Distrito de Leiria

September 27, 2017 | Autor: Fernando Magalhães | Categoria: Regionalização, Patrimonio Cultural, Museologia, Antropología
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Esta revista faz parte integrante da edição 1572 do JORNAL DE LEIRIA e não pode ser vendida separadamente.

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Índice 04 10 12 14 17 20 23 26 29 32 36 39 42 45 48 50 53

Manter a identidade com a diversidade Alcobaça Alvaiázere Ansião Batalha Bombarral Caldas da Rainha Castanheira de Pera Figueiró dos Vinhos Leiria Marinha Grande Nazaré Óbidos Pedrogão Grande Peniche Pombal Porto de Mós

Ficha Técnica Edição: Jorlis - Edições e Publicações, Lda. Director: João Nazário Redacção: Lurdes Trindade Serviços Comerciais: Rui Pereira Foto capa: Rui Gouveia Fotografias: Ricardo Graça Paginação: Isilda Trindade, Rita Carlos Impressão: Gráfica, Lda Tiragem: 15.000 N.º de Registo 109980 Depósito Legal n.º 5628/84 Distribuição: Jornal de Leiria, edição n.º 1572, de 28 de Agosto de 2014

esta edição da revista Distrito de Leiria, que este jornal tem publicado anualmente, centramo-nos no seu património. Não apenas no edificado e em objectos singulares geralmente ligados à história, a noção que mais rapidamente nos invade o pensamento quando falamos em património, mas no seu conceito mais lato. Ou seja, em tudo o que nos chega dos nossos antepassados, dos nossos “pais”. Que distingue e dá identidade a um território e a quem o habita. Para lá do mais óbvio, como os mosteiros de Alcobaça e da Batalha, o castelo de Leiria ou a vila de Óbidos, o distrito de Leiria tem um património notável começando em Castanheira de Pera e terminando no Bombarral, mas muito dele é pouco conhecido, valorizado e, em alguns casos, está vergonhosamente abandonado. Nesta época muito marcada pelo mediático e pela valorização do grandioso e espectacular, o que se quer ver, conhecer e visitar é o mais famoso, o que sai nas capas das revistas, o que os “amigos” partilham no facebook. Vai-se a Bilbau ver o Guggenheim, pelo menos para uma foto do exterior, corre-se pelos corredores do Prado olhando meia dúzia de segundos para cada quadro, esperam-se horas na fila para entrar no Louvre depois de passar ao lado da Notre Dame, sonha-se com um espectáculo na Broadway, mas não se conhece o que está mais perto, não há interesse pelo que nos envolve e que faz parte de nós. As tradições e saberes que passavam de geração em geração têm cada vez mais dificuldade em chegar aos mais jovens, os monumentos menos mediáticos perdem significado à medida que se deixa de saber o que representam, as pequenas histórias que fazem a nossa história vão-se perdendo no tempo. A globalização, com a internet como poderoso motor, vai tornando o Mundo cada vez mais igual e generalizando o que interessa às pessoas, fazendo com que a diversidade das culturas criada ao longo de muitos séculos, e que distingue os vários povos e civilizações, se vá esbatendo. Às autoridades responsáveis exige-se que preservem e valorizem o nosso património, não só o mais mediático mas o seu conjunto, pois, além de todo o potencial económico e turístico que oferece, é a identidade desta região que está em causa. Também a população deve assumir responsabilidades nesta matéria, não deixando que o que é seu se perca. Antes da Disneylândia, era interessante que as crianças começassem por conhecer a região onde vivem, até porque está povoada de castelos e mosteiros como os que aparecem nas histórias de reis, princesas e dragões que fazem parte do seu imaginário.  João Nazário 28 de Agosto de 2014 Distrito de Leiria 3

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Manter a identidade com a diversidade

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uando um dia, já lá vão uns anos, fomos acordados para o famoso alerta de “vá para fora cá dentro”, provavelmente muitos riram-se para si e continuaram a percorrer outros lugares. Não que essa prática seja errada, pelo contrário, o conhecimento de outras culturas e de outras tradições faz parte das nossas vivências e enriquece, afinal, o nosso património individual! O que muitas pessoas desconheciam e provavelmente ainda desconhecem é que, dentro do nosso País, existe uma das regiões com mais diversidade, encerrando dentro das suas fronteiras um património imensamente rico, vasto e belo, de valor incalculável. Fazer um percurso pelos 16 concelhos de um distrito tão heterogéneo e, ao mesmo tempo, tão semelhante é partir à descoberta de memórias colectivas e que fazem, afinal, a história dos territórios. Não são apenas os mosteiros que são património da Humanidade na Batalha ou em Alcobaça ou os castelos de Leiria, Óbidos, Pombal ou Porto de Mós. Até porque hoje a noção de património é muito mais vasta e não se resume à monumentalidade e à singularidade dos edifícios 4 Distrito de Leiria 28 de Agosto de 2014

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e dos objectos. O novo conceito de património, traçado pela UNESCO, abarca não tanto os monumentos isolados, mas os conjuntos urbanísticos, os sítios, as paisagens naturais e culturais, as manifestações culturais, as pessoas… Por isso, a ideia desta revista foi ir tão mais longe quanto os lugares permitiram, desbravando caminhos menos conhecidos mas não menos importantes na construção da matriz identitária da região. Sítios de uma beleza acutilante, com histórias inacreditáveis que vieram afinal revelar a sua relevância no contexto da região, e até do País, durante muitos e muitos séculos. Apenas para dar alguns exemplos da universalidade do nosso património, veja-se a fábrica de metalurgia em Figueiró dos Vinhos, que produziu peças para a artilharia naval e que teve grandes repercussões a nível europeu, ou o grande produtor de vinhos do Bombarral que abriu mais de uma centena de tasquinhas em Lisboa, onde Fernando Pessoa foi apanhado em “flagrante delitro”. Ou o azeviche das grutas de carvão da Batalha que servia para fazer as joias de luto da família real! Por essa região fora encontram-se muitos outros tesouros de encantar, como as maravilhosas praias fluviais dos conce-

Caldas Late Night, promovido pelos estudantes da ESAD-CR, respeita a tradição cultural das Caldas Rainha

lhos do Pinhal Interior e as bem preservadas aldeias de xisto. O museu ao vivo na zona tradicional na Marinha Grande é um tesouro do património industrial, tal como a herança de Cister em Alcobaça nos pode ensinar muito sobre tecnologia aplicada ao sistema hidráulico e que ainda hoje se mantém. Ou Caldas da Rainha, cidade da cultura, que se rendeu aos estudantes na rua, entre a arquitectura Arte Nova e o seu Caldas Late Night. Não se pretende enunciar uma lista exaustiva do património da região, apenas e tão só abrir o apetite para uma viagem de descobertas deslumbrantes cá dentro e perceber que, por exemplo, nos sítios da onda do surf, em Peniche e Nazaré, ainda resiste o pitoresco do casario e de uma cultura de encantar. E que em Porto de Mós, do cimo do seu

castelo, um palácio reconstruído por um conde cosmopolita, se vislumbra património natural sem fim, com os belos monumentos naturais incrustados num dos mais imponentes maciços calcários estremenhos. Também que Leiria é um concelho que tem muito mais do que mostra, desde a antiga judiaria aos grandes escritores, poetas e arquitectos… é cidade do Lis... da Praça Rodrigues Lobo e de um dos mais belos centros históricos do País… das igrejas, de conventos e santuários… e de freguesias com história! Enfim, não há dúvida de que alguns dos castelos mais bonitos do País estão na região, que as serras mais singulares e as cascatas de água de fazer cair a respiração também, assim como as mais exóticas flores e a maior manta de carvalho cerquinho da Península Ibérica. Há museus extraordinários, matas senhoriais nos espaços urbanos, palácios, achados arqueológicos e praias com areal infindável, pese embora as águas geladas do Atlântico. Património? É infinito. Agora é partir à descoberta e pre-

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Mosteiro da Batalha tem sido palco de diversos espectáculos

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VILMA SERRRANO

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servá-lo porque ele é determinante para o desenvolvimento e para a identidade das regiões.

Dinamizar monumentos…mas sem abusar da História Mosteiros e sobretudo castelos têm há muito uma nova vocação. Celebram-se ali festas, feiras medievais, festivais de música, dança e outros espectáculos que lhes dão vida, são determinantes para a sua preservação e, mais importante, ajudam na economia das regiões. Pedro Machado, presidente do Turismo do Centro, diz mesmo que a realização de actividades de animação em ambientes históricos, desde que respeitada a capacidade de carga dos locais, “constitui um factor de atracção com efeitos positivos na economia regional e nacional”. Do mesmo modo, adianta, “a vivência activa dos espaços permite que os turistas se identifiquem com o destino e sejam, eles próprios, criadores de experiências”. Também Fernando Magalhães, antropólogo e com uma especialidade em museologia e património, concorda com a nova vocação dos mosteiros e castelos, considerando que “são formas de os rentabilizar e de vivenciar”. Destaca, neste sentido, o trabalho de Joaquim Ruivo no Mosteiro da Batalha, na criação de uma nova dinâmica cultural. “Tantas vezes dizemos que cá não há nada, que temos de ir a Lisboa procurar eventos culturais e não pres-

As memórias colectivas na vida moderna Olhando a região a partir do presente e o papel que o património pode desempenhar na sua afirmação no mundo globalizado, a partir dos seus recursos particulares, “Leiria possui uma riqueza e um potencial ímpar, que não tem sido muito bem aproveitado”, diz Fernando Magalhães, para quem o património devia ser observado e tratado numa perspectiva compacta, regional e não isoladamente. Hoje pensa-se no castelo de Leiria como aquele belo edifício medieval, reconstruído por Korrodi e sobranceiro sobre a cidade…mas a perspectiva esgota-se aí. É bonito, é da cidade, é local. “Não é tratado inserido na linha defensiva composta pelos castelos da região. Não é pensado no impacto que Alcobaça, Batalha, Nazaré e, mais recentemente, Fátima têm e tiveram em toda a região”. Património? É tudo o que exprime o longo processo do desenvolvimento histórico, formando a essência das diversas identidades nacionais, regionais, indígenas e locais. São as memórias colectivas que fazem parte integrante da vida moderna. E que são infinitas!

Uma das ruelas da zona histórica de Leiria, no antigo Bairro da Judiaria

tamos atenção ao que se passa no nosso património regional.” Já Pedro Cordeiro, arquitecto, admite que ainda lhe agrada o lado silencioso de um castelo que permanece sem que tenha de desempenhar a função de castelo (por não fazer qualquer sentido) ou mesmo de uma pousada para uns quantos “príncipes” poderem passar um fim-de-semana a brincar à monarquia. “Actualmente parece-me que a função do castelo é encantar Leiria com uma altaneira e misteriosa presença”. Contudo, “esta não é uma fórmula que propusesse para todos os edifícios históricos da região, cada caso deve ser analisado pela sua especificidade e contexto”, diz. Saul Gomes confessa que “História é Património e o Património exige vivências e proporciona oportunidades de bem-estar às populações que são as suas herdeiras e guardiãs mais directas”. Por isso, o património “fá-lo ao criar ofertas de lazer e de aprendizagem, de experimentação do passado, do ‘outro’, como o faz, ainda, ao gerar oportunidades de investimento empresarial e de criação de trabalho e de empregabilidade em diversas áreas económicas”. A natureza e os nossos antepassados deixaram-nos heranças que são verdadeiros tesouros para, no seu usufruto, hoje em dia, se promover a melhoria da qualidade de vida de todos. Nesse sentido, as actividades festivas e comemorativas em causa

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“movimentam muito, mesmo muito dinheiro...” Adverte, todavia, para o respeito do património, especialmente “o de maior escala, mais atractivo de um ponto de vista de marketing turístico”, também ele, geralmente, muito frágil em termos de preservação”. A valorização do património não pode ser apenas usá-lo massiva e intensivamente, menos ainda indevidamente. “Usos indevidos têm um elevado índice de perigo para a sua preservação e, infelizmente, têm-se verificado situações dessas”. Seria razoável, ainda, que todos esses espectáculos, alguns deles abusando da História, “respeitassem mais, de um ponto de vista do rigor, da autenticidade, da dimensão científica do passado”, frisa Saul Gomes. E que, “D. Dinis, como tema, não seja só circo, mas também poesia, história e ‘trovadorismo’, por exemplo”. O que acontece é que “nesta febre de espectáculos e de feiras medievais e de tudo o mais”, se não houver uma “preocupação pedagógica válida, uma dimensão de enriquecimento cultural de cada visitante”, e não de uma mera “oferta de bruteza e de estu-

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pidez a que por vezes se resumem”, então, sem essa condição, “a gratuitidade do espectáculo pelo espectáculo não representa um acto de elevação cultural mas apenas um abuso e um desrespeito para com os públicos”.

Obras de Ernesto Korrodi marcam a arquitectura da cidade de Leiria

Património é das regiões e não dos concelhos

mónio da cidade passa necessariamente pela configuração de um sistema de actores onde a oferta cultural, industrial e agrícola estabelecerá uma rede de inter-relações que, por sua vez, definirão com alguma fidelidade e intencionalidade a paisagem patrimonial de Leiria”, explica o arquitecto Pe-

O património cultural da região, especificamente, deve ser compreendido no seu conjunto e não como um sem número de peças soltas que ora se preservam ora se deixam ao abandono. “Uma ideia para o patri-

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dro Cordeiro, agradando-lhe a ideia do homem como produtor e produto da cultura, pelo que neste sentido “a história que fazemos hoje terá essa mesma condição para os que hão-de vir”. Resta-nos, assim, “contrariar os defeitos revelados para poder oferecer algo de melhor”. Claro que há erros que podem começar já a ser contrariados. Neste périplo pelo distrito, houve registos que ficaram claros no que ao património diz respeito. Os autarcas, principalmente os que se localizam a Sul (Oeste) e a Norte do distrito defendem que o património é um legado de uma região e não de um concelho apenas, apresentando a intermunicipalidade como um bem maior para a sua preservação e promoção. Quando se diz que existem indícios romanos em Santiago da Guarda, Ansião, junto ao seu belíssimo Complexo Monumental, essa memória colectiva não é apenas de Ansião, mas de uma rede bastante mais vasta integrada no que se chama Villa Sicó. A Sul, os concelhos estão também a assumir-se com a marca Oeste Portugal, funcionando como um todo na promoção dos seus territórios e do seu património. Os autarcas defendem que já não faz sentido cada um trabalhar por si, porque um turista não procura um sítio, procura produtos que um só concelho não é capaz de oferecer. Essa é uma herança que o passado deixou, bastando recuperá-la, porque isto do património não é só preservar muros e paredes, retocar frescos ou dar uma de mão à sacristia de uma igreja do século VI para melhor parecer. O património é conhecimento, saber e aprendizagem. E há muito para aprender através das memórias colectivas! Fernando Magalhães diz mesmo que as realidades locais do património do antigo distrito não podem ser vistas de forma isolada, bastando olhar para os mosteiros de Alcobaça e da Batalha, para perceber que implicaram, sob o ponto de vista da sua construção e vivências clericais, a instalação na região de uma rica rede social e cultural ao longo de praticamente toda a história de Portugal. Durante 800 anos, cistercienses e dominicanos desenvolveram um novo centralismo económico regional que ajudou a sedimentar pessoas e bens, construindo e enriquecendo esta comunidade. “Foram dois centros culturais, sociais, económicos e financeiros de nível europeu”.I Lurdes Trindade

