Desenho, logo, comunico-me! A necessidade do saber desenhar como forma de comunicação entre designers

July 4, 2017 | Autor: K. Lima Araújo | Categoria: Comunicação, IMAGEM
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Desenho, logo, comunico-me! A necessidade do saber desenhar enquanto designers.

forma

de

comunicação

efetiva

entre

Drawing, so I myself! The need to know how to draw as a form of effective communication between designers. Araújo, Kátia Maria de Lima; Especialista em Design da Informação – Universidade Federal de Pernambuco. [email protected]

Resumo O desenho à mão livre é ainda a forma de comunicação mais rápida entre os profissionais de Design e áreas afins. Seus projetos começam a ser elaborados mentalmente através de insights e materializam-se através do desenho comunicando primeiro ao próprio designer para em seguida comunicar aos demais a sua intensão. Este artigo fala sobre esta importância e apresenta uma metodologia de ensino de desenho à mão livre nos cursos superiores de Design como fator fundamental para a criação dos trabalhos acadêmicos, uma vez que o aluno que tem dificuldade em expressar-se graficamente projeta o básico por não saber representar o complexo. Palavras Chave: desenho; imagem; comunicação;

Abstract The freehand drawing is still the fastest way of communication among Design professionals and related areas. Your projects begin to be prepared mentally through insights and materialized through the first to own designer drawing by communicating to then communicate to others their intention. This article discusses this importance and presents a methodology for teaching freehand drawing in the upper courses of Design as a key factor for the creation of academic works, once the student who has difficulty in expressing himself graphically design the basics by not knowing how to represent the complex. Keywords: drawing; picture; communications.

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Introdução A importância do domínio da representação gráfica-pictórica à mão livre no processo de comunicação entre os profissionais que precisam se expressar através do desenho, como por exemplo os designers que precisam da prévia aprovação do cliente antes de confeccionar seus produtos, é tão importante quanto este domínio por parte dos alunos de Design que precisam desta habilidade para comunicar-se com o seu professor. A experiência de seis anos lecionando em Instituição de Ensino Superior nos cursos de Design nos mostra que a falta de habilidade manual por parte dos alunos dificulta este diálogo nos assessoramentos das disciplinas de projeto. Percebe-se também a diferença de nível nos trabalhos apresentados entre alunos que dominam o desenho tridimensional e os que não aprendem eficientemente a técnica do desenho em perspectiva à mão livre. O nível de complexidade dos projetos destes alunos depende desta capacidade de representação, desenham o simples e o básico por não saberem representar o complexo. Outro dado interessante está na quantidade de alunos que ingressam na faculdade sabendo da necessidade do domínio da representação gráfica-pictórica, mas apresentam muita dificuldade e relutância no aprendizado do desenho. Inspirado no livro A Perspectiva Linear – e a eficácia de sua comunicação (ARAÚJO, 2011), este artigo propõe apresentar uma metodologia de ensino de desenho à mão livre que tem trazido bons resultados na FBV – Faculdade Boa Viagem, onde ministramos a disciplina de Desenho Artístico no curso de Design de Interior, cujo objetivo é o desenvolvimento da habilidade manual, a percepção da forma e a introdução ao desenho tridimensional como fatores concomitantes para a aquisição do aprendizado de desenho, mas que também tem a missão de desbloquear e incentivar os alunos ao ato de desenhar, sobretudo de maneira prazerosa, pois acreditamos que esta ferramenta milenar continua sendo a melhor forma de comunicação entre o designer e as demais pessoas envolvidas no projeto, quer seja profissional, quer seja aluno. A metodologia adotada nesta pesquisa do ponto de vista da forma de abordagem segundo GIL(1991) é do tipo quantitativa. Do ponto de vista dos procedimentos técnicos será feita uma pesquisa bibliográfica investigativa em livros, teses e artigos publicados por meio impresso e internet sobre o tema desenho, e estudos de caso, pois serão analisados os trabalhos dos alunos de Design de Interior no período de 2006 a 2012. O universo da pesquisa é representado pelos 200 alunos que se submeteram a didática aplicada na disciplina de Desenho Artísitico cujos resultados serão mostrados no final deste artigo.

