Dos Enigmas de Hefesto: cultura, comunicação e trabalho na perspectiva dos discursos organizacionais

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UNIVERSIDADE FEEVALE MESTRADO EM PROCESSOS E MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

GISLENE FEITEN HAUBRICH

DOS ENIGMAS DE “HEFESTO”: CULTURA, COMUNICAÇÃO E TRABALHO NA PERSPECTIVA DOS DISCURSOS ORGANIZACIONAIS

Novo Hamburgo 2014

GISLENE FEITEN HAUBRICH

DOS ENIGMAS DE “HEFESTO”: CULTURA, COMUNICAÇÃO E TRABALHO NA PERSPECTIVA DOS DISCURSOS ORGANIZACIONAIS

Dissertação apresentada ao Mestrado em Processos e Manifestações Culturais como requisito para a obtenção do título de mestre em Processos e Manifestações Culturais.

Orientador: Prof. Dr. Ernani Cesar de Freitas

Novo Hamburgo 2014

Universidade Feevale Mestrado em Processos e Manifestações Culturais

GISLENE FEITEN HAUBRICH

DOS ENIGMAS DE “HEFESTO”: CULTURA, COMUNICAÇÃO E TRABALHO NA PERSPECTIVA DOS DISCURSOS ORGANIZACIONAIS

Dissertação de mestrado aprovada pela banca examinadora em 09 de dezembro de 2014, conferindo à autora o título de Mestre em Processos e Manifestações Culturais.

Componentes da Banca Examinadora:

_____________________________________________ Prof. Dr. Ernani Cesar de Freitas Universidade Feevale

_____________________________________________ Profª. Drª. Ana Cristina Fachinelli Universidade de Caxias do Sul (UCS)

_____________________________________________ Prof. Dr. Rudimar Baldissera Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Esta pesquisa é dedicada àqueles que acreditam que a transformação da sociedade pode se dar apenas por meio da transgressão humana, resgatando sua singularidade perante a consciência e a crítica construção de saberes. Àqueles que acreditam que o conhecimento é algo produzido coletivamente nas interações do cotidiano e não somente no lócus (privilegiado) da academia. E, finalmente, àqueles que acreditam que o trabalho manifesta nossa cultura (e nossa identidade) e que por meio dele pode-se alicerçar o futuro, abandonando o obscuro conceito de tripalium rumo à edificação de uma obra.

AGRADECIMENTOS

Dois anos de mestrado: um tempo de transformação. Tal enunciado me era proferido sempre que manifesta a intenção de realizá-lo. Enunciado que também propagarei. Transformação densa, profunda e irreparável. Paradoxal. Tempo de isolamento e de construção do saber. Da certeza de que nada se desenvolve na solidão. Dito isso, o mínimo que posso é agradecer. Agradeço... - à Energia Superior, a quem evoco como Deus: por iluminar minhas escolhas, cercar-me de seres (humanos e não humanos) com inexplicável benevolência e carinho por mim; - a CAPES por financiar esse estudo e à Feevale por confiar o investimento nesta pesquisa e nesta pesquisadora; - aos professores do Mestrado em Processos e Manifestações Culturais por apresentarem múltiplos olhares à cultura e a centralidade da ação humana em sua transformação; - aos professores Paula Puhl, Cintia Carvalho, Sandra Montardo e Humberto Keske (in memoriam) por todo o incentivo, desde a graduação, à permanência na vida acadêmica e a oportunidade de aprendizado; - à professora Ana Cristina Fachinelli que, com suas indicações na qualificação, norteou a construção da análise, além de questionar aspectos fundamentais para o desenvolvimento desta pesquisa e assim a produção efetiva de contribuições aos estudos organizacionais; - ao professor Rudimar Baldissera, cujas orientações advêm da leitura (há longa data) de sua obra. Obrigada pelos conceitos e contribuições à Comunicação. Obrigada pela crítica leitura desta dissertação, que certamente conduziu à construção de resultados relevantes à área; - ao meu estimado orientador, professor Ernani Cesar de Freitas, grande incentivador, exemplo de pesquisador, professor e ser humano. Certamente todos os adjetivos que se possa atribuir a sua pessoa serão ínfimos ante sua presença. Se saio transformada dessa jornada, muito devo aos ensinamentos do senhor que pacientemente conduziu meus passos, desafiou meus medos e amparou minhas angústias; - aos amigos verdadeiros proporcionados à minha jornada nesse mundo; - aqueles que plantaram desde a infância a paixão pela educação; que me ensinaram que a vida se estrutura a cada oportunidade... Pai e Mãe... Faltam-me as palavras. Transborda o amor. Obrigada! - E, finalmente, ao meu grande incentivador, meu esposo. Obrigada por acreditar e mergulhar em meus sonhos comigo. Obrigada por ser um porto seguro e um conselheiro nas horas de aflição. Obrigada por me auxiliar financeiramente quando congressos e livros levavam o valor da bolsa, mas sobraram vários dias para serem vividos até o próximo mês. Espero um dia poder retribuir tudo isso a você!

“Em prol da evolução ou da revolução, a mudança é a essência da vida”. Manuel Castells “Um pouco de audácia é sempre necessário e mesmo no domínio científico, onde corre-se o risco de ser criticado por seus pares, deve-se tentar a aventura”. Patrick Charaudeau

"A meu ver, os otimistas acreditam que este mundo é o melhor possível, ao passo que os pessimistas suspeitam que os otimistas podem estar certos... Mas acredito que essa classificação binária de atitudes não é exaustiva. Existe uma terceira categoria: pessoas com esperança. Eu me coloco nessa terceira categoria”. Zygmunt Bauman

RESUMO

A contemporaneidade, caracterizada pela mundialização, implica mudanças nas relações estabelecidas entre as diversas esferas da vida humana. Dentre as possibilidades para compreender esse fenômeno, com base em uma matriz cultural, seleciona-se como lócus as organizações, perante a relação comunicação e trabalho. Justifica-se a realização da pesquisa, pois trata de uma temática com produção acadêmica recente e restrita a poucos pesquisadores, além de orientar-se pela interdisciplinaridade em busca de um olhar ressignificado ao trabalho. Este estudo tem como objetivo principal identificar e analisar possíveis interpretativos que influenciam a construção de sentidos sobre a atividade laboral mediante os saberes constituídos enunciados no ato de linguagem em editoriais do jornal da empresa Hera. Três eixos teóricos norteiam a reflexão: as noções de cultura e cultura organizacional com referências de Geertz (2008), Morgan (2011), Martin (2004), Galbraith (1989) e Foucault (2007); a concepção de trabalho e suas variáveis, conduzida por Antunes (2009), Schwartz e Durrive (2007) e Durrive (2011); e, por fim, o ponto de vista da comunicação organizacional, na perspectiva interacional, é guiado por Deetz (2010), Baldissera (2009a, b), Oliveira e Paula (2008) e Nouroudine (2002). A análise do discurso, método que fundamenta a interface entre as categorias temáticas selecionadas para análise, ancora-se Semiolinguística de Charaudeau (2010a, 2012a). A pesquisa tem natureza aplicada, é descritiva quanto ao objetivo e contempla a abordagem qualitativa. A limitação da unidade de análise caracteriza o estudo de caso na empresa de automação industrial Hera, localizada no Parque Tecnológico São Leopoldo (Tecnosinos). O corpus é composto por oito editoriais divulgados no jornal da empresa, em edições publicadas entre janeiro de 2012 e junho de 2014. A lente para análise dos dados coletados é a teórico-ergo-discursiva. Como resultado principal, destaca-se que a instrumentabilidade atribuída ao processo comunicação, as prescrições que encarceram as interações e a crença de que as lideranças podem impor aos trabalhadores valores e princípios modalizados pela organização impossibilitam uma perspectiva ressignificada do trabalho, como atividade, e mantém a ele vinculado o sentido do tripallium.

Palavras-chave: Comunicação. Trabalho. Cultura. Organizações. Discurso.

ABSTRACT

The world, in the contemporary, is characterized by globalization and imply changes in the relations between the various spheres of human life. Among the possibilities to understand this phenomenon, based on a cultural matrix, is selected as locus the organizations, before the connection between communication and work. Justified the research, because this is a theme with recent and restricted academic researchers production, and also be guided by interdisciplinarity in search of a reframed to work look. This study aims to identify and analyze possible interpretation that influence the construction of meaning on the labor activity constituted by the knowledge contained in the act of language in newspaper editorials from company Hera. Three axes guiding theoretical reflection: the notions of culture and organizational culture with references to Geertz (2008), Morgan (2011), Martin (2004), Galbraith (1989) and Foucault (2007); the concept of work and its variables, conducted by Antunes (2009), Schwartz and Durrive (2007) and Durrive (2011); finally, the organizational point of view from communication, interactive perspective, is guided by Deetz (2010), Baldissera (2009a, b), Oliveira and Paula (2008) and Nouroudine (2002). The discourse analysis, method that underlies the interface between the themes selected for analysis, is anchored Semiolinguística of Charaudeau (2010a, 2012a). Research has applied nature, is descriptive of the purpose and contemplates the qualitative approach. The limitation of an unit of analysis characterizes the case study in the industrial automation company Hera, located in São Leopoldo, at Technology Park (Tecnosinos). The corpus consists of eight editorials published in the newspaper company published between January 2012 and June 2014 editions. The lens to analyze the data collected is the theoretical-ergo-discursive. As a main result, it is emphasized that the instrumentality assigned to the communication process, the prescriptions that imprison the interactions and the belief that leaders can impose on workers values and principles for organizing modalizing, makes impossible one resignified perspective of work as activity, and maintains attached to it the sense of tripallium.

Keywords: Communication. Work. Culture. Organizations. Discourse.

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Grupos de Pesquisa CNPq ..................................................................................... 19 Gráfico 2 - Gênero da Classe Trabalhadora da organização Hera ......................................... 127 Gráfico 3 - Média Salarial da Classe Trabalhadora da empresa Hera por Gênero ................ 127 Gráfico 4 - Principais Níveis de Ensino – Classe Trabalhadora Hera ................................... 128

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Linhas de Pesquisa dos Grupos de Pesquisa CNPq ............................................... 20 Quadro 2 - Temáticas Abordadas em Dissertações de Mestrado na Área da Comunicação .... 21 Quadro 3 - Categorias e Artigos Publicados em Congressos Nacionais da Intercom – 2003 a 2013 .......................................................................................................................................... 22 Quadro 4 - Categorias dos Artigos Intercom ............................................................................ 23 Quadro 5 - Ideologias Organizacionais Principais ................................................................... 43 Quadro 6 - Aspectos da Alienação (ou Estranhamento) no Trabalho ...................................... 55 Quadro 7 - Organização Científica x Flexível do Trabalho ..................................................... 58 Quadro 8 - Como reconhecer o trabalho, quando não é mais trabalho? ................................... 62 Quadro 9 - Influências da Ergologia......................................................................................... 65 Quadro 10 - Ingredientes da Competência ............................................................................... 74 Quadro 11 - Modalidades da Linguagem e Trabalho ............................................................... 78 Quadro 12 - Diferenças de Sentido: linguístico e discursivo ................................................... 88 Quadro 13 - Dimensão Interacional entre os Parceiros do Ato de Linguagem ........................ 91 Quadro 14 - Modos de Organização do Discurso .................................................................... 96 Quadro 15 - Componentes da Situação de Comunicação....................................................... 100 Quadro 16 - Principais Visadas Comunicativas ..................................................................... 102 Quadro 17 - Categorias Teórico-ergo-discursivas do Dispositivo de Análise ....................... 119 Quadro 18 - Características da Situação da Comunicação ..................................................... 125 Quadro 19 - O Mapa de Possíveis Interpretativos: considerações acerca da Articulação A .. 131 Quadro 20 - Cultura Organizacional e Competências segundo Durrive (2011)..................... 137 Quadro 21 - Mapa de Possíveis Interpretativos: considerações acerca da Articulação B ...... 138 Quadro 22 - O Ato de Linguagem da Hera: mapa de saberes investidos ............................... 149 Quadro 23 - Dedução Explicação: modo argumentativo e a comunicação informacional .... 150

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - O Ato de Linguagem ............................................................................................... 36 Figura 2 - Cultura Organizacional: cultura, identidade e poder ............................................... 50 Figura 3 - Uma Representação para a Atividade ...................................................................... 64 Figura 4 - O Debate de Normas e as Transgressões ................................................................. 75 Figura 5 - Ressignificação do Trabalho: a perspectiva da atividade ........................................ 80 Figura 6 - Representação da Teoria Semiolinguística de Charaudeau ..................................... 92 Figura 7 - Duplo Processo de Semiotização ............................................................................. 94 Figura 8 - Contrato de Comunicação ...................................................................................... 100 Figura 9 - Níveis do Modelo Semiolinguístico ...................................................................... 106 Figura 10 - Mapa das Categorias de Classificação da Pesquisa ............................................. 113 Figura 11 - Fases da Pesquisa ................................................................................................. 114 Figura 12 - Dispositivo de Análise (Roteiro) ......................................................................... 117 Figura 13 - Fases da Organização dos Dados ......................................................................... 122 Figura 14 - Fábrica da Hera em São Leopoldo ....................................................................... 133 Figura 15 - Construção e Disputa de (alguns) Sentidos ......................................................... 151

SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS .......................................................................................... 15 2 TRANSGRESSÕES DO SUJEITO E AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NO TERRENO DAS INCERTEZAS ....................................................................................... 27 2.1 TERRENOS DE INCERTEZAS: A CULTURA E IDENTIDADE ............................. 29 2.1.1 A Teia e suas Fronteiras: a cultura em processo .................................................. 30 2.1.2 Ditos, Não Ditos e Seus Sentidos: assim caminha a identidade .......................... 33 2.2 UMA FRONTEIRA DE INCERTEZAS: MOBILIZAÇÃO DE SENTIDOS NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL ............................................................................. 37 2.2.1 Prismas Diversos e Sentidos Convergentes: ponderações acerca da cultura organizacional ...................................................................................................... 39 2.2.1.1 Relações de Força e Contexto: a disputa de sentidos nas organizações ..... 44 2.3 SUJEITOS EM INTERAÇÃO: MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NAS ORGANIZAÇÕES ........................................................................................................ 49 3 INTERAÇÕES NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL: POSSIBILIDADE DE RESSIGNIFICAÇÃO DO TRABALHO? ........................................................................ 51 3.1 A NOÇÃO DE TRABALHO E SEUS TORTUOSOS CAMINHOS ........................... 53 3.2 O TRABALHO: UMA ATIVIDADE HUMANA ........................................................ 60 3.3 EM BUSCA DOS ENIGMAS DA ATIVIDADE: A ERGOLOGIA ........................... 64 3.3.1 Transgressões e Renormalizações: a fonte das normas ....................................... 68 3.3.2 Da Execução ao Uso de Si: a competência e o diálogo dos saberes .................... 71 3.4 LINGUAGEM: COMUNICAÇÃO E TRABALHO .................................................... 76 4 ORGANIZAÇÕES, COMUNICAÇÃO E TRABALHO: O DESFILE SIMBÓLICO DOS DISCURSOS QUE NORTEIAM A ATIVIDADE .................................................. 82 4.1 ANÁLISE DO DISCURSO: UMA DAS PERSPECTIVAS PARA OS ESTUDOS DA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL .................................................................... 85 4.2 ANÁLISE DO DISCURSO: ALGUMAS PONDERAÇÕES ...................................... 88 4.2.1 Teoria Semiolinguística de Charaudeau: o ato de linguagem.............................. 90 4.2.2 A Semiotização do Mundo .................................................................................. 94 4.2.2.1 Modos de Organização do Discurso: fonte das operações de transformação 96 4.2.3 O Contrato de Comunicação ................................................................................ 99 5 “BAGAGEM” E PERCURSO RUMO AOS “ENIGMAS DE HEFESTO”................ 108 5.1 O OBJETO DE PESQUISA ........................................................................................ 108 5.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................ 110 5.3 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS .............. 114 5.3.1 Especificação do corpus .................................................................................... 114 5.3.2 Dispositivo de Análise: organização, análise e interpretação dos dados ........... 116 6 COMUNICA OU TRUMBICA? O ATO DE LINGUAGEM DA HERA E OS SENTIDOS SOBRE A ATIVDADE ................................................................................ 124 6.1 FASES 1 E 2: ARTICULAÇÕES A E B E OS MAPAS DE POSSÍVEIS INTERPRETATIVOS ................................................................................................. 124 6.2 FASE 3: O MAPA DE SABERES INVESTIDOS E OS SENTIDOS DA ATIVIDADE 148

7 QUE SEGREDOS, AFINAL, PODE ‘HEFESTO’ REVELAR? CONSIDERAÇÕES RUMO A UM PONTO (QUASE) FINAL....................................................................... 156 REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 161 APÊNDICES ......................................................................................................................... 171 APÊNDICE A - Articulação A: Circunstâncias de Discurso X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional ................................................................................ 172 APÊNDICE B - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição 77 ............................................................ 175 APÊNDICE C - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição 78 ............................................................ 176 APÊNDICE D - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição Especial Editorial 1 ................................ 177 APÊNDICE E - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição Especial Editorial 2 ................................ 179 APÊNDICE F - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição 80 ............................................................ 181 APÊNDICE G - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição 81 ............................................................ 182 APÊNDICE H - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição 82 ............................................................ 183 APÊNDICE I - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição 83 ......................................................................... 184 APÊNDICE J - Articulação B: Usos de Si X Relações Poder ......................................... 185 ANEXOS ............................................................................................................................... 193 ANEXO A - Editorial do Jornal da Empresa HERA, Edição 77 ..................................... 194 ANEXO B - Editorial do Jornal da Empresa HERA, Edição 78 ..................................... 195 ANEXO C - Editorial 1 do Jornal da Empresa HERA, Edição Especial ......................... 196 ANEXO D - Editorial 2 do Jornal da Empresa HERA, Edição Especial ......................... 197 ANEXO E - Editorial do Jornal da Empresa HERA, Edição 80 ..................................... 198 ANEXO F - Editorial do Jornal da Empresa HERA, Edição 81 ..................................... 199 ANEXO G - Editorial do Jornal da Empresa HERA, Edição 82 ..................................... 200 ANEXO H - Editorial do Jornal da Empresa HERA, Edição 83 ..................................... 201

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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS Hefesto: deus do fogo; deus do trabalho. Filho bastardo de Zeus, gerado pela ira de Hera frente às traições de seu marido. Nasceu feio, fraco e deformado, o que fez com que sua mãe o arremessasse para fora do Olimpo. O destino do deus defeituoso, no entanto, não é catastrófico. Resgatado e criado pelas divindades Tétis e Eurínome, Hefesto, ainda criança, demonstra seus talentos na criação de peças de ourivesaria, manipulando joias sem beleza igual. O passar dos anos faz o ódio de Hefesto aumentar e a ânsia de vingança passa a orientar seu agir. Faz, então, um trono para presentear sua mãe. Trono o qual ela não poderia mais desvincularse, já que Hefesto, além de deus do fogo, da marcenaria e da ourivesaria, manifesta seu poder para atar e desatar; capaz de tudo ligar e desligar. Esses poderes garantem a Hefesto seu lugar no Olimpo. Dentre os notáveis trabalhos atribuídos a Hefesto, a mitologia cita os raios de Zeus, o tridente de Poseidon (Netuno), a couraça de Héracles (Hércules), as flechas de Apolo e as fulgurantes armas de Aquiles na Guerra de Tróia1. A história de Hefesto inspira a reflexão deste estudo de dissertação. Ante o desafio de fazer parte junto dos demais pesquisadores que buscam identificar possibilidades para ressignificar o trabalho, os dramas da vida do “deus defeituoso” assemelham-se às vinculações negativas que acompanham a noção de trabalho desde os mais remotos tempos. Assim como Hefesto fez uso de seus talentos para garantir seu espaço no Olimpo e interviu de forma fundamental às grandes batalhas gregas por meio de seu trabalho, busca-se o olhar às culturas sob as arestas das intervenções das atividades laborais às representações identitárias dos sujeitos, sob um enfoque para além da relação produção-consumo, mas ao rumo do legado deixado por cada um ante sua obra. A tenuidade existente entre os universos pessoal e coletivo é cada vez mais evidente. As relações entre indivíduos e organizações transcendem os níveis hierárquicos e de comunicação rapidamente, resultando em intervenções significativas na cultura que os envolve. As leituras de Bauman (1999) e Lipovetsky (2007), alinhadas com as diversas informações disponíveis através das mídias, convidam à reflexão acerca da sociedade que se está construindo. É possível perceber muitas das relações sociais pautadas pela competitividade nociva, que gera vínculos efêmeros, ligados a interesses momentâneos. De porte dessas informações, põe-se em reflexão a pertinência das organizações nestas transformações da cultura, pois elas representam uma instância essencial de socialização, 1

Fonte: Coleção Deuses da Mitologia e Otto Marques da Silva.

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através do trabalho. Sujeitos de origens diversas são postos em um mesmo espaço, a fim de que produzam riqueza, à sua fonte pagadora, a si mesmo e à sociedade. A comunicação organizacional mobiliza esta imersão à qual os sujeitos são imbricados, visto que por meio dela são compreendidos discursos que movimentam as relações dos trabalhadores entre si e com seu trabalho. Os sujeitos, enquanto seres que habitam a sociedade e necessitam compartilhar saberes para que seu convívio ocorra, carecem de orientadores de comportamentos, expressos, registrados e propagados por meio da cultura que é socializada pelas instancias familiares, pela educação formal, o trabalho, dentre outros espaços coletivos que os congregam. Nesse sentido, cabe a reflexão acerca das características da cultura que, no tempo atual, é compartilhada sem limitações de território, de forma mundializada. Essa transformação na proliferação de diferentes elementos de representação tem implicação intensa no que se refere à formação da identidade dos sujeitos em constante interação. Com base na proposta dos processos de socialização, elucidados por Berger e Luckmann (2012), e sob o enfoque do trabalho, tem-se a perspectiva dos vínculos estabelecidos em sociedade, já que, neste espaço, o do trabalho, o sujeito permanece a maior parte de seu tempo, assim como apreende, por meio da experiência, conceitos fundamentais para seu viver. Diante dessas percepções, que conduzem novas compreensões a respeito do meio onde estão inseridos os sujeitos, emerge o entendimento do trabalho, concebido como atividade, que ultrapassa a visão científica2 sobre o termo. Neste entendimento, a subjetividade humana está em voga, logo, a comunicação exerce papel fundamental na formação desses sujeitos, que estão imersos nas organizações. Os sujeitos advindos da sociedade, por meio de suas ações, constroem e reconstroem as organizações e são, assim, motrizes de manifestações culturais que se propagam por meio da comunicação. Os elementos escolhidos para compor os discursos transmitem interesses e expressam possibilidades de aproximação entre públicos e organização, sendo a base para representação da identidade organizacional, que é interpretada, ressignificada e difundida por seus interlocutores. Dessa forma, além de promover uma cultura própria, com orientações de

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A “Organização Científica do Trabalho”, ou taylorismo, propõe que o trabalho humano é uma atividade simples, pois é possível “antecipá-la totalmente, de prepará-la de tal forma uma vez modelada pelos outros, aqueles que tivessem de executá-la ‘não teriam de pensar’, como disse Taylor”. (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007, p. 37). A superação dessa perspectiva se faz necessária, já que, segundo Schwartz e Durrive (2007, p. 39), “é na distância – e no porque desta distância – entre os projetos do taylorismo e as realidades concretas, nas fábricas onde ele foi iniciado e experimentado que, creio,vai-se encontrar o que chamamos de atividade”. Essa noção permeia os estudos da Ergologia.

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conduta e de fazer da atividade, as organizações também se adéquam, socializam e acoplam sujeitos com suas histórias, vivências e crenças individuais, ou seja, com uma cultura própria, que necessita interagir com o todo. De acordo com essa breve reflexão, manifesta-se o interesse central deste estudo na ação humana no trabalho, o que promove o reconhecimento dos comportamentos dos sujeitos em seus coletivos e permite algumas ponderações acerca dos movimentos constituintes da realidade social. Perante esses argumentos, contextualiza-se e apresenta-se a temática central desta dissertação: um olhar para o trabalho frente os múltiplos movimentos culturais realizados pelos sujeitos. Delimita-se tal enfoque na relação comunicação e trabalho manifesta na interação entre sujeito e atividade, em face dos saberes constituídos pelos discursos organizacionais que influenciam a construção de sentidos sobre a atividade laboral. Justifica-se a pertinência do estudo à sociedade, visto que contempla a interdisciplinaridade mediante as conexões teóricas realizadas e que conduzem a observação das organizações enquanto lócus de manifestações culturais, tendo por base a linguagem sobre trabalho. Trata-se de uma temática que almeja englobar conceitos de áreas ainda pouco exploradas, como a ergologia3, em associação com os conceitos de cultura, organizações e comunicação, com ênfase nos discursos organizacionais e suas implicações às manifestações culturais e à representação identitária. Por versar-se como um estudo interdisciplinar, defende-se a contribuição ao meio científico. Ao dar fé ao entendimento de que respostas compartimentadas, que isolam o objetivo do subjetivo, não mais se adéquam às emergências ambientais contemporâneas, aceita-se uma compreensão do trabalho diante da perspectiva da linguagem, que vincula os sujeitos por meio de suas práticas. Assim, justifica-se a compreensão dos espaços coletivos estruturados diante de objetivos comuns e trocas linguageiras, uma vez que são transformados por processos de mundialização4, decorrentes da conversão entre o global e o local e, que resultam em uma padronização comportamental, promovida pela cultura, que permeia todas as instâncias de socialização, inclusive a do trabalho, seja ele remunerado ou não.

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A Ergologia é uma área de estudos interdisciplinar advinda da filosofia, em interface com a sociologia, psicologia, linguística, pedagogia cujo enfoque está nos impactos da linguagem na atividade laboral. O aprofundamento conceitual se dará no capítulo 3 da dissertação. 4 Ortiz (1998) apresenta o conceito com base na noção de globalização, que se refere às trocas financeiras realizadas entre os países. Da mesma forma, além dos valores monetários, os valores simbólicos são compartilhados, emergindo a noção de transações culturais, a mundialização.

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Decorrente dessa noção atribui-se valor à linha de pesquisa Linguagens e processos comunicacionais5, visto que a proposta reside no estudo do trabalho manifesto pelos discursos organizacionais, perante a interface das proposições da Ergologia, da teoria Semiolinguística de análise do discurso e das acepções teóricas de cultura e de identidade. Esse viés de pesquisa decorre de uma construção de pensamento abrangente, convergente e circular, que se assenta no entendimento de que as práticas sociais, resultantes da ação do sujeito, produzem uma dupla implicação: à cultura que é movimentada perante os novos processos estruturantes da sociedade, e ao sujeito, que os realiza com base naquilo que apreende das situações coletivas, com o mundo e com o outro, e que se atualiza diante de novas construções de sentido. O trabalho constitui-se como espaço fundamental dessas relações humanas, enquanto meio de socialização que é viabilizado pela comunicação organizacional. Ressalta-se, ainda, que a investigação tem por centro o sujeito, produto e produtor social. Para tal, o embasamento analítico adotado é interacional - discursivo, uma vez que os pesquisadores, ancorados em teóricos das ciências humanas e sociais, compreendem que por meio das trocas linguageiras se constituem as manifestações culturais, nos diversos espaços de convívio coletivo. Da noção cultura adotada para este estudo, julga-se que as organizações sejam um importante lócus de mobilização de saberes e orientações de comportamento, diante das práticas comunicativas promovidas em conjunto com os trabalhadores. A fim de fundamentar a justificativa dessa pesquisa, desenvolveu-se um mapeamento acerca das contribuições acadêmicas que enfocam a relação comunicação e trabalho. Tal atitude permitiu o delineamento, de forma mais produtiva, da problemática orientadora do estudo, bem como dos objetivos que o impulsionam. A definição das fontes dos dados acerca da produção acadêmica atendeu a alguns critérios previamente delimitados pela autora. Dentre as questões que precisariam ser observadas, estão a legitimidade acadêmica e a disponibilidade do maior volume de trabalhos possível. Por tratar-se de uma temática interdisciplinar, foram privilegiados espaços que assim a registram, o que orientou a escolha de três bancos de dados: do diretório de projetos de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, do banco de teses e dissertações da Capes e anais dos Grupos de Trabalho, dos Congressos Nacionais da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom. Iniciou-se a investigação com a identificação dos grupos de pesquisa de universidades brasileiras, registradas no diretório do Conselho Nacional de Desenvolvimento 5

Linha vinculada ao Mestrado em Processos e Manifestações Culturais, da Universidade Feevale.

19 Científico e Tecnológico – CNPq6, com certificação da instituição de ensino e com atualização realizada no segundo semestre de 2013, a fim de garantir dados recentes. Tais critérios garantem validade dos dados apresentados. Os grupos de pesquisa são uma rica fonte para localizar os principais pesquisadores, representados por seus coordenadores, o que facilita o acesso a bibliografias utilizadas, bem como a produção do grupo. A consulta foi realizada em 21 de janeiro de 2014, com base nas palavras-chave “comunicação e trabalho” e “linguagem e trabalho”. Tal escolha deve-se ao referencial teórico que norteia esse estudo acerca da noção de trabalho, cuja evidência está no uso dos pressupostos da Ergologia, tanto pelas ciências da comunicação quanto da linguagem. Foram localizados 6 grupos de pesquisa, sendo as áreas do conhecimento distribuídas conforme o Gráfico 1. Gráfico 1 - Grupos de Pesquisa CNPq

Fonte: elaborado pela autora

Conforme evidencia o Gráfico 1, a concentração dos estudos sobre o trabalho e sua relação com a linguagem e comunicação está na área da Linguística, sendo que nas Ciências Sociais Aplicadas apenas um grupo de pesquisa trabalha na produção de conhecimento. Quanto à localização, a região Sudeste concentra quatro grupos, distribuídos na USP (1), PUCSP (2) e UFRJ (1). Os outros dois grupos estão na região sul, nas universidades UDESC e UTFPR. Tais fatores demonstram a necessidade de ampliação dos estudos relativos à temática comunicação e trabalho, além da expansão da reflexão aos mais diversos territórios do país, já que a forma como o sujeito se relaciona com seu trabalho é um aspecto fundamental para compreender o comportamento humano em sua especificidade cultural. Quanto às linhas de pesquisa, o Quadro 1 sintetiza os principais interesses de estudo: 6

Diretório existente desde 1992.

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Quadro 1 - Linhas de Pesquisa dos Grupos de Pesquisa CNPq

Instituição

Área

Nome

Comunicação

Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho

PUCSP

Linguística, Letras e Artes; Letras

DIRECT- Em Direção à Linguagem do Trabalho

UFRJ

Ciências da Saúde; Enfermagem

O Mundo do Trabalho, Comunicação e Educação em Enfermagem

PUCSP

Linguística, Letras e Artes; Letras

Atelier Linguagem e Trabalho

USP

UTFPR

UDESC

Linguística, Letras e Artes; Letras

Ciências Humanas

Discursos sobre Trabalho, Tecnologia e Identidades

Comunicação Trabalho e Educação

Linhas de Pesquisa - Epistemologia e Teorias da Comunicação - Linguagem e Produção de Sentido em Comunicação - Análise Critica do Discurso - Linguagem nas Relações de Trabalho - Linguística de Corpus - Linguística Sistêmico-funcional - A comunicação e o ensino de Enfermagem. - Estágio extracurricular em Enfermagem - Modelos teóricos e Políticas educacionais. - O mercado de trabalho e a formação do enfermeiro - Sistematização de práticas educativas nas organizações, serviços e grupos humanos. - Estudo de discursos que circulam em esferas específicas: da educação, da mídia, da saúde, empresarial e jurídica. - Estudo de práticas de linguagem em diferentes situações de trabalho. - A formalização discursiva do universo do trabalho e da tecnologia em textos literários, de comunicação e outros. - Literatura infantojuvenil e formação do leitor: A representação discursiva do trabalho e da tecnologia - Poesia brasileira: o humano, o social e o estético. - Representatividade discursiva das identidades nacionais em obras da cultura brasileira. - Educação e Comunicação - Trabalho, educação e tecnologia.

Atualização

17/11/2013

16/11/2013

12/11/2013

08/11/2013

20/10/2013

29/08/2013

Fonte: elaborado pela autora

Percebe-se que, embora as linhas de pesquisa sejam fortemente marcadas pela área principal, seguem uma abordagem interdisciplinar à temática, além de a maioria apresentar especificidade quanto ao campo o qual pesquisam, como ensino ou saúde, por exemplo. O uso

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de situações de trabalho apresentadas em obras literárias como campo de análise também chama atenção, pois pode-se supor que tal espaço contribui à legitimação do imaginário, sobre o trabalho, que permeia o ambiente organizacional. Quanto à produção dos grupos, considerando os dados disponíveis no currículo Lattes dos líderes, no período de 2003-2013, destacam-se duas pesquisadoras: Maria Cecília Pérez de Souza e Silva com 11 artigos publicados, 1 livro organizado e 7 capítulos em livros; Roseli Aparecida Fígaro Paulino com 16 artigos, 3 livros organizados/publicados e 7 capítulos de livros. Com base nesses aspectos, buscou-se o banco de teses e dissertações7 mantido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Capes. Com registros desde 1987, condensa um grande volume de trabalhos da pós-graduação de todo o Brasil, nas diversas áreas do conhecimento. A ferramenta de filtro permite a seleção de ano, palavraschave, nível, etc., o que facilita e qualifica a busca diante do número de produções. Além disso, o acesso aos dados principais do estudo como autor, área, universidade e resumo estão à disposição para consulta. Ao utilizar as mesmas categorias aplicadas para acesso aos grupos de pesquisa, foram encontradas 01 tese e 12 dissertações relacionadas à área da comunicação, 02 teses e 29 dissertações vinculadas à linguística. Da leitura dos resumos dessas produções, indica-se que, quanto às temáticas abordadas nas teses, a linguística enfoca o trabalho a partir das lentes do discurso, enquanto a comunicação é pensada no nível técnico para exercício do trabalho. Dentre as temáticas abordadas nas dissertações, os estudos advindos da linguística referem-se essencialmente à análise do discurso (linha francesa)8, aplicada à relação profissional – trabalho nas áreas da educação (professor – aluno – escola – mídia) e da saúde (médicos – paciente – demais profissionais da saúde). Já as temáticas abordadas nas dissertações de mestrado na comunicação são apresentadas no Quadro 2: Quadro 2 - Temáticas Abordadas em Dissertações de Mestrado na Área da Comunicação

Temática Função da Comunicação nas Organizações Representação do trabalho/ trabalhador no cinema Análise do discurso de classe profissional 7

(continua) Quantidade 3 3 3

Disponível em: . Optou-se por esse acesso, pois o portal de Teses e Dissertações da Capes (www.capes.gov.br/servicos/banco-de-teses) esteve em manutenção no período consultado, conforme aviso disponível em: . Acesso em: 21.12.2013; 21.01.2014. 8 Michel Pêcheux e Dominique Maingueneau. Alguns estudos também utilizam diretamente a proposta do russo Mikhail Bakhtin.

