DEPOIMENTOS QUE COMPLEMENTAM A SEGUNDA CADEIA RADIOFÔNICA DA LEGALIDADE

July 24, 2017 | Autor: Francielly Brites | Categoria: Radio, Historia, Jornalismo, Radiojornalismo, História Da Mídia, Segunda Cadeia Da Legalidade
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DEPOIMENTOS QUE COMPLEMENTAM A SEGUNDA CADEIA RADIOFÔNICA DA LEGALIDADE

Luciano Klöckner1 Francielly Brites2

A pesquisa intitulada Segunda Cadeia da Legalidade: registros históricos e jornalísticos teve seu início em 2010, por intermédio do Programa de Apoio à Integração entre Áreas (Praias), incentivado pela Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), que oportuniza aos projetos selecionados a contratação de bolsistas de Iniciação Científica. A partir da constatação da ausência de levantamentos mais concisos desta parte da história, um projeto conjunto da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) – Jornalismo, e da Faculdade Filosofia e Ciências Humanas (FFCH) - História, foi constituído visando a agrupar os registros impressos e sonoros sobre a Segunda Cadeia Radiofônica da Legalidade, ocorrida em 1964, e sistematizá-los para posterior publicação, como já ocorrido com a Primeira Cadeia da Legalidade em 1961. A finalidade deste artigo é resumir, brevemente, os depoimentos sobre o tema, destacando as principais transcrições das falas dos depoentes, para que os mesmos sejam acompanhados na integra nos vídeos em anexo à publicação, além de detalhar a abrangência do projeto conjunto entre o Jornalismo e a História. Embora não tenha obtido o êxito da primeira, a experiência de reeditar a rede da legalidade, entre 31 de março e três de abril de 1964, deixou questões históricas que necessitavam de respostas (e algumas ainda vão carecer de outras pesquisas), entre elas, quais os personagens envolvidos e que ainda poderiam ser entrevistados? Onde estão os documentos impressos e em áudio sobre o ocorrido, como as fitas da rádio Difusora confiscadas pelas autoridades? Que significados para a história e para o radiojornalismo brasileiros podem ser apreendidos deste fato? Nesse sentido, durante dois anos (2011 e 2012) encaminhou-se a revisão da bibliografia existente sobre o assunto; a pesquisa em arquivos para localizar os documentos existentes (impressos e sonoros) sobre a Segunda Cadeia da Legalidade; a realização de 20 entrevistas focalizadas com tema específico em vídeo e áudio e ao vivo com os protagonistas e testemunhas do 1

Doutor em Comunicação Social pela Faculdade de Comunicação Social da PUCRS Bolsista que finalizou a pesquisa jornalística do Projeto Segunda Cadeia da Legalidade: registros históricos e jornalísticos, contando com a colaboração dos alunos da Famecos Daniel Marcílio, Gabriel Ferreira Ludwig, Kyane Vives e Marcel Klein, todos encarregados da coleta dos depoimentos. 2

fato objeto desta pesquisa (depoimentos); além de seleção e análise do material coletado e da publicação de artigos em livros e apresentação em eventos acadêmicos. Praticamente todo o trabalho de investigação foi realizado nos arquivos dos jornais da época no Rio Grande do Sul (última semana de março e início de abril de 1964) e nos Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa e Museu do Militar do Comando Militar do Sul (Museu do Exército), ambos em Porto Alegre/RS. A título de procedimentos metodológicos, o projeto caracterizou-se como uma pesquisa exploratória, de resgate, conservação e divulgação de fontes documentais inéditas sobre a Segunda Cadeia da Legalidade. As características desta pesquisa, conforme GIL (1999, p. 43), é “desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista, a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”. Esse tipo de estudo envolve levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso, realizados para proporcionar uma visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato. Na execução da pesquisa foram realizados: levantamento bibliográfico sobre o tema exposto; entrevistas focalizadas3 (por meio de uma pauta específica: a cadeia radiofônica da legalidade em 1964) com os protagonistas e com as testemunhas do evento, além de pesquisa documental para a localização de possíveis artigos e notícias em jornais da época e material sonoro sobre a Segunda Cadeia Radiofônica da Legalidade. Desde o começo, entendia-se importante o cruzamento entre Jornalismo e História, pois como bem refere Barbosa (2008, p. 84), “há uma dimensão histórica no jornalismo brasileiro...”, considerando que “os meios de comunicação usam rastros e vestígios que chegam do passado ao presente para fornecer um contraponto à necessidade permanente de inserção na atualidade do mundo”. A partir da pesquisa documental nos jornais Diário de Notícias, Folha da Tarde, Última Hora e Correio do Povo, a etapa seguinte investigou e digitalizou os conteúdos presentes nos quatro jornais relacionados que referiram a Segunda Cadeia da Legalidade. Concluída essa parte, efetuouse o fichamento e análise de conteúdo destes materiais, considerando a transcrição de trechos e comentários. Sobre os registros radiofônicos, também foi realizado levantamento e revisão bibliográficos referentes ao objeto de estudo. Posteriormente, trabalhou-se na filtragem de protagonistas e testemunhas deste episódio histórico, dando início ao agendamento de entrevistas junto a essas fontes.

