DIFERENÇAS NA PERSPECTIVA TEMPORAL ENTRE ESTUDANTES RELIGIOSOS E NÃO RELIGIOSOS

July 6, 2017 | Autor: Maria Paixão | Categoria: Psychology, Social Psychology, Time Perspective
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In: Ortuño, V., Paixão, M. P. & Janeiro, I. (2011). Diferenças na Perspectiva Temporal entre estudantes religiosos e não religiosos. Actas do VIII Congresso Iberoamericano de Avaliação Psicologica, Lisboa: Universidade de Lisboa.

DIFERENÇAS NA PERSPECTIVA TEMPORAL ENTRE ESTUDANTES RELIGIOSOS E NÃO RELIGIOSOS Victor E.C. Ortuño1 Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade de Coimbra Maria Paula Paixão Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade de Coimbra Isabel Nunes Janeiro Faculdade de Psicologia, Universidade de Lisboa

Resumo A Perspectiva Temporal – PT é um processo psicológico que permite a organização de todas as experiências humanas em diferentes categorias temporais, cada uma destas categorias tem a capacidade de influenciar de forma diferenciada tanto as cognições como o comportamento dos indivíduos (Zimbardo & Boyd, 1999). Neste estudo pretende-se explorar as diferenças que apresenta a PT entre indivíduos que se consideram religiosos e indivíduos que não se consideram religiosos. A amostra é formada por 240 estudantes universitários, com idades compreendidas entre os 17 e os 45 anos de idade (M = 19.39, D.P. = 2.83), destes 220 (91.7%) pertencem ao género feminino e 20 (8.3%) pertencem ao género masculino. Atendendo à doutrina religiosa manifestada pelos participantes, 177 (73.8%) foram considerados como religiosos e 63 (26.2%) como não religiosos. Os resultados indicam diferenças notáveis na PT entre estes grupos, sendo que os indivíduos considerados como religiosos apresentam valores mais elevados na Perspectiva Temporal de Futuro Transcendental. Palavras-chave: Perspectiva Temporal, Avaliação Psicológica, Religião, ZTPI, IPT

―Religion is in the heart, not in the knees.‖ – Jerold Douglas William

INTRODUÇÃO O estudo do tempo em qualquer uma das suas diversas facetas interessou e ocupou desde sempre aos psicólogos. No momento da instituição da Psicologia como ciência com Wilhelm Wundt, a percepção do tempo pelos indivíduos assim como a medição dos tempos entre um estímulo e uma resposta eram matérias frequentemente 1

[email protected] / www.victortuno.netii.net

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abordadas nas suas investigações (Jesuino, 2002). Posteriormente, com Sigmund Freud e a psicanálise passar-se-ia para uma fase onde a enfâse é colocada nas experiências precoces, no passado do indivíduo e como este afectava tanto o seu comportamento como a sua psique. Com o avanço do behaviorismo, a temporalidade aparece desprovida de qualquer importância no panorama psicológico, ao ser privilegiada simplesmente a relação causal Estímulo-Resposta. Seria com o advir da chamada revolução cognitivista, que novamente o estudo dos processos mentais se torna peça indispensável na explicação do comportamento humano. Inserido nesta nova corrente Lewin (1965), define a Perspectiva Temporal como a totalidade das perspectivas que um indivíduo tem do seu passado e futuro psicológicos num determinado momento presente. Desta forma, Lewin coloca a ênfâse no estudo do tempo no momento presente, mas sem desprezar a influência que as diversas construções mentais dos indivíduos acerca do passado e do futuro possam exercer no comportamento e no pensamento dos indivíduos. Assim, toda a actividade humana decorre inserida num contexto, o qual é composto por características geo-sociopoliticas; mas também pela dimensão temporal a qual atribui ordem a essas mesmas actividades e processos, através da sua localização ao longo do contínuo temporal (Lewin, 1965). Na actualidade, um dos referentes teóricos mais utilizados pela investigação temporal é o proposto por Zimbardo e Boyd (1999). Dando continuidade ao pensamento do Lewin, estes autores defendem que a Perspectiva Temporal é um processo não consciente, através do qual os indivíduos codificam, armazenam e recuperam informações relativas aos objectos pessoais e sociais que povoam a sua vida; este processo permite assim dar ordem, sentido e coerência a estes mesmos objectos. Todo este processo funciona através de diversos marcos ou categorias temporais, os quais não só armazenam como permitem uma reinterpretação da informação neles contidos. O modelo que propomos para o estudo da Perspectiva Temporal é composto pelas 5 dimensões temporais propostas por Zimbardo e Boyd (1999): Passado Positivo, Passado Negativo, Presente Hedonista, Presente Fatalista e Futuro. Complementadas pela dimensão de Futuro Transcendental (Boyd & Zimbardo, 1997) e a dimensão Visão Ansiosa de Futuro (Janeiro, 2006). De forma a entender a importância e a influência da Perspectiva Temporal, é necessário ter em conta que todo este conjunto de dimensões temporais, representam constructos independentes e diferenciados dos outros (Zimbardo, Keough & Boyd, 75

