DIFERENTES OLHARES DA POLÍTICA SOCIAL: ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES

June 14, 2017 | Autor: W. Alvim da Cunha | Categoria: Políticas Sociais
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Revista SODEBRAS –Volume 8 N° XX - XXXXX/ 2013

DIFERENTES OLHARES DA POLÍTICA SOCIAL: ANÁLISE SOB A PERSPECTIVA DA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES

WELLINGTON ALVIM DA CUNHA¹; REINALDO ANTÔNIO BASTOS FILHO²; EDSON ARLINDO³ SILVA; 1,2,3-UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA; E-MAIL: [email protected]; [email protected];

Resumo - Este As políticas sociais têm sua trajetória marcada por diferentes concepções e visões paradigmáticas. A literatura sobre esta política é numerosa e variada, onde a compreensão em torno da intervenção do Estado na área social, além de extensa, não apresenta consenso conceitual. Nesse sentido, objetivou-se nesse ensaio teórico fazer uma análise da política social a partir dos diferentes paradigmas das ciências sociais frente às similaridades dos pressupostos sobre a natureza da sociedade proposto por Burrell & Morgan (1979). Nesta perspectiva, efetuou-se um levantamento bibliográfico apresentando diversos entendimentos conceituais. Verificou-se que as políticas sociais são relacionadas a diversas abordagens teóricas de estudo, destacando: a dos serviços sociais, a teoria da cidadania, o funcionalismo, a teoria da convergência, o marxismo e neomarxismo, porém todas os conceitos resumemse em dois polos distintos de análise da sociedade: a sociologia da regulação e a sociologia da mudança radical. Em termos gerais, cada paradigma enfatiza um elemento em particular que interfere no entendimento das políticas sociais. As políticas sociais da contemporaneidade têm predominância da sociologia da regulação e há um núcleo comum em sua argumentação, núcleo esse que diz respeito aos impactos do processo de industrialização sobre a população e as formas de intervenção e atuação do Estado.

Palavras-chave: Políticas sociais, paradigmas, análise de sociedade

momentos históricos, que pautaram-se desde o enfoque assistencialista ao econômico-financeiro. No decorrer história podem ser observadas posturas paradigmáticas diferenciadas no atendimento das demandas sociais e também na formulação de políticas sociais. Paralelamente a esse contexto, Burrell & Morgan (1979) tem a visão que a Teoria Organizacional pode ser observada por diferentes paradigmas de realidades alternativas, analisadas por meio de quatro visões amplas de mundo, que por sua vez são ligadas a uma rede de escolas de pensamento. Assim, objetivou-se nesse presente ensaio teórico uma análise conceitual da política social com as similaridades dos paradigmas da natureza da sociedade (sociologia da regulação e da sociologia da mudança radical) proposto por Burrell & Morgan (1979). Desse modo, buscou-se responder a seguinte indagação: qual a relação da visão epistemológica de política social no âmbito da natureza da sociedade proposto por Burrell e Morgan? Partindo desta indagação, apresentam-se na sequência, as seguintes seções: introdução, em seguida os paradigmas postulados por Burrell & Morgan no contexto dos estudos organizacionais, as visões de política social, as inter-relações das visões paradigmáticas de política social no âmbito dos pressupostos sobre a natureza da sociedade e por fim as considerações finais.

INTRODUÇÃO As políticas sociais têm sua trajetória marcada por diferentes concepções e visões paradigmáticas. A literatura sobre política social é ampla e variada, onde a compreensão em torno da intervenção do Estado na área social, além de numerosas, não apresenta concordância conceitual. Mas apesar da diversidade de perspectivas, a política em questão é geralmente compreendida como “ação do governo com objetivos específicos” (RIBEIRO, 2005). Para Marshall, citado por Santos (1987) a "política social é um termo largamente usado, mas que não se presta a uma definição precisa”. Além disso, constatam-se mudanças importantes no direcionamento das políticas sociais em diversos

2 – OS PARADIGMAS NO CONTEXTO DOS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

Dentro do contexto da Teoria das Organizações, as discussões sobre paradigmas ganham evidência quando Burrell & Morgan em 1979 classificou as pesquisas organizacionais em quatro perspectivas diferentes, conforme Figura 1:

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Figura 1 - Quatro paradigmas para análise da Teoria Social.