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A entrevista, para (GIL, 1999, p. 120), pode ocorrer em quatro níveis básicos: 1) informal, 2) focalizada, 3) por pautas, 4) estruturada. Optou-se pela focalizada, tendo em vista que ela é tão livre quanto à informal; “todavia, enfoca um tema bem específico”, equivalente ao depoimento, que é a declaração de uma testemunha sobre determinado fato do qual tenha presenciado ou seja do seu conhecimento. Além disso, o entrevistador permite ao entrevistado falar livremente sobre o assunto, mas, quando este se desvia do tema original, esforça-se para a sua retomada.

Os depoimentos, após a gravação, foram transcritos para o arquivo histórico, complementando a pesquisa bibliográfica e dos jornais da época, efetuada na fase anterior. Esses depoimentos foram obtidos com total liberdade, sem perguntas provocadas pelo pesquisador, somente a partir da memória da fonte, isto é, se lembrava e sobre o que lembrava sobre a Segunda Cadeia Radiofônica da Legalidade. No primeiro contato, normalmente via telefone, a fonte era informada do por que fora escolhida e também do tema proposto, frisando-se sempre que não era a Primeira Rede da Legalidade de 1961, mas a Segunda de 1964. Em vários casos, houve embaralhamento de recordações sobre os efeitos de uma e de outra. Somente nessa ocasião ocorreu a interferência do pesquisador presente à gravação para o equívoco. Com isso, alguns depoimentos foram suprimidos, pois a fonte reconhecia que não lembrava da Segunda Cadeia. Apesar disso, ao final do projeto, foram acrescidos aos fatos localizados nos jornais e nos livros, muitos detalhes ausentes das notícias e até desconhecidos da história. Ao todo foram colhidos 20 depoimentos: oito deles em vídeo, seis em áudio e outros seis com anotações dos pesquisadores. Integram a segunda parte do livro, os depoimentos em vídeo, de sete testemunhas da Segunda Cadeia da Legalidade. São eles: Álvaro Petracco da Cunha, Jerônimo Braga, Flávio Tavares, João Batista Filho, Marino Boeira, Sereno Chaise e Sergio Stosch, todos personagens que viveram em diferentes cenários naqueles dias 31 de março, primeiro, dois e três de abril de 1964. Os depoimentos expuseram questões conflitantes, esclareceram e revelaram fatos a respeito do mosaico de opiniões na imprensa que estabeleceram o contexto que levou ao golpe de 1964 e da reedição da Segunda Cadeia Radiofônica da Legalidade. Como cita o historiador Carlos Fico, referido por CARVALHO, 2010, p. 18, “são poucas as referências a estudos acadêmicos que tomam a imprensa como objeto de investigação”, e a Segunda Cadeia da Legalidade, mesmo com funcionamento restrito até a saída do presidente Jango do país, necessita ser melhor examinada. Um dos relatos é do dirigente petebista daquela época, mesmo partido de Jango, e autor do livro Do Trabalhismo ao Socialismo Democrático, Álvaro Petracco da Cunha, que tem no currículo passagens pelo executivo e legislativo, sendo fundador do PDT (Partido Democrático Trabalhista, sucessor do PTB), em 1979, que faz o seguinte destaque sobre os movimentos que levaram ao golpe de 1964: “Jango fez um grande comício em 13 de março de 1964, no Rio de Janeiro, que reuniu cerca de 200 mil pessoas, principalmente através das centrais sindicais. Ele foi ao comício já sabendo das consequências adversas que isso ia gerar. Afinal, ele não era ingênuo e sabia que ele estava provocando a onça com a taquara curta. Logo depois que aconteceu esse discurso, houve uma concentração de 500 mil pessoas, em São Paulo, que foi dirigido pelo padre Peyton. Depois disso, Jango ainda foi à central automobilística do Rio, o que também serviu de provocação para os acontecimentos que se desenrolaram após”. (PETRACCO, 2012).

Já o presidente da Associação Riograndense de Imprensa, João Batista Filho, também contextualiza a queda do presidente Jango a partir dos movimentos do centro do país denominados de Marchas da Família Com Deus pela Liberdade e conta detalhes do contexto sobre a Segunda Cadeia da Legalidade: “Em 1964, no dia 31 de março, as notícias sobre o movimento das tropas a partir de Minas Gerais, com os generais Guedes e Mourão, o Rio Grande do Sul começou a se mobilizar mais uma vez sob a liderança de Leonel Brizola que buscou também reeditar uma cadeia de emissoras de rádio. A Rádio Farroupilha era a mais aconselhável em função da sua onda curta e das ondas médias, além de ter o canal livre internacional de 100khvz. Então, a Farroupilha foi requisitada para buscar liderar essa Cadeia que acabou não se constituindo porque não havia o mesmo clima de apoio popular que acontecera em 1961. [...] A sociedade brasileira, aqui mesmo no Rio Grande do Sul, tinha sido mobilizada pelas chamadas “Marchas com a Família”, que se realizava em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo reunindo milhares e milhares de pessoas. Eram as marchas encomendadas pelo setor que havia sido derrotado em 1961, retardado o seu projeto de poder, mas que mexera principalmente com a classe média alta. Eram marchas, em via de regra, organizadas por mulheres. Os chamados “Panelaços”, a sugerir que era um movimento de reação de donas de casa, quando rigorosamente não era um movimento de pessoas que sofressem qualquer consequência da crise econômica que ali existia. Uma crise não tão grande assim”. (BATISTA FILHO, 2012).

