Dispositivo teórico-metodológico para análise do processo de midiatização no campo da comunicação organizacional por intermédio da mídia digital/blog

July 19, 2017 | Autor: Elisangela Lasta | Categoria: Blogs, Midiatização, Mídia digital, Comunicação organizacional
Share Embed


Descrição do Produto

VII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas Teorias e Métodos de Pesquisa: entre a tradição e a inovação Mesas Temáticas 15 a 17 de Maio Brasília – DF

Dispositivo teórico-metodológico para análise do processo de midiatização no campo da comunicação organizacional por intermédio da mídia digital/blog Elisangela Lasta1 Eugenia Mariano da Rocha Barichello2 Resumo O artigo centra-se nos indícios de que a mídia digital/blog pode ser compreendida sob a perspectiva da midiatização no contexto das inter-relações entre múltiplos atores. A partir dos blogs, os atores constroem os seus próprios espaços de ‘fala’ e atuação. Esse cenário mobiliza as dinâmicas que envolvem os processos comunicacionais das organizações e entre organizações e sociedade. Em razão dessas questões, este estudo se propõe a construir um dispositivo teórico-metodológico para o entendimento do fenômeno da comunicação na mídia digital/blog como mediação no contexto da midiatização. Palavras-chave: comunicação organizacional; midiatização; mídia digital; blog.

Introdução

O fenômeno da comunicação como objeto conceitual, de acordo com Sodré (2007), operativamente desdobra-se em três níveis: o relacional, o vinculativo e o crítico-cognitivo. Contudo, para o teórico o terceiro nível – crítico-cognitivo – seria o propriamente comunicacional e implicaria na redescrição da existência em função do bios tecnológico que rege o modo de ser do sujeito. O processo de midiatização é entendido, neste estudo, como sendo o funcionamento articulado das tradicionais instituições sociais com a mídia (HJARVARD, 2012; SODRÉ, 2007). Portanto, o termo midiatização se refere a um processo de longo prazo no qual a

1

Doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal de Santa Maria/UFSM. Professora substituta do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS. Mestre em Comunicação/UFSM e Membro do Grupo de Pesquisa Comunicação Institucional e Organizacional e do Grupo de Pesquisa Práticas de Relações Públicas em suportes midiáticos digitais - CNPq /UFSM. Graduada em Comunicação Social - Relações Públicas/UFSM. E-mail: [email protected]. 2 Professora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Doutora em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Bolsista em Produtividade de Pesquisa do CNPq. Líder dos Grupos de Pesquisa em Comunicação Institucional e Organizacional e WebRP: práticas de Relações Públicas em suportes midiáticos digitais. E-mail: [email protected].

1

VII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas Teorias e Métodos de Pesquisa: entre a tradição e a inovação Mesas Temáticas 15 a 17 de Maio Brasília – DF

interação, num contexto social específico, e, segundo Hjarvard (2012), para o seu entendimento, faz-se necessária a apropriação do conceito de mediação. Para que possamos cumprir com o objetivo de arquitetar um dispositivo teóricometodológico, que visa à compreensão do processo de midiatização, pelo viés da mídia digital, aqui representada pelo blog, no campo da comunicação organizacional, subdividimos o texto em três partes. A primeira discute o processo de midiatização no campo da comunicação; a segunda aborda o blog como mediação nas inter-relações dos múltiplos atores sociais; e, a terceira articula as teorias e descreve o dispositivo teóricometodológico. Fundamentação teórica do contexto inquirido: o processo de midiatização no campo da comunicação

Sodré (2007), ao tratar da questão ontológica sobre o fenômeno da comunicação estabelece três fases de indagação relativas aos fundamentos teóricos do discurso da comunicação. A primeira fase é de crítica para com o patamar informacional; a segunda traz a comunicação como uma hermenêutica das novas formas da midiatização; e a terceira propõe um modelo tripartite que visa à autonomia cognitiva do discurso comunicacional. Para o teórico, o empenho epistemológico deve suscitar indagações de ordem ontológica e, esta, por sua vez, compreendida a partir de Kant (sistema de conceitos ou princípio de entendimento relativo a objetos que são abrangidos pela experiência) e Heidegger (reflexão sobre os fundamentos autênticos do discurso) fornecerá o caminho trilhado pelo teórico. Para ele o entendimento de midiatização não se reduz à veiculação de acontecimentos por meios de comunicação, mas compreende um funcionamento articulado das tradicionais instituições sociais com a mídia. O teórico dinamarquês Hjarvard (2012) defende que a midiatização é um duplo processo: a mídia como uma instituição semi-independente, cabendo às demais instituições se adaptarem a ela e a mídia integrada às rotinas de outras instituições. Para Hjarvard (2012, p. 64): “Esse processo é caracterizado por uma dualidade em que os meios de comunicação passaram a estar integrados às operações de outras instituições sociais ao mesmo tempo em