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Desenho: uma atividade milenar. A intencionalidade dos primeiros desenhos datados de 40.000 a.C., não é precisa. Arte? Objetivos místicos? Desenhava-se nas cavernas como forma de pedir aos deuses alimentos em uma época de escassez? Se não sabemos precisamente o objetivo de seus desenhos, os mesmos tornaram-se úteis na atualidade como forma de nos comunicar os aspectos e as características da vida e dos seus criadores. Se não sabiam, comunicaram assim mesmo que naquele instante o homem formava uma imagem mental e conseguia materializá-la em algo palpável como a rocha. Desde o seu surgimento, o desenho passa por um processo de evolução em sua técnica de representação: da imagem chapada dos mamutes do Paleolítico, passando pela lei da frontalidade dos egípcios, tem em Brunelleschi (1377-1446) e em seus sucessores o divisor de águas. Se não foi Brunelleschi quem inventou a perspectiva – sabe-se que no séc. III a.C., Euclides, geômetra Grego, deixou-nos a obra “Elementos” onde dedica os três últimos volumes a geometria do espaço – foi com ele que esta forma de representar edificações pré-existentes apenas em nossa mente ganhou regras e leis de aplicabilidade (Araújo, 2011, p. 25)

Termos como ponto de fuga, linha do horizonte, altura do observador, tornam-se lugar comum entre os artistas da Renascença que trazem para suas obras as regras da perspectiva. Neste período surge a necessidade de representar o produto através de imagens gráficas e apresentá-lo ao cliente antes de sua confecção: Na Florença do séc. XV surge uma nova forma de pensar arquitetura. Para ser mais exato, até então, esta profissão não existia, ou melhor, estava embutida entre os afazeres do operário que também executava a obra. É Fellipo Brunelleschi (1377-1446) quem revoluciona a representação arquitetônica, como documento que informa e comunica. O arquiteto agora é o líder, apesar das decisões serem tomadas em conjunto antes do início da obra. É ele quem define através de imagens gráficas a forma exata da edificação. (Araújo, 2011, p. 23)

São famosos os croquis dos produtos inventados por Leonardo da Vinci (1452-1519)(1) como bicicletas, máquinas voadoras, entre elas o helicóptero, paraquedas, tanques blindados, asa delta, roupas de mergulho, entre outros, todos representados através da perspectiva. O aspirante à construção de desenhos em perspectiva, porém precisa antes passar por um processo de aprendizagem, pois, apesar de não ser impossível, a habilidade para a reprodução dos mesmos dificilmente é adquirida de forma congênita. A grande maioria dos futuros desenhistas esbarra na complexidade de representar as três dimensões. O desafio está em perceber esta forma peculiar de enxergar o mundo e dominar o processo construtivo de desenho em que se torna necessário o trabalho interativo com a mente e as mãos. O mérito de Fellipo Brunelleschi (1377-1446) foi ter percebido e transformado em um método esquematizado as características das imagens processadas pela nossa retina. Segundo ARNHEIM (1998), “A geometria nos diz que três dimensões são suficientes para descrever a forma de qualquer sólido e as localizações dos objetos em relação mútua a qualquer momento dado”. Mais adiante diz: “Uma concepção bidimensional produz dois grandes enriquecimentos: primeiro oferece extensão de espaço e, portanto as variedades de tamanho e forma: coisas pequenas e coisas grandes, redondas e angulares e as mais irregulares. Segundo, acrescenta à simples distância as diferenças de direção e orientação... O espaço 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).

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tridimensional, finalmente, oferece liberdade completa: a forma estendendo-se em qualquer direção perceptível, arranjos ilimitados de objetos e a mobilidade total de uma andorinha”. (Arnheim, 1998, p. 209)

Surge a fotografia(2). Sua massificação, porém, não eliminou a necessidade de representação através de desenho dos produtos de Design, porque, diferentemente do desenho em perspectiva, a fotografia não consegue reproduzir o que ainda não existe. É o advento dos processos de computação gráfica, quem vai revolucionar a representação espacial dos produtos de Design. As vantagens do desenho auxiliado por computador são inquestionáveis. Além de reproduzir imagens muito próximas da realidade, similares a fotografias, o que facilita a comunicação entre profissional e cliente, reproduz em poucos minutos vários ângulos do produto ainda em projeto. Maquetes digitais que simulam a entrada do observador no ambiente projetado, ou a RV – realidade virtual que se utiliza de interfaces e sistemas computacionais avançados com objetivo de criar a sensação de realidade para um indivíduo em um espaço não real, são exemplos do que existe de mais novo em termos de representação gráfica. Sua existência, porém, é limitada porque é dependente de outras tecnologias como a eletricidade, equipamentos de hardwares, softwares, etc. Nesse sentido temos o desenho à mão livre como fator inerente à atividade do designer, que de forma instantânea, com auxílio de um lápis e um papel, ou um giz e uma lousa, ou ainda um graveto e o chão consegue se comunicar com quem quiser, aqui e agora. É ainda a forma mais rápida e acessível de se comunicar, de habilitar uma linguagem que antecipe nossas intenções.