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Alcobaça

O Mosteiro de Alcobaça ganhou outra vida após as obras na praça assinadas pelo arquitecto Gonçalo Byrne

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lcobaça é um dos territórios mais paradigmáticos da região. A razão de ser deste epíteto não se prende com o facto de ali existir um monumento Património da Humanidade, mas porque as suas terras, património, cultura e tradições são um mundo tão mais vasto do que um grande Mosteiro. Basta pensar num extenso território, onde os homens, ao longo de gerações, moldaram várias paisagens naturais onde a monumentalidade e a espiritualidade se fundem com o esplendor artístico das igrejas, das ruínas dos castelos, dos palacetes… da música e do teatro. 10 Distrito de Leiria 28 de Agosto de 2014

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Cheiros de maresia… que fazem a herança de Cister

Para conhecer todo este património não bastam as poucas horas de degustação na tradicional Mostra Internacional de Doces e Licores Conventuais, dando razão à conhecida expressão da canção da autoria do Maestro Belo Marques Quem passa por Alcobaça não passa sem cá voltar!. E volta porque não há quem resista ao bucolismo de Coz e do seu convento, às suas fontes seculares, às praias edílicas e à imensa herança natural e histórica, construída e imaterial, deixada pelos árabes, romanos e pelos monges de Cister. Habitada desde o Paleolítico, os seus vestígios traçam a história de várias épocas, indicando que foram os árabes que deram a forma ao nome da terra. Dessa ocupação, surgem os castelos de Alfeizerão, terra do famoso pão-de-ló, e de Alcobaça. Três séculos mais tarde nasceria o maior marco arquitetónico que é, afinal, o Mosteiro de Alcobaça, herança da Ordem de Cister. Emoldurada pelo Maciço Calcário Estremenho, a sua zona serrana foi ao longo de milénios esculpida pela água, arqui-

tectando belas formas cársicas, numa paisagem tão dicotómica como bela, de onde surgem planícies verdejantes e frescas com os pomares e hortas e o pinhal. São terras abençoadas com a água que verte da serra, onde rebentam, esplêndidas, as nascentes que deram vida à actividade dos monges que viram ali a oportunidade de desenvolver os grandes campos agrícolas. Nestas terras de Alcobaça, o oceano faz a derradeira fronteira a ocidente. Quando os cistercienses chegaram a Alcobaça, o mar entrava terra adentro, em Alfeizerão, onde hoje se encontram os férteis Campos da Cela. Secaram esses mares interiores e ficou a linha de costa de extensos areais onde a maresia cheira verdadeiramente a mais vida…a mais mundo… A praia de S. Martinho do Porto tem a norte alguns quilómetros de costa agreste e acidentada de grande beleza natural. A sua concha é um local de excelência para apreciadores de desportos náuticos. Já a Praia do Salgado, em conjunto com a Serra da Pescaria, oferece excelentes condições para a prática de parapente e asa delta.

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1. Museu do Vinho representa um dos produtos mais endógenos da região 2. Praia de São Martinho do Porto 3. Mosteiro de Cós, uma das jóias mais surpreendentes do património da região DR

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Granja de Cister: produtos endógenos e roteiros associados Alcobaça inaugurou recentemente a sua Granja de Cister, loja de produtos gourmet da Cooperativa Agrícola de Alcobaça, é uma âncora para os produtores agrícolas do concelho. Fomentando o turismo da região, criou três rotas de agroturismo com base no vinho, no azeite e na Maçã de Alcobaça. Os Roteiros Turísticos de Cister incluem paragens nos principais sítios culturais da região, com destaque para o Museu do Vinho, Parque dos Monges, Levada dos Monges, Convento dos Capuchos, Ponte Medieval, Arco da Memória na Serra dos Candeeiros, Ruínas do lagar do século XVIII, Lagar da Casa Feteira, padeira Brites de Almeida. São alavancados com incursões às quintas, pomares e terras de produção de azeite e outros produtos endógenos. 

Elevada tecnologia no sistema hidráulico de Cister É inegável a importância da Ordem de Cister em Alcobaça e em toda a região. É famoso o seu sistema hidráulico, descrito como expoente máximo da tecnologia já na época. Saúl António Gomes, historiador, explica que os monges de Cister trouxeram à região “o tesouro do conhecimento e, também, a riqueza de uma herança espiritual que é uma verdadeira filigrana na história da religião cristã”. Não estavam, contudo, “sozinhos nesse processo de desbravamento de terras e do seu aproveitamento para gerarem riqueza agrícola e, também, nalgumas áreas, industrial e comercial”, revela. Foram “grandes administradores dos seus patrimónios”, e “a grandeza das suas igrejas e abadias testemunha a riqueza que conseguiram criar”. Todavia, outras ordens religiosas, mormente a dos cónegos regantes de Santo Agostinho, tinham também os seus frades conversos à frente das suas granjas e terras nesta região. Basta contar o número de conventos mendicantes, clausuras de homens e de mulheres, de franciscanos, dominicanos, jerónimos e remi-

tas agostinhos, entre outros, que se estabeleceram por estas terras, impulsionando a economia regional, a educação, a produção artística e o aperfeiçoamento do ser humano nas suas múltiplas dimensões, conta o historiador. Saúl António Gomes refere, ainda, o Mosteiro de Santa Maria de Cós, abadia cisterciense feminina de fundação medieval, como uma das “jóias mais surpreendentes, agradáveis e envolventes, do património arquitetónico, artístico e espiritual do distrito”. Em suma, “Leiria deve muito à Igreja pela participação e até pelo protagonismo na construção da sua História”. 

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lvaiázere é dona de um dos mais intocáveis patrimónios naturais da região. A serra que tem o seu nome, em pleno maciço da Sicó, mantém a “traça” de um passado que lhe dá singularidade e altivez. Dos seus cantos serpenteados de urzes e pequenas orquídeas, avista-se uma planície fértil, salpicada de vinhedos, olivais e campos de milho, rematada pelo alegre casario branco e o ocre dos telhados. Nas suas encostas, o pastorear lento dos rebanhos de ovelhas e de cabras dão um colorido a uma paisagem enlaçada pelo Nabão e pela ribeira de Alge. Um paraíso perdido neste território que surpreende pelas aldeias típicas e cursos de água onde se encontra a maior mancha de carvalho cerquinho da Península Ibérica. É neste contexto que nasce aquele que é um dos programas mais importantes de preservação do património, Alvaiázere - Património Gerador de Riqueza, traduzido na recuperação de antigas escolas primárias em plena zona serrana. São alojamentos turísticos de qualidade, com quartos, cozinha e piscina, mantendo-se, contudo, a sua traça original e a sua ligação a uma natureza virgem de uma beleza ímpar. São projectos que transcendem o simples alojamento já que a ideia passou pela criação de verdadeiros centros de interpretação onde se alia o presente à história e a todo um património de memórias vivas de outrora. Na aldeia do Barqueiro já foi inaugurada a primeira unidade que valoriza os recursos hídricos em tempos utilizados para o funcionamento das azenhas e lagares de azeite, além da flora, fauna, etnografia e ofícios tradicionais, dando também oportunidade de percorrer rios e ribeiras numa interligação de grande intimidade com o território que a envolve. Em Ariques, o contacto com as maiores manchas de flora mediterrânica, em zona de maciço calcário, é mais um oásis em plena serra, entre carvalhos e azinheiras, orquídeas e lapiás. A escola da aldeia do Bofinho ou Centro de Interpretação Arquitectónica poderá ser para muitos, a mais emblemática, pela ligação com um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século XX, Miguel Torga.

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FOTOS: CMA

A altivez das suas aldeias serranas

O maior Castro da Península Ibérica Fortemente marcado pela geomorfologia

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1. Paisagem serrania de Alvaiázere no Vale da Mata 2. Carne de alguidar com migas de chícharo 3. Centro de Interpretação e Miniunidade de Alojamento do Barqueiro 4. Orquídeas selvagens

da região, o concelho identifica-se como um espaço em que o verde e as vidas se abraçam, determinando a especificidade do Miguel Torga escreveu parte do seu povo que habitou o território. Os múltiplos Diário em Alvaiázere, na aldeia do sítios arqueológicos cruzam as vivências enBofinho, que mantém a disposição de tre o passado e o presente, como acontece outrora… as ruas estreitas ladeadas por no complexo megalítico do Ramalhal ou nos muros em pedra, fontes, alminhas, capela, maiores Castros (vestígios de povoados) da casas rurais de pequenas dimensões, Península Ibérica da Idade do Bronze e, aincontrastando com algumas de famílias da, na vila Romana da Rominha. São tesmais abastadas. O escritor também temunhos dos usos e costumes dos priescreveu na vila de Alvaiázere em 29 de meiros povos que ocuparam o território e Maio de 1984 (Vols. XIII a XVI): “Do alto da que transportam para mais um centro de inserra a contemplar enternecido metade terpretação instalado na escola recuperada da Estremadura, do Ribatejo e da Beira. em Venda do Preto. De tanto amar esta Pátria já nem sei às Sendo Alvaiázere a porta de entrada nas vezes distinguir nela o grande do pequealdeias de xisto, não foi por acaso que se reno, o belo do feio, as fragas do húmus. qualificou o espaço público de duas aldeias Aconchego os olhos num largo panorama rústicas, uma na Sigoeira, em território de de carrascos como se os deitasse num xisto, e outra em Paradelas, junto ao coleito de feno. E graças a Deus que assim nhecido Olho do Tordo, em território calacontece, que do Minho ao Algarve toda a cário. Falta recuperar habitações, muitas depaisagem me sabe bem. Sou dos poucos las lindíssimas e com potencial de venda. portugueses que se podem gabar de, Sigoeira, com 25 casas, exibe-se no cimo de sempre que como tal se identificam, o um promontório com uma vista exuberante serem de Portugal inteiro”. I sobre as serranias. Já Paradelas, com as suas

Miguel Torga escreveu em Alvaiázere

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oito casas, “mora” junto a um importante nascente do efluente do rio Nabão, o Moinho do Touro.

Do Chícharo ao Queijo Rabaçal Num concelho cuja identidade se cruza essencialmente com as características do território, a alimentação das suas gentes foi, durante séculos, adaptada à produção de plantas que requerem poucos nutrientes e baixos níveis de humidade. Assim, nasceu o chícharo, uma leguminosa que ao longo dos tempos foi a base alimentar dos mais pobres, mas que hoje é um produto nobre de Alvaiázere e a sua âncora de promoção territorial e bem espelhado no Festival do Chícharo. Há outros produtos endógenos associados como o azeite, o Queijo Rabaçal, o mel, os frutos secos.... Como nem só de natureza vive este concelho, aqui também se encontram exemplos de arquitectura religiosa, casas senhoriais, arqueologia industrial (fornos de cal e azenhas, moinhos de vento e lagares de azeite) e outro património imaterial que uma vila com tantos séculos guarda dentro de si. I

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Ansião

Suaves aromas salpicam património com vida

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stragão, tomilho, orégãos, louro, salva, santa maria, lavanda… Para quem não sabe, estes temperos que aromatizam os paladares de Ansião resultam de saberes milenares. As ervas nascem espontâneas em zonas serranas constituindo o verdadeiro património endógeno da Serra de Sicó, sendo utilizadas em vinagres, pratos regionais, saladas, entradas, em decoração, em chás ou em conjugação com azeites. Ansião, um verdadeiro jardim de ervas aromáticas, quer agora transportar este património milenar para outras áreas ligadas à cosmética. Iniciou, por isso, um processo de I&D com a Faculdade de Engenharia do Porto para investigar as suas potencialidades, ligando-as aos perfumes, sabonetes e outros produtos contemporâneos. Com uma vertente histórica muito vincada, assinalada em vestígios “vivos” que representam autênticas memórias do neolítico, da proto-história ou do período romano, a paisagem natural de Ansião é de rara beleza, imposta pela sua localização geográfica que apresenta 14 Distrito de Leiria 28 de Agosto de 2014

um conjunto de monumentos e de documentos únicos na Península Ibérica. Basta olhar o Complexo Monumental de Santiago da Guarda, classificado de monumento nacional em 1978, considerado de obra de grande diversidade patrimonial. Além de uma Torre e de uma residência Senhorial, único exemplar de arquitetura manuelina do concelho, dispõe de uma villa tardo-romana dos séculos IV e V, composta de mosaicos de uma riqueza incalculável. Mas, na freguesia de Avelar, no largo da Igreja, ao cimo de um enorme espaço aberto, o grande forno de origem medieval é único na região. Embora não seja usado actualmente, esta construção hexagonal, com uma cruz de trevo no topo da cúpula e dois pináculos piramidais ao lado da cruz, foi no passado dos locais mais importantes do concelho.

A ruralidade em relação com o turismo low cost Embora impere na sua matriz identitária uma forte vocação empresarial, Ansião ambiciona muito mais, procurando dar vida ao seu património nas suas várias

vertentes. Não negligencia, por isso, aquela que é a herança do Estado Novo e que, por força das políticas educativas recentes, obrigaram ao encerramento das escolas antigas. “É nosso desafio a conexão com a ruralidade e com a paisagem natural”, explica Rui Rocha, presidente da câmara, referindo-se à oportunidade de dar a quem visita o concelho a experimentação dessa ruralidade através da vivência dos hábitos, costumes e tradições ainda muito enraizados nas aldeias. Nasceu assim o conceito de alojamento turístico low cost, que passou pelo restauro de três escolas primárias devolutas, em Aljazede, Casais da Granja e Marquinho. São aldeias do mais rural que existe, com caminhos estreitos, muros de pedra e próximas de monumentos naturais e históricos. A recuperação das escolas “tem muito a ver com o nosso património, explorando os caminhos de Santiago que têm vindo a crescer no concelho, tal como os Caminhos de Fátima”, revela o presidente da câmara, referindo-se ainda à ligação à Villa Sicó e à presença romana em Condeixa, Penela, Santiago da Guar-

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da e Tondela. “Estamos a fazer sondagem que se crê possa ser a casa rural ligada à casa senhorial no Complexo Monumental, o que terá uma importância muito relevante ao nível dos achados arqueológicos.”

Serra que inspira ilustres Terra muito ligada à cultura e às artes, principalmente Chão de Couce foi local de gente ilustre que procurou refúgio na Casa da Quinta de Cima, um palácio real do século XVI. Por ali passaram alguns reis das dinastias afonsinas e avizinhas e, mais tarde, nomes como Egas Moniz ou José Malhoa. A casa enquadra-se na belíssima serra da Nexebra, com a sua beleza arrepiante principalmente no despontar da Primavera com rosas de silvão, açucenas, a ciranda branca dos Sabugueiros, tapetes de abrigotas e muitas outras flores e plantas sui géneris. Pelos seus cantos e recantos, há várias histórias que ficam na memória dos mais velhos que passam de boca em boca, como a da extração de ferro, nas Minas do Pinheiro, em Pousaflores.

1. Orquídea que cresce selvagem nas paisagens da Serra de Sicó 2. Carro alegórico que figura nas tradicionais festas de Ansião 3. Complexo Monumental de Santiago da Guarda 4. Figuração do moinho, que representa uma das mais antigas tradições do concelho: moer a farinha e cozer o pãpo no forno. A experiência está à mão de quem visitar uma aldeia rural...

