Do «Método da Razão Vital Felicitária», em Julián Marías, na Aplicação Filosófica da(s) sua(s) Teoria(s) à Compreensão da Vida Humana. Análise de um caso-de-consulta e Referências para a Educação Social

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DO «MÉTODO DA RAZÃO VITAL FELICITÁRIA», EM JULIÁN MARÍAS, NA APLICAÇÃO FILOSÓFICA DA(S) SUA(S) TEORIA(S) À COMPREENSÃO DA VIDA HUMANA. ANÁLISE DE UM CASO-DE-CONSULTA E REFERÊNCIAS PARA A EDUCAÇÃO SOCIAL

JORGE HUMBERTO DIAS Universidade Nova de Lisboa (Portugal) - Gabinete PROJECT@ [email protected] Apresentação 1 Na actualidade, assistimos a um crescimento da filosofia aplicada em vários países do mundo. Por outro lado, verificamos que as diversas profissões tendem a seguir um percurso histórico semelhante. Se analisarmos a principal obra de história da orientação filosófica, elaborada por José Barrientos (2005), percebemos que no início temos a fase da formação profissional e/ou académica. Depois, surgem os primeiros problemas no mercado de trabalho e é aí que aparece a necessidade de uma entidade que apoie e organize actividades várias. Na maioria dos casos, começa por ser o Estado e as suas leis gerais, a dar resposta às dúvidas e apoio diverso, mas, com o aumento do número de casos e de profissionais, torna-se necessário criar uma associação especializada, que se dedique exclusivamente a dar resposta às questões dos profissionais, assim 1 Este artigo foi produzido com base numa conferência em 2011 realizada no âmbito do Seminário de Investigación Luso-Español “Metodologías Aplicadas de Filosofía en Sanidad, Empresa, Recintos Confinados y Educación”, coordenado pelo prof. dr. José Barrientos Rastrojo, na Universidade de Sevilha, no Departamento de Metafísica, Correntes Actuais da Filosofia, Ética e Filosofia Política e financiado pelo Vicerectorado de Relaciones Institucionales y Extensión Universitaria.

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como à promoção da qualidade na profissão e ao trabalho em parceria e em equipas multidisciplinares. Em 1981, quando na Alemanha Gerd Achenbach abriu o primeiro consultório de filosofia, ainda não existia nenhuma instituição que trabalhasse a área da filosofia aplicada. Foi preciso esperar 11 anos, para que fosse criada a primeira associação na área, a saber, Sociedade Internacional para a Filosofia Prática, em 1992. (Barrientos, 2005, 41) A partir desta data, vários consultores filosóficos apareceram, noutros países, a abrir, também, consultórios filosóficos e a criarem associações nacionais, onde começaram a surgir os primeiros cursos de especialização, embora sem validade académica. Depois da associação especializada, o passo seguinte, em outras profissões, foi o da garantia legal relativamente à formação profissional, às condições de trabalho, à prestação de serviços, à sua deontologia, entre outras questões. Assim começaram as reuniões com os governos, no sentido de ser definido o estatuto profissional numa lei com valor jurídico. Foi assim que surgiram as primeiras Ordens Profissionais. No entanto, em Portugal, na área científica da filosofia, não existe ainda nenhuma Ordem Profissional. A maioria dos licenciados em filosofia está vinculada a instituições educativas. Existem várias associações com fins específicos, como por exemplo, para a promoção da fenomenologia, da filosofia medieval, do ensino da filosofia, etc. No domínio da filosofia aplicada, existem 3 associações: a APAEF (Associação Portuguesa de Aconselhamento Ético e Filosófico), a APEFP (Associação Portuguesa de Ética e Filosofia Prática) e a Brincar a Pensar (Associação de Filosofia para Crianças). Em alguns países, já existe ou existiu formação académica, ministrada por professores universitários e por consultores filosóficos: disciplinas de aconselhamento filosófico em licenciaturas da University of the Fraser Valley (Canada), mestrado em orientação racional na Universidade de Sevilha (Espanha), José Barrientos (editor)

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mestrado em prática filosófica e gestão social na Universidade de Barcelona (Espanha), mestrado na Scuola Superiore di Counseling Filosófico em Roma (Itália), etc. Foram também criadas algumas revistas especializadas: «International Journal of Applied Philosophy» (Philosophy Documentation Center – Elliot Cohen EUA); «Journal of Applied Philosophy» (Society for Applied Philosophy/University of Aberdeen – Jon Cameron - Escócia); «Philosophical Practice: Journal of APPA» (American Philosophical Practitioners Association/The City College of New York – Lou Marinoff - EUA); «Haser – Revista Internacional de Filosofia Aplicada» (Universidade de Sevilha – José Barrientos Espanha) 2 . Assim, algumas universidades começaram a receber projectos para teses de doutoramento na área da filosofia aplicada em geral e da consultoria filosófica em específico. Uma das primeiras foi a de Peter Raabe na University of British Columbia (Canada), intitulada “Filosofia como aconselhamento filosófico”. A mais recente, foi a de José Barrientos, na Universidade de Sevilha, onde se demonstrou a existência de elementos conceptuais para a fundamentação de uma filosofia aplicada à pessoa, na obra de Maria Zambrano. 3 Neste momento, existem dois grupos de investigação académica, que tentam aprofundar as principais questões da consultoria filosófica: o grupo «Filosofia aplicada: sujeito, sofrimento e sociedade», na Universidade de Sevilha (Espanha) e o grupo «Ethics for counseling», na Universidade Católica Portuguesa (Portugal). 4 2 O número de artigos científicos sobre a área da consultoria filosófica (alguns autores utilizam nomenclaturas diferentes, como prática filosófica, filosofia aplicada, aconselhamento filosófico, etc.) tem vindo a aumentar, assim como o número de revistas/jornais especializados. 3 Também este artigo foi elaborado no âmbito de um projecto de doutoramento na Universidade Nova de Lisboa (Portugal), sobre a existência de elementos conceptuais e metodológicos para a fundamentação de uma filosofia aplicada à questão da felicidade, na obra do filósofo espanhol Julián Marías. 4 No grupo de investigação «Ethics for Counseling», na Universidade Católica Portuguesa, pretendemos desenvolver uma metodologia científica para a consultoria filosófica. Depois, o objectivo será aplicá-la numa amostra de consultantes. Pretendemos

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O primeiro congresso internacional de prática filosófica realizou-se em 1994 na British Columbia University (EUA), organizado por Ran Lahav e Lou Marinoff. O décimo realizou-se em 2010 na International School of Philosophy (Holanda), organizado por Leon de Haas. Em 2012 será realizado o décimo-primero congresso na Kangwon National University (Coreia do Sul). Se realizarmos uma pesquisa no Google, e em vários idiomas, encontramos um número muito significativo de projectos na área, desde gabinetes/consultórios, a escolas de formação, centros culturais, etc. Todos eles com actividade na área da prática filosófica. 5 Posto isto, permita-se-nos colocar a seguinte questão: o que explica todo este dinamismo profissional e académico? Será que poderemos falar de necessidades filosóficas na vida das pessoas? Se sim, como poderá a Filosofia ajudar uma pessoa (consultante) a satisfazê-las? A época contemporânea é caracterizada por um aumento bastante significativo de liberdade, reflexo de uma globalização cada vez mais presente nos diferentes países do mundo. O desenvolvimento tecnológico também tem contribuído para que as sociedades funcionem melhor. E o seu impacto na vida das pessoas é visível em várias áreas, desde os serviços, a diversidade de oferta, à quantidade disponível, aos aparelhos que realizam as tarefas que outrora eram realizadas por pessoas. No entanto, e ao mesmo tempo, assistimos a um aumento também significativo de suicídios, de consumo de anti-depressivos, de conflitos, de notícias de crise, de psicopatias, etc. saber, em concreto e recorrendo a recursos técnico-científicos, o que acontece numa consulta filosófica, quais as competências utilizadas, as dificuldades encontradas, os problemas abordados e a utilidade para a vida do consultante. E no fim, serão divulgados publicamente os resultados da investigação. De momento, o projecto aguarda avaliação de candidatura à Fundação para a Ciência e Tecnologia (Portugal). 5 Todos estes projectos, quase que nos dispensam da “eterna” tarefa de fundamentar, em meio académico, a prática filosófica. Na actualidade, talvez a exigência seja a da avaliação de resultados. Mais à frente, neste artigo, abordaremos esta questão. José Barrientos (editor)

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Aparentemente, vivemos um paradoxo histórico, que exige da filosofia aplicada (consultoria filosófica) uma investigação compreensiva e uma resposta orientadora para as pessoas em geral. Este artigo é uma partilha do trabalho que já estamos a fazer, desde 1998.

Introdução Este artigo vai começar por abordar o método que o filósofo espanhol, Julián Marías, desenvolveu e aperfeiçoou ao longo da sua imensa obra escrita e falada: 6 o «método da razão vital». Depois, iremos definir a filosofia aplicada à pessoa e explicar o modo como significará uma consultoria filosófica. No essencial, pretendemos apresentar aqui uma resposta para os problemas relacionados com a desorientação vital, que uma pessoa pode sentir em qualquer momento da sua vida. Posteriormente, apresentaremos um caso de consulta, onde utilizámos os instrumentos conceptuais e metodológicos da filosofia aplicada, com base na(s) teoria(s) de Julián Marías e com o objectivo de analisarmos o seu contributo para a ajuda (Marías, 1998) à pessoa em questão. Por fim, terminaremos com uma reflexão sobre a utilidade da consultoria filosófica para a formação de educadores sociais, ao mesmo tempo que exploraremos a hipótese teórica de um trabalho em equipa multidisciplinar.

