De Buenos Aires para o Rio de Janeiro: a transferência da Coleção De Angelis para a Biblioteca Nacional do Brasil

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Mestra pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Bolsista CAPES. 2 Chegado em Buenos Aires em 1827 durante o governo de Bernardino Rivadavia, Pedro de Angelis foi o principal periodista do regime de Juan Manuel de Rosas, e também arrendatário da Imprenta del Estado, o que o fez um dos mais qualificados tipógrafos e impressores do Prata. Incentivado financeiramente e com a prensa pública em suas mãos, foi no longo período em que a Província de Buenos Aires foi comandada por Rosas (1829-1832) e (18351852) que De Angelis realizou a maior parte do seu trabalho. Assim, enquanto editava e redigia os periódicos La Gaceta Mercantil, El Lucero, Le Flaneur, El monitor, Los Muchachos, El Restaurador de las Leyes e o mais importante deles, o Archivo Americano (no qual se posicionava a favor e mesmo defendia a política de Rosas em nome do governo), aventurava-se na escrita da história, influenciado pela prática colecionista que mantinha com paixão. 3 O catálogo pode ser visualizado na Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes. Disponível em: . Acesso em: 05/09/2014. 4 Um exemplo é a edição e a publicação, de 1835 a 1837, da Colección de obras y documentos relativos a la historia antigua y moderna de las provincias del Río de la Plata. A obra é uma coletânea de documentos ao estilo

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econômicas, através da venda de seus livros e documentos ao Império Brasileiro. A transferência do acervo de Pedro de Angelis de sua casa em Buenos Aires para a Biblioteca Nacional do Brasil localizada no Rio de Janeiro é o tema central de nossa comunicação. Antes, no entanto, devemos pensar como Pedro de Angelis conseguiu se apropriar de tantas obras impressas e tantos documentos manuscritos que tratavam, em sua maioria, da história do espaço platino. PEDRO DE ANGELIS E O COMÉRCIO DA HISTÓRIA 5 Não há como saber quando De Angelis iniciou a coletar e a guardar escritos para si. Talvez esse tenha sido um interesse que o acompanhou desde o Velho Mundo; é possível mesmo que tenha trazido ao Prata vários exemplares que já detinha na Europa. Nas sessões “Poligrafía, Filosofía e Bellas Artes e “Derecho Público y Economía Política” de seu catálogo há diversos títulos que não são rio-platenses e que tem a data de publicação anterior ao ano de sua chegada na América, como dicionários, enciclopédias, tratados de filosofia e de direito e obras que tratam a história e a arte europeias (ANGELIS, 1852a, p. 119-130; SABOR, 1995, p. 161), o que pode indicar o traslado de alguns de seus livros para esse lado do Atlântico. Certo é que desde que chegou em Buenos Aires, em 1827, Pedro de Angelis iniciou um esforçado trabalho de busca por obras e papeis que pudessem fazer parte de sua coleção, passando a interessar-se especialmente pelos materiais que possibilitassem o estudo da América e da região do Rio da Prata. Por esta razão, a maior parte de sua biblioteca era dedicada à história platina. Mas como De Angelis teria conseguido reunir em suas mãos um número tão grande de livros e fontes históricas sobre o passado da região que o recebeu? A história da formação da coleção americana deste erudito é envolta em polêmica. Muitos de seus contemporâneos acusaram-no de ter roubado as obras e o conjunto de documentos que possuía dos arquivos e bibliotecas públicas durante o governo de Juan Manuel de Rosas, do qual, como já afirmamos, De Angelis havia sido funcionário; daí os epítetos de “bribón”, “mal italiano” e “ladrón” que as plumas de Florencio Varela e José Rivera Indarte, por exemplo, atribuíram-lhe (DÍAZ MOLANO, 1968, p. 303). Com esse último, Pedro de Angelis chegou a realizar uma discussão pública a respeito da origem de sua biblioteca. Ao passo que Rivera Indarte imputava ao italiano a acusação de roubo no jornal El Nacional de Montevideo em julho de 1843 6, De Angelis se