1997); motivo pelo qual cada uma destas dimensões apresenta uma relação única com os mais variados comportamentos e cognições. Por exemplo, foi encontrada uma forte relação entre o Presente Fatalista e a Procrastinação de Activação, enquanto que uma baixa orientação temporal de Futuro é um melhor preditor da Procrastinação de tipo Estimulante (Ferrari & Diaz-Morales, 2007). Noutro estudo, Zimbardo et al. (1997) descobriram que o Presente Hedonista é um importante preditor da condução de risco e ainda que este é mais explicativo deste comportamento do que a dimensão de Futuro. Por sua vez, Ortuño, Paixão e Janeiro (2011) demonstraram que o Passado Negativo, a Visão Negativa de Futuro (com uma relação negativa) e o Presente Hedonista (com uma relação positiva) são importantes preditores da auto-estima. A religião e mais especificamente a religiosidade dos indivíduos, também é apontada como um factor integrante para uma vida plena e psicologicamente saudável (Sanchez, Oliveira & Nappo, 2004). É importante considerar que ―Portugal - que já era católico nos tempos da presença romana e visigótica na Península Ibérica - nasceu como país independente no âmbito da 'Reconquista Cristã', batalhou pela fé de Cristo até ao Algarve, exerceu notável acção missionária na África, no Brasil e no Oriente…‖ (do Amaral, 2010, p.92). A tradição cristã mantém-se na actualidade, segundo dados de 2000, 83% da população portuguesa define-se como sendo católica (European Values Survey – EVS 1999-2000, citado por Menéndez, 2007). Outros dados recolhidos no mesmo estudo dão-nos conta que 92% dos portugueses acreditam em Deus e, ainda, que 40% acreditam na vida depois da morte. Assim, tanto a história e a tradição, como os dados actuais acerca da população, dão conta da profunda influência que a religião possui na sociedade Portuguesa.

OBJECTIVOS DO ESTUDO A presente investigação2 tem como objectivo explorar as diferenças na Perspectiva Temporal entre sujeitos religiosos e não religiosos, assim como também entre sujeitos pertencentes a várias doutrinas religiosas.

MÉTODO Participantes A amostra deste estudo é composta por 251 estudantes universitários do Mestrado Integrado de Psicologia, das faculdades de Psicologia e de Ciências da Educação da 2

Estudo financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia – FCT (Bolsa Nº SFRH/BD/33648/2009).

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Universidade de Coimbra e da Universidade do Porto, dos quais 231 (92%) pertencem ao género feminino e os restantes 20 (8%) ao género masculino. As idades estão compreendidas entre os 17 e os 45 anos de idade (M = 19.52, D.P. = 2.87). 123 (49.4%) destes participantes cursam o 1º ano do curso, 64 (25.7%) o 2º ano, 49 (19.7%) o 3º ano, 11 (4.4%) o 4º ano e 2 (0.8%) o 5º ano. Para efeitos comparativos a amostra foi agrupada de duas formas: 1º) através da sua doutrina religiosa e 2º) ser religioso ou não-religioso. O segundo critério foi definido em função da natureza da doutrina religiosa declarada pelo participante no questionário sociodemográfico. Na Tabela 1 pode ser consultado o número de participantes integrados em cada uma das categorias, tanto para o primeiro como para o segundo critério.

