Diários sobre Cabo Norte: Amazônia, modernização e conflito; uma resenha.

July 5, 2017 | Autor: Luis Paulo Castro | Categoria: Amazonia, Amazonian Studies, História, Amazonian History, Resenha, Viajantes Naturalistas
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QUEIROZ, J. Marçal de. Diários sobre o Cabo Norte. Amazônia Modernização e Conflitos, século XVIII e XIX. UFPA 2001. P.23-54.

O texto de Jonas Marçal de Queiroz aborda sobre os interesses de Estado na região amazônica e relatos de viajantes que despertavam a curiosidade da Europa.
A princípio o autor faz uma introdução sobre as condições territoriais da região amazônica, as disputas do território entre a coroa portuguesa e a Espanha, além dos outros Estados interessados na região como Holanda e França. As reflexões se focam em duas viagens ocorridas no século XVIII com o propósito de analisar o espaço da região amazônica, principalmente a localidade do Cabo Norte e os rios que atravessam o território e que deságuam nesta região. Tal localidade é tida como vital para as nações envolvidas no controle do território e do comércio regional, pois margeia a foz do grande rio amazonas (como conhecemos hoje), além de serem terras excelentes para a pecuária.
Queiroz destaca dois exploradores intelectuais que estudam esta região com objetivos e métodos distintos; estes são Charles-Marie de La Condomine e Alexandre Rodrigues Ferreira. Estes dois cientistas ilustram a disputa de Estado sobre o território amazônico, onde Portugal e Espanha ainda delimitam fisicamente, ou seja, na prática o que se havia concordado no Tratado de Tordesilhas, além das invasões dos franceses na região do Maranhão.
Condamine tenta distanciar seus estudos de motivações políticas, porém Rodrigues levanta tal discussão. É possível identificar a cientificidade "desmascarando" a possível fantasia dos marinheiros e contadores de lendas, em Condamine, porém seus princípios iluministas sobre a racionalidade e o processo de civilização dos povos supostamente não civilizados ou "primitivos" esboça uma mentalidade comum a círculo intelectual europeu do século XVIII, sua visão sobre os povos nativos ainda reproduz o discurso civilizatório, mesmo apresentando uma interpretação das particularidades culturais das nações da região amazônica, porém seu discurso não é carregado do método colonizador explorador, ou método da conquista pela força bruta.
Rodrigues, posterior a Condamine preocupava-se em coletar e enviar produtos naturais para a metrópole, além de analisar as potencialidades econômicas das localidade por onde passava, e claro, principalmente do Cabo Norte. A coleta de produtos como plantas, sementes, rochas e analises dos povos nativos era de interesse científico, porém seria utilizado também para legitimar a posse da Coroa portuguesa sobre a região do Cabo Norte. Foi elaborado um inventário que provava a propriedade da Coroa sobre o local, pois mesmo com a presença dos Espanhois e franceses ser anterior a dos portugueses nesta área, os lusitanos descobriram, conquistaram, povoaram, e investiram na localidade e ainda por cima, com acordos, alianças e o consentimento das populações nativas.
Porém é importante notar-se que a postura de Rodrigues não deve ser mal interpretada, concluindo-se que todo o seu estudo foi motivado por interesse político em favor da Coroa lusitana; o processo do pensamento ilustrado na França, seguido por Condamine pertencia a um contexto diferente do de Portugal, os franceses se preocupavam com uma ciência universalista enquanto que os portugueses com um saber mais prático, aplicado de forma efetiva em algo produtivo em favor do Estado, da pátria.
Portugal expulsa os franceses com base na linha imaginário territorial e nas leis papais estipuladas para esta divisão de terras, os lusitanos não poderiam perder uma localidade geograficamente estratégica, uma espécie de desembocadura do rio grande que vem dês de os Andes até o mar.
As viagens pela Amazônia colonial caracterizam o movimento de expansão ultramarino e é motivado pelo imaginário fantástico, o reconhecimento territorial e também um local para exploração e práticas científicas da razão iluminista em "terras desconhecidas".





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