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Mas, há outro património industrial em Ansião que está agora a ser recuperado. Avelar, que foi um importante polo da indústria têxtil, retoma a actividade depois da aquisição de uma unidade fabril por um empresário da Covilhã; e prepara-se para ter um museu. “O mais importante no nosso património são as pessoas. Os edifícios têm um tempo de duração, mas se não lhes dermos vida ficam cinzentos e acabam por morrer”, sublinha Rui Rocha, relembrando o cortejo alegórico que se realiza de dois em dois anos nas festas de Ansião desde a década de 1960. Criado inicialmente como cortejo de oferendas para os bombeiros, transformou-se numa festa do povo, que homenageia o passado e o presente, com temas da história, do património, economia, educação e tudo o que sirva para criar memórias. Este ano, o tema foi, como não podia deixar de ser, os forais manuelinos de 1514. I PUBLICIDADE

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Lenda dá origem a livro infantil A Rainha e o Ancião “Há muitos e muitos anos, no reinado de D. Dinis, numa povoação de casas dispersas banhada pelo rio Nabão, nasceu uma lenda que permanece no tempo ligada ao nome da vila de Ansião”. Começa assim o livro dedicado às crianças de Ansião, que conta a história da Ponte de Cal sobre as águas calmas do rio Nabão, construída no século XVII. A Rainha Santa Isabel ali parava para os seus “banhos santos” quando percorria a estrada real que ligava Lisboa e Coimbra. Um dia, sentindo-se revigorada, encontrou um velhinho a quem deu algumas moedas de ouro. A sua bondade ficou conhecida em toda a vizinhança, pelo que o povo passou a tomar os banhos santos na tentativa de um milagre. Terá sido daí que nasceu o nome do concelho, inicialmente Ancião e só depois

transformado em Ansião. A Ponte da Cal ainda hoje existe, fazendo parte do património de Ansião, tal como os dois tanques de banhos que então se destinavam um aos homens e às mulheres. I

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Batalha

Tradições que encantam à sombra do Mosteiro

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ara a maioria das pessoas, na Batalha existe o Mosteiro de Santa Maria da Vitória e pouco mais. Isso é visível na imensidão de turistas que o visita e parte logo de seguida, sem perceber que para lá do monumento há um património de uma beleza incalculável. É indiscutível que o Mosteiro, no que respeita ao património edificado, é o ex-libris do concelho, é o que faz “a história da cultura colectiva de mais de 500 anos”, como sublinha o presidente da câmara. É até a grande obra de referência e a imagem do território que este ano comemora-se o 30º

aniversário da classificação da Unesco. E que na tentativa de o tornar mais vivo, abre as visitas dos terraços para mostrar um novo prisma de uma obra que se prolongou por mais de 150 anos. Com apenas quatro freguesias, o seu território é bastante heterogéneo não só em relação ao relevo e à vegetação, mas à história, cultura e tradições. Dos pequenos muros de pedra solta, característicos das serras agrestes das freguesias de São Mamede e Reguengo do Fètal; aos solos férteis e dóceis das paisagens verdejantes do Vale do Lena, por onde corre o Rio Lena, na Batalha e na Golpilhei-

ra; o território é influenciado pelos vestígios da ocupação humana desde os tempos pré-históricos. São Sebastião de Freixo, onde existiu a povoação romana de Collipo, é uma das mais importantes cidades luso-romanas da costa oeste da Península Hispânica Ibérica. Em termos patrimoniais e numa breve incursão pelo concelho, podemos destacar o retábulo da Paixão de Cristo, que ornamenta a Capela de Santo Antão, e que terá sido executado por volta de 1430. Na Golpilheira, a entrada na Ermida de São Bento da Cividade, erguida no século XVI sobre uma primitiva capela, é outro detalhe que vale a pena assinalar. A caminho da serra, em Reguengo do Fétal, a ermida de Nossa Senhora do Fétal foi construída em 1585 em honra da Virgem que terá aparecido a uma pastorinha. Todos os anos, o milagre é celebrado com a tradicional procissão dos caracóis, que ilumina as ruas da freguesia com milhares de luminárias feitas com a casca daquele molusco.

A gruta do Buraco Roto representa uma cavidade

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1. Procissão dos Caracóis em Reguengo do Fètal 2. Gruta do Buraco Roto 3. Museu da Comunidade da Concelhia da Batalha 4. Ponte da Boutaca

cársica que, durante os meses mais chuvosos, deita água formando uma cascata de grande beleza. A própria Pia da Ovelha, também uma formação cársica, deve o nome ao facto de, no passado, os pastores aproveitarem a água aí retida para darem de beber ao gado. Já em S. Mamede, encontra-se uma das belezas naturais mais singulares do concelho e da região: as Grutas da Moeda, que se estendem por mais de 350 metros de galerias, com uma profundidade de 45 metros. No que ao património construído diz respeito, o destaque vai para a igreja de Santo António, em Casal Vieira, que apresenta elementos maneiristas na sua fachada principal e na torre sineira. Na Rebolaria, a Casa-Museu do Rancho Folclórico Rosas do Lena que reconstitui uma casa estremenha do século XIX, é um excelente exemplo de património etnográfico, onde existem exposições permanentes de miniaturas etnográficas, instrumentos musicais, peças dos can-

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teiros da Batalha, alfaias agrícolas e ferramentas de várias profissões. Noutro local da povoação, o Rancho Folclórico criou uma Casa da Cultura resultante da transformação de um palheiro tradicional, onde está reunido o espólio do agrupamento e ainda um arquivo e uma biblioteca etnográficas. Já na vila, a Ponte da Boutaca é um dos mais belos monumentos de traços neogóticos. É um viaduto associado à propriedade de Mestre Boitaca, iniciado em 1862, durante o reinado de D. Luís. Tem características que a tornam única no País, pelos quatro pavilhões de estilo romântico que eram utilizados como casa dos portageiros. Mas há mais. O inclusivo Museu da Comunidade Concelhia da Batalha (MCCB), premiado a nível nacional e internacional, permite que se viaje no tempo desde o início do universo, conhecendo de uma forma inovadora a história, a geologia, a arqueologia ou a paleontologia, assim como a cultura, as tradições e

O azeviche para o luto da coroa Ao longo do Vale do Rio Lena, nas formações jurássicas de Batalha e Mendiga (Porto de Mós), são conhecidos vários jazigos de lenhites, que formam o Couto Mineiro do Lena que se alarga também a Alcobaça. Na Batalha, a actividade mineira deu os primeiros passos no séc.XVIII, com a extracção de azeviche, “pedra” muito utilizada na produção de peças ornamentais, como as jóias usadas em períodos de luto pela família real portuguesa. Também conhecido por Âmbar Negro, é uma espécie de carvão vegetal fossilizado, existindo ainda nas Astúrias (Norte de Espanha) e em Peniche, usado em esculturas e produtos esotéricos. No século XIX iniciou-se a exploração de carvão nas Barrojeiras e em Chão Preto (Alcanadas). I

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5. Mosteiro da Batalha 6. Rancho Folclórico Rosas do Lena 7. Grutas da Moeda 5

6 eventos que marcam a identidade do território. É também acessível a todos os cidadãos, independentemente das suas diferenças. Batalha é, aliás, dos poucos concelhos que detém a marca acessível, tendo

7 criado o primeiro Ecoparque Sensorial do País, que combina natureza, reabilitação de casas típicas, percursos pedestres, BTT, observação de aves e de plantas e flores. É na Aldeia da Pia do Urso que proporciona ainda aos invisuais a possibili-

dade de apreensão da natureza através do tacto e do olfacto. Percorrer o concelho é, pois, partir à descoberta de uma herança que não tem fim. Em cada lugar há marcas de outros tempos, em ambiente de serra e de património edificado, cruzando o artesanato típico, com a gastronomia, as tradições, os cheiros e sabores que caracterizam a região. “O capital humano é um dos principais patrimónios do concelho”, afirma Paulo Baptista dos Santos”, referindo-se, também, a eventos como a Fiaba - Feira de Artesanato e Gastronomia da Batalha, que potenciam os produtores locais e os produtos endógenos que se assumem como importantes factores da economia local. “O mel, o azeite, o vinho, a doçaria, entre outros elementos da gastronomia que geram pequenos negócios e emprego, valorizando o património, tornando-o vivo e recuperando tradições, assentes numa ruralidade perfeitamente assumida”. I

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Bombarral

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A inspiração no passado para olhar o futuro

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um dos mais belos concelhos rurais do distrito, mas quem o visita nem se apercebe disso. É uma questão de detalhes e de estar atento. O imenso património herdado dos monges de Cister, com as suas vinhas e vinhedos, traduz-se numa paisagem invulgarmente exótica com as suas casas e quintas senhoriais associadas. Dos pomares de Pera Rocha espalhados pelo território às casas e palácios que outrora pertenceram aos grandes produtores, localizados em pleno centro urbano… até ao Teatro Eduardo Brazão, um símbolo recuperado daquela que foi sede cultural de uma região que trouxe ao Bombarral gente de todo o distrito e de Lisboa para assistir a grandes espectáculos que ali tinham lugar. Ao longo de todo o ano, o imenso património é vivido com intensidade pelas gentes da terra e também pelos turistas que se deslocam ao concelho. Mas torna-se mais visível quando a população do Bombarral tem oportunidade de ser anfitriã das centenas de pessoas que visitam o mais antigo certame vinícola do País. É, obviamente, o festival do vinho português que se associa à Feira Nacional da Pera Rocha e que mostra dois dos produtos típicos do 20 Distrito de Leiria 28 de Agosto de 2014

Oeste com elevado êxito no mercado exterior. Imagem de grande perfeição, a Mata Nacional é um dos orgulhos deste povo altivo que assume sem vergonha as suas origens rurais, mas que também quer crescer e colocar almofadas de conforto aqui e acolá sem perder a identidade. Quer que as tradições sobrevivam, que a indústria se instale e que os mais novos olhem o futuro com a mesma confiança dos grandes senhores de outrora. Por isso, o ano em que se comemora o centenário do concelho será histórico. Inspirados pelas memórias do local onde estão instalados - o belíssimo palácio dos Henriques que acolhe os Paços do Concelho – autarcas e forças vidas da região já promoveram a criação da sua primeira associação empresarial que abrange todos os sectores de actividade do Bombarral. Vão restaurar o antigo matadouro para uma incubadora de empresas e um centro de desenvolvimento de artes locais. Querem trazer a indústria para o território e recuperar as artes tradicionais, ligadas à produção do vinho e da fruta, como o cesteiro, o tanoeiro, o ferreiro e muitas outras. Será também um espaço vivo de actividade

Fernando Pessoa em "Flagrante Delitro" É conhecida a célebre expressão “flagrante delitro” atribuída a Fernando Pessoa e às suas ingressões ao “Abel”, um dos estabelecimentos associados a Abel Pereira da Fonseca que fizeram história no início do século XX . Era comum Fernando Pessoa, enquanto se encontrava a trabalhar, levantar-se, pegar no chapéu, ajeitar os óculos e ir até ao “Abel” sem dar qualquer justificação. Até ser apanhado em “flagrante delitro” pelo colega Luiz Pedro Moitinho de Almeida. Estes estabelecimentos, mais de uma centena, foram criados em vários pontos de Lisboa para distribuição e venda dos seus produtos. Designavam-se Estabelecimentos Val do Rio e vendiam vinho, vinagres e outros bens de primeira necessidade. Segundo folheto de Junho de 1944, as lojas “funcionavam como armazéns estabilizadores e reguladores de preços”, tendo como clientela “as boas donas de casa” que procuram na “qualidade” e na “barateza”, sem rival, “a certeza de empregarem bem o seu dinheiro”.

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turística, com artesanato ligado à olaria e cerâmica. Terra de reis… e de grandes senhores Bombarral é terra de palácios, de grandes casas senhoriais, edifícios relacionados com os tempos áureos do passado. Muito desse património está recuperado,

mas outro mantém-se ao abandono. Os descendentes, fruto das dificuldades financeiras das famílias, deixaram de ter capacidade para o restaurar. “Bombarral está à venda”, ironiza o presidente da câmara. Isto faz lembrar que Bombarral deu cartas no passado. Localizava-se no concelho a maior metalúrgica que fornecia as

1. Terra de vinhedo, 2. Pêra, um dos produtos mais internacionais da região. 3. Paços do Concelho, antigo palácio dos Henriques, 4. Solar da Quinta dos Lóridos, beloexemplar da arquitectura do séc. XVIII

alfaias agrícolas no tempo na agricultura quando se trabalhava de forma mais artesanal. A empresa fornecia todo o Oeste e parte do País, daí que no Bombarral também se realizavam as feiras e mercados mais importantes da região. “Era um concelho que concentrava muita riqueza, diz José Vieira. Uma opulência que tem testemunho na

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Torre Lafetat, a construção mais antiga do concelho, doada por D. Dinis a um fidalgo aragonês, bisavô materno de D. Nuno Álvares Pereira, que terá estado aqui na sua infância.

belíssima capela Madre de Deus que além de ser um excelente marco do património religioso, pertenceu a Abel Pereira da Fonseca, ex-presidente da câmara, e um dos maiores produtores do início do século XX. Instalou-se no Bombarral na década de 1920 para fundar a Companhia Agrícola do Sanguinhal e para administrar outras propriedades na região. Hoje, a Companhia dedicase à exploração de três Quintas na Região Demarcada de Óbidos. Os nomes das quintas do Sanguinhal, das Cerejeiras e de S. Francisco representam os vinhos DOC mais prestigiados da empresa hoje formada pela nova geração da família Pereira da Fonseca. “As tradições do vinho estavam de tal forma enraizadas que resistiram às políticas agrárias do passado recente que obrigaram ao arranque da vinha por esse País fora”, lembra o presidente da câmara, sublinhando, que mesmo assim, subsistiram apenas os grandes produtores de vinho e reforçou-se a presença do pomar, com a Pera Rocha. Bombarral é, cada vez mais, um concelho aberto ao turismo. Com um património natural de uma beleza ímpar, pontuado de monumentos arqueológicos de grande importância, destacase a Gruta da Columbeira na encosta do Vale do Roto, das poucas grutas portuguesas com ocupações do paleolítico médio e uma das duas que fornece testemunhos arqueológicos atribuídos ao homem de Neanderthal. Aliás, a povoação da Columbeira é um dos sítios que vale a pena visitar, já que ali se situa também o Castro “Serra do Castelo”, um importante povoado da Idade do Cobre com cerca de 4.000 anos. Os materiais encontrados, entre vasos cerâmicos, alguns decorados, pontas de seta e lâminas em sílex, machados de pedra polida, utensílios em osso e pesos de tear estão expostos no Museu Municipal. Mas o solar da Quinta dos Lóridos, também grande produtor de vinhos, é um excelente exemplar da nobre arquitectura rural do século XVIII. Hoje é propriedade do Comendador José Berardo, que nela mandou a edificar jardins temáticos, o Jardim da Paz e Budha Eden. I