6 Como se sabe, Julián Marías dedicou toda a sua vida à actividade profissional de escritor. (Carpintero, 2008) Ao dispor dos investigadores interessados no autor, temos dezenas de livros sobre temas muito diversos, artigos em jornais e revistas (quer técnicos, quer de imprensa), entrevistas na rádio e conferências em formato vídeo.

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O «método da razão vital felicitária» em Julián Marías O Filósofo francês, André Comte Sponville continua a investigar a questão da felicidade 7 , como finalidade da vida humana e, nesse sentido, como responsabilidade da filosofia. Em “A mais bela História da Felicidade”, afirma que “pensar melhor ajuda a viver melhor.” (Sponville, 2009, 19) Temos aqui, o ponto de articulação que orienta o nosso artigo e que põe, de um lado, a razão vital como instrumento filosófico fundamental (na consultoria filosófica) – e doutro lado a felicidade da pessoa (do consultante, como finalidade). Em aberto, fica a questão de saber como é esse trabalho pode ser desenvolvido. Assim, neste primeiro capítulo, pretendemos explorar a investigação que realizámos na obra do filósofo espanhol Julián Marías, onde descobrimos que o seu método da razão vital, inspirado na filosofia de Ortega y Gasset, pode ser muito útil na estruturação de uma metodologia de trabalho para a consultoria filosófica. 8 À expressão que dá título da este artigo, acrescentámos o termo «felicitária», porque consideramos ter sido essa a principal inovação de Marías, relativamente ao trabalho desenvolvido anteriormente por Ortega. Além disso, a questão da felicidade é, acima de tudo, a principal finalidade da vida humana e a que Julián Marías dedicou mais de 300 páginas, em 1989. 9 Posto isso, iremos

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Num outro artigo, explorámos a importância que Sponville atribui à questão da felicidade e o papel que a filosofia tem na sua promoção. Cfr. Dias, J. (2008). La Felicidad como Objetivo de la Filosofía Aplicada a la Persona. (pp. 80-110). IN Barrientos, J. & Ordoñez, J. Filosofía Aplicada a la Persona y a Grupos. Sevilla: Doss Ediciones. 8 Noutra obra, explicitámos dois métodos que criámos para fundamentar e, ao mesmo tempo, estruturar o trabalho do consultor filosófico na consulta, tendo para isso indicado algumas das competências essenciais. Cfr. Dias, J. & Barrientos, J. (2010). Idea y Proyecto. La Arquitectura de la Vida. Madrid: Visión Libros. O método PROJECT@ foi construído com base na filosofia de Julián Marías. 9 Pilar Sarmiento, na sua obra Sarmiento, P. (1998). Hombre y Humanismo en Julián Marías. Valhadolid: Editora Provincial. José Barrientos (editor)

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demonstrar, através de um caso-de-consulta, a aplicação desse método e das competências que um consultor filosófico deverá ter. Mas comecemos por uma pergunta: porquê seleccionar a obra de Julián Marías para um artigo sobre consultoria filosófica e com referências à educação social? Em primeiro lugar, porque o autor tem “uma ideia distinta da filosofia”, que explicitaremos mais à frente. (Marías, 1995, p. 21) Em segundo lugar, porque identificou o momento histórico em que os filósofos começaram a dar atenção ao tema da vida humana (com especial destaque para Dilthey 10 ) e levou esse paradigma até às suas últimas consequências, tendo desenhado um sistema original e a que podemos chamar de «filosofia aplicada à vida humana». (Marías, 1986). “Pois bem, Dilthey – e aqui está a sua genialidade – postula, suposto o fracasso da razão pura aplicada à vida e à história, uma nova forma de razão, mais ampla (…); quer dizer, tenta «aplicar» 11 a razão à história”. (Marías, 1986, p. 259) Em terceiro lugar, porque a estruturação desse paradigma, inclui em si, a dimensão social do viver e do fazer humanos. (Marías, 1995) Para Julián Marías, a filosofia é essencialmente um “fazer humano” dramático, transpessoal e biográfico. E por isso, “só podemos entrar na filosofia movidos por uma necessidade inexorável. Há 10

Seria interessante explorar a história da filosofia aplicada à vida, que Julián Marías traçou na sua obra Biografia de la Filosofia, no capítulo «6. A filosofia da vida». Esta história da filosofia aplicada à vida, em articulação com a «metafísica antropológica» (permita-se-me a inversão da ordem) e as várias indicações metodológicas, que ao longo da sua obra podemos encontrar, fazem de Julián Marías uma referência nesta área. Os próximos livros que retomarem essa história, não poderão avançar sem uma análise detalhada do trabalho deste filósofo espanhol. Interessante ainda é reflectir sobre algumas datas. Por exemplo, 1952 – ano em que Julián Marías escreveu o seu artigo “A psiquiatria vista desde a filosofia” e 1981 – ano em que apareceu o primeiro consultório de filosofia. Posto isto, cremos que já não será possível a universidade ficar indiferente à necessidade de formar e certificar, no seu seio, os consultores filosóficos do futuro. Cfr. Yalom, I. (2006). Quando Nietzsche Chorou. Lisboa: Saída de Emergência. 11 O destaque da palavra «aplicar» é dado pelo próprio Julián Marías, o que revela, com bastante evidência, a existência de uma filosofia aplicada à vida como projecto intelectual, pessoal, filosófico e, por fim, académico. Metodologias aplicadas desde a filosofia

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que mostrar, portanto, quando e como surge a necessidade da filosofia”. (Marías, 1995, pp. 22-23) Julián Marías considera que qualquer situação pessoal implica a análise da sua “ideia de mundo”, ou seja, do seu sistema de crenças e ideias, que a sociedade transmitiu, para que seja possível encontrar uma forma de resolver os seus conflitos e problemas. (Marías, 1995, p. 28) Para Marías, o homem contemporâneo “sente-se perdido e sem saber como orientar-se”. A filosofia é assim uma solução para a re-orientação das pessoas, dado que a sua especialidade sempre foi a de procurar e refletir sobre a fundamentação última do mundo em geral. “A filosofia apresentase, pois, como uma pretensa instância superior, à qual tem sentido apelar quando todas as demais revelaram a sua insuficiência.” (Marías, 1995, p. 29) Neste ponto, Marías não pretende dizer que as ciências precisam de filosofia, mas, essencialmente, que as ciências não conseguem dar uma resposta integral, pessoal e concreta para o problema de fundamentação que uma determinada pessoa necessita. Assim, mais do que dizer que a filosofia está na moda, Marías pretende dizer que a pessoa só tem um caminho para satisfazer essa necessidade: filosofar por si mesma. (Marías, 1995, p. 31) Portanto, Julián Marías começa a estruturação do seu sistema filosófico através da descrição (compreensiva) da situação real (vivida) do homem ocidental do século XX 12 , no sentido de analisar os seus ingredientes e a sua função na vida concreta desse homem. O objectivo é encontrar a verdade, assim como os problemas filosóficos contemporâneos, ao mesmo tempo que a metodologia necessária para a sua justificação racional. Com este trabalho, Marías pretende demonstrar a necessidade da filosofia 12

Julián Marías refere-se a uma data mais ou menos precisa: “meados do século XX” (Marías, 1995, p. 15), ou seja, tendo em conta as indicações temporais referidas no seu estudo das gerações (Marías, 1995, pp. 303-304), podemos considerar o seguinte espaço temporal: 1943-1957. “Há, pois, uma data decisiva que define cada geração, que é o centro dela – os seus limites são sete anos antes e sete anos depois”.

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como forma de saber radical e orientadora da vida humana e, também, o perfil autêntico (histórico) dessa filosofia. (Marías, 1995, p. 33) Para Marías, essa situação 13 da vida humana está definida pela inclusão do homem na sociedade e na história. Portanto, para compreender a sua época, “temos que reconstruir as suas formas de vida (…) e os fundamentos em que esse homem apoiava a sua vida.” O objectivo não é apenas enumerar os ingredientes da circunstância 14 , pois isso não seria suficiente para a compreendermos – diz Marías. “O que importa é o quanto e o como, a quantificação e a qualificação desses ingredientes na totalidade primária que é a vida.” (Marías, 1995, p. 37) Segundo Marías, a forma de procurar esse saber radical não é através da leitura dos livros escritos pelos intelectuais de uma determinada época, dado que não existe neles uma referência à vida em si, nem à maioria das pessoas que compõem essa época. (Marías, 1995, p. 39) Aqui temos uma primeira diferença metodológica da filosofia de Julián Marías e que nos permite suportar a ideia de que o autor é uma das principais referências no processo teórico-prático de fundamentação e de estruturação de uma «filosofia aplicada à vida e à pessoa». Portanto, o primeiro dado a trabalhar pelo filósofo, não são os livros, mas a vida, ou seja, aquilo que o homem é e faz. 15 Com essa análise, o filósofo 13