Tabela 1 - Doutrinas religiosas dos participantes (N = 251)

Não religioso (n = 66, 26.3%)

Religioso (185, 73.7%)

n

%

Ateu

29

11.6%

Nenhuma

23

9.2%

Agnóstico

14

5.6%

Católica

141

56.2%

Outras confissões cristãs

30

12%

Outras

14

5.6%

No grupo denominado por ―Outras confissões cristãs‖ estão agrupados os participantes que na sua doutrina religiosa responderam Cristão e Cristão não praticante. Por outro lado, no grupo ―Outras‖ encontram-se os participantes que afirmaram pertencer a confissões religiosas de índole não cristã.

Instrumentos No decorrer desta investigação recorreu-se à utilização de 4 instrumentos de avaliação psicológica. Os quais são apresentados mais detalhadamente a seguir: Questionário Sociodemográfico: Elaborado pelos autores, com o objectivo de recolher diversas informações acerca dos participantes, continha questões como: género, idade, nível de escolaridade, média de curso, doutrina religiosa, etc. 77

Zimbardo Time Perspective Inventory – ZTPI (Zimbardo & Boyd, 1999; Ortuño & Gamboa, 2009): É composto por 56 itens (tipo Likert de 5 pontos) que representam 5 dimensões temporais: 1º) Passado Positivo, relacionado com atitudes agradáveis e sentimentais relativamente ao passado (M = 3.62, D.P. = .56, variância explicada = 6.02%, α = .68, 9 itens); 2º) Passado Negativo, representa uma atitude de aversão e angústia perante o passado, normalmente relacionado com sentimentos de ansiedade, raiva e depressão (M = 2.67, D.P. = .71, variância explicada = 7.85%, α = .80, 10 itens); 3º) Presente Hedonista, apresenta uma vincada tendência para a procura de prazer imediato, principalmente através de experiências excitantes e de alto risco (M = 3.52, D.P. = .53, variância explicada = 8.37%, α = .79, 15 itens); 4º) Presente Fatalista, demonstra uma atitude de derrota, desamparo e desesperança perante a vida (M = 2.46, D.P. = .60, variância explicada = 6.42%, α = .66, 9 itens) e 5º) Futuro, indica uma forte tendência para a necessidade de criar e prosseguir objectivos futuros (M = 3.59, D.P. = .52, variância explicada = 6.57%, α = .74, 13 itens). Estas 5 dimensões temporais explicam 35.25% da variância total. Esta estrutura factorial é muito similar à apresentada por Zimbardo e Boyd (1999) no ZTPI original, assim como também noutras adaptações internacionais: França (Apostolidis & Fieulaine, 2004), Espanha (DiazMorales, 2006), Brasil (Milfont, Andrade, Belo & Pessoa, 2008), Lituânia (Liniauskaite & Kairys, 2009) e Grécia (Anagnostopoulos & Griva, 2011), entre outros. Relativamente à validade teste/re-teste o ZTPI português apresentou valores colocados entre .66 e .86 (Ortuño & Gamboa, 2008). Transcendental-Future Time Perspective Inventory – TFTPS (Boyd & Zimbardo, 1997): É uma escala unidimensional, composta por 10 itens (tipo Likert de 5 pontos) que procura avaliar as crenças e atitudes individuais relacionadas com o futuro imediatamente a seguir a morte imaginada do corpo físico. Na sua versão original explica 10% da variância total. Apresenta uma consistência interna de .87 e a sua estabilidade teste/re-teste é de .86. Inventário de Perspectiva Temporal – IPT (Janeiro, 2006): É formado por 32 itens (tipo Likert de 7 pontos), os quais são agrupados em 4 dimensões temporais: 1º) Orientação para o Futuro, avalia a tendência para pensar no futuro de forma positiva e optimista, para definir objectivos e projectos (variância explicada = 16%, α = .86, 16 itens); 2º) Orientação para o Presente, avalia a tendência para apreciar o momento presente sem preocupações (variância explicada = 13%, α = .76, 8 itens); 3º) Orientação para o Passado, estima a tendência para pensar no passado de forma saudosista 78

(variância explicada = 6%, α = .51, 4 itens) e 4º) Visão Ansiosa ou Negativa de Futuro, tendência para pensar o futuro de forma negativa e como algo imprevisto e ameaçador (variância explicada = 8%, α = .70, 4 itens). No seu conjunto estas 4 dimensões apresentam uma variância explicada de 45% dos resultados. O IPT teve a sua origem num estudo português cujo objectivo era avaliar quais as dimensões temporais existentes em estudantes do ensino básico e secundário. Neste processo foram tidas em conta diversas reflexões relacionadas com a estrutura da perspectiva temporal de futuro (Nuttin & Lens, 1985; Ringle & Savickas, 1983) e resultados obtidos por Zimbardo e Boyd (1999) acerca da independência estrutural das três zonas de orientação temporal.