A primeira-dama do Brasil à época, Maria Thereza Goulart, reconhece que Jango nunca comentou a situação política com ela, mas isso terminou ocorrendo quando ele a convidou para irem junto ao Comício da Central do Brasil. “A única coisa que ele falou foi quando fez o comício aquele, da central, ele me comentou que “este comício vai ser o estopim. Não adianta por que nós não vamos conseguir vencer esta fase. É um momento muito difícil. É uma realidade”. Ele sabia tudo que ia acontecer, já estava prevendo os acontecimentos. Ele sabia que fazendo este comício ele teria sérios problemas. E há muito tempo a fase vinha piorando. E o comício foi realmente o momento da decisão. Eu penso assim, e ele me disse isto também. Quando terminou o comício e ele falou, quando íamos para casa, que teria uma consequência muito grave. Ele estava preparado também. Os militares estavam preparando este golpe há muito tempo e esta foi a ocasião que eles encontraram para desfechá-lo. Já quando Jango voltou da China eles estavam armando todo este complô. Por quê? Porque ele deveria assumir a presidência. Mas os militares criaram um caso. Com o parlamentarismo, a posição do Jango estava enfraquecida. Sempre falei que a decisão do parlamentarismo já era motivo para mais tarde eles tomarem uma atitude mais séria”. (GOULART, 2009)

Para Batista Filho, era necessária uma reação a esses movimentos cívicos no centro do País, lideradas pela Rede da Democracia4, que ocorreu com a ideia de reeditar a Cadeia da Legalidade de 1961, a partir da requisição da Rádio Farroupilha.

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Mais informações, no artigo intitulado Segunda Cadeia da Legalidade: tentativa de resistência ao golpe de 1964 no Rádio

“Foi a tentativa de reação a este golpe lá na Rádio Farroupilha com a requisição da emissora, o que não provocou impacto junto a sociedade. Não houve mobilização de rua. E com a adesão cada vez maior dos militares, notadamente de alguns militares que estiveram ao lado da legalidade de 1961 também aderindo a revolução. (...)Essa Segunda Legalidade não teve a repercussão, não teve o efeito e dois dias depois ela estava praticamente desaparecida e a Rádio retomando o seu ritmo normal embora ainda houvesse a presença de militares do Terceiro Exército que procuravam organizar alguma resistência. E essa resistência não teve então maior influência. (...) Naquele momento, ali em 1964, (...) eu estava na rádio apenas a noite. Dedicava meu tempo quase que integral a TV Piratini. Era redator de notícias, além de trabalhar na área de esportes que sempre foi uma atividade permanente. (...) Junto com o Marino Boeira e o Werner Becker tínhamos a convicção que o Governo Federal impediria o golpe, a partir do esquema montado pelo general Assis Brasil. Pensávamos: eles fizeram a provocação e agora vão receber o troco. Porque nós acreditávamos nas notícias oficiais de que existia um grande esquema de sustentação do governo João Goulart. Acabou se revelando absolutamente pífio com a doença do General Jair Dantas Ribeiro e também com o General Assis Brasil não tendo qualquer comando efetivo sobre as tropas”. (BATISTA FILHO, 2012).

O jornalista e radialista, que também atuou na TV Piratini, ligada ao Grupo Diários Associados, lembra do deslocamento de equipamentos de comunicação da Agência Nacional (rede de informações governamentais) para outros pontos em que não pudessem ser confiscados pelos golpistas. “Surgiu a notícia de que o equipamento de comunicações da Agência Nacional seria confiscado. Antes disso decidimos com um funcionário, um servente, do exército Vicente Gomes, que morava em Esteio, transferiu o equipamento para continuar mantendo contato com o Rio de Janeiro e com as demais capitais através da Rádio Nacional para ver se colaborava lá na organização da resistência. E levamos esse equipamento ali para Esteio, nos fundos da casa do Vicente, nas proximidades do Parque de Exposições, onde hoje é o Parque de Exposições, que no tempo não havia. O Parque de Exposições era no Menino Deus, aqui na Getúlio Vargas com Gonçalves Dias. E lá montamos o equipamento e continuamos falando com São Paulo, com o Rio e recebemos a notícia de Recife. A notícia dizia que o exercito estava cercando o Palácio para proteger o governador Miguel Arraes. As forças comandadas pelo General Justino Alves Bastos e em seguida alguém informou nesta mesma linha que o general estaria indo para prender o governador Arraes que tinha já aderido as forças que chamavam de revolucionárias. Eu fui à prefeitura e avisei o prefeito Sereno Chaise que o Arraies estava para ser preso e não para ser protegido. Avisei através dos assessores e cheguei a falar na frente dele, para ele, para o Dilamar Machado, que era assessor, e para o Sepe Tiaraju Matzenbacher que também estava ali com o prefeito Sereno Chaise. Eles não acreditavam. Diziam que o Justino vai lá para defender e se confirmou logo depois que o Justino tinha de fato prendido, cercado o palácio, e declarado apoio e o apoio de Pernambuco a revolução e ao golpe. E nos aí retiramos o equipamento porque antes disso, em um outro contato, em uma tentativa de contato com o Rio de Janeiro, entrou uma voz absolutamente estranha e disse: Gaúchos, tirem o cavalo da chuva. O chefe de vocês já não está mais aqui. Na época, o nosso chefe era o José Guimaraes, escritor, jornalista, que já tinha viajado. Ai eu disse para os meus companheiros que era o Vicente e o Custódio: acabou a nossa tarefa, a nossa missão. Não temos mais o que fazer aqui. Para não sermos chamados de ladrões vamos devolver esse equipamento e trouxemos de volta o equipamento ali para o Edifício Paineira, na Siqueira Campos, onde era a Agencia Nacional. E com isso também, acabou essa tentativa, um tanto brancalhone, de resistência. Eu trabalhava na Agencia Nacional, quando da saída do Hamilton Chaves, para preencher, não o espaço que ele tinha de diretor, mas preencher a vaga. Passei a ser redator dessa distribuição de notícias. A Agência Nacional fazia notícias oficiais, notícias de Brasília e também de todo o estado que alimentavam as emissoras de rádio e televisão, notadamente as emissoras do interior. Fazíamos três sínteses de notícias por dia, nos horários das oito horas da manhã, ao meio-dia e às seis da tarde”. (BATISTA FILHO, 2012).