“O termo situação alude a uma realidade muito mais restringida. Só inclui aqueles elementos da circunstância cuja variação define cada fase da história, que nos situam num nível histórico determinado.” (Marías, 1995, p. 44) Por outro lado, como veremos, a definição de circunstância será diferente, porque mais abrangente. 14 “Circunstância é tudo aquilo que está ao meu redor, ou seja, tudo o que encontro ou posso encontrar à minha volta: desde o meu corpo até às nuvens mais distantes, desde as minhas disposições e vivências psíquicas até ao mundo histórico e social que me rodeia, desde o meu passado pessoal até à pré-história, desde as minhas ideias até às culturas todas na sua integralidade.” (Marías, 1995, p. 43) Dada esta definição, Marías refere que uma descrição da sua circunstância seria impossível porque infinita. 15 Sobre esta questão, José Páez, numa colectânea dedicada ao estudo académico da obra de Julián Marías, publicada pela Universidade de Málaga, afirma que “A Filosofia foi para Marías uma teoria da vida humana e jamais um jogo intelectual (…); mais do que ciência, um assunto pessoal”. (Páez, 2007, p. 27) Metodologias aplicadas desde a filosofia

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tem acesso à «ideia de mundo» (Dilthey) do homem contemporâneo, ou seja, ao seu reportório de desejos, crenças, ideias e pretensões. (Marías, 1995, p. 41) Assim, para Marías, a vida é uma “totalidade dinâmica” 16 , em constante movimento interno, devido à sua abertura temporal (ao futuro, sobretudo e à influência da sociedade) e aos projectos que tem de realizar para poder viver. Posto isto, a realidade humana (o encontro do eu com as coisas) é individual, social e histórica. (Marías, 1995, p. 42) Portanto, o que interessa a Julián Marías descrever são os elementos históricos da situação, que condicionam a pessoa e que poderão exigir a busca filosófica. (Marías, 1995, p. 44) Deste modo, Marías refere-se à técnica como um dos principais elementos que influenciaram a situação humana em análise, quer no que diz respeito à sua “extensão a todas as formas de vida”, quer no que diz respeito ao “ritmo acelerado”. (Marías, 1995, p. 47) Com isto, Marías considera que o ser humano começou a ter algumas dificuldades em orientar a sua vida, sobretudo porque “uma vigência ou crença, ao desaparecer, deixam um vazio na vida humana.” (Marías, 1995, p. 48) Marías reconhece que as técnicas são úteis, mas há um desfasamento entre a imensa evolução das «técnicas da natureza», em relação à deficiente qualidade e quantidade das «técnicas humanas». Estas últimas, permitiriam um trabalho bastante profícuo nas áreas sociais, políticas e históricas. (Marías, 1995, p. 50) Por tudo isto, Marías identifica a angústia do ser humano e o seu sentimento de desorientação. No entanto, há um dado positivo: “o aparecimento no homem contemporâneo de uma peculiar «sensibilidade histórica».” (Marías, 1995, p. 52) E para Marías, isso só é possível porque a historicidade é um ingrediente radical da situação humana. Além da técnica, Marías refere a política, a economia e a área social, como outros elementos que influenciaram bastante a 16

“A vida inteira actua em cada um de nós, e esta referência essencial é o sentido mais profundo da palavra sistema.” (Marías, 1995, p. 167) José Barrientos (editor)

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situação humana, sobretudo com o intervencionismo do Estado na vida da sociedade e na privacidade das pessoas, com o crescimento de núcleos urbanos, que potenciaram a produção de bens artificiais e com o aumento da liberdade. (Marías, 1995, pp. 53-67) Neste último caso, Marías considera que o homem, em vez de se sentir mais feliz, sente-se “mais abandonado”, ou seja, carente de instituições capazes de o ajudar a viver com qualidade. Posto isto, Marías refere duas alterações sociais importantes: na família e na posição da mulher 17 . Por exemplo, no caso da família, Marías considera que esta “não cumpre a sua missão imediata, que é a de ser a primeira instância a que apelam os individuos para resolver os seus problemas.” (Marías, 1995, p. 62) A invasão da vida pública no seu interior, como por exemplo, o aumento do número de horas de trabalho e a crise económica, veio diminuir bastante a quantidade de tempo disponível para as relações familiares. Em relação à vida privada 18 , Marías considera que foi o cinema o elemento que mais influência exerceu sobre a situação humana. No entanto, também a música, o teatro e os espectáculos desportivos tiveram o seu lugar de destaque. As referências pessoais mudaram profundamente, pois a ciência, a política e a publicidade já não têm o mesmo prestígio. Assim, apenas são dignos de referência os prestigios pessoais, ou seja, aquelas pessoas que, com o seu trabalho, demonstraram qualidade e valor. (Marías, 1995, pp. 6774)

17 Existem já alguns estudos sobre o conceito de mulher em Julián Marías. Mas o âmbito deste artigo não nos permite desenvolver a questão. No entanto, dada a originalidade do autor neste tópico, não quisemos deixar de sublinhar o seu interesse para a investigação académica. Cfr. Alvaréz, N. (2010). Amistad hombre - mujer: un tema antropológico en Julián Marías. Persona. Revista Iberoamericana de Personalismo Comunitario. Nº 15, año V, Diciembre 2010 - http://www.personalismo.net/persona/sites/default/files/ Figuras2.pdf - Acedido a 12 de Agosto de 2011. 18 Marías inclui no âmbito da vida privada o conceito de diversão: “Di-vertir é separar uma pessoa de algo, principalmente de si mesma.” (Marías, 1995, p. 70) O exemplo dado é o do cinema, em que a pessoa se afasta do seu contexto vital, para fruir, por breves momentos, a história fictícia.

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Quanto à religião, Marías também refere algumas alterações, principalmente, ao nível da ligação ao cristianismo, que diminuiu e fez aparecer outros pressupostos. (Marías, 1995, pp. 74-77) Ao terminar a esquematização da situação humana, Julián Marías parece querer indicar-nos, de modo indirecto, uma definição de felicidade: “Para que a vida individual e pessoal se realize normalmente, é necessário que se permita a sua essencial inserção na sociedade e que possa apoiar-se nesse horizonte de últimas crenças que lhe dão sentido (…). Quando estas duas últimas dimensões da vida não são questão, quando os seus esquemas gozam de perfeita vigência, a vida dos indivíduos decorre serenamente e cada um pode encher de substância privada o seu destino pessoal.” (Marías, 1995, p. 78) Deste modo, a felicidade parece ser uma harmonia entre a pessoa, a sociedade e o seu horizonte (metafísico) de sentido vital. A interpretação desse resultado como serenidade, deixa-nos antever a influência da teoria estóica de Séneca. 19 Posto isto, há que dizer que o diagnóstico da situação humana é assim o de uma “crise da personalidade e da intimidade”, (Marías, 1995, p. 79) que, segundo o filósofo, é resultado de uma hipertrofia socializadora, que provocou uma alteração na orientação da pessoa, pois deixou de ensimesmar-se. Daí a expressão de Marías: “O homem actual, vazio de si mesmo” ou, ainda, “a radical perplexidade e desorientação que o homem actual se encontra relativamente aos assuntos que mais lhe interessam”. A solução, para Marías só pode estar no desenvolvimento de uma «filosofia aplicada à vida» como redescoberta originária e autêntica da sua intimidade pessoal e do sentido da vida. (Marías, 1995, p. 80) Dada a historicidade e temporalidade da situação humana, Marías recorda também a influência determinante dos projectos de vida, ou seja, a figura que a pessoa elabora/inventa na sua imaginação. 19

Julián Marías traduziu a obra de Séneca, “Da vida feliz”. Na nossa obra “Idea y Proyecto. La Arquitectura de la Vida” (p. 163, 202-3, 207, 234), referimos a importância da filosofia de Séneca.

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(Marías, 1995, p. 81) Assim, interessa ao filósofo espanhol identificar as notas essenciais da projecção humana, na sua dimensão colectiva: 1) a apetência pelo prazer quotidiano; 2) o desejo de riqueza (como propriedade e como fruição); 3) a acção sobre as coisas (a técnica); 4) o poder como dominação; 5) o fingimento desmesurado de convicções no decisionismo (medo da insegurança, desejo de simplificação, trabalho no vazio, agressividade, falta de imaginação, mecanização) 20 ; 6) a interpretação da vida em função da morte (temor, falta de imaginação), com consequências no número de suicídios (desrespeito para com a vida). De acordo com Julián Marías, a solução para o diagnóstico negativo realizado, só pode estar no pensamento como acto humano, sendo o seu resultado, não um conhecimento, mas um saber ou certeza. (Marías, 1995, p. 88 e 95) Assim, a «filosofia aplicada à vida» será, precisamente, esse saber dinâmico. E enquanto acção interactiva, que envolve duas pessoas, um filósofo (que ajuda a pensar) e uma pessoa/consultante (que pensa), denominamo-la de «consultoria filosófica». 21 Neste âmbito, a filosofia é vista por Julián Marías como uma verdade que nasce na situação humana de crise pessoal, social e histórica: “Quando o homem se sente perplexo e inseguro a respeito de algo, surge nele uma necessidade vital de algo que não tinha, e a este algo chamamos de verdade.” (Marías, 1995, p. 89) 22 Posto isto, segundo Marías, cabe ao homem averiguar/verificar (verum facere) a sua vida, o que significa encontrar a verdade 23 de 20

Segundo Julián Marías, este decisionismo vazio deve-se, essencialmente, à “crise geral das crenças”. (Marías, 1995, p. 84) 21 Cfr. Dias, J. & Barrientos, J. (2010). Idea y Proyecto. La Arquitectura de la Vida. Madrid: Visión Libros, p. 191. 22 Julián Marías também define verdade deste modo: “Verdade é, em primeiro lugar, um estado em que nos encontramos quando sabemos como orientar-nos. Em segundo lugar, é aquilo que nos faz recuperar a segurança e a certeza perdidas.” (Marías, 1995, p. 90) Mais à frente, o autor diz-nos que “a verdade consiste, portanto, formalmente, na manifestação da realidade”. (Marías, 1995, p. 123) 23 É curiosa a tipologia de relações com a verdade, que Julián Marías apresenta no Metodologias aplicadas desde a filosofia