defendia e devolvia a mesma denúncia ao membro da Geração de 1837 em uma série de escritos publicados de julho a setembro do mesmo ano nos periódicos buenairenses La Gaceta Mercantil e Archivo Americano y Espíritu de la Prensa del Mundo. Não é possível, com as fontes que dispomos, afirmar ou refutar a hipótese de que De Angelis furtou documentos. Temos a sua palavra contra a de seus denunciantes. O que podemos observar através dos textos do italiano é uma eloquente tentativa de demonstrar os gastos e investimentos pessoais que """"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""" da Monumenta Germanie Historia, publicada na Alemanha em 1826, da Colección de Documentos para la Historia de México, lançada em 1858 no México por Joaquin García Icazbalceta, e tantas outras compilações monumentais editadas no decorrer do século XIX. Nela, Pedro de Angelis selecionava aquilo que faria parte e o que seria excluído do corpus histórico nacional (WASSERMAN, 2008), “olvidando” certos documentos em detrimento de outros, “o no haciéndolo” (BOUZA, 1998, p. 49). A Colección de obras y documentos foi impressa por De Angelis na Imprenta del Estado, sob os auspícios e com o patrocínio de Rosas; ao patrocínio e apoio, o erudito retribuiu no Primeiro Tomo da obra com uma homenagem – um retrato do governante com uniforme e os dizeres “General Rosas” – e uma reverente dedicatória. 5 Entre abril e junho de 2013, a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro promoveu uma exposição chamada “Pedro de Angelis e o comércio da história”. Nela, estavam expostos os mais raros e expressivos manuscritos e mapas da Coleção De Angelis. Sobre o nome da exposição não havia grande explicação, a não ser alguns parágrafos no material de divulgação e nos banners que iniciavam a visitação. Eles diziam que aqueles documentos haviam sido adquiridos pelo Império Brasileiro do italiano Pedro de Angelis, que desde a metade do século XIX eram propriedade da nossa Biblioteca Nacional e que, hoje, estavam custodiados no seu setor de Manuscritos e Cartografia. Tomo emprestado o titulo da exposição para nomear a seção desta comunicação na qual busco compreender as formas de apropriação da coleção de documentos por Pedro de Angelis e narrar a história de sua venda ao Brasil. 6 O artigo de Rivera Indarte foi publicado ao longo de muitos números do El Nacional e foi intitulado “Acusaciones y calumnias del degollador Rosas contra extranjeros, publicadas en el British Packet y La Gaceta Mercantil”. As partes dedicadas especificamente às criticas à Pedro de Angelis estão nos números 1363 (1° de julho de 1843), 1364 (3 de julho de 1843) e 1365 (4 de julho de 1843).

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realizou na compra de sua biblioteca. No número 5.942 de La Gaceta Mercantil, editada em 19 de julho de 1843, Pedro de Angelis afirma que: Hay muchos pocos en Buenos Aires que ignoran que yo he gastado sumas ingentes para formar mis colecciones. Tengo cuentas y recibos de mis libreros de Londres y París, que importan lo que me hubiera alcanzado a poblar una estancia. Lo que tengo he adquirido con mi dinero, sin pararme en gastos. Lo que digo de los libros y papeles, comprende también a mis muebles. 7 Já no Archivo Americano de número 7, publicado em 30 de setembro de 1843, De Angelis, que era editor do periódico, ironiza as denúncias de Rivera Indarte utilizando passagens de sua história de vida e, mais uma vez, defende a legitimidade da obtenção da coleção que guardava em casa (não só de documentos e obras, mas de medalhas antigas 8): El Editor del Archivo fue ayo de los hijos del Rey Murat 9, ergo robó las alhajas de la Reina: tiene papeles, ergo los ha robado a los Archivos públicos: ¡tiene medallas, ergo las ha sustraído del Museo! Por este estilo podría declarar mal habido todo cuanto existe en nuestra casa en que, gracias a Dios, nada ha entrado que no haya sido adquirido legítimamente. Sobre documentos hemos dicho lo suficiente para manifestar su origen […]. (ANGELIS, [1843] 2009, p. 