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(conclusão) 2 1

Comunicação e trabalho Comunicação e trabalho infantil Fonte: elaborado pela autora

Ao dar prioridade ao campo da comunicação, ao qual se busca contribuir essencialmente, elenca-se a terceira fonte dos dados: os anais dos congressos nacionais realizados pela Intercom, no período de 2003 a 2013. A seleção dos artigos é depreendida a partir dos seguintes critérios: trabalhos publicados no Grupo de Trabalho (GT) “Relações Públicas e Comunicação Organizacional”, cujas palavras-chave mencionassem uma das três categorias: trabalho, comunicação interna ou identidade. A opção pelo termo comunicação interna tem relação com o GT selecionado, já que dentre as várias perspectivas da comunicação organizacional, acredita-se que essa seja a mais utilizada no encontro dos estudos sobre a relação comunicação e trabalho. Já a categoria identidade foi abordada, pois tangencia o interesse na representação decorrente das práticas comunicacionais no trabalho. O Quadro 3 sintetiza os resultados de forma quantitativa: Quadro 3 - Categorias e Artigos Publicados em Congressos Nacionais da Intercom – 2003 a 2013

Ano

Submissões

Local

2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003

30 43 49 49 57 34 39 42 40 46 31

Manaus Fortaleza Recife Caxias do Sul Curitiba Natal Santos Brasília Rio de Janeiro Porto Alegre Belo Horizonte

Total

Categoria Identidade 3 3 2 5 5 1 2 0 3 1 0

Categoria Trabalho 0 0 1 3 2 0 1 1 2 0 2

Categoria Comunicação Interna 2 8 4 3 6 3 4 4 3 3 3

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12

43

Fonte: elaborado pela autora

Ao considerar o período de dez anos fixado para a coleta desses dados, percebe-se que a produção acadêmica acerca do tema comunicação trabalho é restrita, o que ratifica a importância de pesquisá-lo. Com o propósito de observar detalhadamente a produção científica em cada uma das categorias, foram analisados os resumos dos trabalhos selecionados, o que segue, diante de novas categorizações, no Quadro 4:

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Quadro 4 - Categorias dos Artigos Intercom

Categoria: Identidade - variações de abordagem Identidade do sujeito construída a partir do discurso das organizações Identidade do profissional de Relações Públicas Identidade Organizacional (em relação a estratégias de imagem) Identidade e cultura Identidade construída no trabalho Categoria: Trabalho - variações de abordagem Discurso prescritivo das organizações Trabalho imaterial Relações de trabalho: cliente/organização/ funcionário Relações de trabalho na constituição da identidade do trabalhador Uso de tecnologias no trabalho Categoria: Comunicação Interna - variações de abordagem Mediação tecnológica Liderança Discursos Organizacionais (Formais e Informacionais – Interação) Planejamento da Comunicação Interna (estratégias, processo, fluxo)

Quantidade 3 3 16 2 1 Quantidade 3 1 3 3 2 Quantidade 13 3 14 13

Fonte: elaborado pela autora

A análise das categorias comunicação interna, trabalho e identidade revela a diversidade de abordagens que ancoram a observação do trabalho sob a ótica da comunicação. Por um lado, tal realidade é importante quanto à busca de possibilidades diferentes e adequadas às práticas da contemporaneidade, além da liberdade de formação científica dos pesquisadores. Por outro lado, pode-se questionar a legitimidade da área perante pluralidade de noções que norteiam a construção do conhecimento acadêmico em cursos de graduação e pós-graduação. Diante do panorama exposto pelos dados encontrados nesse mapeamento que contempla os grupos de pesquisa cadastrados no CNPq, teses e dissertações nas áreas de comunicação e linguística e os trabalhos apresentados na edição nacional do evento Intercom, são possíveis algumas inferências sobre a pesquisa em comunicação e trabalho no Brasil. Percebe-se que poucos são os grupos cadastrados no CNPq que abordam a relação trabalho e comunicação, ou linguagem. Esse dado por si justifica a ampliação de pesquisas que dão ênfase à subjetividade do sujeito para a realização da atividade laboral, pois daí emergem muitos dos elementos que norteiam as demais escolhas simbólicas que coordenam a vida pessoal, em família, na coletividade. Embora muitos dos estudos enfatizem a imbricação dos discursos nos ambientes organizacionais, há uma carência na perspectiva da interação promovida pela comunicação organizacional e que influencia a elaboração discursiva dos diversos atores. Conforme apontam Freitas e Guerra (2004), é necessário buscar a interdisciplinaridade para os estudos

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da comunicação organizacional, já que para compreendê-la é necessário acessar noções relativas à linguística, antropologia, sociologia, dentre outras ciências humanas e sociais. Dentre a produção, avalia-se que as teorias tradicionais, que posicionam a comunicação enquanto ferramenta a favor das organizações, ainda prevalecem, visto que nas categorias comunicação interna e identidade, muitos dos trabalhos relacionam-se com tal perspectiva. Acredita-se que essa situação, além de atentar ao cenário do ensino nas universidades brasileiras, limita a produção da pesquisa ao âmbito tático, ou seja, no êxito das exigências organizacionais para sua manutenção no mercado entre os concorrentes. Da apreensão dos dados referentes ao “estado da arte” brevemente apresentado, justifica-se o tema escolhido para abordagem que centraliza no sujeito as transformações decorrentes na contemporaneidade. Importa, então, refletir sobre como percebem as organizações esses movimentos mutantes e estabelecer contraposições entre a teoria e as práticas organizacionais. Para a investigação proposta, delineiam-se duas questões norteadoras: 1. O ato de linguagem da Hera9 caracteriza a cultura organizacional pela centralidade nas lideranças, um elevado volume de prescrições comportamentais e reduz a atividade à execução de tarefas? 2. As escolhas enunciativas que compõem os editoriais do jornal da empresa neutralizam a produção de um olhar ressignificado ao trabalho, perante a recusa das interpretações e interações emergentes do cotidiano do ambiente laboral. A comunicação é uma prática linear, controlada pela gestão? O objetivo geral da investigação centrou-se em identificar e analisar possíveis interpretativos que influenciam a construção de sentidos sobre a atividade laboral perante os saberes constituídos enunciados no ato de linguagem em editoriais do jornal da empresa Hera. Foram estabelecidos quatro objetivos específicos: a) articular as noções de cultura, de cultura organizacional e de identidade, a fim de reconhecer como as interações do cotidiano no ambiente laboral produzem impactos à representação identitária dos trabalhadores; b) identificar possibilidades de ressignificação do trabalho na contemporaneidade a partir da noção de atividade na perspectiva da ergologia;

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Nome fictício, pois a organização não autorizou a divulgação de seu nome.

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c) compreender como a comunicação organizacional influencia a produção de sentidos com base nos múltiplos discursos tensionados no ambiente de trabalho, mediante pressupostos da teoria Semiolinguística de análise do discurso; d) apresentar possíveis construções de sentido sobre a atividade diante das estratégias discursivas enunciadas pela Hera em seu ato de linguagem no jornal de empresa. Das considerações teóricas, elenca-se a relação comunicação e trabalho como objeto de estudo, que se delineia também diante de suas condições empíricas, dado o universo selecionado com base nos critérios apresentados no capítulo 5 desta dissertação. A unidade de análise é a empresa Hera, fundada na década de 1980 e localizada no Parque Tecnológico de São Leopoldo (Tecnosinos). Seu negócio é desenvolver tecnologia para automação de processos industriais. A empresa conta com 440 trabalhadores e publica quadrimestralmente um jornal, destinado a diversos públicos, como clientes, fornecedores e também aos funcionários. Das edições publicadas no período de janeiro de 2012 a junho de 2014 foram analisados os editoriais, totalizando oito. Quanto aos procedimentos metodológicos, abordados a partir das categorias clássicas (PRODANOV; FREITAS, 2013), trata-se de uma pesquisa de natureza aplicada, guiada por objetivos exploratório e descritivo e abordagem qualitativa à problematização proposta. Devido à limitação do universo, uma unidade de análise, caracteriza-se o estudo de caso, desenvolvido com base em dois procedimentos técnicos de documentação indireta para coleta de dados: a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental em jornais de empresa. A organização dos dados é realizada por meio da técnica Mapa de Associação de Ideias (VERGARA, 2005; SPINK, 2010), que permite compreender a relação entre os conteúdos a partir de categorias específicas. A lente para análise dos dados coletados será teórico-ergo-discursiva, visto que congrega a interface entre os conceitos teóricos relativos à cultura organizacional, à comunicação organizacional e ao trabalho; as proposições teóricometodológicas da ergologia, que compreendem os usos de si, os saberes e a linguagem e, por fim, a análise do discurso de base Semiolinguística. Tais aspectos são postos em interação por meio de um dispositivo de análise elaborado perante as especificidades do objeto construído para essa investigação. A dissertação é estruturada em sete capítulos, sendo o primeiro as considerações iniciais. No capítulo dois, realiza-se uma contextualização acerca das relações humanas na contemporaneidade, com ênfase nas situações de trabalho e no ambiente laboral. Diante da apreensão da noção de cultura, propõe-se a contemplação das organizações no cenário social enquanto lócus profícuo de saberes. Tal olhar favorece o entendimento da representação

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identitária dos sujeitos através dos discursos que permeiam as relações de poder da atividade laboral. Destaca-se o uso das propostas teóricas de Cuche (1999), Geertz (2008), Martin (2004), Morgan (2011), Galbraith (1989), Foucault (2007), Silva (2013) e Charaudeau (2008). A reflexão sobre a noção de trabalho se estende no capítulo três. Perante a apresentação de aspectos referentes ao mundo do trabalho, abordam-se os diversos sentidos relacionados ao fazer laboral e que são desenvolvidos ao longo do tempo. Dos gregos aos ergólogos, chega-se à noção de trabalho como atividade humana que é capaz de transgredir as normalizações postas e transformar a relação sujeito–mundo. A linguagem configura-se como principal fomento da intervenção do sujeito no cotidiano organizacional. Para esse bloco teórico-metodológico, conta-se com as acepções de Antunes (2009), Sennett (2009), Marx (2006), Schwartz e Durrive (2007), Schwartz (2004, 2011, 2013), Trinquet (2010), Durrive (2011) e Faïta (2007). No quarto capítulo, discute-se a comunicação organizacional sob a perspectiva da dimensão da atividade laboral, na relação comunicação e trabalho. Tais dados são fundamentados por Deetz (2010), Baldissera (2009a, b, 2014), Oliveira e Paula (2008), Fairhust e Putnam (2010), Nouroudine (2002). A interface com a noção de cultura organizacional defendida no capítulo 2 evidencia a tendência do uso da análise do discurso para compreender a comunicação construção e disputa de sentido. Desse modo, opta-se pela abordagem Semiolinguística, a qual é ancorada na perspectiva de Charaudeau (2008, 2010a, 2012a). A descrição metodológica é apresentada no capítulo cinco. A partir de Prodanov e Freitas (2013), Gil (2008), Chizzotti (2010), Vergara (2005) e Spink (2010) explicam-se os procedimentos metodológicos adotados. A construção do objeto, a especificação do corpus, a organização dos dados e a composição do dispositivo de análise, elaborado com base nas proposições teórico-ergo-discurvivas, também são contemplados nesse capítulo. O capítulo seis apresenta a análise aos editoriais do jornal da empresa Hera construída a partir da proposição metodológica. Por fim, as considerações finais sintetizam os principais resultados diante dos objetivos e questões norteadoras. Postas a temática, a justificativa, as problemáticas norteadoras, bem como os objetivos que delineiam o estudo, pôde-se estruturar tanto o marco teórico, quanto os procedimentos metodológicos para constituição e compreensão da análise do objeto, por meio do corpus selecionado. Está feito o convite para a leitura das reflexões sobre os “enigmas de Hefesto”.

27 2 TRANSGRESSÕES 10 DO SUJEITO E AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NO TERRENO DAS INCERTEZAS “Visão de alteridade é a capacidade de ver o outro como outro, e não como estranho”. (CORTELLA, 2014, p. 117)

Um dos marcos mais relevantes para o entendimento da sociedade contemporânea diz respeito à aceitação da subjetividade humana como referência fecunda diante das transformações constantes. Nesse sentido, as relações estabelecidas entre sujeitos, nos diversos espaços em que circulam, assumem relevância, dado que daí emergem muitos dos elementos que os instituem enquanto parte que sofre a ação, mas que também atua na coletividade. Expondo o trabalho à contemplação, Sennett (2009), em A Corrosão do Caráter, apresenta algumas de suas características no novo capitalismo11: flexibilidade e curto prazo, sendo as percepções de tempo basilares à constituição da subjetividade do ser. Na visão desse autor, tais aspectos ceifam do sujeito a possibilidade de construir narrativas de vida 12, o que implica mudanças no processo de sujeição humana, como o enfraquecimento da experiência e a fragmentação dos laços. Como resultado, pode-se observar o que Sennett (2009) denomina como corrosão do caráter, uma vez que suas bases; a confiança, a lealdade e o compromisso; têm a significação transformada, o que altera a relação consigo e com o meio. Sennett (2009) chama atenção, ainda, para a hiperespecialização estimulada ao longo do tempo, por meio do modelo taylorista de gestão do trabalho, cuja consequência está no esvaziamento de uma das principais atividades humanas, o trabalho. Se em fase anterior a organização científica do trabalho havia uma dita oportunidade de investimento e retribuição pessoal por meio do fazer laboral, o modo de produção no taylorismo promove ao afastamento intelectual e instauração de cansativas rotinas. Se havia um estímulo à unidade do sujeito, que “aprimorava-se”13 humanamente por meio do trabalho, instaurava-se a segregação 10

O termo transgressão é utilizado em concordância com as proposições teóricas da Ergologia, apresentadas por Trinquet (2010) e Schwartz (2011). Nessa perspectiva, a norma propõe uma orientação à conduta do sujeito, que diante de um debate entre o posto e seus valores e princípios, transgride e renormaliza o fazer, o que implica a construção de saberes em função da atividade realizada. A noção de atividade será abordada no Capítulo 3. 11 A noção novo capitalismo é desenvolvida em Sennett (2009) como a oposição ao seu surgimento, denominado capitalismo industrial. As mudanças decorrentes das formas de produção e consumo implicam novos conceitos ante a convivência humana. Tais aspectos são desenvolvidos, sob a ótica das relações de trabalho, no Capítulo 3. 12 Sennett (2009) compara a trajetória de vida do sujeito a uma narrativa literária, que possui um encadeamento padronizado de acontecimentos e, por isso, previsível. “Na narrativa, portanto, parte-se de um estado inicial e chega-se a um estado final”. (BARDARI, 2010). 13 Esta noção faz referência à proposta de Diderot, retomada por Sennett (2009), acerca do trabalho, a qual será apresentada no capítulo 3.

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entre o pessoal e o trabalho. Conforme Sennett (2009), tal situação é maléfica, pois os diferentes papéis desempenhados por um mesmo sujeito diante das situações vivenciadas ocasiona uma crise de valores que afasta a subjetividade da atividade e da construção processual de saberes, dada a imposição de modos de fazer cientificamente elaborados. Tratar da reflexão das práticas compartilhadas entre os sujeitos, por vezes, parece uma atividade de pouca valia, diante de sua base que está no cotidiano e no sujeito, elementos inseridos de forma “natural” e pouco consciente em todas as situações estruturadas e estruturantes da sociedade. Concorda-se, então, com Morin (2009, p. 54), ao afirmar que “o retorno [da centralidade] do sujeito constitui hoje um problema fundamental, que se encontra na ordem do dia”. É necessário dar ênfase ao encontro do sujeito com o ambiente, visto que ambos mobilizam todas as ordens sociais. Sob essa perspectiva, Morin (2009, p. 58) propõe: “é primordial aprender a contextualizar [...] isso é, saber situar um conhecimento num conjunto organizado”. Dessa premissa, desenvolve-se a parte inicial dessa investigação. Diversas são as características atribuídas à contemporaneidade. Na obra Tempos Líquidos, Bauman (2007) dá relevo aos aspectos negativos como o consumo excessivo, o individualismo e o medo. Lipovetsky (2007), em A Sociedade da Decepção, sintetiza a sociedade atual nas palavras velocidade, aceleração e excesso. Esses dois autores salientam a amplitude dos paradoxos experimentados diante das circunstâncias que permeiam as vivências dos sujeitos. Novos conceitos de tempo e espaço, provenientes dos processos globalizantes impulsionados pela internet, promovem sentimentos opostos de liberdade e prisão. Ao mesmo tempo em que os limites espaciais são derrubados a qualquer momento, permitindo o acesso a diferentes formas de observar o mundo, distâncias abismais são estabelecidas entre vizinhos, familiares, colegas de trabalho. Desbravar o mundo é o convite; o isolamento é a condicional. Sob outro prisma, Ortiz (1998) discorre acerca da noção de mundialização. Da apropriação da literatura sobre a globalização, aplica e aprimora a reflexão com enfoque nas trocas simbólicas imbuídas inevitavelmente às dinâmicas financeiras. Ao entender que não se trata de um fenômeno emergente da contemporaneidade, esse autor salienta que o comércio entre as nações remonta séculos passados, sendo o diferencial do processo de mundialização a velocidade da superação de limitações impostas fisicamente. Assim, o que ocorre na

29 modernidade-mundo14 é a conversão de diversas influências à forma de vida, estabelecendo uma padronização cultural, cujas características locais e globais dividem espaço. Ortiz (1998) esclarece o entendimento de padronização cultural salientando que não se pode confundi-la com uma uniformização da cultura. Os elementos simbólicos que conectam os sujeitos advêm: a) da tradição, expressa nos costumes locais com o objetivo de manutenção dos vínculos destes com a sua nação de origem; b) da difusão, proveniente do estabelecimento de novos laços, sem restrição espacial. Diante dessas duas esferas em conversão, percebe-se que importantes impactos são aplicados à cultura. “A cultura nada mais é do que a esfera ideológica deste world system15” (ORTIZ, 1998, p. 26), apreendida por meio da socialização, com natureza mundializada, ou seja, as diversas manifestações culturais se associam, gerando uma padronização nas concepções simbólicas, materializadas na palavra, por meio da linguagem que supera as limitações geográficas. Ao convergir os apontamentos de Sennett (2009), Bauman (2007) e Lipovetsky (2007), percebe-se que a contemporaneidade é marcada por elementos que desestruturam o processo de construção das identidades dos sujeitos, promovendo efeitos “corrosivos” (SENNETT, 2009) ao indivíduo, logo, ao coletivo. Ortiz (1998), embora reconheça tais aspectos, observa a estruturação do fenômeno da mundialização enquanto enlace permanentemente construído pela interação humana, o que enriquece as possibilidades de analisar os movimentos culturais. Ciente desses aspectos propõe-se um caminhar neste terreno de incertezas, com enfoque na noção de cultura em interface com o ambiente organizacional em um movimento dialógico. 2.1

TERRENOS DE INCERTEZAS: A CULTURA E IDENTIDADE Devido à elasticidade conceitual que envolve o termo cultura, faz-se necessário o

posicionamento do pesquisador e a inscrição em alguma filiação teórica para sua compreensão. Cuche (1999) e Geertz (2008) são alguns dos pensadores que defendem seu entendimento diante de contextualizações que permitem a construção de uma percepção ampla, mas ainda assim profícua para a compreensão das relações que sustentam a sociedade. Diante dessa realidade, este estudo abre-se ao entendimento gerado por esses autores a fim de

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Para referir-se ao tempo atual, Ortiz (1998, p. 181) vale-se do termo modernidade-mundo. Emerge da noção de modernidade enquanto descentramento, individualização, diferenciação, e de mundo enquanto o extravasar das fronteiras. 15 Sistematização mundial – mundialização.

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refletir sobre alguns dos aspectos da questão cultural na contemporaneidade, para posterior conjectura à noção de ambiente organizacional, olhar essencial diante da expectativa de compreender as interações no trabalho, a partir de sua materialização linguageira. 2.1.1 A Teia e suas Fronteiras: a cultura em processo Cuche (1999, p. 137) defende a inviabilidade de uma ideia essencialista (pura) de cultura, pois “toda cultura é um processo permanente de construção, desconstrução e reconstrução”. Esse autor fundamenta-se no que ele denomina como aculturação, ou o encontro das culturas, global e localmente. Trata-se do processo que implica mudanças nos modelos culturais, diante de uma “seleção” que resulta uma ressignificação. A noção de aculturação apresentada por Cuche (1999) aproxima-se do que Bhabha (1998) e Hall (2003) denominam hibridismo16. Assim, refletir sobre a cultura implica compreender sua maleabilidade, visto que é transpassada pelo trânsito e pela convergência entre os saberes que são enunciados entre o “eu” e o “outro”, continua e progressivamente. Essa perspectiva da cultura, enquanto processo, permite a compreensão da dinâmica que envolve a adaptação às mudanças decorrentes das relações sociais que evoluem a partir dos movimentos promovidos pelos sujeitos. “A cultura permite ao homem não somente adaptar-se a seu meio, mas também adaptar este meio ao próprio homem, a suas necessidades e seus projetos”. (CUCHE, 1999, p. 10). Ao considerar as características relativas à mundialização, promovidas por Bauman (2007), Lipovetsky (2007) e Ortiz (1998), cabe a indagação acerca da velocidade do homem em habituar-se às proposições de tempo e espaço que ele mesmo estabelece na contemporaneidade. Trata-se de um questionamento cuja resposta não é evidente, nem facilmente defendida, porém, refere-se a uma reflexão relevante ao passo que tange a possibilidade de conscientização ante as diversas problemáticas envolvidas. Embora a vinculação tempo/ espaço não seja o interesse primeiro deste estudo, faz-se necessário ao menos tangenciar a inquietação acerca dela, já que as relações e os saberes que o sujeito estabelece no ambiente laboral são desenvolvidos sobre esse alicerce. Hall (2003, p. 36) promove uma reflexão interessante ante essa expectativa, pois contempla tanto a noção de 16

O hibridismo cultural refere-se a “um termo que tem sido utilizado para caracterizar as culturas cada vez mais mistas e diaspóricas”. (HALL, 2003, p. 74). A noção de hibridismo abordada por Hall (2003) advém de Bhabha (1998), que discorre sua reflexão a partir da perspectiva sociodiscursiva de Bakhtin (1981), a qual admite que os interlocutores sempre estão situados e contextualizados. Nesse sentido, as concepções de enunciado e enunciação assumem relevo, já que o hibridismo está no deslocamento de um ao outro.

31 cultura como a de identidade: “como outros processos globalizantes, a globalização cultural é desterritorializante em seus efeitos. Suas compressões espaço-temporais, impulsionadas pelas novas tecnologias, afrouxam os laços entre a cultura e o ‘lugar’”. O posicionamento de Hall (2003) é resultante de seus estudos a respeito das diásporas, fenômeno relacionado aos deslocamentos dos povos a espaços diferentes. Segundo esse autor, este é o fator central para um descentramento de saberes que constituem tanto a cultura, quanto a identidade, visto que o conceito fechado de diáspora se apoia sobre uma concepção binária da diferença. Está fundado sobre a construção de uma fronteira de exclusão e depende da construção de um ‘Outro’ e de uma oposição rígida entre o dentro e o fora. [...] A diferença, sabemos, é essencial ao significado, e o significado é crucial à cultura. (HALL, 2003, p. 33).

A construção de significados é um processo contínuo impelido pelo trânsito de saberes entre os sujeitos, em um âmbito social e coletivo. Nesse sentido, antes de prosseguir na busca por uma orientação acerca da noção de identidade, considera-se adequado ponderar mais algumas trilhas ao entendimento de cultura. Convida-se, assim, Geertz (2008) ao diálogo. Esse antropólogo americano defende um conceito semiótico de cultura, que encontrase com a perspectiva de Hall (2003), e dá relevo à construção de significados perante a interação entre os sujeitos: “o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado”. (GEERTZ, 2008, p. 4). Esse autor propõe a observação do comportamento humano inserido em um contexto que permita a interpretação das ações, que entrelaçadas, gradualmente, transformam-se. A cultura é uma condição básica à existência humana. Caracteriza-se como um conjunto de mecanismos para o controle da conduta, por meio de um sistema simbólico17 que engloba elementos e princípios ideológicos, que aproximam e afastam os sujeitos, expresso por meio das manifestações culturais que são articuladas no meio social. Tais manifestações são fundamentais para que o homem possa habitar o ambiente coletivo, ou seja, ordenar seu comportamento com a finalidade de transcender a situação em que se envolve (GEERTZ, 2008). Geertz (2008, p. 7) propõe ainda que, para a análise da cultura, se faz necessário “escolher entre as estruturas de significação e determinar sua base social e sua importância”,

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A interação permanente entre os sujeitos e suas formas de representação instauram símbolos que passam a fazer parte da cultura e permitem vinculações e afastamentos a partir dos significados construídos por coletivos de indivíduos (GEERTZ, 2008).

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ou seja, promover um esforço intelectual na observação dos códigos socialmente estabelecidos, o que denomina como “descrição densa”. Esse autor se vale dessa concepção, pois afirma que a função daquele que se propõe à análise de uma cultura está apenas em executar uma observação dos sujeitos em seu contexto e em interação, o que possibilita uma descrição dos elementos simbólicos acionados. Ao tomar por base, por exemplo, o ambiente organizacional, cuja circulação de saberes socializados é ampliada devido ao número e diversidade de pessoas postas em interação, percebe-se que o trabalho apresenta-se como referência profícua para identificação de elementos culturais em conjunção, diante de convergências e divergências. A cultura enquanto orientadora comportamental, produto e produtora das relações estabelecidas em sociedade, pode estruturar-se de tal forma diante da possibilidade de socialização de saberes que sustentam tais regras relacionais. Cabe mencionar a noção de socialização, ou caminhos que conduzem o indivíduo a tornar-se parte ativa desse complexo entrelaçamento de elementos simbólicos. Nesse sentido, convida-se Berger e Luckmann (2012) ao diálogo, cujo centro da reflexão está na “Construção Social da Realidade”. Ao reconhecer que o conhecimento18 é motor da sociedade (BERGER; LUCKMANN, 2012), o eixo da reflexão parte da existência de fenômenos que ocorrem alheios à vontade do sujeito, mas que por ele podem ser compreendidos diante da observação astuta da realidade. Salienta-se que estão incluídos nesta inteligência referenciada pelos autores os saberes apreendidos no cotidiano, que “apresenta-se como uma realidade interpretada pelos homens e subjetivamente dotada de sentido para eles na medida em que forma um mundo coerente”. (BERGER; LUCKMANN, 2012, p. 35), ou seja, por meio dos saberes que cada comunidade desenvolve, a cultura local atribui aos sujeitos seus papéis sociais. Na contemporaneidade, a multiplicidade de realidades locais às quais se têm acesso implica amplamente a construção, a desconstrução e a reconstrução dos elementos que permitem a leitura do mundo, ampliando o processo de hibridização cultural. Compreende-se a cultura como processo, cujo movimento contínuo entre sujeitos em interação resulta em saberes que norteiam suas condutas e os vinculam em redes de

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A noção de conhecimento em Berger e Luckmann (2012) refere-se ao cotidiano; congrega a linguagem e as trocas sígnicas em intercâmbio entre os sujeitos, o que constitui um “acervo social do conhecimento”. Tal acervo orienta as posições a serem adotadas pelos indivíduos no desempenho de seus papeis sociais, assim como a interação com o outro. Tal olhar aproxima-se do que Foucault denomina como saberes, ou seja, o processo pelo qual o sujeito é modificado durante a atividade de conhecer (REVEL, 2005). Essas noções, em conjunção, norteiam o presente estudo. Salientam-se tais aspectos, pois são basilares ao entendimento da noção de trabalho, desenvolvida no capítulo 2, quando optar-se-á pela denominação saberes para referir tal processo.

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compartilhamento de elementos simbólicos, por meio da linguagem. O ambiente globalizado que articula tais movimentos amplia a construção e o encontro de percepções acerca das formas como podem ser percebidas as relações entre os sujeitos e os objetos e, principalmente, dos sujeitos entre si. Diante da desterritorialização19, marco da mundialização (HALL, 2003; ORTIZ, 1998), evidenciam-se as perspectivas relativas aos ambientes frequentados pelos sujeitos e que carregam em si a singularidade da subjetividade humana por meio da atividade de trabalho. Faz-se necessária, então, a abordagem dos ambientes organizacionais sob perspectivas que privilegiem tal aspecto. Prossegue-se, então, com a articulação da cultura e suas manifestações, a partir da noção de identidade. 2.1.2 Ditos, Não Ditos e Seus Sentidos: assim caminha a identidade A cultura vista como teia, cuja tessitura é composta pela socialização de saberes na convergência de múltiplos contextos em situações e espaços específicos, impele a relação estabelecida pelos sujeitos nos mais diversos ambientes, dentre os quais, neste estudo, se enfatiza o organizacional. Nesse sentido, observar a ação humana resulta na captação dos traços identitários que compõem as representações ancoradas nas convenções coletivamente estruturadas, cuja função essencial é nortear o comportamento do indivíduo na sua relação com o outro. A confluência entre o individual e o coletivo se dá por intermédio do imaginário, que “é algo que ultrapassa o indivíduo, que impregna o coletivo ou, ao menos, parte do coletivo”. (MAFFESOLI, 2001, p. 76). As concepções e imagens armazenadas mediante as experiências do sujeito, embora se registrem diante de um interesse particular, serão decorrentes do espaço coletivo e dos estímulos advindos dos diálogos permanentes entre seus membros. A elaboração do olhar acerca de determinado fenômeno emerge da conjunção ajustada no espaço cultural em que se está imerso, implicando as escolhas e as formas de representação. Conforme Maffesoli (2001, p. 75), “o imaginário é uma força social de ordem espiritual, uma construção mental, que se mantém ambígua, perceptível, mas não quantificável”. Social, pois está imbricado no coletivo. Espiritual e mental, pois exige a interiorização reflexiva diante dos vínculos emocionais estabelecidos. “Aura” é a palavra

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“Desterritorização poderia significar, então, diminuir ou enfraquecer o controle dessas fronteiras, aumentando assim à dinâmica, a fluidez, em suma a mobilidade, seja ela de pessoas, bens materiais, capital ou informações”. (HAESBAERT, 2004, p. 235).

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selecionada por Maffesoli (2001) para referir-se ao imaginário, já que é percebida, dificilmente explicitada, logo, passível de (re)construções diante do que é compartilhado. Diante do contexto em estudo, pode-se perceber que das relações impulsionadas e estruturadas no ambiente organizacional, o imaginário, ou ambiente mental e espiritual, se constitui. O encontro dos sujeitos transforma e reconstrói os símbolos e os sentidos. Advêm daí as inspirações e aspirações que estruturam o cotidiano, mobilizadas pelo motor que orienta as práticas coletivas e individuais, que podem ser observadas por meio da identidade. O imaginário é o laço que envolve cultura e identidade. É pela existência do imaginário que o processo cultural pode se movimentar. Dele emerge, também, a ideia de identidade, que se refere ao ‘produto’ dos sujeitos em interação. A perspectiva de Hall (2013, p.109) insere o elemento discurso como a estrutura e amarras da teia, a identidade, pois é precisamente porque as identidades são construídas dentro e não fora do discurso que nós precisamos compreendê-las como produzidas em locais históricos e institucionais específicos, no interior de formações e práticas discursivas específicas, por estratégias e iniciativas específicas.

As observações desse autor atentam a dois pontos fundamentais: o contexto e o discurso como bases para a construção da identidade. As ponderações referentes à noção de discurso, com base na Semiolinguística, serão abordadas no Capítulo 4. Neste momento, atenta-se à influência do contexto que, conforme Cuche (1999), é fundamental para perceber a fluidez da noção de identidade, em geral, associada à fixidez. “A construção da identidade se faz no interior de contextos sociais que determinam a posição dos agentes e por isso mesmo orientam suas representações e suas escolhas”. (CUCHE, 1999, p. 182). A flexibilidade garante ao sujeito a adesão social, o aceite, o pertencimento, o que resulta na atribuição de papeis por ele ambicionados. Charaudeau (2010a, 2012a) também atribui relevância ao contexto quando se refere à identidade em sua teoria Semiolinguística20. Para esse autor, a identidade é uma forma de representação que se adéqua às interações linguageiras ou diálogos cotidianos, que se estabelecem em contextos específicos e produzem dados fundamentais para a construção de saberes coletivos. A situação de comunicação, as circunstâncias discursivas e o contrato de comunicação promovem elementos ante a leitura do lócus e do contexto que envolve os sujeitos. A movimentação de conceitos implicará na atribuição de significados, que orientam a interpretação dos fenômenos, dentro de uma comunidade. A efetivação desse processo decorre da diferença reconhecida pelos sujeitos diante do discurso. 20

A teoria semiolinguística de Patrick Charaudeau será apresentada no Capítulo 4.