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algo. (Marías, 1995, p. 96) Assim, o âmbito da verdade é a vida humana, com o seu dinamismo temporal crença-ideia-crença. Neste movimento, é a experiência que provoca a mudança e obriga a pessoa a procurar um novo sistema de convicções, articulado com a totalidade coerente que deve ser a vida de cada um. Só assim é possível orientar as decisões vitais. Neste processo, a ciência não tem lugar, pois é parcial e positiva. 24 Então, como? – pergunta Marías. “Não é provável que a maioria dos homens sejam capazes de descubri-la [a verdade] por si mesmos. (…) Tradicionalmente, a filosofia pretendeu procurar a verdade radical.” (Marías, 1995, p. 106) Portanto, ao homem contemporêneo, só lhe resta pedir ajuda ao filósofo como consultor. É a necessidade de orientação vital que vem colocar a questão da realidade e do seu acesso. Assim, Julián Marías considera que é essencial definir um método que a manifeste e que nos explicite a sua verdade, ou seja, a relação que a pessoa estabelece com ela. Neste processo, Marías critica a via seguida por alguns filósofos, como por exemplo, aqueles que utilizaram a ideia de ser como guia. (Marías, 1995, p. 124) O que Marías pretende é colocar o trabalho do conceito na circunstância e “extrair da sua realidade vital a sua função significativa.” (Marías, 1995, p. 126) Assim, a primeira e essencial indicação metodológica de Julián Marías é o saber histórico, pois permite-nos ter noção das interpretações que fazemos, de modo a que possamos ir mais além, ou seja, à radicalidade do real. Para isso, a descrição 25 é a primeira fase do método. (Marías, 1995, pp. 132-133) Para Marías, é das subcapítulo 28. (Marías, 1995, pp. 102-104) 24 Na sua obra Biografia de la Filosofia, Julián Marías esclarece melhor esta questão do diálogo ciência/filosofia: “Um problema não é simplesmente algo que se ignora, é algo que se necessita saber. Em Filosofia é a necessidade que define um problema. Além de que não tem sentido em Filosofia decidir a insolubilidade – pode estar condicionada por pressupostos e um método, e isto é justamente a positividade das ciências”. (Marías, 1986, p. 269) 25 Nesta questão metodológica, é clara a influência da fenomenologia de Husserl no pensamento de Julián Marías. No entanto, a crítica deste à fenomenologia é relevante, mas neste artigo não a podemos explorar. José Barrientos (editor)

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conexões reais que as formas mentais superiores devem aparecer, pois só assim podem servir de orientação vital. Este aparecimento da conexão (real = encontro) entre as coisas é que permite apresentar uma justificação racional e, a posteriori, orientar a pessoa na sua vida. (Marías, 1995, p. 141) Eis que chegámos à justificação racional, ou seja, à razão, 26 definida por Marías como método de acesso à estrutura da realidade e cumprimento das exigências de verdade. Para Marías, a razão é um “modo de resposta, um instrumento para que o homem possa viver um tipo de vida humana”. (Marías, 1995, p. 145) Ao apreender as conexões, a razão compreende o contexto em que vive, ou seja, a sua situação. O resultado desse contacto com a realidade é o conceito (com-ceptum - «apreendido ou colhido com»). Início da responsável (1) [percepção]

visão

Apreensão da razão (2) [conceito]

Posse da realidade (3) [interpretação/compreensão]

Fonte: Carpintero, 2008, 206 - adaptado Antes de expormos, em resumo, o «método da razão vital», sublinhemos uma referência de Carpintero, quando nos recorda que Julián Marías “se preocupava [muito] 27 com a questão dos métodos”, ou seja, com o caminho que era necessário percorrer para chegar a saber algo. Neste caso, ao filósofo espanhol interessava olhar para a circunstância com atenção, pois é nela que está a arké de tudo, inclusivé, da própria filosofia, que foi definida, por isso mesmo, como uma “visão responsável”. Portanto, ensinar a 26 Julián Marías define razão como a capacidade de “apreensão da realidade na sua conexão”. (Marías, 1995, p. 144) 27 O parêntesis recto é nosso. Julgamos que a preocupação metodológica é, em Julián Marías, uma dimensão fundamental da sua filosofia inovadora. Como sabemos, o filósofo espanhol criou uma «filosofia aplicada à vida», recordando que durante vários séculos, a questão da vida humana andou afastada dos principais estudos dos filósofos, que optaram por aprofundar outros temas: «ser», «bem», «liberdade», «nada», etc. Cfr. Marías, J. (1986). Biografía de la Filosofía, Madrid: Alianza Editorial.

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JORGE DIAS

filosofar significa ensinar a olhar (visão) e a justificar o que se vê (responsável). Esta filosofia visual permite à pessoa estar na imediatez dos problemas vitais e longe do enciclopedismo escolástico, muito marcante na Espanha franquista. Aqui não há uma imposição de «pré-conceitos» à realidade, mas, pelo contrário, uma elaboração conceptual a partir da situação vivida – de onde surge a perspectiva de cada pessoa. (Carpintero, 2008, 195-199) Neste processo, Julián Marías tem noção das tarefas que são necessárias levar a cabo para que a felicidade possa ser um objecto de estudo filosófico, ou seja, perguntar-se pelos “métodos que tornam possível o acesso” à felicidade. (Marías, 1989) Como iremos ver mais à frente, a metodologia filosófica de Julián Marías, para abordar e aprofundar a questão da felicidade, baseiase no atributo da qualidade, que é, para o autor, o único adequado para analisar os assuntos humanos. Assim, esse método qualitativo vai permitir explorar uma das dimensões fundamentais da vida feliz: a intensidade. (Marías, 1989, 66) Uma referência de Javier Duarte diz respeito, precisamente, ao “método da razão vital” 28 , que pretende ser um instrumento de fundamentação metafísica da realidade. Deste modo, seria possível encontrar sentido na vida. Carpintero recorda que a razão “é um instrumento essencial para a vida, porque esta requer várias decisões”. Além disso, só com uma razão vital é possível conhecer uma vida concreta. (Carpintero, 2008, 209 e 210) É também esta ideia-base que nos permite ensaiar e desenvolver uma teoria para a consultoria filosófica, com base no sistema de Julián Marías. Posto isto, Carpintero refere que a razão se tornou narrativa, 29 no sentido de contar, primeiro, a história de vida da pessoa e, depois, para analisar o seu contéudo interpretativo/significativo. Além da razão, também a imaginação assumiu um lugar de destaque no dinamismo vital, pois é ela que 28

Cfr. Marías, 1995, pp. 167-168. “A narração é a forma de apresentação da vida humana na sua articulação interna, na sua conexão vivente.” (Marías, 1995, p. 171)

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descobre a importância do projectar e a felicidade da sua concretização. Neste processo, é essencial a este trabalho da imaginação o esquema de vida fornecido pela teoria analítica (abstracta) da vida, pois só assim é possível aplicá-la na circunstância e construir argumentos pessoais. (Carpintero, 2008, 214) OS 8 ESTÁDIOS DO MÉTODO DA RAZÃO VITAL 1º estádio

2º estádio

3º estádio

4º estádio

Entrar em contacto com a realidade na sua presença vivida Identificar nessa presença a parte de interpretação e distingui-la da realidade Enquadrar essa realidade vital na totalidade da vida Trabalho crítico: a partir da vida da pessoa (lugar real), limpar a realidade vital dos elementos que não a constituem

5º estádio

6º estádio

7º estádio

Investigar a essência dessa vida, mediante os requisitos que a constituem Estudar essa realidade na vida da pessoa (lugar real), em concreção/acontecimento Constatar que cada pessoa necessita de um esquema de vida (teoria abstracta) A partir da vida da pessoa (lugar real), dar razão das suas dimensões

8º estádio

Fuente: Duarte, 2010, 37-38 – adaptado e Marías, 1995, pp. 167168 30 Carmen Valderrey, no seu artigo “La Felicidad Humana en Julián Marías”, reconhece que a questão metodológica é essencial, pois é a condição de possibilidade para um trabalho que pretenda ser 30

Nesse âmbito, Carpintero também recorda “um caso paradigmático da aplicação da razão vital a um tema concreto.” Trata-se da análise que Julián Marías realizou a um texto de Ortega y Gasset sobre o tema da caça. Carpintero diz-nos que estamos perante um “admirável exercício intelectual.” O título que Marías deu ao comentário foi: “A razão vital em marcha”. (Carpintero, 2008, 212) Metodologias aplicadas desde a filosofia

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adequado e útil. Valderrey começa por reconhecer que a felicidade é uma questão que está radicada na vida de todas as pessoas, não como posse efectiva, mas como exigência. “A pretensão de felicidade é inseparável da condição humana. Este é precisamente o ponto de partida da metodologia que Julián Marías utiliza na sua reflexão sobre a felicidade. A existência da felicidade dá-se primeiramente no homem como pretensão, exigência ou projecto.” (Valderrey, 1989, 330) Neste ponto temos, precisamente, o aspecto fundamental da necessidade de uma consultoria filosófica na obra de Julián Marías, como forma de “ajudar” (Marías, 1989, 10) a pessoa a estar feliz. Como? – pergunta o(a) leitor(a). Através da aplicação de uma metodologia filosófica que potencie, na vida da pessoa, a projecção e a concretização. 31 Para Valderrey, mais do que a análise linguística sobre o termo «felicidade», é necessário utilizar o pensamento – ferramenta filosófica fundamental. Só assim é possível alcançar uma definição mais profunda e, ao mesmo tempo, desejar ter uma vida de acordo com essa definição. Para isso, o pensamento a utilizar não pode ser abstracto. Tem de ser “um pensar concreto, conexo, complexo, imaginativo, curcunstancial.” Neste processo reflexivo, os “exemplos concretos” são essenciais para compreender e aceder aos acontecimentos felicitários, pois é neles que “a felicidade acontece”. Mais importante ainda que os exemplos é a reflexão sobre a experiência pessoal – este é um “excelente método para a investigação da felicidade”. Como veremos no capítulo seguinte deste artigo, a reflexão filosófica sobre a experiência pessoal será o cerne do processo de consulta individual. (Valderrey, 1989, 331) Portanto, tratando-se de um tema complexo e global, a Felicidade, para poder ser trabalhada na vida da pessoa, necessita que o filósofo (ou consultor filosófico) tome um contacto imediato e vivo

31

Sobre este tema da projecção, sugerimos a consulta da obra: Marías, J. (1995). Introducción a la Filosofía. Madrid: Alianza Editorial. Em especial, o subcapítulo 54. «O projecto vital», parte integrante do capítulo 6. «A estrutura da vida humana».