2

VII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas Teorias e Métodos de Pesquisa: entre a tradição e a inovação Mesas Temáticas 15 a 17 de Maio Brasília – DF

que também adquiriram o status de instituições sociais em pleno direito”. Esse duplo processo se dá a partir da necessidade de adaptação das demais instituições; logo, ao praticarem tal imperativo nos deparamos com a “necessidade da adaptação” realizada e, deste modo, a mídia se integraria às rotinas dessas instituições. Portanto, posto sob essa arquitetura de pensamento, nos parece uma ação de processo de continuidade intrínseco. Acreditamos que, a partir dessas considerações de Hjarvard (2012), se possa compreender que a midiatização é um processo e que a mídia é a detentora de uma “dupla face” nesse processo. E, dessa forma, a mídia desloca a dualidade, essa “dupla face”, ao processo da midiatização. Isto é, o processo de midiatização se dá por meio da mídia que possui essa “dupla face” tornando o processo de midiatização dual, quando estudado pelo viés da mídia no campo da comunicação. Pois, como o próprio Hjarvard (2012, p. 66) diz: A midiatização não deve ser confundida com o conceito mais amplo de mediação. Mediação refere-se à comunicação através de um meio do qual a intervenção pode afetar tanto a mensagem quanto a relação entre emissor e receptor. [...] A mediação descreve o ato concreto da comunicação através de um meio em um contexto social específico. Por outro lado, a midiatização se refere a um processo mais em longo prazo, segundo o qual as instituições sociais e culturais e os modos de interação são alterados [grifos nossos].

A midiatização é um processo mais amplo e envolve a “dupla face” da dinâmica relativa à mídia. Ao estudarmos a midiatização, a partir da mídia, podemos transferir a “dupla face” ao processo da midiatização, porém nunca encerrá-lo em sua totalidade de conceito à dualidade da mídia. Na busca por ir além das dimensões controle e/ou dominação, Sodré (2007) introduz o conceito de bios midiático, que trata da configuração comunicativa da virtualização generalizada da existência, ou seja, a sociedade midiatizada enquanto esfera existencial. E, por conseguinte, capaz de afetar as percepções e as representações. Ele propõe uma tática analítica para tratarmos a comunicação como objeto conceitual que se desdobram operativamente em três níveis: relacional (é o lugar onde se tornam visíveis as operações semióticas do bios midiático); vinculativo (é o lugar social da interação intersubjetiva); e crítico-cognitivo (é o lugar onde ocorre o imbricamento entre o nível relacional com o

3

VII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas Teorias e Métodos de Pesquisa: entre a tradição e a inovação Mesas Temáticas 15 a 17 de Maio Brasília – DF

vinculativo). Esta proposta conecta o entendimento à hermenêutica a partir do modelo de Lévi-Strauss (apud SODRÉ, 2007) no qual: o 1º nível é a descrição (etnografia); o 2º nível a montagem lógica (etnologia); e o 3º nível a análise comparada (antropologia), pois considera que essa adequação tripartite seria adequada à comunicação. Por meio dessa articulação, estabelece que o terceiro nível (crítico-cognitivo) seria o propriamente comunicacional e implicaria na redescrição da existência, em função do bios tecnológico, que rege o modo de ser do sujeito. Esse entendimento acerca da comunicação parte da compreensão dos novos modos de ser do humano no mundo de tecnologias; e, para que possamos estudar a concretude do ato da comunicação, no contexto da midiatização, há de se optar por uma mídia, neste caso, a mídia digital/blog.