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Desenho: dom ou estímulo? Traduzido como sendo imagem gráfica-pictórica que tem em sua origem as palavras Imaginari – formar uma imagem mental, Gráphein – escrever, arranhar, sulcar, e Pictus – pintar, o desenho nos remete a uma atividade essencialmente prática. Essa atividade, porém ultrapassa as barreiras da praticidade quando adquire outros objetivos como o lúdico, o artístico, o científico ou o técnico e nos revela um lado subjetivo capaz de fazer com que alguns autores o descrevam de forma poética. Em seu livro “Formas de pensar o desenho”, Edith Derdyk,(1994) nos fala sobre o conceito de desenho: Através de uma compreensão global de sua história, percebemos uma carga de significação mais ampla do que um simples manejo do lápis sobre o papel em branco. Seja no significado mágico que o desenho assumiu para o homem das cavernas, seja no desenvolvimento do desenho para a construção de maquinários no início da era industrial e a arquitetura, seja na função de comunicação que o desenho exerce na ilustração, na história em quadrinhos, o desenho reclama a sua autonomia e sua capacidade de abrangência como um meio de comunicação, expressão e conhecimento. (Derdyk, 1994, p. 26 e 29).

Visto desta maneira fica difícil imaginar como seriam as representações de nossos projetos se não fossem através do desenho: mímica para projetos de Design e Arquitetura, textual para nossas obras de arte, sistema DOS para nossas páginas da Web, apenas moulage para os produtos de moda? Se desenhar é tão importante, porque a relutância em aprender? Entre os anos de 2006 e 2011, vivenciando o ensino-aprendizagem com as disciplinas de Desenho Artístico, Perspectiva e Geometria da Forma, conseguimos fazer uma pequena análise do perfil dos estudantes que se candidataram a profissão de Bacharel em Design de Interior. Nesse período conduzimos aproximadamente 200 alunos nestas disciplinas e o quadro a seguir mostra como eles se encontravam quando ingressaram à faculdade: Tabela 1 Características 10% praticavam o desenho antes de ingressar à faculdade. Gostavam de desenhar. 200 alunos

90% apresentaram muita dificuldade e quase nenhum conhecimento das técnicas de desenho. Destes, 10% odiavam desenhar. 85% tinham consciência da necessidade de aprender desenho para a profissão escolhida 5% desistiram ou foram reprovados na disciplina de Desenho Artístico

Fonte: própria Os alunos que passaram em Desenho Artístico, mas apresentaram dificuldade nas disciplinas de Perspectiva e Geometria, e não conseguiram aprender as técnicas de desenho eficientemente, apresentam dificuldades em disciplinas de Projeto. Geralmente, não conseguem se comunicar com o professor para esboçar as suas ideias, pois não conseguem visualizar tridimensionalmente seus produtos, nem representá-los no papel. Também não demonstram muita criatividade, projetando apenas produtos básicos de baixa complexidade 10º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design, São Luís (MA).

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como nos mostra as imagens abaixo dos trabalhos realizados por alunos da disciplina Estudo Preliminar do Produto I – Residencial, onde foram desenvolvidos esboços para a ambientação de uma sala:

Figura 1: Perspectivas de alunos que apresentaram dificuldade na disciplina de Desenho Artístico.

Figura 2: Perspectivas de alunos que apreenderam satisfatoriamente as técnicas de desenho.

O alunos da figura 01 apresentaram bastante dificuldade em aprender as noções de três dimensões e as técnicas de desenho ensinadas na disciplina de Desenho Artístico. Um semestre depois, na disciplina de Estudo Preliminar do Produto I – residencial, onde precisaram esboçar um projeto para uma sala apresentaram a mesma dificuldade para o desenho e menos criatividade do que os alunos que se apreenderam as noções de perspectiva e as técnicas de desenho. A chave para a relutância em aprender desenho, assim como o não gostar de desenhar, mesmo sabendo de sua importância para a profissão escolhida, talvez esteja na infância. No mundo Ocidental, a maioria dos adultos não progride em aptidão artística muito além do nível de desenvolvimento atingido aos nove ou dez anos de idade. Na maioria das atividades físicas e mentais, as aptidões de uma pessoa mudam e se desenvolvem à medida que a pessoa atinge a idade adulta: é o caso da fala e da escrita, por exemplo. O desenvolvimento da aptidão para o desenho, porém parece deter-se inexplicavelmente na infância da maioria das pessoas... é porque a aptidão para o desenho não é crucial para a sobrevivência em nossa cultura, como o são a fala e a leitura. (Edwards, 2005, p. 88).