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CM. CALDAS DA RAINHA

Caldas da Rainha

Lágrimas termais… reafirmam terra de património e cultura

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s lágrimas que a população de Caldas da Rainha tem derramado ao longo de vários anos assemelham-se às gotas de água que deixaram de brotar das fontes de um dos seus maiores patrimónios históricos. Se a imagem pode parecer exagerada, então imagine-se o que significará para as gentes daquele concelho estarem “em falta com o compromisso assumido com a Rainha D. Leonor”. É uma promessa real que dura há muitos séculos, mas as pessoas não a esquecem. Foi graças a ela que, desde sempre, as “águas santas” trataram

pessoas sem olhar a quem, independentemente da sua condição social. Tinta Ferreira, presidente da câmara, é um dos que lamenta o encerramento deste património maior, prometendo que tudo fará para honrar a rainha que, em 1485, fundou o mais antigo hospital do mundo. Se nada for feito morrerá, tal como o pavilhão, construído em finais do século XIX, com as suas altas janelas. Um belo exemplo de arquitectura termal. Escusado será dizer que Caldas da Rainha cresceu e se desenvolveu graças ao fervilhar de gente que procurava as termas. Até ao dia em que o Governo, ao

A Fábrica Rafael Bordallo Pinheiro está a produzir as peças que serão colocadas na cidade integradas naquela que será a Rota Bordaliana

deixar de comparticipar os tratamentos, abandonou também a conservação de todo o imenso património construído que existe à volta das águas: o hospital termal, o balneário novo, o Parque D. Carlos I e a Mata Rainha D. Leonor, que ocupam uma enorme área verde no coração da cidade. Os pavilhões, dois verdadeiros emblemas das Caldas, o antigo Casino, o restaurante, a Casa dos barcos… “Vamos salvar o hospital. Vamos salvar o nosso património!”. Tinta Ferreira e a sua equipa já propuseram ao Estado um processo negocial para cederam ao município todo este património, além de um acordo de concessão da água termal pela Direcção-Geral de Energia e Geologia. Querem revitalizar os edifícios, dar-lhes vida e criar uma parceria com uma IPSS para garantir que todas as pessoas possam usufruir das águas termais. Através de concurso internacional, pretendem concessionar os pavilhões e o casino para um hotel termal, spa e residências para seniores, com acesso às águas. “Caldas da Rainha chegou a ter as maiores termas do País e queremos que voltem a ser revitalizadas.” Na região Oeste só falta um hospital termal a funcionar. De resto, a cidade e o concelho têm reaprendido a viver, refugiando-se na cultura, nas artes, no mar e na natureza que atravessam o território.

Rota bordaliana nas ruas de Caldas É, aliás, conhecida a sua forte identidade cultural e artística, herança de mestres como Rafael Bordalo Pinheiro, criador do Zé Povinho, mote de >>> 28 de Agosto de 2014 Distrito de Leiria 23

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uma das mais interessantes iniciativas em curso, a Rota Bordaliana. “Espalhar pela cidade um conjunto de peças com um metro e oitenta de altura num percurso que marca o caminho que Bordalo Pinheiro fazia quando chegava à cidade de comboio para ir para a sua fábrica”, diz Tinta Ferreira. A fábrica de Faianças Rafael Bordalo Pinheiro está a reproduzir as peças, entre sapos, Zé Povinhos, abelhas, polícias, gatos, andorinhas, macacos… para que este património artístico seja protegido e relembrado. Mas a herança artística e cultural é bastante mais vasta, ou não seja Caldas a cidade dos museus. Basta entrar num circuito turístico cultural e seguir indicações. Se for de manhã, ainda se podem sentir os perfumes na pitoresca Praça da Fruta, com todo o colorido de frutas, flores e legumes que alegram o tabuleiro empedrado em Calçada Portuguesa que reveste toda placa central.

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Depois disso, pode iniciar-se um dos trajectos museológicos mais interessantes. O Museu do Hospital e das Caldas, como não podia deixar de ser, revela memórias da instituição e do espaço urbano. Pintura, escultura, talha, ourivesaria, paramentaria, mobiliário, cerâmica, documentos gráficos e instrumentos médicos e científicos. Uma viagem que começa no século XVI e termina no século passado, carregada de excelentes histórias. Mas, o Parque D. Carlos I, ele próprio um verdadeiro património histórico e paisagístico, concebido pelo arquitecto Rodrigo Berquó, em 1889, integra o famoso Museu José Malhoa, o primeiro criado de raíz em Portugal, em 1933. Integra as colecções de arte portuguesa centradas no naturalismo, academismo e tardo naturalismo. Vale a pena também conhecer o aldeamento de São Rafael, onde além da Fábrica de Faiança, existe o Museu Rafael Bordalo Pinheiro, com todo o tipo de faiança decorativa inspirada em motivos naturalistas. Não deve ser esquecido o Museu de Cerâmica, criado oficialmente em 1983, por vontade população. Instalado na quinta Visconde de Sacavém, apresenta diversos núcleos representativos de vários centros cerâmicos estrangeiros e caldenses, abrangendo o período entre os séculos XVI e XX. O Centro de Artes de Caldas da Rainha é uma espécie de multiusos no que à cul-

Outros tesouros para lá da cidade Se Caldas da Rainha é um tesouro escondido, imagine-se num passeio de bicicleta pelo litoral ou a desfrutar a natureza no Paul da Tornada ou nas Grutas de Salir do Porto. Um mergulho na Praia da Foz do Arelho, situada na confluência da Lagoa de Óbidos ou uma digressão pela gastronomia local onde a doçaria conventual tem lugar de destaque, com as cavacas das Caldas, os Beijinhos, as Trouxas e as lampreias de ovos ou o Pãode-ló do Landal… Pois é… se antes era mais difícil descobrir o concelho e todo o seu património, hoje basta uma simples aplicação para se ter acesso a tudo, mesmo tudo, o que existe no território. Basta escolher entre o turismo, património, roteiro da água, arte nova, agenda cultural… praias, natureza. Está tudo ali, no City Guide, disponível para smartfhones e com um conceito inclusivo, já que além de texto também tem voz. Veja-se a Lagoa de Óbidos que vai ser desassoreada com um projecto que envolve também a câmara de Óbidos, numa parceria que há muito se desejava e que agora se torna possível. Como dizem os dois presidentes, há uma ligação histórica entre Caldas e Óbidos que se quer preservada para bem de toda a região! Estar de costas voltadas, como aconteceu no passado, não faria qualquer sentido, alegam ainda!

Museu José Malhoa, o primeiro museu criado de raíz em Portugal. Silos criativos, um espaço de implosão criativa para estudantes, empreendedores e empresas

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tura diz respeito, integrando o Museu Barata Feio, os Ateliers Museus António Duarte e João Fragoso e o Espaço da Concas. Duas grandes actividades têm marcado este Centro e as Caldas da Rainha – as Bienais e o Simpósio Internacional de Escultura e Pedra, este último a decorrer ainda.

Os estudantes e a cidade Arte, cultura e… Escola Superior de Arte e Design! Uma ligação tão inata tal como foi a vinda de tantos artistas para uma cidade que é hoje célebre pela sua arquitectura, monumentos, pintura e escultura… e outras manifestações que atravessam as fronteiras do País. Além dos prémios e distinções nacionais e internacionais entregues a alunos e professores daquela escola, é o Caldas Late Night, que acontece todos os anos em Maio, que se destaca na cidade. É um dos maiores eventos culturais organizados por alunos da ESAD.CR, onde todos interagem com a cidade e com as pessoas que lá vivem. Numa relação verdadeiramente empática, todos são convidados a mostrar trabalhos e projectos pessoais, num fervilhar de gente nas ruas da cidade e nas suas próprias casas. Há música, há espectáculos e há muita arte ou não seja aquele um território fértil e sensível a imensas sensibilidades artísticas. I 28 de Agosto de 2014 Distrito de Leiria 25

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Castanheira de Pêra

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Terra de princesas que se banham nas praias fluviais

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astanheira de Pera impressiona pela grandeza da sua belíssima paisagem. Inserida na Serra da Lousã, em plena bacia hidrográfica do rio Zêzere, é um território fértil de praias fluviais, de xisto e de quedas de água que lhe conferem emocionantes imagens de uma dimensão absolutamente surreal e mágica. Dona de uma pequena vila pitoresca, deslumbra pelas suas casas brancas, qual princesa encantada chamada Peralta que ali se terá refugiado com o seu séquito em plena serra da Lousã. Sim, o nome e a beleza de Castanheira de Pera terão nascido de uma lenda sobre a bela princesa em fuga e que a

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deusa Vénus terá transformado em formosa sereia, tal como os seus acompanhantes em montanha. Daí a abundância em águas que brotam das serras e que fazem com que hoje, aquele concelho possa hoje viver da força das suas praias fluviais. Não será por acaso que no Verão as praias fluviais lhe dão vida, fazendo com que todo o concelho fervilhe de gente. E se alguém pensou que as modernas ondas artificiais das Rocas iriam retirar público às praias fluviais naturais, enganou-se redondamente. Situada no leito da Ribeira de Pera, de águas límpidas e cristalinas, a Praia Fluvial do Poço Corga é procurada pela sua tranquilidade e para renovar forças ou não tenha en-

tre as suas paisagens bucólicas o verde da Serra da Lousã, o intenso azul do céu e o colorido das flores. Ali, o esplêndido carvalhal centenário consagra sombra ao parque de merendas e ao Museu “Lagar do Corga”, um antigo lagar de azeite movido a energia hidráulica. Além da qualidade da água, é uma praia com acesso pedonal, com rampas para pessoas com mobilidade reduzida, instalações sanitárias adaptadas e serviço de primeiros socorros com nadadorsalvador durante a época balnear. Mas, de igual beleza, as margens da Ribeira das Quelhas ou o vale da bonita Ribeira de Pera constituem outras linhas de água que marcam a identidade deste território muito procurado para quem

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1. Praia Gluvial Lagar do Corga. 2. Sto. António da Neve e os Poços da Neve. 3. Museu “Lagar do Corga”. 4. Igreja Matriz 3

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gosta de percursos pedestres, de BTT ou de outros desportos de natureza. De Castanheira de Pera muito se ouve falar também de Santo António da Neve e dos seus Poços da Neve. Constituem, aliás, dois dos principais monumentos, que Fernando Lopes, presidente da câmara, faz questão de “dividir” com todo o povo da serra. É um local que simboliza os encontros dos povos da Lousã, os “andarilhos solitários”, que se uniram no passado com um grande sentido de entreajuda. Naquele local, existiu uma das mais antigas fábricas das neves do País. Conhecidos como “neveiros”, os sete poços que ali existiam serviam para armazenar e compactar a neve que era depois transportada para Lisboa, para fornecer toda a corte. Construídos em pedra de xisto e barro, tal como a arquitectura deste território serrano, ostentavam uma cobertura em abóbada de pedra em forma de sino achatado e dispunham de uma pequena porta para nascente, para evitar que o sol mais forte entrasse e derretesse a neve ali guardada. A recolha de neve era feita por mulheres e crianças,

que a carregavam em pequenas cestas até aos depósitos, enquanto os homens, com um grande cepo, a calcavam até ficar em bloco de gelo, cobrindo-a com palha e fetos para a conservar. Depois disso, transportavam-na em carroças por estradas mal pavimentadas

até Constância, de onde os blocos de gelo seguiam em barcaças até ao Terreiro do Paço, em Lisboa, onde era depositada em poços construídos para o efeito. Próximo do século XIX, a venda de neve foi difundida por vários botequins em Lisboa, para satisfazer a alta bur>>> PUBLICIDADE

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Castanheira faz barretes para campinhos e forcados

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Museus: o presente, futuro e… as tradições DR

É em Castanheira de Pera que está instalada a única fábrica do País que ainda fabrica barretes para os Campinos do Ribatejo, forcados e homens dos ranchos folclóricos. José Augusto, proprietário da JV, empresa que tem como principal actividade a produção de meias, explica que optou por continuar a produzir este produto tipicamente português para manter uma tradição secular no concelho. “Cada vez há menos campinos e os forcados e os ranchos usam os barretes até os romperem”, revela o empresário que vende, sobretudo, para lojas de artesanato. No concelho, os convidados oficiais da câmara municipal e de outras instituições também costumam usar o barrete, como homenagem a uma actividade que já deu cartas no concelho. Como aconteceu, aliás, com a indústria dos lanifícios que foi a principal fonte de economia do concelho durante décadas e que começou a decair a partir de 1980, levando ao encerramento de várias fábricas. Desta indústria resta ainda o Laínte, um dialecto que tinha por base a língua portuguesa, com as mesmas

guesia da época. Eram uma preciosa ajuda na subsistência das pessoas pobres da serra da Lousã, que pediam a Santo António que nevasse para que o seu sustento não fosse posto em causa. Hoje restam apenas três neveiros que testemunham a determinação deste povo serrano. Todos os anos se realiza uma grande festa com Romaria ao Santo António da Neve, em homenagem às gentes desta Serra.

regras gramaticais, mas que só os comerciantes de tecidos e lãs entendiam. Foi “inventado” devido à necessidade que os vendedores tinham de se proteger da concorrência de outras regiões, assim como dos assaltantes. Quando em meados do século XX surgem as primeiras lojas de tecidos, o Laínte da Cosconha (que significa Castanheira), cai em desuso, permanecendo hoje como património concelhio e fazendo parte da sua identidade ligada aos lanifícios.

