Dieta da tartaruga-verde, Chelonia mydas (L.) no litoral do município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

October 2, 2017 | Autor: A. G. Pedrini | Categoria: Marine Biology, Chelonians, Diet, Algal Biofuels
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Dieta da tartaruga-verde, Chelonia mydas (L.) no litoral do município do Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

Gláucia Baur de Souza2, Alexandre de Gusmão Pedrini2, Liana Rosa1, Katiê Lima da Costa1, Erick Behrends2, José Lailson Brito Jr1. 1

Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores (MAQUA), Faculdade de Oceanografia,

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rua São Francisco Xavier, 524, Maracanã, Cep: 20550-013, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 2

Laboratório de Ficologia e Educação Ambiental (LAFEA), Instituto de Biologia Roberto Alcântara

Gomes, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rua São Francisco Xavier, 524, Maracanã, Cep: 20550-013, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. ([email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected])

Introdução

A tartaruga-verde é um animal com distribuição cosmopolita, ocorrendo ao longo da costa brasileira. Esta espécie é considerada ameaçada de extinção pela IUCN (Seminoff, 2013). Após eclosão dos ovos, os filhotes se dispersam pelos oceanos para uma fase de desenvolvimento pelágica (Bolten, 2003). Nesta fase de seu ciclo de vida, apresentam hábitos onívoros com forte tendência a carnivoria. Após o recrutamento em ambientes costeiros, passam a se alimentar principalmente de algas e gramas marinhas (Bjorndal 1997, Arthur et al., 2008). Estudos na costa brasileira reforçaram a importância de algas na dieta desses animais (Pedrini et al., 2010; Awabdi et al., 2013). Este estudo tem como objetivo caracterizar a dieta de C. mydas, em sua fase juvenil, no litoral do município do Rio de Janeiro.

Metodologia Vinte e três exemplares de C. mydas foram encontrados mortos encalhados em praias ou capturados incidentalmente em rede de pesca entre 2011 e 2012. Foram coletados no litoral do município do Rio de Janeiro entre a praia da Bica na Ilha do Governador até Barra de Guaratiba. A maioria dessa área é fortemente impactada negativamente. A dissecção foi feita

com base no manual de anatomia de Wyneken (2001). O trato digestório foi removido e somente o conteúdo do esôfago e estômago foi utilizado para identificação e

quantificação. O conteúdo foi lavado, triado e foi feita a identificação taxonômica até o nível mais básico possível. Cada item foi mensurado pelos métodos de volume deslocado (mL) e pesado em uma balança digital, para obtenção dos valores de massa (g). Os itens com massa (g) e volume (mL) menor que 0,1 foram desconsiderados nas análises quantitativas, mas incluídos na frequência de ocorrência. As estações do ano foram assim consideradas: a) verão: os meses de janeiro, fevereiro e março; b) outono: abril, maio e junho; c) inverno: julho, agosto e setembro; d) primavera: outubro, novembro e dezembro. Todos os animais foram considerados juvenis de acordo com Balazs e Chaloupka (2004). Para a análise por classes de tamanho foi considerado o valor menor e maior e igual à média do CCC (comprimento curvilíneo da carapaça), equivalente a 42,5cm, por representar a média da amostra. Para tratar os dados foram calculadas as frequências de ocorrências, gravimétricas, volumétricas e os índices de importância alimentar, para massa e para volume, segundo Gama (2012).

Resultados e Discussão Os exemplares coletados apresentaram 26 itens alimentares em seus tratos, todos de origem vegetal, apresentando macroalgas, grama marinha e propágulo de mangue. A clorófita Ulva fasciata (39,1%), a rodófita Gelidium floridanum(30,4%) e o propágulo da magnoliófita A. schaueriana (30,4%), apresentaram maior frequência de ocorrência, todavia, registraram baixas frequências gravimétricas e volumétricas. Ulva lactuca apresentou maior frequência gravimétrica e volumétrica, 70,03% e 70,01% respectivamente e maior índice de importância alimentar (3,7 % para massa e volume). O consumo principal por itens vegetais já foi mencionado por outros autores. Reisser et al. (2013) registraram um maior consumo da alga vermelha Pterocladiella capilacea, porém, estudaram uma unidade conservação marinha não poluída. A síntese bibliográfica sobre a citação de itens de origem vegetal em C. mydas feita por Pedrini et al.(2013), mencionou a ocorrência de 94 táxons de algas bentônicas, sendo 62% delas da divisão Rhodophyta. No entanto, a síntese apenas apresentou dados qualitativos. Em Gama (2012) o predomínio foi da grama marinha Halodule wrightii. O predomínio da divisão Chlorophyta concordou com os resultados de Awabdi et al. (2013) realizado no litoral norte do estado, tendo Ulva lactuca como um dos principais itens compostos na sua dieta. O gênero Ulva é considerado oportunista e tolerante a