Fonte: Burrell & Morgan (1979)

Para Burrell & Morgan (1979), os paradigmas são visões da realidade social, ou seja, conjunto de formulações metateóricas sobre as quais é desenhado um quadro de referência que define uma visão de mundo partilhada por uma comunidade de cientistas (ANDION, 2012). A Figura 1 classifica os paradigmas em diferentes pressuposições metateóricas sobre a natureza da ciência e da sociedade, sendo elas respectivamente: a dimensão subjetivo-objetiva e a dimensão da mudança radical ou regulação. Cada um dos paradigmas representa uma rede de escola de pensamento, onde possuem diferentes abordagens e perspectivas, mas que compartilham pressupostos comuns quanto à natureza da realidade (BURREL e MORGAN, 1979). Andion (2012) observa as formulações propostos na figura 1 fazem referência à natureza da ciência (objetiva ou subjetiva); a realidade social (regulação ou mudança social) e à natureza humana (determinista ou não determinista). O paradigma funcionalista, que no campo dos estudos organizacionais é predominante, baseia-se na presunção de que a sociedade tem existência concreta e real (MUNCK, L; SOUZA, R.B, 2010, ANDION 2012), produzindo um estado de coisas ordenado e regulado (ANDION, 2012). Parte do pressuposto de uma ciência social objetiva e isenta, com distanciamento do cientista e com funções fundamentalmente reguladora e prática, de maneira que de maneira que produza conhecimento empírico útil (BURREL e MORGAN, 1979). Paralelamente, o paradigma interpretativo baseia-se na natureza da ciência subjetiva onde a realidade social não existe em sentido concreto, sendo produto da experiência subjetiva e intersubjetiva dos indivíduos. Do mesmo modo do funcionalista a abordagem interpretativista parte do pressuposto que há uma ordem e um padrão implícito no mundo social, porém, o mundo social é visto como um processo social emergente criado pelos indivíduos envolvidos (MORGAN, 2005). Enfim, um sistema de interpretação é uma atividade complexa, mas é um processo pelo qual se dá sentido as informações e se decidem as ações (DAFT e WIECK, 2007, p. 253). O paradigma humanismo radical, assim como o interpretativista tem um ponto de vista subjetivista, onde a realidade é socialmente criada e sustentada, porém análise

da realidade é vinculada a alguma coisa. Morgan (2005) chama atenção para o fato que o humanismo radical “pode ser influenciado por processos psíquicos e sociais que canalizam, restringem e controlam as mentes dos seres humanos de maneira a aliená-los em relação às potencialidades inerentes à sua verdadeira natureza de humanos” (MORGAN, 2005, p.16). Por fim, o paradigma estruturalista radical do mesmo modo que o humanismo radical fundamenta-se na visão societária de uma força dominadora, porém ligada a uma visão objetiva do mundo, definido por estruturas sólidas, concretas e ontológicas reais (MORGAN, 2005). Portanto, revelam-se neste contexto que as duas análises da sociedade (mudança radical e regulação) e as quatro visões paradigmáticas propostos por Burrell e Morgan (1979) definem diferentes visões de mundo, e que tem perspectivas diferentes nas pesquisas organizacionais.

3 - AS VISÕES PARADIGMÁTICAS DE POLÍTICA SOCIAL

O conceito de política social é variado e complexo. As concepções dentro da literatura não apresentam consenso conceitual. Santos (1987, p. 35), afirma que: Política Social é um termo largamente usado, mas que não se presta a uma definição precisa. O sentido em que é usado em qualquer contexto particular é em vasta matéria de conveniência ou de convenção [...] e nem uma, nem outra, explicará de que trata realmente a matéria.