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com a vida feliz. (Marías, 1989, 67) 32 Este trabalho é realizado, precisamente, através da aplicação da razão vital. E por isso, denominámos o seu método, também, de «felicitário». Para Julián Marías, uma investigação sobre a felicidade ou qualquer outra sobre um tema humano, deverá seguir “uma perspectiva biográfica”. (Marías, 1989, 209) Um aspecto metodológico pertinente em Julián Marías diz respeito às «experiências de pensamento» 33 que, segundo o filósofo espanhol, iluminam a realidade antropológica. (Marías, 1989, 285) Portanto, “Não se esqueça que o método que o nosso pensamento usa para chegar a uma teoria geral da vida humana é a análise da vida concreta, para descobrir as condições sem as quais não é possível.” (Marías, 1989, 362)

A filosofia aplicada à pessoa como consultoria filosófica Começamos por abordar o nosso paradigma de investigação. José Barrientos 34 , no seu artigo filosofia aplicada à pessoa: proposta para um ramo da filosofia contemporânea (2008, 11-12), afirma que a palavra tem “um valor fundamental nas relações humanas e na determinação ontológica do sujeito.” Como se sabe, qualquer filosofia, seja ela pura ou aplicada, teórica ou prática, utiliza na sua 32 Na nossa tese de doutoramento, “O contributo de Julián Marías para uma teoria da filosofia aplicada à questão da felicidade” apresentaremos uma hipótese interpretativa para o trabalho nesse âmbito. 33 A expressão “thougth experiment” aparece, por exemplo, em Tim Lebon, consultor filosófico contemporâneo, em Londres. Cfr. Lebon, T. (2001). Wise Therapy. Philosophy for Counselors, London: Continuum. 34 De facto, neste artigo, poderíamos ter seleccionado qualquer outro filósofo para analisar a sua teoria de filosofia aplicada. No entanto, seleccionámos José Barrientos, pois é para nós, inquestionavelmente, um dos autores que mais literatura científica tem produzido nos últimos 5 anos, sendo por isso uma das referências mundiais na área da filosofia aplicada à pessoa. Julgamos ainda que não tem obtido, injustamente, o devido reconhecimento internacional. Esperemos que no próximo congresso internacional seja um dos principais keynote speakers.

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análise, a palavra, quer em texto escrito, quer em diálogo oral. Assim, o que Barrientos pretende com o seu artigo, é promover uma análise da expressão «filosofia aplicada», com o objectivo de definir a essência da sua actividade como consultoria filosófica profissional. Deste modo, é trazida para a reflexão e investigação académicas a prática e as questões dos consultores filosóficos nos seus gabinetes de trabalho. Assim, a primeira expressão que Barrientos (2008, 12-14) analisa é «prática filosófica» e os argumentos que refere, a favor da sua utilização internacional, são os seguintes: para começar, o facto do primeiro congresso Internacional, realizado em 1994, ter utilizado essa nomenclatura no título, o que ainda hoje se mantém. Depois, Barrientos refere que o seu representante mais mediático, Lou Marinoff, escreveu uma obra com esse título, Philosophical Practice (2002), onde inclui outras variantes: conselheiros individuais, facilitadores de grupo e consultores organizacionais. Além disso, a associação a que preside, também a adopta: American Philosophical Practitioners Association. Por outro lado, Barrientos verifica que alguns autores utilizam o termo «filosofia aplicada». Quanto à actualidade, Barrientos afirma que a expressão «aconselhamento filosófico» é utilizada para expressar uma actividade mais específica e pertencente à (abrangente) prática filosófica/filosofia aplicada. Além dela, Barrientos refere ainda outras: a «orientação filosófica», a «assessoria filosófica» e a «consultoria filosófica». As duas primeiras têm sido mais utilizadas em Espanha e a segunda em Portugal. Barrientos prefere utilizar a expressão «filosofia aplicada à pessoa» (2008, 22), para designar «orientação filosófica», mas quantos a nós, e tendo em conta a realidade (profissional) portuguesa, continuamos a preferir o termo «consultoria filosófica», por ser aquele que melhor exprime o serviço prestado: a consulta. As outras nomenclaturas podem induzir em erro o consultante que, sem saber de que se trata, lê um anúncio e interpreta a seu modo. José Barrientos (editor)

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Concordamos com a crítica de Barrientos a Tim Lebon (Barrientos, 2008, 23), pois não estamos perante uma mistura de filosofia e psicologia. No entanto, discordamos de Barrientos quando pretende adjectivar os profissionais de “filósofos aplicados”. Entendemos o argumento da centralidade da filosofia, mas, a ser assim, bastaria apenas a utilização do termo «filósofo», tal como acontece em todas as outras profissões. Na psicologia, por exemplo, não se denomina o «psicólogo aplicado». Em qualquer actividade, seja ela teórica ou prática, utiliza-se o termo «psicólogo». Mas na matemática, curiosamente, o aplicado poderá ter o nome, quiçá, de «engenheiro». Quanto à filosofia aplicada à pessoa, pensamos que se trata de numa actividade (aspecto primordial) de aplicação da filosofia à vida e ao pensamento da pessoa, através de um processo essencial que chamamos, naturalmente, «consulta», onde são mobilizados métodos e competências específicas. Posto isto, apresentamos uma definição geral de consultoria filosófica: “ocupa-se dos conflitos quotidianos dos seus consultantes, graças a uma reflexão com base em instrumentos racionais e conteúdos filosóficos herdados da história.” (Barrientos, 2008, 24) E uma definição específica: “Processo de conceptualização e/ou clarificação acerca de questões relevantes (significativas e/ou essenciais) para o consultante, cujo objectivo é a optimização do pensamento e/ou consecução de depuração de conteúdos veritativos e cujo resultado costuma ser o bem-estar do individuo.” (Barrientos, 2008, 25) Outra questão que Barrientos coloca e com a qual concordamos, tem a ver com a desadequação do termo «filosofia prática» para designar a consultoria filosófica. Tradicionalmente, na filosofia prática são incluídas outras disciplinas, como a ética e a filosofia política. “Mas os conteúdos da filosofia prática não esgotam o conteúdo profissional da filosofia aplicada.” (Barrientos, 2008, 26) Neste argumento, Barrientos considera que o eixo fundamental do trabalho da consultoria filosófica é constituído por casos-deMetodologias aplicadas desde a filosofia

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consulta. Também aqui estamos de acordo com o autor, pois é na consulta (actividade primordial, mas sem substância teórica determinante) que se constrói filosofia (com o consultante). No entanto, verificamos que Barrientos termina o seu artigo com um paradoxo (ou quiçá aporia), dizendo que na consulta não há lugar para a aplicação de teorias filosóficas à prática quotidiana da vida da pessoa. Assim sendo, na nossa perspectiva, Barrientos acaba de discordar da expressão «aplicada», (Barrientos, 2008, 27) deixando, no final do seu artigo, a via aberta para aceitar a nossa proposta: «consultoria filosófica». Vejamos as palavras do autor: “Consultante parece-nos a mais correcta, pois explicita a actividade ou interesse primordial daquele que acude a um gabinete filosófico: consultar um problema específico.” (Barrientos, 2008, 29) Terminamos este ponto com três notas: a primeira, concordando com José Barrientos, quando se refere à importância do “trabalho comum nesta nova disciplina”. Esta publicação, que acolhe este artigo, entre outros, é mais um sinal da essencial colaboração que deve existir nesta área; a segunda nota pretende abrir um novo campo de investigação para a filosofia: “Em cuidados de saúde, já não aceitamos mais a medicina «quack» e investigamos sistematicamente os efeitos dos tratamentos. Chegou o tempo de fazer o mesmo no aconselhamento, incluindo o aconselhamento filosófico.” (Zhang & Veenhoven, 2008, p. 441) Neste artigo, Zhang & Veenhoven referem-se aos “testes de realidade”, no sentido de avaliarem as metodologias de trabalho de um determinado tipo de intervenção; 35 a terceira e última nota está no artigo “A psiquiatria vista desde a filosofia”, onde Marías demonstra conhecer a relação própria, que naquela época existia entre várias formas de ajudar a pessoa a pensar e a auto-conhecerse: a psicanálise de Freud, a psicanálise existencial de Sartre e a psicanálise lógica de Wittgenstein. (Marías, 1966, p. 63) Julián Marías analisa, com algum detalhe, “as limitações teóricas da 35

Antecipamos aqui, um pouco, a utilidade metodológica que a educação social pode ter para a consultoria filosófica. No último capítulo deste artigo, abordaremos esta questão.

