking journalism, onde um jornalista, um cientista de dados ou um especialista em computação devem trabalhar juntos para avançar e conseguir melhores informações. As plataformas públicas e de Open Data podem e devem ser aproveitadas por especialistas em programação e jornalismo, com a tarefa de utilizar as informações obtidas de forma profissional e relevante socialmente. A transparência proporcionada por uma política de acesso livre possibilita ao profissional de jornalismo multidisciplinar obter importantes informações escondidas nas bases de dados públicas ou abertas (LIMA JUNIOR, p. 63, 2011)

Para isso é importante ressaltar que o jornalismo cívico (ou público) fez com que os profissionais de imprensa se tornassem mais comprometidos com seu público-alvo ou públicoleitor. Pois, aos leitores interessa como que as questões que estão no seu entorno podem impactar e como isso afeta sua vida no dia a dia. O jornalismo tem que romper a barreira e a zona do conforto. Tem que ir mais além para se tornar sempre atraente e fundamental para a sociedade como um alimento. O leitor busca “alimento” para continuar vivendo, o jornalismo precisa ser

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como um elemento essencial na vida dele. E sempre com a evolução da sociedade, o jornalismo tem que acompanhar seus movimentos, jamais deve ficar estático, ou este “alimento” será esquecido e o leitor trocará de cardápio para satisfazer as suas necessidades. Uma das ideias importantes surgidas nas últimas décadas foi a concepção de jornalismo público (ou cívico), que, no essencial, encoraja uma imprensa mais comprometida com os cidadãos, que facilite o seu envolvimento nas questões que lhe digam respeito e lhes interessem. No espírito dos seus impulsionadores, recuperava-se algo das ideias inspiradoras do pedagogo e crítico da imprensa John Dewey, que nos anos 20 do século passado afirmava a necessidade de os jornais irem além do puro relato de eventos para se tornarem instrumento de educação, debate e discussão estruturada acerca de temas de interesse público (FERREIRA, p. 70, 2011).

As redações devem ser integradas com as redes sociais para criar maior proximidade com o seu público. A autora Ana Brambilla aponta que o cidadão é cada vez mais o cidadão-repórter e, por isso, o jornalista deve assumir cada vez mais o papel de curador de conteúdo, captando e aprimorando as informações vindas de fora e, depois, lançar de volta com novas atualizações e aplicação técnica para que o texto fique agradável para o consumo da informação. A ideia de fazer de cada cidadão um repórter foi adotada em inúmeras partes do mundo, despertando no público um olhar seletivo diante da realidade. Essa consciência de registrar fatos e de submeter esse material aos canais de conteúdo colaborativo de sites jornalísticos foi amadurecida com a popularização das iniciativas dos veículos em tornarem-se abertos às contribuições do público. (BRAMBILLA, 2011, p.98)

Conclusão Olhando a evolução deste setor, é seguramente sustentável colocar que, atualmente, as múltiplas formas das convergências tecnológicas digitais configuram-se como elementos estruturantes para todas as ações dos jornalistas. Isto porque o comportamento do mercado vem demarcando que, para competir eficazmente na vida profissional (na academia ou fora dela), o conhecimento e o pleno domínio das tecnologias digitais são antecedentes conceituais imprescindíveis que diferenciam positiva ou negativamente um especialista do outro. (SQUIRRA, 2012) O jornalismo que não percebe as evoluções tecnológicas no horizonte está para um dinossauro que espera o grande cometa colidir com a Terra. Este artigo trouxe uma breve reflexão sobre como que o jornalismo corre o risco de perder o bonde da inovação caso ele não rompa dogmas e mude suas próprias questões culturais. Há muitas coisas em jogo, como a cri-