Demo (1994) observa que a política social pode ser compreendida, a partir do ponto de vista do Estado, como proposta planejada de enfrentamento das desigualdades sociais, e que, por trás dessa política, existe a questão social, definida sempre como "a busca de composição pelo menos tolerável entre alguns privilegiados que controlam a ordem vigente, e a maioria marginalizada que a sustenta” (DEMO, 1994, p. 14). Nos estudos das Ciências Sociais as políticas sociais configuram um campo do conhecimento definem seus conceitos mediante abordagens semelhantes. Diante da diversidade de conceitos de políticas sociais, Vianna (2002, p. 1) ressalta que por, “[...] mais que rigor absoluto no conceito, é importante considerar o caráter político, circunstancial e histórico. Vale dizer que as relações entre Estado, mercado e sociedade que orientam tais decisões”. Desse modo, tem se o entendimento de que política pública é ação governamental com objetivos ou ação governamental com objetivos específicos relacionados à proteção social (VIANNA, 2002). Dentro desse contexto, os estudos das políticas sociais assim como os estudos organizacionais se orientam por várias teorias, metodologias, diferentes pressupostos da natureza da sociedade e vários paradigmas. Na visão de Coimbra (1987), as políticas sociais são relacionadas a

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várias abordagens teóricas, dentro de diversas perspectivas: a dos serviços sociais, a teoria da convergência, a teoria da cidadania, o funcionalismo, o marxismo e o neomarxismo. Quadro 1 – Principais concepções de Política Social Concepções de Política Social Defende que o Estado passou a garantir um padrão mínimo de vida quando as instituições que tradicionalmente desempenhavam esse papel perderam a capacidade Teoria da para desempenhá-lo. Argumenta que convergência todas as nações industrializadas, independentemente da história e cultura, teriam convergido para determinados aspectos básicos de proteção (WILENSKY, 1965; FARIA 1998). Defende que a adoção de políticas sociais decorre, em grande parte, dos problemas decorrentes da industrialização, que acarretou a Perspectiva dos especialização dos trabalhadores e os serviços sociais tornaram dependentes da sociedade. As implicações da industrialização fragilizam as formas tradicionais de proteção social, tais como a família e a solidariedade (TITMUSS, 1974). Concentra-se na análise do desenvolvimento dos três componentes da cidadania moderna – Teoria da direitos civis, políticos e sociais. cidadania: Sendo que a política social faz parte do componente de cidadania social (MARCHALL, 1967). Defende que a política social é discutida como um elemento sistêmico que opera no contexto da reprodução social e econômica funcionando como um agente Funcionalismo regulador que possibilita a reprodução do sistema social (BOTTOMORE e OUTHWAITE, 1996; MELO, L. V.; SILVA, J.O, 2010). Defende que Estados capitalistas criam as políticas sociais buscando se legitimar perante os respectivos povos, visando garantir a continuidade do sistema econômico. Essa legitimidade é assegurada pela transformação de uma parte do Neomarxismo excedente econômico nos mecanismos redistributivos do Estado do Bem-Estar. No entanto, ela não é solução das desigualdades que é intrínseca ao mundo baseado na exploração do capital sobre o trabalho (OFFE, 1984).

No marxismo há uma descrença da conjunção de bem estar e Estado capitalista. Marx reconhece a capacidade da classe trabalhadora para buscar melhorias de condições de vida, porém ressalta o caráter Marxismo limitado dessas conquistas, pois as conquistas são incapazes de promover o bem estar global dos trabalhadores e suas respectivas famílias (LINHARES, F., 2005). Fonte: Elaborado pelo autor com base em Coimbra (1987) Como se observa no quadro 1 existem diferentes concepções e visões paradigmáticas em relação à política social. Coimbra (1987) relata que a maior parte das correntes são marcadas pela preocupação da defesa ou ataque, quantificação e comparações a modelos internacionais do que propriamente por uma intenção interpretativa voltada para a compreensão das origens e transformações sofridas pelas políticas sociais. Apesar das profundas divergências entre as teorias, existem concordâncias reconhecidas por Coimbra (1994, p.72), de: [...] dois tipos polares, um genericamente chamado “individualismo” ou “liberalismo”, claramente derivado da teoria econômica clássica, e outro que podemos designar “coletivista” ou “socialista”, umbilicalmente ligado ao pensamento de Marx. Porém, a análise de Coimbra existe lacunas quanto a visão dos paradigmas e natureza da sociedade. O autor não aprofunda no quesito de natureza pressuposições metateóricas, focando mais no combate à pobreza. Assim, dada a distinção restrita apontada por Coimbra, buscaremos distinguir as políticas sociais a partir de tipologias relevantes na perspectiva de análise da sociedade e levantaremos novos elementos importantes para a discussão. Chega-se, desta forma, a uma classificação mais clara e objetiva da interpretação da concepção de políticas sociais, sendo: a sociologia da regulação e a sociologia da mudança radical, conforme a visão da figura abaixo: Figura 2 - Análise de sociedade no campo dos estudos das políticas sociais