De construção mais recente, em Julho de 2001, a Casa do Tempo é um espaço vocacionado para a preservação e valorização do património relacionado com a arte tipográfica, mas mais importante que isso é um espaço vivo e dinâmico, impulsionador do progresso da região, nomeadamente como centro de difusão cultural. Da autoria do arquitecto Paulo Pedroso, o edifício é composto por duas salas que procuram reproduzir uma noção de tempo, através de traços arquitectónicos que revelam impressões associadas à ideia de passado e futuro, justificando-se assim o nome atribuído a este espaço museológico. A primeira sala alberga uma exposição permanente dedicada ao jornal local O Castanheirense e num plano mais abrangente à Tipografia. Por seu lado, a sala de exposições temporárias é dedicada às iniciativas de carácter cultural e pedagógico. Ali funciona também o posto de turismo. Em matéria de património, vale a pena recordar o Núcleo Museológico A Casa do Neveiro, fundado em 1996, desde 2002 nas instalações da Junta de Freguesia do Coentral, antiga casa onde nasceu, em 1835, D. Manuel Agostinho Barreto, Bispo do Funchal. Além de toda a história do Rancho Folclórico Neveiros do Coentral, criado em 1964, este núcleo homenageia o seu fundador, Herlander Machado, os usos, costumes e tradições, relembrando as casas e actividades de subsistência das gentes do Coentral, como a agricultura, pastorícia, profissões diversas, indústria artesanal, entre outros. Neste espaço, é ainda recriada a 1ª Escola Feminina instalada em 1913 no então Centro Escolar Democrático União Coentralense. I

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Figueiró dos Vinhos

A vila que inspirou Malhoa

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igueiró dos Vinhos, concelho com oitocentos anos de história, revela ao longo de toda a sua extensão uma grande variedade de paisagens monumentais, emoldurada pelo verde da serra e pelo azul da Ribeira de Alge e Rio Zêzere. Foi neste cenário de impressionantes monumentos naturais e históricos, que José Malhoa se inspirou para conceber algumas das suas obras mais paradigmáticas. Quem entra em Figueiró dos Vinhos apercebe-se imediatamente que se está perante uma vila diferente. Lá está a luz única que encantou pintores, escritores e escultores, as ruas limpas e recuperadas, as casas de uma brancura imaculada e na sua maioria apalaçadas e enfeitadas com flores e muito verde na praça pública. É uma vila florida sem qualquer dúvida, independentemente da classificação de Vila

Florida da Europa que obteve em 1998. Figueiró é, aliás, território cheio de epítetos que tem sabido, contudo, honrar com a preservação do património e com o desenvolvimento de actividades culturais a ele associado. O título de Sintra do Norte parece ter alguma razão de ser. José Malhoa alicerçou-se na belíssima paisagem verde que desperta todos os sentidos mas também no lado mais cosmopolita daquele lugar que no seu tempo ali recebeu nomes sonantes da arte e da cultura. Destacam-se entre eles alguns dos artistas que marcavam encontro na Cervejaria do Leão, em Lisboa, e que se constituíram mais tarde como o Grupo do Leão, influenciando até a opção de Malhoa pela pintura de ar livre e a sua vinda para Figueiró pouco tempo depois, onde construiu a sua casa de férias, hoje o famoso Casulo. Deste tempo, também Manuel Hen-

rique Pinto viveu e pintou na vila florida. Nem por acaso, hoje no Museu e Centro de Artes é possível percorrer parte de um percurso pelas obras oitocentistas inspiradas na Escola Naturalista de Figueiró, através de uma exposição do século XIX. Trata-se de uma tese alicerçada por Maria de Aires Silveira, do Museu do Chiado, pelas particularidades pictóricas, estéticas e paisagísticas que Manuel Henrique Pinto e José Malhoa criaram em Figueiró dos Vinhos. Na exposição estão representados, também, os escultores figueiroenses Simões de Almeida – que recomendou a luminosidade de Figueiró aos seus dois alunos, Henrique Pinto e escultor Simões de Almeida (Sobrinho), autor do Busto da República. Partindo destes símbolos principais do passado, onde a cultura tem um papel central, Figueiró dos Vinhos alia a cul- >>> 28 de Agosto de 2014 Distrito de Leiria 29

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1. Aldeia de Xisto, Casal de S. Simão 2. Convento do Carmo 3. Doce Conventual 4. Museu Centro de Artes junto ao Casulo de Malhoa 4. Foz de Alge

1 tura, à natureza e, à gastronomia para construir um mosaico patrimonial único. Além dos eventos anuais, onde se destaca a Feira de Doçaria Conventual, em Outubro, Figueiró é dona de algumas das praias fluviais mais emblemáticas da região. Merece destaque as Fragas de São Simão onde, depois de um banho revigorante, se pode tomar a refeição lá mesmo no parque de merendas ou no restaurante da recuperada aldeia Casal de São Simão. Fica mesmo ao lado e tem acesso pedonal pela praia. Além de uma vista de fazer perder o fôlego, é obrigatória uma visita pela aldeia da Rota do Xisto que chegou a estar praticamente desabitada e que é hoje um caso único de revitalização no desertificado interior do País. PUBLICIDADE

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Uma grande fábrica de balas, bombas e artilharia Em Figueiró dos Vinhos existiu uma fábrica onde se produziam balas, bombas e outras peças de artilharia. Tratava-se da primeira Metalúrgica na Foz d'Alge, com grande importância a nível da Europa, onde se fizeram as primeiras peças de artilharia naval e de fortificações no País até 1761, segundo contava o historiador Hermano Saraiva. Algumas das minas de onde saía o ferro para esta metalúrgica encontravam-se em vários pontos da região, mas as mais conhecidas eram as do Pinheiro, em Pousaflores, na serra da Nexebra. O mais antigo alvará de que se tem conhecimento desta fábrica data de 1655, pelo Conde de Cantanhede. Sob a

supervisão de Francisco Dufour. A empresa laborou até 1759, ano em que foi suspensa a sua actividade pelo ministro de D. José I, Sebastião de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal. Mais tarde, no início do séc. XIX, em 1802, com o grande impulso que teve a exploração do ferro, os trabalhos da ferraria foram reactivados sob a administração de José Bonifácio de Andrade e Silva. Só que com novos produtos, artigos de ferro em bruto e manufacturado. Hoje apenas se podem apreciar as suas ruínas, junto à foz da Ribeira de Alge, e apenas quando a albufeira não está cheia. Caso contrário, ficam submersas. I

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Consumo de 3,6l/100km

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Cadeia, freiras e pão-de-ló Com o advento da época Moderna, Figueiró reforçou a sua importância com a renovação da Carta de Foral em 16 de Abril de 1514 por D. Manuel I, atingindo uma apreciável prosperidade económica, evidenciada no incremento urbano da vila, visível nos edifícios do centro histórico, onde se destaca a construção da Torre Comarcã, em 1506. Os séculos e XVI e XVII assinalam também uma época de desenvolvimento local, com a construção dos Conventos de Nossa Senhora da Consolação (1549) e de Nossa Senhora do Carmo. Enquanto o Mosteiro de Nossa Senhora da Consolação pertenceu às religiosas de São Francisco, o convento do Carmo esteve ligado à ordem dos Carmelitas Descalços, sendo hoje classificado como património de interesse público. Destacam-se nele os azulejos joaninos da Capela de Francisca Evangelha. O seu Colégio das Artes teve na época larga importância. Ainda no centro histórico, além da Capela de S. Sebastião, da Cruz de Ferro e Fonte das Freiras, a Torre da Cadeia é um monumento mandado construir em 1506 pelos homens bons do concelho para fazer face às pretensões senhoriais relativamente ao exercício da justiça, existindo ainda hoje uma placa alusiva ao acto. 

Roteiro pelo distrito ao volante de um Volkswagen Polo Um automóvel que consome apenas 3,6 litros, a cada 100 quilómetros percorridos (em ciclo de consumo misto), é, seguramente, o veículo ideal para visitar cada canto e recanto da região em férias (e até fora delas). Foi por isso que apostámos no Volkswagen Polo Van 1.4 TDI, 75 cv, Trendline para fazer um roteiro pelo distrito. Tanto em estrada aberta, como nos caminhos de terra batida, não houve obstáculo que impedisse este modelo, lançado pela Volkswagen em 2014, de chegar onde quer que fosse.De norte a sul, por entre pinhais e eucaliptais, junto à praia ou na serra, o Volkswagen Polo Van, gentilmente cedido pelo concessionário para o distrito de Leiria, Lubrigaz, cumpriu a missão, oferecendo conforto e versatilidade. Na bagageira, o vasto espaço para arrumações e carga demonstrou a sua utilidade, para levar todo o tipo de materiais. Uma característica sempre útil numa utilização profissional, quanto em modo de férias/passeio. A bicicleta, a canoa e até as cadeiras para a praia ficaram sempre devidamente acondiciondas. O cinco cavalos extra da nova motorização, com 1.4 centímetros cúbicos, permite um desempenho mais musculado, elástico e rápido às solicitações do condutor, comparativamente, ao anterior modelo, que contava com um propulsor de apenas 1.2 de cilindrada. O interior é de qualidade irrepreensível, à boa maneira alemã. A instrumentação prima pela leitura fácil, e o habitáculo foi construído com materiais duradouros. Espaçoso e confortável é indicado para uma utilização mista: tanto em lazer, como para trabalho, em modo frota ou de utilizador singular. O Volkswagen Polo Van 1.4 TDI, 75 cv, Trendline chega ao mercado com um preço de venda ao público de 22.299 euros.

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Um museu ao vivo cheio de memórias

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inda hoje o Castelo de Leiria permanece indelével símbolo monumental da história da cidade. Guarda no interior das imponentes muralhas os vestígios das diversas fases de ocupação: desde fortaleza militar a palácio real”. A cidade cresceu, e muito, guardando fora das sua muralhas tantos símbolos monumentais que marcam toda uma identidade deste burgo “à beira Lis plantado”. Leiria, às vezes sem o saber, é dona de um património tão valioso que por si só daria um autêntico museu ao vivo, sem nada que o prenda ao cinzentismo dos muros de pedra. É terra de escritores, de igrejas, de sinagogas, de ruas históricas, de arquitectura de época, de lugares arqueológicos, de música e de tradições. A Praça Rodrigues Lobo, centro de uma das zonas mais históricas e bonitas do País e com o privilégio de uma vista fantástica sobre o imponente e altaneiro monumento fervilha de gente graças ao comércio tradicional e às esplanadas que lhe dão um colorido especial, representando um dos mais importantes pedaços da história de “

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Leiria. Provavelmente já todos terão ouvido falar das antigas judiarias no País. Em Leiria existiu uma das mais relevantes na época, mas também uma das mais perseguidas pela Inquisição, que começou a actuar em Portugal em 1538. O poeta Francisco Rodrigues Lobo, judeu e um dos maiores escritores da cidade, residia em plena Praça, no sítio onde hoje está a sua estátua. Foi o caso mais famoso de perseguição em Leiria, tendo morrido, estranhamente, em 1616, afogado no Tejo em véspera da grande denúncia que atingiu a comunidade de Leiria. "Entre 1617 e 1620, há uma explosão de denúncias que atinge, entre outros, familiares de Rodrigues Lobo que serão mortos na fogueira”, contou Saúl António Gomes ao JORNAL DE LEIRIA, já em 2005. (ver caixa) A vida dos judeus ia além da Praça, valendo a pena conhecer os vestígios da sua passagem por Leiria nas estreitas vielas que envolvem a Rua Direita. Ali instalaram-se com as suas artes e ofícios, como a ourivesaria, correaria e outras. Junto ao Orfeão Velho ficaria a tipografia dos Ortas, onde terá sido impresso o primeiro livro científico em

Portugal – o Almanach Perpetuum, do conhecido Abraão Zacuto. Lá perto, encontrase a Igreja da Misericórdia, construída sobre a antiga sinagoga que encerrou em 1497, com a expulsão dos judeus de Portugal. Consta que ali existem vestígios da fé judaica, enquanto lá perto, junto à Casa dos Pintores e do Gato Preto, funcionava o hospital, para acolhimento de indigentes e aplicação de pequenos tratamentos simples, que é como quem diz os banhos públicos. A fábrica de papel, ícone desta comunidade, ficava perto do actual Museu do Papel e em frente ao antigo Monte de S. Gabriel, onde existiu, até meados do séc. XVI uma pequena ermida, do reinado de D. João I. No seu lugar, surgiu o magnífico templo de Nossa Senhora da Encarnação, na sequência do milagreque se diz ali ter ocorrido em 1588.

Os dois conventos de Leiria Acidade tem outros tesouros escondidos como as memórias dos seus conventos. O de S. Francisco, construído inicialmente no século XIII no Rossio de António de Leiria, foi transferido para o local

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Enterro do bacalhau, no Soutocido, uma tradição com mais de seis séculos. Brisas do Lis e morcela de arroz fazem parte da gastronomia de Leiria.

onde hoje se encontra. Todos se lembram da antiga moagem, junto à Igreja de S. Francisco. Pois é, foi lá que as freiras estiveram durante vários séculos, apresentando-se todo aquele conjunto patrimonial como uma das “joias mais sensíveis neste tipo de património”. Saúl Gomes diz mesmo que “todo esse conjunto, e não apenas pelos importantíssimos frescos góticos que a igreja preserva, deveria ser património nacional”, o mesmo defendendo, “por razões de interesse artístico e histórico, para a igreja da Misericórdia”. Do outro convento, o de Santa Ana, existirão apenas documentos. Foi mandado construir por D. Catarina da Casa de Bragança, em 1493, para as freiras Dominicanas. O imponente edifício, demolido no século XX, ficava entre o Mercado de Sant’Ana e o Banco Nacional Ultramarino. A cidade esconde, toda ela, pequenos cantos de história que enriquecem toda uma memória colectiva que merece ser conhecida. A gastronomia com as suas brisas do Lis que parece que tinham outro sabor

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se provadas no café Colonial; ou a morcela de arroz que faz as delícias nas “antigas” tabernas, que mantêm um pé no passado e outro no presente, como sinal dos tempos modernos. Ou o enterro do Bacalhau do Soutocico que representa uma tradição com mais de seis séculos. Uma teatralização satírica, crítica dos costumes do antigamente de não se poder comer carne na quaresma.

Herança de poeta e… de Korrodi Mas fora de Leiria, há mais, muito mais.

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Do Santuário dos Milagres, lugar de peregrinação desde o sáculo XVIII, até à Casa de José Lopes Vieira, primo do poeta Afonso Lopes Vieira, nas Cortes, onde os serões de conversa, estudo e música aconteciam com as mais diversas figuras da cultura da época. A própria casa do poeta, construída quando Afonso Lopes Vieira ainda era estudante, é também um belo exemplar arquitectónico. Herança de Ernesto Korrodi, a habitação na Quinta da Batarra, de 1922, é o único edifício identificado com o traço de Korrodi na freguesia, propriedade e ex-libris das Caves Vidigal. Também na cidade de Leiria, Korrodi tem a sua assinatura em muitos edifícios, a começar pelo restauro do castelo. Leiria. Terra de escritores, do menino do Lapedo, de vinho, de arte e cultura. Um concelho onde o património se cruza com tantas memórias que nem um livro com um infinito número de páginas daria para espelhar todo este espólio monumental, natural, cultural e tradicional…

1. Praça Rodrigues Lobo, local de encontro de poetas. 2. Antigo convento de S. Francisco, onde mais tarde funcionou uma moagem. 3. SAMP uma instituição centenária apadrinhada por Eça de Queirós. 4. Menino do Lapedo, património arqueológico que excede as fronteiras de Leiria

Uma cidade com música Se falarmos de música, as raízes são igualmente profundas. Veja-se a Sociedade Artística Musical dos Pousos, a SAMP, fundada em 1873. O seu primeiro maestro foi o Barão de Viamonte, por duas vezes governador civil do distrito. Eça de Queirós foi um dos seus grandes beneméritos. Tendo a Filarmónica como corpo histórico da instituição, assume-se hoje como importante escola de artes. Os seus programas inovadores têm grande projecção internacional. Já o Orfeão de Orfeão de Leiria, formado em 1946, nasce da tradição dos coros de vozes masculinas, atingindo uma plenitude artística que o individualizou no contexto nacional, com repercussões internacionais. Hoje é Orfeão de Leiria|Conservatório de Artes (OL|CA) e dono de um dos melhores e mais antigos festivais de música do País. É considerada uma das embaixadoras culturais da cidade e da região de Leiria no mundo. 

