Desenvolvimento humano e educação a distância: a articulação entre interatividade e interação

July 22, 2017 | Autor: Ivar Vasconcelos | Categoria: Interatividade, Educação a Distância, Racionalidade, Desenvolvimento humano, Interação
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Vol. 6, Nº 3 ISSN 1981-9862

DESENVOLVIMENTO HUMANO E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: A ARTICULAÇÃO ENTRE INTERATIVIDADE E INTERAÇÃO 2 HUMAN DEVELOPMENT AND DISTANCE EDUCATION: A RELATIONSHIP BETWEEN INTERACTIVE AND INTERACTION

RESUMO

Ivar César Oliveira de Vasconcelos 1

Este texto relata os resultados de pesquisa sobre a articulação entre interatividade e interação – duas dimensões da educação a distância – entendida como impulso importante para o desenvolvimento da integralidade humana de alunos. Investiga essa articulação no contexto de priorização da transmissão de conteúdos no processo educativo dessa modalidade de ensino, em comparação com a operacionalização de valores. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas. A articulação entre interatividade e interação envolve a autonomia, a consciência crítica, o relacionamento entre docentes e discentes e entre estes, bem como os valores e o compartilhamento de visões de mundo. No entanto, existem lacunas a preencher nas estratégias de formação de professores e na complementaridade entre as disciplinas ministradas. Aparentemente, a educação a distância se encontra enlaçada pelas contradições de uma escola detentora do monopólio de credenciais, realizadora do ideal modernista da escola para todos, nem tão desejada como o fora no passado quando a educação era privilegio.

ABSTRACT

PALAVRAS-CHAVES

educação a distância; desenvolvimento humano; interatividade; interação, racionalidade.

This paper reports research results on the articulation between interactivity and interaction – two dimensions of distance education – which is understood as important impetus for the development of human integrality of students. It investigates this articulation within the context of prioritizing of the transmission of contents into the educational process of this modality of education, compared with the operationalization of values. Data were collected through semi-structured interviews. The articulation between interactivity and interaction involves the autonomy, the critical consciousness, the relationship between teachers and students, and among students, sharing values and worldviews. However, there are gaps to fill regarding the strategies of teacher training and the complementarity between the subjects taught. Apparently, the distance education is ensnared by the contradictions of the school which is: owner of the monopoly of credentials; performer of the modernist ideal of the school for everyone; institution which not is as desired today as it had been in the past when education was a privilege.

KEY-WORDS Distance Education; Human Development; Interactivity; interaction; rationality. Doutorando em Educação pela Universidade Católica de Brasília. E-mail: [email protected] Trabalho apresentado na 4th International Conference of Education, Research and Innovation, realizada na cidade de Madri, de 14 a 16 de novembro de 2011. O texto original encontra-se publicado no Livro de Atas, p. 2296-2305.

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INTRODUÇÃO

O problema e o objetivo da pesquisa



A grande disponibilidade de meios científicos e tecnológicos e a falta de nitidez dos valores

caracterizam a contemporaneidade, com prioridade para a tecnologia em detrimento do ser humano. Em decorrência, desencadeiam-se graves problemas sociais como a violência, o desrespeito a direitos básicos e a xenofobia. No âmbito da educação – chamada a envolver-se na solução desses problemas – as novas tecnologias da informação e comunicação (TIC) abrem portas à educação a distância (EAD) com recursos favoráveis a essa tarefa.

À utilização desses recursos alia-se o cumprimento do papel sociocultural da educação, atualizado

com o tempo e pautado em modos de pensar e organizar o discurso a respeito do mundo e da humanidade. Desse modo, além da visão de mundo, ao efetivar-se, a EAD parte da concepção de ser humano – buscando por não reduzi-lo à razão, à fé ou à emoção. O indivíduo não existe sozinho com ele mesmo ou com a natureza, mas afirma-se na relação significativa mantida com o entorno, onde estão os outros. Ao ocupar um lugar específico, em coletividade, ele supre necessidades elementares e concretiza sonhos. Sendo ser sociocultural, não vem ao mundo só, não cresce nem se educa sozinho.