103) No legajo “Archivo de Pedro de Angelis” do Archivo General de la Nación de Buenos Aires, encontramos uma série de correspondências destinadas ao erudito italiano e algumas escritas por ele, nos quais se evidenciam esse “comércio” de obras e de documentos históricos. Há, por exemplo, um conjunto de cinco cartas endeçadas à De Angelis por Casimira Ximénez de Cabrer entre os anos de 1843 e 1844. Casimira era a viúva de José María Cabrer, um engenheiro militar, geógrafo e demarcador dos limites entre Portugal e a Espanha durante o Vice-Reinado do Rio da Prata, falecido em Buenos Aires em 1836. Na missiva datada em 20 de julho de 1843, ou seja, um dia depois da publicação do citado artigo de Pedro de Angelis em La Gaceta Mercantil, Casimira de Cabrer pede que De Angelis intervenha para que ela receba a parte que lhe cabe nas negociações de alguns documentos que pertenciam ao seu marido e que o erudito havia comprado de um intermediador, a quem a viúva se refere como “Sr. Fischer” 10. A partir daí, aparentemente, De Angelis passa a negociar documentos com a própria Casimira de Cabrer, provavelmente motivada pelas dificuldades e enfermidades pelas quais relata estar passando na carta já citada 11. Desta forma, a viúva avisa em missiva de 22 de julho de 1843 estar enviando ao italiano mapas confeccionados por Cabrer 12 e apenas quatro dias depois envia nova correspondência à De Angelis agradecendo-lhe o envio de 600 pesos (“el precio que V. ha puesto es el más justo”, enfatiza ela) referentes ao pagamento de um caderno pertencente ao seu esposo 13. Esses são os vestígios de somente uma das transações que Pedro de Angelis realizou com as famílias de sujeitos que participaram de empresas de demarcação de limites nos últimos anos do domínio espanhol, como a de Cabrer, e também a de Cerviño e a de Zizur (PODGORNY, 2011, p. 35; CRESPO, 2008, p. 301). De Angelis articulava uma rede de sociabilidade em torno de sua coleção, comprando, trocando e ganhando manuscritos, obras, saberes e práticas, através de correspondências com outros intelectuais e eruditos. Segundo Sabor (1995), Crespo (2008) e Podgorny (2011), as obras e os manuscritos eram oriundas não somente das negociação das heranças de funcionários da administração """"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""" 7

La Gaceta Mercantil, Buenos Aires, n. 5.942, 19 de julio de 1843. Segundo Buonocore, Pedro de Angelis era um “apasionado coleccionista de papeles, libros, cuadros, reliquias históricas, medallas, monedas, grabados, muebles” (1959, p. 287). 9 Na Itália, o erudito havia sido professor de italiano e geografia dos filhos do rei Joaquín Murat. 10 Carta de Casimira Ximénez de Cabrer a Pedro de Angelis, 20 de Julio de 1842. Archivo de Pedro de Angelis. Archivo General de la Nación, Buenos Aires. Sala VII. 11 Idem. 12 Carta de Casimira Ximénez de Cabrer a Pedro de Angelis, 22 de Julio de 1842. Archivo de Pedro de Angelis. Archivo General de la Nación, Buenos Aires. Sala VII. 13 Carta de Casimira Ximénez de Cabrer a Pedro de Angelis, 26 de Julio de 1842. Archivo de Pedro de Angelis. Archivo General de la Nación, Buenos Aires. Sala VII. 8

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colonial, mas também das compras realizadas através de livreiros — “el librero John Russel Smith era su mayor proveedor” (CRESPO, 2008, p. 303) — e de exaustivas pesquisas realizada por Angelis em outras coleções e bibliotecas pessoais, como as de José Joaquín de Araújo, do padre Saturnino Segurola, de Tomás Manuel de Anchorena, de Baldomero García, de Luís de la Cruz. Além disso, Pedro de Angelis realizava buscas em depósitos e arquivos públicos, como a Biblioteca Pública, os arquivos do Fuerte de Buenos Aires, o Archivo General de la Provincia de Buenos Aires (os únicos e caóticos existentes em Buenos Aires naquele período), e o Departamento Topográfico. Sem dúvidas, a proximidade com o governo de Juan Manuel de Rosas facilitou o acesso de Pedro de Angelis às instituições de guarda de obras impressas e de documentos