O ato concreto da comunicação: o blog como mediação nas inter-relações

Partimos do pressuposto de que os múltiplos atores constroem redes sociais através dos processos de comunicação, entendidos como processos de construção e disputa de sentidos (BALDISSERA, 2009a; 2009b), a partir da mediação (DOMINGUES, 2010) dos blogs, no seu fazer e existir na sociedade midiatizada (SODRÉ, 2009). Pois, como salienta Fausto Neto (2005, p. 5), o “ator social – o narrador – já não seria mais um intérprete, mas um operador de indicialidades, de conexões”. Essa proposição provocativa busca, em seu âmago, articular as inter-relações entre esses múltiplos atores sociais no contexto e dinâmica da ambiência da blogosfera, entendida como uma rede de relações sociotécnicas (ESTALELLA, 2010) que, intrinsecamente, acopla a si as dimensões de visibilidade mediada (THOMPSON, 2008) e legitimidade (BERGER; LUKMANN, 1997). Esses múltiplos atores sociais se exteriorizam via blog e, assim, constroem um ‘espaço’ no qual exteriorizam a si mesmos, projetando os seus próprios significados nessa ambiência. Ao exteriorizarem-se, pleiteiam por visibilidade e legitimidade. Essa disputa leva os múltiplos atores sociais a articularem estratégias nesse contexto (BARICHELLO, 2008; 2009; LASTA, 2011).

4

VII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas Teorias e Métodos de Pesquisa: entre a tradição e a inovação Mesas Temáticas 15 a 17 de Maio Brasília – DF

Corrobora com essa perspectiva o conceito de sociedade midiatizada que, segundo Sodré (2009, p. 24) representa “[...] uma qualificação particular da vida, um novo modo de presença do sujeito no mundo ou, pensando-se na classificação aristotélica das formas da vida, um bios específico”, o qual é denominado de quarto bios e, é na ambiência desse quarto bios que este texto será operacionalizado. No quarto bios existe uma “[...] autorepresentação coletiva, portanto, um novo regime de visibilidade pública” (SODRÉ, 2009, p. 82). Domingues (2010, p. 99) corrobora essa premissa destacando que o “[...] sujeito alarga as fronteiras da sua pessoa, do seu mundo, passa a habitar um outro modo de ser repleto de informação”. O ‘espaço’ no qual os atores se exteriorizam e projetam os seus próprios significados é construído tecnológica e simbolicamente, por meio da experimentação. Esse cenário recontextualiza o blog na ambiência digital à luz da mediação, pois mediação, de acordo com Domingues (2010, p. 7), se “[...] refere à operação em que um medium, algo situado no meio, une dois termos, duas realidades, que estão em estado de divisão e de oposição. [...] Requer a diferença, a alteridade e uma oposição”. Perspectiva essa que acreditamos poder ser observada nas inter-relações, ou seja, nas relações e vínculos estabelecidos entre os múltiplos atores sociais no cenário digital, aqui representado pelo blog, e analisado com o intuito de desvelar a fertilidade que há nesse panorama para a comunicação organizacional. O cenário traçado se configura profícuo à comunicação organizacional na mídia digital compreendida a partir da sociedade midiatizada, na qual os processos de comunicação podem ser construídos e disputados na esfera dos sentidos no âmbito das relações e vínculos organizacionais sob três dimensões tensionadas e interdependentes: [...] a organização comunicada (fala autorizada); a organização comunicante (fala autorizada e demais processos comunicacionais que se atualizam sempre que alguém estabelecer relação direta com a organização); e a organização ‘falada’ (processos de comunicação que [...] referem-se a ela) [grifos do autor] (BALDISSERA, 2009b, p. 116).

Busca-se recontextualizar, à luz dos estudos das redes sociais (RECUERO, 2009; 2011), sob a perspectiva dos blogs como mediação, as três dimensões propostas por Baldissera (2009b) e, assim, procurar entender a atualização das relações e vínculos entre

5

VII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas Teorias e Métodos de Pesquisa: entre a tradição e a inovação Mesas Temáticas 15 a 17 de Maio Brasília – DF

esses múltiplos atores sociais no contexto da sociedade midiatizada. Considerações que podem ser reproduzidas por meio de um diagrama que busca traçar as possíveis dinâmicas comunicacionais sob a mediação dos blogs. O diagrama, representado na figura 1 visa ‘justificar’ e ‘explicar’ a contextualização do panorama a ser inquirido, com a proposição do blog como mediação nas inter-relações dos múltiplos atores, por meio da construção de redes sociais.