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Legado judaico não pode ser montra de curiosidades turísticas A história de Leiria enlaça-se com a história de uma parcela do povo israelita, dos judeus; nos tempos medievais, como comunidade próspera, de artífices e mercadores muito industriosos, alguns deles físicos (médicos), copistas e tipógrafos, teólogos rabínicos relevantes. Os judeus leirienses eram uma comunidade agregada em torno da sua sinagoga, estabelecida justamente onde, mais tarde veio a ser levantada a igreja da Misericórdia (na foto). A presença judaica, na região, alargava-se, no fim da Idade Média, a outros lugares como Pombal, Ourém, Porto de Mós, Aljubarrota, Alcobaça, Pederneira, Óbidos, entre outras terras. No final desse período, episodicamente, Leiria recebeu a tipografia da família Ortas, oriunda de Castela. Uma Leiria, vila buliçosa e gótica, onde se produzia papel, ainda pela década de 1450, um

produto de fabrico local ou não, que vemos alguns mercadores judeus leirienses a venderem, por exemplo, ao Mosteiro de Alcobaça. Depois vieram os tempos difíceis da nova diáspora, do "racismo" anti-judaico, da perseguição inquisitorial, dos cristãos-novos que a velha sociedade católica reprimiu, não sem contradição, aliás, com todas as suas forças. Tempos difíceis, nos quais, apesar das dificuldades, os filhos dos antigos judeus brilharam nas Letras, na Ciência, sobretudo na Medicina e na

Matemática, e em muitas áreas económicas, financeiras e mesmo políticas. Há parcelas de tudo isso por terras de Leiria. O legado judaico, em Leiria, não pode transformar-se, todavia, numa montra de curiosidades turísticas; deve assumir um sentido civilizacional, no respeito pela dignidade e pela identidade judaicas, pelo património cultural, linguístico, etnográfico e pela história do povo israelita. Não pode deixar de traduzir uma atitude pedagógica coerente, de se constituir como uma oportunidade séria e credível de alargar a investigação histórica e arqueológica que se impõe, no respeito pela dimensão inter-cultural que o tema traduz, e no reconhecimento genuíno de total e absoluto respeito pela leitura ecuménica do fenómeno "religioso" que se respira naquele lugar de memória em que se ergueu a desaparecida sinagoga de Leiria. Saúl António Gomes 

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Marinha Grande

A indústria à sombra do pinhal CMMG

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s historiadores franceses Pierre Nora e Mona Ozouf têm vindo a demonstrar a importância do “culto” aos heróis e grandes homens subjacentes à fundação de comunidades modernas, dando relevo ao grande e infinito mundo que são os lugares de memória. Vem isto a propósito do imenso património da Marinha Grande que não tem, como sabemos, castelos ou mosteiros, mas um manancial de memória colectiva onde não faltam os heróis, reis e poetas ligados às fábricas e museus, ao pinhal e às caravelas, aos descobrimentos e ao mar e à pesca… é todo um conjunto de histórias vivas que se enlaçam com uma vivência muito própria de um povo que sempre desPUBLICIDADE

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bravou caminho sem cruzar os braços. Os primeiros colonizadores daquela região terão surgido nos séculos XI e XII para extrair sal das marinas formadas pelas águas salgadas arrastadas pelas marés do Lis. Só depois, no século XIII, surgiria D. Afonso III para plantar dar início à plantação do Pinhal de Leiria e impedir que as areias avançassem para os terrenos de cultivo. O seu filho D. Dinis, surgiria na viragem dos séculos XIII para XIV, para acrescentar a mata que hoje se estende por mais de 11 mil hectares e que serviu também para extrair madeira da época dos Descobrimentos Portugueses. Mar e pinhal foram, pois, os dois principais símbolos da Marinha Grande dos séculos XV e XVI e que o poeta Afonso Lopes Vieira imortalizou no seu poema Pinhal do Leiria, associandoos aos Descobrimentos, a el-rei D. Dinis e a sentimentos de saudade e amor pela sua mata! Entre o mar, os campos agrícolas e a orla desta grande floresta, fixou-se gente e mais gente, num movimento migratório que muito se ficou a dever à indústria vidreira que se instalou na Marinha Grande por causa das condições

oferecidas pelo pinhal, de onde se extraia o combustível para os fornos e a areia para o vidro. Primeiro foi a Real Fábrica de Vidros que saiu do antigo concelho de Coina para a Marinha Grande, em 1748, sob a administração do irlandês John Beare. Depois, perante o insucesso deste empreendimento, na última metade do século XVIII, Guilherme Stephens assume a gestão da fábrica. Apadrinhado pelo rei D. José e especialmente pelo Marquês de Pombal, é detentor de vários benefícios que o apoiam na administração do património que “herda”. Com a sua morte João Diogo Stephens dá continuidade ao projecto até 1826. Após um percurso com vários percalços, Acácio Calazans Duarte também assume a sua gestão quando a empresa já se designa de Fábrica Escola Irmãos Stephens. Encerra em 29 de Maio de 1992. Poder-se-á dizer que Marinha Grande “nasceu” do berço da Fábrica-Escola Irmãos Stephens, enveredando ao longo dos anos por outras actividades industriais, onde se destacam os moldes e os plásticos, sendo conhecida no Mundo pela marca de excelência a que não é

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alheio o empreendedorismo deste povo há mais de 250 anos não cruza os braços. A luta dos operários vidreiros em 18 de Janeiro de 1934, que ocuparam a câmara municipal e a GNR, decretando durante algumas horas o soviete local, ficará, aliás, para sempre como um marco da cidade vidreira. A maioria de todo este património industrial encontra-se ainda hoje vivo nas fábricas de vidro manual que laboram no concelho e nas três garrafeiras que juntaram ao seu portfólio a tecnologia e a inovação. Mas também nas empresas de moldes e plásticos, cujos empresários herdaram o talento dos seus antecessores.

1. Edifício da Resinagem foi recuperado. 2. Vidro confunde-se história da Marinha Grande. 3. Interior Casa Museu Afonso Lopes Vieira. 4. Pinhal foi determinante para o desenvolvimento da indústria no concelho

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Resinagem entre os melhores da arquitectura O Edifício da Resinagem é o que se pode chamar de materialização de todo este património. Foi seleccionado pelo ArchDaily, site de arquitectura mais visitado do mundo, pelas suas características originais que associam vidro, madeira e outros recursos naturais do território. Ali se encontra o único Núcleo de Arte Contemporânea em Portugal, sob a forma de uma caixa de vidro e a

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Colecção Visitável do futuro Museu da Indústria de Moldes. Em frente, no interior das portas de ferro pintadas de verde, o núcleo fabril da Fábrica Stephens foi recuperado para a Escola Profissional e Artística da Marinha Grande, enquanto o antigo edifício administrativo acolhe a Biblioteca Municipal. Dependente do Museu do Vidro, estão as oficinas de artesãos com maçariqueiros, lapidários e gravadores a trabalhar ao vivo. Nada disto terá razão de ser, se não for vivido intensamente pelas populações. Por isso, Álvaro Pereira fala das lojas que estão para abrir entretanto e do programa cultural que está em curso e em preparação e que será enriquecido com a inauguração da Casa da Cultura. Para já, quer integrar e tornar mais viva a sua participação na rede europeia das cidades vidreiras, razão pela qual quer trazer de novo uma exposição de San Ildefonso – La Granja, em Espanha, com quem Marinha Grande possui acordo de geminação. 

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Poetas cantam S. Pedro e Vieira Afonso Lopes Vieira está para São Pedro de Moel, como Alves Redol para a Praia da Vieira. Um e outro com tantas diferenças, tal como distintas são duas das mais bonitas praias da região. A primeira, mais cosmopolita, distingue-se pelo seu “traçado radiocêntrico inspirado no modelo da cidade-jardim”, influenciada pelo facto de ter sido a primeira estância turística a ter um plano de urbanização. As suas moradias isoladas e baixas, com logradouros ajardinados, ostentam uma arquitectura de veraneio, típica dos séculos XIX e início do século XX. Foi lá que Afonso Lopes Vieira construiu a sua moradia, criou a Colónia Balnear para os filhos de trabalhadores da Marinha Grande e onde hoje funciona casa-museu em sua memória. A Praia da Vieira é terra de pescadores. A sua comunidade

piscatória e a Arte-Xávega estão a preparar-se para um roteiro cultural que preserve esta matriz identitária. Do seu património faz parte também a cultura Avieira, movimento migratório constituído pelos Avieiros ou ciganos do rio, como lhes chamou Alves Redol. Eram pescadores que partiam da Praia da Vieira rumo ao Tejo quando o mar no Inverno se mostrava pouco generoso. 

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Praia mais pitoresca de Portugal na crista da Onda 28 de Agosto de 2014 Distrito de Leiria 39

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mais flagrante característica da Nazaré, sem desprimor para as outras, é o título de praia mais pitoresca de Portugal. O colorido das embarcações no mar e na praia, a pesca artesanal, com o peixe a saltitar nas redes, os homens com as camisas axadrezadas… e as mulheres com o seu típico linguarejar a chamarem pelos turistas para lhes arrendarem um quarto. Este é o cenário para o qual o nosso imaginário nos remete quando retrocedemos à infância da quinzena na praia, naquela casa com pátio na rua onde o ascensor nos leva ao promontório da lenda em que o cavalo de D. Fuas Roupinho, por milagre, fincou com as patas suspensas no Bico do

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Milagre, salvando-o de cair no precipício. É todo um património histórico e cultural que está presente no mar, na areia, nas rochas, nas memórias de muitos, nos museus, nos trajos e até nos sítios que não foram desvirtualizados em nome do comércio e do desenvolvimento. A Nazaré ainda é uma das praias mais típicas do País, dizem muitos dos turistas que por ali passam, agora à procura da onda gigante da Praia do Norte, 'surfada' por Garrett McNamara. A Praia do Norte mantém-se bela e rodeada de dunas e pinhais, protegida a sul pelo promontório. Mas já não é “desconhecida”, termo ainda usado no site da câmara para a descrever. Esconde na mesma uma pequena gruta natural, o Forno d´Orca, é um espaço preservado e ecológico, mas agora, em vez de ser um santuário de aventura solitária é mais um sítio para a onda do surf.

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Entre a onda de McNamara, o surfista que até já abriu loja na Nazaré, e a pesca artesanal da Arte Xávega, os turistas vão-se dividindo, principalmente os que procuram a praia por motivos diferentes que não sejam as férias per si.

De qualquer forma, o surf é um desporto que está lá o ano todo, sendo mais um ponto de atracção de uma praia que se quer continuar a desenvolver-se do ponto turístico. Os pescadores só têm o Verão para mostrar o que valem porque já lá vai o tempo em que valia a pena correr riscos. Mesmo assim, o vira da Nazaré testemunha bem o choro das mulheres que ficavam em terra a administrar toda a vida familiar: "Não vás ao mar Tónho/Podes morrer Tónho/ Tá lá um bicho Tónho/ Pra te comer.” Vale a pena recordar que as primeiras referências à pesca na Nazaré são de 1643, embora só no início de oitocentos a população tenha começado a fixar-se no areal. As actuais casas eram, na época, ocupadas por dunas. Os pescadores locais habitavam nas partes altas, no Sítio e na Pederneira, devido aos constantes ataques dos piratas argelinos e holandeses que tornavam o areal pouco seguro. Só no século XIX, após as invasões francesas, se reuniram condições de segurança para a fixação dos pescadores junto à praia. Dona de uma impressionante paisagem natural, associada ao exotismo da comunidade piscatória e à beleza da

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Sete saias: do mar ao carnaval Quando se fala da Nazaré, as sete saias imediatamente vêm à baila como se mais nada existisse para além deste trajo de festa que faz parte da tradição de uma terra intimamente ligada ao mar. O povo diz que representam o número sete, sejam virtudes, ondas do mar, outras atribuições bíblicas, míticas e mágicas. Não sendo de fácil explicação, a sua origem está ligada às longas vigílias que as mulheres faziam enquanto maridos e filhos se encontravam na pesca. É trajo do típico carnaval, das tradicionais passagens de ano e de outros eventos que envolvem “fato de gala”, ou não esteja também ele ligado à beleza, uma reminiscência das vestes femininas de setecentos, usadas pelas damas da corte. Tema de vários estudos, com reprodução em livros, o trajo nazareno feminino é há muitos anos também retratado em miniaturas à venda nas lojas de artesanato na Nazaré e em todo o País. Sete saias? Cada mulher usa o número que lhe aprouver de acordo com a sua silhueta! 

praia, Nazaré reúne os elementos que a identificam como estância turística, com um crescimento notável a partir de finais de século XIX. Hoje tudo está diferente. Com a construção do Porto de Pesca e Recreio em 1982, a vida dos pescadores melhorou mas perdeu-se muito do colorido de uma praia que ainda mantém, apesar de tudo, os grandes estendais de carapau seco e gargalhar do mulherio.

1. A mulher nazarena e o carapau seco 2. O pescador depois da fauna já com as cordas arrumadas 3. A praia do Norte vista a partir do Farol do Sítio da Nazaré 3. As Sete Saias

Lugar de peregrinações Local de grandes peregrinações ao Santuário da Nossa Senhora da Nazaré, o Sítio foi durante séculos o templo de maior culto mariano em Portugal, tendo um importante papel no desenvolvimento da praia. Na origem do seu povoamento estão as condições naturais e o sentimento religioso, advindo do milagre de Nossa Senhora. Devido ao difícil acesso, a instalação do elevador mecânico, para ligação à praia, em 1889, deu um grande incremento populacional ao lugar. Ali, o Miradouro do Suberco é uma janela aberta para um dos mais belos panoramas marítimos de Portugal, enquanto o longo promontório que guarda e protege a

praia tem no seu extremo o Forte de S. Miguel Arcanjo. É o mirante privilegiado sobre o mar. E porque se fala de património, a Pederneira será um dos lugares mais históricos do concelho ou não tenha sido o lugar da sua primeira sede. A antiga Casa da Câmara, exemplo de arquitectura civil, decorada com elementos seiscentistas, funcionou como edifício dos Paços de Concelho até 1855. Desde então, teve diversas utilizações: açougue, cadeia, tribunal e edifício da instrução primária. Hoje, é espaço polivalente para actividades culturais e recreativas.  28 de Agosto de 2014 Distrito de Leiria 41

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Óbidos

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Turismo das emoções dá vida ao património

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maioria dos castelos de Portugal, independentemente das funções militares que tiveram, tem histórias de amor para contar. O de Óbidos não é excepção, tendo até particularidades que o tornam único nesta rota de monumentos medievais. Está inserido na chamada vila de rainhas ou não tenha sido oferecido por D. Dinis à “sua” Rainha Santa Isabel como dote de núpcias. Mas, o rol de amores não terminou, qual efeito de contágio que levou a uma longa lista de dotes às rainhas que se seguiram, símbolo dos amores de seus leais esposos reais. D. Leonor, esposa de D. João II, que ali residiu, foi, contudo, a que mais se destacou

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neste desfile de soberanas. É conhecida a sua generosidade com o povo e com doentes, pelo que não surpreendeu quando mandou construir, a cinco quilómetros da sua residência, o hospital termal Rainha D. Leonor. À volta do sítio onde criou as famosas termas nasceria a cidade e o concelho de Caldas da Rainha. Nada disto seria nota de registo se hoje Óbidos não fosse também um território que se destacasse na região Oeste e no próprio distrito. Após o conceito de vila criativa, que deu lugar a estruturas inovadoras na área da educação e da economia, surge agora a revitalizado do património histórico, construído ou imaterial. Veja-se os grandes eventos que têm como pano de fundo o pa-

trimónio histórico, não como cenário, mas numa relação de complementaridade tal, que um mercado medieval em Óbidos chega quase a confundir-se com a realidade. Embora se realize dentro de muralhas, deixou se ser um evento da vila para ser das pessoas de todos os lugares de Óbidos. O mesmo acontece com o Festival de Chocolate, a Ópera no Castelo, ou com o mais recente mercado biológico, Vila Literária ou Espaço Ó. “O património leva-nos a todo o lado” e Humberto Marques, que fala sempre num contexto de economia global quando se trata de heranças do passado, diz mesmo que só resiste quem conseguir perceber “quem somos do ponto de vista do património. Refere-se ao edificado ou ao

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1. Igreja de São Tiago transformada numa grande livraria 2. Uma das ruas típicas da Vila de Óbidos

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FOTOS: RICARDO GRAÇA

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2 natural, mas mais importante que isso são as pessoas, que “nos podem exponenciar para uma certa contemporaneidade”. A estratégia de Óbidos passa hoje pela aposta no turismo das experiências, dos sentidos, das emoções e das descobertas, considerando-se que “o turismo da excursão ou das agências tanto se pode ter aqui como em qualquer outra parte do mundo”, ao contrário do turismo em que as pessoas procuram conhecer a nossa identidade”.

