Deambulação pela Arte (como Coisa) Pública

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Deambulação pela Arte (como Coisa) Pública por Mário Caeiro Professor na ESAD das Caldas da Rainha, Investigador e Curador. A walk across the city, determined by the idea of ambulation. One stimulated by the notion that art can be a public thing. Res publica. Looking around leads to the analysis of a sequence of urban moments. A set of tensions appears, as made visible by each work of art. What appears by means of this mosaic of impressions is the idea that the urban form is a territory to be continuously appropriated. Such is the concept which lies in the core of an ethically responsible citizenship. — Keywords

Public Art, Urban Art, Street, City, Ambulation.

O olhar como saber A partir du moment où l’œuvre est vue, c’està-dire où sa présence s’est fait sentir, si elle existe vraiment avec ce qui l’entoure, alors l’endroit n’est plus invisible. Dès lors, sa réalité est modifiée. Et ceci est plus effectif lorsque l’œuvre n’est pas reconnue comme une œuvre d’art, lorsqu’elle n’est pas dissociée comme une forme sur un fond. Catherine Grout

O presente texto evoca um percurso pela cidade. Uma deambulação simula um passeio, constituindo a sua memória ficcionalizada, ao mesmo tempo que sintetiza aspectos essenciais da minha reflexão dos últimos anos acerca da relação entre a arte e a cidade. É por assim dizer uma viagem – à vol d’oiseau – por conteúdos da obra Arte na Cidade – História Contemporânea (Círculo de Leitores/Temas e Debates, 2014), aqui actualizados por impressões recentes, conforme as vou situando no meu quotidiano. Ao final assumo uma intuição: A arte pública está na maneira de olhar. Saber olhar a cidade e nesta a arte (e vice-versa) é aqui a condição sine qua non para poder produzir-se o acontecimento urbano, que vejo como o

– MARIO CAEIRO

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– CONVOCARTE N.º1 | ARTE PÚBLICA

encontro da cidade consigo própria através da arte. Por outras palavras, parto da ideia fundamental do espectador em Hannah Arendt e articulo-a com uma abordagem potencialmente transformativa1 (Collins e Goto, 2005) da obra-espectáculo que é a cidade; laboro no seio da ideia lefebvreana do espaço(-tempo) citadino como historicamente produzido, hipersocializado (Delgado, 2013), que encaro como a própria matriz da vida urbana: Neste sentido, a cidade é palavra, fala, é sistema denotativo. O urbano vai mais além: é uma linguagem, uma ordem de conotações, como Lefebvre refere, tomando a analogia da glossemática e da semiótica de Greimas. O urbano não é um tema, mas sim uma sucessão infinita de actos e encontros realizados ou virtuais. A vida urbana “procura devolver as mensagens, ordens, pressões vindas do alto contra si próprias. Procura  apropriar-se  do tempo e do espaço impondo o seu jogo às dominações destes, afastando-os da sua meta, enganando… O urbano é assim obra de cidadãos, em vez de imposição enquanto sistema a este cidadão” (Lefebvre, 1978: 85). O urbano é a essência da cidade, mas pode dar-se fora dela, porque qualquer lugar é bom para que nele se desenvolva uma substância social que por acaso nasceu nas cidades, mas agora expande-se onde quer que o seu “fermento, carregado de actividades suspeitas, de delinquências, é lugar de agitação […].”2 Este texto assume que a arte pode ser protagonista do cenário visual urbano (Campos, 2011). A partir desta evidência procura mostrar como certas ideias ganham corpo

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