Álvaro Petracco recorda pormenores da Segunda Cadeia da Legalidade, com a instalação de linhas e arrumação de salas, simultaneamente, na Prefeitura de Porto Alegre, e no Edifício Comendador Azevedo, na rua Uruguai, 155, prédio disposto lateralmente à Praça Montevidéu. “A segunda cadeia da legalidade é um fenômeno político que ocorreu e que não está ainda bem divulgado porque durou pouco (...) Então, no final de março de 1964 houve a ideia de se criar uma Segunda Legalidade, um movimento de resistência às manifestações centrais, mas ainda sem nome definido, seguindo o que ocorreu na primeira, que reuniu mais de cem rádios (...) Quer dizer, houve uma desproporção muito grande entre aquilo que se conseguiu na primeira legalidade, com essa, cuja tentativa foi frustrada da segunda legalidade, embora as construções fossem totalmente diferentes (...) Que eu saiba, ele (Jango) chegou na madrugada do dia 2 aqui em Porto Alegre e nem participou da rede. As salas e os microfones instalados. Tinham microfones instalados na prefeitura e na rua Uruguai, 155, edifício Azevedo. Ali tinha uma dependência das instalações técnicas pra manter a rádio. Não sei qual era a rádio que predominava, acho que o comando era na Difusora. Era na Rádio Difusora, mas que tinha sido requisitada, assim como na primeira legalidade, o Brizola requisitou, chamou a si a rádio Guaíba. Dessa vez a rádio Guaíba se omitiu, o dono da Guaíba (Breno Caldas), tratou de não se comprometer. Ele não queria, acho, que facilitar que se repetisse aquela espécie de requisição forçada que o governo fez na primeira vez, botando gente, soldados nos escritórios da Guaíba. (...) Em relação aos acontecimentos no centro do país, o (prefeito) Sereno já soube, quando o Jango chegou lá e se dirigiu a rua Carlos Von Koseritz, (casa do comandante do Terceiro Exército, general Ladário) que o Jango estava deposto. Devem ter raciocinado esse pessoal que cuidava da cadeia da legalidade, que não adiantava manter a segunda cadeia se o próprio e maior interessado, maior fortalecedor dessa ideia da legalidade, que era o presidente da república, estava deposto. Quando o Jango decidiu viajar na madrugada de 2 para 3 de abril, o pessoal da cadeia, também tirou-a do ar, pois não sobrava mais nada a fazer”. (PETRACCO, 2012).

O pensamento de Petracco é compartilhado pelo prefeito de Porto Alegre, em 1964, eleito pelo antigo PTB, Sereno Chaise, um dos responsáveis pelas alocuções da Segunda Cadeia da Legalidade, todas feitas a partir de salas com microfones do paço municipal, conectadas por fios à Rádio Difusora, no prédio ao lado. “Em 1961, minha parte foi mais parlamentar. Estava na assembleia e as oposições apoiaram a tese que defendíamos, isto é, empossar Jango na presidência, no lugar de Jânio Quadros, que havia renunciado. Em 1964 estava na Prefeitura. Não tínhamos mais o governo do estado. O posto maior, o reduto maior do velho PTB era a Prefeitura de Porto Alegre. Então o papel era muito mais difícil. Porque em 1964, não se repetiu 1961. Aquela fluência popular que nós tivemos em 1961, aquela empolgação que tomou conta do Rio Grande, não se repetiu. O presidente João Goulart, mesmo se reunindo na casa do comandante do Terceiro Exército, general Ladário, tinha tomado a decisão de não resistir. Houve a vontade de reeditar a rede, mas não teve expressão, não teve o apelo popular, não teve a importância e até porque foi muito rápido. (...) Quando eu encerrei, pedia a todos que se retirassem para as suas casas em ordem. O problema estava decidido. O presidente havia decidido viajar ao exterior. Ia para o exílio e só nos restava ir para nossas casas em paz, em ordem, evitando atropelos, para que nenhum brasileiro viesse a sofrer consequências trágicas disso. Despedime, pedindo a população que aguardasse os desdobramentos do episódio em suas casas, com serenidade”. (CHAISE, 2012).