Figura 1- Dinâmica comunicacional através da mediação dos blogs Fonte: Lasta (2012)

Para a presente pesquisa, os múltiplos atores sociais foram separados de acordo com quatro macro áreas principais, a partir dos seus blogs. Pois, ao se agenciarem com o blog, se exteriorizam por meio dele e constroem o seu próprio ‘espaço’ de ‘fala’ e atuação; consequentemente, há como identificá-los e classificá-los, em função das proposições arquitetadas por eles nos seus respectivos blogs. O eixo norteador da análise está ancorado nas três dimensões de Baldissera (2009b); os múltiplos atores sociais foram demarcados da seguinte forma: - Instituições não midiáticas: são aqueles atores que se apropriam e usam o blog no contexto organizacional (blog corporativo), voltado para o público externo. Blogs possíveis de constituir o campo desse estudo: os blogs que promovem redes sociais (dão/fazem links

6

VII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas Teorias e Métodos de Pesquisa: entre a tradição e a inovação Mesas Temáticas 15 a 17 de Maio Brasília – DF

(outdegree) com os blogs das instituições midiáticas, Estado e agentes individuais) e/ou que pertencem a uma rede social (recebem links (indigree) dos blogs das instituições midiáticas, Estado e agentes individuais); - Instituição midiática: aqueles que se apropriam e usam o blog com constrangimentos de ordem organizacional, institucional ou editorial, consequentemente promovem espaços de discussão e debate de acordo com a opinião da instituição midiática a qual representam. Blogs possíveis de constituir o campo desse estudo: os blogs que promovem redes sociais (dão/fazem links (outdegree) aos blogs das instituições não midiáticas) e/ou que pertencem a uma rede social (recebem links (indigree) dos blogs das instituições não midiáticas). - Estado: aqueles que se apropriam e usam o blog no contexto do Estado, voltado para o público externo. Blogs possíveis de constituir o campo desse estudo: os blogs que promovem redes sociais (dão/fazem links (outdegree) aos blogs das instituições não midiáticas) e/ou que pertencem a uma rede social (recebem links (indigree) dos blogs das instituições não midiáticas); - Agentes individuais: aqueles que se apropriam e usam o blog sem sofrer constrangimentos de ordem organizacional, institucional ou editorial; consequentemente, promovem espaços de discussão e debate, de acordo com suas opiniões particulares. Blogs possíveis de constituir o campo desse estudo: os blogs que promovem redes sociais (dão/fazem links (outdegree) aos blogs das instituições não midiáticas) e/ou que pertencem a uma rede social (recebem links (indigree) dos blogs das instituições não midiáticas); As flechas duplas 1, 2, 3, 4, 5 e 6, na figura1, reproduzem as possibilidades de interrelações entre os múltiplos atores sociais, tendo o blog como um espaço de mediação; isto é, representam as possíveis relações e vínculos que podem ser construídos entre eles. Há um movimento de mútua interdependência e antagônico, pois essas considerações levam à formação de um ambiente de disputa, onde também ocorre a reciprocidade entre esses múltiplos atores sociais, no contexto dos processos de visibilidade e de legitimidade na ambiência da mídia digital. Nessa condição, o ator social, para se fazer visível, necessita do reconhecimento de outrem; contudo, para ser reconhecido, primeiramente, precisa ser

7

VII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas Teorias e Métodos de Pesquisa: entre a tradição e a inovação Mesas Temáticas 15 a 17 de Maio Brasília – DF

reconhecedor desse outrem. Em virtude dessa dinâmica, os múltiplos atores articulam também estratégias discursivas na ambiência da mídia digital. Portanto, o dispositivo teórico-metodológico busca permitir o mapeamento das interrelações entre esses múltiplos atores sociais a partir do blog como mediação. A figura 1 permite que qualquer um dos múltiplos atores sociais (instituições não midiáticas, instituições midiáticas, Estado, ou agentes individuais) figure em posição principal, pois tudo dependerá da perspectiva a ser pesquisada. Além disso, busca desvelar as possíveis relações e vínculos organizacionais na mídia digital que podem vir a ser estabelecidas, por meio do blog, como mediação entre os múltiplos atores sociais.