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Fonte: Elaborado pelo autor com base em Burrell & Morgan (1979) e nos outros autores citados. Como se observa na figura 2 percebe-se a diversidade epistemológica de política social, porém divididos em dois polos distintos. O campo de análise Teoria da Convergência reconhece que o Estado teria assumido a função de garantir determinados padrões mínimos de vida porque instituições tradicionais, como a família, haviam perdido a capacidade de suprir as necessidades dos indivíduos mais vulneráveis (FARIA, 1998). Nesse processo, a industrialização teria criado novas demandas de intervenção do Estado, uma vez que a família não podia mais exercer suas funções tradicionais e o novo processo econômico produtivo provocara a marginalização de determinados grupos de indivíduos. A ideia central dessa tese é que o crescimento econômico e seus resultados demográficos e burocráticos são a causa fundamental da emergência das políticas sociais. Argumenta-se, também, que os países industrializados, independentemente de sua história e cultura, teriam convergido para o atendimento de determinados aspectos básicos de proteção social. A perspectiva da Teoria da Convergência interpreta as políticas sociais como requisito e consequência da economia capitalista e da democracia moderna (WILENSKY, 1965). A perspectiva dos Serviços Sociais proposto por Titmuss (1974), afirma que o processo de industrialização desestabiliza as instituições tradicionais de proteção social. O individualismo entra em cena em substituição as solidariedades da família e da comunidade, estimulados pelo modo de produção industrial. Com isso, a proteção social, antes exercida através das relações familiares e da caridade, é transferida para o Estado, que institucionaliza os serviços sociais, com a intenção de atender as necessidades crescentes originadas pela divisão do trabalho, a qual é inerente ao processo de industrialização. Ou seja, às políticas sociais é fruto do desenvolvimento do capitalismo. A teoria proposta por Titmuss difere da Teoria da Convergência por ressaltar que as necessidades atendidas pelas políticas sociais são determinadas pela cultura de cada país, assim cada povo definiria suas próprias necessidades e políticas (TITMUSS, 1974). A teoria da Cidadania defendida por Marshall baseia-se na ideia da ampliação progressiva da noção de cidadania (MARSHALL, 1967). Segundo Coimbra (1994, p.81), o conceito de cidadania é um conjunto de direitos que pode-se subdividir em três blocos: os direitos civis, os