O professor e publicitário Marino Boeira, redator de notícias e colega de Batista Filho na TV Piratini, foi um participante ativo da Primeira Cadeia da Legalidade de 1961 e compara aquele movimento com a pequena reação desencadeada pela Segunda Cadeia em 1964, realizando antes uma rememoração dos episódios políticos que levaram ao golpe. “Um deles foi o famoso comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, quando Jango concorda com algumas bandeiras e movimentos de esquerda que era a reforma agrária, reforma urbana, enfim, uma série de pedidos, de postulações dos grupos de esquerda, do PTB, do Partido Comunista, do Movimento Nacionalista que era muito forte, da pressão exercida pelo então deputado federal Leonel Brizola. Nesse início de 64 havia também uma série de crises militares, havia um movimento de sargentos muito forte, uma quebra da hierarquia militar, todos esses ingredientes levaram em março de 64 a um processo de ruptura política, de um lado estava a embaixada americana financiando diretamente os movimentos contrarrevolucionários ou contra o governo, através de institutos de fachada criadas aqui pelo dinheiro americano, pelo dinheiro dos grandes empresários, que eram do Ipe, do Ibad, órgãos voltados para processo de desestabilização do governo, trabalhados fortemente nesse sentido. Ao mesmo tempo, que do outro lado, o lado nacionalista havia também uma política de radicalização. Há uma frase atribuída ao Brizola, que teria dito ao Jango que ou nós damos o golpe contra a direita, ou a direita dá o golpe contra nós. Essa questão toda se tornou extremamente complicada no início de março de 64. As grandes passeatas, as chamadas marchas com Deus pela liberdade, estimulada pelo governo de São Paulo, estimulada pela alta hierarquia da igreja católica, apoio de grandes empresários e fundamentalmente apoio maciço da grande mídia, encurralou o governo em 64. Então no final, no dia 31 de março, começa, segundo se diz de uma maneira até um pouco afoita, por Minas Gerais a chamada revolução de 64, que não passa de um golpe de estado comandado pelos militares que, de alguma forma, eram apenas títeres de um poder maior que era o grande empresariado, a grande mídia, a alta hierarquia da igreja e fundamentalmente os interesses norte-americanos aqui no Brasil. Então esse movimento, que segundo se diz, não estaria pronto ainda naquele momento para ser deflagrado, é iniciado e aquilo que se esperava, que as pessoas imaginavam que o governo de João Goulart tivesse condições de resistir a este golpe, que mobilizasse as forças que ainda lhe eram fiéis e derrubassem esse movimento. O que se viu foi uma fuga do governo Goulart. Ele saiu do Rio de Janeiro no dia 31 e foi para Brasília. De Brasília ele veio para Porto Alegre. E aqui se pensou. Por que aqui não se criou uma segunda legalidade no dia 31 e no dia primeiro? No dia 31, Jango veio a Porto Alegre, houve uma reunião, extremamente tensa, com o comandante do terceiro exército, com o governador Brizola e outras lideranças locais no sentido de resistir ao golpe. Vamos resistir a partir de Porto Alegre. Vamos fazer uma segunda edição da legalidade. Foi montado um comício na frente da prefeitura com esses líderes e pessoas dispostas a resistir novamente”. (BOEIRA, 2012).

O professor reconhece que a situação em cerca de três anos, de 1961 a 1964, mudou, sintetizando-a como “de extrema efervescência política e um período de extrema radicalização” e uma segunda legalidade necessitava de outros fatores que a sustentassem.

“A situação era completamente diferente. Em 1964 era muito diferente de 1961. Em 61, o governador Brizola tinha sob sua tutela, sob seu comando, a Brigada Militar, que era forte, com condições de operação em termos de resistência. Em 1964, não tinha mais isso. O governo do estado estava na mão de Ildo Meneghetti ligado ao esquema golpista. Não havia mais essa força relevante da Brigada Militar. Os sindicatos que aparentemente estariam organizados para resistir, se mostraram na prática que não tinham mais esse poder. Eles tinham aderido de tal forma ao governo Goulart, que deixaram de lado seus esquemas mais internos de organização. Então, depois desse comício da legalidade (em frente à Prefeitura de Porto Alegre no dia 31 de março), há o episódio de que alguns grupos iriam tomar o Palácio Piratini. E foram dissuadidos pelo prefeito Sereno Chaise, de que isso seria um ato

temerário, ato que não levaria a nada. O governo do estado tinha saído (oficialmente) de Porto Alegre (com a viagem do governador Ildo Meneghetti) para Passo Fundo. Não teria como um grupo desarmado e civil tomar o Palácio Piratini. E, no final da noite do dia 31, numa reunião na casa do comandante do Terceiro Exército, exército também com menos força que em 1961, sem o apoio de importantes unidades do interior do estado, mas apenas com o poder nominal na mão. (Com essa análise da situação) O João Goulart decidiu não pela resistência, dando continuidade à fuga. Assim, no dia primeiro de abril saiu de Porto Alegre para Montevidéu para se exilar e nunca mais retornou ao Brasil (com vida, só após a morte). Os líderes, Brizola e outros que tentaram o segundo movimento, trataram de se esconder, trataram de buscar a sua preservação física porque o golpe desencadeado no dia 31, estava no dia primeiro de abril vitorioso. O Exército e as organizações militares tendo nas mãos todo o poder e toda a ação policial. E empreenderam toda ação de perseguição àqueles que no primeiro momento tinham se colocado contra o golpe. Marx fala sobre isso, em relação à Revolução Francesa. Ele diz que a segunda revolução é uma farsa. A segunda tentativa é sempre uma caricatura da primeira. De certa forma, a gente podia pensar o mesmo aqui. Marx diz que a história se repete como farsa. A segunda legalidade de certa forma, nesse sentido de que farsa não é mais a verdade, não tem mais o conteúdo verdadeiro da primeira vez. Por isso, em 1964, de alguma forma, essa segunda legalidade se repetiu como uma farsa daquele movimento heroico de 61”. (BOEIRA, 2012).