Articulação entre teorias: o dispositivo teórico-metodológico

A proposta deste estudo se baseia no modelo tripartite (1º nível, descrição; 2º nível, montagem da lógica; 3º nível, análise comparada) por meio do nível – crítico-cognitivo – o 3º nível da tática analítica para estudarmos a comunicação como objeto conceitual (SODRÉ, 2007). Porém, o readequaremos de acordo com nosso objeto. Como o nível crítico-cognitivo é o lugar onde ocorre o imbricamento entre o relacional (lugar onde tornam visíveis as operações semióticas do bios midiático, neste contexto, nos remeterá ao espaço do blog) e o vinculativo (lugar social da interação subjetiva, isto é, aos elementos do programa e do texto do blog); portanto, esse terceiro nível será compreendido como a conexão entre blog/espaço, blog/programa e blog/texto. Desenvolvemos a figura 2 com o intuito de representar como ocorre a articulação desses três níveis operacionais: – 1º nível, o relacional; 2º nível, o vinculativo e o 3º nível, o crítico-cognitivo – na tática analítica desta pesquisa que traz a mídia digital/blog como mediação para apreender com concretude o ato da comunicação entre os múltiplos atores sociais.

8

VII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas Teorias e Métodos de Pesquisa: entre a tradição e a inovação Mesas Temáticas 15 a 17 de Maio Brasília – DF

Figura 2 - Tática analítica operativa para tratarmos do blog a partir da comunicação como objeto conceitual Fonte: Lasta (2012)

1º nível o relacional (blog/espaço) - como o blog apropriado e utilizado por um ator social é representado por um nó, este por sua vez, representará o ator. Assim, o blog é ‘espaço’ construído pelo ator, é o seu lugar de ‘fala’/atuação e, nesta proposta, é compreendido como mediação nas inter-relações entre os múltiplos atores sociais. 2º nível o vinculativo (blog/programa e blog/texto) – como o blog toma o centro da cena por assumir a perspectiva de mediação nas inter-relações, ou seja, ele é o ‘elo’, o que ‘liga’ essas relações entre esses múltiplos atores é demonstrado a partir do momento em que esses atores constroem as redes sociais por meio do uso/apropriação de links contextuais. Compreende-se como link contextual quando há inserção de link no corpo do post3 do blog (acionado a partir dos elementos programa e texto), pois possuem o objetivo de contextualizar e qualificar o conteúdo do post. 3º nível o crítico-cognitivo (blog/espaço, blog/programa e blog/texto) – a partir do link contextual acionado pelo programa e pelo texto o ator transcende os limites de seu espaço (blog) e acaba se inserindo em uma rede de vínculos e relações (blogosfera). Consequentemente, a conexão entre o texto, o programa e o espaço possibilita a apreensão do blog como mídia (LASTA, 2011), pois a mídia, entendida como ambiência com estrutura de códigos próprios, traz esses três elementos constituintes do blog à discussão. Não há como reduzir os blogs somente a um dos seus três aspectos, pois há o seu caráter tecnológico 3

Texto publicado no blog. 9

VII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas Teorias e Métodos de Pesquisa: entre a tradição e a inovação Mesas Temáticas 15 a 17 de Maio Brasília – DF

conjuntamente com as práticas conectivas dinamizadas pelos múltiplos atores sociais. Dessa forma, as dinâmicas não são construídas somente “dentro” da arquitetura tecnológica dos blogs, mas sim, por meio delas, pois os múltiplos atores sociais constroem o significado desses mecanismos tecnológicos. Deveríamos, portanto, considerar a dupla dimensão entre o individual e o relacional, pois não há como compreendermos a existência, a dinâmica e nem o funcionamento dos blogs sem considerá-la. Como salienta Estalella (2010, p. (40), não podemos esquecer que “construímos os blogs ao mesmo tempo que eles nos constroem”4. O blog é o ‘entre’/o ‘elo’ (mediação) de uma rede de laços sociais construída por meio dos links contextuais que, por sua vez, só existe em função da prática diária dos múltiplos atores sociais ao fazerem referências e manter diálogos deslocalizados; assim, arquitetam as redes de relações e vínculos. Para que as figuras 1 e 2 sejam entendidas em ação, optamos pela metodologia de pesquisa empírica mediada por computador, conforme proposta por Johnson (2010) quando os espaços on-line como os portais, websites, blogs, dentre outros, se tornam o “campo” a ser estudado. A proposta foi realizada em três níveis: descrição, montagem da lógica e análise comparada. 1º nível: descrição – observação encoberta e não participativa, pois nesse tipo de observação o pesquisador apenas observa o seu campo de estudo, sem que os sujeitos observados saibam que estão sendo estudados. 2º nível: montagem da lógica – a montagem da lógica por meio dessa arquitetura de pensamento considera a sociotécnica referente aos blogs, isto é, aos usos/apropriações realizados pelos múltiplos atores sociais (os links contextuais) por meio do método de análise de redes sociais (ARS). O primeiro passo para se iniciar a ARS centra-se na seleção do objeto e a forma que se dará a coleta dos dados. Ou seja, precisamos determinar quem serão os atores, o que consideraremos como conexões, como a rede será abordada e em qual grau de conexão.