administrativos. Foi isso, aliás, o que levantou mais suspeitas em relação à possível apropriação de papeis públicos realizada pelo italiano. Em 1840, De Angelis foi nomeado por Juan Manuel de Rosas segundo arquivista do Archivo General de la Província de Buenos Aires, onde trabalhou até 1852 (SABOR, 1995, p. 172). Ademais disso, diversas vezes o colecionador obteve a permissão do governante para retirar os materiais que desejasse dos órgãos do governo de Buenos Aires, ainda que com prazo definido para devolução dos itens. Segundo Sabor, enquanto realizava pesquisa para escrever a “Memória histórica sobre los derechos de soberania y domínio de la Confederación Argentina a la parte austral del Continente Americano”, obra encomendada por Juan Manuel de Rosas para sustentar “la defensa y seguridad de los derechos de la República” (DE ANGELIS, 1852b, p. 243) argentina à posse da região austral que fazia limite com o Chile e que foi publicada em 1852, Pedro de Angelis solicitou diversas vezes ao governo que autorizasse seu acesso aos documentos do Departamento Topográfico (SABOR, 1995, p. 172). Uma troca de cartas ocorrida entre o erudito e Rosas quatro anos antes da edição da “Memoria Historica” demonstra um destes pedidos e sua respectiva aprovação, agora sobre a utilização de uma obra guardada na Biblioteca Pública de Buenos Aires. Em 23 de janeiro, De Angelis relatava ao seu superior que estava ocupado de “terminar la memoria sobre el Estrecho de Magallanes” e que para este trabalho precisaria “lo mas pronto que sea disponible una obra que existe en la Biblioteca Publica, y cuyo título es ‘Historia de Chile del Dr. Vicente Carvallo y Goyeneche” 14 . Juan Manuel de Rosas escreveu em resposta, em 15 de fevereiro do mesmo ano, que estava remetendo uma “orden para que el encargado de la Biblioteca entregue à V. la obra enunciada”. Antes de terminar a correspondência, o governador reafirmou o empréstimo de obras à De Angelis: “Cualquiera obra, ú obras, que V. necesitase, diciendome V. las que fueren, pondré iguales ordenes” 15 É importante ressaltar que nem todos os manuscritos que constavam na coleção de Pedro de Angelis e que aparecem em seu catálogo se tratam dos documentos originais. Se não há como confirmar se o erudito devolvia os materiais que lhe eram emprestados, podemos verificar que era uma prática sua procurar e consultar as peças existentes nas outras bibliotecas pessoais e nas instituições públicas de guarda de documentos, e encomendar a realização de cópias manuscritas das fontes históricas que lhe interessavam. No texto publicado por De Angelis em 1843 no periódico La Gaceta Mercantil, já citado anteriormente, o colecionador informa que “por muchos años he tenido dos y tres amanuenses para sacar copias de los documentos que ahora forman parte de mi Colección; y esto no lo hacen los que roban” 16. Em 1835 o erudito já havia feito referência à utilização do trabalho dos copistas em sua tarefa de coletar de documentos. Em uma carta enviou ao seu amigo Florentino Castellanos, De Angelis comentava as atividades que realizava e as dificuldades que enfrentava para editar sua principal obra, a Colección de obras y documentos relativos a la historia antigua y moderna de las provincias del Río de la Plata. Dizia o italiano: La obra que he emprendido [a “Colección de obras y documentos] me tiene ocupado incesantemente, porque á mas de mi intervencion como editor, o impresor, tengo que decir algo por mi cuenta, y hacer mis recherches, para """"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""" 14

Apuntaciones cambiadas entre Don Pedro de Angelis y el gobernador Don Juan Manuel de Rosas, relativas a la memória sobre el Estrecho de Magallanes, y préstamo de libros de la Biblioteca Pública. In: BECÚ, Teodoro; TORRE REVELLO, José. La Colección de Documentos de Pedro de Angelis y el Diario de Diego de Alvear. Buenos Aires: Talleres S.A. Casa Jacobo Peuser Ltda., 1941, p. p. XLVII. 15 Idem. 16 La Gaceta Mercantil, Buenos Aires, n. 5.942, 19 de julio de 1843.