direitos políticos e os direitos sociais. Marshall (1967) elaborou uma cronologia de evolução desses direitos analisando o contexto Inglês, afirmando que os direitos civis foram conquistados no século XVIII, os direitos políticos no século XIX e os direitos sociais ao longo do século XX. Na concepção Funcionalista política social é marcada principalmente como um elemento sistêmico que opera no contexto da reprodução social e econômica, funcionando como um agente regulador que possibilita a reprodução do sistema social. Dessa forma, contribuem para o melhora funcionamento das relações capitalistas, gerando assim harmonia social (BOTTOMORE e OUTHWAITE, 1996; MELO L. V.; SILVA, J.O, 2010). No tocante a concepção Marxista, a política social pode ser interpretada e estudada sob a vertente da teoria crítica. É importante destacar que, dentro do marxismo, na perspectiva da compreensão das políticas sociais, não existe um entendimento único, ou seja, existe um campo plural de ideia sob o prisma da mudança radical. No marxismo clássico há uma descrença da conjunção de bem estar e Estado capitalista. Marx reconhece a capacidade da classe trabalhadora para buscar melhorias de condições de vida, porém ressalta o caráter limitado dessas conquistas, pois as conquistas são incapazes de promover o bem estar global dos trabalhadores e suas respectivas famílias. Dessa forma, a análise marxista de políticas sociais parte do pressuposto da desnaturalização do bem estar na sociedade capitalista, ou seja, as políticas sociais não garantem o bem estar social. (LINHARES, 2005) Por fim, a visão Neomarxista segundo Offe (1984), destaca que as origens da política social partem de um processo de mediação estratégica estatal entre interesses conflitivos, defendendo, assim: [...] a tese de que para a explicação da trajetória evolutiva da política social, precisam ser levadas em conta como fatores causais concomitantes tanto exigências quanto necessidades, tanto problemas da integração social quanto problemas da integração sistêmica, tanto a elaboração política de conflitos de classe quanto à elaboração de crises do processo de acumulação (OFFE, 1984, p. 36).

Partindo desta afirmação, Offe considera que as políticas sociais resultam da compatibilidade das estratégias pelas quais o Estado (aparelho de dominação política) responde às exigências e às correlações de força da sociedade (sistema capitalista). A relação do sistema capitalista com reprodução da vida social, O´Connor (1977), compreende que o Estado capitalista desempenha duas funções básicas e contraditórias: acumulação e legitimação. Nesse contexto, o autor, afirma que:

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[...] o Estado deve tentar manter, ou criar, as condições em que se

faça possível uma lucrativa acumulação de capital. Entretanto, o Estado também deve manter ou criar condições de harmonia social. Um Estado capitalista que empregue abertamente sua força de coação para ajudar uma classe a acumular capital à custa de outras classes perde sua legitimidade e, portanto, abala a base de suas lealdades e apoios. Porém, um Estado que ignora a necessidade de assistir o processo de acumulação de capital arrisca-se a secar a fonte de seu próprio poder, a capacidade de produção de excedentes econômicos e os impostos arrecadados deste excedente (O´CONNOR, 1977, p. 19).

Assim, na visão Neomarxista, a pobreza e aos programas sociais governamentais de proteção social, são próprios para legitimação do sistema capitalista, onde os projetos, serviços e gastos sociais que são aplicados para se manter a coesão social, funcionando assim como legitimadoras do Estado. Sendo assim, a história do capitalismo para O´Connor, é, também, a história das políticas assistenciais do Estado, ou seja, das políticas sociais do Estado. Como exemplo de tais despesas, destaca o caso brasileiro do Bolsa Família e o seguro desemprego, projetados na visão Neomarxista como reguladores e legitimadores do sistema (RIBEIRO, 2005). Por fim, frente às características apontadas acima, vale destacar que devido ao grande volume da produção sobre essa temática, utilizou-se de uma bibliografia restrita, porém de referência qualitativa para maioria dos estudiosos do campo.

4 – AS INTER-RELAÇÕES DAS VISÕES PARADIGMÁTICAS DE POLÍTICA SOCIAL NO ÂMBITO DOS PRESSUPOSTOS SOBRE A NATUREZA DA SOCIEDADE

São muitas tentativas nas ciências sociais em delinear as diferenças que separam os vários paradigmas e os pressupostos sociológicos que elas refletem (BURREL & MORGAN, 1979). Encontra-se em Dahrendorf (1982) e Lockwood (1977) a distinção entre as abordagens à sociologia que se concentraram em esclarecer a natureza da ordem e do equilíbrio social por um lado, e daquelas que tinham mais a ver com problemas de mudança e conflito nas estruturas sociais por outro. Conforme quadro abaixo: Quadro 2 – Teorias de sociedade