Nessa dinâmica, a EAD intenta conectar os aspectos informativos e formativos da educação,

considerando não apenas a imensa circulação de dados, aspectos cognitivos e objetivos presentes no processo educacional, como também as crenças, os comportamentos e os valores. Os primeiros destes aspectos têm a ver com interatividade e os segundos com interação, duas dimensões dessa modalidade de ensino. Interatividade se refere a conteúdos adquiridos por intermédio de recursos tecnológicos, como o computador, e interação às trocas e influências entre as pessoas nas falas, gestos, recados e discussões, em torno principalmente de alunos e professor (conf. THOMPSON, 1998, referente à interação mediada). A conexão entre as duas dimensões contribui para a integralidade humana, envolvendo não somente o conhecimento, mas, sobretudo, o lado axiológico do processo educacional.

Essa conexão ocorre simultaneamente à constante inserção de novas tecnologias na prática didático-

pedagógica da EAD, contribuindo para criar tipos de comunicação com os quais os discursos obedecem às lógicas de rede e não mais às lógicas lineares. Se, por um lado, esta inserção alarga potencialmente o já diversificado domínio da interatividade nas TIC, por outro, amplia ações focadas na interação – com diferencial na produção de conhecimentos ao desenvolver valores. Tal dinâmica se coaduna com horizontes

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relacionados ao objetivo de centralizar a aprendizagem no educando. No entanto, predomina ainda a pura transmissão de conteúdos, num processo de racionalização do fazer educativo, incompatível com a potencialização de interações que, em se desdobrando, contribui para atingir o objetivo de desenvolver plenamente o indivíduo.

Com base nestas considerações, foi realizada pesquisa visando a analisar a articulação entre

interatividade e interação, a partir da identificação de alguns aspectos do processo educacional, tendo-a como fundamental para a prática didático-pedagógica capaz de contribuir para o atingimento daquele objetivo.

A EAD e o papel sociocultural da educação



Apesar de ser uma modalidade de ensino com mediação didático-pedagógica efetivada por meio

de atividades praticadas em lugares e tempos diferentes (BRASIL, 1996; 2005), a EAD não prescinde da interação entre as pessoas envolvidas com a sua operacionalização. Tecnologia e ser humano, respectivamente, situam-se no horizonte da interatividade e da interação. Embora seja difícil separar estas categorias, no cotidiano é possível delimitá-las. Para Castro (2009), enquanto na primeira ocorre procura por informações e intercâmbio entre elas, na segunda ocorre imediato retorno e intercâmbio de mensagens socioafetivas. Desse modo, ao lado da enorme gama de serviços fornecida por intermédio de interfaces padronizadas, envolvendo textos, áudios, vídeos, imagens gráficas e em especial as redes de computadores, estão as pessoas direta ou indiretamente vinculadas ao processo educativo.

Estas pessoas interagem, trocam impressões e têm objetivos individuais, atuando em contextos

diferenciados em relação ao âmbito da sala de aula, com tecnologias específicas. São as videoconferências, correios eletrônicos, canais de voz ou outras tecnologias. Ao modificar a interação entre professor e aluno, a EAD pode fortalecer o papel sociocultural da educação.

Como as estratégias de formação para o trabalho não podem mais ser rígidas, com foco exclusivo

na aquisição de competências e habilidades favoráveis à execução de atividades específicas (TAVARES, 1996), torna-se crucial preparar o indivíduo para lidar com um quadro de ocupações cada vez mais dinâmico. É imprescindível possibilitar a construção de estruturas visando à conquista da autonomia, capacidade para inovar e criticar. Para Machado (2004), a bifurcação fundamental do universo do trabalho em seguidores de rotinas e analistas simbólicos – como propusera Reich (1994) – ainda não se tornou preocupação da escola, ainda com prioridade na capacitação para ocupações específicas. Segundo ele, os

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cursos de graduação são incipientes ao preparar os indivíduos na perspectiva de reduzir os currículos à transmissão de conteúdos, sem a preocupação em prepará-los melhor em áreas como psicologia, filosofia e sociologia. No caso da EAD, a formação para o exercício de funções profissionais ocorre no contexto da vinculação entre os serviços fornecidos por interfaces padronizadas e aspectos humanos.

Noutra perspectiva, cabe à educação contribuir para o desenvolvimento de valores, no tempo

contemporâneo caracterizado por uma pluralidade moral. Não havendo modelo ideal de pessoa, autores concebem os direitos declarados fundamentais em 1948 como um conjunto de princípios universais com força suficiente para orientar as éticas individual e coletiva. Esta perspectiva universalista se sustenta na noção de cidadania, servindo para dar coerência aos valores e aglutinar propostas de uma educação voltada para concretizá-los.