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doutrina psicanalítica”, para concluir que o seu fundamento está baseado numa «filosofia/metafísica» errada, sendo por isso necessário explorar a questão de modo mais aprofundado. Neste âmbito, e como contraponto, Marías apresenta a sua teoria, através de um exercício como «filósofo-psiquiatra» 36 (Marías, 1966, pp. 69-77): em primeiro lugar, começa por dizer que, para compreender uma pessoa (o paciente 37 ), é necessário ter em atenção a totalidade dinâmica da sua vida; além disso, o problema da pessoa, também só pode ser compreendido se relacionado com a sua história e a temporalidade da sua vida, ou seja, com o seu passado e com o seu futuro (projecto); para que isto seja possível, a pessoa tem de contar a “novela” da sua vida e o filósofo psiquiatra tem de realizar uma “hermenêutica” constante, registando, num “papel”, a biografia da pessoa. 38 Além disso, seria ainda necessário ter dois tipos de conhecimento: 1º - um conhecimento metafísico radical sobre a estrutura da vida humana, a que Marías chamou de teoria analítica; 2º - um conhecimento antropológico sobre essa 36

Neste artigo, Julián Marías fala sempre como filósofo (aquele que pergunta) que desconhece a ciência da psiquiatria. Por isso, nunca dirige a reflexão filosófica para a sua “acção curativa”, mas para a utilidade da filosofia na compreensão do paciente (como pessoa que possui uma biografia particular). (Marías, 1952, pp. 59-61) Outro debate que poderia ser explorado, e que Marías apenas aborda superficialmente, tem a ver com a divisão entre ciências da natureza e ciências do espírito. De qualquer modo, esta «filosofia aplicada à psiquiatria» pode ser vista como uma resposta metodológica de Marías. 37 O paciente é visto aqui como alguém “angustiado, esse homem estranho a quem não entendemos ou que não se entende.” (Marías, 1952, p. 61) 38 O que Julián Marías faz neste artigo sobre psiquiatria é, claramente, apresentar a sua filosofia como uma consultoria filosófica e, além disso, como um tipo de trabalho que poderia ser bastante útil ao psiquiatra e ao psicanalista. Aliás, segundo Marías, os métodos filosóficos têm, para a terapêutica da psiquiatria, “um valor metódico indubitável”. (Marías, 1952, p. 78) Marías vai mais longe: a própria definição de doença está determinada pela «antropologia metafísica da vida», que o psiquiatra deveria conhecer, nomeadamente, a questão da “significação biográfica”, que é sempre prévia ao processo de adoecer. Vejamos o exemplo: “A amputação de uma perna, quando não é biograficamente assimilável, quando não cicatriza psiquicamente – permita-se-me a metáfora – converte-se em dor psíquica. É a própria amputação que é uma doença psíquica. Porque a amputação não é um corte de massa carnal e óssea num ponto do planeta, mas a ablação de um membro que pertence, não a um corpo, mas a um homem.” (Marías, 1952, p. 81) Metodologias aplicadas desde a filosofia

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estrutura, a que Marías chamou de teoria empírica 39 . Esta distinção tem consequências várias e decisivas: uma delas é no modo de entender a questão da aplicação da filosofia (neste caso à psiquiatria); a outra, tem a ver com a questão do «normal/anormal», sendo a estrutura empírica da vida humana a definir. Nesta estrutura, é determinante o auto-conhecimento, a situação em que se vive e a “felicidade” da pessoa como realização dos seus projectos vitais. Portanto, segundo Marías, é essencial que o psiquiatra tenha este conhecimento da pessoa, pois “o objecto da psiquiatria não é separável do trato humano”.

O caso de Pedro Pedro tem 22 anos e é estudante em Portugal. Iniciou o processo de consulta filosófica a 26 de Janeiro de 2011. Veio acompanhado pela mãe. O problema apresentado, inicialmente, estava relacionado com um certo desinteresse do Pedro em relação aos estudos e, em acumulação, alguma desorientação pessoal relativamente ao seu futuro. Com o passar do tempo, o Pedro ia aumentando a sua estadia em casa, manifestando insatisfação relativamente à monotonia da sua vida. De acordo com o método da razão vital, iniciámos o trabalho filosófico, investigando a história pessoal de Pedro. Para isso, solicitámos ao Pedro que nos descrevesse o seu quotidiano (razão narrativa). Pelo meio, colocámos algumas questões de verificação, no sentido de retirarmos, com objectividade, a verdade - como significado, coerência e sentido - da sua narração. (trabalho de hermenêutica crítica) Pedro disse que não lhe apetecia ir às aulas e que só tinha vontade para estar em casa. Gostava de ler e de desporto. Considerava-se 39

Carpintero e Sarmiento consideram que a principal originalidade de Julián Marías foi a introdução da teoria empírica na filosofia, renovando assim a sua utilidade vital e abrindo uma inovadora linha de investigação académica. José Barrientos (editor)

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uma pessoa nervosa. O seu percurso escolar sempre foi atribulado com dificuldades na motivação para o estudo. Quando chegou à universidade, estava confuso em relação ao curso que mais gostaria. Criticou a escola por não ter recursos de qualidade para dar resposta à necessidade de explorar a vocação dos jovens adolescentes, e acrescentou que um simples teste psicotécnico não era suficiente. Entretanto, Pedro referiu que optou por ir trabalhar para uma empresa multinacional, ao mesmo tempo que estudava, pois era-lhe útil o dinheiro. Estava a tirar a carta de condução, mas já tinha reprovado algumas vezes no exame de código. As suas relações afectivas nem sempre eram estáveis – frisou Pedro. Posto isto, o consultor filosófico colocou algumas perguntas, no sentido de promover no Pedro um ensimismamiento. Solicitou-se ao Pedro que avaliasse a sua atitude para com a vida. (estudo da realidade vital da pessoa) Pedro afirmou que sentia muita ansiedade quando tinha que esperar pelo resultado de algo, sobretudo devido ao seu negativismo em relação ao futuro e ao seu desempenho. (influência de pré-conceitos) Pedro tinha receio de receber sempre maus resultados. Nesse contexto, referiu que a mãe o pressionava bastante e isso deixava-o bastante desequilibrado. Assim terminou a primeira consulta. Na consulta seguinte veio a sua mãe. Dia 4 de Fevereiro de 2011. Solicitámos uma avaliação do caso. A mãe de Pedro admitiu ser «mãe galinha», mas disse ter uma explicação, pois o seu filho sempre foi um jovem com diversos problemas, quer de saúde, quer de socialização. Considerou que o filho estava demasiado dependente da mãe. No dia 11 de Fevereiro veio de novo o Pedro à consulta. Perguntámos se no momento tinha consultado mais algum especialista. A resposta foi negativa. Começámos a analisar a situação de Pedro e recuperámos a questão do desporto, que o Pedro tinha narrado na consulta anterior e explorámos. (dimensão pessoal) Pedro disse que gostava de jogar futebol de salão e que às vezes reunia os amigos e ia alugar um pavilhão. Aprofundámos ainda mais e perguntámos quais eram os Metodologias aplicadas desde a filosofia

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seus sonhos. (dimensão projectiva) Pedro disse que gostava de um dia poder morar numa vivenda sua, construída com o seu dinheiro e, se possível, com o seu próprio trabalho. Gostaria muito de poder ter uma casa de acordo com as suas ideias e os seus gostos. Posto isto, avançamos para o questionamento sobre o projecto 40 e os recursos necessários. Pedro reflectiu durante alguns segundos, pois nunca tinha pensado dessa forma – referiu. A primeira condição necessária para conseguir realizar o seu sonho era ter um emprego e depois, conseguir juntar algum dinheiro. De seguida, perguntámos quais os recursos necessários. Pedro considerou que seria mais fácil ter um bom emprego, caso conseguisse terminar a licenciatura em que se encontrava. Referiu ter vontade, mas que nem sempre se sentia motivado. Por isso, considerou, que talvez necessitasse de ajuda e orientação, quer para pensar a sério na sua vida, quer para projectar, com consciência e responsabilidade cada passo em direcção à realização dos seus objectivos. No dia 18 de Fevereiro, veio de novo a mãe à consulta. Começou por referir que estava também preocupada com uma possível relação entre o seu insucesso profissional e o insucesso escolar e pessoal do seu filho. A mãe de Pedro não tinha emprego e também se encontrava a estudar na mesma Universidade de Pedro, mas noutra licenciatura. Referiu que já tinha tido uma depressão e que neste momento se sentia cansada por ainda ter de ajudar o filho e não lhe restar muito tempo para cuidar de si e do seu futuro. Em casa, o seu marido tenta ajudar através da leitura de livros, que falem sobre temas semelhantes. No entanto, este não se manifesta muito preocupado com o filho, pois entende ser preguiça. Além disso, o pai já percebeu que o filho não deixa que retirem do seu quarto a televisão, o computador com a internet e a playstation. 40

De acordo com Julián Marías, a vida humana é projecto. (Marías, 1995, p. 145) Noutro artigo, já tínhamos referido a importância dessa verdade analítica “radical” para o trabalho metodológico do consultor filosófico. (Dias, 2009, pp. 80-110) Mas aqui, importa acrescentar algo. Ao analisar a psicanálise de Freud, o filósofo espanhol critica a metodologia baseada na análise do passado do paciente, em vez de analisar os seus projectos. Cfr. Marías, Biografía de la Filosofía, 1986, p. 267.