Encontro com o passado para saber quem somos Óbidos tentou “fazer um encontro com o passado, saber quem foi, quem é e o que tem de diferente para poder oferecer”. E nesse sentido, há muito para mostrar com pequenos modelos que fazem a diferença. O Espaço Ó, por exemplo, reflecte essa estratégia. Numa lógica de funcionamento colaborativa, junta experiências e acrescenta valor aos produtos endógenos, respirando a identidade de saberes ancestrais. Tem uma sala de cowork, oficinas para artesãos e designerse uma loja de venda dos seus produtos. Neste contexto de transformar sabe-

res ancestrais em produtos inovadores, Óbidos está de facto muito à frente. Imagine-se um bolo de ferradura, também chamado bolo das noivas. Em muitas zonas da região é o bolo que tradicionalmente as noivas oferecem aos convidados no dia do casamento, mas fica por aí. Em Óbidos, o bolo chamase Capinha de Óbidos, tem uma história, uma embalagem original e um sucesso brutal. Anabela Capinha é a pessoa que tem “o segredo da família bem guardado desde 1883”. E é isto que faz o sucesso de Óbidos e do seu património. A inovação e a criatividade. Porque o património histórico em Óbidos, construído ou imaterial, não fica ao abandono, cinzento e entre muros, como se de simples “pedra” ou lendas se tratasse. Dá-se-lhe vida, pois é a vida que as pessoas procuram quando visitam territórios. Daí que a Vila Literária não seja também um nome pomposo que um dia alguém sonhou. Partiu da instalação de uma grande livraria num templo, a Igreja de S. Tiago, mandada construir por D. Sancho I à entrada do castelo. Ali se lê, toma-se chá ou café ou se assiste a um filme ou a uma conferência. E en- >>> 28 de Agosto de 2014 Distrito de Leiria 43

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FOTOS: CÂMARA MUNICIPAL DE ÓBIDOS

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contram-se livros que estão indisponíveis na maioria das livrarias.

Há mais Óbidos para lá das muralhas Claro que há mais Óbidos para lá do castelo e das muralhas. Olhos de Água é uma praia paradisíaca, a paisagem natural é de uma beleza inigualável… mas também o mar serve de inspiração a experiências e à revitalização de património. Com Peniche ali tão perto, Óbidos aproveitou a oportunidade para dar nova vida aos seus carpinteiros desempregados que passaram da construção civil para criar pranchas de surf de madeira. Um promotor aceitou o desafio e hoje não tem mãos a medir, associando “memórias, criatividade, requinte e sustentabilidade”, numa ligação com a “diferenciação, crescimento económico e, em ligação com outros territórios”, conta Humberto Carvalho. Por todo o território há património construído que Óbidos pretende revitalizar, entre igrejas e ermidas, a maioria mandada construir pelas rainhas que habitaram o castelo, tal como o viaduto que D. Catarina de Áustria, mulher de D. João III, pagou em troca da várzea, que passou a ser conhecida como a Várzea da Rainha.  44 Distrito de Leiria 28 de Agosto de 2014

1. Capinha de Óbidos, o bolo da noiva que se transformou num sucesso 2. Mercado biológico 3. Lagoa de Óbidos 4. A Ginjinha de Óbidos

Gastronomia abre novo caminho à Ginja de Óbidos A ginja já não é apenas a Ginjinha de Óbidos. É uma marca do concelho, inserida na região demarcada da Ginja de Óbidos e Alcobaça”, com registo de Indicação Geográfica Protegida (IGP). A sua história está associada aos romanos, que a ingeriam para agilizar o processo de digestão e voltar a comer rapidamente, devido às suas características de regeneração das células. Recentemente, a Escola Superior de Biotecnologia (ESB) da Universidade Católica Porto desenvolveu uma investigação sobre essa e outras características da ginja, desenvolvendo fórmulas “de doces de ginja e duas de bolacha, ginja cristalizada e gomas de ginja”, prontas para lançamento no mercado. O projecto deu origem, ainda, a uma linha de produtos funcionais à base de Ginja de Óbidos, com propriedades funcionais e nutricionais também validadas, o mesmo acontecendo com os pedúnculos da ginja, que têm “grande potencial sensorial e

elevadas propriedades antioxidantes”. Os resultados do projecto, segundo os investigadores, revelam “um importante papel na valorização económica” de Óbidos, possuindo um forte impacto na diversificação e aumento das linhas de produtos e tecnologias da Frutóbidos, promotor do projecto”. 

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Pedrógao Grande

Diálogo harmonioso entre a paisagem e a história

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ma parede de escalada é um equipamento vulgar nos dias de hoje. Coloca-se em qualquer sítio, bastando para isso que haja vontade e talento para este desporto radical. O que nem todos se podem gabar é de ter estes equipamentos incrustados na própria natureza com uma paisagem deslumbrante e de tirar o fôlego a quem se arrisca a chegar ao cimo do percurso. Pode parecer estranho num trabalho sobre património começar um texto sobre desporto mas, neste caso particular, esta actividade está intrinsecamente ligada a um dos mais ricos patrimónios naturais de Pedrógão Grande, cujas características se adequam a vários tipos de actividades ligadas à natureza.

Não foi, pois, por acaso que o concelho “decidiu” colocar a tal parede bem na encosta da Cotovia, ao lado do viaduto e do miradouro do Cabril. Dali, além das imponentes Albufeiras do Cabril e da Bouça, vislumbra-se a lindíssima Ponte Filipina, classificada de Monumento Nacional, e que teve um grande papel até 1954, ano de inauguração da Barragem do Cabril. Foi o único elo de ligação com a povoação vizinha de Pedrógão Pequeno e consequentemente com o distrito de Castelo Branco. Localizado no extremo noroeste do distrito de Leiria, quase no centro geográfico de Portugal, Pedrógão Grande é um concelho com paisagens dinâmicas e de características distintas onde se mistura

uma vasta região de granitos e xistos incrustada nas bacias dos rios Zêzere e Unhais com as ribeiras de Pera e Mega, aumentada pelas duas albufeiras. Tal como os seus vizinhos, está inserida na maior mancha florestal da Península Ibérica, onde predominam os pinheiros, eucaliptos, acácias e oliveiras, que assumem ainda grande importância na economia local. Preservar o passado com os olhos no futuro tem sido o lema desta terra de lendas e de fadas de trabalho e de paz. Foi com base neste princípio que o município restaurou todo o centro histórico, preservando monumentos como Igreja da Misericórdia, o Púlpito da Igreja Matriz e Sacristia e a sua Torre Sineira, o Re- >>> 28 de Agosto de 2014 Distrito de Leiria 45

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FNAC apoia diversidade cultural e novos talentos A promoção da diversidade cultural tem inspirado a FNAC no seu apoio à criação artística, organizando diariamente eventos de livre acesso nos Fóruns FNAC. Exposições fotográficas, lançamentos e apresentações de livros, actuações de música ao vivo, ciclos de filmes, formações e demonstrações de novas tecnologias, conversas literárias, colóquios e debates sobre temas da vida social, económica e cultural e animações infantis de índole pedagógica são alguns dos eventos que marcam o dia-a-dia. Das tendências clássicas às vanguardistas, dos autores consagrados aos novos talentos, cada Fórum FNAC é um ponto de referência cultural no contexto social onde se

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insere. Em Leiria, privilegia e dá visibilidade a músicos e autores locais. Uma grande percentagem das actividades realizadas no âmbito infantil são dinamizadas por artistas e associações leirienses: SAMP (Sociedade Artística Musical dos Pousos); Comboio de Fantasias, Carlos Alberto Silva, Oficina dos Sonhos e Teatro Libélula. O projecto Novos Talentos evidencia o destaque que a FNAC dedica a artistas nacionais promissores nas áreas da literatura, da música e da fotografia. Artistas ainda desconhecidos que se distinguem pela qualidade e inovação do seu trabalho, à margem das correntes, desprendidos de estilos e modas. À semelhança do que aconteceu em anos anteriores, integram a compilação Novos Talentos FNAC 2014 de Música três bandas de Leiria: Les Crazy Coconuts, Backwater and the Screaming Fantasy e Bússola. A Maratona Fotográfica é outro dos muitos eventos promovidos pela FNAC, neste caso regionalmente. Este ano, a quarta edição terá lugar em Leiria, no dia 13 de Setembro. Os trabalhos vencedores serão expostos para apreciação do público em geral.

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tábulo da Matriz de João de Ruão e a reconstrução e ampliação do Convento de Nossa Senhora da Luz. Actualmente, Pedrógão Grande continua a desenvolver-se e a crescer em torno do seu centro, pelo que a par da preservação dos becos e ruelas características do período medieval, redefiniu zonas de convívio e lazer como o Largo da Devesa e o Parque Municipal de Campismo do Vale de Góis, local paradisíaco à beira da sua albufeira. À volta da vila, na povoação de Mosteiro, a Ribeira de Pera é uma das praias rurais mais bem enquadradas na paisagem. Além da boa qualidade da água, também aqui existem infraestruturas ligadas à história e ao património cultural do concelho. É um lagar de azeite recuperado, respeitando a sua traça, que serve de apoio de praia, com bar e restaurante. O moinho de rodízio, recuperado no âmbito do Projecto de Promoção e Requalificação dos Ecossistemas Ribeirinhos de Pedrógão Grande, recupera o peso que a indústria de moagem teve no concelho. Um facto que é também confirmado pela presença de pelo menos um moinho de 500 em 500 metros, ao longo de toda a ribeira.

Povoamento antes de Cristo Resultado de investigações arqueológicas feitas ao longo dos anos, o povoamento da região ter-se-á processado no segundo milénio a.C. quando as primeiras comunidades humanas se estabeleceram na confluência da Ribeira de Pera com o Zêzere, nos esporões do Penedo do Granada e de Nossa Senhora dos Milagres, ancestralmente conhecido por Castelo Velho.

Pedrógão quer recuperar Albufeira do Cabril à EDP Faz agora 60 anos em que o Homem deteve as águas do Zêzere, inaugurando um diálogo harmonioso com a natureza. Nesse ano, os cerca de cinco mil homens que estiveram envolvidos na construção da Barragem do Cabril e a população do concelho pensaram que aquela grandiosa obra seria uma mais-valia para o desenvolvimento socioeconómico de toda região. Mas tudo mudou. As casas que acolheram os trabalhadores do lado de lá da Ponte Filipina estão a ser vendidas pela EDP, o comércio fechou e a Albufeira está muitas vezes abaixo do nível desejado para ser aproveitada para o turismo. A câmara, que era detentora do património, recebe da EDP 60 mil euros por ano. Mas tudo pode mudar poisValdemar Alves já disse

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à Fundação EDP quer voltar a ter o que é “seu” por direito. Quer barcos no rio Zêzere, recuperando a rota que em tempos foi percorrida por frotas de transporte de madeira. Quer intensificar a pesca desportiva de barco, para ter para o ano o campeonato mundial. Quer devolver aquele património ao povo como é de plena justiça. E não quer ser prejudicado por Castelo do Bode. “Soube aproveitar as po-

tencialidades turísticas, ao contrário de nós, mas que não o façam à nossa custa, baixando o nosso caudal para aumentar o deles e os seus barcos atracar”. Para já, o aniversário terá um programa cultural e turístico que está ser preparado pela câmara e EDP, duas entidades que se vão sentar à mesa e decidir os destinos de um dos maiores potenciais daquela região. 

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1. Barragem do Cabril onde trabalharam cerca de 5 mil homens 2. Igreja Matriz 3. Centro histórico da vila

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Património submerso Com a construção das barragem do Cabril e da Bouçã, várias foram as aldeias e, consequentemente, o património que ficaram submersos nas águas do Zêzere. Pedrógão Grande é território percorrido pelos romanos, como prova a Estação Arqueológica Calvário/Devesa datada do século II d.C. a Estação Arqueológica Calvário/Devesa, assim como a assim como a unidade industrial de fabrico de materiais de construção (telhas) no Cabeço da Cotovia. E a Ponte Romana do Cabril, que está actualmente submersa pelas águas da Albufeira da Barragem da Bouçã. No Cabril, está enterrada nas águas a aldeia da Racha, vizinha da Venda da Gaita.  28 de Agosto de 2014 Distrito de Leiria 47

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Peniche

Capital da Onda, mar, património… e Jurássico 1

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um momento em que se fala tanto na importância do mar como património histórico e como recurso natural fundamental para uma estratégia concertada de desenvolvimento do País, Peniche parece estar no bom caminho. A marca Capital da Onda é assumida, indiscutivelmente, em todo o mundo. Acontece desde 2009, quando Peniche recebeu a 9ª etapa do Campeonato do Mundo de Surf – Rip Curl Pro Search. Desde aí, Peniche nunca mais parou, entrando na rota dos principais destinos do surf, ajudando a afirmar a região do ponto de vista turístico. E nem a onda gigante da Nazaré destroçou aquela península que se “está na moda” não é por acaso. Devese ao poder das suas ondas, à estratégia de marketing que aposta em valorizar esse recurso até às últimas consequências e também às infraestruturas que foram criadas em torno de um produto que leva milhares ao concelho, como novos bares e restaurantes, turismo de habitação, hotéis, lojas de desporto, centro de alto rendimento de surf, entre muitos outros. Mas Peniche é também é terra de pes-

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cadores, profissão que tem vindo a perder força. No passado existiram ali mais de 80 embarcações da pesca do cerco e seis empresas conserveiras em plena laboração. Hoje, serão pouco mais de meia dúzia de embarcações. Falésias da península contam história Jurássica Num concelho onde também a energia das ondas é recuperada, não falta o património natural, cultural e histórico que é bastante rico e diversificado. Aliás, um dos principais activos patrimoniais concelhios é sem dúvida a sua herança geomorfológica e geológica, de onde se destacam a brecha vulcânica da Papoa, os afloramentos calcários do Baleal, as falésias da Consolação e os afloramentos graníticos da Berlenga. Também o planalto das Ceasaredas e, em geral, as falésias da península de Peniche contam uma história impressa nas rochas que remonta aos primórdios do Jurássico inferior de Portugal e à “vida” mais recente do planeta Azul. Ao longo da costa, a paisagem é de elevada singularidade, destacando-se as Falésias do Cabo Carvoeiro e o Tômbolo de Pe-

Amigos de Peniche são… os ingleses Todos conhecem a expressão “amigos de Peniche” associada a falsos amigos. Ao contrário do que se possa pensar, a frase que se atribui ao povo de Peniche não lhes pertence. Teve origem no século XVI por altura da crise de sucessão de 1580 quando Filipe II de Espanha obteve a coroa em detrimento de D. António. Em Maio de 1589, cerca de 6500 soldados ingleses desembarcaram na praia da Consolação, em Peniche, fazendo parte de uma expedição militar de 20 mil homens, para ajudarem a recolocar D. António no trono de Portugal, respeitando a Aliança Luso-Inglesa e impedindo os espanhóis de reconstituir o poderio naval após a derrota da Invencível Armada. Claro que os ingleses, no meio de muitas “peripécias”, em vez se ajudar… foram embora menos de um mês após o desembarque! E Filipe II ficou no trono! E eis uma grande parte da verdadeira história dos “amigos de Peniche” que traíram não só Peniche mas…o País! 