O atual professor e oficial da Brigada Militar em 1964 Jerônimo Braga lembra dos episódios que culminaram com o golpe e da estruturação da Segunda Cadeia da Legalidade que não passou do início de abril do mesmo ano. “Das pessoas que eu ouvia mais falar, que eram mais entrevistadas, era o Leonel Brizola, Sereno Chaise, jornalista Dilamar Machado... havia um fotógrafo que sempre acompanhava o Brizola que falava sempre veementemente a favor do movimento na rádio. Boa parte das redações e movimentações das rádios, salvo o do jornal Ultima Hora, eram noticias mais ou menos neutras. Sem tomarem muito partido de um lado ou do outro, em função da indefinição. Poucos jornalistas que se colocaram fortemente a favor de João Goulart, foram imediatamente cassados no momento seguinte. E o jornal Ultima Hora, fechado, de imediato. Cândido Norberto, radialista, comentarista famoso, não por indignação, mas por convicção, acreditava que a Legalidade deveria ser mantida. Era contra o golpe. Depois foi cassado. Mas a linha editorial, ao meu ver, um rapaz daquele tempo com pouca possibilidade de análise... era uma linha editorial aberta, podia dizer tudo, mas não podia tomar partido. Porque tomou partido, o jornalista era cassado. Falavam que era preciso manter. E a tentativa de criar a segunda cadeia da legalidade morreu só na tentativa, não virou verdade. foi de muita efêmera duração porque já haviam sido tomadas medidas do Governo do Estado e através da Brigada Militar e pela Força Nacional, através do Exército, de ocuparem as torres de emissão destas respectivas rádios e seus estúdios, de maneira que não foi possível efetivamente se estabelecer uma cadeia. Com uma duração, acredito, de no máximo 48 horas a cadeia saiu do ar. No entanto não teve oportunidade de fazer a chamada popular de movimento contra a posição que havia sido instalada e aquela altura dos acontecimentos já era vitoriosa no Brasil e no Rio Grande do Sul. Eu na época era o oficial da divisão de ralações públicas da Brigada Militar, estava no QG da Brigada, evidentemente atento ao rádio, ouvia essas primeiras chamadas da cadeia da legalidade. Já percebia no inicio que a Cadeia da Legalidade não conseguia fazer um apelo popular”. (BRAGA, 2013).

Quando a pesquisa sobre a Segunda Cadeia da Legalidade ainda era um projeto, surgiu uma testemunha-chave do acontecimento, confirmando minúcias que só uma pessoa presente ao fato

poderia saber. Trata-se do professor universitário, músico e ex-diretor da Rádio da Universidade, Sergio Stosch, que começou suas atividades na Rádio Difusora em 15 de março de 1964, quando tinha 17 anos. “Recordo muito bem que a rádio ficava na rua Uruguai 155, edifício Comendador Azevedo, no quarto andar. Todas as janelas davam exatamente para a frente da prefeitura. Nós conseguíamos ver a frente da prefeitura porque estávamos um pouquinho mais altos que o prédio da prefeitura. Geograficamente, a Rádio Difusora estava mais próxima daquilo que seria o QG, o quartel general do PTB. O PTB era o partido ligado ao João Goulart e Leonel Brizola.(...) Quando foi deposto o Goulart, acredito que, não sei exatamente o que se passou dentro do PTB, o Sereno Chaise assumiu a liderança, responsabilidade, de fazer uma nova rede da legalidade. E pensaram na Rádio Difusora. (...) porque ela estava ali do lado. Então foi solicitado na época que a Rádio Difusora liderasse uma rede de emissoras que pudessem divulgar uma nova cadeia da legalidade, que pudesse divulgar essa ilegalidade constitucional, que era a deposição do presidente da república. Então, durante dois dias, a partir de primeiro de abril foi jogado pela janela do quarto andar da rádio, da janela do setor de jornalismo, um fio ligado a uma mesa telefunken que a rádio tinha, mesa principal que estava na central técnica da rádio. Era mais ou menos uns 60 metros de fios. Eles sonhavam em fazer uma rede semelhante aquela de 61, que teve grande sucesso. Eu me recordo que iniciou essa rede, mas muitas emissoras não entraram nessa cadeia. (...) Mas eu me lembro da rádio Princesa, que (...) tinha seus estúdios na galeria do Rosário, entrou em cadeia. Me recordo que em casa eu ainda ouvia algumas emissoras de rádio, pequenas, não as importantes, não a Farroupilha, nem a Guaíba, nem a Gaúcha que eram as principais na época. Não eram os mesmos locutores, mas eu me recordo que as marchas, marchinhas de incentivo, me recordo que tocava, tocava bastante. Isso durou um ou dois dias, e acho que no dia três, o prefeito Sereno Chaise foi para microfone por volta do meiodia, anunciando que Jango e o Brizola estariam no Uruguai. E se despediu da rede. Me recordo muito bem das últimas palavras dele: “Em breve voltaremos. Até uma próxima oportunidade”. Ele encerrou no jargão típico do rádio. (...) Outra coisa que eu tive oportunidade de ver foi quando entraram na Rádio Difusora, policiais truculentos, com metralhadoras na mão, não apontando pra gente obviamente, mas entraram e queriam as fitas. “Queremos as gravações, queremos as fitas”. Me lembro que o operador de áudio era o Noralino Rodrigues, um operador muito pacato que fumava cachimbo, ficou apavorado. Não sabia o que fazer. E a gente não sabe se essas fitas eram gravações que envolveriam algum discurso do Sereno Chaise, ou coisa parecida, ou de pessoas que participavam fazendo comentários, críticas ao novo sistema implantado. E eu sei que esses policiais querendo essas fitas e não tinham essas fitas. Procuraram por tudo, e não tinha. Provavelmente, esse material tenha sido levado antes por alguém influente dentro da rádio ou pra tirar fora a responsabilidade da emissora. Bem, no final, não se sabe se alguma fita chegou a ser levada ou se restou algo na rádio. Diziam que havia alguma fita preservada, mas por certo, nunca a encontramos”. (STOSCH, 2012)