4

No original: “Construimos los blogs al tiempo que ellos nos construyen a nosotros” (ESTALELLA, 2010, p. 40). 10

VII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas Teorias e Métodos de Pesquisa: entre a tradição e a inovação Mesas Temáticas 15 a 17 de Maio Brasília – DF

Os atores: podem ser representados por pessoas, instituições ou grupos; são considerados como os nós da rede. Delimitamos como nós os blogs dos múltiplos atores sociais das instituições não midiáticas, instituições não midiáticas, Estado e agentes individuais. As conexões: podem ser formais, informais e/ou multiplexa; são representadas por links, comentários, ‘seguidores’ e/ou ‘amigos’. Optamos pelas conexões multiplexas, pois trataremos de mais de um tipo de relação entre esses atores serão representadas por meio dos links contextuais. Redes: podem ser redes inteiras e redes ego. Nas redes inteiras há um limite ‘institucional’ ou externo, pode ser, por exemplo, uma rede delimitada por um grupo de weblogs do mesmo ‘grupo’. Já a rede ego é traçada a partir de um determinado ator, ou seja, traça-se uma rede a partir de um determinado nó (ator). Elegemos a rede ego, nesse caso, representada pelos atores das instituições não midiáticas (nosso ponto de referência inicial). Assim, identificaremos as redes sociais que eles promovem a partir dos seus blogs e a posteriori as redes sociais as quais eles fazem parte, possíveis de serem encontradas e visualizadas por meio do uso do mecanismo de busca avançada do Google, na área , no subitem , com o endereço eletrônico dos blogs corporativos a serem estudados. Graus de conexão: o grau é traçado a partir de um ator (nó), e é representado por uma conexão, por exemplo, a um grau (rede ego e amigos de ego). Os graus de conexão determinam o nível de relações a serem observadas e analisadas a partir da rede ego. Após essas etapas preliminares, passamos à estratégia acerca da coleta dos dados e às formas de representá-los. O momento e o tempo de coleta dos dados são determinados pelo pesquisador. Já as formas de representação partem de duas possibilidades: da sociomatriz e/ou do sociograma. Na sociomatriz encontramos as representações das relações entre os diversos atores, ou seja, em um dos lados ficam os atores observados e entre eles são demarcadas as interações e/ou relações. No sociograma há a representação da rede social feita através de um grafo, no qual as linhas são as conexões e os pontos os atores. Ou seja, o sociograma representará graficamente as redes sociais e, poderá ser gerado com o Cytoscape, um

11

VII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas Teorias e Métodos de Pesquisa: entre a tradição e a inovação Mesas Temáticas 15 a 17 de Maio Brasília – DF