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se financeira, de credibilidade, a desmotivação de profissionais capacitados e uma quantidade considerável de profissionais mal preparados vindos de instituições que também não acompanharam os passos evolutivos da área e, assim, de alguma maneira “perderam o bonde”. Por isso, os profissionais de jornalismo e de comunicação devem se arriscar mais na aplicação de novas narrativas, abrindo espaço para as contribuições colaborativas que ajudam o profissional da área a produzir e elaborar uma melhor história, investigar e apurar melhor o factual que acontece a todo instante em qualquer lugar do país e do mundo. Sendo assim, a aplicação de novas técnicas e a preparação dos profissionais para o uso de novas ferramentas para tentar engajar e atrair o leitor são importantes e cruciais para desenvolver melhor o jornalismo. Ou então, as empresas tradicionais de comunicação correm o risco de desaparecer como os dinossauros e o grande cometa que vai atingir a Terra são os prosumers, teoria de Alvin Tofler sobre pessoas que produzem e consomem seu próprio conteúdo. A tecnologia já substitui a atribuição do jornalista em algumas funções como, por exemplo, as informações do tempo e do trânsito. Até mesmo, já temos, pelo menos nos Estados Unidos, robôs jornalistas que escrevem textos rapidamente, sendo que a nova geração de robôs poderá ter alguma capacidade de fazer análises e prognósticos. Os profissionais do jornalismo devem repensar sobre seus próprios rumos, pensar em uma modernização, revolução interna ou até mesmo vinda de fora, com novos veículos que pensam novas formas de produzir conteúdo, ou então, o cometa atinge a Terra e todos os dinossauros serão extintos e sem exceção e nem piedade.

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Expediente São Paulo, v.3, n.1, ago 2015 ISSN: 2357-7126 INSS-L: 2357-7126 Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cognitive Science é produzida pelo Grupo de Pesquisa Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, credenciado pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo. A revista do TECCCOG é uma publicação científica semestral em formato eletrônico e foi lançada em setembro de 2013. A Comunicação Social, enquanto campo do conhecimento pertencente à área das Ciências Sociais Aplicadas, dispende contínuos esforços no sentido de estabelecer e compreender os fenômenos científicos comunicacionais sob uma perspectiva inter e transdisciplinar. Assim, o foco científico da publicação mira a complexidade das relações entre ciência e tecnologia e os seus impactos cognitivos no ser humano e na sociedade. A proposta é acompanhar e compreender cientificamente os caminhos trilhados pela evolução tecnológica no campo da Comunicação Social, construindo ferramentais teórico-metodológicos nas pesquisas na área, se adaptando também aos instrumentos de verificação desenvolvidos em outras áreas do conhecimento – em especial, na Ciência Cognitiva. É, portanto, um campo de profunda investigação científica, de ação e métodos transdisciplinares, para avançar na compreensão de como as informações são absorvidas, transmitidas e processadas pelo sistema sensorial e pelo conjunto mente/cérebro do ser humano Editor Walter Teixeira Lima Junior Editora da edição v.3, n.1, ago 2015 Krishma Carreira Comissão Editorial Walter Teixeira Lima Junior (Universidade Metodista de São Paulo) * Lúcia Santaella (Pontíficia Universidade Católica de São Paulo) * Luis Martino (UNB) * João Eduardo Kogler (Universidade de São Paulo) * Ronaldo Prati (Universidade Federal do ABC) * Ricardo Gudwin ( Universidade Estadual de Campinas) * João Ranhel (Universidade Federal de Pernambuco) * Eugenio de Menezes (Faculdade Cásper Líbero) * Reinaldo Silva (Universidade de São Paulo) * Marcio Lobo (Universidade de São Paulo) * Vinicius Romanini (Universidade de São Paulo) Conselho Editorial Walter Teixeira Lima Junior (Universidade Metodista de São Paulo) * Lúcia Santaella (Pontíficia Universidade Católica de São Paulo) * Luis Martino (UNB) * João Eduardo Kogler (Universidade de São Paulo) * Ronaldo Prati (Universidade Federal do ABC) * Ricardo Gudwin ( Universidade Estadual de Campinas) * João Ranhel (Universidade Federal de Pernambuco) * Eugenio de Menezes (Faculdade Cásper Líbero) * Reinaldo Silva (Universidade de São Paulo) * Marcio Lobo (Universidade de São Paulo) * Vinicius Romanini (Universidade de São Paulo) Assistente Editorial Walter Teixeira Lima Junior Krishma Carreira Projeto Gráfico e Logotipo Danilo Braga * Walter Teixeira Lima Junior * Leandro Tavares Editoração eletrônica Eduardo Uliana

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