Mesmo considerando esta perspectiva generalista, a maioria dos problemas éticos não é solucionada,

como destaca Marchesi (2008). Dentre eles, situa-se a diferença entre os princípios transmitidos pela sociedade (competição, individualismo, violência etc.) e os exigidos por ela à ação da escola (lealdade, igualdade, paz, solidariedade etc.), constituindo-se, talvez, na maior contradição. A educação preocupada com fatores axiológicos envolve três enfoques complementares. Educa-se: para a cidadania (foco no presente, na aquisição de competências cognitivas, comunicação e ética); sobre cidadania (ênfase em aspectos morais e cívicos a partir de reflexões) e por meio da cidadania (exercício do civismo, participação, respeito mútuo e tolerância).

Desse modo, formar para o trabalho e contribuir para desenvolver valores atualizam a gênese

humana, multidimensional, para lá da aquisição de conhecimentos acadêmicos. Na EAD esta atualização conecta-se com a capacidade de o processo educacional articular interatividade e interação – uma ampliação do universo de saberes e princípios, resultando na conquista da autonomia, na maior consciência crítica e no compartilhamento de visões de mundo.

Fundamentando a articulação interatividade-interação



A EAD contribui para a integralidade humana por basear-se não somente em mecanismos de

suporte compatíveis com a velocidade das informações, mas também por fundamentar-se na interligação entre perspectivas e conceitos relacionados à formação humana. Tal dinâmica ocorre com aprendizagens significativas em clima favorável à convivência entre educandos e educadores. Em primeiro lugar, prima por uma ecologia dos saberes, expressão utilizada por Santos (2004; 2007) para se referir à pluralidade de conhecimentos e à ênfase no diálogo entre o saber científico e o humanístico. Conforme o autor, essa

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epistemologia proporciona a comparação entre o conhecimento científico e os demais tipos, rebalanceando a conexão entre ciências naturais e práticas sociais, desequilibrada desde a primeira Modernidade. Este desequilíbrio teria impedido o cumprimento das promessas modernas de liberdade, igualdade e solidariedade, frustrando expectativas ainda vivas em populações do planeta inteiro. Desse modo, ao situar a ciência como parte de uma ecologia mais ampla e realizar a tradução intercultural entre conceitos, essa maneira de produzir conhecimentos proporcionaria a abertura necessária para restabelecer o equilíbrio entre as ciências da natureza e as antropossociais – as pessoas se humanizariam a partir do conhecimento capaz de reunir a ciência e os valores num novo paradigma.

Em segundo lugar, fundamenta-se na construção da mentalidade favorável ao saber viver num

mundo plural, globalizado e de várias culturas, traduzida na capacidade de aprender a ser, a conviver, a participar e a habitar em tempos de diversidade moral (MARIA PUIG, 2007). Desse modo, mobilizase no sentido de desenvolver integralmente os discentes, pois se ensina para a vida na perspectiva da relação mantida por eles com o mundo e entre si. Para Martín García (2010), ajudá-los a aprender a viver constitui o principal objetivo da educação para valores – possibilita a eles escolher e adotar modos de vida sustentáveis. Refere-se, portanto, ao fazer humano no vínculo inteligente estabelecido no grupo aqui e agora e projetando o futuro.

Por último, baseia-se na ideia de construção do ser e do fazer moral valendo-se tanto do emocional

como do racional. Como afirma Gomes et al. (2008), a educação enriquece a capacidade de ação e reflexão, seja quando o indivíduo aprende sozinho ou quando está no ambiente coletivo. Para os autores, educar significa conectar o sentir, o pensar e o agir; quer dizer, “acima de tudo, a integração entre razão e emoção; é o resgate dos sentimentos visando à restauração da incerteza humana e paradoxalmente da multidimensionalidade do ser” (p. 45).

Portanto, contribuir para o desenvolvimento pleno por meio do ambiente virtual de aprendizagem

implica considerar não somente os mecanismos de suporte, seja no nível institucional, seja na atuação didático-pedagógica do educador. Em seu papel, seja como conteudista, autor, coordenador de aprendizagem, tutor e instrutor, o educador da EAD exerce função pedagógica nas áreas do social, do administrativo e da técnica, como sublinha Gonzalez (2009). Ele conduz, instiga, orienta, simula e auxilia na aprendizagem, de maneira diferente do ambiente presencial, de acordo com Moore e Kearsley (2008). Desse modo, articulam-se interatividade e interação na complexa tessitura composta por elementos internos e externos ao processo educacional.