Procedimentos Todos os dados foram recolhidos em contexto de sala de aula. A totalidade dos participantes foi informada acerca dos objectivos do estudo, assim como do carácter confidencial, anónimo, voluntário e científico da sua participação. Não foram fornecidos quaisquer tipos de incentivos tangíveis aos participantes. Todos os dados foram introduzidos no programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences – SPSS 17.0 (versão Windows).

RESULTADOS Em primeiro lugar são apresentadas as diferenças na Perspectiva Temporal entre o grupo de participantes religiosos e os não religiosos, através de um teste T de Student para amostras independentes (Tabela 2). Seguidamente, são apresentadas as diferenças na Perspectiva Temporal entre os 6 grupos religiosos que compõem a amostra, através do recurso a uma ANOVA (Tabela 3). E por último, são apresentadas as diferenças na Perspectiva Temporal de Futuro Transcendental entre os 6 grupos religiosos, as quais foram analisadas através do teste de post-hoc de Bonferroni (Tabela 4).

Diferenças na Perspectiva Temporal entre participantes religiosos e não religiosos Foi utilizado o teste T de Student para amostras independentes tendo como objectivo comparar os valores médios da Perspectiva Temporal entre os participantes religiosos e os não religiosos e ainda, determinar se estas diferenças são estatisticamente significativas. De forma a facilitar a comparação dos resultados entre os diversos instrumentos, todos os valores médios foram normalizados. 79

Tabela 2 - Diferenças na Perspectiva Temporal através da religiosidade (dados normalizados) Não Religioso Passado Positivo Passado Negativo Presente Hedonista Presente Fatalista Futuro Futuro Transcendental Futuro Negativo

M .655 .385 .652 .314 .632 .313 .207

Religioso

DP .141 .170 .132 .165 .126 .187 .203

M .683 .437 .637 .359 .658 .520 .185

DP .139 .164 .099 .122 .099 .158 .198

t -1.357 -2.135 .840 -2.028 -1.513 -8.008 .758

p (Sig.) .176 .034 .403 .045 .134 .000 .449

Valor de significância p ≤ 0,05

Os participantes considerados como religiosos apresentaram um valor médio mais elevado nas seguintes dimensões: Passado Positivo, Passado Negativo, Presente Fatalista, Futuro e Futuro Transcendental. Por outro lado, os participantes tidos como não religiosos foram os que apresentaram valores médios mais elevados nas seguintes dimensões: Presente Hedonista e Futuro Negativo. No entanto, é importante ter em conta que destas diferenças nos valores médios, só as encontradas nas dimensões de Passado Negativo (p = .034), Presente Fatalista (p = .045) e Futuro Transcendental (p = .000) foram estatisticamente significativas.

Diferenças na Perspectiva Temporal entre as diversas doutrinas religiosas Com o intuito de verificar se existem diferenças nas várias dimensões temporais entre os diversos grupos religiosos, recorreu-se a uma ANOVA (Tabela 3). Optou-se por esta solução, atendendo à maior robustez estatística desta técnica, e tendo em consideração que os resultados apresentados não diferiam em grande medida dos obtidos por outras técnicas (por exemplo o teste de Kruskal-Wallis). Os dados apresentados encontram-se normalizados.

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Tabela 3 - Diferenças na Perspectiva Temporal através dos diversos grupos religiosos (dados normalizados) df 6-241 6-239 6-238 6-241 6-240 6-241 6-239

Passado Positivo Passado Negativo Presente Hedonista Presente Fatalista Futuro Futuro Transcendental Futuro Negativo