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Conforme afirma Silva (2013, p. 76), tanto a diferença quanto a identidade são “criações linguísticas”, existindo, pois, no e pelo discurso ou ato de linguagem, em uma relação de alteridade, logo, de poder. Aquele que toma a palavra o faz mediante autorização do outro, que o reconhece como legítimo para tal ação e digno de atenção. Ao assumir uma determinada posição, o sujeito rejeita uma série de outras opções, demarcando fronteiras acerca daquilo faz, ou não, parte de sua identidade. Trata-se, sobretudo, de uma divisão social entre “nós” e “eles”. A complexidade envolvida nesse processo, porém, vai muito além do binarismo que combina inclusão e exclusão. Em função desse aspecto, Silva (2013, p. 87) retoma a noção de hibridismo cultural: “[...] a hibridização se dá entre identidades situadas assimetricamente em relação ao poder”. Tal qual a cultura, a identidade é também processo. Uma construção que envolve a ação do sujeito em função de seus interesses específicos, cujos estímulos advêm das relações sociais que são estabelecidas durante as situações de socialização. Diante de uma relação de alteridade, que prevê um jogo discursivo, onde cada sujeito conquista seu espaço de fala, torna-se relevante a contribuição de Charaudeau (2008) acerca da teoria dos sujeitos da linguagem. Esse autor elabora sua proposta de análise discursiva diante de um complexo dispositivo que dá ênfase ao sujeito, o que contribui com o exposto por Silva (2013) quanto ao entendimento da “regulação das trocas comunicativas”. (CHARAUDEAU, 2008, p. 11). Neste momento, da proposta de Charaudeau, interessa a noção de dupla identidade dos sujeitos do ato de linguagem: uma social e outra discursiva. A situação de comunicação sob as lentes da Semiolinguística prevê um espaço externo, onde são explicitadas as posições de cada sujeito, além da atribuição social legitimada pelas instituições culturalmente determinadas. Prevê ainda, o que considera mais relevante no estudo da identidade, o espaço interno, do implícito, que permite o reconhecimento das intenções e a estruturação das falas perante finalidades específicas, estabelecendo-se como local da estratégia. A Figura 1 apresenta as posições dos sujeitos no jogo discursivo diante da relação de alteridade. O EUc refere-se ao sujeito comunicante e o TUi o sujeito interpretante, seres que materializam o discurso. Já o EUe, sujeito enunciador e o TUd, sujeito destinatário, são os seres que na produção discursiva acionam os elementos simbólicos registrados no imaginário e elaboram as combinações entre palavras, contexto e sentido que serão enunciados socialmente.

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Figura 1 - O Ato de Linguagem

Fonte: adaptado de Charaudeau (2010a)

Na Figura 1, pode-se perceber que a dupla identidade do sujeito implica uma relação entre quatro sujeitos: dois seres sociais (sujeitos comunicante (EUc) e interpretante (TUi)) e dois seres de fala (sujeitos enunciador (EUe) e destinatário (TUd)). Os primeiros assumem as funções de produção e interpretação e reproduzem a construção de sentido encenada pelos protagonistas do ato linguageiro, que no âmbito do circuito interno organizam o dizer. De acordo com Charaudeau (2008), a cada situação comunicacional, os seres de fala acionam máscaras que permitem a adequação aos papeis assumidos na negociação entre identidades. Referem-se à gama de estratégias que estão à disposição da encenação discursiva e que evidenciam as finalidades de cada sujeito. As escolhas linguísticas presentes na encenação discursiva (mise-en-scène) elaborada pelos protagonistas do ato de linguagem resultam na manifestação daquilo que Silva (2013, p. 91) e o próprio Charaudeau denominam como representação, ou “traço visível, exterior”. Sob essa ótica, a identidade pode apenas ser percebida diante de seus elementos de representação, que decorrem de sistemas de significação, emergentes da cultura, assimilados pelo sujeito e por ele reproduzidos diante do sentido que deseja construir. “Como tal, a representação é um sistema linguístico e cultural: arbitrário, indeterminado e estreitamente ligado a relações de poder”. (SILVA, 2013, p. 91). A representação identitária assume, então, centralidade na movimentação da teia que comporta a cultura. Percebe-se que a observação da interação dos sujeitos, a partir do ato de linguagem que os vincula, fornece pistas acerca das suas representações, que se diferem pela individualidade construída na socialização constante de saberes ao longo da vida humana, mas acoplam-se quando do compartilhamento das situações discursivas. Nesse sentido, compreende-se que as representações dos sujeitos referem-se a manifestações culturais

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produzidas na intersecção dos diversos espaços ocupados pelos sujeitos, dentre eles as organizações. Com o propósito de compreender as imbricações entre cultura e cultura organizacional, prossegue-se a reflexão perante uma perspectiva que centraliza a ação humana. 2.2

UMA FRONTEIRA DE INCERTEZAS: MOBILIZAÇÃO DE SENTIDOS NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL Observar o fenômeno de socialização de saberes exige a opção por algum caminho,

tendo em vista que a cultura, conforme o horizonte proveniente da conjunção entre as perspectivas de Cuche (1999), de Geertz (2008) e de Hall (2003), contempla as diversas manifestações diante das práticas cotidianas criadas e recriadas constantemente na relação euoutro-contexto. Elenca-se, assim, a conjuntura organizacional como estrutura de significação para observar os movimentos que contribuem com a construção de saberes que transitam na sociedade. A escolha das organizações como lócus para observação da cultura é justificada pela relevância do trabalho na vida dos sujeitos. Nas palavras de Chanlat (1996, p. 229), a “organização-empresa é não somente um lugar onde o trabalho é fonte de identidades profissionais e onde se observa uma regulação cultural, mas também transformou-se num ator maior da definição de nossas sociedades modernas”. As normas institucionalizantes de cada profissão ou organização, além da remuneração, permite ao trabalhador posicionar-se na sociedade e movimentar o sistema econômico vigente. Neste estudo, ressalta-se o trabalho enquanto atividade, ou seja, como “debate de normas e de transgressões, o que, frequentemente, resulta em renormalizações”. (TRINQUET, 2010, p. 96)21. Ao ancorar-se em tal percepção, o estudo sobre o trabalho implica a linguagem e como ela estrutura o pensar e agir dos sujeitos no ambiente organizacional, o que parece mais adequado ao se considerar os aspectos simbólicos que permeiam a socialização de saberes oriunda desse lócus. O local do trabalho está em ênfase nesta etapa do estudo, pois acredita-se que apenas diante de uma panorama acerca do contexto que envolve o trabalho seja possível uma compreensão mais apurada acerca de suas implicações, já que, conforme aponta Chanlat (1996, p. 228), 21

Trata-se da abordagem ergológica da noção de trabalho. A Ergologia é um “método de investigação pluridisciplinar”. (TRINQUET, 2010, p. 94), cujo foco é a “aprendizagem permanente dos debates de normas e de valores que renovam indefinidamente a atividade: é o desconforto intelectual”. (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007, p. 30). Os conceitos relativos à Ergologia serão comentados no capítulo 3.

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a organização, enquanto objeto de análise, não é de fato uma tribo, nem um povo, nem uma sociedade total. Ela não é autossuficiente. Atravessada por elementos societais, ela constitui um elemento da estrutura social e da cultura a qual pertence. [...] a organização, enquanto universo singular, produz fenômenos que pertencem ao universo simbólico.

Nesse sentido, faz-se necessária uma atualização acerca do juízo compartilhado do que são as organizações e de como se constituem. Iasbeck (2005, s. p.) afirma que as “organizações são sistemas sociais regidos por regras, normas e leis de convivência, nos quais a comunicação é o processo chave que viabiliza as interações”. A noção de sistema é interessante, pois compreende a existência de elementos que se conectam por pontos semelhantes a fim de que se coordenem. Os processos interacional e de construção de sentido são enfatizados no cenário hostil e competitivo do trabalho que, por vezes, exclui o simbólico em prol de um pseudocontrole de suas instâncias perante textos como gráficos, relatórios contábeis e financeiros, dentre outras validações excessivamente objetivas. Fairhust e Putnam (2010, p. 105) atestam esse ponto de vista, que ressalta o comunicacional, ao afirmarem que “as organizações são construções discursivas porque o discurso é a real fundação sobre a qual a vida organizacional é construída”. Aceitar o discurso como base das organizações implica percebê-las como “ambientes dinâmicos, interativos, discursivos, com elementos constituintes (essenciais) e constitutivos (meios e recursos) no processo de criação e de consolidação de realidades. [...] A realidade é maleável, construída pelos indivíduos”. (MARCHIORI, 2014, p. 16), ou seja, atribui-se aos sujeitos a responsabilidade pela construção das normas e regras que regem seu convívio coletivo. O olhar desses autores (IASBECK, 2005; FAIRHUST; PUTNAM, 2010; MARCHIORI, 2014) salienta tanto a possibilidade de transgressões constantes às normas postas, quanto às renormalizações permanentemente atualizadas a partir das interações. Por mais que as organizações tentem cristalizar conceitos diante da definição de elementos prescritivos, como a missão, visão e valores, por meio manuais ou outros usos informacionais, eles são (re)construídos a cada situação interacional estabelecida entre e pelos sujeitos, por meio do processo comunicacional. Em consonância, Baldissera (2009a) defende que ao instalarem-se nas comunidades as organizações adéquam-se a elas, mas promovem também adequações, seja por meio da mão de obra dali emergente ou pelas ações que ali realiza. Nesse sentido, parece evidente que, se, por um lado, as organizações se apresentam como resultados provisórios da cultura do grupo social em que se inserem, por outro tendem a, paulatinamente, influenciar a (re)elaboração da cultura e do imaginário desse mesmo grupo. (BALDISSERA, 2009a, p. 136).

39 Das reflexões expostas por Baldissera (2009a), assinala-se a comunicação22 enquanto processo que mobiliza a construção dos sentidos que permeiam o espaço socializado entre a organização e a comunidade e que, por meio dos discursos, alicerçam tais realidades. Nesse sentido, busca-se convergir as noções de cultura exploradas por Cuche (1999) e Geertz (2008) à investigação do ambiente laboral perante o diálogo entre as teias construídas com base nas interações cotidianas e nas prescrições organizacionais, que representam uma tentativa de modalização da comunicação. 2.2.1 Prismas Diversos e Sentidos Convergentes: ponderações acerca da cultura organizacional Dos sujeitos dependem os movimentos e decisões que orientam o comportamento coletivo (GEERTZ, 2008). As organizações fazem parte do processo de construção desse contexto (CUCHE, 1999) diante do fazer laboral de seus trabalhadores em todas as possibilidades de interação, compartilhamento e produção de saberes. Concebe-se, assim, que realidade e sujeitos são, simultaneamente, produtos e produtores sociais (BERGER; LUCKMANN, 2012). O imaginário vincula cultura e identidade, coletivo e individual, perante os discursos propagados pelos sujeitos, que são adequados à sua intencionalidade em cada situação. A reflexão sobre a cultura organizacional precisa contemplar tanto aspectos como o vínculo entre sociedade e organização, quanto à ação humana nesse processo, o que inclui a tentativa da determinação de significados e interpretações, bem como a produção indefinível de sentidos ante as interações. Relaciona-se a isso a proposta de Meyerson e Martin (1987, p. 623), em afirmação de que as “organizações são culturas”. Carrieri e Silva (2014, p. 51) também se inscrevem nessa perspectiva, “partindo do princípio de que não existe uma só cultura, mas várias”. Implica estudar as organizações enquanto processos dinâmicos, coletivamente instituídos e transformados, o que está em convergência com o que propõem Fairhust e Putnam (2010), pois toda e qualquer ação humana é assentada nas práticas discursivas. Sob esse desígnio, Martin (2004), visualiza a cultura perante suas manifestações: práticas formais e informais, dizeres dos trabalhadores, rituais, dialetos, disposição física e valores. “A cultura consiste de padrões de sentidos conectados entre diversas manifestações, às vezes em harmonia, por vezes em meio a conflitos entre grupos e outras vezes em teias de 22

As noções relativas à comunicação organizacional serão discutidas no Capítulo 4.

40 ambiguidade, paradoxos e contradições23”. (MARTIN, 2004, p. 2, tradução nossa). No enunciado, essa autora sintetiza sua proposta teórica para vislumbrar a movimentação da cultura no ambiente organizacional, que se embasa em três perspectivas: integração, diferenciação e fragmentação. O primeiro paradigma apresentado por Martin (2004) refere-se àquele que tem dominado as pesquisas sobre cultura, a perspectiva funcionalista da Integração. Três características são atribuídas à cultura nessa classificação: consistente, consensual e clara. A consistência deve-se ao entendimento de que as lideranças promovem os valores e comportamentos adequados. Trata-se da tradicional visualização verticalizada da hierarquia, que prevê uma hegemonia discursiva e das práticas laborais. Acredita-se que os valores e objetivos postos são consensualmente aceitos e seguidos plenamente, visto que são claramente determinados e informados. Todos os sentidos que contrariam a informação prescrita são considerados anomalias da cultura, logo, não devem ser referenciados. “Sentidos associados com uma pequena parcela de manifestações não pode ter a consistência que tem os sentidos associados a gama ampla das manifestações culturais 24”. (MARTIN, 2004, p. 6, tradução nossa). Assim, em uma avaliação da cultura de uma organização tem evidência os dados que estão em coerência com o posto pela organização. O paradigma da Diferenciação aceita que as organizações são uma coleção de subculturas, estruturadas por consensos entre os membros dentro dos limites de seu grupo. Dentro dos limites de cada subcultura, há harmonia e clareza das ideias. A concordância pode ter relação com as funções desempenhadas pelos trabalhadores, seus cargos e departamentos. Aceita-se, porém, que divergências podem ocorrer diante do choque de interesses nas intersecções das subculturas, visto que há uma hierarquia entre elas. “Os estudos de Diferenciação descrevem as organizações como compostas de sobreposições, na qual subculturas coexistem em relacionamento harmônico, conflituoso ou indiferente25”. (MARTIN, 2004, p. 7, tradução nossa). Sob esse prisma, a hierarquia das subculturas parte daquelas que convergem às prescrições postas pelas vias formais até a classificação das outras, que são percebidas como resistentes ao controle hegemônico dos trabalhadores.

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“Culture consists of the patterns of meanings that link these manifestations together, sometimes in harmony, sometimes in bitter conflicts between groups, and sometimes in webs of ambiguity, paradox, and contradiction”. (MARTIN, 2004, p. 2). 24 “Meanings associated with a small sample of manifestations may not be consistent with meanings associated with the full range of manifestations of a culture”. (MARTIN, 2004, p. 6). 25 Differentiation studies describe organizations as composed’ of overlapping, nested subcultures that coexist in relationships of intergroup harmony, conflict, or indifference”. (MARTIN, 2007, p. 7).

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Fragmentação é a denominação do terceiro paradigma. Nessa perspectiva, a ambiguidade das situações assume evidência no contexto organizacional, o que inclui múltiplos sentidos, paradoxos, ironia e contradições. “O olhar para a cultura não é como um bloco unitário ou como uma coleção de ilhas de subculturas, mas como uma sala repleta de teias, constantemente construídas e reconstruídas26”. (MARTIN, 2004, p. 11, tradução nossa). Nesses casos, as relações de poder não se dão por uma hierarquia vertical, mas diante dos interesses específicos de cada situação. A mudança é aceita como uma constante na construção da cultura. Nota-se que o paradigma da Fragmentação estaria adequado aos movimentos sociais contemporâneos, conforme apresentado por Sennett (2009) ou Bauman (2007) e Lipovetsky (2007). Porém, sua aplicação ao cotidiano organizacional parece distante das práticas comunicativas e organizacionais. Martin (2004) sugere ainda que o entendimento de um contexto cultural pode ser alcançado com o uso conjunto das três perspectivas, já que, em um período de mudanças organizacionais, a aplicação de um paradigma isoladamente não daria conta dos múltiplos contextos inseridos nessa realidade. A produção de sentidos é também um aspecto refletido por Daft e Weick (1984), para quem as organizações são sistemas interpretativos. A abordagem desses autores, porém, converge com os paradigmas de diferenciação e integração apresentados por Martin (2004). A interpretação é “o processo de traduzir eventos e desenvolver modelos para seu entendimento, de produzir sentidos perante esquemas conceituais elaborados pelos principais gestores 27”. (DAFT; WEICK, 1984, p. 286, tradução nossa). A elaboração de mecanismos que conduzem a interpretação dos sujeitos às interações realizadas é atribuída às lideranças e os demais sujeitos do ambiente organizacional são eximidos desse processo. Ao passo que se aceita a produção de sentidos como evento importante à cultura organizacional, tenta-se modalizá-los em categorias que possam ser controladas e geridas. “Para sobreviver, as organizações necessitam de mecanismos para interpretar eventos ambíguos e para prover sentidos e orientações aos seus participantes28”. (DAFT; WEICK, 1984, p. 293, tradução nossa). Com base em programas de pesquisa que vinculam estudos organizacionais e da cultura, Smircich (1983) reconhece duas principais formas de concepção: a) a cultura tratada 26

Fragmentation perspective, culture looks less like a monolith, and less like a collection of subcultural islands, and more like a room full of spiders webs, constantly being destroyed and rewoven”. (MARTIN, 2004, p. 11) 27 “Interpretation is the processo of translating these events, of developing models for understanding, of bringing out meaning, ando f assembling conceptual schemes among key managers”. (DAFT; WEICK, 1984, p. 286). 28 “To survive, organizations must have mechanisms to interpret ambiguous events and to provide meaning and direction for participants”. (DAFT; WEICK, 1984, p. 293).

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como uma variável, algo que se tem, passível de controle e padronização de valores e de ações; b) cultura como metáfora, ou seja, cultura é aquilo que a organização é. A metáfora é a “conexão entre percepção e conhecimento em um processo interpretativo que é metaforicamente estruturado, nos levando a entender um domínio de experiência em termos de outra29”. (SMIRCICH, 1983, p. 340, tradução nossa). Conforme essa autora, o uso de metáforas estruturadas em fenômenos sociais é uma significativa mudança ante o olhar aos objetos físicos, como os organismos, por exemplo, “[...] o que coloca a cultura em uma posição imaterial30” (SMIRCICH, 1983, p. 347, tradução nossa) e subjetiva, logo, emergente da condição humana e de suas interações. “A organização passa a ser uma forma particular de expressão humana31”. (SMIRCICH, 1983, p. 353, tradução nossa). Morgan (2011) compactua com Smircich (1983) sobre o uso de metáforas para o estudo da cultura organizacional. Diante de diversas metáforas é possível insinuar modos de pensar e formas de ver as organizações, o “que permeia a maneira pela qual entendemos nosso mundo em geral”. (MORGAN, 2011, p. 16). Tal meio de vislumbrar as situações, em específico as organizacionais, implica especificidade, mas garante a amplitude necessária para compreender “fenômenos complexos e paradoxais que podem ser compreendidos de muitas maneiras diferentes”. (MORGAN, 2011, p. 17). Nesse sentido, em face do objetivo desta pesquisa, duas metáforas despontam como mais produtivas à abrangência dos elementos simbólicos estruturados e mobilizados por meio da linguagem: organizações como culturas e como sistemas políticos. Imbricadas uma à outra não podem ser compreendidas isoladamente, já que contemplam a equalização entre o poder de escolha do sujeito e as imposições da estrutura. Na sequência apresentam-se aspectos relevantes para o estudo de cada metáfora. Observada como cultura, aceita-se “a ideia de que a organização é em si mesma um fenômeno cultural que varia de acordo com o estágio de desenvolvimento da sociedade.” (MORGAN, 2011, p. 116). Na elaboração desta metáfora, esse autor privilegia a conexão indissociável da organização com o contexto que produz e reproduz. Assim como Berger e Luckmann (2012), Morgan (2011) reconhece o papel da socialização decorrente das relações organizacionais para o estabelecimento de padrões comportamentais, valores e princípios. Os sujeitos postos à convivência impõem mutuamente o que assimilaram a partir do estimulado 29

“Perception and knowing are linked in na interpretative process that is metaphorically structured, allowing us to understand one domain of experience in terms of another”. (SMIRCICH, 1983, p. 340). 30 [...] because of culture’s nonconcrete status”. (SMIRCICH, 1983, p. 347). 31 “[...] organization as a particular formo of human expression”. (SMIRCICH, 1983, p. 353).

43 por suas famílias e escolas na socialização primária32. É evidente, então, que nesta socialização secundária33, cuja característica é a atualização permanente, a convergência entre o que é promovido pelos sujeitos em interação, com o promovido pela organização, constituise como potente mobilizadora da leitura de mundo daqueles que a compõem. Essa metáfora releva ainda a observação das rotinas de uma organização, no que se refere “a linguagem que é utilizada, as imagens e temas explorados na conversa, bem como os vários rituais da rotina diária”. (MORGAN, 2011, p. 125). Desse modo, a proposta caminha na direção das representações daí emergentes, percebidas como configurações e estruturações da realidade. É desse aspecto que se baseia a explicação de Morgan (2011) sobre o movimento dos saberes, expressos por representações, na coletividade, visto que os significados são desconstruídos e reconstruídos. “Essa visão da cultura em bases de representação tem enormes implicações em relação ao modo pelo qual se compreendem as organizações enquanto fenômenos culturais”. (MORGAN, 2011, p. 135). As representações referem-se a uma negociação de significados, que ocorre a cada interação dentro de um contexto específico. Para atentar a esse aspecto, Morgan (2011) valese da metáfora dos sistemas políticos. Esse autor enfatiza a questão de que a natureza política de qualquer aglomerado de pessoas por vezes é desconsiderada pelos sujeitos, não reconhecendo suas implicações no cotidiano organizacional. Três ideologias são expostas por Morgan (2011), conforme constam no Quadro 5: Quadro 5 - Ideologias Organizacionais Principais

Implicações Interesses

Unicista Objetivos comuns. Equipe bem integrada.

Conflito

Fenômeno raro e passageiro

Poder

Elemento ignorado, pois o interesse coletivo é norteado pela liderança.

Pluralista A diversidade de interesses é proporcional à diversidade dos indivíduos. Inerente e inevitável. Considera-se como fenômeno potencialmente positivo. Meio de solução dos conflitos, negociação de interesses. Pluralidade de fontes.

Radical As finalidades das partes envolvidas na organização são incompatíveis. Forma de luta de classes, que pode ser suprimida, já que é um fenômeno latente. Elemento desigual. Põe cada sujeito em seu lugar. Forma de controle sobre os subordinados.

Fonte: elaborado pela autora com base em Morgan (2011)

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Conforme Berger e Luckmann (2012), a socialização primária refere-se ao desenvolvimento da consciência da diferença entre eu e o outro. Refere-se à apreensão das normatizações impostas principalmente pela família quanto a valores e concepções da relação com os demais sujeitos. 33 Já a socialização secundária, segundo Berger e Luckmann (2012), implica o reconhecimento das instituições estabelecidas pela sociedade, bem como a vinculação aos grupos sociais aos quais se quer/ pode pertencer na escola ou no trabalho por meio da profissão, por exemplo.

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A síntese das ideologias que determinam as práticas gerenciais, exposta no Quadro 5, contempla três diferentes categorias exploradas por Morgan (2011) junto à metáfora dos sistemas políticos. A ideologia Unicista, ou unitária, defende uma cultura de coesão que é ilesa de conflitos, visto que as decisões da organização são tomadas com base três palavraschave: autoridade, liderança e controle. Os preceitos pluralistas opõem-se a essa concepção, pois a ênfase está na aceitação da diversidade e na ciência de que os trabalhadores negociam a todo tempo interesses pessoais e coletivos. Diferente dessas duas perspectivas, a ideologia radical não prevê a possibilidade de entendimento, dada a oposição de interesses que os sujeitos têm, implicando frequentemente a mediação de entidades de classe na relação trabalhador e empresa (MORGAN, 2011). Percebe-se que o tópico interesses é ponto de partida para compreender o posicionamento do sujeito frente às situações de trabalho. Oriundas da questão das tarefas (ou cargos), das expectativas de carreira ou ainda de conquistas no âmbito pessoal, tangem o que constrói os motores de motivação dos sujeitos no ambiente organizacional. Nesse sentido, pode-se começar a compreender como as pessoas se relacionam com seu trabalho por meio das suas próprias preocupações pessoais, detectando os fatores motivacionais que dão suporte aos diferentes estilos de carreirismo, jogos humanos, comprometimento com a atividade, rigidez, ‘proteção do espaço’, zelo, neutralidade e livre negociação que emprestam à política da vida organizacional seu caráter detalhado. (MORGAN, 2011, p. 155).

De acordo com a ideologia que norteia os interesses manifestos pelos sujeitos em um dado grupo no ambiente laboral, fica evidente tanto a iminência de conflitos, quanto as relações e posições de poder que serão exercidas pelos sujeitos, frente a esses interesses. Ao considerar as três possíveis ideologias apresentadas por Morgan (2011), manifestas no Quadro 5, chama atenção a coluna que explicita a perspectiva pluralista, visto que aproxima-se da realidade experimentada pelos trabalhadores na contemporaneidade. Reconhecida a diversidade de origens e trajetórias dos sujeitos, colocar em interação os múltiplos sistemas simbólicos que com eles vêm é atribuição árdua. Tal realidade não pode ser negada, mas aceita como ponte (ou muro) das relações laborais. Nesse sentido, reconhecer o exercício do poder nessas situações é fundamental para evitar negligências na gestão, como desconsiderar a ação de uma das partes, por exemplo. 2.2.1.1 Relações de Força e Contexto: a disputa de sentidos nas organizações Diante dos argumentos construídos e embasados até aqui, acredita-se que a noção de poder no ambiente organizacional mereça algumas considerações. Dentre as perspectivas

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amplamente utilizadas à compreensão da implicação do poder nas relações estabelecidas nas organizações, destaca-se a obra “Anatomia do Poder”, do economista americano J. Kenneth Galbraith (1989)34. O poder, na ótica desse autor, é manifesto sob três formas: poder condigno, poder condicionado e poder compensatório. O poder condigno refere-se à rejeição da própria vontade em função da vontade do outro. Essa recusa é promovida por meio de mecanismos que provêm dor, física ou emocional, e leva o sujeito “a renunciar a própria vontade ou preferência a fim de evitar sofrimento”. (GALBRAITH, 1989, p. 16). O poder compensatório aproxima-se do poder condigno, pois ambos são caracterizados pela objetividade e visibilidade, que garantem a consciência do seu exercício, seja daquele que executa ou que sofre a ação. A diferença está na forma de recompensa “ou pagamento, suficientemente vantajoso ou agradável para que renuncie à sua própria preferência”. (GALBRAITH, 1989, p. 16). Essa gratificação justifica a renúncia dos próprios interesses. A terceira forma de manifestação do poder na perspectiva de Galbraith (1989) é o poder condicionado. Diferencia-se das demais formas, pois é subjetivo e seu exercício nem sempre é percebido por aqueles que são por ele envolvidos. O condicionamento pode ser explícito, por meio de técnicas de persuasão ou práticas educacionais, ou implícito, como ocorre com a tradição cultural. “Nenhuma linha nítida separa um do outro; o condicionamento explícito transmuta-se gradualmente em implícito”. (GALBRAITH, 1989, p. 26). Os apontamentos permitem a indicação de características da relação entre os sujeitos em diferentes situações no ambiente laboral. Por vezes, situações que propõem alto nível de stress aos sujeitos, que têm de reagir a elas a fim de que atendam as especificações de seus empregadores. A exigência de benefícios ou mesmo aumentos de salários têm mobilizado inúmeras greves ao longo da história, mas muitas vezes a determinação de metas também oportuniza aos trabalhadores o atendimento de suas expectativas pessoais, que também podem incluir promoções profissionais, por exemplo. Porém, acredita-se que a manifestação do poder compensatório seja a mais frequente no ambiente organizacional, pois se sustenta principalmente nas estratégias discursivas que mobilizam as crenças e o envolvimento emocional dos indivíduos. Em apoio a essa perspectiva, recorre-se à proposta de Michel Foucault (2007), para quem a análise do poder tem de ir além do esquema economicista, o que implica reconhecê-lo como uma relação assimétrica, ou seja, dinâmica. Revel (2005, p. 67), ao abordar os

34

Conforme Torquato (2004).

46 “Conceitos Essenciais35” tecidos por Foucault, salienta que “[...] uns e outros não estando nunca fixados num papel, mas sucessiva, e até simultaneamente inseridos em cada um dos polos da relação.” Pode-se dizer que não se reconhece a soberania de um indivíduo sobre o outro, mas uma relação sistemática que depreende regras aceitas e transformadas pelos sujeitos em interação. A obra de Foucault é compreendida em três fases: a arqueologia, a genealogia e a ética. A primeira enfoca o estudo das ciências que tem o homem como objeto, de base extremamente estruturalista; a segunda trata da compreensão das relações estabelecidas entre os homens, pois se reconhece que elas norteiam a construção dos conceitos que orientam os deslocamentos relativos ao tal objeto. Tais relações são a imbricação da articulação entre os saberes, o poder e a verdade (VILAS BOAS, 2002). É importante ter este aspecto em mente, pois o olhar desenvolvido nesse estudo inscreve-se na segunda fase do pensamento de Foucault. Na terceira fase, denominada ética, Foucault volta seu olhar ao passado, aos conceitos clássicos sobre ética (OKSALA, 2011). Oksala (2011, p. 10) salienta que “o que marcou o início de cada “nova” fase foi a introdução de um novo eixo de análise, que resultou numa visão mais abrangente”. Foucault (2007) mobiliza o olhar à mecânica das relações de força, forma assumida pelo exercício do poder. Pode-se dizer que ele propõe duas engrenagens a essa movimentação: os mecanismos de repressão e o embate entre as partes. O encaixe destas engrenagens revela sua característica essencial: a repressão como consequência do embate. Assim, o poder ganha sua forma diante da conexão manifesta entre dois sujeitos, por meio do exercício do discurso, que implica o embate, ou estabelecimento das relações de força em um momento histórico específico. Ressalta-se que o discurso é o veículo do poder e a arma utilizada no embate. Por esses aspectos, percebe-se que para Foucault (2007) o poder não é uma entidade dotada de vida, soberana e estabelecida apenas por meio de legislação ou de estruturas fixadas por meio de contratos. Ao contrário, o poder é uma prática recursiva que forma os sujeitos, mas por eles é também transformado. Nas palavras de Foucault (2007, p. 103), o poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo que só funciona em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguns, nunca é apropriado como uma riqueza ou um bem. O poder funciona e se exerce em rede. Nas suas malhas os indivíduos não só circulam, mas estão sempre em posição de exercer este poder e de sofrer sua ação; nunca são o alvo inerte ou consentido do poder, são sempre centros de transmissão.

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REVEL, Judith. Michel Foucault: conceitos essenciais. São Carlos, SP: Clara Luz Editora, 2005.

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Evidenciam-se assim dois esquemas de análise do poder. O primeiro, tradicional, diante da conjunção contrato-opressão, privilegia a relação direito-poder, emergente do contexto monárquico, onde um rei detinha determinados diretos e limites sobre seus súditos. O segundo, dominação-repressão, inverte a lógica de observação da ramificação do poder na sociedade, por meio dos efeitos de verdade que dele decorrem e implicam as construções discursivas no que se refere à sua produção, transmissão e reprodução. A dominação não é polarizada, mas compartilhada e assumida diante do resultado do embate. Tal qual é a repressão, que se caracteriza como um efeito das relações de dominação. Nessa ótica, as regras estão em detrimento da “verdade”36 e as instituições revelamse como instrumentos de dominação por meio do estabelecimento do consenso a partir das relações de força entre os indivíduos, o que desencadeia o processo de sujeição. Sendo o poder como uma massa que une e separa os homens, “múltiplas sujeições existem e funcionam no interior do corpo social”. (FOUCAULT, 2007, p. 102). Assim, percebe-se a relevância de considerar o poder no processo de constituição das relações nas organizações e na sociedade, pois, por seu intermédio, a cultura pode estabelecer-se como a teia que vincula os sujeitos. Por meio do discurso, o embate é essencial ao sistema social, posto que cada situação revela as posições ocupadas por “uns e outros”. Diante da centralidade do poder para o estabelecimento dos vínculos sociais, cabe apresentar sinteticamente os pressupostos elaborados por Foucault (2007) para análise do poder no esquema que privilegia as múltiplas extremidades nas quais estão os sujeitos que permitem seu trânsito. A primeira proposição tange à inversão da observação do poder, a partir das extremidades, o que elucida como os sujeitos se organizam e como se materializam as punições e delegações do poder de punir. Reconhecer a face externa do poder implica a segunda recomendação. Ao invés de buscar quem tem o poder, investe-se no analisar o funcionamento do processo de sujeição, decorrente da regência dos comportamentos diante das convenções que se estabelecem socialmente. Acerca da situação no ambiente organizacional, uma das possibilidades implica a identificação de elementos da representação identitária dos trabalhadores, como os valores relevantes em suas condutas. Perceber o poder enquanto relação assimétrica é a terceira precaução metodológica proposta por Foucault (2007). Retoma-se a noção de rede, da qual o sujeito é transmissor, em cadeia exercita e sofre o exercício do poder, instituindo-se como seu efeito. Assim, pode-se promover a aproximação à teoria dos sujeitos da linguagem, que será abordada adiante, 36

Determinações legais e convenções sociais, conforme Foucault (2007).