poluição orgânica, sugerindo que os locais de desenvolvimento das tartarugas-verdes, podem estar sendo afetados negativamente por poluentes. Os itens consumidos pelas C. mydas estão diretamente relacionados com o habitat onde se alimentam provavelmente estes locais apresentavam uma abundância da clorófita Ulva lactuca. Dentre os exemplares, seis tartarugas-verdes foram coletadas no verão (26,1%), seis no outono (26,1%), sete no inverno (30,4%) e quatro na primavera (17,4%). O gênero Ulva ocorreu com mais frequência em todas as estações do ano, enquanto que a alga parda Sargassum cymosum foi o segundo item mais frequente aparecendo no outono e inverno. A ocorrência de S. cymosum sugere que as tartarugas possam se alternar entre áreas não muito impactadas negativamente com outras mais impactadas onde ocorrem os táxons de Ulva. A grama marinha Halodule sp. só não ocorreu no verão. Creed (1999) estudando 21 populações de Halodule wrightii ao longo da costa do Rio de Janeiro não encontrou material reprodutivo ou com sementes, sendo as populações geralmente pequenas. Ressaltou também os baixos valores de biomassa em suas estruturas, sendo limitados pelas condições ambientais mais extremas na região estudada. No ano de 2012 não houve consumo de nenhuma espécie de alga parda, sugerindo que as tartarugas-verdes não se alimentaram em áreas de boa qualidade nutritiva. Entre as classes de tamanho menor que 42,5 cm o Codium taylorii foi o mais abundante, já para a classe maior que 42,5 a Ulva lactuca. Segundo McDermid et al. (2005) e Reisser et al.(2013) a clorófita Codium sp. tem baixo teor de fibra em seus tecidos, tendendo a favorecer uma digestão fácil e rápida. Os valores analisados para as frequências gravimétricas e volumétricas foram diferentes para cada item consumido, mas essa diferença não foi significativa nos resultados obtidos.

Conclusão Os indivíduos de C. mydas juvenis alimentaram-se somente de itens de origem vegetal, predominando a clorófita macroscópica Ulva lactuca. Essa espécie ocorreu com maior frequência gravimétrica, volumétrica e maior índice de importância alimentar para massa e volume, sugerindo a abundância desde item nas áreas de encalhe. A variação foi significativa entre as classes de tamanho menores e maiores que 42,5cm. Em 2012 não foi identificado o consumo de algas pardas, sugerindo que as tartarugas-verdes se alimentaram em locais com má qualidade ambiental. Os dois métodos utilizados, massa e volume deslocado, quando comparados entre si, não apresentaram variação significativa entre si.

Referências

ARTHUR, K. E.; BOYLE, M. C.; LIMPUS, C. J. Ontogenetic changes in diet and habitat use in green sea turtle (Chelonia mydas) life history. Marine Ecology Progress Serie, v. 362, p. 303-311, 2088.

AWABDI, D. R.; SICILIANO, S.; BENEDITTO, A. P. M. First information about the stomach contents of juvenile green turtles, Chelonia mydas, in Rio de Janeiro, southeastern Brazil. Marine Biodiversity Records, v. 5, n. 6, p. 1-6, 2013.

BALAZS, G. H.; CHALOUPKA, M. Thirty-years recovery trend in the once depleted Hawaiian green sea turtle stock. Biological Conservation, v.117, p. 491-498, 2004.

BJORNDAL, K. A. Foraging Ecology and Nutrition of Sea Turtles. In: Lutz, P. L., J. A. Musick (Org.). Biology of Sea Turtles. Boca Raton: CRC Press, p.450, 1997.

BOLTEN, A. B. Oceanic developmental stages variation in sea turtle life history patterns neritic vs. In: LUTZ, P. L., MUSICK, J. (Org.) The Biology of Sea Turtles. Boca Raton, FLORIDA: CRC Press, 2003, v. 2, p. 243-257.

CREED, J. C. Distribution, seasonal abundance and shoot size of the seagrass Halodule wrightii near its southern limit at Rio de Janeiro state, Brazil. Aquatic Botany, v. 65, p. 47-58, 1999. GAMA, L. R. Ecologia alimentar de Chelonia mydas (Linnaeus, 1758) no litoral do Paraná. 2012. 59f. Monografia (Bacharel em Ciências Biológicas) - Setor de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Paraná,Curitiba, 2012.

MCDERMID K. J.; STUERCKE, B.; HALEAKALA, O. J. Total dietary fiber content in Hawaiian marine algae. Botanica Marina, Berlin, v. 48, p. 437–440, 2005.

PEDRINI, A. de G.; LOUZADA, A.; BEHERENDS, E.; ROSA, L. Alimentação natural de origem vegetal marinha e estuarina de Chelonia mydas (L.) no litoral do BRASIL;

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PEDRINI, A. de G.; MESSAS, T. P.; ANDRADE-COSTA, E.S.; BRITO JUNIOR, J. L.. Algas e gramas marinhas no conteúdo estomacal de tartarugas marinhas (Chelonia mydas, Caretta careta e Eretmochelis imbricata) encalhadas na costa da cidade do Rio de Janeiro e arredores, RJ, Brasil (2007-2009). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FICOLOGIA, 17., Anais..., Sociedade Brasileira de Ficologia, Paraty, 2010. p. 1-2. REISSER, J.; PROIETTI, M.; SAZIMA, I.; KINAS, P.; HORTA, P.; SECCHI, E. Feeding ecology of the green turtle (Chelonia mydas) at rocky reefs in western South Atlantic. Marine Biology, p. 1-11, 2013.

SEMINOFF, J. A. (Southwest Fisheries Science Center, U.S.) 2004. Chelonia mydas. In: IUCN

2013.

IUCN

Red

List

of

Threatened

Species.

Version

2013.2.

. Downloaded on 15 May 2014.

WYNEKEN, J. The anatomy of sea turtles. Jacksonville: NOAA Technical Memorandum MNFS-SEFSC, 2001, p. 1-52.

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