F .465 1.806 .964 1.114 1.527 15.194 .659

p (Sig.) .834 .099 .450 .355 .170 .000 .683

Valor de significância p ≤ 0,05

Os resultados apresentados na Tabela 3 mostram que não se verificam diferenças estatisticamente significativas nas 7 dimensões temporais entre os diversos grupos religiosos. A única ocorrência merecedora de menção é relativa à Perspectiva Temporal de Futuro Transcendental, na qual foram encontradas diferenças significativas entre os vários grupos religiosos F (6, 241) = 15.194, p = .000. Diferenças na Perspectiva Temporal de Futuro Transcendental entre as diversas doutrinas religiosas De forma a explorar mais a fundo as diferenças entre os diversos grupos religiosos no que respeita ao Futuro Transcendental, utilizou-se o teste de post-hoc de Bonferroni (Tabela 4). Tabela 4 - Diferenças no Futuro Transcendental entre doutrinas religiosas (ANOVA post-hoc: Bonferroni) Grupos Religiosos Ateu Nenhuma Agnóstico Católica Cristã Outras Nenhuma Católica Ateu Cristã Outras Católica Nenhuma Cristã Outras Cristã Católica Outras Cristã Outras

Diferença media .147 .058 -.118 -.107 -.202 -.089 -.265 -.254 -.349 -.177 -.165 -.260 .011 -.084 -.095 81

p (Sig.) .091 1.0 .159 .672 .023 .836 .000 .000 .000 .000 .006 .000 1.0 1.0 1.0

Através do teste de Bonferroni foi possível explorar mais em detalhe as diferenças entre os vários grupos religiosos. Assim, foram várias as diferenças estatisticamente significativas encontradas (p < .05), nomeadamente entre o grupo Agnóstico e o grupo Outras. Por outro lado, o grupo Ateu apresentou diferenças consideráveis relativamente aos grupos Católica, Cristã e Outros. O grupo Nenhuma também apresentou diferenças notáveis com os grupos Católica, Cristã e Outras. Foi o grupo Outras o que apresentou valores mais elevados no Futuro Transcendental, seguido do grupo Católica, depois Cristã, Agnóstico, Nenhuma e Ateu, respectivamente.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Das diferenças na Perspectiva Temporal entre os participantes tidos como religiosos e não religiosos foram encontradas algumas diferenças estatisticamente significativas, são estas relativas ao Passado Negativo, Presente Fatalista e Futuro Transcendental, nas quais os participantes religiosos obtiveram valores médios mais elevados do que os não religiosos. Estes dados parecem contradizer em parte os estudos que encontram na religião e na religiosidade um factor de protecção para diversos comportamentos disfuncionais (Sanchez et al., 2004), isto principalmente porque tanto o Passado Negativo como o Presente Fatalista são dimensões temporais que dificultam o bom funcionamento psicológico dos indivíduos, já que se encontram relacionadas com cognições e comportamentos disfuncionais (Zimbardo & Boyd, 1999). No caso do Futuro Transcendental, o resultado era esperado, já que se acredita que os sujeitos religiosos tenham mais presente nas suas trajectórias pessoais a temática da vida depois da morte; isto principalmente porque na grande maioria das religiões existe a crença na vida depois da morte e que as características desta existência post-mortem serão determinadas em grande parte pelas nossas acções no momento presente. Este resultado é coincidente com o relatado por Boyd e Zimbardo (1997), no qual os sujeitos religiosos apresentam um valor médio mais elevado no Futuro Transcendental do que os indivíduos não religiosos. Relativamente à comparação entre os vários grupos religiosos, só foram encontradas diferenças estatisticamente significativas na dimensão de Futuro Transcendental. No entanto, estas diferenças quando exploradas em detalhe através do teste de Bonferroni, verifica-se que não são mais do que o reflexo das diferenças entre os grupos religiosos e os não religiosos. Já que entre os diversos grupos de natureza religiosa não foram encontradas diferenças significativas; a mesma tendência foi 82

registada entre os vários grupos não religiosos (ex.: não existem diferenças entre ateus e agnósticos ou entre cristãos e católicos, mas sim entre ateus e católicos). Fica, deste modo, claramente patente que as diferenças aqui encontradas são apenas entre grupos religiosos e grupos não religiosos. Por último, é importante ter em consideração que estes resultados não devem ser generalizados à população geral, já que a amostra é composta unicamente por estudantes universitários. Também, é relevante considerar que são vários os grupos religiosos que não aparecem representados na amostra presente ou aparecem em quantidade muito baixa. Assim, futuros estudos deverão garantir uma maior heterogeneidade das suas amostras, com principal ênfase para a doutrina religiosa praticada, a idade e a profissão desempenhada. Também será importante determinar em que medida a Perspectiva Temporal de Futuro Transcendental é responsável pela doutrina religiosa dos indivíduos ou vice-versa.

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