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elaborada por Charaudeau (2008). Diante da tomada da palavra e a seleção dos elementos que compõem o discurso, o sujeito assume tal posição em função do poder que momentaneamente exerce sobre o outro. Ao terminar seu pronunciamento, repassa imediatamente o poder ao seu, até então, interlocutor. Observar esse jogo discursivo, a partir da atividade laboral exercida pelos trabalhadores no ambiente organizacional, é uma das possibilidades de investigar as relações de poder, atendendo ao que recomenda o próximo pressuposto elaborado pelo autor. O quarto pressuposto implica uma análise ascendente do poder, ou seja, a inversão do olhar a fim de identificar como se dão as práticas relativas ao poder a partir de suas ramificações. Conforme Foucault (2007), o olhar tradicional, descendente, que elabora os discursos de verdade, propicia deduções que, embora sejam fáceis, são parciais. Tal suposição implica, então, a percepção de como os trabalhadores, por exemplo, inserem em seu comportamento os aspectos normatizados e os aplicam diante de sua interação com os demais. Em suma: como a cultura (compreendida a partir dos saberes socializados pelo sujeito durante toda sua trajetória, antes e durante sua estada na organização) se impõe ao sujeito ao passo que ele se posicione diante do outro. Questões axiológicas intervêm diretamente na compreensão destes aspectos e orientam a percepção da atividade laboral exercida por tais sujeitos. A quinta e última precaução metodológica para análise do poder, conforme a genealogia elaborada por Foucault (2007), refere-se à compreensão das máquinas de poder, como a educação e a democracia, por exemplo, que se dizem ideológicas, mas que aludem a manifestações de institucionalização de saberes. Desse modo, compreender as relações de poder sugere a identificação da formação, organização e circulação dos saberes promovidos pelas instituições que compõem a sociedade e determinam as orientações do que é ou não adequado para a convivência. Trata-se da identificação das “técnicas e táticas de dominação”. (FOUCAULT, 2007, p. 94). As perspectivas apresentadas acerca da noção de poder encontram-se a partir da diferença. Ambos impulsionam o entendimento de que se trata de um elemento intrínseco aos ambientes organizacionais, dadas as interações entre os sujeitos, que resultam na construção de sentidos. Converge-se, então, às orientações das duas metáforas selecionadas para conduzir o olhar deste estudo a partir das propostas por Morgan (2011). Percebe-se que múltiplos contextos são inseridos em um ambiente que se propõe difusor de padrões comportamentais. As ações e diálogos produzem as lentes que capturam os sinais do mundo e compõem a organização diante de uma negociação dos significados. A convergência dos interesses não é de simples conquista, sendo por vezes satisfatória, visto que depende da ideologia que

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coordena o pensar e agir organizacional. Diante dos apontamentos feitos até o momento, pode-se encaminhar uma síntese das ideias tensionadas acerca das categorias cultura, identidade e cultura organizacional. Com esse propósito, segue a reflexão. 2.3

SUJEITOS EM INTERAÇÃO: ORGANIZAÇÕES

MANIFESTAÇÕES

CULTURAIS

NAS

Diante das noções apresentadas, defende-se a indissociabilidade entre as noções de cultura, comunicação e trabalho, visto que propicia um olhar hologramático às dinâmicas contemporâneas. A cultura movimenta-se e transmuta-se pela ação dos sujeitos, por meio de seus discursos que propõem a interação entre contexto e suas instituições, dentre as quais reside a própria noção de sujeito englobada. Aceita-se a participação ativa dos indivíduos tanto na socialização de saberes que implicam mecanismos de controle de conduta, quanto na sua hibridização entre o determinado socialmente (público) e no interior das organizações (privado). O interesse está na realidade produzida, repercutida pelo imaginário nas manifestações do EU em relação ao TU, e nas possibilidades de interpretação e construção de sentidos pelo TU. Com esse propósito, seleciona-se o ambiente organizacional para compreender esses movimentos, visto que se refere a uma estrutura fundante das identidades (CHANLAT, 1996), principalmente por meio do trabalho exercido pelos sujeitos. Essa perspectiva, porém, ainda não é amplamente associada aos estudos organizacionais, conforme apontam Fígaro e Rebechi (2013), pois a comunicação é manipulada como uma ferramenta, uma máquina com determinadas funções. Uma mudança de prisma posiciona a comunicação como processo, que permite a construção e disputa de sentidos (BALDISSERA, 2009a), bem como possibilita perceber as organizações como uma forma de manifestação humana (SMIRCICH, 1983). Defende-se que as organizações são culturas (MARTIN, 2004; MEYERSON; MARTIN, 1987) e opta-se pela conjunção entre as metáforas da cultura e dos sistemas políticos (MORGAN, 2011) para compreender o fenômeno da cultura organizacional. Dele estabelecem-se as normas de convívio coletivo, por meio de uma negociação de interesses (MORGAN, 2011). O poder garante a manutenção da rede em face da materialidade do discurso, que se compõe dos elementos simbólicos em trânsito, por meio do imaginário. Com a finalidade de nortear a apreciação da relação sujeito–trabalho, propõe-se a elaboração de um dispositivo de análise a partir de categorias teóricas, que será apresentado no capítulo 5. Refere-se a uma possibilidade de organização dos saberes, cuja fonte constitui-

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se da conversão dos pressupostos teóricos deste estudo de dissertação, que permitam contemplar a realidade diante da estrutura de significação selecionada para sua aplicação, as organizações, em especial do caso selecionado. A Figura 2 sintetiza os subsídios iniciais frente ao desafio de representar a conjunção de tais saberes. Figura 2 - Cultura Organizacional: cultura, identidade e poder

Fonte: elaborado pela autora

Por meio da linguagem, propõe-se a identificação das manifestações culturais advindas ao trabalho. A Figura 2 condensa as noções de cultura, comunicação organizacional37, relações de poder e identidade a fim de desencadear o fio a tecer o contexto e as circunstâncias que envolvem a atividade laboral. A representação expressa nos discursos promove a construção de significados que compartilhados passam a conduzir as relações que estruturam cada ponto da teia. Antes, porém, de seguir rumo ao encontro da realidade vivenciada pelos trabalhadores perante a unidade de análise selecionada para este estudo, acredita-se que refletir mais algumas categorias teóricas seja necessário. Nesse sentido, a sequência do estudo visa compreender a noção de trabalho, sua construção ao longo do tempo e pensar possibilidades para sua ressignificação, já que, conforme Ranieri (2011, s. p.), “é a base sobre a qual sedimenta o próprio universo da realização da atividade humana. [...] atividade vital”.

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Noção será explorada no capítulo 4.

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3 INTERAÇÕES NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL: POSSIBILIDADE DE RESSIGNIFICAÇÃO DO TRABALHO? “Mas a gente tem de substituir isso pela ideia de obra, que os gregos chamavam de poiesis, que significa minha obra, aquilo que faço, que construo, em que me vejo. A minha criação, na qual crio a mim mesmo na medida em que crio no mundo”. (CORTELLA, 2014, p. 21)

As concepções de cultura, cultura organizacional e identidade, abordadas no capítulo anterior, permitem uma contextualização ampla e simultaneamente profunda da realidade que cerca as relações entre os sujeitos, especialmente as decorrentes do ambiente organizacional, cuja fonte essencial é o trabalho. Abrem-se, então, caminhos para tais conexões, cuja abordagem é almejada neste capítulo. Ao estudar o mundo do trabalho, percebe-se que a polarização das práticas coletivas entre o prazer e o sacrifício, embora transcendam o tempo, podem ser transformadas, frente às experiências conscientes do fazer laboral, perante os usos da linguagem. Da noção de cultura e representação chega-se às representações identitárias no trabalho. Cabe salientar que para uma reflexão ampla acerca da cultura, é necessário considerá-la como um processo (CUCHE, 1999), uma teia em (re)construção permanente diante da socialização de saberes entre os sujeitos (GEERTZ, 2008). Nesse sentido, as organizações são aceitas como espaços fundamentais à construção dos significados que transitam socialmente, diante das interações estruturantes do trabalho, que “[...] não é só uma característica humana, mas o traço fundamental de toda a sociedade, o elemento que ordena as sociedades”. (TERSAC; MAGGI, 2004, p. 80, grifo do autor). A relação estabelecida entre o ‘eu’ e o ‘outro’ é delineada pelo poder, exercido em rede e manifesto por meio dos discursos (FOUCAULT, 2007) que resultam em representações que constituem a identidade desses seres de linguagem (CHARAUDEAU, 2008). Inerente a isso, está a mundialização, cujos movimentos têm provocado transformações nas diversas esferas da vida humana. No que se refere ao trabalho, as múltiplas mudanças se dão na forma de oficialização da atividade, na constituição dos grupos de trabalhadores, na forma como o sujeito se relaciona com seu fazer. Antunes (2009), ao observar esses movimentos, afirma que não se pode mais tratar os trabalhadores enquanto classe homogênea, mas dar amplitude ao ser social que trabalha o que “[...] inclui a totalidade daqueles que vendem sua força de trabalho”. (ANTUNES, 2009, p. 102), da tradicional produção fabril aos trabalhadores rurais e prestadores de serviços, ou seja, a totalidade dos

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trabalhadores remunerados. Ainda conforme esse autor, a heterogeneidade do trabalho está na inclusão dos diferentes gêneros, etnias ou mesmo nacionalidades ao ambiente organizacional (ANTUNES, 2009). O caráter transnacionalizado38 do capital e do sistema de produção provoca importantes mudanças na forma como os sujeitos percebem seu trabalho. “Com a reconfiguração, tanto espaço quanto tempo de produção, dada pelo sistema global do capital, há um processo de reterritorialização e também de desterritorialização”. (ANTUNES, 2009, p. 115). É necessário adaptar-se às múltiplas bases locais e globais que o fazer laboral possui, pois a primeira permanece influenciando a construção identitária do sujeito, mas a segunda é determinante à definição de novas tecnologias que permitam a realização da atividade. A realidade contextualizada por Antunes (2009) é também alvo das reflexões de Sennett (2009), que observa a corrosão do caráter humano produzido pelo novo capitalismo. Ao traçar um paralelo entre o chamado capitalismo industrial e o capitalismo moderno, Sennett (2009) apresenta uma série de paradoxos experimentados pelo sujeito no trabalho, do linear ao emaranhado, do cumulativo ao flexível, do longo ao curto prazo e da fixidez à mudança constante. A narrativa de vida de um indivíduo transcende à pluralidade, estabelecendo uma ruptura com o sentido contínuo e progressivo de uma profissão. A noção de narrativas de vida é central na argumentação de Sennett (2009), pois esse autor acredita que sua variabilidade é nociva à vida dos sujeitos. “O problema que enfrentamos é como organizar as histórias de nossas vidas agora, num capitalismo que nos deixa a deriva”. (SENNETT, 2009, p. 140). A flexibilidade e a incerteza coordenam a ordem atual. Diante dos cenários que se apresentam, algumas profissões desaparecem e novas são postas no mercado. Como produtos em uma gôndola, transitam enquanto atendem às demandas do consumidor, papel assumido pelo mundo do trabalho. Com os movimentos mundializados e a transformação constante dos desejos humanos, tornar-se obsoleto no trabalho é algo trivial. É, então, necessário atualizar-se, especializar-se, ao ritmo do tempo contemporâneo. Diante desse aspecto, talvez seja permeada a problemática levantada no segundo capítulo desse estudo39 acerca do habituar-se às proposições de tempo e de espaço tecidos permanentemente pelos sujeitos no cotidiano. A que se pertence? A que se quer pertencer? 38

“Tomar o planeta como um conjunto unificado”. (ORTIZ, 2009, p. 238). Conforme reflexão proposta na seção 2.1.1, indaga-se capacidade do sujeito em habituar-se às proposições de tempo e espaço que ele mesmo estabelece na contemporaneidade, reflexão decorrente das abordagens relativas à mundialização promovidas por Bauman (2007), Lipovetsky (2007) e Ortiz (1998). 39

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Como se posiciona o sujeito diante da competitividade, da flexibilidade e da desterritorialidade presentes nos discursos que constroem as representações culturais? O trabalhador que até pouco tempo adentrava em um ramo profissional, ingressava em uma organização e por ali permanecia durante toda sua trajetória. Uma carreira era estabelecida e seu ponto final garantia o gozo negado nos árduos anos de vida no trabalho. Tais questões, segundo Sennett (2009), têm a ver com a velha e a nova ética. No passado, vinculada aos pressupostos religiosos, a ética disciplinava o sujeito no tempo. Cada situação ocorre em uma fase específica e mais adequada à vida humana, por isso sacrificar-se ao longo do tempo em prol de um futuro melhor fazia sentido. Uma inversão a essa ordem ética é estabelecida na contemporaneidade e já não há mais tempo a esperar, pois a incerteza impulsiona o agir; esvazia a experiência (SENNETT, 2009). Antunes (2009) corrobora com esses apontamentos ao afirmar que o trabalho é heterogêneo, complexo e fragmentado. A exigência de mais qualificação, a flexibilidade quanto aos horários do trabalho, as múltiplas tarefas que são compartilhadas por um grupo de trabalhadores em prol da montagem de um produto ou do desenvolvimento de uma estratégia de propaganda, por exemplo. Esses efeitos em conversão provocam uma “crise que atinge ainda fortemente o universo da consciência, da subjetividade dos trabalhadores, das suas formas de representação”. (ANTUNES, 2009, p. 207). Os sujeitos transformam as referências registradas em suas memórias em sentimentos de incerteza e têm dificuldade em adequar-se, pois o processo de transformação da cultura e o movimento identitário estão em descompasso. Diante desses aspectos, considera-se que compreender tais transformações exige um olhar para o passado a fim de percorrer alguns caminhos sinuosos ao encontro de um entendimento sobre o trabalho, já que, conforme Tersac e Maggi (2004, p.83), não se trata de uma noção universal, mas um “conceito historicamente datado, enquadrado pela produção econômica”. Propõe-se, então, a apresentação de alguns eventos que ao longo da história têm influenciado a relação sujeito e trabalho. Considera-se que tal percurso seja relevante à reflexão que se busca desenvolver acerca de uma ressignificação. 3.1

A NOÇÃO DE TRABALHO E SEUS TORTUOSOS CAMINHOS Trabalho: palavra que quando pronunciada apresenta-se carregada de elementos

negativos. Sua origem etimológica está no latim culto labor e também no vulgar tripalium, que se refere a um instrumento de tortura, meio de prover sofrimento. A sociedade grecoromana, do século II a.C. – V, estruturou-se diante do sistema escravocrata; o trabalho era

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atribuição de gente indecente, imoral, que necessitava de punição. Filósofos da Antiguidade como Aristóteles e Platão desprezavam o fazer manual, que era considerado castigo dos deuses (CORTELLA, 2014). Na sociedade medieval, embora os nomes tenham alterado, referiam-se ainda ao sistema escravocrata de estruturação social. O servo estava à disposição do senhor, dele dependia. Os servos, porém, tinham benefícios em relação aos escravos, que nesta época eram trazidos de fora da Europa. Senhores utilizam a mão de obra de seus servos, que deixam aos escravos o fazer mais subalterno. Pode-se supor que neste esquema de relação estabelece-se a relação entre classes, embora essa expressão vá ser cunhada apenas no século XIX por Karl Marx, diante dos estudos da sociedade capitalista que se formara por volta do século XVI, com o calvinismo e o protestantismo. O período medieval é marcado pelo pensamento religioso e o trabalho é uma das formas de punição de Deus, cuja explicação pode ser observada na Bíblia (CORTELLA, 2014). A partir do século XVII, o trabalho passa a ter conotação à produtividade que permite a existência dos seres (TERSAC; MAGGI, 2004). Diante dos princípios emergentes no Protestantismo, o trabalho é a continuidade da obra divina, cuja remuneração deveria ser guardada para uma vida melhor quando não mais fosse necessário trabalhar. Para o Catolicismo, a servidão estava ligada ao sofrimento que traria libertação após a morte (CORTELLA, 2014). Pode-se supor, então, a origem da relação entre a velha e a nova ética mencionada por Sennett (2009). Da imposição do sacrifício em prol da piedade de Deus ao trabalho que é continuidade da obra de Deus, logo, o sacrifício não é mais permanente, mas provisório, em prol de uma satisfação futura. Novas determinações de tempo emergem dessa relação. Sob esse contexto, estabelece-se o início do capitalismo. Sennett (2009) destaca o pensamento de dois filósofos do século XVII: o francês Dennis Diderot40 e o escocês Adam Smith41. Ao refletir sobre as rotinas de trabalho, percebe-se que os princípios religiosos, catolicista e protestante, norteiam a essência de seus olhares. Enquanto Diderot assinala que o trabalho em constante repetição promove o controle do fazer pelo sujeito, logo, o acalma e implica uma unidade mental e manual, para Smith a reprodução permanente de tarefas leva a especialização que produz a ignorância. Se Diderot defende a unidade humana por meio do

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Escritor e filósofo francês (1713 - 1784). Pensador iluminista foi editor da “Encyclopédie” entre 1750 a 1772. Filósofo e economista escocês (1723 - 1790). Os pressupostos elaborados por Smith serão retomados à elaboração de tratados intelectuais acerca do capitalismo e liberalismo. 41

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trabalho, Smith acredita na sua degradação, gerada pela segregação da vida, o prazer, e do trabalho, o sacrifício que propicia o prazer. (SENNET, 2009). No século XIX, a reflexão de Smith é submetida à releitura do sociólogo alemão Karl Marx42 (CORTELLA, 2014; SENNET, 2009), que tece sua análise acerca do capitalismo decorrente da maquinização do trabalho. Marx deflagra a degradação humana decorrente da especialização de um fazer, que leva o homem à alienação. A crítica marxista tem como centro a noção de que o homem e seu trabalho são, no modo de vida capitalista, meras mercadorias, pois “com a valorização do mundo das coisas, aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens. O trabalho não produz apenas mercadorias; produz-se também a si mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria”. (MARX, 2006, p. 111, grifo do autor). Sob essa perspectiva, Marx (2006) desenvolve a noção de alienação ou estranhamento43. Diferentemente do período em que a produção agrícola coordenava as relações sociais, o trabalho fabril submetia o sujeito a um estranhamento, uma vez que nada do que produzia em sua atividade era seu, mas de outro. Em seus Manuscritos EconômicoFilosóficos, Marx (2006) apresenta três aspectos que constituem a alienação (ou estranhamento) oriunda do trabalho, conforme pode-se observar no Quadro 6: Quadro 6 - Aspectos da Alienação (ou Estranhamento) no Trabalho

Aspecto Externalização Autoalienação

Vida genérica

Descrição O trabalho não pertence à natureza do homem, logo não o desenvolve enquanto humano, já que ele mesmo é visto como pertencente à organização e a seus donos. Relação do sujeito com o ato da produção, a atividade laboral na qual emprega sua energia e seu sacrifício, já que esse fazer não lhe pertence, mas a outro que o contrata e remunera. Enquanto parte da natureza, o homem constitui sua vida diante de questões vitais como a alimentação, por exemplo. Por meio do trabalho, elemento estranho, a vida é transformada em existência e modifica a relação consigo e com os demais sujeitos. Fonte: elaborado pela autora com base em Marx (2006)

Os três aspectos apresentados no Quadro 6 evidenciam que no modo de produção capitalista o trabalhador abre mão da sua “natureza” para atender às demandas de outro 42

Filósofo alemão (1818 - 1883) propõe um tratado acerca do capitalismo, a fim de combatê-lo em prol do comunismo. 43 Conforme observa Antunes (2011), o uso de um termo ou outro varia conforme a leitura que os autores, como Ranieri (2011) e Mészáros (2006), realizam da obra de Marx. A alienação aparece de certa maneira natural à realidade dos sujeitos, já que é constituinte da atividade humana, enquanto o estranhamento é concebido diante de certa conscientização do sujeito, que sente-se em sacrifício ao realizar seu trabalho, pois é um produto feito por ele para outro, ou seja, não pertence ao trabalhador. (ANTUNES, 2011). Neste estudo, a exemplo de Antunes (2009, 2011) utilizar-se-á a noção relacionada a estranhamento.

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sujeito, cuja situação financeira tende a ser superior, o que dá origem às classes sociais. Conforme Marx (2006), o fato de o sujeito dispensar seu tempo e sua vida em prol do recebimento de uma coisa, a remuneração, para produção de coisas as quais ele mesmo pagaria posteriormente, deveria causar estranhamento, pois está aquém de sua natureza. O sistema capitalista, porém, constitui-se desse estranhamento e o transforma em elemento natural à vida do sujeito, que se aliena perante benefícios, como diferenciar-se dos demais na condição (ou não) de adquirir bens, e aceita representar o papel de mercadoria em seu contexto. (MARX, 2006). De acordo com o raciocínio de Marx (2006), o trabalho representa a perda de si, pois priva o sujeito do desfrute pleno da vida. A atividade laboral concreta, aquela que compreende o sustento ou moradia do sujeito, que é estruturada em um fazer seu para si, transforma-se em abstrata, uma vez que o resultado do trabalho passa a ser de outro, que o avalia e o remunera diante de seus parâmetros. Uma reificação 44 e coisificação45 são decorrentes do trabalho diante dos princípios capitalistas, já que as relações sociais passam a ser pautadas pela valoração monetária. “Na vigência da lei do valor de troca, o vínculo social entre as pessoas se transforma em uma relação social entre coisas”. (ANTUNES, 2011, p. 124). A negatividade das concepções exploradas por Marx (2006), acerca da alienação (estranhamento), é decorrente de sua releitura da obra da Smith, que ressalta a divisão entre o lugar para se viver e para se trabalhar (SENNETT, 2009). O início do século XX é marcado por aspectos que evidenciam a alienação conforme concebida por Marx. O modo de produção esboçado por Frederick Taylor46 e praticado por Henry Ford47, denominado “organização científica do trabalho” e popularmente conhecido como taylorismo-fordismo, passa a vigorar em organizações dos mais diversos segmentos. “A administração científica procura extirpar os indesejáveis problemas consequentes da ação coletiva dos trabalhadores, desenvolvendo todo um aparato gerencial de planejamento, organização e controle voltado para o posto de trabalho isolado”. (BROM, 2006, p. 22). As habilidades intelectuais dos sujeitos eram desconsideradas, visto que deveriam apenas

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O pensamento do filósofo György Lukàcs (1885/1971) atualiza o conceito de fetichismo elaborado por Marx, e cunha a expressão reificação: “um processo pelo qual a mercadoria apresenta-se à consciência dos homens revestida de um caráter místico, que atribui às relações entre os homens na produção a forma de uma relação social entre os produtos do trabalho humano e não entre os produtores”. (FREIRE, 2010, p. 4). 45 O homem se converte em mercadoria. (MARX, 1974). 46 Engenheiro americano (1856/ 1915), considerado o pai da administração científica. Inventor do sistema industrial de gestão que menciona seu nome, o taylorismo, que orienta a indústria moderna. (MEE, 2006). 47 Engenheiro mecânico americano (1863/ 1947), criador da Ford Motor Company em 1903. (Administradores.com).

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executar as ações previstas para sua função. Os trabalhadores não teriam dimensão do trabalho que realizavam, pois tinham acesso a apenas uma ínfima parte do processo. As técnicas e medidas de programação, padronização, os manuais, o estudo de tempos e movimentos tratam-se de algumas das técnicas elaboradas por Taylor para uma maior produtividade nas organizações. A dimensão humana era desconsiderada e os sujeitos tratados como engrenagens das máquinas, as mesmas que outrora assolavam seus sonhos como possibilidade para o fim de seus trabalhos. De fato, os postos de trabalho existentes antes da inserção das máquinas no processo produtivo reduziram-se amplamente. A nova organização do trabalho, no entanto, garantia seu espaço. A qualidade desse espaço não era relevante para os trabalhadores, ao menos em um primeiro momento. A linha de montagem fordista, sob a premissa de concentração máxima da tarefa e quantidade mínima de movimento dos trabalhadores, alcançou a produção, entre os anos 1908 e 1926, de 15 milhões de veículos, um marco surpreendente para a época (BROM, 2006). A estruturação da organização científica do trabalho tinha como princípios a produção em massa de mercadorias, que implica a homogeneização dos produtos. A gestão verticalizada estabelece níveis hierárquicos de múltiplos escalões e salienta a fragmentação e repetição permanente das tarefas. A racionalização dos afazeres dos sujeitos configurava uma desantropomorfização48 do humano que produzia “operários-massa” (ANTUNES, 2009). Segundo Antunes, (2009, p. 42) com a “perda da identidade cultural da era artesanal e manufatureira dos ofícios, esse operário havia de racionalizado de modo relativamente homogeneizado”. O início dos anos 1970 é marcado pelo cenário pós-guerra e pela emergência de movimentos sociais das minorias em busca de seus direitos. O esgotamento do sistema capitalista é deflagrado por uma “revolução” da classe trabalhadora em prol do “controle social”. (ANTUNES, 2009). Mutações intensas se dão nesse momento e a oposição ao modelo de trabalho vigente torna-se imprescindível. “Vinculado ao surgimento de um “novo espírito do capitalismo””. (BERNARDO, 2009, p. 23), com vistas à melhoria das condições de trabalho, surge o toyotismo, modelo japonês de maior destaque dentre as propostas flexíveis de trabalho. 48

Em seu sentido estrito, refere-se à desumanização do trabalho, ou exclusão do sentido humano do sujeito, que tem seu fazer mecanizado frente às exigências das organizações. “A prevalência da razão instrumental assume a forma de uma enorme irracionalidade societal. O que coloca um desafio fundamental e candente: a desconstrução desse ideário e dessa pragmática é condição para que a humanidade e, portanto, também o trabalho possam ser verdadeiramente dotados de sentido, obstando o destrutivo processo de desantropomorfização do trabalho em curso desde o início da Revolução Industrial”. (ANTUNES, 2008, p. 24).

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Uma reorganização do capital decorre da flexibilidade almejada pelos trabalhadores, que têm na reestruturação produtiva a oportunidade de transformar seus modos de vida. Para alguns autores (ANTUNES, 2009; BERNARDO, 2009), porém, tal mudança está, de fato, no plano discursivo, sendo os efeitos das rotinas muito próximos do taylorismo. O Quadro 7 compara as características principais de cada modelo: Quadro 7 - Organização Científica x Flexível do Trabalho

Organização Científica do Trabalho Nomenclatura popular: taylorismo/ fordismo Produção em série, massiva, homogênea Trabalho individualizado e fragmentado Processo “duro” – um trabalhador para uma máquina Grande estoque Estrutura vertical e produção dentro da empresa A capacidade reflexiva dos trabalhadores é irrelevante

Organização Flexível do Trabalho Maior destaque: toyotismo Produção vinculada às demandas heterogêneas Trabalho multifuncional e em equipe Processo flexível – um operador para várias máquinas Princípio just-in-time49 e sistema kanbam50 (estoque mínimo) Estrutura horizontal e serviço terceirizado Grupos de trabalhadores para avaliação e aprimoramento da produtividade

Fonte: elaborado pela autora com base em Antunes (2009)

Mudanças significativas quanto ao sistema de produção podem ser percebidas no Quadro 7. Porém, “[...] o que caracteriza a organização do trabalho nas empresas não é a substituição do taylorismo-fordismo por um “novo” modelo, mas sim, o aperfeiçoamento deste com a inclusão da inteligência e do saber do trabalhador como um capital imaterial a ser explorado”. (BERNARDO, 2009, p. 182). Evidencia-se, assim, que os movimentos orientam e ampliam o sistema capitalista no qual o trabalho é desantropomorfizado, embora o discurso de flexibilidade permeie as relações de trabalho e saliente a importância da participação do trabalhador nas organizações. O século XX é mobilizado pela tônica da produtividade e pela busca incessante acerca dos meios mais profícuos para que os sujeitos produzam ao máximo em prol de reconhecimento e benefícios (TERSAC; MAGGI, 2004). Aspectos como esses motivam Antunes (2011) a refletir acerca da alienação (ou estranhamento) contemporânea, pois a subjetividade humana permanece desconsiderada nesse ordenamento atualizado do trabalho. A aparência de uma gestão “mais participativa” inspira a noção de relevância intelectual, mas ainda com o enfoque no trabalhador como mercadoria. Embora as novas engrenagens e mecanismos produzam a feição de uma interiorização do 49

Método para gestão da produção. “A ideia dos japoneses é produzir pequenas quantidades para corresponder à procura, enquanto que os ocidentais produzem grandes quantidades de produtos vários para o caso de virem a ser necessários”. (Disponível em: http://www.administradores.com.br/artigos/carreira/o-que-e-just-in-time/21936/). 50 Parte do sistema Just-in-time é uma ferramenta de gestão de controle de estoque. (MOURA, 1989).

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sujeito, ele permanece extrínseco ao trabalho. Tais questões sugerem que a reflexão acerca do trabalho precisa ser permeada pela interdisciplinaridade, tanto conceitual, quanto de campo. Os estudos ergonômicos perpassam por esse propósito e destacam-se, principalmente, por colocar no centro o sujeito que trabalha, com a finalidade de promover a ele, melhores condições. Pode-se dizer que o “lema” que orienta os estudiosos da ergonomia é compreender o trabalho para transformá-lo (GUÉRIN et al., 2001; WISNER, 1994; ABRAHÃO et al., 2009). A ergonomia é uma perspectiva antropocêntrica, cujo enfoque está no trabalho enquanto meio de desenvolvimento do sujeito. “Trata-se de uma disciplina orientada para uma abordagem sistêmica de aspectos (físicos, cognitivos, sociais, organizacionais, do ambiente, etc.) da atividade humana”. (ABRAHÃO et al., 2009, p. 18). O contexto socioeconômico póssegunda-guerra mobiliza as organizações a disporem de formas mais humanizadas de trabalho. Nesse período, Alain Wisner, médico francês, é contratado para desenvolver meios de melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores junto às linhas de montagem da Renault51. A constatação da defasagem do modelo de Taylor e Ford acerca da distância entre as determinações das tarefas e a sua execução pelos trabalhadores, é tida como um dos princípios da ergonomia: a distância entre o prescrito e o real. Esse contexto faz com que os estudos ergonômicos nos anos 90 proponham-se a “ver toda a situação de trabalho como viva, ativa e variável, a partir de sua dimensão fundamental de regulação”. (TERSAC; MAGGI, 2004, p. 98). A questão apontada por Wisner (1994) acerca da distância entre o prescrito e o real, combinado a outros aspectos, depreende os estudos de outro grupo de estudiosos, que, de maneira interdisciplinar, investiga as questões perante o lado enigmático do sujeito na trama das atividades sociais. Fala-se, então, em ergologia. Enquanto a ergonomia está interessada na distinção entre o prescrito e o real, o que proporciona o sentido na atividade do trabalho mercantil, a ergologia promove a dialética52 entre normas antecedentes e renormalizações na atividade humana (NOUROUDINE, 2011). A noção de atividade tem o propósito de reconstituir a face humana e subjetiva do trabalho, que conforme se pode observar no ambiente organizacional, frente a aplicação dos modelos taylorista e toyotista, é irrelevante. A fim de esclarecer a noção de atividade, elabora-se o texto que segue. 51

Construtora automobilística francesa fundada em 1898, por Louis Renault. Introduz o modelo taylorista de trabalho na França. 52 A dialética na ergologia é utilizada em seu sentido marxista, que revisita a noção de tese, antítese e síntese hegeliana. Nesse sentido, evidencia as contradições existentes entre as normas e suas transgressões, que resultam em renormalizações.

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3.2

O TRABALHO: UMA ATIVIDADE HUMANA O olhar que a sociedade investe ao trabalho é determinante às condições que os

sujeitos têm em suas relações. “A atividade de trabalho é, de imediato, social. Ela permite a cada um se produzir como ser social”. (DURAFFOURG, 2007, p. 68). Esse aspecto conduz a reflexão acerca da problemática da representação do trabalho, predominantemente negativa, como pode-se observar no percurso descrito anteriormente. Em geral, a leitura das práticas laborais se dá com enfoque na situação em que a atividade se inscreve, ou seja, da prescrição, do contexto, à realização. Porém, a análise da atividade humana do trabalho preocupa-se com a tensão da dialética entre os usos de si do sujeito. Um movimento contrário, que centraliza aquele que faz uso de suas características pessoais para realizar algo solicitado por outro, pelo meio externo (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007). Assim, a atividade humana é o uso que o sujeito faz de si em função dos usos propostos pela coletividade, expressos na cultura e atualizados no cotidiano. As orientações de conduta expressas pelas manifestações culturais dos indivíduos de uma sociedade podem ser percebidas como prescrições, fundamentais à convivência, pois a organiza. A apreensão que o sujeito faz dessas normas pode ser percebida a partir da representação que produz diante de algum fenômeno. Ao se considerar o trabalho como categoria, compreende-se que a dialética entre o posto ao longo dos anos pela sociedade e aquilo que é absorvido pelo trabalhador diante das situações a que é submetido, faz com que a atividade laboral seja percebida de diferentes maneiras. A atividade é o “conjunto de fenômenos que caracterizam o ser vivo cumprindo atos. Estes resultam de um movimento do conjunto do homem adaptado a um objetivo”. (GUÉRIN et al., 2001, p. 16) determinado socialmente. Por características como essas, pode-se afirmar que o trabalho é uma das extensões da atividade humana. Há, porém, de se ter em mente a diferença entre trabalho e emprego, esfera que produz classificações como desempregado, aposentado, lazer, dentre outras; implica a chamada “vida ativa” e a remuneração salarial. O trabalho compreende uma dupla dimensão: pessoal e socioeconômica. A primeira refere-se às estratégias utilizadas pelo trabalhador para realizar suas tarefas. A segunda dimensão, enquadrada pela situação de trabalho, decompõe a atividade humana em atividade de trabalho. O trabalho pode ser realizado dentro ou fora dos parâmetros regimentais da dimensão socioeconômica, como é o caso de trabalhadoras do lar, artesões e outros. Porém, as condições de trabalho estão imbricadas às condições sociais de produção, logo, à dimensão socioeconômica, que transforma o resultado concreto da atividade em valor econômico, o que

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gera as categorizações e as escalas de valoração entre as profissões. Atenta-se a esse aspecto para a compreensão do trabalho sob outro enfoque: do sujeito, que se vale da sua singularidade para interpretar o prescrito na produção de bens e serviços para outros. Embora, como apresentado anteriormente, o toyotismo possibilite uma flexibilização do uso de si, admitindo intervenções do trabalhador no processo de constituição de uma tarefa, ainda não se vislumbra o trabalho como atividade humana. O intelecto do sujeito é valorado tal qual o trabalho braçal no taylorismo. O envolvimento subjetivo não é variável de interesse da organização ou mesmo do trabalhador, que movimenta o sistema capitalista e mantém as representações de trabalho desenvolvidas ao longo do tempo, ampliando o que Sennett (2009) e Bauman (2007) chamam individualismo negativo e degradante. Perante essas observações, cabe retomar a proposta marxista acerca do trabalho. Conforme Ranieri (2011, s. p.), Marx, ao revistar a teoria social de Hegel, indica que o trabalho é atividade humana, fonte de “proposições de desenvolvimento dos aspectos concreto de toda constituição do ser. E isso porque encontramos nessa teoria a pressuposição de que, mais importante do que este ser, é o processo que sobre ele atua, transformando-o de acordo com sua caracterização interna”. Por perceber a relevância da presença singular do humano no fazer da atividade laboral, Marx condena a coisificação a que ele se submete em troca de salário. Isso, pois “se tirássemos do homem a sua qualidade “humana”, não poderíamos dizer o que ele é, e ele é o produtor de um processo histórico do qual ele mesmo é resultado - ele é sua própria essência”. (RANIERI, 2011, s. p.). Em convergência com essas concepções, Schwartz (2004, p. 37) afirma que a atividade humana está na “esfera das múltiplas microgestões inteligentes da situação, às tomadas de referências sintéticas, ao tratamento das variabilidades, à hierarquização dos gestos e dos atos, às construções de trocas com a vizinhança humana”. A noção da atividade enquanto uso de si, diante das múltiplas condições que a determinam e da relação com os outros, introduz uma forma diferenciada de interação sujeito–mundo, já que é a partir dela, também, que se constitui a identidade e se materializa a socialização dos saberes que cercam as tomadas de decisão. Sob essa guia, Clot (2006a) desenvolve a clínica da atividade, cujo foco está no coletivo do desenvolvimento da subjetividade. “Do ponto de vista do meu engajamento, do lado da experiência vivida, do sentido do trabalho [que] restitui o poder do sujeito sobre a situação”. (CLOT, 2006b, p. 102). A experiência decorrente do trabalho é aceita no hall da produção e do compartilhamento de saberes pelos sujeitos, visto que

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[...] o trabalho ocupa na construção da identidade e da saúde um lugar insubstituível. Pois o trabalho é o lugar em que se desenrola para o sujeito a experiência dolorosa e decisiva do real, entendido como aquilo que – na organização do trabalho e na tarefa – resiste à sua capacidade, às suas competências, a seu controle. (CLOT, 2006a, p. 59).