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acertar con lo que tengo que decir. Agregue Ud. la escasez de obras que consultar de hombres versados en esta clase de disquisiciones; y por fin la brega que tengo con los amanuenses, los impressores, los lenguaraces, los vocabularios imperfectísimos de idiomas indios, y decida Ud. si sobran motivos para enloquecer á un viviente. 17 [grifo nosso]. O trabalho de classificação, ordenação e análise de documentos e obras sob a forma de coleções ou de catálogos realizado por Pedro de Angelis teve para o erudito uma utilidade bastante pessoal. De Angelis sabia que “colecciones sin catálogos se volvían inservibles, frágiles y poco valiosas o, más precisamente, valían como mero lote de papel” (PODGORNY, 2011, p. 38) O catálogo de obras de 1852 de que falamos logo no início do artigo, intitulado “Colección de obras impresas y documentos que tratan principalmente del Río de la Plata”, formada por Pedro de Angelis”, foi redigido e editado por ele, provavelmente, para facilitar a venda de sua coleção e de sua biblioteca, em um momento em que não tinha mais ofício em Buenos Aires após a queda de Juan Manuel de Rosas. A venda ocorreu em fins de 1853 e o destino final do acervo foi o Rio de Janeiro. Esse foi o desfecho de um longo período de negociações iniciado em 1837, quando o napolitano contatou pela primeira vez o diplomata russo no Brasil, Henri Jules Walleinstein com o intuito de dar início às suas relações com a elite ilustrada do lado de cá do Rio da Prata. Na correspondência trocada entre De Angelis e Walleinstein, pode-se verificar que Pedro de Angelis intentava negociar há muito tempo a sua biblioteca, além oferecer os seus trabalhos como pesquisador ao Império Brasileiro 18. A relação era intermediada pelo diplomata, que, àquela época, somente conseguira incluir o erudito italiano à lista de sócios honorários do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. As negociações foram reiniciadas em fins de 1852 ou já em 1853, conforme indicam uma série de correspondências trocadas entre o desembargador Rodrigo Pontes, que então vivia em Buenos Aires, ao ministro Paulino de Souza 19. Em 8 de abril de 1853, Pontes escrevia a Souza informando: Fiz constar a Dom Pedro de Angelis, como creio já haver participado a V. Exa., quanto V. Exa. me tinha escrito relativamente ao negócio da Biblioteca; e passo a transcrever o que a tal respeito me disse êle em carta de 2 do corrente, que me foi entregue óntem. Falando daquele negócio disse pois: “... je dois vous prier de faire tout ce qui sera en votre pouvoir, pour engager S. Ex. Mr. le Ministre Paulino de m’accorder as protection. Je place em lui toutes mes esperances: sans cette resource il me serait imposoble de me deraciner de ce mauvais terrain, où je ne fais que m’abroutit. Je lui em aurais une reconnaissance eternelle”. (apud: SOARES DE SOUSA, 1946, pp. 60-61) Esta carta citada por Rodrigo Pontes foi respondida pelo diplomata no dia 3 de maio do mesmo ano. Nela, ele afirmava: “Tenho presentes duas cartas suas. De uma copiei eu algumas expressões que transmito ao Sr. Paulino, e a outra, que foi a última, remeti ao mesmo Senhor, no próprio original: Em ambas estas ocasiões advoguei a causa de V. Ex. com todo o interesse e amizade” (apud: SOARES DE SOUSA, 1946, p. 61). Sobre isto, em 4 de julho, Pedro de Angelis escrevia a Duarte da Ponte Ribeiro: Dignou-se o sr. Ministro Paulino de me oferecer a sua valiosa proteção... As perdas que sofri nêstes últimos tempos me obrigaram a desfazer-me de minha biblioteca, e o que tem mitigado um pouco a minha dor, foi poder coloca-la """"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""" 17

Carta de don Pedro de Angelis, a Don Floro Castellanos, sobre sus tareas editoriales, la publicación de documentos históricos y envio de algunos impresos. In BECÚ, Teodoro; TORRE REVELLO, José. La Colección de Documentos de Pedro de Angelis y el Diario de Diego de Alvear. Buenos Aires: Talleres S.A. Casa Jacobo Peuser Ltda., 1941, pp. XLIV-XLV. 18 A correspondência entre De Angelis e Walleinstein se encontra na Biblioteca Nacional e foi estudada por Jaime Cortesão na introdução do primeiro tomo da Coleção de Angelis (CORTESÃO, 1951). 19 As correspondências foram redigidas por José Antônio Soares de Sousa em um artigo intitulado "Como se adquiriu a Livraria de Pedro de Angelis" publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasiliero em 1946.