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No dia 4 de Março, foi a vez de Pedro. Iniciámos a consulta com a elaboração de um esquema comparativo, com o objectivo de potenciarmos no pensamento do Pedro a sua reflexão. Pedro A

Pedro B

Sabe o que quer da vida O curso é importante para o seu futuro Sonha ter uma casa Gosta de ir ao viveiro do pai ajudar a gerir Gostaria que a sua vivenda fosse em Olhão ou em Faro

Às vezes, não quer saber muito da vida Às vezes, prefere ficar em casa a ver televisão, a jogar playstation e a navegar na internet (sobretudo as redes sociais). Por vezes, prefere a solidão, pois é uma forma de controlar a sua vida, o seu espaço e algumas regras

Posto isto, Pedro considerou que o seu principal problema estava no controlo da mãe. Referiu que a sua irmã já tinha saído de cada há uns anos, pela mesma razão. Após esta narração, perguntámos a Pedro pela possibilidade de existir um terceiro Pedro, ou seja, o Pedro C. A resposta foi afirmativa. Pedro A Pedro B Pedro C Sabe o que quer da vida O curso é importante para o seu futuro Sonha ter uma casa Gosta de ir ao viveiro do pai ajudar a gerir Gostaria que a sua vivenda fosse em Olhão ou em Faro

Às vezes, não quer saber muito da vida Às vezes, prefere ficar em casa a ver televisão, a jogar playstation e a navegar na internet (sobretudo as redes sociais). Por vezes, prefere a solidão, pois é uma forma de controlar a sua vida, o seu espaço e algumas regras

A mãe sabe o que é melhor para a sua vida Está dependente do controlo da mãe É impossível a libertação da mãe

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Após este relato, o consultor filosófico perguntou se o Pedro alguma vez tinha vivido uma experiência de autonomia. Pedro disse que sim e narrou um episódio vivido no Porto, num passeio que deu, sozinho, ao Palácio de Cristal. Em relação à universidade, foi questionado se não existiram formas de motivação pessoal e de tornar o projecto mais atractivo. Pedro disse que sim, pois este semestre tinha colegas novos e com os quais estava a formar um grupo de trabalho. Sentia alguma esperança na melhoria. Finalmente, a consulta terminou com o pedido do consultor para que Pedro realizasse um diário, esquematizado, com apenas 2 ou 3 experiências positivas e/ou negativas em cada dia. O esquema deste diário foi realizado pelo consultor e entregue ao consultante. No dia 18 de Março estivemos a analisar, em conjunto, o diário 41 realizado. Este documento permitiu, não apenas ter acesso ao quotidiano de Pedro, mas, também, obter um compromisso relativo à sua narração vital. O seu carácter sistemático, permitiu ainda promover em Pedro uma reflexão mais consciente sobre a sua rotina diária e semanal. Nesse âmbito, por exemplo, analisámos o facto de Pedro deitar-se sempre tarde (2h00) e gostar de dormir até à hora do almoço. No dia 1 de Abril referiu que tinha um novo grupo de estudo e com o qual estava a gostar de estar e trabalhar. Sentia-se agora mais 41 Num artigo sobre a influência de Unamuno na filosofia de Julián Marías, Carpintero refere-se à «novela como método». Neste capítulo é interessante verificar a originalidade de ambos os filósofos espanhóis na antecipação e identificação de um género literário diferente, mais próximo da vida e como forma de expressar uma determinada teoria sobre a realidade e sobre o sentido da existência. “Unamuno explorou, muito antes de ter sido feito noutras partes, muitos dos temas centrais do posterior existencialismo, e muito antes que estivessem na moda.” [Carpintero citando um texto de Julián Marías] Mais à frente, acrescenta: Marías já tinha falado de novela «existencial» no seu trabalho sobre Unamuno de 1938, antes que semelhante categoria circulasse por revistas e manuais.” Posto isto, considera que a novela poderá ser um instrumento metodológico muito importante para a “nova Filosofia da vida quando pretenda ter na sua frente uma existência pessoal concreta.” (Carpintero, 2007, pp. 106-108) Aliás, mais do que a novela, o consultante é, precisamente, a existência concreta em pessoa.

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motivado. Referiu também que tinha passado no exame de código e que se sentia muito feliz. No dia seguinte, voltou a ler um livro de Harry Potter, pois era uma literatura que gostava bastante e que acompanhava. No final da consulta, referiu que o diário e a sua análise conjunta estavam a ser muito importante para a tomada de consciência de algumas dimensões vitais. Tornava-se mais fácil mudar. No dia 20 de Maio realizámos uma avaliação sobre o percurso efectuado até ali, desde o seu desempenho à utilidade das consultas e o efeito das mesmas na sua vida. Verificámos que tinha conseguido algum sucesso na universidade, que tinha uma namorada nova e que estava a praticar desporto duas vezes por semana: futebol e jogging. A última consulta foi no dia 25 de Julho. Bruno referiu que o pai estava a pensar premiar o esforço do filho com o aluguer de uma casa em Faro, mais próximo da Universidade e também para dar mais autonomia. Inclusive, estavam a pensar em comprar uma casa nos leilões das Finanças, como forma de investimento para o futuro. Pedro sublinhou a importância que o desporto estava a ter na sua vida, pois com o futebol tinha melhorado bastante as suas relações de amizade e com o jogging estava a sentir-se muito melhor consigo próprio e menos nervoso.

Da consulta filosófica à educação social Partindo de uma tradição filosófica plenamente assumida, [Julián Marías] 42 elaborou visões originais dos temas antropológicos, que são de interesse para as ciências sociais e para uma completa imagem do mundo filosófico (Sarmiento, 2007, p. 93)

Posto isto, perguntamos, em primeiro lugar, que interesse poderá ter, para a educação social, o trabalho da consultoria filosófica? Em 42

O parêntesis é nosso. Metodologias aplicadas desde a filosofia

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segundo lugar, abordaremos também o interesse que a educação social poderá ter para a consultoria filosófica. Neste últimos tempos, temos colaborado com o departamento de educação social da Universidade do Algarve, com algumas conferências, realizadas a convite de professores e alunos, sendo de destacar os encontros regionais da Rede Escolar de Técnicos Sociais do Algarve. Os temas mais solicitados foram os da ética, deontologia profissional e consultoria filosófica. Assim, os educadores sociais pretendiam saber como é que se processa a regulação ética e deontológica na sua profissão e, na prática, como é que se podem resolver dilemas éticos na prática da educação social em instituições e, sobretudo, no trabalho com pessoas. Em relação à consultoria filosófica, o interesse era sobre os problemas filosóficos das pessoas, a questão da fronteira com as patologias do foro mental e as técnicas que deveriam ser utilizadas para gerir as situações em que esse tipo de problemas aparecesse. Dado o âmbito deste artigo, vamos directos para a segunda questão, deixando para outra oportunidade a exploração do primeiro interesse. Assim, o problema que era colocado pelos educadores Sociais estava relacionado com o facto do seu público-alvo poder ter, com frequência, pessoas com problemas filosóficos, entre outros. O exemplo dado foi, curiosamente, o da desorientação 43 , ou seja, o vazio de crenças e valores pessoais/sociais. Outro exemplo foi o do sentido da vida, ou seja, uma pessoa que pensasse que a sua vida não tinha mais sentido, devido ao facto de ter vivido uma situação-limite 44 . 43

Como vimos no primeiro capítulo deste artigo, esse é, precisamente, o problema filosófico que mais preocupa a época contemporânea e que tomou muito tempo a Julián Marías. Por outro lado, Serrano considera que a educação social surgiu para dar resposta a “uma situação social carregada de problemas, carências e conflitos que reclama respostas educativo-sociais urgentes.” (Serrano, 2009, p. 22) 44 Sobre este tópico, aguardamos com curiosidade o artigo de Rosanna Barros (Universidade do Algarve, departamento de educação social), que a Haser – Revista Internacional de Filosofia Aplicada, vai publicar no seu próximo número. Além disso, como sabemos, o tema das situações-limite foi bastante estudado por Paulo Freire, um dos autores de referência na formação académica dos Educadores Sociais. José Barrientos (editor)

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De facto, desde 2005 45 que temos vindo a realizar investigação sobre projectos de aplicação da filosofia a várias áreas de trabalho. Além disso, na actualidade, a formação de cada profissional deve ser realizada de modo integrado e diverso, pois só assim é possível melhorar a qualidade do trabalho com pessoas que, por si, apresentam sempre problemas com elevado grau de complexidade. “A aplicação da filosofia pode ser feita nos mais variados contextos: espaços sociais, sistema educativo, gestão empresarial, animação cultural, formação profissional, intervenção comunitária, administração política, liderança desportiva, etc.” (Barrientos & Dias, 2010, p. 169 e 239) Deste modo, o que estaria agora em causa, e tendo em conta o estudo elaborado por Leonor Viegas (2011), 46 seria o enriquecimento formativo do educador social ao nível das metodologias e das competências da consultoria filosófica. Na obra Idea y Proyecto. La Arquitectura de la Vida, Barrientos & Dias apresentam um conjunto de métodos, técnicas e competências para a consultoria filosófica. Por exemplo, na parte II, o capítulo 4 refere-se, precisamente, a um método que pretende trabalhar com as pessoas a capacidade de projecção como instrumento para a felicidade individual. Curiosamente, o capítulo começa com uma citação de Julián Marías. (Barrientos & Dias, 2010, p. 236) Referimo-nos ao método PROJECT@, como instrumento de trabalho para o desenvolvimento do projectar na vida da pessoa. “«A realidade humana é primariamente pretensão, projecto». (Julián Marías) Esta frase do filósofo espanhol despertou, em 1998, 45