software com código de fonte aberto (open-source). Esse programa serve para a análise e visualização de redes complexas e pode ser utilizado para o contexto das redes sociais construídas por blogs. Como é um software com código de fonte aberto (open-source), possui um site oficial5 com informações acerca do software e também disponibiliza o seu download. Por meio dessas etapas preliminares, é possível visualizar as redes sociais promovidas pelos atores das instituições não midiáticas e as redes sociais promovidas pelos demais múltiplos atores. 3º nível: análise comparada - como a dinâmica desta proposta de análise estabelece as instituições não midiáticas como ‘rede ego’ o que nos interessa são as redes traçadas a partir desses blogs corporativos, os links realizados (outdegree) por eles aos demais múltiplos atores e os links recebidos (indigree) dos demais atores sociais. O imbricamento entre o relacional e o vinculativo se dá por meio da mediação da mídia digital/blog no contexto da comunicação organizacional a partir da triangulação de técnicas metodológicas com a ARS: - Organização comunicada: como essa dimensão corresponde à fala autorizada das organizações na recontextualização, ela é assumida quando a organização promove links (outdegree) aos blogs dos demais múltiplos atores; - Organização comunicante: já essa dimensão corresponde à fala autorizada e aos processos comunicacionais, que se atualizam quando alguém estabelece uma relação direta com a organização e é recontextualizada quando há trocas recíprocas de links entre a organização, com algum dos múltiplos atores, ou seja, quando a organização faz linkagem (outdegree) e recebe um link (indigree) do ator ao qual ela referenciou e vice-versa; - Organização ‘falada’: essa dimensão correspondente aos processos de comunicação que se referem à organização, sem o estabelecimento de relações diretas; é recontextualizada quando um dos demais múltiplos atores fazem/dão links (outdegree) ao blog corporativo. A partir das estruturas, composições e dinâmicas, as qualificações podem ser promovidas com a análise de discurso (AD) ou análise de conteúdo dos posts dos atores nos 5

Disponível em: . 12

VII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas Teorias e Métodos de Pesquisa: entre a tradição e a inovação Mesas Temáticas 15 a 17 de Maio Brasília – DF

seus respectivos blogs, via construção de redes sociais – dos links contextuais – já que, esse tipo de link “exige” do ator social a contextualização; isto é, a articulação estratégica de um enunciado que a compreende como a carga significante enquanto discurso. Como observa Sodré (2006, p. 10), “São muitas as estratégias discursivas no jogo da comunicação. Cabelhes jogar, segundo as circunstâncias da situação interlocutória, como a forma inicial do sistema, visando à comunicação com um outro”. A estratégia como discurso é compreendida por meio de sua análise. A análise de discurso (AD) pode ser convocada, pois como evidenciado por Orlandi (1998, p. 56) “[...] ao produzir sentido, o sujeito se produz, ou melhor, o sujeito se produz, produzindo sentido”. Como também a análise de conteúdo (AC), pois como evidenciado por Bardin (1977, p. 14), “Por detrás do discurso aparente simbólico e polissémico esconde-se um sentido que convém desvendar”. Ambos os métodos auxiliam na qualificação das interrelações contidas na dinâmica da construção de redes sociais pelos múltiplos atores, pois esses atores se constroem e se exteriorizam nos blogs por meio da produção de sentidos. Portanto, as forças postas em relação com outras forças estão contidas nos discursos desses atores nos seus respectivos blogs e evidenciam as estratégias discursivas nas inter-relações.

Considerações pontuais

A compreensão do processo de midiatização nos insere na dinâmica do funcionamento articulado das tradicionais instituições com a mídia. O processo de midiatização nos inscreve no campo da comunicação organizacional e este, por sua vez, ao buscarmos a concretude do ato comunicacional, nos insere na perspectiva do blog como mediação. Isto é, ao apreendermos o conceito de midiatização, pelo viés da mídia digital foi possível desenvolver um dispositivo teórico-metodológico, cujo pressuposto é o de que a mídia integra as rotinas de outras instituições; ou seja, envolve a articulação das tradicionais instituições com a mídia, análise possível por meio de uma metodologia que considera os sujeitos, não como objetos mas como agentes de conhecimento. Esperamos com esse dispositivo teórico-metodológico facilitar a compreensão de como se encontram as inter-relações entre os múltiplos atores sociais no contexto dos

13

VII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas Teorias e Métodos de Pesquisa: entre a tradição e a inovação Mesas Temáticas 15 a 17 de Maio Brasília – DF