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em mãos do ilustrado Governo Brasileiro. (apud: SOARES DE SOUSA, 1946, p. 61) Em dezembro de 1853, De Angelis veio ao Brasil para fechar a negociação. Neste momento, Paulino de Souza já havia deixado o Ministério, e a finalização da compra da coleção de Pedro de Angelis foi conduzida pelo ministro Limpo de Abreu. Uma sessão na sede do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, na qual Angelis fora lisonjeiramente recebido pelo imperador D. Pedro II, pela imperatriz D. Tereza e pelos ministros da Corte, selava os trâmites 20. O Império Brasileiro adquiria então, ao preço de oito mil pesos (SABOR, 1995, p. 133), 1.785 obras impressas e 1.291 documentos manuscritos e mapas, planos e plantas (CORTESÃO, 1951, p. 45). A maior parte da coleção foi acondicionada na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, onde até hoje é um dos acervos mais estimados da instituição, sob o título de “Coleção Pedro de Angelis”. Certos documentos foram destinados ao Arquivo do Ministério dos Negócios Estrangeiros, evidenciando a importância que aqueles papéis tinham para os interesses políticos do Império e para a demarcação das fronteiras do Estado Nacional, enquanto que algumas obras duplicadas foram encaminhadas ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Em um relatório redigido em 1854, o Secretário do IHGB Joaquim Manoel de Macedo comemorava a chegada dos exemplares: [...] assignalamos o notável favor, com que o governo de sua magestade honrou o nosso instituto mandando engrossar a sua bibliotheca com diversas obras que, provenientes de uma abundante livraria ultimamente comprada, sobravam à biblioteca nacional: recebemos pois, graças a essa patriótica doação, não menos de 112 volumes. Entre as obras assim obsequiosamente concedidas ao instituto figuram algumas bem raras edições dos séculos XVI e XVII, cujos exemplares não será fácil encontrar ainda em algumas bibliothecas de apaixonados biblióphilos. (MACEDO, 1854, p. 22) Festejados no Rio de Janeiro, a concretização da venda e o deslocamento da coleção de Pedro de Angelis ao território brasileiro foram acontecimentos lamentados em Buenos Aires e em Montevidéu. Afinal, até então tratava-se de um dos maiores conjuntos de documentos, manuscritos e obras impressas sobre a história colonial e pós-independentista do Rio da Prata sob a guarda de um colecionista daquele território. Em carta escrita a Paulino de Souza em 31 de dezembro de 1853, o historiador uruguaio e colecionador de documentos Andrés de Lamas afirmava: Meu querido Sr. Paulino. Já sabe que me enfermava a leitura do Catálogo dos documentos que vendia o Sr. Angelis. É uma perda gravíssima para o Rio da Prata, a que faz com esta coleção, e uma prova de suas profundas desgraças. As sensações que nos faz a vista dessa coleção, aos que, como eu, passaram os seus melhores anos, buscando, inùltimente, alguns dos seus documentos ou notícias que nela se encontram, não podem ser mais amargas. V. Exa. teve a bondade de me dizer que não seria impossível obter a leitura de alguns dêsses documentos. Seja, pois, V. Exa., o meu negociador. Desejaria que se me facilitassem agora – mediante competente recibo e obrigação de devolução – os que assignalo na adjunta nota.” (apud: SOARES DE SOUSA, 1946, p. 61). Em Buenos Aires, propagou-se que a venda da coleção havia sido uma deslealdade de De Angelis à pátria que o adotara. Os documentos históricos, afinal, eram importantes não só para a escrita da história de cada um dos países que, então, se formavam, mas para a delimitação dos territórios das nações sul-americanas, tão disputados no decorrer do século XIX. Quase cem anos depois, Jaime Cortesão chegou a afirmar que a obtenção da biblioteca de Angelis pelo Império Brasileiro foi “um magnífico despojo da batalha de Caseros” (1951, p. 57). Para Josefa Sabor o fato é “lamentable [...] porque se trataba sin duda de la más importante colección de obras y documentos reunida hasta el """"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""" 20

Em uma carta do dia 21 de dezembro de 1854 enviada a seu amigo Florentino Castellanos, Pedro de Angelis relatou a recepção de ilustres que havia recebido no Rio de Janeiro: “La reunión era bastante numerosa y escogida, No creo que había muchos sabios pero abundaban los caballeros. Caso no había casaca que no estuviera adornada con cruces y medallas” (apud SABOR, 1995, p. 133).