Fonte: Adaptado Dahrendorf (1982) e Lockwood (1977) O quadro 2 evidencia diferentes abordagens das teorias da sociedade, onde expressões “ordem” e “conflito” são respectivamente para Burrell & Morgan (1979) “regulação" e "mudança radical". As teorias da ordem são bem mais numerosas do que as do conflito (BURREL e MORGAN, 1979). Quanto aos estudos organizacionais, percebe-se que a análise paradigmática encaixa-se em duas visões distintas de natureza da sociedade, seja pela regulação ou pela mudança radical. Partindo da análise dos paradigmas, Burrell & Morgan (1979) procuram estabelecer uma referência entre a regulação e o conflito estrutural. Desta forma, utiliza-se de concepções associados à sociologia da regulação e à sociologia da mudança radical. Nesse contexto, a sociologia da mudança radical é o campo de estudos interessado essencialmente com a emancipação do homem de suas estruturas, que limitam e impedem seu potencial de desenvolvimento, contrapondo assim com a sociologia da regulação no que se refere à natureza da sociedade (BURREL e MORGAN, 1979). Segundo Deetz, a meta central da teoria crítica nos estudos organizacionais tem sido criar sociedades e lugares livres de dominação (ALVESSON e DEETZ, 1999). Por outro lado, a sociologia da regulação refere-se à vertente teórica que estão primordialmente interessados em prover estudos da sociedade enfatizando unidade, ordem e coesão (BURREL e MORGAN, 1979). Titmuss (1974) observa que há dificuldade de se definir política social, baseando no fato de que, por trás de cada definição, existem ideologias, valores e perspectivas teóricas competitivas. Assim, não há política neutra, nem mesmo a social, o que coloca de pronto, a necessidade de se eleger a perspectiva teórica pela qual a compreensão da política social deverá se pautar (PEREIRA, 2008.p.165). A partir da análise das visões de políticas sociais sobre a natureza da sociedade, pode-se concluir que as perspectivas dos serviços sociais, a teoria da convergência, a teoria da cidadania, o funcionalismo encaixam na perspectiva da sociologia da regulação e o marxismo e o neomarxismo na sociologia da mudança radical. Vale destacar, que há um predomínio da sociologia da regulação, existindo um núcleo comum nas argumentações, núcleo esse que diz respeito aos impactos do processo de industrialização sobre a população e as formas de intervenção e atuação do Estado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este ensaio teórico teve por objetivo discutir os vários elementos que interferem nas políticas sociais a partir de diferentes abordagens teóricas dos pressupostos sobre a natureza da sociedade. A compreensão da política social está associada a distintas visões da realidade social, onde a sociedade é marcada pelo contexto de sucessivas mudanças e os mecanismos adotados pelas organizações devem ser capazes de acompanhar esse processo. Neste contexto, foi possível constatar que as políticas sociais assim como os estudos organizacionais são refletidos e debatidos a partir das contribuições de diversos paradigmas para compreensão da realidade social, onde as mesmas possuem características e métodos singulares. Em termos gerais, cada paradigma enfatiza um elemento em particular que interfere no entendimento das políticas sociais. Assim, pode-se entender que a relação da visão epistemológica de política social no âmbito da natureza da sociedade proposta por Burrell e Morgan refere-se na divisão do campo das políticas sociais em dois campos distintos, a sociologia da regulação e a sociologia da mudança radical. Percebeu-se que não há concordância em torno da concepção epistemológica do termo política social, no qual são discutidos sob diferentes perspectivas teóricas, adquirindo distintos sentidos. As políticas sociais da contemporaneidade têm predominância da sociologia da regulação e percebe-se que há um núcleo comum em sua argumentação, núcleo este que diz respeito aos impactos do processo de industrialização sobre as formas de intervenção e atuação do Estado. Assim, ao investigar os pressupostos da política em análise relacionada com a natureza da sociedade, proporciona aos pesquisadores um terreno delimitado e firme para o diálogo entre os polos teóricos. Portanto, pode-se concluir que para alcançar a compreensão abrangente dentro do campo dos estudos organizacionais e na política social, o conhecimento de diferentes paradigmas e natureza da sociedade, é de fundamental importância para os pesquisadores alcancem melhores caminhos para desenvolver um conhecimento profundo e claro.

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6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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