blogs/mídia digital, que atuam como mediação na atual conjuntura da sociedade midiatizada. Por conseguinte, esses múltiplos atores publicizam suas práticas comunicacionais sem a necessidade da mediação das instituições midiáticas tradicionais na ambiência da web. E, assim, podem promover e disputar constantemente a visibilidade e a legitimidade de suas entidades individuais e coletivas, por meio da construção de redes sociais, atualizando e redimensionando as relações e os vínculos na esfera da comunicação. As redes sociais são construídas por esses múltiplos atores a partir da articulação de discursos conjuntamente com os aspectos da sociotécnica relacionada aos blogs como mediação. Esses múltiplos atores deixam rastros dispersos na ambiência da web, que correspondem: aos dados; às informações compreendidas como a qualificação desses dados e que agregam valor a eles; e ao conhecimento relativo à compreensão e interpretação dessas informações. As informações deixadas pelos múltiplos atores de forma dispersa; em um primeiro momento, podem vir a prefigurar, em um segundo momento, uma posição qualificadora dos processos de comunicação organizacional na mídia digital, ao serem elevadas a um nível de conhecimento. Por fim, as proposições, acima realizadas, movimentam a práxis das relações públicas e da comunicação organizacional com o intento de formar uma perspectiva que possa contribuir para os estudos e pesquisas de suas práticas em ambiências da mídia digital.

Referências BALDISSERA, Rudimar. A teoria da complexidade e novas perspectivas para os estudos de comunicação organizacional. In: KUNSCH, Margarida M. K. Comunicação organizacional: histórico, fundamentos e processos. São Paulo: Saraiva, 2009a. p. 135-64. v.1. ______. Comunicação organizacional na perspectiva da complexidade. Organicom, São Paulo, n.10/11, p. 115-20, 2009b. BARICHELLO, Eugenia Mariano da Rocha. Apontamentos sobre as estratégias de comunicação mediadas por computador nas organizações contemporâneas. In: KUNSCH, Margarida M. K. Comunicação organizacional: histórico, fundamentos e processos. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 33753. v. 1. ______. Apontamentos em torno da visibilidade e da lógica de legitimação das instituições na sociedade midiatizada. In: DUARTE, Maria Elizabeth Bastos; CASTRO, Maria Lilia Dias de. Em torno das mídias. Porto Alegre: Sulina, 2008. p. 237-49.

14

VII Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas Teorias e Métodos de Pesquisa: entre a tradição e a inovação Mesas Temáticas 15 a 17 de Maio Brasília – DF

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BERGER, Peter; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. 14. ed. Petrópolis: Vozes, 1997. DOMINGUES, José António. O paradigma mediológico: Debray depois de McLuhan. Covilhã: Livros Labcom, 2010. ESTALELLA, Adolfo. Blogs, una forma de ser através de Internet. In: MARTINEZ, Samuel; SOLANO, Edwing (org). Blogs, bloggers, blogosfera: una revisión multidisciplinaria. México: Universidade Iberoamericana, 2010. p. 35-44. FAUSTO NETO, Antonio. Midiatização, prática social – prática de sentido. Anais do Encontro da Rede Prosul – Comunicação, Sociedade e Sentido. São Leopoldo: Unisinos, 2005. HJARVARD, Stig. Midiatização: teorizando a mídia como agente de mudança social e cultural. Matrizes, São Paulo, 2012, n.5, p. 53-91. JOHNSON, Telma. Pesquisa social mediada por computador: questões, metodologias e técnicas qualitativas. Rio de Janeiro: E-papers, 2010. LASTA, Elisangela. Blog corporativo como mediação nos processos de visibilidade e legitimidade na sociedade midiatizada: estratégias e contra estratégias comunicacionais. Projeto de pesquisa de Doutorado no Programa de Pós-Graduação em Comunicação. UFSM, 2012. ______. Processos comunicacionais na mídia digital: estratégias sociotécnicas de visibilidade e legitimidade nos blogs corporativos. Dissertação de Mestrado em Comunicação. Programa de PósGraduação em Comunicação. UFSM, 2011. ORLANDI, Eni Pulcinelli. Interpretações: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. Petrópolis: Vozes, 1998. RECUERO, Raquel. Redes sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. ______. Estudos de Redes Sociais. In: AMARAL, Adriana; FRAGOSO, Suely; RECUERO, Raquel. Métodos de pesquisa para internet. Porto Alegre: Sulina, 2011. SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho: uma teoria da comunicação linear e em rede. Petrópolis: Vozes, 2009. ______. Sobre a episteme comunicacional. Matrizes, São Paulo: ECA/USP, 2007. p. 15-26. ______. Introdução: estratégias, por quê?. In: SODRÉ, Muniz. As estratégias sensíveis: afeto, mídia e política. Petrópolis: Vozes, 2006. p. 9-16. THOMPSON, John B. A nova visibilidade. Revista Matrizes, São Paulo. n. 2, abri 2008. p. 15-38.

15

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.