A criança é naturalmente incentivada a desenhar na infância entre os 02 e 05 anos de idade, sendo este estímulo diminuído após a alfabetização. Nesta fase a criança desenha o que vê da forma como acha que deve ser, ou seja, desenha símbolos gráficos dos objetos reais. Outra característica está em sua coordenação motora limitada que ainda não permite a precisão do seu traço, logo as linhas que deveriam ser retas, os círculos que deveriam possuir 360 graus, saem tortos, trêmulos e achatados.

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Assim como não podem atingir o alvo com uma arma de fogo porque lhes faltam a concentração no olhar e a firmeza de mão de um atirador adulto, assim seus olhos e suas mãos carecem da habilidade para conseguir linhas adequadas com um lápis e um pincel. (Arnheim, 1998, p. 209)

O que muitos adultos não percebem é que cada desenho, por mais deformado e simbólico que pareça é uma obra de arte para a criança que o fez, por isso as críticas sarcásticas muitas vezes proferidas por professores, parentes e amiguinhos também funcionam como fator responsável por desestimular a criança a gostar de fazer desenho. Como diz ARNHEIM (1998): “cada intervenção desfavorável por parte do professor pode desorientar o próprio julgamento visual do estudante ou impedi-lo de uma descoberta que ele próprio teria feito”. Em si tratando de estímulo, apresento o caso Nathália, atualmente com 09 anos, como exemplo de que elogios e críticas pontuais espaçadas são estimulantes para o gostar e continuar a fazer desenho. Críticas pontuais seriam observações objetivas, não do desenho como um todo, mas de onde o aluno pode melhorar em termos de traço, variação tonal, tridimensionalidade, etc., ou seja, quais técnicas de desenho podem ser melhoradas em seu desenho. E espaçadas porque entendemos ser necessário um intervalo de tempo entre a crítica e a percepção por parte do aluno do que e como pode ser melhorado. A figura 1 mostra um pouco da trajetória evolutiva de Nathália desde que começou a desenhar aos 03 anos de idade. Atualmente ela é considerada a aluna que melhor desenha em sua sala de aula e seu interesse pelo desenho continua crescente, porém percebi que os amiguinhos de Nathália, que a admiram por saber desenhar, não evoluíram em seus próprios desenhos. Esse é um caso interessante para ser melhor investigado, pois me parece pouco provável que em uma sala de aula com mais de 30 alunos, apenas uma criança consiga este mérito.

Figura 3: A evolução do desenho infantil – Nathália

Dom ou estímulo? Tirando algumas exceções, o estímulo consegue bons resultados. Em números, tenho em minha experiência didático-pedagógica diversos exemplos. Como vimos na tabela 1, a grande maioria dos alunos que iniciam o curso de Design chegam à faculdade com pouco ou quase nenhum conhecimento das técnicas de desenho. Na realidade, como a maioria deixa de desenhar na infância é nesse nível que reiniciam o aprendizado quando adulto, ou seja, com a habilidade manual e a percepção da forma infantil, como vemos nos desenhos a seguir:

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Figura 4: Desenhos dos alunos que iniciam o curso de Design de Interior

Nestes desenhos a grande dificuldade está na representação da terceira dimensão. Não considero, porém estes desenhos errados; são feitos no primeiro dia de aula quando é solicitado aos alunos que desenhem um ambiente como se estivessem entrando nele. Da forma como eles sabem, desenham o que é pedido e todos entendem o que está desenhado, porém, não apresentam as técnicas de desenho valorizadas pela sociedade, que possivelmente não verá o futuro designer como profissional capacitado caso seu desenho não apresente as técnicas tradicionais. O fazer desenho à mão livre exige do desenhista algumas habilidades e conhecimentos específicos para conseguir representar graficamente objetos no plano. Nos itens anteriores vimos a importância de o designer representar imagens o mais próximo possível da realidade para que se faça entender pelo cliente, geralmente leigo nesta área. Espera-se deste profissional o domínio em representar as imagens criadas em sua mente ou existentes em seu entorno visto a olho nu, ou seja, que ele saiba reproduzir as características estruturais do que ele vê ou cria. (Araújo, 2011, p. 49)