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momento en estas latitudes y que, con sus característica particulares, jamás será repetida” e “porque la colección de documentos que atesoraba era - y es - fundamental para muchas investigaciones relacionadas con la historia argentina” (SABOR, 1995, p. 159-160). CONSIDERAÇÕES FINAIS Até os dias de hoje se lamenta, na Argentina, o fato de a coleção de Pedro de Angelis ter passado às mãos do governo brasileiro. Em novembro de 2011, o Ministério da Cultura do Brasil e a congênere argentina assinaram um acordo no qual se comprometeram a digitalizar e disponibilizar na web o acervo da coleção de Angelis que está acondicionado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Os depoimentos da Ex-ministra da Cultura do governo brasileiro Ana de Hollanda e do então Presidente da Fundação Biblioteca Nacional Galeano Amorim revelam uma espécie de “dívida” do Brasil em relação à posse dos documentos argentinos. Para a imprensa, Hollanda afirmou que “[...] antes, se discutia muito a posse dos acervos – agora, com esta iniciativa, fica muito mais fácil o acesso a toda esta história”, e Amorim arrematou: “Se um dia este acervo saiu da Argentina, esta é a ocasião para devolvê-lo” 21. A importância da Coleção Pedro de Angelis para a Biblioteca Nacional pode ser atestada em um outro acontecimento recente: em fins de agosto de 2012, o Secretário da Cultura do governo de Cristina Kirchner esteve no Brasil em visita oficial. Em retribuição e como forma de simbolizar a cooperação entre os governos, o Secretário Jorge Coscia recebeu das mãos da então Ministra da Cultura do Brasil Ana de Hollanda uma cópia certificada do mapa das Malvinas retirada do acervo de Angelis 22. Durante o período em que Pedro de Angelis formava sua biblioteca e produzia as suas obras, não havia, no Prata, um espaço formal destinado à prática historiográfica e à guarda de documentos históricos (BUCHBINDER, 1996). Acreditamos que, mesmo nessas condições de produção, tendo que buscar os manuscritos como podia partir de redes privadas e apelando aos desorganizados arquivos públicos existentes no país – sendo, inclusive, acusado de apropriar-se indevidamente de materiais públicos –, De Angelis construiu, por meio de sua biblioteca e de sua coleção e da publicação de coletâneas e de catálogos de obras e documentos, uma espécie de “lugar de memória”. Não é à toa que, até hoje, o seu conjunto de fontes históricas e livros seja referência para muitos historiadores que estudam a região platina, que o repositório de documentos que o pertenceram ainda leve o seu nome na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e que o conjunto documental lá custodiado continue sendo alvo de disputas e acordos entre os governos do Brasil e da Argentina. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Apuntaciones cambiadas entre Don Pedro de Angelis y el gobernador Don Juan Manuel de Rosas, relativas a la memória sobre el Estrecho de Magallanes, y préstamo de libros de la Biblioteca Pública. In: BECÚ, Teodoro; TORRE REVELLO, José. La Colección de Documentos de Pedro de Angelis y el Diario de Diego de Alvear. Buenos Aires: Talleres S.A. Casa Jacobo Peuser Ltda., 1941, p. XLVII. BATICCUORE, Graciela. Lectores, autores y propietarios. Las bibliotecas románticas. In: GAYOL, Sandra; MADERO, Marta (ed.). Formas de historia cultural. Buenos Aires: Prometeo Libros; Los Polvorines; Univ. Nacional de General Sarmiento, 2007, p. 71-80. BUONOCORE, Domingo. El libro y los bibliógrafos. In: Historia de la literatura argentina. Buenos Aires: Peuser, 1959, vol. IV, p. 227-350. Carta de don Pedro de Angelis, a Don Floro Castellanos, sobre sus tareas editoriales, la publicación de documentos históricos y envio de algunos impresos. In BECÚ, Teodoro; TORRE REVELLO, José. La Colección de Documentos de Pedro de Angelis y el Diario de Diego de Alvear. Buenos Aires: Talleres S.A. Casa Jacobo Peuser Ltda., 1941, p. XLIV-XLV. """"""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""""" 21

Disponível em: . Acesso em: 20 nov. 2011). 22 Disponível em: . Acesso em: 10 set. 2012.