A proposta de Clot (2006b) dirige-se à realidade apresentada por Antunes (2011) acerca da noção de subjetividade autêntica ou inautêntica: “[...] o incentivo para o exercício da subjetividade do trabalho é sempre conformada pelos interesses das empresas”. (ANTUNES, 2011, p. 127, grifo do autor). Embora a flexibilidade dos processos organizacionais proponha maior participação intelectual no trabalho – encontro com o real – ainda assim tal a atividade humana é direcionada essencialmente aos interesses financeiros do mercado, sendo a formação identitária e subjetiva do trabalhador irrelevante nesse processo. Inclusões e exclusões são produzidas diante das experiências que são introduzidas, pela sociedade, ao sujeito. O trabalho se modifica ao longo do tempo, mas ainda não inclui os elementos humanos, de fato, cuja relevância está nas relações que o sujeito estabelece consigo e com os outros no uso de suas competências, o que transgride a tarefa, o trabalho, e se torna atividade humana. Nouroudine (2011) afirma que a contemporaneidade produz a problemática de conhecer o trabalho, quando ele não é mais trabalho. Sob a hipótese de que se considera o modelo do “verdadeiro trabalho” aquele que é mercantilizado, esse autor apresenta outras duas formas de trabalho que, na sua concepção, compõem a sociedade: o trabalho não mercantil e informal. O Quadro 8 sintetiza as principais ideias referentes a cada forma: Quadro 8 - Como reconhecer o trabalho, quando não é mais trabalho?

Trabalho Mercantil Modelo - Norma - stricto sensu; - remunerado; - pertencimento social (inclusão/ exclusão); - produzir para vender.

Trabalho não mercantil Cópias imperfeitas do modelo – Distorções da norma - Economia das trocas (ex. algumas sociedades africanas); - a troca está para além do sentido econômico, pois tange as relações sociais; - esforço social – valor simbólico; - produzir para dar e para consumo próprio.

Trabalho Informal Oposição à norma - Solidariedade familiar; - experiência x referência; - privada da forma (sem características essenciais); - realizada na desordem, visto que é desprovida de estrutura; - aleatório às regras mercantis.

Fonte: elaborado pela autora com base em Nouroudine (2011)

Após o esclarecimento acerca da noção de atividade, torna-se plausível a proposta de Nouroudine (2011), apresentada no Quadro 8, no qual fica evidente a diferença entre emprego e trabalho. Enquanto o emprego caracteriza-se como modelo social de apropriação da mão de

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obra do sujeito, o trabalho vai para além, pois não são as estruturas determinadas pelo mercado ou pela organização que determinam as relações que o trabalhador tem com o seu fazer, mas a expectativa pelo desenvolvimento mais completo do ser humano. Fígaro e Rebechi (2013, p. 3) contribuem na delimitação do enfoque no que se refere à relação comunicação e trabalho: “[...] não se confunde o trabalho com emprego e não se reduz as relações de trabalho à existência de um contrato salarial, ao mercado de trabalho ou às bases legalistas que regulam as obrigações e os direitos da classe trabalhadora e do patronato”. O que se quer destacar é a relação sujeito-atividade, independe de remuneração ou das imposições de consumo e, nesse sentido, o trabalho passa a ser ressignificado. Ressignificar o trabalho passa por evidenciar a atividade em detrimento da tarefa; por criticar a perspectiva do sujeito reprodutor e enfatizar as ações permanentemente transgressoras, resultantes da consciência dos saberes produzidos na realização da atividade, a sua obra. Desse modo, defende-se a noção de atividade para o estudo da relação comunicação e trabalho, pois considera as múltiplas dimensões do fazer do sujeito, que passa a ser percebido em sua complexidade, não como mero produto de um sistema, mas como seu mantenedor e estruturador. A ênfase na atividade propõe a conscientização do fazer e do desenvolvimento individual do sujeito. Embora sejam consideradas as questões legais trabalhistas, aceita-se que a dimensão da comunicação que se ancora no trabalho, deva atuar de modo a mobilizar essa produção ressignificada do fazer laboral. Schwartz e Durrive (2007), a fim de aprofundar a compreensão da atividade, propõem a comparação com a técnica. Conhecimento definido por uma tradição, a técnica é um protocolo, enquanto a atividade dá relevo à competência criativa do sujeito. Sob a asserção de que na realização da atividade há uma autogestão, uma contraposição entre tradição e novidade, esses autores acionam o chamado registro um (R1), que consiste na antecipação, neutralidade, guia da atividade, pré-determinação e o registro dois (R2), que tange os valores, a desneutralização, a renovação do que é determinado pelo guia. R1 em convergência com R2 corresponde à situação de trabalho, à atividade. A partir das ideias exploradas por Schwartz e Durrive (2007), a noção de atividade pode ser representada com a Figura 3.

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Figura 3 - Uma Representação para a Atividade

Fonte: elaborada pela autora

A Figura 3 apresenta a complexa relação entre R1 e R2, uma vez que envolve tanto aspectos objetivos, quanto subjetivos. Tal qual qualquer atividade humana, a atividade laboral envolve os planos previsível e imprevisível que culmina com as escolhas frente ao desencadeamento da situação. A questão dos valores é decisiva nesse processo, pois envolve a dialética entre o posto no espaço coletivo e a apreensão no espaço individual. Na contemporaneidade, pode-se dizer que há uma modalização para o investimento dessa singularidade do sujeito, em prol de interesses mercadológicos, o que retoma a noção de estranhamento (ou alienação) desenvolvido por Marx. Diante de um cenário que indica possibilidades à compreensão daquilo que Sennett (2009) apresenta como corrosão do caráter, percebe-se a necessidade de buscar alternativas à abrangência da atividade no que se refere à identidade do sujeito. Propõe-se, então, desvendar a ergologia, método pluridisciplinar que pondera a atividade humana no labor enquanto transgressão do posto, passo essencial a uma ressignificação do trabalho. 3.3

EM BUSCA DOS ENIGMAS DA ATIVIDADE: A ERGOLOGIA O termo ergologia origina-se da palavra grega ergasesthai que significa, em seu

sentido denotativo, fazer em geral. A noção de atividade desenvolvida pela Ergonomia é um

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dos pontos de partida da Ergologia, método de investigação pluridisciplinar, emergente na França, na década de 1980. Três pesquisadores da Universidade de Provence, o filósofo Yves Schwartz (reconhecido como pai da ergologia), o linguista Daniel Faïta e o sociólogo Bernard Vuillon, mobilizados pela problemática das mudanças do cenário do trabalho na época, reúnem-se e propõem o desenvolvimento de uma experiência com trabalhadores franceses. “Era para nós uma maneira completamente nova de conceber o nosso ofício de universitário, e para os trabalhadores era uma maneira de colocar em palavras competências, saberes, valores que não percebiam assim como até então”. (SCHWARTZ, 2013, p. 321). Devido à formação desses pesquisadores, fica evidente a pluralidade de saberes postos em circulação e o confronto com a finalidade de compreender o trabalho, para além da perspectiva taylorista, que declinava na época do início dos estudos sobre o trabalho nessa perspectiva. Freitas e Chiaradia (2012, p. 95) assinalam que “a ergologia propõe-se a se aproximar desse mundo complexo que é o homem e sua atividade de trabalho, complexidade essa desconsiderada pelo taylorismo, pela chamada “organização científica do trabalho” e mesmo pelo toyotismo”. A fim de apresentar a base do desenvolvimento das noções principais construídas ao longo do tempo pela ergologia, Di Fanti (2012) destaca a pesquisa de três autores, cujas contribuições são reconhecidas e podem ser observadas no Quadro 9. Quadro 9 - Influências da Ergologia

Autor

Área Emergente

Ivar Oddone

Psicologia/ Medicina

Alain Wisner

Ergonomia da Atividade

George Canguilhem

Filosofia

Principais Contribuições Comunidade científica ampliada – aproximação entre academia e mundo do trabalho Identificação da distância entre o prescrito e o real; atualização do conceito de atividade humana no trabalho Ampliação da noção de atividade: atividade industriosa que envolve o debate de normas

Fonte: elaborado pela autora com base em Di Fanti (2012)

Conforme apresenta o Quadro 9, o movimento proposto por Oddone53, em relação a aproximação entre os estudos acadêmicos e o mundo do trabalho, foi fundamental para que a ergonomia da atividade realizasse investigações que evidenciavam a distância existente entre o que era previsto aos trabalhadores e as práticas de fato realizadas. A pesquisa de Wisner

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Médico italiano (1923-2011). Obra traduzida para o português: Ambiente de trabalho: a luta dos trabalhadores pela saúde, a qual compila textos acerca do Modelo Operário Italiano (MOI) de luta pela saúde. “Visava transformar o meio de trabalho em benefício do homem, enquanto que o modelo tradicional apenas procurava conhecê-lo (parcialmente). Propõe então consignar um novo objetivo à investigação médicopsicológica”. (MUNIZ, et al., 2013, s. p.).

66 (1994)54, em um momento no qual o taylorismo vigorava solidamente, foi essencial à posterior humanização dos processos, pois a inicia-se a dinâmica que percebe o trabalhador como ser atuante na atividade. Sob o enfoque filosófico de Canguilhem (2009), que influencia Schwartz, a noção de atividade é ampliada. O trabalhador é capaz de repercutir as situações que vivencia em intersecção com as normas que são a ele impostas. (DI FANTI, 2012) A experiência com os trabalhadores, que originou o encontro de Schwartz, Faïta e Vuillon nos anos 80, foi aprimorada e transformou-se em estágio de formação profissional e contínua. Schwartz (2013)55 salienta que pessoas de diversas áreas, acadêmicos ou operários são, até hoje, admitidos no grupo de estudos ergológicos, pois “a ideia é que cada um traz conhecimentos, formas de conhecimento, de valores e perspectivas para dentro dessa formação”. A institucionalização do Departamento de Ergologia da Universidade de Provence, único na França, é sancionada em 1998, sendo que em 2004 estrutura-se o mestrado. O conhecimento produzido pelos estudiosos desse método de investigação extrapolou as fronteiras francesas e mesmo europeias antes mesmo da oficialização do departamento. O Brasil, desde 1997, é “um “continente” essencial do desenvolvimento internacional” da Ergologia. (SCHWARTZ, 2013, p. 333). Grupos de pesquisa de Portugal, Moçambique, Camarões e Bélgica, principalmente, também compartilham reflexões sobre o método. A proposta, e o desafio, essencial da ergologia é pôr em dialética diversos saberes para compreender o mundo do trabalho perante as transformações da sociedade. Schwartz e Durrive (2007) salientam que o método se sustenta diante da premissa do permanente desconforto intelectual, visto que a aprendizagem é desencadeada a cada situação vivenciada pelo sujeito na atividade laboral. Quando posta à tarefa ao trabalhador, sabe-se que ele não é mero executor, uma máquina, mas alguém que mobiliza múltiplos elementos desde seu corpo à sua inteligência para realizar, da maneira mais conveniente, o fazer solicitado. Como as situações não se repetem em plenitude, o trabalho revela-se como fonte constante de reflexão, seja profunda ou não, para que a demanda promulgada seja concluída.

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Dentre os diversos estudos de Wisner, um dos principais conceitos desenvolvidos por esse autor, que fundamenta a Ergonomia da atividade, refere-se à identificação de uma distância entre o que os cientistas tayloristas previam em suas prescrições das tarefas e aquilo que de fato ocorria no cotidiano do trabalho. Embora os princípios de Taylor favorecessem o isolamento do homem com a fragmentação das tarefas, os sujeitos estabeleciam relações e influenciavam o fazer. Dessa premissa desenvolve-se a noção de atividade, que resgata a subjetividade humana perante qualquer tarefa. (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007). 55 Em entrevista à revista Reflexão e Ação (2013).

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A concepção do trabalho como atividade humana reposiciona sua relevância ao estabelecimento da sociedade e a estruturação da cultura enquanto processo. Se para Smith e Taylor o sujeito perdia as qualidades humanas e subjetivas e tornava-se incapaz de pensar diante da simplicidade de seu cotidiano organizacional, os ergonomistas e ergologistas acreditam e defendem que é por meio da atividade laboral que a complexidade humana é evidenciada. Trinquet (2010, p. 95) refere-se à ergologia como “um salto epistemológico no domínio das ciências do Homem” que visa “analisar sob quais condições [a atividade] se realiza efetivamente, o que permite organizá-la melhor e, portanto, torná-la mais eficaz e rentável” para as organizações, à sociedade e principalmente ao trabalhador. Nouroudine (2011) corrobora com esse olhar e aponta que o interesse da ergologia está na atividade humana, a fim de percebê-la na trama dos movimentos sociais. A restauração da complexidade envolvida no trabalho após o longo período de simplicidade que o abarcou coloca-se como propulsora dos estudos ergológicos, os quais investigam e interessam-se por uma dita “área escura” (SCHWARTZ, 2011, 2013): a atividade perante as relações de trabalho. Nesse sentido, o mundo do trabalho corresponde a uma realidade “enigmática” (SCHWARTZ, 2011), pois o fazer laboral não pode ser plenamente previsto ou antecipado; depende da subjetividade humana para existir. Outro aspecto que assinala a complexidade envolvida na atividade refere-se ao princípio “de que o trabalho é uma necessidade fundamental do homem e esta atividade humana deve ocorrer em boas condições”. (TRINQUET, 2013, s. p.). Por meio das relações com o outro e consigo, o sujeito passa a ter consciência de que é capaz de transgredir aquilo que é posto, desenvolvendo seu intelecto e transformando realidades que não atendam suas necessidades humanas. A ciência do potencial humano transgressor, de criação e de inovação, pode ser considerada o principal legado dos estudos da ergologia. Porém, há um longo percurso, ainda, a ser desbravado para que princípios como esses sejam difundidos nas organizações. A comunicação, acredita-se, pode ser uma aliada nesse processo de centralidade do sujeito e sob esse propósito desenvolve-se a presente investigação de dissertação. Além da noção de atividade, outras compõem o percurso analítico dos estudos ergológicos: normas e renormalizações, dramáticas do uso de si, saberes constituídos e investidos, dispositivo dinâmico de três polos. Com o propósito de apreender essa proposta de análise da atividade, na sequência, apresentam-se os conceitos relacionados a cada um dessas noções, a começar pelo aspecto fundante: normas, transgressões e renormalizações.

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3.3.1 Transgressões e Renormalizações: a fonte das normas A discussão relacionada às concepções da atividade laboral não é recente. Marx (2006) reconhecia a subjetividade do trabalhador, posto que diante do trabalho no modo capitalista, quando o sujeito é fetichizado e é parte das mercadorias que produz, implica a perda de si para o outro. Freitas (2011, p. 122) ressalta que “quando se interessa em estudar o trabalho, é preciso reconhecer que a atividade de trabalho é sempre expressão de uma relação social”, do eu com o outro. A ergonomia contribuiu de forma notória à atualização do conceito de atividade. A ergologia propõe o enfoque na dialética entre os saberes oriundos das relações no trabalho, que permeiam a atividade e permitem, conforme Schwartz e Durrive (2007), a identificação de quatro proposições ergológicas, a saber: a) a distância entre o prescrito e o real: pressuposto herdado dos ergonomistas, que avaliam a situação laboral sob influência da “organização científica do trabalho”. Implica uma reorganização permanente dos postos de trabalho diante da prática dos sujeitos; b) o conteúdo da distância é sempre ressingularizado: com base no primeiro pressuposto, chega-se ao segundo, cujo postulado tange a ciência da distância que existe do prescrito e o real. Sabe-se que algo será reorganizado, mas é imprevisível seu conteúdo. Questões relativas à cultura e identidade são acionadas nesse pressuposto, visto que guiam a ação do sujeito nessa ressingularização; c) a distância remete à atividade do corpo-si: posta a prescrição, o trabalhador a transgride, pois a realização não é plena, como prevista. O corpo-si, na atividade, é mobilizado como um todo: o corpo, a inteligência, o sistema nervoso, as regulações, a história. Trata-se de uma dimensão essencial, da qual emana o caráter enigmático da atividade. O sujeito (corpo-si) produz o conteúdo que conduz a identificação da distância, que não pode ser verbalizada, mas vivida; d) a distância remete a um debate sobre os valores: tida como “proposição geral” (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007), refere-se às escolhas feitas pelo sujeito diante da situação que experimenta. O corpo-si entra, então, em um duplo debate: a) debate consigo mesmo, orientado por seus interesses; e b) debate acerca de valores que são da ordem social, aqueles que permitem a convivência coletiva e compreendem a cultura.

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As proposições elucidadas por Schwartz e Durrive (2007) remetem a outras noções centrais da ergologia, dentre as quais, normas e renormalizações. Durrive (2011, p. 49) afirma: “o que caracteriza o homem é, na verdade, a capacidade de se mover dentro de um universo de normas”. Tal proposição está em consonância à noção de cultura que embasa o presente estudo e permite a visualização da imbricação entre o fazer laboral e social, consequência das ordens coletivamente construídas. Sant’Anna e Souza-e-Silva (2007) fazem ponderações relevantes quanto a esse aspecto, já que consideram tanto o dito ordenamento jurídico, que compreende o poder coercitivo do estado, quanto o ordenamento social, ou simbólico, o qual emerge dos valores e saberes compartilhados socialmente e agregados à noção de cultura. Conforme pode-se perceber, as normas advêm do trabalho prescrito ou dos “documentos que instruem, ensinam, aconselham etc. o trabalho a ser realizado”. (FREITAS, 2011, p. 108), ou do trabalho real “em situação concreta e às suas características efetivas, isto é, às tarefas executadas pelos trabalhadores”. (FREITAS, 2011, p. 108). Evidenciam-se, assim, os possíveis espaços de atuação da comunicação organizacional, visto que perante a conversão entre o trabalho prescrito, informado pelos diversos canais utilizados pela empresa, e o trabalho real, ou seja, o discurso e uso em si das normas, que implicam renormalizações, estabelece-se um campo de tensões que tende a gerar saberes que podem qualificar tanto o fazer do trabalhador, quanto sua relação com seu trabalho. O encontro entre os dois tipos de normatizações é evidenciado por Durrive (2011, p. 49): “de fato, ela [a norma] vem depois, mas para ganhar força e funcionar de maneira eficiente, ela necessita ser apreendida como inicial e permanente”. Dito de outra forma, a norma, quando registrada, seja pelo modo escrito, em leis, seja pelo modo simbólico, diante do imaginário coletivo, advém da prática e de situações cotidianas que impulsionam tais determinações. Assim, a compreensão da existência de permanentes renormalizações alude ao processo de atualização do fazer. Como esse movimento conta com a participação do corposi, os conteúdos a serem reconfigurados são parcialmente imprevisíveis. As normas estão imbuídas no corpo-si; traduzem-se em valores, que podem ser chamados de normas endógenas, pois atendem às expectativas pessoais. Essas, porém, estão em submissão às normas exógenas, que são providas pelo ambiente diante da situação e contexto. As ditas normas do vivido advêm das escolhas decorrentes de um espaço interno, relação sujeito consigo mesmo, em conexão com um espaço externo, relação sujeito e mundo. Por isso, elas tendem a ser mais difusas do que as normas antecedentes ou prescritivas, que são anônimas, pois são produzidas no imaginário de algum coletivo e registradas em

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convenções de diversos tipos, o que lhes garante uma tendência duradoura. (DURRIVE, 2011). Para a ergologia, esclarece Durrive (2011), com base na perspectiva de Schwartz, esses dois tipos de norma constituem um desafio de aderência, ou como prefere Canguilhem (2009), a ciência de uma infidelidade ao meio. O meio institui normas, observadas e absorvidas pelos sujeitos, que passam a reproduzir representações sobre elas. Conforme a discussão do capítulo 2, a representação se dá a partir das escolhas discursivas que um indivíduo faz diante de uma situação, logo, pode haver variações, já que são evolvidas pela subjetividade daquele que as produz. Tal produção é uma infidelidade ao meio, pois é improvável uma repercussão exata do que é normatizado. A essa “distância que o espírito humano é capaz de tomar em relação ao que acontece”. (DURRIVE, 2011, p. 52), Schwartz classifica como uma desaderência, enquanto a aderência alude ao encontro com o acontecimento presente. Ou seja, a aderência é a capacidade de o indivíduo apreender o dito da norma, enquanto a desaderência é a capacidade de adaptar o dito à situação que vivencia, a renormalização. Trata-se de um movimento de idas e vindas, como o tecer da teia, sendo delicado apontar onde o processo começa ou termina. Na regência desse acorde, Durrive (2011, p. 52) aponta que “as normas antecedentes estão presentes antes do trabalhador e ao mesmo tempo elas não existem se não a partir dele, graças a sua atualização”. A normatização no trabalho, segundo Sant’Anna e Souza-e-Silva (2007, p. 80), é uma “exigência universal de organização social e de produção” que almeja um “movimento progressivo de codificação da prescrição operatória do trabalho”. As prescrições têm a função de desencadear a atividade, logo, são fundamentais para que ela ocorra adequadamente. Tais quais, as transgressões frequentes resultam em renormalizações que modificam o fazer e adaptam ou produzem as prescrições. Essas autoras mencionam, ainda, as fontes de prescrições, que vão além daquelas oficiais, descendentes, da organização para os trabalhadores, em geral codificadas em manuais, missão, visão, princípios, etc. Elaboradas e divulgadas de forma ascendente nas situações de trabalho, as prescrições alternativas podem ter referência com a matéria bruta (máquinas, produtos) ou humana (relação com o outro), com o coletivo (regras do grupo) ou mesmo com o trabalhador (possibilidades psíquicas, físicas ou valores) (SANT’ANNA; SOUZA-E-SILVA, 2007). Há ainda a problemática das prescrições vagas, que tendem a gerar insatisfação entre os trabalhadores. Prescrições como “satisfaça o cliente” ou “faça seu melhor” caracterizam-se como carentes de normas, pois não atribuem orientações adequadas sobre os limites da ação e confere ao trabalhador responsabilidade superior àquela que ele é orientado a atender. Embora

71 esse seja um reduto às renormalizações, pode transformar as relações de trabalho em “campos de guerra”, visto que é essencial a organização da produção para o êxito do fazer do trabalhador e da organização (SANT’ANNA; SOUZA-E-SILVA, 2007). O debate de normas só é viabilizado, pois existem elementos compartilhados entre os sujeitos de um determinado grupo. Na sequencia deste capítulo, propõe-se, então, a reflexão acerca dos usos dos saberes que resultam uma autogestão do trabalhador, conceitos capitais da ergologia. 3.3.2 Da Execução ao Uso de Si: a competência e o diálogo dos saberes Em oposição aos pressupostos da organização científica do trabalho, olhar que subtrai o sujeito, pois percebe o fazer laboral como um agir mecânico e sem a possibilidade de estabelecimento de relações, ou mesmo reflexão, se constitui a ergologia. Sobre o sujeito, Schwartz e Durrive (2007, p. 191) afirmam: “uma entidade que não é muito clara”, mas que está “no coração do trabalho, sem o qual não há trabalho, sem o qual nada acontece”. Ao posicioná-lo como agente enigmático, jamais previsível e central perante toda a atividade, esses autores ressaltam que o trabalho não pode ser compreendido como mera execução. O olhar da execução remete a uma ação que contempla somente as prescrições que antecipam uma tarefa, algo isolado da vida humana e por isso patológico (CANGUILHEM, 2009). Schwartz e Durrive (2007) mencionam, então, que a unicidade das situações da vida vale também para o trabalho, logo, que é impossível que um sujeito apenas execute algo da mesma forma constantemente. A esse fenômeno nomeia-se infidelidade do meio, ou seja, o meio não é permanente, mas se transforma e implica lacunas nas normas postas. Tal mutação precisa ser gerida, “é preciso fazer uso de suas próprias capacidades, de seus próprios recursos e de suas próprias escolhas”. (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007, p. 192, grifo do autor). Fazer uso de si representa trazer a vida para as escolhas do trabalho, que permitem ao sujeito (re)criar-se a cada situação. Se na perspectiva taylorista a centralidade está no meio e o sujeito é sua mera produção, a ergologia inverte essa lógica e as mutações do meio apenas são resultados da ação dos sujeitos. Também quando se diz que o trabalho é uso de si, isto quer então dizer que ele é o lugar de um problema, de uma tensão problemática, de um espaço de possíveis sempre a negociar: não há execução, mas uso, e isto supõe um espectro contínuo de modalidades. É o indivíduo no seu ser que é convocado. (SCHWARTZ, 2000, p. 41).

Do fazer uso de si decorre a “[...] evolução do trabalho [que] corresponde a uma capacidade especificamente humana”. (FREITAS, 2011, p. 109), resultante das transgressões à norma e as renormalizações transformam o sujeito e o meio. Encobrir a singularidade

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humana com capas normativas é negar a capacidade de criação e inovação que advém do campo, daqueles que tentam atingir às expectativas propostas pela organização e às suas próprias. Nesse sentido, fazer uso de si contempla uma dupla dimensão: o uso de si por si e por outros, que se referem aos elementos que se apresentam à gestão na atividade. Trata-se da dialética entre as dramáticas que evidenciam tanto as escolhas feitas pela organização, quanto àquelas feitas pelo trabalhador. As dramáticas são entendidas como “o movimento entre a norma prescrita, infidelidade do meio, renormalização e atividade singular”. (FREITAS, 2010, p. 176). Schwartz (2000) utiliza o termo dramática, pois na sua concepção as problemáticas cotidianas da atividade articulam-se umas às outras em situações não previstas. “Drama quer dizer que alguma coisa acontece. É isso, sempre acontece alguma coisa no trabalho”. (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007). As dramáticas ou intervenções são frutos de um sujeito, que Schwartz (2007)56 prefere chamar corpo si. Para esse autor, as escolhas feitas nem sempre são conscientes, pois a subjetividade se estrutura a partir das arbitragens do meio, da cultura. Assim, a gestão das dramáticas do uso de si deriva das economias do corpo, que envolvem tanto as sinalizações sensoriais, visuais e imateriais, quanto à inteligência que é balizadora da conduta, por meio de um “adestramento” cultural. Das concepções apresentadas até o momento, pode-se perceber que o campo do trabalho é um campo de debate de normas que justifica percebê-lo enquanto atividade que integra a plenitude do ser diante das situações que mobilizam o uso de si. Corrobora com esse olhar, Freitas (2010, p. 174) ao afirmar que trabalhar é, todo o tempo, trabalhar junto (travailler ensemble). O outro está presente, seja como parceiro de/no trabalho, seja representado pelas normas e prescrições da hierarquia, seja pelo conhecimento técnico e tecnológico acumulado ou pela experiência registrada na linguagem.

A situação de trabalho é vivenciada pelo trabalhador que está “no aqui e agora”, e como acontecimento singular exige do sujeito, ou corpo si, a efetivação de escolhas. A essa dramática dá-se o nome Uso de Si por Si, “é, sobretudo, administrar-se como sujeito em atividade, ou seja, fazer uso de si como corpo físico e como si”. (FÍGARO, 2009, p. 36). Os valores, a individualidade, as experiências norteiam as escolhas, que terão sempre uma dualidade. Implica aqui a arbitragem cultural, as imposições do meio, que são denominadas

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A obra organizada por Schwartz e Durrive (2007), “Trabalho & Ergologia”, é construída por meio de entrevistas. A abordagem da noção de corpo si elucidada por Schwartz nessa obra esclarece algumas lacunas presentes em uma das primeiras reflexões materializadas sobre “O trabalho e o Uso de Si” por esse autor no ano 2000.

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Uso de Si pelo Outro. A retomada das noções de cultura e identidade apresentadas no capítulo 2 colaborara com o esclarecimento da dupla dramática dos usos de si, noção empreendida por Schwartz (2000, 2007). O sujeito é o coração do processo de atualização da cultura, que é assimilada e profere os saberes à construção da representação identitária do sujeito. Percebe-se, desse modo, que a tomada de decisão do trabalhador é resultante de um processo dialético que põe em confronto tanto questões individuais, quanto àquelas impostas pelo meio, que se constitui da cultura e do ambiente organizacional e está imbricado nas estruturas coletivas da sociedade. Dessa convergência sucedem as escolhas que preenchem o vazio de normas57, existentes diante da unicidade situacional. Das experiências vivenciadas, os sujeitos registram caminhos indicados ou não. Da prescrição organizacional uma prédeterminação de resultado é proposta. A conversão entre os saberes postos na norma e aqueles da esfera do vivido promove novas perspectivas para leitura do mundo. Assim, dos saberes origina-se a norma, que advém da articulação de duas dimensões. Manifesta nas normas antecedentes, a dimensão conceitual refere-se às variáveis antecedentes à atividade, que geridas pelo trabalhador instituem os saberes em desaderência (DURRIVE, 2011), ou constituídos (TRINQUET, 2010). A dimensão axiológica possui uma dupla característica, pois implica tanto saberes em desaderência, diante da consulta às definições que constituem o imaginário coletivo de um grupo, quanto saberes em aderência, ou seja, investidos na atividade, enfoque no qual aceita-se que as escolhas feitas pelo trabalhador resultam em renormalizações. Evidencia-se, assim, o diálogo entre os saberes acadêmicos, ou prescritivos, e os saberes da experiência, ou investidos. Do ponto de partida proposto pela ergonomia, os ergólogos defendem que em toda atividade laboral “coloca-se em prática um saber pessoal, para preencher e gerir a distância prescrito/real”. (TRINQUET, 2010, p. 100). Esse investimento feito pelo trabalhador, para lograr êxito em seu fazer, complementa os saberes acadêmicos que são constituídos e formalizados em documentos. Não é possível realizar a atividade sem os saberes constituídos, que servem como guias para que se alcance um fim específico, do contrário, não se saberia para onde se quer ir, ou quais possibilidades já foram testadas ou não, por exemplo. “[...] é preciso manipular conceitos. Se não, a pessoa permanece em seu horizonte que, sem dúvida, é permanentemente microcriador, mas não atua para transformar um certo número de dimensões desse horizonte”. (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007, p. 140).

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O que está além ou não fora previsto pela norma. (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007).

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A apreensão desses saberes normalizadores é singular, pois o sujeito o é; e nesse caso, não se pode desconsiderar os saberes investidos, advindos das experiências, que culminam uma gestão do uso de si em situações específicas. “Os saberes produzidos antecipam a atividade e, ao mesmo tempo, a atividade antecipa saberes que ainda não foram produzidos. E essa dialética, de certo modo não tem fim [...] renova o estoque de saberes existentes”. (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007, p. 149). Saberes e normas possuem uma estreita relação, que deixa opaca a identificação de semelhanças e diferenças. A subjetividade humana é a base criadora de ambos perante as decisões tomadas pelos sujeitos em situação. As dramáticas do uso de si acionam saberes constituídos e investidos em resposta a situações únicas, cuja complexidade é evidenciada após uma dita superação do modelo taylorista. Visto a transgressão discursiva mobilizada pelo toyotismo acerca do termo qualificação, ligado a definições operacionais, Schwartz e Durrive (2007) indicam uma visita e atualização da noção de competência, como algo complexo e heterogêneo, que se efetiva pela soma de ingredientes. Segundo esses autores, a atividade laboral não admite o estabelecimento de julgamentos unilaterais que sintetizam uma lista precisa do que é adequado ou necessário a todas as situações de trabalho, uma vez que essas “são horizontes que se encaixam”. (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007, p. 208). A fim de esclarecer a aplicação dessa concepção de competência, Schwartz e Durrive (2007) descrevem os seis ingredientes que a compõem, o que é sintetizado no Quadro 10. Quadro 10 - Ingredientes da Competência

Ingrediente Domínio de algo codificado Domínio de algo não codificado Domínio da decisão pertinente no momento certo Reconfiguração do meio Expansão dos domínios Sinergia com o coletivo

Fundamentação Retoma a importância das normas antecedentes e dos saberes constituídos que norteiam o uso de si em uma tarefa. Trata-se de um aspecto epistêmico e fundamental para a organização da produção. Acesso às experiências anteriores, os registros do corpo-si que participam da unicidade da situação laboral. Abrange a inteligência do corpo-si em ação perante a sinergia entre o posto e o imprevisto. Renormalizações produzidas na intersecção do uso de si por si e pelo outro. Implica a construção de novos saberes diante da articulação entre prescrito e real, o debate das normas impostas e os valores pessoais. Tirar partido das sinergias de competências em situação de trabalho, compartilhando as renormalizações no coletivo, além de conviver com a diversidade das histórias humanas.