O Desenho é uma forma de linguagem que atende ao designer em todas as etapas de sua obra: o Esboço, desenho à mão livre, materializa e comunica a ele mesmo as imagens que estão em sua mente; o Anteprojeto, desenho mais elaborado e atualmente feito com auxílio de computador, comunica ao cliente a intensão do designer, se o projeto corresponderá a sua expectativa, e o Projeto Executivo, geralmente desenhado em duas dimensões, que comunica aos profissionais envolvidos no projeto – marceneiros, vidraceiros, costureiras, etc., como o mesmo deverá ser confeccionado. O desenho se faz presente e necessário, inclusive na etapa de obra, caso alguns dos profissionais venham a ter dúvidas e um croqui precise ser esboçado imediatamente para dirimi-las, urgência esta que torna ainda mais importante o domínio do desenho. A seguir apresentaremos a metodologia trabalhada na disciplina Desenho Artístico dos cursos de Bacharelado em Design de Interior da FBV – Faculdade Boa Viagem, pela qual passaram aproximadamente 200 alunos no total, no período de 2006 a 2012.

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Metodologia de ensino No processo de ensino-aprendizagem adquirido nos últimos seis anos, percebemos que as técnicas tradicionais de desenho podem ser apreendidas satisfatoriamente através do domínio de dois processos: percepção da forma e habilidade manual. Para atingirmos este objetivo nosso plano de ensino consiste em 25% de teoria e 75% de exercícios práticos, sendo a prática a maior parte por entendermos que só se aprende a desenhar praticando o desenho, porém embasados em alguma teoria. Os alunos desenvolvem trabalhos em sala de aula e levam trabalhos para serem desenvolvidos em casa. Nossa metodologia pode ser resumida basicamente nos quatro blocos a seguir: 1º. Bloco: desconstrução da forma: Neste bloco trabalhamos a desconstrução de desenhos para que o aluno enxergue a forma independente de qual seja o objeto. Com auxílio do desenho de observação fazemos o processo inverso do que foi feito pelo artista: desenhamos primeiro o entorno (fundo) para obtermos o objeto principal (figura). Alguns desenhos são feitos de cabeça para baixo como sugere EDWARDS (2005) e outros com o auxílio do quadriculado, pois notamos que estes métodos auxiliam os alunos a perceberem a direção das linhas, suas inclinações, proporções e a dominarem a representação de ângulos mais abertos ou mais fechados. Trabalhamos com o desenho realista(3) seguindo os passos dos grandes mestres como Van Gogh (1853-1890), Picasso (1881-1973), Cândido Portinari (1903-1962), ou Salvador Dali (1904-1989), que dominaram esta técnica antes de adotarem um estilo próprio. O desenho realista(3) proporciona ao aluno o desenvolvimento analógico e concreto, senso de proporção, noções de espaço, volume e planos, segundo HALLAWELL (1994). 2º. Bloco: Teoria Paralelo aos exercícios práticos, damos aos alunos um suporte teórico ilustrado com estudos de caso. A disciplina de Desenho Artístico é dada em um total de 60 horas; em uma aula de 4 horas por semana, 60 minutos são dedicados à teoria, onde são vistos assuntos pertinentes às técnicas de desenho, como: variação tonal, luz e sombra, tipos de traço, técnicas de pintura com lápis de cor, hidrocor e pastel, rendering à mão livre – onde se estuda a técnica de representar textura de madeira, vidro, metal e tecido. 3º. Bloco: Perspectiva com um ponto de fuga Aqui os alunos de Design de interior aprendem a desenhar perspectivas com um ponto de fuga a partir das vistas ortogonais do ambiente proposto. O método utilizado é perspectiva com ponto medidor. 4º. Bloco: este bloco não se trata de uma técnica de desenho, mas de um comportamento aplicado em todos os dias de aula, uma vez que percebemos que muitas críticas aos desenhos apresentados podem agir de forma destrutiva no processo de ensinoaprendizagem. Como dissemos no item anterior, cada desenho é uma obra de arte para a criança que o faz, assim também é com o adulto. Percebendo este melindre, é interessante valorizar cada desafio superado e vivenciado satisfatoriamente e, sim, criticar, porém pontual e espaçadamente, de forma que as mesmas funcionem como direcionadoras do caminho que propomos aos alunos desde a primeira aula, quando mostramos o nível de desenho que a sociedade entende como coerente para um bom profissional.