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Carta de Casimira Ximénez de Cabrer a Pedro de Angelis, 20 de Julio de 1842. Archivo de Pedro de Angelis. Archivo General de la Nación, Buenos Aires. Sala VII. Carta de Casimira Ximénez de Cabrer a Pedro de Angelis, 22 de Julio de 1842. Archivo de Pedro de Angelis. Archivo General de la Nación, Buenos Aires. Sala VII. Carta de Casimira Ximénez de Cabrer a Pedro de Angelis, 26 de Julio de 1842. Archivo de Pedro de Angelis. Archivo General de la Nación, Buenos Aires. Sala VII. BOUZA, Fernando. Para no olvidar y para hacerlo. La conservación de la memoria a comienzos de la Edad Moderna. In: __________. Imagen y propaganda. Capítulos de historia cultural del reinado de Felipe II. Madrid: Akal, 1998, p. 26-57. BUCHBINDER, PABLO. Vínculos privados, instituciones públicas y reglas profesionales en los orígenes de la historiografía argentina. Boletín del Instituto de Historia Argentina y Americana “Dr. Emilio Ravignani”. Tercerta serie, num. 13, primeiro semestre de 1996, p. 59-82. CHARTIER, Roger. As práticas da escrita. In: _____________ (org.). História da vida privada, 3: da Renascença ao Século das Luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. CRESPO, Horacio. El erudito colecionista y los orígenes del americanismo. In: ALTAMIRANO, Carlos (dir.). Historia de los intelectuales en América Latina. La ciudad letrada, de la conquista al modernismo. Buenos Aires: KATZ Editores, 2008, p. 290-311. CORTESÃO, Jaime. Introdução. In: ______________. Jesuítas e bandeirantes no Guairá. Coleção de Angelis. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 1951. DE ANGELIS, Pedro. Archivo Americano y Espíritu de la Prensa del Mundo. Primera Serie 18431847. Compilación, estudio preliminar y notas de Paula Ruggeri. Buenos Aires: Biblioteca Nacional, 2009. DE ANGELIS, Pedro. Colección de obras impresas y documentos que tratan principalmente del Río de la Plata, formada por Pedro de Angelis. Buenos Aires: [s.n.], 1852a. DE ANGELIS, Pedro de. Memória histórica sobre los derechos de soberania y domínio de la Confederación Argentina a la parte austral del Continente Americano. Buenos Aires: [s.n.], 1852b. DÍAZ MOLANO, Elias. Vida y obra de Pedro de Angelis. Santa Fe: Librería y Editorial Colmegna S.A., 1968. La Gaceta Mercantil, Buenos Aires, n. 5.942, 19 de julio de 1843. MACEDO, Joaquim Manoel de. Relatório do Primeiro Secretário o Dr. Joaquim Manoel Macedo. Revista do IHGB, Tomo XVII, 1854, p. 3-50. PODGORNY, Irina. Mercaderes del pasado: Teodoro Vilardebó, Pedro de de Ángeles y el comercio de huesos y documentos en el Río de la Plata, 1830-1850. Circumscribere, nº 9, 2011, p. 29-77. SABOR, Josefa Emilia. Pedro de Angelis y los orígenes de la bibliografía argentina: ensayo biobibliofráfico. Buenos Aires: Solar, 1995. SOARES DE SOUSA, José Antônio. Como se adquiriu a Livraria de Pedro de Angelis. Revista do IHGB, vol. 192, 1946, p. 60-64. WASSERMAN, Fabio. Entre Clio y La Polis: conocimiento histórico y representaciones del pasado en el Río de La Plata. Buenos Aires: Editorial Teseo, 2008.

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