Fonte: elaborado pela autora com base em Schwartz; Durrive (2007)

As competências são formas de abordar as dramáticas do uso de si, “de entrever o que há de extraordinário em toda atividade”. (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007, p. 222). Da

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digressão das categorias centrais da análise ergológica, é inquestionável a complexidade envolvida no exercício da atividade de trabalho. A capacidade singular de inovação de cada sujeito evidenciada pelos usos de si de que o trabalhador se vale para transformar a realidade que o cerca pode, e precisa, ser desenvolvida nas organizações para além do momento único da situação de trabalho, com o intuito motivar novas renormalizações nas equipes que as constroem. A Figura 4 apresenta o processo dialético que permite vislumbrar o debate de normas por meio dos usos de si. Figura 4 - O Debate de Normas e as Transgressões

Fonte: elaborado pela autora com base em Durrive (2011)

Os componentes da Figura 4, saberes constituídos, investidos e debate de normas, embasam a metodologia de análise da atividade, denominada Dispositivo Dinâmico de Três Polos58, elaborado por Durrive (2011). Apresentam-se as categorias em diálogo, como projeção dos aspectos teóricos desenvolvidos acerca de normas, saberes e atividade. A ação do sujeito está inserida nos três diferentes momentos, a iniciar pelo aprimoramento científico, diante daquilo que é constituído e organizado formalmente. Porém, das práticas efetivadas em

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O Dispositivo Dinâmico de Três Polos é o percurso metodológico aplicado pela Ergologia para análise da atividade. Como nesta dissertação o enfoque está nos discursos expressos em jornais de empresa, a aplicação do método não é pertinente. Para mais informações sugere-se a leitura da obra “Trabalho e Ergologia”, de Schwartz e Durrive (2007).

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situações reais de trabalho, há uma hibridização entre o formal e o informal, a teoria e a prática que gera novos saberes. Os saberes constituídos remetem à noção de normas e, segundo Souza-e-Silva e Piccardi (2012, p. 215), “refere-se a todo o conjunto de prescrições e normas necessárias, mas exteriores e anteriores à própria realização do trabalho”, enquanto os saberes investidos refletem a “experiência prática, que é recriadora”. (SOUZA-E-SILVA; PICCARDI, 2012, p. 215). O debate das normas antecedentes perante a prática laboral implica os usos de si como deflagração dos valores, do sujeito, da sociedade e do ambiente organizacional específico. Reconhece-se a diferença nas leituras de mundo, que faz cooperá-las e confrontá-las e como resultante tem-se a produção de novos saberes diante da interação. A ordem ética implica “o questionamento de como fazer melhor tendo como princípio o benefício da vida, da saúde física, mental e emocional, e do viver bem em conjunto”. (FÍGARO, 2008b, p. 99). A interação entre saberes é desenvolvida em movimento espiral. É evidente que por meio da relação com o outro são possíveis intervenções nas situações de trabalho. Uma das formas de investigar a relação entre os saberes é por meio da linguagem, que emite a consciência dos usos de si a partir dos espaços de dizer aos quais os sujeitos são expostos. Nesse rumo, cabe compreender como a linguagem mobiliza a construção de saberes e de sentidos por meio da comunicação organizacional. 3.4

LINGUAGEM: COMUNICAÇÃO E TRABALHO Categoria cuja relevância é por vezes negada na constituição da cultura e da

identidade, o trabalho é uma das manifestações mais completas e complexas da atividade humana. Revela o poder intrínseco às relações e culmina com a produção de representações expressas nos discursos cotidianos. A permanência de uma perspectiva ao longo do tempo parece dar lugar à participação do sujeito nos processos organizacionais, no caso das empresas que empregam o modo de produção toyotista. Porém, conforme as análises de Sennett (2009), Antunes (2009) e dos ergólogos, percebe-se que o caráter extrínseco do fazer laboral permanece mais relevante, visto que pretende atender especialmente as demandas mercadológicas. Nesse sentido, o resgate e atualização da noção de atividade parece ser uma alternativa interessante à compreensão dos movimentos sociais que podem ser observados através das representações às quais os trabalhadores se valem para construir suas noções de trabalho. O percurso perante os conceitos centrais da ergologia evidencia a prática humana e a

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relevância dos usos de si à construção de sentido dadas as situações de trabalho. Saberes constituídos e investidos, em conjunção, promovem constantes renormalizações. Embora, por vezes, tenha-se negado a capacidade de intervenções culturais por parte do sujeito, tal capacidade tem relação intrínseca com a capacidade de comunicação, de uso da linguagem como estruturante das relações coletivas. O intercâmbio de conceitos na atividade laboral seja por meio de palavras, gestos, ou mesmo do silêncio é fundamental para que toda a estrutura social se estabeleça. A atividade de linguagem e a atividade de trabalho estão estreitamente ligadas, ambas transformam o meio social e permitem as trocas e negociação entre os seres humanos [...] É por meio do alicerce da vertente dos estudos ergonômicos que elegeram a análise da atividade como fonte e método de construção de saberes sobre o trabalho, abrindo assim, campo para os estudos da linguagem. (SOUZA-E-SILVA, 2002, p. 61).

Por meio da linguagem, a atividade é enquadrada e pode-se construir sentidos. O centro da linguagem está na relação com o outro. Dizer algo é dirigir-se ao outro e utilizar para tal o que foi anteriormente verbalizado nos diversos coletivos frequentados pelos sujeitos. Trata-se de (re)criar em novas situações. A produção de enunciados é sempre (re)construção das relações. Como se pode supor, não é uma simples dimensão humana, mas o oposto, complexo elemento que constitui o ser. A linguagem envolve tanto a ação de manipulação simbólica do outro, quanto à multiplicidade de sentidos que se pode construir com o uso das palavras (FAÏTA et al., 2007). A linguagem, sob essa perspectiva, aproxima-se da noção de comunicação perante um olhar “pluridisciplinar, atravessado pelas ciências, como um campo eminentemente do simbólico. Diz respeito às relações entre sujeitos e subjetividades, numa sociedade complexa e tecnológica”. (FÍGARO, 2009, p. 28). Linguagem e comunicação se pertencem e garantem ao sujeito a possibilidade de relacionar-se com o mundo e com o outro. Um olhar reducionista, que assenta a comunicação apenas enquanto canal, ou um “esquema [que] se preocupa unicamente com a integridade material da mensagem durante o processo da comunicação”. (FREITAS, 2009, p. 191), não evidencia tal característica, visto que desconsidera a principal resultante do processo: a produção de sentido, que se interliga a ação humana na construção e no compartilhamento de saberes. Faïta (et al., 2007) salienta que os enunciados sempre são produzidos diante de contextos e que apenas sob uma situação é possível produzir sentido. É preciso, então, refletir acerca da tendência a normalização da linguagem, ou seja, julgamentos de valor que definem significados às palavras. Os critérios sociais restringem as formas de expressão e justificam as maneiras de dizer utilizadas pelos grupos sociais. Cabe lembrar que os critérios sociais

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referem-se às determinações linguísticas oficiais de órgãos regimentais do uso da língua, mas também aos saberes que são produzidos pelos sujeitos diante das experiências. Nesse sentido, Durrive (2011, p. 61) corrobora com a reflexão sobre a linguagem enquanto parte fundamental da atividade, já que é “orientada para os outros, a serviço dos outros, mas ao mesmo tempo é voltada para a construção identitária”. Ao observar tais questões no lócus laboral, pode-se perceber que embora se instituam normalizações linguageiras por parte das organizações, as construções de sentido delas dependem parcialmente, pois os interlocutores realizam suas próprias escolhas diante das situações que vivenciam. Assim, as interpretações frente aos múltiplos discursos que circulam renderão os sentidos produzidos. Visto o contexto que posiciona a linguagem como possibilidade de estudo do trabalho, Souza-e-Silva e Sant’Anna (2010) apresentam três princípios à promoção da convergência entre ergologia e linguagem: a) a complexidade da vida humana, que exige uma abordagem universal, plural e multidimensional por meio da articulação de aspectos históricos e sociais de uma comunidade; b) a abordagem dialética entre global e local; universal e singular; e por fim, c) a apropriação dos discursos por meio da valorização das experiências e saberes dos sujeitos, identificando potencialidades locais. A apropriação da linguagem como meio para compreensão do trabalho, na perspectiva de Nouroudine (2002), ocorre em três modalidades: no, como e sobre trabalho, as quais podem ser compreendidas como práticas linguageiras. As duas primeiras, foco da ergonomia, constituem-se dos enunciados produzidos em situação, enquanto a terceira tange especialmente às práticas desenvolvidas pelos linguistas. Nouroudine (2002) salienta, porém, que tal separação se deve ao interesse epistemológico para compreensão das intervenções linguageiras abarcadas pela atividade laboral. A fim de compreender as modalidades apresentadas por esse autor, seguir-se-á com o Quadro 11: Quadro 11 -Modalidades da Linguagem e Trabalho

(continua) No Relaciona-se à situação de trabalho global: a partir dos elementos como ambiente59, condições, objetivos, coerções60.

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Como Evidencia a complexidade do trabalho, pois demonstra seu caráter multidimensional: econômico, social, cultural, etc. Valores, saberes e atividades.

Concepção no olhar de Morgan (2011), apresentada no capítulo 2. Relações de poder (FOUCAULT, 2007).

Sobre Produção de saberes sobre o trabalho. Quem, quando e de onde se fala. – Espaço dos trabalhadores e dos pesquisadores.

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Relação sujeito-experiência, sendo que se consideram todas as interações (materiais + simbólicas) na situação de trabalho. Espaço das conversas informais.

Aspectos estratégicos – elaboração discursiva, intencionalidade – envolvem os seres de fala do ato de linguagem61.

(conclusão) Interpretar e descrever a experiência. Além das descrições objetivas do pesquisador, capturar as questões simbólicas da experiência – fala do trabalhador.

Fonte: elaborado pela autora com base em Nouroudine (2002)

Assim, a linguagem como trabalho é a presença da linguagem enquanto função, econômica, social, ética, etc., no trabalho, enquanto constitutiva da situação, por meio da fala dos sujeitos no cotidiano, para representar sua identidade e sobre como a atividade é percebida por aqueles que a realizam e a estudam. Compreende-se, dessa maneira, que a linguagem que faz, como trabalho (atividade); a linguagem circundante, no trabalho (situação) e a linguagem que interpreta, sobre o trabalho. Diante das limitações para realização deste trabalho, da seleção dos jornais de empresa como fonte de saberes, dar-se-á o enfoque à linguagem sobre o trabalho. As articulações entre linguagem e ergologia são uma oportunidade de aprimoramento aos estudos da comunicação que vislumbram os discursos do mundo do trabalho, o que inclui a voz dos trabalhadores, como fonte de exposição da realidade, e promove uma resolução mais acertada das problemáticas diversas que se constituem na complexa relação sujeito – outro – organização. É inviável aceitar a hegemonia discursiva da organização sobre os trabalhadores, ou mesmo sobre os públicos, visto que os valores implicam as escolhas individuais que se combinam ao desenvolvimento organizacional (FÍGARO; REBECHI, 2013). Acerca das aproximações entre os estudos da linguagem, da comunicação e do trabalho, pode-se destacar a inter-relação apresentada por Freitas (2011, p. 106/107): O trabalho e as divisões de tarefas são organizados através da linguagem, o que revela seu papel primordial nas relações e no processo de desenvolvimento humano. [...] se trabalhar é sempre trabalhar com o outro e comunicar é relação, troca, reelaboração, podemos entender que ambos, comunicação e trabalho, atuam na construção dos conjuntos de valores que se renovam ou se cristalizam a cada escolha feita, a cada decisão do uso de si por si mesmo, ou seja, manifesta-se a cultura e, por consequência, a própria identidade.

A linguagem é uma das bases nas quais se assenta a comunicação. Fígaro (2008c, p. 112) assinala que “Benveniste ampliou o estudo da linguística ao afirmar a língua como ‘instrumento’ de comunicação, cuja ‘expressão’ é o discurso”. Não se confunda língua e 61

Conforme proposta teórica de Charaudeau (2008, 2012), apresentada no capítulo 2.

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linguagem, embora uma esteja vinculada à outra. O entendimento acerca da língua associa-se à noção de idioma e manifesta-se através de “um código linguageiro específico”, que implica tanto o “sistema de transmissão de informação” quanto à “autolegitimação do enunciador”. (FREITAS, 2011, p. 123). A linguagem, por sua vez, refere-se à língua em ação, a organização dos elementos semiológicos que implica na construção do discurso (BENVENISTE, 2008). Nesse sentido, Fígaro (2008a) salienta que as mudanças na forma de organização do trabalho, principalmente no que tange as estratégias de gestão de pessoas, estão nas questões discursivas, o que justifica a ampliação dos estudos que relacionam, de forma interdisciplinar, linguagem, trabalho e comunicação, permeando-os pela perspectiva discursiva que permita observar os sentidos desenvolvidos sobre a atividade laboral. Percebe-se, então, que o olhar ergológico ao trabalho enfatiza os processos comunicacionais nas organizações, evidente nas transgressões às normas, o que implica a construção de sentidos, ante o debate das prescrições pelos sujeitos na atividade. Sob essa guia propõe-se o trabalho em um nível comunicacional, das relações e interações, que na produção cotidiana de saberes garante a transformação permanente da cultura e tornam evidentes as múltiplas possibilidades de filiação dos sujeitos à produção discursiva que impõe sua representação identitária. Os sentidos produzidos, resultantes dessa perspectiva das relações emergentes da atividade laboral, podem implicar uma ressignificação acerca do trabalho, uma “revolução” da noção de “sacrifício”, negativa, à ideia de “obra”, do grego poiesis, “a minha criação, na qual crio a mim mesmo na medida em que crio o mundo”. a fuga da alienação (CORTELLA, 2014, p. 21). Sob essas guias, apresenta-se a síntese dos elementos abordados nesse capítulo, na Figura 5. Figura 5 - Ressignificação do Trabalho: a perspectiva da atividade

Fonte: elaborado pela autora

A Figura 5 abarca uma síntese da reflexão acerca da linguagem enquanto estruturante do trabalho, das normas e renormalizações que o transformam e a construção de saberes através dos usos de si. A ela associam-se as concepções que conduzem à ressignificação do trabalho ante as interações no ambiente laboral, o que eleva a existência das organizações a

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um nível comunicacional. Propõe-se, então, no próximo capítulo, a tensão das noções sobre dos estudos da comunicação organizacional e análise do discurso, que permitem um olhar mais claro e denso das práticas linguageiras em situação de trabalho.

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4 ORGANIZAÇÕES, COMUNICAÇÃO E TRABALHO: O SIMBÓLICO DOS DISCURSOS QUE NORTEIAM A ATIVIDADE

DESFILE

“Num mundo que muda com velocidade, se eu não olhar o outro como fonte de conhecimento para mim, independentemente de onde veio, de como ele faz, do modo como ele atua, eu perco uma grande chance de renovação”. (CORTELLA, 2014, p.79).

A condição à qual o trabalho é concebido pela ergologia é de grande valia para o campo da comunicação, já que se ampara nas trocas linguageiras para compreendê-lo. A interpretação, ato subjetivo, é tida como a base da atividade. Defende-se, então, que as organizações, ao gerarem estímulos comunicacionais, permitem que os indivíduos selecionem elementos que contribuem à construção de representações. Trata-se de implicações à identidade desses sujeitos que, na convivência coletiva e nos diversos espaços em que circulam, agregam suas escolhas e as transmitem à sociedade sob a forma de manifestações que convergem com as culturas que permeiam o ambiente laboral. Contemplar as organizações enquanto associação de discursos em constante construção/reconstrução implica a aceitação de que os elementos simbólicos transmitidos por meio da tradição e da difusão são essência da prática humana, logo, precisam ser relevados nas instâncias de decisão organizacionais. Essa compreensão vai além dos elementos prescritivos, materializados através de valores, crenças, etc., propagados pela organização. Refere-se, também, à identificação dos processos de aprendizagem realizados internamente, enquanto produção coletiva. A interação permite o trânsito de conceitos entre os sujeitos, que revelam suas motivações e intenções frente ao trabalho que têm de realizar. Mediante esses aspectos, inicia-se este capítulo com uma breve discussão acerca da noção de comunicação organizacional, com o propósito de identificar possibilidades ao que propõem Taylor e Casali (2010, p.78): “observar como a organização emerge através da comunicação”. Ao fazer uma retomada acerca das alternativas para pensar a comunicação organizacional, Deetz (2010) refere dois percursos. O primeiro reporta às diferentes concepções da produção de sentidos e implica teorias do significado e a dimensão da experiência. Nesse caso, dois olhares são apontados: a) visão centrada na pessoa, o que implica aceitar que os significados se formam individualmente, são estáveis e resultantes de um processo linear de comunicação; b) visão construtiva-relacional, cujo foco é a experiência, o sentido do produzido a partir do coletivo em encontro ao individual. O segundo percurso alude a abertura à influência e dimensão da participação e pode se dar por meio de um controle estratégico das escolhas comunicacionais, partindo de um raciocínio instrumental, ou

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doravante a reciprocidade, que produz responsabilidade compartilhada, logo, um resultado indeterminado. As duas abordagens e seus desdobramentos são entrecruzados por Deetz (2010, p. 88), o que culmina com a apresentação de quatro possíveis perspectivas às concepções de produção de sentido na comunicação organizacional. As três primeiras, gerenciamento e comunicação estratégica, democracia liberal e comunicação participativa e comunicação e gerenciamento cultural, enfatizam o processo comunicacional linear e atribuem às lideranças a produção dos sentidos; aos trabalhadores resta reproduzi-los. Esses olhares aproximam-se do que Antunes (2009) e Bernardo (2009) apontam a respeito de uma adequação discursiva diante das expectativas dos sujeitos, reflexão realizada no capítulo 3. Porém, a fundação desses dizeres na realidade da atividade é efêmera, pois preserva uma relação apática entre trabalhador e atividade. A quarta perspectiva apresentada por Deetz (2010), comunicação e democracia participativa, centraliza a comunicação na inter-relação entre poder, dominação e resistência que culmina com instabilidade, fragmentação e desejo por participação. Esse horizonte vai ao encontro do sinalizado por Martin (2004), Morgan (2011) e Smircich (1983) a respeito da cultura organizacional. O panorama traçado por esses autores, e defendido neste estudo de dissertação, considera que, para além das imposições gerenciais, estão os conflitos estabelecidos por conta dos interesses individuais que movimentam o ambiente laboral e sua cultura. Esse ponto de vista favorece, também, as interações, logo, a comunicação como fonte de todas as situações de trabalho, visto que “[...] abraça a ideia de que significados constituídos relacionalmente são sempre políticos e criados a partir de relações de poder.” (DEETZ, 2010, p. 90). Nesse sentido, associam-se às noções abordadas por Morgan (2011) acerca das metáforas das organizações como culturas e como sistemas políticos. Em ambas, é possível perceber a comunicação instituinte da realidade perante relações de força que implicam interesses, conflitos e poder. Conforme antecipado no capítulo 2, comunicação e cultura têm uma relação íntima e inseparável; são processos que fundamentam (e são fundamentados) a ação humana. A interpretação é um aspecto chave em ambos os processos, pois seu resultado, os sentidos, permite o convívio coletivo. Marchiori (2009, p. 8) afirma que “a interpretação dos ambientes expressa a realidade cultural de uma determinada organização, por meio de seus discursos e relacionamentos”. A noção de interpretação abordada por essa autora aproxima-se do que discutem Daft e Weick (1984) sobre a possibilidade de a organização traduzir os eventos e orientar os sentidos. Mesmo tendo uma forma mais flexível, ainda pode-se vincular essa

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perspectiva ao processo linear de comunicação, pois, mesmo que haja o interesse na interpretação dos sujeitos, a tentativa de sua modalização permanece preponderante. A perspectiva interpretativista da cultura e da comunicação aceita que a produção de sentidos decorre da relação entre indivíduos e organização, mas sugere que os conceitos promulgados pela organização, perante o uso de estratégias discursivas em apoio aos seus objetivos, são suficientes para que haja identificação do trabalhador com a prescrição, logo, sua adesão. Porém, no cenário proposto pela ergologia, em função da atividade laboral, atribui-se maior participação aos sujeitos no processo de interpretação, pois se aceita que, além da organização, há outros espaços sociais que determinam as experiências e o aprendizado a partir delas. Esses saberes “desconhecidos” da organização são também investidos no exercício da atividade. Saraiva e Carrieri (2010, p. 213) contribuem com esse argumento e, com o enfoque no simbólico, afirmam: “[...] ainda que haja uma intencionalidade por parte da administração de uma organização ao implementar uma dada ação gerencial [...] isso não significa que os empregados se acomodarão, submissos e apáticos ao que lhes for apresentado”. De encontro a essas ponderações destaca-se o que comenta Baldissera: (2009a, p. 154) “a interpretação tenderá a ser um exercício de aproximação (negociação e disputa) entre os sentidos que são propostos (postos em circulação) pelos sujeitos em comunicação e a significação que é por eles individualizada, internalizada”. A posição defendida por esse autor apresenta sua concepção da comunicação organizacional: “um processo de construção e disputa de sentidos no âmbito das relações organizacionais”. (BALDISSERA, 2009a, p. 153). Construção, pois se constitui diante da (re)articulação dos signos a partir das experiências dos sujeitos. Disputa, já que a construção dos sentidos que serão compartilhados depende da constante tensão decorrente do diálogo estabelecido entre os sujeitos. A divergência de propósitos não é vista como algo negativo, mas como oportunidade de desenvolvimento de vínculos, por meio de relações dialógicas. Nesse caso, as prescrições são interpretadas pelo trabalhador que busca, tanto em suas experiências quanto na interação com seus colegas, argumentos que sustentem sua ação. A atividade humana manifesta sua complexidade no processo interacional do sujeito e seu fazer, que se torna essencialmente comunicativo. Os sujeitos são forças, cuja manifestação advém dos discursos que representam sua identidade e transformam os grupos aos quais pertencem. Os pontos de intersecção, materializados nos espaços coletivos habitados pelos sujeitos, inferem estímulos transformados em sentidos, acionados quando necessário.

85 Oliveira e Paula (2008, p. 101) argumentam que “[...] o sentido existe na interação estabelecida e as organizações são concebidas como agentes discursivos e comunicativos, nos processos interativos que se dão dentro e fora do seu ambiente”. Essas autoras consideram que o sentido está relacionado com o contexto no qual é produzido. Charaudeau (2010a, 2012a) esclarece que o contexto contempla tanto a situação da comunicação, como as circunstâncias que conduzem a ela e o contrato que orienta a produção discursiva dos sujeitos do ato de linguagem. Esse autor defende que a intencionalidade é também aspecto relevante para compreender como se constroem os sentidos, visto que a interação pressupõe uma relação de alteridade, na qual se objetiva envolver o outro diante de seus interesses. Assim, para refletir sobre o caso selecionado para este estudo, defende-se a concepção de comunicação que dá ênfase às interações e ancora-se nos discursos para o estabelecimento de sentidos no ambiente laboral (BALDISSERA, 2009a). A comunicação em uma perspectiva relacional atribui força a todos os envolvidos no diálogo e concebe que os contextos que envolvem cada sujeito exercem impacto na sua percepção. Trata-se de uma permanente construção da cultura na tentativa de acoplar, na medida do possível, esses múltiplos olhares. Nesse sentido, concorda-se com Fairhust e Putnam (2001, 2010) quanto a compreensão das organizações como construções discursivas e acredita-se que a análise do discurso delineie-se como metodologia eficaz para compreender a cultura organizacional e o trabalho, diante de uma dimensão ressignificada. Com base nesses aspectos, prossegue-se a discussão. 4.1

ANÁLISE DO DISCURSO: UMA DAS PERSPECTIVAS PARA OS ESTUDOS DA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL A definição de noções centrais ao estudo orienta sua construção. Entender as

organizações como construções discursivas diante de suas manifestações culturais, a comunicação nas dimensões de construção e disputa de sentidos e o trabalho enquanto atividade, resulta na possibilidade do diálogo. Opta-se por mediar essa relação com base na análise do discurso, materialidade que sustenta os três pilares: cultura, comunicação e trabalho. Nesse sentido, Fairhust e Putnam (2010) proporcionam três diferentes interpretações, que facilitam o percurso a esse debate, acerca da associação entre discurso e organizações. A primeira interpretação sugere que as organizações são objetos ou entidades já formadas e assenta-se na ideia de um discurso informacional que obedece a essa formação. Na segunda apreciação, busca-se compreender como os discursos e as interações transformam a

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realidade organizacional, o que defende uma permanente constituição dessa realidade. Por fim, na terceira observação, práticas sociais e formas discursivas são relevantes e as organizações fundamentam-se nessa ação. Apesar dessa distinção, Fairhust e Putnam (2010, p. 135) defendem que é necessário “manter as três orientações, com seus elementos, em tensão entre si”. Entende-se, assim, que é na conjunção entre prescrições, transgressões e interações que se apresenta o discurso. A produção de sentidos diante dele se relaciona com a possibilidade do diálogo entre essas três propostas como ponto de partida à análise. Além de considerar a tensão entre essas três interpretações nos horizontes da relação discurso – organização, Oliveira e Paula (2008, p. 97) chamam a atenção à compreensão dos fluxos informacionais “porém, entendendo-os como parte da interação social, que acontece de uma forma mais relacional”. Trata-se de perceber que, pela comunicação, a informação adquire mobilidade e transforma-se na transação entre produção e recepção. A singularidade da ação humana manifesta-se pela capacidade de registrar e transformar, perante registros anteriores, as ações futuras. Por isso o trabalho é atividade singular e predominantemente comunicativa, pois as experiências dos sujeitos são como motores na produção de novos sentidos que propiciam suas perspectivas de mundo. Com o propósito de desenvolver um olhar de apoio à análise dos discursos organizacionais, propõe-se a interlocução entre as três modalidades da linguagem como, no e sobre o trabalho, apresentadas no capítulo 3 com base em Nouroudine (2002) e as três dimensões da comunicação organizacional, idealizadas por Baldissera (2009b, 2014). A dimensão da organização comunicada “contempla aquilo que, de alguma forma, a organização como força em interação com outros sujeitos, considera relevante sobre si mesma, identifica como potencialidade para trazer algum tipo de retorno”. (BALDISSERA, 2014, p. 117). Seu enfoque está em legitimar as normalizações organizacionais, atribuindolhes valor perante a seleção de umas informações em detrimento de outras. Pode-se fazer uma aproximação com a modalidade da linguagem como trabalho, cujo enfoque é manifestar a intencionalidade dos sujeitos do ato de linguagem (NOUROUDINE, 2002). Com base no caráter multidimensional do trabalho, elegem-se as categorias que terão ênfase na enunciação, logo, na construção dos discursos organizacionais, muitas vezes prescritivos, disponibilizados nos diversos suportes comunicacionais, dentre eles os jornais de empresa ou reuniões, por exemplo. A segunda dimensão, da organização comunicante, reflete como “os públicos que interagem com a organização podem atribuir sentidos a tudo o que percebem, independentemente de a organização ter a intenção de comunicação ou não”. (BALDISSERA,

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2014, p. 119). Retoma-se aqui a discussão acerca da interpretação realizada pelos sujeitos e a singularidade de suas experiências nesse processo de construção de sentidos. É nesta dimensão que se desenvolvem as tensões entre os saberes, seja pelo próprio sujeito em interação com um texto, seja no diálogo com seus colegas. As características dessa dimensão permitem sua vinculação com a ideia da linguagem no trabalho, ou seja, a situação global de trabalho que implica a produção de enunciados na interação entre os trabalhadores (NOUROUDINE, 2002). Por fim, “é possível redimensionar a noção de Comunicação Organizacional para que contemple outras materializações comunicacionais que dizem respeito às organizações, mas que pouco são pensadas como Comunicação Organizacional”. (BALDISSERA, 2009b, p. 119), a organização falada. Referem-se às conversas, por vezes informais, acerca de eventos organizacionais, como alguma decisão gerencial ou conflito de interesses entre áreas diferentes, por exemplo. A interpretação manifesta em discursos dos trabalhadores, o que remete à noção de linguagem sobre o trabalho, quando se realiza uma verbalização segundo as experiências do cotidiano laboral. É necessário que se reflita sobre a atividade e se traga no dizer questões simbólicas. Percebe-se que a conexão entre a conceituação de Baldissera (2009b, 2014) e de Nouroudine (2002) permite que tenhamos uma base interessante à análise das organizações perante a atividade que, é proeminentemente comunicativa. Da reflexão realizada até o momento, mostra-se profícuo valer-se da análise discursiva para os estudos da comunicação organizacional. Freitas (2011, p. 105) corrobora: “a análise do discurso permite compreender em profundidade a realidade social e cultural manifestada pela formação discursiva através de discursos individuais ou coletivos”. Dentre as diversas escolas que estudam o discurso, é necessário optar por aquela que permita a investigação mais densa diante dos objetivos de pesquisa. No caso deste estudo, seleciona-se a proposta teórica de Patrick Charaudeau. Na apreciação de Pauliukonis e Gouvêa (2012, p. 50), a teoria Semiolinguística de base comunicativa e interacional, desenvolvida por Charaudeau (2008, 2010, 2012a), propõe um “ponto de vista que busca, assim, abranger o que a análise discursiva denomina de problematização do sentido ou interpretação de um texto em função de operações linguísticodiscursivas específicas”. Tal percepção congrega diretamente às perspectivas da comunicação organizacional que enfatizam as relações estabelecidas diante das disputas de sentido que sustentam as organizações. À compreensão da teoria Semiolinguística de análise do discurso dedica-se a seção, comentada na sequência.

88

4.2

ANÁLISE DO DISCURSO: ALGUMAS PONDERAÇÕES Charaudeau (1999), em um artigo decorrente de sua palestra a um grupo de

profissionais da análise do discurso, é desafiado a fazer uma reflexão acerca do percurso e das perspectivas à área. Esse autor salienta, então, a inviabilidade, no tempo a ele dado, de tratar da amplitude dessa evolução teórico-metodológica. No entanto, propõe uma abordagem de ordem epistemológica e evidencia algumas questões no tratamento da noção de discurso: o uso polissêmico e a diversidade de definições diante das escolas francesa, russa, americana, dentre outras. Nesse aspecto, Charaudeau (1999) apresenta diferenças essenciais entre a análise discursiva perante o sentido linguístico e discursivo, as quais são sintetizadas no Quadro 12. Quadro 12 - Diferenças de Sentido: linguístico e discursivo

Sentido Linguístico Palavras ou sua combinação Vocábulos e enunciados isolados Relação transparente Sentido referencial Compreensão e tematização

Sentido Discursivo Comunicativo e social (significação) Vocábulos e enunciados contextualizados e desenvolvidos sob competência dialógica (Bakhtin) Relação de opacidade Interpretação e problematização

Fonte: elaborado pela acadêmica com base em Charaudeau (1999)

A comparação proposta por Charaudeau (1999) e apresentada no Quadro 12, retoma a discussão acerca das análises isoladas dos signos, em que a contextualização fica em segundo plano, quando não é desconsiderada. A questão da subjetividade da língua é decorrente desse pensamento, opaco, pois não se estabelece de forma direta, mas perante a ação humana. Pauliukonis e Gouvêa (2012, p. 50) ao realizarem uma breve contextualização da noção de enunciação, central para a compreensão do sentido discursivo, retomam as percepções de Bakhtin62 acerca da “dinamicidade da linguagem e da natureza social da enunciação”. A obra de Bakhtin, notoriamente, influencia o pensamento de muitos estudiosos da linguagem, sejam linguistas ou outros pesquisadores, que se valem de seus ensinamentos para desenvolver outras ciências, de forma interdisciplinar.63 As noções de dialogismo,

62

O filósofo da linguagem russo, reconhecido por ter nos anos 1920/1930, apresentado reflexões de vanguarda acerca das questões da linguagem e que ainda permanecem atuais. 63 Conforme aponta Machado e Di Fanti (2012, p. 310), embasadas em Brait: “[...] os estudos bakhtinianos têm merecido, nos últimos anos, grande atenção por parte de diferentes áreas do conhecimento. [...] a obra do Círculo

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intertextualidade, polifonia e heterogeneidade discursiva, dentre outras, são amplamente difundidas e implicam significativamente a forma como se passa a observar as relações sociais. A inspiração bakhtiniana também alcança Charaudeau, autor que embasa a análise proposta neste estudo, sobretudo na atenção dedicada ao contexto e à relação eu–outro, perante as interações que ocorrem na sociedade. No entanto, diante das limitações de tempo e espaço que se tem, interessa retomar sucintamente o olhar de outro autor, o qual é basilar ao salto epistemológico das questões da enunciação, do texto e do discurso: Émile Benveniste, linguista influenciado por Ferdinand de Saussure64. Conforme Pauliukonis e Gouvêa (2012, p. 50), as contribuições de Benveniste “foram decisivas para o desenvolvimento dos estudos enunciativos e da intersubjetividade na linguagem”. Das noções relacionadas ao que podemos denominar de máscaras do discurso, que servem ao sujeito para constituir-se como tal, atenta-se ao reconhecimento de uma subjetividade. Segundo Benveniste (2008, p. 286), é na linguagem e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito; porque só a linguagem fundamenta na realidade, na sua realidade que é a do ser, o conceito de ego. [...] A “subjetividade” de que tratamos aqui é a capacidade do locutor para se propor como “sujeito”.