Outra testemunha naqueles dias de golpe foi o escritor e preso político, jornalista Flávio Tavares, que já no livro Memórias do Esquecimento, cita o episódio, mas no depoimento oferece mais subsídios sobre a ocupação de jornalistas na Rádio Nacional de Brasília. “O golpe de 64 foi inesperado. Eu estava em Brasília, nessa época, era colunista político da Última Hora, uma rede de jornais de várias capitais: Rio, São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Recife e Brasília. Quando se deflagra o golpe, que as tropas saem de minas, nós tomamos a Rádio Nacional, que era a rádio do governo. Nós quem? Praticamente todos os jornalistas políticos de Brasília, capitaneados pelo deputado da União Democrática Nacional, que aliás era um dos partidos envolvidos no golpe, José Aparecido de Oliveira, de Minas Gerais, mas que ficou com a Legalidade. Foi ele quem teve a ideia de refazer a cadeia da legalidade. Além dele, estavam na equipe eu, o Evandro Carlos de Andrade – mais tarde diretor da TV Globo, o Nuevo Baby, também da Última Hora, o

D’Alembert Jaccoud e o Ruy Lopes, ambos da Folha de São Paulo, entre outros. Fazíamos os boletins, com informações exclusivas sobre a vida pessoal dos comandantes do Exército, que o José Aparecido, por ser deputado, sabia. Estávamos alegres, imaginando o que os soldadinhos iam pensar dos seus comandantes. E assim foi. Ocupamos o éter, como se dizia na época, durante algumas horas. Isso ocorreu na noite do dia 1º de abril de 1964. Estávamos eufóricos, pois aquilo ali era uma revolução, pois achávamos que os soldadinhos todos iam estar com o rádio ligado, no ouvido, escutando a verdade sobre os seus comandantes. Uma verdade que era inventada, mas que era verdadeira. Nós nunca contamos histórias, digamos, falsas. Contávamos a vida real dos comandantes para que os comandados ouvissem. Só que não sabíamos um detalhe fundamental: a Rádio Nacional, de Brasília, tinha uns transmissores velhos, cujas emissões não iam muito além dos limites do Distrito Federal. Quer dizer, nós ficamos durante três ou quatro horas, ocupando um espaço de horário nobre da rádio, na noite de primeiro de abril, metralhando os golpistas, sem que os golpistas soubessem das nossas metralhadoras. Eles jamais nos ouviram. (...) De madrugada, parti para o Congresso Nacional, assisti a sessão que durou três minutos e que oficializou a deposição do presidente João Goulart. Detalhe: eu, o Fernando Pedreira, do Estado de São Paulo, e a jornalista do Correio Brasiliense Maria da Graça Dutra fomos as últimas pessoas a estarem com o presidente Jango em Brasilia, antes de ele embarcar para Porto Alegre, para instalar o governo aqui. Só um outro detalhe: nós no noticiário divulgamos que o Presidente João Goulart está em viagem a Porto Alegre etc e tal. Só não sabíamos que Goulart tinha ficado trancado no aeroporto de Brasilia porque o avião em que ele habitualmente viajava, um jato da Varig à disposição do governo, apresentou uma estranha pane nos motores. Mas foi uma pane falsa, provocada já talvez por algum telefonema do rio dizendo “deixa o avião ai e não vamos mais nos comprometer com o Jango”. Então, o Jango teve que ficar três ou quatro horas no aeroporto de Brasília sem que ninguém soubesse. Ele e alguns ministros. E nós pensando que ele já estava vindo para Porto Alegre. Mas não. Ele estava à espera que preparassem um avião bimotor da FAB, um avro, veloz mas muito lento para as necessidades daquele momento. E chegasse a Porto Alegre mais ou menos às três ou quatro horas da madrugada. No dia 31 para o dia 1º de abril. Então, a tentativa da cadeia da legalidade em Brasília se frustrou, foi um gesto apenas de audácia, generoso... A nossa boa vontade ficou, mas ficou muito mais para um depoimento como esse porque eu acho que ninguém ouvia a rádio nacional naquela época a não ser os habitantes de Brasília, pois havia apenas duas rádios lá naqueles tempos e a nacional era uma delas. No dia seguinte, de manhã... Eu não dormi essa noite. Sai do Palácio do Planalto quando o Mazzili, presidente da Câmara dos Deputados foi empossado na presidência e Jango estava chegando em Porto Alegre... Sai dali as três, quatro horas a madrugada fui para a casa e não dormi. E ficamos escutando a rádio da legalidade daqui. Não sei qual era a emissora... Gaúcha... Difusora. Acho que aumentaram a potência, pois pegávamos em Brasília, com certa dificuldade, mas pegávamos em Brasília. E me lembro pela manhã, num discurso do Brizola, dramático, que ele convoca, que ele sugere que os sargentos tomem os quartéis. Se dirige aos sargentos do Rio Grande do Sul e do Brasil. Depoimento dramático já de quem está fazendo o último esforço de resistência. Eu não me lembro de outro pronunciamento tão dramático, nem sequer o de 1961 quando esperávamos o bombardeio do Palácio Piratini, em Porto Alegre, com a visita do general Machado Lopes. Foi também patético, mas aquele ainda era um pronunciamento de resistência, o de 1961. O de 1964 já era um pronunciamento, para quem o ouvia, escutava lá longe, era um pronunciamento já ... quase de agonia. Pronunciamento do drama da agonia, quase do vencido. Do moribundo que não quer se entregar, que quer resistir. Mas a nossa resistência em Brasília foi frustrada pela incapacidade técnica dos velhos transmissores da rádio nacional. Enfim, nunca fomos ouvidos pelos nossos destinatários como aquele carta que se envia no correio sem selo e que jamais vai chegar a qualquer lugar”. (TAVARES, 2013)