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METODOLOGIA DA PESQUISA

Os dados foram gerados a partir de entrevistas semiestruturadas, com duração média de 40 minutos,

realizadas com dois professores atuantes em EAD por cinco anos, com mestrado em educação e em políticas públicas e gestão educacional. Como em pesquisas qualitativas o universo analisado não se constitui dos participantes em si, mas de representações, conhecimentos, práticas, comportamentos e atitudes (DESLANDES, 2009), a quantidade de participantes foi suficiente para gerar os dados. Sem a pretensão de generalizar os resultados para populações mais amplas, não se buscou obter amostras representativas, mas explorar e descrever o objeto de pesquisa para gerar novas perspectivas de investigação (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2006).

RESULTADOS E DISCUSSÃO



Ao tencionar a interconexão entre aspectos cognitivos e axiológicos, o processo educacional

equilibra conhecimento teórico e desenvolvimento, interpenetrando aspectos informativos e formativos, com base no entrelaçamento de perspectivas e conceitos como mencionado anteriormente. Em relação à EAD, a articulação entre interatividade e interação se constitui em ponto chave. Considerando isto, foram identificadas cinco características do processo educativo (separadas no discurso dos participantes, mas não na prática), analisadas com o intuito de inferir as contribuições da EAD.

As três primeiras características foram consciência crítica, relacionamento e valores, as quais

se referem, respectivamente, aos aspectos cognitivos, emocionais e axiológicos. Duas outras foram a autonomia e o compartilhamento de visões de mundo, finalísticas do processo, conexas, respectivamente, com a individualidade do aluno e com a coletividade onde ele se insere. As descrições a seguir possibilitam percorrer trajetória de análise, na articulação entre interatividade e interação, iniciada no plano individual e finalizada no social. Desse modo, configura-se a interligação entre essas características, emblemática quanto à complexidade da EAD (ver Fig. 1).

Para haver mais consciência crítica, um dos professores entrevistados incentiva a reflexão a

respeito das atividades praticadas e a projeção como futuros professores (são graduandos do curso de Licenciatura em Pedagogia). Para ele, isto favorece a transferência de saberes. Para o outro entrevistado, o aluno deveria se perceber como protagonista de seu aprendizado e como alguém dependente de seu grupo de convivência. A consciência crítica seria construída por meio de discussões, compartilhamento de informações e ideias e responsabilização, com coordenação do professor, seja em seminários, encontros

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presenciais ou levantamento de questões. Essas falas evidenciaram a ideia freireana a respeito do ato educativo, supondo a situação humana como um problema sobre o qual pode e deve incidir o ato cognoscente. Desse modo, o indivíduo aprofunda a tomada de consciência da realidade (FREIRE, 2011), propulsora da educação (VIEIRA PINTO, 2007). Desenvolvimento humano no plano social

Desenvolvimento humano no plano individual

Autonomia

Consciência crítica Relacionamentos

Compartilhamento de visões de mundo

Valores

Interatividade e interação Fig. 1 – Características do processo educacional analisadas com o objetivo de identificar a articulação entre interatividade e interação.



Para os participantes, o relacionamento entre professor e alunos e entre estes, poderia ser melhor

se o fórum de discussão e o chat fossem utilizados com mais frequência. Por meio dessas ferramentas as ideias seriam trocadas. Para um dos entrevistados, os cursos a distância são promovidos basicamente por intermédio do cumprimento de demandas: “as tarefas são registradas em ambientes específicos, mas a mediação restringe-se ao âmbito das discussões entre professor e alunos nos fóruns. Deveríamos fugir um pouco de seu uso e do chat e aplicar ferramentas e mecanismos de interatividade”. Com efeito, como a comunicação mediada por novas tecnologias alteraram significativamente o modo como pessoas se organizam, bem como a maneira de evidenciar suas identidades, encontram-se abertas novas alternativas de interação. Desse modo, os modelos de estruturação de cursos na EAD permitem construir a informação desejada enquanto se almeja adquirir conhecimentos.

Confiança, lealdade, respeito, responsabilidade, cumprimento de prazos, disciplina e autonomia

foram valores mencionados pelos professores. De acordo com eles, atitudes simples como uma ligação telefônica para o aluno em situação de conflito ou com dificuldade de aprender contribuem para aumentar a confiança e a lealdade. Estas opiniões remetem para os tipos de conteúdos, conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), onde os conceituais envolvem fatos e princípios e os procedimentais e atitudinais envolvem a abordagem de valores, normas e atitudes. Interconectar esses conteúdos faz parte da prática didático-pedagógica, cabendo ao professor aproveitar as diferenças com as quais se depara em seu fazer pedagógico.