A questão da subjetividade é fundamental em Benveniste, pois trata da constituição da condição de pessoa perante a relação de diálogo que se estabelece no emprego dos pronomes “Eu”, “Tu” e “Ele”, o que instaura, pelo contraste, a consciência de si. Essa consciência implica uma intersubjetividade, pois além de reconhecer a si como locutor de um enunciado, também atribui ao outro a função de interlocutor (BENVENISTE, 2008). Esse aspecto é fundamental para o processo de enunciação que esse linguista promove. Um locutor (EU), diante das possibilidades da língua e das referências de mundo, apropria-se de indícios e pronuncia seu enunciado a um ouvinte (TU), que pode adquirir, então, o direito de resposta, retroalimentando o processo (BENVENISTE, 1999). O discurso, segundo Benveniste (1999), é produto da enunciação. “[...] a língua [é] empregada para a expressão de uma certa relação com o mundo. E fica claro que é o discurso que possibilita essa relação, seja entre locutores, seja entre eles e a referência”. (FLORES; ENDRUWEIT, 2012, p. 204, grifo do autor). Dessa breve apresentação das noções relacionadas ao enunciado, de Benveniste, fica evidente a apropriação feita por Charaudeau, que compreende e amplia tal proposta. É desse

aparece não só relacionada a questões de linguagem, como nos estudos linguísticos e literários, mas também a abordagens transdisciplinares”. 64 Linguista e filósofo suíço (1857/ 1913) é considerado o pai da Linguística Moderna.

90 ponto que Charaudeau (2013)65 parte para esclarecer a necessidade de uma teorização dos sujeitos da linguagem66, pois o olhar de Benveniste, embora os reconheça como mobilizadores da enunciação, o faz perante a ênfase aos usos linguísticos, dos pronomes (pessoas) em relação aos verbos em conjugação (ação em relação do EU em relação ao TU) (BENVENISTE,

2008).

Nesse

mesmo

sentido,

Charaudeau

(2013)

justifica

sua

institucionalização acerca do contrato de comunicação e da teorização da situação de comunicação, que regulam o processo de troca enunciativo/ discursivo, visto que Benveniste (1999) lança as sementes acerca da importância da relação sujeito-mundo na produção de sentido. Por fim, Charaudeau (2013) explica sua proposta dos modos de organização discursiva, reconhecendo que a construção da enunciação vale-se dos aspectos linguísticos, mas que esses obedecem à ordem externa, diante dos efeitos que podem ser construídos por meio dos enunciados. Diante dessas breves considerações acerca da análise do discurso que contextualiza a construção teórica de Charaudeau, pode-se seguir com a apresentação do ato de linguagem e a Semiolinguística. 4.2.1 Teoria Semiolinguística de Charaudeau: o ato de linguagem A perspectiva Semiolinguística de análise do discurso dá relevo aos sujeitos da linguagem, cuja configuração resulta uma dupla identidade, conforme jogo discursivo apresentado no Capítulo 267. A proposta de Charaudeau “considera o ato de comunicação como um “jogo”, ou seja, o ato de comunicação se mantém em uma constante manobra de equilíbrio e de ajustamento entre as normas (restrições) de um dado discurso e a margem de manobras permitida pelo mesmo discurso”. (PAULIUKONIS; GOUVÊA, 2012, p. 58, grifo do autor). Importa lembrar que o processo de comunicação visto de forma assimétrica, implica na manifestação da identidade dos seres sociais do ato linguageiro (CHARAUDEAU, 2008). Nogueira (2004, s. p.), ao fazer algumas “considerações sobre o modelo de análise do discurso de Patrick Charaudeau”, tece o que seriam seus compromissos teóricos:

65

Conforme conferência proferida pelo Prof. Patrick Charaudeau em 4 de dezembro de 2013, na Universidade de Passo Fundo (UPF). 66 Apresentada no capítulo 2. 67 Subcapítulo 2.1.2.

91

a) com a articulação entre os planos situacional e linguístico, ou seja, tensionar a realidade social em que o discurso é produzido às características internas do discurso; b) com a articulação dos planos macro, dos seres sociais, e microssocial, seres de fala; c) com a dimensão de interação social dos parceiros do ato de linguagem; d) com a concepção da intencionalidade dos sujeitos bastante sofisticada: relação entre implícito e explícito no ato de linguagem. A dupla dimensão do fenômeno linguageiro, o implícito e o explícito, é bastante relevante ao entendimento dessa proposta teórica, pois evidencia uma característica fundamental da análise do discurso, na visão de Charaudeau (2010a, p. 17): o ato de comunicação não é transparente. O Quadro 13 apresenta a dimensão interacional decorrente do ato de linguagem, o qual evidencia a relação entre a elaboração do dizer e sua manifestação. Quadro 13 - Dimensão Interacional entre os Parceiros do Ato de Linguagem

Plano Situacional Plano Macrossocial – Seres Sociais (EUc  TUi) Explícito

Plano Linguístico Plano Microssocial – Seres de Fala (EUe  TUd) Implícito

Fonte: elaborado pela autora

No plano situacional, externo, considera-se a estrutura materializada do ato de linguagem. Está explícito o local onde se dá o encontro entre os seres sociais, suas características físicas, as palavras utilizadas na construção do enunciado. O plano linguístico compreende o implícito, aquilo que não se pode descrever com precisão, mas indicar possíveis interpretações. Ao selecionar qual conteúdo comporá o texto verbal, é necessário avaliar as possibilidades mais adequadas para materializar o sentido que se deseja construir. O sujeito enunciador faz, então, hipóteses sobre seu interlocutor, considera o histórico da relação, supõe o que o outro deseja ouvir. A dimensão interacional comporta a ação de quatro sujeitos, dois seres localizados no plano macrossocial, responsáveis pela verbalização e dois seres situados no plano microssocial, espaço onde de fato se originam as concepções e imagens que mobilizam o imaginário.

92 Em entrevista a Maria Eduarda Giering68, Charaudeau (2012, p. 329, grifo nosso), apresenta a síntese de sua contribuição metodológica e teórica: Tento estabelecer relações entre os fatos linguísticos e as características das situações de comunicação social, em consonância com as condições sociodiscursivas da produção da linguagem, passando por teorias do sujeito falante e dos gêneros discursivos. [...] Para mim, o sujeito é, ao mesmo tempo, determinado por uma série de condições de produção, umas de ordem situacional, outras de ordem cognitiva, livre para jogar com estratégias discursivas visando “individualizar-se”: não há sujeito que não busque o fazer-se existir.

O “fazer-se existir” mencionado por Charaudeau remete a discussão apresentada no capítulo 2 acerca da identidade. Todo projeto de fala se refere primeiramente a um embate entre os seres social e de fala na instância de produção, conforme a sentença: EUc  EUe  TUd. Além de elaborar o discurso com base em sua intenção quanto envolvimento do outro, o sujeito comunicante (EUc) precisa conquistar o espaço de fala, ou seja, a atenção do sujeito interpretante (TUi). A conjunção do movimento de encenação (mise-en-scène), que acontece no plano interno do ato de linguagem, ao ato linguageiro em si, no plano externo, resulta no chamado “Ato de Linguagem”, quando se estabelece uma relação entre os seres sociais. A Figura 6 sintetiza os elementos envolvidos nesse complexo jogo discursivo desenvolvido por Charaudeau (2005, 2007, 2008, 2010a, 2012a). Figura 6 - Representação da Teoria Semiolinguística de Charaudeau

Fonte: elaborado pela autora

Com a Figura 6 apresentam-se as categorias teóricas elaboradas por Charaudeau (2005, 2007, 2008, 2010a, 2012a) e que serão basilares à análise do discurso do objeto de

68

Disponível no volume 10 da revista Calidoscópio (Unisinos).

93

estudo desta dissertação. Conforme anunciado no capítulo 2, o jogo comunicativo, nessa perspectiva, inicia com o interesse de um sujeito comunicante (EUc) em envolver um sujeito interpretante (TUi), através de um projeto de fala, decorrente da mise-en-scène da relação entre um enunciador EUe e um destinatário ideal TUd. A encenação discursiva (ou mise-enscène) manifesta-se diante de um acontecimento que suscita o interesse da troca comunicativa entre dois sujeitos específicos e implica uma situação de comunicação. Para tanto, aciona-se o contrato de comunicação que, perante dados externos e internos, orienta os processos de transformação e transação e conduz a construção do enunciado que é verbalizado pelo EUc e interpretado pelo TUi, o que constitui o ato de linguagem. A fim de esclarecer cada um dos aspectos que compõem a Figura 6, desenvolve-se este capítulo da dissertação. Diante da articulação do ato de linguagem, cabe salientar que, embora a encenação discursiva, ou mise-en-scène, ocorra no espaço interno do ato de linguagem, sua constituição somente pode se dar perante adequação a aspectos externos. As Circunstâncias de Discurso são entendidas como “o conjunto dos saberes supostos que circulam entre os protagonistas da linguagem”. (CHARAUDEAU, 2010a, p. 32). Tais saberes podem ser agregados em duas categorias: a) das práticas sociais partilhadas e b) filtros condutores de sentido. Em conjunção, participam da construção do contexto extralinguístico que permite o entendimento entre os sujeitos. Para exemplificar tal questão, pode-se utilizar o seguinte enunciado: “Hoje é necessário colocar nossa inteligência dentro da máquina69”. De qual inteligência se está falando? Que tipo de máquina? Como essas, muitas outras questões podem surgir com a finalidade de estabelecer balizadores para o entendimento daquilo que se fala. Na proposta Semiolinguística, somente diante da ciência da situação em que se dá a comunicação, da identificação dos atores e do contrato que existe entre eles é possível fazer uma análise adequada dos discursos pronunciados. Importa salientar o que Charaudeau (2010a, p. 63, grifo do autor) resolve acerca do sujeito analisante: “deve, sim, dar conta dos possíveis interpretativos [...] já que está em uma posição de coletor de pontos de vista interpretativos e, por meio da comparação, deve extrair constantes e variáveis do processo analisado”. Na sequência deste estudo, propõe-se a apreensão das demais categorias apresentadas na Figura 8, a fim de que seja viável a análise e conjunção dos múltiplos discursos organizacionais.

69

Disponível no editorial do jornal da empresa Hera, Informando & Trabalhando (I&T), nº 78, de agosto de 2012, corpus que compõem o objeto de estudo, diante da unidade de análise selecionada.

94

4.2.2 A Semiotização do Mundo A análise Semiolinguística atém-se às problemáticas da linguagem diante da configuração entre elementos externos e internos, das construções sociais em decorrência daquelas que são particulares. A construção de sentido, elaborada a partir da intencionalidade expressa no projeto de fala, em uma situação específica, atende à demanda semiológica70 proposta, enquanto a linguística é decorrente da forma textual (CHARAUDEAU, 2005). A ordem discursiva, nesse caso, tange a “correlação entre dois polos”. (CHARAUDEAU, 2012a, p. 40) para produção de sentido: a) condições extradiscursivas, ou as circunstâncias em que se fala ou escreve; e, b) condições intradiscursivas, que implica o como se fala. O ponto de convergência entre essas condições evidencia a forma que o sentido adquire diante da interação entre os sujeitos da linguagem. Nas palavras de Charaudeau (2012a, p. 41), “o sentido se constrói ao término de um duplo processo de semiotização: de transformação e de transação”. O processo de transformação tange tanto a identificação de um mundo a significar, quanto à ação do sujeito em significá-lo. Diante do significado, decorre o processo de transação cujo enfoque está no compartilhamento do significado entre os sujeitos. A Figura 7 apresenta a relação entre os processos e a ação dos sujeitos no duplo processo de semiotização do mundo. Figura 7 - Duplo Processo de Semiotização

Fonte: Charaudeau (2005)

Pode-se perceber na Figura 7, que o processo de transformação ocorre em função do processo de transação, “o qual confere às operações uma orientação comunicativa”. (CHARAUDEAU, 2005, s. p.). O sentido construído é a resultante desse processo indissociável. “O sentido se constrói sobre a teatralização [...] Assim também, nunca se trata do outro ou de si mesmo, mas de uma imagem de si e do outro construída em função dos interesses e expectativas de comunicação”. (CHARAUDEAU, 2008, p. 13, grifo do autor). 70

Advém da semiologia de Ferdinand Saussure. “Uma ciência que estuda a vida dos signos no quadro da vida social”. (ECO, 2009, p.8).

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Em diferentes momentos, Charaudeau (2005, 2007, 2008, 2012a) postula princípios e operações que esclarecem e ampliam o que ocorre na encenação discursiva decorrente da relação entre o EUe e o TUd. Os princípios, conforme se pode observar na Figura 6, que sintetiza a teoria Semiolinguística, estão relacionados ao processo de transação, ou seja, a troca linguageira que contempla o mundo significado. Já as operações vinculam-se ao processo de transformação do mundo a significar em mundo significado. Propõe-se, então, o esclarecimento dos princípios e operações, visto que se referem a importantes elucidações à análise pretendida, bem como à compreensão do ato comunicativo na perspectiva linguística de Charaudeau. Quatro são os princípios de transação: alteridade/ interação, pertinência, influência e regulação. Referem-se ao ato de linguagem em si, composto pelos espaços externo e interno e tem como propósito a validação do ato de linguagem diante de um quadro de restrições espaciais e temporais. O Princípio de Alteridade, ou Interação, tange à definição dos papeis assumidos pelos seres sociais na troca linguageira. O EU, instância de produção, é reconhecido pelo TU como legítimo na condução da interação, embora também o TU, enquanto instância de interpretação, tenha pleno acesso para continuidade do ato comunicativo. Tal princípio advém do pressuposto de Bakhtin (1981) acerca do reconhecimento da identidade do “Eu” diante da relação com o outro, que é diferente. Charaudeau (2008, p. 14), ao explicar esse princípio, completa: “há o eu e o outro, mas, ao mesmo tempo, o outro constitui o eu. O ato de comunicação é o resultado de uma coconstrução”. Retoma-se aqui os aspectos apresentados no Capítulo 2 acerca da troca discursiva que delimita a identidade. O princípio de pertinência implica duas questões: a) a suposição da intencionalidade do locutor (EUc) a partir de seu projeto de fala; b) ambos os seres (EUc e TUi) precisam compartilhar antecipadamente saberes, valores e normas acerca do que será abordado pelo discurso. Esse princípio pode ser associado às fases de socialização evidenciadas por Berger e Luckmann (2012), apresentado no capítulo 2, principalmente em sua fase secundária, a qual tangencia o mundo do trabalho. As múltiplas realidades postas em interação permitem, para além da atividade laboral, a identificação de semelhanças e diferenças que podem criar ou desestruturar parcerias no lócus organizacional. Relacionados ao uso das estratégias discursivas, as quais são desenvolvidas no espaço interno, o implícito, do ato de linguagem, estão os princípios de influência e de regulação. O princípio de influência liga-se a finalidade discursiva, perante a intenção de o EUc envolver o outro, TUi, em seu projeto. Já o princípio de regulação modula a luta

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discursiva travada entre os seres sociais. As escolhas na abordagem do tema a ser discutido “assegura a continuidade ou ruptura da troca comunicativa”. (CHARAUDEAU, 2008, p. 15). Alguns possíveis comportamentos são aguardados pela instância de produção, diante das escolhas que determinam seus discursos: fazer-fazer, fazer-sentir e fazer-pensar. Visto os quatro princípios que balizam o processo de transação, apresenta-se, então, às operações que permitem aos seres de fala a elaboração do projeto de fala. Na Semiolinguística de Charaudeau, podem ser compreendidas com maior profundidade as operações de transformação perante os esclarecimentos abarcados pelos modos de organização discursiva, que são quatro: enunciativo, descritivo, narrativo e argumentativo. Visto a relevância e a amplitude de tais categorias, desenvolve-se a seção que segue. 4.2.2.1 Modos de Organização do Discurso: fonte das operações de transformação Os modos de organização discursiva coordenam o processo de transformação, que parte do mundo referencial ao mundo significado por meio das operações que categorizam a língua em função de finalidades do discurso. A constituição dos modos se dá a partir de duas esferas: a função de base, que tange especificamente a função, e o princípio de organização da encenação e do mundo referencial. Quatro são as funções: enunciar, contar, descrever e argumentar. Já os princípios, devido a sua dupla dimensão de organização, dividem-se em três: descritivo, narrativo e argumentativo. Há, ainda, um quarto princípio, que comanda os demais: o enunciativo, cujo enfoque está na posição ocupada pelo locutor em relação ao interlocutor. O Quadro 14 apresenta a síntese da composição dos modos de organização, os quais serão desenvolvidos na sequência. Quadro 14 - Modos de Organização do Discurso

Modo de Organização Enunciativo Descritivo Narrativo Argumentativo

Função de Base Relação de Influência Ponto de Vista do Sujeito Retomada do Dito Identificar e Qualificar Construir sucessão das ações Expor e provar casualidades

Princípio de Organização Posição do locutor em relação: a) interlocutor; b) ao mundo; c) outros discursos Nomear, localizar, qualificar Organização lógica narrativa Organização lógica argumentativa

Fonte: elaborado pela autora com base em Charaudeau (2010a)

Iniciar-se-á o percurso ante os modos de organização do discurso com o modo enunciativo, conforme apresenta o Quadro 14. Esse modo enfoca os seres de fala, visto que

97 “aponta para a maneira pela qual o sujeito falante age na encenação”. (CHARAUDEAU, 2010a, p. 81). Tais ações são manifestas perante três funções: a) Alocutiva: implicação, imposição de comportamento e atribuição dos papéis. Refere-se a uma relação de influência, que inspira uma reação ou a uma relação de posição, que pode ser de superioridade (relação de força) ou de inferioridade (relação de petição). b) Elocutivo: expressão do ponto de vista ou propósito, o que dá prioridade à modalização de verdades, sem implicar o interlocutor. Manifesta-se por um modo de fazer (conhecimento), uma avaliação (julgamento), uma motivação (razão ou causa da abordagem), engajamento (grau de adesão ao propósito) e decisão. c) Delocutivo: não se percebem vínculos com o locutor ou o interlocutor, pois o sujeito falante se apaga e torna-se testemunha do mundo significado. O propósito se expõe de duas formas: se impõe por si só: afirmação ou verdade ou, é um texto, o relato de outro retomado como chancela a determinado enunciado. Na sequência do Quadro 14, tem-se o segundo modo de organização do discurso, denominado descritivo. Ele pode se combinar com os demais, narrativo ou argumentativo, a fim de produzir de sentido. Constitui-se com base em três componentes: nomear, localizar/ situar e qualificar. a) Nomear: dar existência a um ser a partir da percepção da diferença e da sua relação com a semelhança, o que culmina com uma classificação. Assim, “descrever consiste em identificar os seres do mundo cuja existência se verifica por consenso (ou seja, de acordo com os códigos sociais)”. (CHARAUDEAU, 2010a, p. 113, grifo do autor). Em suma, tem como procedimento de configuração da descrição identificar. b) Localizar/ situar: determina as posições dos seres no tempo e no espaço. Propõe um recorte objetivo do mundo por meio da atribuição de características, o que implica a construção de uma visão de “verdade”. Tal componente, que tem o procedimento de configuração da descrição uma construção objetiva do mundo, é basilar para a produção dos saberes que permeiam o imaginário e estruturam a cultura, assim como o componente qualificar. c) Qualificar:

componente que “descreve os

seres

do mundo

e seus

comportamentos”. (CHARAUDEAU, 2010a, p. 125). É por meio da qualificação que se atribui sentido particular às coisas/ seres. Refere-se a um procedimento de configuração descritivo que promove a construção objetiva e subjetiva do

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mundo. Desenvolve-se perante as normas da prática social: normas relativas aos sentidos (olfato, paladar, visão, audição e tato) e normas funcionais que determinam a utilidade das coisas. A encenação descritiva ocupa-se de três aspectos: a produção de efeitos (de saber ou prova de veracidade, de realidade e ficção, de confidência ou opinião pessoal e de gênero discursivo), a finalidade (informar, contar, explicar) e a disposição gráfica (vertical hierarquizada, em estrela, em quadrado ou em legenda). O narrativo é o terceiro modo de organização do discurso apresentado por Charaudeau (2010a) na composição discursiva. Constrói-se de uma dupla articulação: a construção de uma sucessão de ações e a realização de uma representação narrativa. A lógica narrativa pode ser conduzida de três formas: pelos actantes, que desempenham os papéis linguageiros, os processos que unem os actantes e as sequências que integram os dois primeiros diante de uma finalidade discursiva. (CHARAUDEAU, 2010a). A encenação narrativa representa a forma assumida por narrador e leitor perante uma narrativa. Os procedimentos que a compõem referem-se à identidade e intervenção do narrador, ao seu estatuto, que lhe permite esconder-se ou manifestar-se, pois tange a instância que conta a história. Por fim, a encenação narrativa diz respeito aos pontos de vista expressos pelo narrador, o que implica seu saber acerca da história que conta ou da personagem que conduz a trama. Por fim, o último modo apresentado pelo autor é o argumentativo. “[...] está em contato apenas com um saber que tenta levar em conta a experiência humana, através das operações de pensamento”. (CHARAUDEAU, 2010a, p. 201). A função desse modo, que é “construir explicações sobre asserções feitas do mundo” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 207), relaciona-se de modo especial com os propósitos da perspectiva ergológica, visto que por meio dele pode-se compreender a relação sujeito-trabalho, por meio de uma “racionalização” da experiência laboral perante a reflexão e descrição da atividade. Três elementos compõem esse modo: a) Asserção de partida (A1): dado ou premissa; b) Asserção de chegada (A2): causalidade (causa/ consequência), conclusão; c) Asserção de passagem: justificativa da relação de passagem, tange o universo de crenças compartilhado pelos interlocutores. Essas três asserções implicam modos de raciocínio que organizam a lógica argumentativa. A dedução refere-se à relação de consequência entre A1 e A2, enquanto a explicação tem A2 como origem e tange uma relação de causa. A associação alude a relação

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de identidade ou diferença entre A1 e A2 e a escolha alternativa especifica as possibilidades de escolha entre A1 ou A2. Por fim, na concessão restritiva “aceita-se a asserção de partida, mas contesta-se que ela possa levar à conclusão proposta”. (CHARAUDEAU, 2010a, p. 218). A encenação argumentativa é composta por propostas que se inscrevam em um quadro de questionamento, ou seja, na tomada ou não de posição frente à proposição, e implicam um ato de persuasão, conjunto que corresponde ao dispositivo argumentativo. Do esclarecimento dos princípios que regem a transação de saberes, bem como das operações que estruturam a condução dessa interação, compreende-se de forma clara como se dá o ato de linguagem na perspectiva Semiolinguística. Os discursos sustentam as relações e são dotados de intencionalidade em ambas as instâncias envolvidas. Porém, a manifestação dos dados que compõem essa troca linguageira apenas pode ser reconhecida perante a depreensão de um acordo que module a relação e lhe garanta certos parâmetros para produção e interpretação. A essa convenção, nem sempre registrada formalmente, Charaudeau (2010a, 2012a) nomeia contrato de comunicação, cuja noção e componentes explana-se na sequência. 4.2.3 O Contrato de Comunicação O duplo processo de semiotização transforma o mundo a significar em mundo significado. Trata-se de um evento cotidiano, entendido como “natural” ao sujeito, que desconsidera por vezes a complexidade e a singularidade nele imbricados. Os princípios e operações elucidados por Charaudeau (2007, 2008, 2010a, 2012a) apresentam as múltiplas questões envolvidas em um “simples” ato linguageiro, principalmente no que tange a relação estabelecida entre os sujeitos da linguagem. Porém, tal relação, pode fixar-se apenas com respeito ao contrato de comunicação inerente a qualquer comunicação. Esse aspecto passa a ser enfoque da reflexão em andamento acerca da comunicação nas organizações estabelecidas por meio do trabalho e que contribui à construção do olhar ao outro e a si, o que repercute nas representações da identidade dos trabalhadores. A vigência do contrato exige um palco no qual se dá o embate discursivo entre seres que têm alguma intenção de relação. A essa arena da palavra Charaudeau (2010a, 2012a) denomina “situação de comunicação”, a qual implica um quadro referencial acerca dos limites à encenação de cada troca comunicacional. “[...] é externa ao ato de linguagem, embora constitua as condições de realização desse ato”. (CHARAUDEAU, 2010a, p. 69). A situação de comunicação compõe-se de três aspectos, conforme consta no Quadro 15.

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Quadro 15 - Componentes da Situação de Comunicação

Características

Físicas

Identitárias (dos Parceiros)

Contratuais

Questões Os Parceiros: - estão presentes? - são únicos ou múltiplos? - estão próximos ou afastados? - como estão dispostos? (frente a frente, lado a lado, etc.) O Canal de Transmissão: - é oral ou gráfico? - direto ou indireto (face a face, telefone, etc.) - quais códigos semiológicos são utilizados? - sociais (idade, sexo, etc.) - socioprofissionais (arquiteto, engenheiro, etc.) - psicológicas (inquieto, nervoso, sereno, etc.) - relacionais (há familiaridade?) - é dialogal (sujeito – sujeito) ou monologal (sujeito – texto)? - rituais de abordagem (saudações, títulos de textos, etc.) - papeis assumidos diante do contrato Fonte: elaborado pela autora a partir de Charaudeau (2010a)

O Quadro 15 propõe uma espécie de guia para mapear a situação que contempla o ato de comunicação. A situação determina as trocas sociais simbólicas diante do estabelecimento de normas e convenções aos comportamentos linguageiros. Pode-se compreender a cultura como principal fomentador das situações comunicacionais, perante a socialização constante de saberes que apenas podem ser atualizados diante da reconstituição daquilo que é convencionado entre os seres. Percebe-se, então, que da situação de comunicação advêm muitos dos filtros condutores de sentido e das práticas linguageiras partilhadas, ou seja, das circunstâncias de discurso, logo, é parte fundamental do contrato de comunicação. Porém, admite-se ainda, que há dados relevantes à produção de sentido, que estão para além da situação. Divide-se, então, o contrato de comunicação em três partes: situação, dados externos e dados internos, conforme apresenta a Figura 8. Figura 8 - Contrato de Comunicação

Fonte: elaborado pela autora com base em Charaudeau (2012a)

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A Figura 8 sintetiza os componentes do contrato de comunicação. Visto a elucidação anterior acerca das circunstâncias de discurso e da situação de comunicação, avança-se a ponderação acerca das quatro condições de enunciação que compreendem os dados externos e dos espaços de comportamento linguageiro que refletem os dados internos.

Ensaia-se,

inicialmente, o ponto de vista dos dados externos, para na sequência retomar os dados internos, visto que esses se submetem àqueles, logo, neles estão contidos. Os dados externos advêm do campo da prática social, diante dos dados semiotizados que já orbitam no contexto. Na proposta teórico-metodológica de Charaudeau (2012a), são quatro as categorias que agrupam as condições enunciação da produção discursiva: identidade, finalidade, propósito e dispositivo. Tais dados têm origem no espaço externo, ou seja, permeiam a relação entre EUe e TUd perante a transação de saberes entre o EUc e o TUi. Ligam-se, assim, aos princípios de alteridade/interação e pertinência. A identidade, primeira condição de enunciação explorada por Charaudeau (2012a), está vinculada à instância de produção, sendo a situação de comunicação sua principal influente, já que um mesmo sujeito pode ocupar diversos papéis, definidos diante do momento e do contexto em que estiver inserido. Um trabalhador, por exemplo, pode ser responsável por um departamento, situação que o enquadra na posição de “chefe”, a qual possui uma gama de elementos discursivos que devem ser atendidos, uma vez que convencionados socialmente. Em outro momento, enquanto trabalhador, ele pode reivindicar direitos junto à direção da empresa e, então, seguirá direções para construir seu projeto de fala considerando tal situação. Salienta-se que os papéis podem ser cumulativos, o que merece atenção no momento da análise discursiva. O segundo componente dos dados externos refere-se à finalidade, visto que explicita a intencionalidade (viseé) do EUc frente ao TUi e “determina a orientação discursiva da comunicação”. (CHARAUDEAU, 2004, s. p.). Estrutura-se diante de uma seleção do que Charaudeau (2004) apresenta como Visadas Comunicativas, as quais sintetizam o interesse construído psicossocialmente. Essas atitudes enunciativas são mobilizadas a partir de um duplo critério de definição: a) “a intenção pragmática do EU em relação com a posição que ocupa como enunciador na relação de força que o liga ao TU; b) a posição que o tu deve ocupar”. (CHARAUDEAU, 2004, s. p.). O Quadro 16 apresenta as principais visadas apresentadas por Charaudeau (2004, 2012a).

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Quadro 16 - Principais Visadas Comunicativas

Visada Prescrição Incitação Informação Captação

Ação do EU Fazer-saber Mandar-fazer fazer acreditar (persuasão/sedução) Fazer-saber Fazer-sentir

Ação do TU Dever-fazer Dever-acreditar Dever-saber Dever-sentir

Fonte: elaborado pela autora com base em Charaudeau (2004, 2012a)

A condição de finalidade, por meio das visadas, implica a relação de força entre EU e TU. Aqui cabe retomar a noção de poder, apresentada no capítulo 2. Exercido em rede, não se fixa em algum ponto específico, mas tensiona saberes diante da intenção do sujeito comunicante e da interpretação do sujeito que recebe tal influência. Conforme Foucault (2007, p. 99) “dispomos da afirmação que o poder não se dá, não se troca nem se retoma, mas se exerce, só existe em ação”, e ação essencialmente discursiva. Dentre as visadas desenvolvidas por Charaudeau (2004, 2012a), apresentadas no Quadro 17, duas assumem destaque e são mais exploradas por esse autor em sua obra e também despontam importância ante as expectativas deste estudo. Trata-se da visada de informação e da visada de captação. A primeira tem seu enfoque no fazer-saber, tentativa de promover uma relação com a verdade. Nesse sentido, sob um enfoque linguístico, esse autor aborda as noções de significar o verdadeiro e significar o falso, o que se vincula à questão dos valores que contribuem à construção de sentido diante de um enunciado (CHARAUDEAU, 2012a). Conforme orientará a acepção de propósito apresentada na sequência, o acontecimento, quando expresso ao outro de forma discursiva, já habita o plano das representações, às quais são constituídas diante do contexto, entre outros elementos já abordados no capítulo 2. A visada de captação exposta por Charaudeau (2012a), por sua vez, refere-se à captação do TUi, por meio de um fazer-sentir, o que exige a consideração de alguns aspectos. O EUc, sob o interesse de influenciar seu interlocutor, faz projeções sobre ele, transformandoo em destinatário ideal, TUd. Mesmo ao tratá-lo diante de uma condição hipotética, é preciso supor que ele não é passivo, logo, que interpretará e inferirá uma opinião sobre o dito, podendo ou não compactuar da proposta de EUc. O EUe ao elaborar seu projeto de fala deve ainda considerar o imperativo de envolvimento desse receptor, para que atente às mensagens que são produzidas; é, então, fundamental persuadi-lo, seduzi-lo. Cabe, então, a observação de Charaudeau (2012a) acerca da à importância das emoções como estratégia de mobilização da afetividade do TUi, com a finalidade de

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desencadear seu interesse. Visto dessa forma, pode-se empreender, segundo Charaudeau (2011), três aspectos acerca do uso e análise das emoções na construção discursiva: intencionalidade, os saberes de crenças e a representação. Parte-se do entendimento de que as emoções não são irracionais, nem podem ser reduzidas a sensações. Mais do que isso, vinculam-se à racionalidade, pois manifestam o objetivo, desejo ou intenção do EU em relação ao TU. Diante disso, aceita-se que as experiências cotidianas passam a produzir conhecimento, reconhecidos como crenças. Esse aspecto remete à proposta ergológica que percebe e valoriza a capacidade intelectual do trabalhador que, para além da repercussão de um saber prescrito, é capaz de avaliar sua vivência e produzir também conhecimento, ideação discutida no capítulo 3. A explanação de Charaudeau (2011) acerca do aspecto dos saberes produzidos em decorrência da relação entre emoção e crença culmina com a asserção de que “as emoções são uma interpretação fundada em valores que resultam de juízo de ordem moral, que passa a ser compartilhado entre sujeitos na coletividade. [...] As emoções são um tipo de estado mental racional”. (CHARAUDEAU, 2011, s. p.). Tal asserção encaminha o terceiro aspecto sobre as emoções enquanto efeito de discurso: as emoções são representações. Concebidas diante do duplo processo de semiotização, fazem parte dos elementos que compõem o imaginário de uma organização71. As representações se dão pelo discurso, logo, ao pronunciar algo sobre a experiência intelectual e afetiva de uma situação laboral, por exemplo, o sujeito escolhe, dentro da gama disponível, os dizeres que comporão seu discurso. Lembra-se, conforme reflexão no capítulo 2, que o comportamento dos sujeitos é manifesto em consonância com as normas sociais do grupo que frequenta, assim também as emoções, vistas sob estes três enfoques, contribuem para o processo cultural. Embora a obra de Charaudeau (2004, 2012a) não dedique a mesma veemência ao esclarecimento das demais visadas, cabe destacar alguns aspectos que contemplam a expressão das finalidades comunicativas do ato de linguagem. A visada de prescrição relaciona-se à divulgação de regras, normas e leis de forma explícita tanto em documentos oficiais como manuais ou regimentos. Sob outro ângulo, a visada de incitação vincula-se às orientações comportamentais concedidas aos sujeitos (CHARAUDEAU, 2004). Em ambos os casos, percebe-se a intencionalidade de imposição às atitudes do outro diante de situações e contextos específicos, enquanto as visadas de informação e captação se valem de 71

Lembra-se que o termo organização é compreendido em sua amplitude de sentido, considerando a coletividade de indivíduos que compartilham aspectos culturais. Diante das limitações de uma pesquisa como esta, opta-se pelo estudo das organizações enquanto lócus laboral.