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O resultado desta didática em porcentagem é a seguinte: 5% dos alunos precisariam de mais horas aulas para atingir o nível almejado, 15% aprenderam algum conceito e 80% conseguiram um bom rendimento como nos mostram as figuras abaixo dos desenhos denominados “DEPOIS”.

Figura 5: Desenhos dos alunos da disciplina Desenho Artístico no final do semestre, após apreensão da didática aplicada.

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Conclusão O desenho para os Designers e profissionais de áreas afins, é um meio para se chegar a um fim. É a forma de que os designers se utilizam para comunicar suas criações, tanto para eles mesmos, quanto para os demais, uma vez que vistas ortogonais – desenhos em duas dimensões, não são interessantes para quem não tem uma formação específica na área. O advento do computador e os programas de desenho auxiliados por ele possibilitou ao desenho aproximar-se ao máximo das imagens reais, tal qual os nossos olhos enxergam. Muito utilizada nos escritórios de arquitetura e design, a maquete digital, que simula o percurso do usuário nos ambientes projetados no monitor, está às vésperas de ser substituída por outros meios de representação como a RV – realidade virtual, por exemplo, que permite ao usuário testar, experimentar o produto antes de comprá-lo, mesmo que virtualmente. O desenho auxiliado por computador, porém, não substituiu o desenho à mão livre. A importância do desenho tridimensional feito à mão, também denominado esboço, está em tornar possível a comunicação de uma ideia, um input entre designers, mas também a comunicação entre alunos e professores da área, pois percebemos que a deficiência em representar suas ideias limita ou bloqueia sua criatividade; projetam o básico por não saberem representar o complexo. Concluímos também que o desenho à mão livre tridimensional é ainda a forma mais rápida e mais acessível de transmissão de mensagens, uma vez que para a sua realização basta um lápis e um papel, ou um giz e uma lousa, ou um graveto e o chão. A pesar de o seu conhecimento não ser inerente ao homem, é possível desenvolver o raciocínio ou o olhar tridimensional, assim como é possível desenvolver a habilidade manual bloqueada, muitas vezes na infância. Este aprendizado não exige demais dos aspirantes ao desenho, mas é necessária uma metodologia que aplique as convenções básicas do desenho tido como ideal pela sociedade, e que o condutor, professor, ou ainda facilitador veja no aluno um terreno fértil, porém frágil, fácil de fechar-se novamente em si mesmo.

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Notas 1. Sabe-se que Leonardo da Vinci (1452-1519) além de exímio pintor, era escultor, arquiteto, engenheiro, cientista, anatomista e inventor. “História da cidade”, Leonardo Benévolo, Ed. Perspectiva, 1983. 2. A fotografia não tem um único inventor. Ela é uma síntese de várias observações e inventos em momentos distintos. Deve-se a George Eastman sua popularização “A história da Fotografia”. Disponível em www.kodak.com.Br/pt/fotografia/historia/tehistoria01.shtml. Acesso em 08 de abril de 2004. 3. Por desenho realista consideramos aquele que se aproxima ao máximo da realidade em termos de proporção, volume, representação de luz e sombra, seja em preto e branco ou colorido, não sendo necessariamente os desenhos desenvolvidos durante o movimento artístico e literário de mesmo nome nas últimas décadas do século XIX na Europa.

Referências ARAÚJO, K. M. de Lima. A Perspectiva Linear – e a eficácia de sua comunicação. São Paulo, Editora Edgard Blücher Ltda, 2011; ARNHEIM, Rudolf. Arte e Percepção Visual, uma psicologia da visão criadora. São Paulo12a. ed, Livraria Pioneira Editora, 1998; BACKES, Rosane Jochims. O ato de desenhar: do desenvolver da percepção à construção da representação, XIV Congreso Internacional de Ingeniería Gráfica, Santander, España – 5-7 junio de 2002. BENEVOLO, Leonardo. História da Cidade. São Paulo, Ed. Perspectiva S.A, 1983; DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho. Desenvolvimento de Grafismo infantil, Ed. Scipione, 1994; EDWARDS, Betty. Desenhando com o Lado Direito do Cérebro, 8a. Edição, Ed. Ediouro, 2005; GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991. HALLAWELL, Philip. À Mão livre, A linguagem do Desenho. Ed. Melhoramentos, 11a. Edição, 1994; MONTENEGRO, Gildo A. A Perspectiva dos Profissionais. São Paulo, Editora Edgard Blücher Ltda, 1983; MIGUEL, J. M. Camielo. Brunelleschi: O caçador de Tesouros. Disponível em www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq040_02.asp , acesso em 26 de janeiro de 2004.

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