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Sendo orientador de monografia final de cursos da EAD, um dos professores entrevistados declarou

preocupar-se com a autonomia – aproveita dificuldades de aprendizagem e introduz tarefas com pistas para a solução de questões do conteúdo ministrado: “às vezes, os alunos nem sabem por onde começar a monografia e como são obrigados a definir o tema, recortar e delimitar os assuntos, eu os oriento a definirem os títulos dos capítulos”. Para o outro entrevistado, a autonomia poderia ser incentivada com estudos de temas selecionados por professores e debatidos em fóruns conduzidos por alunos. O compartilhamento de responsabilidades seria algo importante: “então o professor deixa de ser apenas o mediador e descentraliza responsabilidades; tarefas pedagógicas descentralizadas geram maior autonomia”. A participação do discente está na capacidade de se perceber como um ser intervindo no mundo (FREIRE, 2011). Dessa maneira, para além da colocação em prática de conhecimentos adquiridos, forma-se o indivíduo para observar e analisar as diversas realidades. Para agir com autonomia, em contextos criados e recriados permanentemente por ele e educador.

Finalmente, a proposta educativa preocupada com o desenvolvimento pleno considera a imagem

particular de mundo elaborada por alunos e professores e observa também o compartilhamento dessa imagem. Nesta perspectiva, não o chat, mas o fórum de discussão apareceu como instrumento adequado ao compartilhamento de visões de mundo. As discussões ocorridas nestes meios de interação poderiam ajudar a refletir a respeito de soluções de problemas práticos: “a gente costuma abrir o fórum do cafezinho, um espaço aberto para mediação e intercomunicação”. Com efeito, passa a haver diálogo a respeito da relevância do questionamento e da criatividade. Cria-se a razão aberta acolhedora dos fragmentos da realidade, receptora do ser humano em sua plenitude (MORIN, 2008). A razão aberta considera o trágico, o sublime, o irrisório, o amor, a dor e o humor como fontes de conhecimento e de verdade e não meramente divertimento. Desse modo, o processo educacional cuja base se constitui na razão aberta conta com professores competentes, capazes de entusiasmar não somente para o aprendizado, mas de ampliar conhecimentos, zelando pelo afetivo e pela capacidade de compartilhar visões de mundo.

CONCLUSÃO

A EAD efetivamente preocupada com o desenvolvimento do indivíduo não atua apenas com o apoio ao aluno no acesso a ferramentas tecnológicas, mas age a partir da clara definição dos objetivos educacionais implicados. A formação e o perfil específicos do educador da EAD exigem mudança de olhar quanto ao currículo e ao papel da educação e do professor, bem como quanto à revisão de leis educacionais. Por ter atuação diferente em relação à da sala de aula, ele articula conteúdos conceituais, procedimentais e

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atitudinais na relação existente entre interatividade e interação. O educador compreende sua complexa tarefa.

Assim, à formação docente e ao perfil do profissional agregam-se outros aspectos, construindo um

complexo de iniciativas e ações a caracterizar a EAD em sua tarefa de contribuir para formar o indivíduo integral. A educação, como a vida, exige a integração do pensar, sentir e agir, verbos conjugados todo o tempo pela pessoa, pelo trabalhador e pelo cidadão. Embora paradoxal, por se utilizar de argumento, pode-se afirmar: somente a racionalidade não atende ao requerido pela Pós-Modernidade. Sem cumprir a promessa de emancipação, a escola ainda reproduz, disseminando a transmissão do capital econômico e cultural como originária do mérito e dos dons individuais. Como lembram Gomes, Vasconcelos e Lima (2012), a escola como instituição racionalizadora da Modernidade (TOURAINE, 1997) possui três contradições pelas quais a EAD se encontra enlaçada: a escola mantém o monopólio das credenciais, mas perdeu o monopólio do conhecimento científico e tecnológico; em muitos países, ela atingiu o ideal modernista da escola para todos, mas convive com diversos problemas advindos com o ingresso de novas populações; a escola, desejada por muitos quando a educação era privilégio, constitui-se em lugar de revolta para parte das populações sem capital cultural (BOURDIEU; PASSSERON, 1970) nela presentes. Como desvencilhar a EAD dessas contradições se se quer contribuir para uma educação capaz de contribuir para a integração entre pensar, sentir e agir?

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