Após realização do levantamento bibliográfico, de documentos e da coleta dos depoimentos, nota-se que ainda existem lacunas para completar a pesquisa sobre o assunto. As fitas da Segunda Legalidade, desparecidas ou confiscadas da Rádio Difusora é uma delas. Embora demandado para a questão, o Museu Militar do Comando Militar do Sul não possui qualquer acervo em fita de áudio disponível sobre o tema. Também é importante arrolar outras testemunhas no Rio Grande do Sul e especialmente em outros estados como Rio de Janeiro e São Paulo, além de personagens que o projeto não conseguiu abranger. Percebe-se que naqueles dias de março-abril de 1964 essa discussão teve relevância na mídia, ganhou destaque nas páginas da imprensa e grande espaço no rádio, necessitando de uma pesquisa ainda mais aprofundada quanto à influência jornalística e histórica, cujas primeiras repercussões esse trabalho procurou inventariar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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COSTA, Celso. Depoimento do operador técnico encarregado da montagem dos equipamentos no Palácio Piratini para transmissão da Primeira Cadeia da Legalidade. [05 jun. 2009]. Concedido a Luciano Klöckner. CUNHA, Álvaro Petracco da. Depoimento do vice-presidente do Diretório Estadual do PTB/RS, Partido Trabalhista Brasileiro em 1964 e 1965; e deputado estadual cassado em 1966, sobre a formação da Segunda Cadeia da Legalidade. [15 ago. 2012]. Depoimento em video concedido ao Projeto Segunda Cadeia Radiofônica da Legalidade: registros históricos e jornalísticos. DIAS, Vladimir. Depoimento de ouvinte e integrante da sociedade civil, testemunhando pelo rádio e nas ruas os acontecimentos de 1964.[23 abr. 2013]. Depoimento em video concedido ao Projeto Segunda Cadeia Radiofônica da Legalidade: registros históricos e jornalísticos. GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1999. GOULART, Maria Thereza. Depoimento da viúva do Presidente João Goulart sobre os acontecimentos que deflagraram o golpe de 1964. [11 jul. 2009]. Concedido a Luciano Klöckner. GOULART, Denise. Depoimento da filha do Presidente da República João Goulart sobre as lembranças pós-golpe militar de 1964. [11 jul. 2009]. Concedido a Luciano Klöckner. HAGEMANN, Lauro . Depoimento do locutor oficial da Primeira Cadeia da Legalidade sobre a estruturação da Segunda Cadeia da Legalidade. [26 mai.2009]. Concedido a Luciano Klöckner. MACHADO, André. Depoimento do filho do idealizador da Segunda Cadeia da Legalidade, radialista Dilamar Machado, sobre a Segunda Cadeia da Legalidade. [19 ju. 2009]. Depoimento ao Projeto Segunda Cadeia Radiofônica da Legalidade: registros históricos e jornalísticos. TAVARES, Flávio. Depoimento do jornalista, escritor e preso político do regime de 1964, que invadiu a Rádio Nacional, em Brasília, pouco antes da deflagração do golpe militar. [17 mai. 2013]. Depoimento em vídeo concedido ao Projeto Segunda Cadeia Radiofônica da Legalidade: registros históricos e jornalísticos. STOSCH, Sergio. Depoimento sobre como ocorreu a formação da Segunda Cadeia da Legalidade em final de março início de abril de 1964, tendo como cabeça-de-rede a Rádio Difusora Portoalegrense, em que foi uma das testemunhas. [19 jun. 2009]a. Concedido a Luciano Klöckner. STOSCH, Sergio. Depoimento sobre como ocorreu a formação da Segunda Cadeia da Legalidade em final de março início de abril de 1964, tendo como cabeça-de-rede a Rádio Difusora Portoalegrense, em que foi uma das testemunhas. [25 mai. 2013]b. Depoimento em vídeo concedido ao Projeto Segunda Cadeia Radiofônica da Legalidade: registros históricos e jornalísticos.

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