Com a realização, nesse ano, do I Encontro Português de Filosofia Prática, na Universidade Nova de Lisboa, organizado pela Associação Portuguesa de Aconselhamento Ético e Filosófico. Cfr. Dias, J. (Ed.) (2005). Actas do I Encontro Português de Filosofia Prática. Lisboa: APAEF. 46 O artigo de Leonor Viegas, “A Orientação Filosófica e a Mediação como metodologias de intervenção da Educação social em contexto escolar”, que consta nesta publicação, pretendeu mostrar a essencial importância, na actualidade, de relacionar a educação social com a consultoria filosófica. “E esta é, portanto, a razão de que o homem do nosso tempo tenha que interessar-se por isso que conhecemos com o nome, tão problemático, de Filosofia.” (Marías, 1995, p. 106) Metodologias aplicadas desde a filosofia

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o nosso interesse para uma investigação alargada sobre o seu pensamento, no que diz respeito a questões como a felicidade, o projecto, o amor, a pessoa, a morte, a realização pessoal, a ilusão ou a adequação sentimental. Ao sistematizar as teorias do autor, entendemos a sua metodologia e a possibilidade de aplicar a sua filosofia num diálogo útil com pessoas que estejam a viver momentos de crise existencial (…). Por exemplo, a relação totalmente inovadora que Julián Marías estabeleceu entre a definição de «ilusión» 47 e a felicidade permitiu-lhe apresentar uma teoria distinta e original.” (Barrientos & Dias, 2010, pp. 236-237) Posto isto, o diálogo com a educação social 48 é deveras pertinente, sobretudo na dimensão de intervenção, tal como é abordada por Serrano no capítulo 8 da sua obra Pedagogia Social – Educación Social. Ao referir-se à educação social como o âmbito de aplicação prática da ciência pedagogia social, a autora cita o filósofo espanhol Ortega y Gasset, com o objectivo de demonstrar a importância das técnicas na intervenção com pessoas. Nesse âmbito, Serrano considera que o educador social “deve possuir uma variedade de recurso com o fim de poder dar resposta às situações mais variadas.” É aqui que a metodologia da consultoria filosófica pode ajudar o educador social a aplicar as técnicas específicas da sua intervenção, que vão desde a prevenção à ajuda e à resolução de conflitos. (Serrano, 2009, p. 254) 47

Mantemos o termo «ilusión» no original espanhol, dado que a sua tradução literal para o português iria provocar uma distorção do seu sentido positivo, que Julián Marías identificou e explorou. No entanto, esse sentido positivo não existe no idioma português. 48 De acordo com Serrano, a definição de educação social não teve uma história consensual. Se por um lado, Natorp referia que toda a educação era social, por outro, Rousseau referia que a sociedade corrompia o jovem/pessoa. (Serrano, 2009, p. 121) No entanto, citamos aqui uma das definições de educação social que a autora refere no seu manual e a qual consideramos mais completa e relacionada com a consultoria filosófica: “Maíllo entende a educação social como o aspecto da educação integral do ser humano que tende a preparar a criança, o adolescente e o jovem ou adulto para uma convivência com os seus semelhantes, que elimine ou reduza ao mínimo as fricções e os conflitos, capacitando-o para a compreensão dos demais, o diálogo construtivo e a paz social.” (Serrano, 2009, p. 125) Crf. Maíllo, A. (2010). Educación Social y Cívica. Madrid: Escuela Española. José Barrientos (editor)

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Além disso, é curioso notar algumas semelhanças na situação de ambas as disciplinas. Como vimos, segundo Gloria Pérez Serrano, a educação social é mais um âmbito de aplicação prática, do que uma ciência. (Serrano, 2009, p. 13) Posto isto, perguntamos: será que poderíamos dizer o mesmo da consultoria filosófica? Por outro lado, Serrano refere-se à novidade da disciplina no mundo contemporâneo. O mesmo referimos, no início deste artigo, em relação à consultoria filosófica. 49 Mais ainda, é relevante o facto de não existirem muitas obras sobre a essencial articulação entre a investigação/construção científica e a intervenção/profissão. 50 De acordo com o paradigma da autora, podemos encontrar várias ligações com o paradigma de Julián Marías 51 : “a pessoa humana é uma realidade aberta” que está no centro do trabalho do educador social; “a convivência como fundamento da vida moral”; (Serrano, 2009, p. 15) Por fim, a abordagem à questão sobre a importância que a educação social pode ter para a consultoria filosófica. Na nota número cinco, deste artigo, referimos que “no grupo de investigação «Ethics for Counseling», na Universidade Católica Portuguesa, pretendemos desenvolver uma metodologia científica para a Consultoria Filosófica. Depois, o objectivo será aplicá-la numa amostra de consultantes. Pretendemos saber, em concreto e recorrendo a recursos técnico-científicos, o que acontece numa consulta 49

Embora não seja o âmbito deste artigo, mas gostaríamos de sublinhar, no entanto, a utilidade que a disciplina de filosofia social poderia ter para a formação do educador social. 50 No início deste artigo referimos o que era necessário para a existência de uma profissão certificada e reconhecida perante a lei. Serrano realiza esse trabalho na sua obra, aqui referida. (2009). 51 Na questão dos paradigmas de investigação em educação social, podemos verificar, na obra de Serrano, uma larga referência a filósofos e suas teorias: Kant, Dewey, Kuhn, Adorno, Popper, Habermas, etc. Por exemplo, num dos paradigmas, o «interpretativo/humanista», é referida a hermenêutica, a fenomenologia, assim como a influência de Dilthey, a sua filosofia da vida e o método compreensivo. (Serrano, 2009, p. 23 e 229) Apesar de a autora não o referir, incluiríamos aqui, também, a filosofia aplicada à vida, de Julián Marías. Posto isto, é demasiado evidente a importância da filosofia na licenciatura de educação social. Metodologias aplicadas desde a filosofia

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filosófica, quais as competências utilizadas, as dificuldades encontradas, os problemas abordados e a utilidade para a vida do consultante. E no fim, serão divulgados publicamente os resultados da investigação. De momento, o projecto aguarda avaliação de candidatura à Fundação para a Ciência e Tecnologia (Portugal).” No fundo, o que pretendemos fazer é a avaliação de resultados, a que nos referimos neste artigo, no sentido de seguirmos a indicação que Zhang & Veenhoven (2008) deram para o aconselhamento filosófico contemporâneo. Nesse processo, as metodologias utilizadas pela educação social serão uma forma de iniciarmos a organização de uma abordagem científica ao trabalho filosófico prático.

Bibliografia BARRIENTOS, J. (2008). “Filosofia aplicada a la persona: propuesta para una Rama de la filosofia contemporânea”. IN AAVV. Saber Pensar para Saber Viver. Sevilla: Fénix Editora. Pp. 11-32. BARRIENTOS, J. & DIAS, J. (2010). Idea y Proyecto. La Arquitectura de la Vida. Madrid: Visión Libros. CARPINTERO, H. (2001). Julián Marías: premio provincia de Valhadolid 1995 a la trayectoria literaria. Valhadolid: Página Espuma. Colección de Premios Literarios. CARPINTERO, H. (2008). Julián Marías: una vida en la verdad. Madrid: Biblioteca Nueva. CARPINTERO, H. (2007). “La filosofia de Julián Marías: Raíces unamunianas de su pensamiento”. IN Páez, J. (Ed.). Julián Marías. Una filosofia en libertad. Málaga: Fundación General de la Universidad de Málaga. Pp. 97-114. DIAS, J. (2009). “Julián Marías: felicidad – horizonte da filosofia aplicada” IN José BARRIENTOS & Eduardo VERGARA (Eds.).

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Filosofía aplicada y circunstancia española. Sevilla: Doss Ediciones. Pp. 95-109. DUARTE, J. (2010). La persona como proyecto: los derechos humanos en Julián Marías. Bilbao: Universidad de Deusto. (Duarte, 2010) LEBON, T. (2001). Wise therapy. Philosophy for counsellors. London: Continuum. MARÍAS, J. (1986). Biografía de la filosofía. Madrid: Alianza Editorial. MARÍAS, J. (1952). “La psiquiatría vista desde la filosofía”. IN Julián Marías (1966). Ensayos de Teoría. Madrid: Revista de Occidente. Pp. 59-82. MARÍAS, J. (1990). Breve tratado de la ilusión. Madrid: Alianza Editorial. MARÍAS, J. (1989). La felicidad humana. Madrid: Alianza Editorial. Sarmiento, P. (1998). Hombre y humanismo en Julián Marías. Valhadolid: Editora Provincial. SERRANO, G. (2009). Pedagogía social – educación social. Construción científica e intervención práctica. Madrid: Narcea Ediciones. VALDERREY, C. (1989). “La felicidad en Julián Marías” IN Religión y Cultura. Abr-Jun. 36 (173). pp. 329-336. ZHANG, G & VEENHOVEN, R. (2008). “Ancient chinese philosophical advice: can it help us find happiness today?” IN Journal of Happiness Studies. Volume 9 Nº 3. pp. 425-443.

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