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1. Surf é uma das marcas de Peniche, que se assume como a Capital da Onda 2. A pesca em Peniche é uma das mais antigas profissões 3. Forte de Peniche, um dos mais antigos patrimónios do concelho que chegou a receber presos políticos no Estado Novo 4. Procissão de Nossa Senhora da Boa Viagem, uma das celebrações mais populares

niche. As Falésias do Cabo Carvoeiro apresentam também uma sucessão de calcários e rochas datadas do Jurássico inferior. É a partir dos finais do século XIX que se registam os primeiros estudos efectuados nestas falésias. Desde então que estes locais têm constituído verdadeiros laboratórios naturais, sendo “palco” de uma intensa e inesgotável actividade científica. O elevado interesse social que este local suscita o Ministério da Ciência e Tecnologia a patrocinar o programa “Geologia no Verão”, que desenvolve diversas iniciativas em termos geológicos e de História Natural. Ao longo das falésias existem outros locais de especial interesse como a Gruta da Furninha, o Portinho da Areia, a Praínha do Abalo, Miradouro de Frei, a Cruz dos Remédios, Nau dos Corvos e outros. Religiosidade retrata naufrágios Peniche ostenta igualmente um vasto e rico património cultural, destacando-se a monumentalidade dos seus imóveis históricos. Tratando de uma vila piscatória com uma costa onde aconteceram vários naufrágios e acidentes marítimos, toda a vivência do povo foi marcada por uma grande religio-

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sidade, hoje visível nos cultos e nas festas religiosas associadas ao mar e templos em honra dos santos a quem prestavam homenagem. Nossa Senhora da Ajuda, Nossa Senhora da Boa Viagem e Nossa Senhora dos Remédios são apenas alguns nomes de templos que assinam o fantástico roteiro religioso de Peniche. Entre o seu património histórico, uma nota para a fortaleza de Peniche mandada construir por D. João III, em 1557 e concluída em 1645 por D. João IV. Foi a principal chave do Reino pela parte do mar, destacando-se típica traça em estrela, o Baluarte Redondo - primeira fortificação construída na península de Peniche - a Torre de Vigia, e a capela de Santa Bárbara. Um imóvel de vital importância estratégica até 1897, abrigo de refugiados Boers provenientes da África do Sul no início do séc. XX, residência de prisioneiros alemães e austríacos na Primeira Guerra Mundial, prisão política do Estado Novo entre 1934 e 1974, alojamento provisório de famílias portuguesas chegadas das antigas colónias ultramarinas em 1974. A partir de 1984 é Museu Municipal. I 28 de Agosto de 2014 Distrito de Leiria 49

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Heranças: entre o convento e o Marquês

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homem que há cerca de três séculos resgatou Portugal de uma das maiores crises de sempre dá nome ao maior património histórico e construído de Pombal, traduzido num conjunto de equipamentos culturais localizado no centro histórico da cidade. Sebastião José de Carvalho e Melo, nomeado Marquês de Pombal, é a personalidade de que se fala e a quem se deve parte da matriz identitária de um território que encontra nas suas memórias pretexto para crescer e até desenvolver muitos dos programas ligados à arte e à cultura. Ligado a Pombal por via do tio arcipreste Paulo de Carvalho e Ataíde, de 50 Distrito de Leiria 28 de Agosto de 2014

quem herdara a Quinta da Gramela, desenvolveu a agricultura, mas especialmente a indústria. Trouxe à comarca um grande crescimento económico no século XVIII, especialmente com a primeira fábrica de chapéus do reino de Portugal. No cenário de crise económica e financeira, o governo de D. José fomentou o mercantilismo, criando em 1759, a Real Fábrica de Chapéus de Pombal, na Quinta da Gramela. Deu resposta às carências do mercado, contribuindo para o arranque de outras fábricas no País. Dando especial atenção às políticas educativas, Marquês de Pombal associou à fábrica a escola profissional, qualificando operários especializados em chapéus finos, que

se estabeleceram com indústrias próprias em vários pontos do País. A Praça com o seu nome é exemplo da política de desenvolvimento implantada por Marquês de Pombal, mantendo alguns dos principais equipamentos culturais da cidade. Enquanto a Cadeia Velha foi transformada em Museu Municipal, com um importante espólio do reformista, o edifício do Celeiro do Marquês é hoje a estrutura principal de um conjunto de edifícios históricos do moderno Centro Cultural. Ali funciona o Museu de Arte Popular Portuguesa, enquanto na antiga Capela da Misericórdia funciona o Centro de Divulgação das Tecnologias de Informação. A antiga Casa do Despacho

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foi projectada com traços contemporâneos para a Loja Ponto Já de Pombal. O exílio compulsivo Após a morte do rei, Marquês de Pombal foi exilado em Pombal, na casa que pertencera ao Palácio do Conde de Castelo Melhor e onde faleceu em 1782. A Igreja do Convento do Cardal recebeu os seus restos mortais até 1856, data da transladação para a Igreja das Mercês em Lisboa. Sebastião José de Carvalho e Melo viria a ser condenado ao exílio pelo atentado aos Távoras e pela expulsão dos jesuítas, suspeitos de terem atentado contra a vida do Rei D. José. Uma vida de glória que acabou em controvérsia, mas cuja genialidade no levantamento do País, especialmente após o terramoto de 1755, não é posta em causa em terras pombalinas. Mas Pombal não pertence só ao Marquês. Há outro património igualmente importante, como o castelo construído em 1171 por Gualdim Pais, mestre da Ordem dos Templários, que tem sido alvo de sucessivos restauros ao longo dos anos. É, contudo, monumento vivo e com um intenso programa cultural, fazendo parte de uma >>>

1. Praça Marquês de Pombal, onde se encontra a Igreja Matriz de São Martinho 2. Convento do Cardal 3. Museu de Pombal 4. Castelo de Pombal

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1. Aqueduto do Convento do Louriçal 2. Praia da Leirosa

1 rota que integra todo o centro histórico. O presidente da câmara, Diogo Mateus pretende até repetir uma das iniciativas que este ano teve grande sucesso, levou muitas pessoas ruas da cidade, traduzida na corrida dos Gambozinos. Foi uma acção que uniu o desporto a alguns do edifícios mais emblemáticos de Pombal. É seu desejo que as pessoas se habituem a percorrer a cidade, a conhecer o seu património e a respeitá-lo. “Os participantes fizeram as suas provas, ao mesmo tempo que passaram pelo interior de edifícios históricos e outros dando-lhes vida e, em muitos casos, conhecendoos pela primeira vez”. Aconteceu com o castelo e com a estação do caminho-deferro, construída em 22 de Maio de 1864, que teve grande importância no desenvolvimento do concelho. Nas últimas décadas, foi local de paragem de turistas e porta de saída de emigrantes, que regressavam no Verão para as suas férias. Muitos vinham também para as tradicionais Festas do Bodo . Do Louriçal aos touros em Abiul Ao longo de todo o concelho encontrase um rico e importante património histórico e cultural. No Louriçal, que nos rePUBLICIDADE

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mete para o início da nacionalidade, no século XII, o convento do Desagravo do Santíssimo Sacramento, fundado no século XVII, acolhe ainda hoje as irmãs clarissas em clausura, sendo famosos os seus doces conventuais. O restaurado Aqueduto das Águas, uma obra ímpar do século XVIII, mandado construir por D. João V para abastecer o convento, está prestes a ser cenário de um espaço de cultura ao ar livre. A câmara vai adquirir os terrenos contíguos até à mina, para tornar aquele espaço aprazível e de fácil contemplação. À sua volta, a Igreja Matriz de São Tiago (igreja do Recolhimento), assim como a Capela da Misericórdia do Louriçal, do século XVII, são outros monumentos de registo. Em Abiul, uma nota para a Praça de Touros, uma das mais bonitas do País, assim como para o Arco Manuelino ou mesmo o Nicho Seiscentista, construído no século XVI. O Palanque dos Duques de

2 Aveiro, do século XVI era o sítio onde a nobreza assistia às touradas. Redinha é também terra com história, habitada desde a romanização, com o primeiro foral em 1159 dado pela Ordem do Templo. No século XIV passou para a Ordem de Cristo, iniciando um período de prosperidade que terminou com as invasões francesas. Procurada para desportos de natureza, destaca-se neste território a capela de Nossa Senhora da Estrela, localizada a 350 metros de altitude. Monumentos, natureza e… a praia do Osso da Baleia, única do concelho. Uma das mais “selvagens” do distrito, se tal significar a existência de dunas de grande dimensão e sem vestígios de acção humana. A Este encontra-se a Mata Nacional do Urso, plantada nos séculos XV e XVI, com o intuito de segurar as dunas e de fornecer madeira para a construção de barcos e caravelas. 

Cátedra promove investigação sobre Século das Luzes A obra e vida de Marquês de Pombal poderão vir a ser aprofundadas na Cátedra de Pombal – Estudos do Século das Luzes, promovida pela CLEPUL – Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na qual a câmara de Pombal foi convidada a participar. A ideia é promover a investigação interdisciplinar e outras iniciativas pedagógicas e culturais sobre os diversos temas

ligados ao Marquês de Pombal e ao Século das Luzes em Portugal. Por outro lado, está em vias de ser promovida também uma obra pombalina de grande “alcance histórico”, coordenada por José Eduardo Franco, que se traduzirá em 32 volumes a publicar em cinco anos. Este projecto, que está já a ser esboçado, “dependerá de um conjunto de mecenas, dos quais o município de Pombal também fará parte”, conta Diogo Mateus. 

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Porto de Mós

Um palácio de encantar entre verde e pedra

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uando se olha o castelo de Porto de Mós quase se é transportado para um imaginário de príncipes e de princesas, qual bela adormecida e o seu príncipe encantado. A sua arquitectura, que faz lembrar os palácios das histórias de encantar, nasceu das mãos de um conde cosmopolita que, no século XV, era muito viajado pela Europa e trouxe de lá as “modas” para aquele canto de Portugal. O homem de que se fala é D. Afonso de Portugal, o 4º Conde de Ourém, neto primogénito de D. Nunes Álvares Cabral, o mítico Condestável que lutou e venceu a Batalha de Aljubarrota. Porto de Mós é um dos concelhos mais ricos do ponto de vista do património histórico. Foi uma das mais antigas vilas inte-

gradas na zona de influência de Leiria no tempo da reconquista cristã. Sem a sua fortaleza seria mais difícil defender os territórios a Sul, após a tomada de Leiria, em 1135, por D. Afonso Henriques. Foi estratégica a parceria com Pombal e Ourém para esta vitória. Hoje, Porto de Mós quer levar ao mundo os seus monumentos naturais como a Fórnea, os fósseis de amonite e as rosas albardeiras. E a única ponte celta da região, associada ao Canhão do Catadouro ou mesmo as casas típicas recuperadas, bem no centro de Alcaria e de Alvados. Predende-se que o concelho seja tão movimentado como no tempo da Estrada Romana de Alqueidão da Serra, que sinaliza a presença de diferentes civilizações. E como a natureza quis que o sub-solo

das magníficas Serras de Aire e Candeeiros fosse dotado com pequenos ou grandes algares, Porto de Mós é um dos territórios mais ricos nesse tipo de fenómeno natural. Além de Alvados e Santo António, as Grutas de Mira de Aire são as mais conhecidas, localizadas na freguesia mais histórica do concelho. Foi no passado um grande centro da indústria têxtil, reservando ainda algumas empresas que hoje fazem sucesso além-fronteiras. E porque se fala de património industrial, as Minas de Carvão da Bezerra, exploradas pela Empresa Mineira do Lena entre 1740 a meados do século XX, são representativas da identidade de um povo que ainda hoje recorda a sua importância. É histórica a sua linha férrea, por onde circulava o comboio que transportava o carvão >>>

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Arco da Memória que delimita os territórios de Porto de Mós e Alcobaça Calçada Portuguesa, divulgada pelo mundo inteiro

“pela encosta da Pevide, até o ir encher às minas da Bezerra, escondidas por entre as serranias do Serro Ventoso” - Francisco Serra Frazão em Porto de Mós – Breve monografia, de 1937. Recentemente foi transformada em Ecopista para passeios de bicicleta ou a pé, movimentando durante o ano centenas de pessoas. Reconhecida pela importância na economia da região, esta empresa foi responsável pelo desenvolvimento da electrificação de Porto de Mós, onde existe o edifício PUBLICIDADE

da Central Termoeléctrica (hoje em vias de ser restaurado) a testemunhar aquele dia de 1930 em que a população deixou as velas e outra iluminação artesanal. Gastronomia e artesanato são outros marcos da memória colectiva de um povo que tradicionalmente se alimentava do cabrito e da morcela e que se ocupava com os seus teares, dando origem às mantas e tapetes. As novas tecedeiras dão corpo a produtos inovadores, enquanto a cerâmica artesanal, em pequenas oficinas espa-

lhadas pela serra, em aldeias como Alcaria, e Alvados, alia saberes ancestrais ao que há de mais contemporâneo. O património em Porto Mós é quase tudo! Desde as pedreiras, de onde sai a pedra em bloco para exportação ou a Calçada Portuguesa, hoje divulgada pelo mundo inteiro, às igrejas e ermidas e à cerâmica do Juncal, terra que acolheu a Real Fábrica, fundada em 1770, cujas peças estão dispersas em museus e coleções particulares! 

Camões canta Villa Forte Dizem historiadores, arqueólogos e outros cientistas que poucos registos históricos sobraram dos feitos de Dom Fuas Roupinho, alcaide-mor do castelo de Porto de Mós. Sabe-se que foi um importante nobre Templário e Cavaleiro fiel a D. Afonso Henriques durante as reconquistas, que liderou a primeira batalha entre a Armada Portuguesa e os navios árabes, saindo vitorioso no Cabo Espichel e que, em 1180, ao serviço de D. Afonso Henriques, conseguiu, também reconquistar a fortaleza aos mouros. Poucos conhecem as referências aos seus feitos mencionados por Luís de Camões. Na sua obra maior, os Lusíadas, o poeta refere-se a Porto de Mós, designando-a de Vila Forte, sendo o nome de D. Fuas Coutinho concretizado na estância seguinte:” (…) É, Dom Fuas Roupinho, que na terra/E no mar resplandece juntamente,/Com o fogo que acendeu junto da serra. (…)”. Vila Forte, como passou a ser designado recentemente Porto de Mós, surge assim inspirado na obra de Luís de Camões e no homem que ainda hoje é referência num território esculpido no Maciço Calcário Estremenho. 

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