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modalizações para persuadir o outro. O poder permeia as quatro perspectivas, sendo na prescrição e na incitação de forma condigna (GALBRAITH, 1989) e as visadas de informação e captação, perante o reconhecimento das escolhas feitas pelo sujeito, vincula-se a socialização de argumentos à construção das percepções (FOUCAULT, 2007). A terceira condição de enunciação que envolve os dados externos do contrato de comunicação é o propósito, ou assunto abordado, a escolha do que será compartilhado no ato de linguagem. É, pois, uma representação linguageira, elaborada pelo EUc, de algo que se quer usar para envolver o TUi. Vincula-se, assim, aos dados internos, por meio da tematização, que implica o tema, ou saberes, acionado para intervenção ao outro. Atenta-se, então, à reflexão de Charaudeau (2012a) sobre os acontecimentos que embasam a construção do propósito, visto que estão situados na esfera do mundo a comentar, ou seja, na fase anterior ao processo de transação e transformação. A partir do momento que algum sujeito manifesta discursos acerca de um acontecimento, isto já é uma representação do vivido, que diante do contato com o outro surge como possibilidade de ressignificação. O dispositivo, que compreende o ambiente físico no qual se desenvolve o ato linguageiro, é a última condicional enunciativa apresentada por Charaudeau (2012a) na composição dos dados externos do contrato comunicacional. A situação de comunicação vincula-se ao dispositivo, pois se retoma a relevância da presença ou falta dos sujeitos, a quantidade de interpretantes, se há ou não mediação tecnológica, dentre muitas outras especificidades que conduzem a troca linguageira. Charaudeau (2012a) apresenta três aspectos principais para analisar o dispositivo no qual se dá a comunicação. O material liga-se à forma de expressão: oral, escrita, gestos, etc. O suporte é o canal de transmissão do discurso, que pode ser papel, tela de vídeo, etc. O terceiro aspecto tange a tecnologia utilizada, ou conjunto da maquinaria, como Internet, TV, rádio, jornal, etc. Diante das categorias teóricas da Semiolinguística apresentadas até então, é possível perceber a amplitude e a respectiva complexidade que a abarcam. Uma teia com idas e vindas dispõe-se a representação dessa proposta. O contrato de comunicação, como se pode perceber, assume a posição central, pois “une os parceiros num tipo de aliança objetiva que lhes permite coconstruir sentido se autolegitimando. Se não há possibilidade de reconhecer tal contrato, o ato de comunicação não estabelece pertinência e os parceiros não possuem direito à palavra”. (CHARAUDEAU, 2012b, p. 6, grifo do autor), ou seja, efetivam-se as chamadas “falhas” no processo de comunicação. Por tais questões, compreender como se confecciona o contrato comunicacional é basilar à compreensão da proposta de Charaudeau para análise discursiva. Após a digressão sobre os dados externos, dispostos pela identidade, finalidade, propósito e

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dispositivo, pode-se, então, retomar a reflexão acerca dos três espaços que compõem os dados internos do contrato. Os dados internos do contrato de comunicação referem-se ao movimento de projeção realizado pelo EUc, por meio do diálogo entre EUe e TUd. É o quadro propriamente discursivo, estabelecido no espaço interno do ato de comunicação72. “Repartem-se em três espaços de comportamentos linguageiros, a saber: o espaço de locução, o espaço de relação, o espaço de tematização”. (CHARAUDEAU, 2012a, p. 70, grifo do autor). A esses três espaços, que têm íntima conexão com o princípio influência, dá-se relevo na continuação desse bloco conceitual. A tomada da palavra refere-se ao espaço da locução. Para tanto, refletir sobre a persuasão do interlocutor é fundamental. Nesse sentido, algumas ações são realizadas: justificar a fala, impor-se para iniciar a troca linguageira e identificar o destinatário. Da elaboração da estratégia de abordagem, estabelece-se o tipo de relação que se intenta, o que corresponde ao segundo espaço. Pode-se aqui contar com a colaboração de Dominique Maingueneau (2013) para compreender os elementos que estabelecem a relação entre EU e TU. Esse autor, ao desenvolver a noção de ethos73, a imagem de si, ou revelação da personalidade do enunciador, aborda três questões que parecem interessantes a esse espaço de estabelecimento das identidades dos seres de fala: tom, caráter e corporalidade. O tom tange o tipo de autoridade que se assume com o dito, o caráter corresponde aos traços psicológicos e a corporalidade que congrega “uma compleição corporal, mas também uma maneira de se vestir e de se movimentar no espaço social”. (MAINGUENEAU, 2013, p. 108). Embora as propostas de análise do discurso de Charaudeau e Maingueneau tenham diferenças, compartilham determinados enfoques. Opta-se por apresentar esse complemento da teoria de Maingueneau (2013), uma vez que, na perspectiva da autora deste estudo, contempla de forma aprofundada questões relacionadas ao espaço interno, permitindo a categorização clara e direta para posterior análise do corpus. A noção acerca do espaço de tematização74 refere ao tema ou assunto permeado pelo dito. A relação entre espaço externo e interno do ato comunicativo tem sua origem na noção de dupla identidade dos sujeitos da linguagem. A ação dos seres sociais (EUc e TUi) 72

Conforme retomada do ato comunicativo na Figura 6, acerca da Representação da Teoria Semiolinguística de Análise do Discurso, pode-se ter dimensão das muitas categorias envolvidas no processo da troca linguageira. 73 A noção de ethos não será abordada nesse trabalho. Para mais esclarecimentos sugere-se a leitura do capítulo 8, Ethos, do livro Análise de Textos de Comunicação, de Dominique Maingueneau, 2013. 74 Conforme esclarecido na abordagem do da condição de enunciação relacionada ao propósito, que com as demais compõem o quadro referencial dos dados externos do contrato de comunicação.

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pode ser entendida como reflexo do projeto de fala elaborado pelos seres de fala (EUe e TUd), que por meio das operações de transformação movimentam os acontecimentos e seres de seu estado bruto para enunciados passíveis de transação entre os sujeitos, aspectos fundamentais da teoria de Charaudeau. Através da identificação dos processos e operações do ato de linguagem, depreende-se o contrato comunicacional que regula e garante o permanente processo de construção de sentido, cuja síntese implica a convenção de saberes coletivamente instituídos e compartilhados. “O ato de linguagem origina-se em uma situação concreta de comunicação, diante da intencionalidade de um sujeito. Organiza-se em um duplo espaço de restrições e estratégias, interno e externo”. (CHARAUDEAU, 2005, s. p., grifo do autor). Os engendramentos propostos por Charaudeau (2005, 2008, 2010a, 2012a) estabelecem-se perante um modelo em três níveis, conforme a Figura 9 apresenta: Figura 9 - Níveis do Modelo Semiolinguístico

Fonte: elaborada pela autora com base em Charaudeau (2005)

Conforme pode-se perceber na Figura 9, embora seja possível uma separação dos níveis para clarificar suas concepções, eles são interligados e interdependentes, sendo que cada um é responsável pela construção do sentido e para o estabelecimento do ato de linguagem. O nível situacional, que está no espaço externo, refere-se às finalidades do encontro entre os sujeitos, seus papéis (identidades), o assunto (proposição) comum e o dispositivo (ambiente) que permite a interação. Ainda no âmbito externo, as maneiras de falar caracterizam o nível comunicacional que se vincula ao situacional quanto às definições de cada elemento situacional (identidade, finalidade, proposição e dispositivo). Por fim, o nível discursivo, no espaço interno, tange a elaboração e uso dos meios linguísticos a fim de tornar viável a verbalização do enunciado de interesse. “O analista parte de um material empírico, a linguagem, que já está configurada numa certa substância semiológica (verbal). É esta configuração que o analista percebe, podendo manipulá-la através da observação em busca de possíveis interpretativos”. (CHARAUDEAU, 2005, s. p.). Assim, ao debruçar-se na perspectiva Semiolinguística

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apresentada neste capítulo, que somente logra êxito diante da contextualização proposta nos capítulos anteriores, pretende-se a análise dos discursos organizacionais na unidade de análise selecionada como objeto e fonte do corpus. A sequência deste estudo apresenta, então, os caminhos metodológicos adotados para tornar viável a realização da análise dos discursos da comunicação na organização Hera, diante dos editoriais do jornal da empresa. Acredita-se que, após a elucidação teórica, em conversão aos dados coletados, seja possível encontrar respostas às questões norteadoras acerca do ato de linguagem da Hera na construção de sentidos sobre a atividade. Para tanto, apresentam-se, na sequência, os procedimentos e as técnicas que acondicionadas na “bagagem” e percurso rumo aos “enigmas de Hefesto”.

108 5 “BAGAGEM” E PERCURSO RUMO AOS “ENIGMAS DE HEFESTO” “Há uma diferença estupenda entre o possível e o melhor. Num mundo competitivo, para caminhar para a excelência é preciso fazer o melhor, em vez de contentar-se com o possível. Fazer o possível é o óbvio. Agora, fazer o melhor é exatamente aquilo que cria a diferença”. (CORTELLA, 2014, p. 82)

Ao propor-se à realização da pesquisa, o rigor científico impulsiona o pesquisador a refletir ampla e profundamente sobre sua perspectiva. Para além da obrigatoriedade, essa imersão às leituras introdutórias e à realidade promove a paixão necessária à condução de suas explorações. Razão e emoção devem caminhar juntas para que a evolução do conhecimento decorra e implique o bem social das comunidades impactadas pelo estudo. Nesse sentido, cabe ter em mente que “a pesquisa científica é a realização de um estudo planejado. [...] Sua finalidade é descobrir respostas para questões mediante a aplicação do método científico”. (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 43). Sob a regência dessa premissa, desenvolve-se o aparato metodológico, cuja bagagem ancorará o percurso aos “enigmas de Hefesto”. Neste ponto do estudo, após a arguição teórica, tem-se como escopo a apresentação dos elementos que possibilitam indicar o objeto de pesquisa selecionado, o qual acredita-se adequado à reflexão das questões norteadoras explicitadas na introdução75. Das especificidades do objeto e dos objetivos almejados, definir-se-á o aporte metodológico que conduzirá o percurso a ser tomado para a leitura do corpus e sua posterior análise, diante das categorias emergentes dos conceitos e noções explorados nos capítulos anteriores. 5.1

O OBJETO DE PESQUISA Há no coração e na mente do pesquisador, antes mesmo da especificidade para

observação, a seleção do fenômeno que toma seu pulsar e norteia a definição do objeto de pesquisa. Conforme antecipado nos capítulos anteriores, a relação sujeito-trabalhocomunicação impõe-se como central à realização desse estudo. A comunicação enquanto processo de produção e difusão de saberes e sentidos é basilar às situações que são experimentadas pelos sujeitos, e o trabalho representa um lócus tomado e constituído por relações de comunicação. Essas evidências, porém, complexificam a atuação do pesquisador,

75

Conforme página 23 das Considerações Iniciais.

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pois são demasiadamente amplas. É preciso delimitar. Com esse propósito, define-se o objeto que assume as faces empírica e teórica. A constituição do objeto empírico deriva do universo selecionado. A escolha do ambiente organizacional para aplicação do estudo decorre do atendimento a cinco critérios preestabelecidos. Privilegiam-se organizações localizadas na região do Vale do Sinos, onde situa-se a Universidade Feevale, contemplando o comprometimento dessa universidade com o desenvolvimento regional. A instalação da organização em um parque tecnológico refere-se ao segundo critério de escolha, pois tende a facilitar a parceria empresa-universidade, fundamental para o acesso aos dados necessários à realização do estudo. O terceiro aspecto relevante à opção do lócus de pesquisa tange as características da contemporaneidade que permeiam as noções de mundialização e hibridização cultural, discutidas especialmente nos capítulos 2 e 3, assim, ambiciona-se o ingresso a uma empresa brasileira que tenha como plano de ação a internacionalização. O quarto critério adotado para definição do universo refere-se ao porte da organização. Opta-se por empresas de médio porte, com funcionários nos diversos níveis de atuação: operacional, tático e estratégico, o que permite a avaliação dos processos comunicacionais e culturais diante da diversidade de sujeitos que compõem a organização por meio das múltiplas atividades realizadas pelos trabalhadores. Como quinto, e último, critério à definição do universo de pesquisa, defende-se que a organização valha-se de divulgação em algum meio impresso como fonte de saberes aos trabalhadores. Tal aspecto é relevante ao considerar o quarto critério que converge os diversos níveis de trabalhadores dentro da organização, visto que eles podem ou não ter acesso a computadores e utilizar, ou não, ferramentas como intranet, internet, e-mail, dentre outras. Segundo Fortes (2003, p. 255), “os materiais escritos asseguram uma durabilidade maior das informações veiculadas e servem como material de referência para diversos grupos, embora seu uso indistinto acarrete perda de relevância”. A delimitação do universo de pesquisa, em sua população-alvo, conforme os critérios apresentados, demanda a definição de uma amostra para coleta dos dados. Conforme Prodanov e Freitas (2013, p. 98), a amostra “refere-se ao subconjunto do universo ou da população, por meio do qual estabelecemos ou estimamos as características desse universo ou dessa população”. Em decorrência do quinto critério de seleção do universo, delineia-se como amostra os materiais impressos pela organização Hera, no período de janeiro de 2012 a junho de 2014.

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Salienta-se que o impresso considerado, nesse caso, tange apenas os materiais disponibilizados aos trabalhadores e que atendam à especificidade de produção de saberes. Assinalam-se, então, os jornais da empresa, “reconhecido veículo de comunicação dirigida escrita que narra à vida da organização; pela sua popularidade em meio aos funcionários, pode vir a compor a base de formação do público interno”. (FORTES, 2003, p. 264). Delibera-se como amostra não-probabilística, por intencionalidade, que “consiste em selecionar um subgrupo da população que, com base nas informações disponíveis, possa ser considerado representativo de toda população”. (GIL, 2008, p. 94). Assim, dos materiais elaborados pela organização, delimita-se o acesso aos jornais, visto que representa um canal oficial que divulga as principais informações relacionadas às ações organizacionais, a partir de seu ponto de vista. Mostra-se como uma fonte eficaz para identificar e analisar construções de sentido sobre a atividade, pois manifesta a intencionalidade do EUc, além de evidenciar a projeção que faz do interlocutor, TUd. Os aspectos empíricos convergem à delimitação do objeto teórico: a relação comunicação e trabalho perante a produção discursiva da comunicação organizacional e sua influência à construção de sentidos sobre a atividade laboral. Trata-se de uma outra perspectiva acerca do binômio “comunicação e trabalho”, campo que tem como expoente Roseli Fígaro76. Diante da dimensão interdisciplinar, congregam-se as contribuições dos estudos da linguagem e da cultura. Da apresentação, que salienta peculiaridades do objeto e evidencia a “bagagem” composta teórica e empiricamente, pode-se seguir com a investigação dos procedimentos mais adequados ao percurso que se tem de percorrer para a construção da análise pretendida. 5.2

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O desenvolvimento de uma pesquisa científica é caracterizado pela aplicação

rigorosa de métodos e técnicas, tanto à constituição do objeto quanto à escolha dos procedimentos que serão os guias para análise do fenômeno. Ao considerar o campo interdisciplinar no qual se desenvolve o estudo em questão, há de se ponderar dois aspectos. O primeiro relaciona-se à possibilidade de convergência de diversas possibilidades teóricoempíricas para ampliar e problematizar o objeto, situação que exige atenção redobrada do pesquisador com o intuito de evitar conversões inadequadas. Utilizar categorias de diversas 76

Professora Livre-docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade de São Paulo, ECA-USP.

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matrizes do saber implica o segundo cuidado, visto que se refere a um processo intelectual e técnico que viabilize a resolução das questões norteadoras desse estudo, a fim de refletir sobre elas. A partir das características do objeto, é possível classificar a pesquisa com base nas categorias clássicas apresentadas por Prodanov e Freitas (2013). Diante da temática proposta, a natureza da pesquisa é aplicada, uma vez que se busca associar construções teóricas às práticas efetivadas no contexto, que representa “uma realidade circunstancial”. (GIL, 2008, p. 27). Três etapas serão efetivadas na realização deste estudo, as quais serão apresentadas adiante (conforme Figura 11). Cada fase nortear-se-á por objetivos classificados como pesquisa exploratória, a qual permite aprofundar as conexões teóricas, bem como delinear adequadamente o corpus, e, também, pesquisa descritiva, visto que, conforme assinalam Prodanov e Freitas (2013, p. 52), os dados serão “observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira sobre eles, ou seja, os fenômenos do mundo físico e humano são estudados, mas não são manipulados pelo pesquisador”. A classificação da natureza e dos objetivos da pesquisa conduz a forma de abordagem do problema, que neste caso é qualitativa, o que fica evidente também perante a centralidade da noção de sujeito presente nas concepções de cultura, comunicação e trabalho, adotadas neste estudo, às quais o posicionam como produto e produtor da sociedade. Segundo Chizzotti (2010, p. 78), “partindo de fenômenos aparentemente simples de fatos singulares [...] expuseram a complexidade da vida humana e evidenciaram significados ignorados pela vida social”. Para tanto, a abordagem qualitativa considera o(s) sujeito(s) em interação com ambiente a fim de assimilar aspectos contextuais que interfiram na análise dos significados construídos pelos indivíduos, característica que é evidenciada por Prodanov e Freitas (2013, p. 70) ao referirem-se ao “processo e seu significado [como] os focos principais”. Dois pressupostos são destacados por Chizzotti (2010) para que seja efetivada a abordagem qualitativa do problema de pesquisa. O primeiro alude a especificidade da área das ciências humanas e sociais, cujo enfoque está no estudo do comportamento humano. O segundo pressuposto considera a existência “de uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva”. (CHIZZOTTI, 2010, p. 79). Tais conjecturas são basilares ao estudo que se propõe, visto as noções de cultura, de identidade, de comunicação e de trabalho defendidas, os procedimentos seminais da ergologia como o debate de normas e renormalizações, e a análise Semiolinguística do discurso, que evidenciam o processo dialético de produção de saberes e de sentidos.

112 Da natureza, objetivos e abordagem, segue-se o percurso rumo aos “enigmas de Hefesto” com a definição dos procedimentos técnicos de pesquisa, “a maneira pela qual obtemos os dados necessários para a elaboração da pesquisa, torna-se necessário traçar um modelo conceitual e operativo dessa”. (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 54). Os procedimentos utilizados neste trabalho são as pesquisas bibliográfica e documental. A primeira origina-se perante o acesso aos dados de segunda mão, ou seja, “desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. (GIL, 2008, p. 48). A natureza dos dados que compõem a pesquisa documental são fontes de primeira mão, ou seja, “materiais que não receberam ainda tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos de pesquisa”. (GIL, 2008, p. 51). Frente a esses procedimentos, define-se como técnica de coleta de dados a documentação indireta, através de pesquisas bibliográficas e documentais (PRODANOV; FREITAS, 2013). Conforme a delimitação do objeto, em termos documentais, o acesso aos dados provenientes dos jornais da empresa em questão, assim como seu site. Diante das limitações do objeto de pesquisa, corrobora-se com a compreensão do estudo de caso, que equivale a “coletar e registrar dados de um caso particular [...] uma unidade significativa”. (CHIZZOTTI, 2010, p. 102). Ao considerar os critérios elaborados para a seleção do lócus à observação do fenômeno “comunicação e trabalho”, percebe-se o delineamento específico frente à diversidade de realidades às quais compõem o quadro social. Tal aspecto mostra-se como uma fortaleza do estudo, pois permite a apreensão em profundidade da situação enquadrada e do problema que guia a pesquisa, mas revela-se também limitada frente à amplitude da temática que converge sujeito–ambiente–contexto. Registra-se que o estudo de caso, para Chizzotti (2010, p. 102), é “um marco de referência de complexas condições socioculturais que envolvem uma situação e tanto retrata uma realidade quanto revela a multiplicidade de aspectos globais, presentes em uma dada situação”. Diante dessas características, aceita-se o estudo de caso como fonte de dados para a realização da análise de “uma unidade de forma aprofundada”. (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 60). A Figura 10 sintetiza o percurso metodológico à realização desta pesquisa:

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Figura 10 - Mapa das Categorias de Classificação da Pesquisa

Fonte: elaborada pela autora

Dos procedimentos metodológicos selecionados, podem ser apresentadas as etapas para realização desse estudo, as quais são sintetizadas na Figura 11. Em um primeiro momento, perante a coleta de dados em fontes bibliográficas, será viabilizada a construção de noções basilares que orientam os rumos da pesquisa, cuja finalização consistirá na descrição das conexões estabelecidas a partir do levantamento teórico. Do avanço desta fase, espera-se contemplar os três primeiros objetivos específicos propostos, conforme constam nas Considerações Iniciais, além de caracterizar o aporte teórico para uma análise qualificada do corpus.

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Figura 11 - Fases da Pesquisa

Fase 1

•Fontes bibliográficas •Definição das categorias essenciais

Fase 2

•Delimitação do universo e amostra •Definição dos procedimentos de coleta de dados

Fase 3

•Detalhamento do corpus •Organização dos dados: Mapa de Associação de Ideias •Análise e Interpretação: semiolinguística em interface com as categorias teóricas apresentadas nos capítulos 2 e 4 acerca da cultura e da comunicação organizacional e no capítulo 3 com os conceitos centrais da ergologia. Fonte: elaborada pela autora

O delineamento do universo consiste na segunda etapa do estudo, conforme indica-se na Figura 11. As especificações emergentes desse segundo momento estão correlacionadas aos critérios para seleção do universo e da amostra, bem como às técnicas de coleta e registro de dados. A terceira, e última, fase do estudo concerne o detalhamento do corpus, a organização dos dados, sua análise e interpretação. Para tanto, elaborar-se-á um dispositivo assentado na análise Semiolinguística do discurso em conjunção aos conceitos propostos pela ergologia e as noções de cultura e comunicação organizacional, com enfoque na relação comunicação e trabalho e na construção de sentidos sobre a atividade. 5.3

PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Definidos os itens que compõem a “bagagem” rumo aos “enigmas de Hefesto”, faz-

se necessário organizá-los da forma mais produtiva, para que o anseio pelo encontro com o “tesouro” (ou resposta às questões norteadoras propostas) não faça perder-se ante a difusão de atalhos que possam despontar. Com o propósito de esclarecer os procedimentos de análise e interpretação dos dados coletados frente o universo e a amostra de pesquisa delimitados, esse trecho do capítulo visa congregar os aspectos teóricos e metodológicos apresentados até então. Detalha-se, então, o corpus deste estudo. 5.3.1 Especificação do corpus Frente aos objetivos propostos ao estudo, a limitação do universo e da amostra que constituem o objeto de pesquisa, estabelece-se como corpus os discursos da comunicação organizacional emergentes das edições do jornal da empresa Hera, que se refere à situação de

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comunicação em análise. Tratam-se dos discursos divulgados nos jornais da empresa, especificamente os editoriais, assinados pelo presidente da organização77, divulgados no período de janeiro de 2012 a junho de 2014, totalizando oito. Esta delimitação é justificada por duas questões: a)

diante do período determinado e da quantidade de jornais impressos pela organização

(sete), tem-se um grande volume de dados, logo, faz-se necessário escolher os aspectos mais significativos frente às expectativas propostas ao estudo. Nesse sentido, os editoriais revelamse os mais profícuos à identificação dos elementos para a construção de sentidos sobre a atividade, visto que os demais textos que compõem o jornal têm enfoque nos produtos e soluções desenvolvidos pela empresa, o que é contemplado sinteticamente na coluna selecionada; b)

as estratégias discursivas expressas nos discursos selecionados manifestam o processo

cultural da organização, como os elementos ideológicos (interesses, conflito e poder) propostos por Morgan (2011) e as orientações de conduta (GEERTZ, 2008), por exemplo. É possível, ainda, indicar como a organização estimula o diálogo com/ entre os trabalhadores, assim como a decorrência do processo comunicacional no exercício da atividade. Tais aspectos são, conforme a fundamentação teórica apresentada, basilares à apresentação de possíveis interpretativos acerca dos sentidos sobre a atividade, nesta situação de comunicação. Assim, acredita-se que o corpus eleito mostra-se rico para a categorização almejada perante o objetivo principal deste estudo, a análise de possíveis interpretativos na construção de sentidos sobre a atividade. Conforme Oliveira e Paula (2008, p. 99), a comunicação sendo fundada na linguagem em ação, seja ela oral, escrita ou mediada por dispositivos técnicos, é também um processo social que viabiliza a construção de novos sentidos possíveis, justamente por prever uma articulação entre instâncias, e é nas aberturas dessas articulações e nas apropriações de significados já instituídos que o sentido se constrói.

Desse delineamento, prossegue-se rumo aos “enigmas de Hefesto” com a apresentação da escolha do processo intelectual e técnico para análise do corpus, cujo esquema denomina-se teórico-ergo-discursivo. Trata-se da conjunção entre os conceitos centrais apresentados nos capítulos anteriores que culminam com a representação do dispositivo de análise elaborado, pela autora desta dissertação, diante das especificidades do

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Embora a organização intitule como “Editorial”, a coluna que será analisada nesta pesquisa, e portanto essa será a nomenclatura aqui utilizada, salienta-se que na perspectiva conceitual os editoriais representam a opinião da empresa, sendo inadequada a identificação de autoria ou atribuição da opinião de um sujeito específico para representar a empresa, mesmo que seja seu presidente. (ANDRADE; MEDEIROS, 2000).

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objeto e dos interesses de pesquisa. Propõe-se, então, a reflexão dos esquemas de organização, análise e interpretação dos dados. 5.3.2 Dispositivo de Análise: organização, análise e interpretação dos dados Diante da apreensão dos procedimentos metodológicos, do detalhamento do corpus e da base constituída pelos capítulos teóricos da dissertação, apresenta-se o dispositivo para análise dos dados coletados. Com a finalidade de auxiliar a visualização dos dados coletados perante as categorias que compõem o dispositivo, elenca-se a técnica “Mapa de Associação de Ideias” para a organização dos dados. Conforme Vergara (2005, p. 157), o objetivo dessa técnica é “subsidiar o processo de análise e interpretação dos dados da pesquisa, a fim de facilitar a comunicação de seus resultados”. Segundo Spink (2010), os mapas permitem a observação do diálogo entre os dados, em estado bruto, diante da aproximação por temáticas organizadoras. “O Mapa é uma tabela onde as colunas são definidas tematicamente”. (SPINK, 2010, p. 39). Vergara (2005) sintetiza a técnica por meio de um passo a passo que parte da definição do problema de pesquisa, da revisão de literatura e do procedimento para coleta de dados. De posse dos dados, o pesquisador deve proceder sua leitura quantas vezes forem necessárias para, então, definir as categorias de análise que comporão o mapa. “Constrói-se o mapa, valendo-se de uma tabela, cujo número de colunas será determinado em função do número de categorias definidas pelo pesquisador.” (VERGARA, 2005, p. 159). A idealizadora da técnica78, Spink (2010, p. 39), salienta que “a definição das temáticas organizadoras dos conteúdos já é o processo de interpretação.”. Diante da disposição dos dados coletados nas colunas que correspondem às temáticas determinadas procede-se a interpretação e o confronto dos resultados com as perspectivas teóricas adotadas. A definição das categorias temáticas (ou temáticas organizadoras), neste estudo, converge com a escolha reflexiva adotada para análise dos dados, o esquema teórico-ergodiscursivo (Figura 12). O roteiro de análise sustenta-se nas categorias teórico-metodológicas da Semiolinguística de Charaudeau apresentadas no capítulo 4. Parte-se dos três níveis presentes no modelo que consta na Figura 12: discursivo, comunicacional e situacional. O

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Pesquisa sobre a produção de sentidos no cotidiano. A coleta de dados do método desenvolvido por Spink procede por meio de entrevistas. Embora este estudo valha-se apenas da pesquisa documental em jornais de empresa, opta-se por utilizar a técnica Mapa de Associação de Ideias, visto que sua aplicação segue os procedimentos propostos para a construção dos mapas e permite a organização dos dados de forma clara.

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primeiro nível envolve as operações, categorias, os dados internos do contrato e processo de enunciação em si. Os outros dois estabelecem-se com os elementos acerca dos seres sociais, das circunstâncias de discurso, da situação de comunicação, dos dados externos do contrato de comunicação e dos princípios de transação. Figura 12 - Dispositivo de Análise (Roteiro)

Fonte: elaborada pela autora

O roteiro manifesto no dispositivo de análise, na Figura 12, mostra os três níveis nos quais situam-se os dados coletados por meio dos oito editoriais nas edições selecionadas do jornal da empresa Hera. Cada nível é apreendido, em um primeiro momento, separadamente, a fim de tornar mais claro o processo de análise. Posteriormente serão interligados, o que garantirá, acredita-se, respostas às questões norteadoras, logo, o atendimento ao objetivo principal proposto. Como ponto de partida tem-se o nível discursivo, o qual é fonte para indicação dos possíveis interpretativos na construção de sentidos sobre a atividade, tanto em nível comunicacional, diante da percepção ressignificada do trabalho, quanto em nível situacional, frente aos elementos que evidenciam a relação comunicação e trabalho no ambiente organizacional.

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Da compreensão dos dados que advêm dos níveis comunicacional e situacional, conforme a Semiolinguística de Charaudeau, procede a possibilidade de elaboração das mensagens e das interações no processo de enunciação. O contexto que envolve os sujeitos do ato de linguagem interfere tanto na elaboração do enunciado, quanto na sua interpretação. Por isso, importa refletir o nível discursivo, que implica a produção dos discursos manifestos nos outros dois níveis (comunicacional e situacional). O nível discursivo, que tem como fonte os dados contidos nos editoriais dos jornais da empresa, trata especialmente da linguagem sobre o trabalho que implica a construção de saberes sobre o fazer laboral. Perante as operações e categorias que transformam o mundo a significar em mundo significado (CHARAUDEAU, 2012a), por meio dos modos de organização discursiva, reconhecem-se os processos de enunciação que evidenciam a intencionalidade presente nos enunciados. Os dados internos do contrato de comunicação contribuem com a análise dos discursos em seu aspecto verbal a partir das marcas discursivas presentes nessas manifestações da comunicação organizacional, que alimentam o processo de (re)construção permanente da cultura. O nível discursivo perpassa todo o processo de análise, visto que os demais dele se originam por meio do projeto de fala elaborado pelos seres de fala (EUe e TUd) ante a definição de um propósito pelo sujeito comunicante (EUc). Se nos níveis situacionais e comunicacionais são os seres sociais que conduzem o ato de linguagem, no espaço externo, o nível discursivo refere-se ao espaço interno, no trânsito da produção dos enunciados que serão manifestos, no caso deste estudo de dissertação, por meio escrito. Como o objetivo proposto implica a análise do discurso para a identificação das construções de sentido sobre a atividade laboral, justifica-se o movimento do nível discursivo ao nível situacional. Embora se opte por compor os níveis individualmente, percebe-se que eles são interdependentes, principalmente pelos aspectos que podem ser apreendidos frente às características de cada categoria teórica, que compreendem, conforme mencionado anteriormente, as circunstâncias discursivas, a situação de comunicação, os dados externos do contrato, os princípios de transação e a ação dos seres sociais. As categorias emergentes desses níveis e sua integração à análise Semiolinguística serão investigadas conforme sintetiza o Quadro 17:

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Situação de Comunicação Editoriais dos Jornais da empresa

Quadro 17 - Categorias Teórico-ergo-discursivas do Dispositivo de Análise

Categorias Semiolinguísticas Situação de Comunicação, Circunstâncias de Discurso e Contrato de comunicação. Contrato de comunicação, Modos de Organização Discursiva

Ato de Linguagem

Categorias Teóricas

Categorias Ergológicas

Cultura, Cultura Organizacional

Saberes, Competência

Relações de Poder, Identidade Projetada (EUe/ TUd) Comunicação Organizacional, Paradigmas da Cultura Organizacional

Usos de Si

Linguagem e Trabalho

Análise Teórico-ergodiscursiva

O ato de linguagem da Hera expressa possíveis interpretativos acerca de suas concepções sobre a atividade, a cultura e sua imbricação à organização. A interface entre as categorias Semiolinguísticas, teóricas e ergológicas contribui à construção de sentidos sobre a atividade laboral.

Fonte: elaborado pela autora

Ante a exposição sintética das categorias teórico-ergo-discursivas no Quadro 17, as quais serão tensionadas e postas em interface na análise, apresentam-se os critérios explorados com base perspectiva teórico-metodológica da Semiolinguística de Charaudeau (1999, 2004, 2005, 2007, 2008, 2010a, 2010b, 2011, 2012a, 2012b, 2013), que sustenta o roteiro de análise: a) Situação de comunicação: além de ser base para a descrição inicial acerca das técnicas de coleta de dados no jornal da empresa, viabiliza a caracterização das manifestações da cultura, bem como do ambiente organizacional da unidade de análise selecionada; b) Circunstâncias de discurso: a partir do mote de cada discurso, identificam-se quais são as práticas sociais partilhadas e os saberes difundidos. Essa categoria, em intersecção com a situação de comunicação, permite identificar características acerca da cultura e da comunicação organizacional; c) Contrato de comunicação: - dados externos: são consideradas as quatro categorias que orientam a produção dos enunciados, conforme Charaudeau (2012a). Por meio das indicações da identidade do sujeito comunicante (EUc), instância de produção assumida pelo editorial do jornal da empresa, será possível identificar a finalidade do ato linguageiro, que manifesta a intencionalidade do EUc por meio das visadas de informação, captação, incitação e prescrição. No que tange ao propósito, o mote abordado em cada editorial revela as escolhas temáticas feitas pelo EUc com a

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intenção de atrair a atenção do TUi. Por fim, o dispositivo aproxima-se dos atributos da situação de comunicação e permitirá aprofundar as especificidades que conduzem a troca linguageira; - dados internos: os três espaços de comportamentos linguageiros serão basilares para a reconstituição da encenação discursiva, entre EUe e TUd (nível discursivo), que revela a intencionalidade do EUc para com o TUi (nível situacional), perante a seleção dos elementos que constituem os discursos. O espaço de locução que implica a tomada da palavra será ancorado em Charaudeau (2012a). Já o espaço de relação que desponta as estratégias de abordagem apoiar-se-á e em Maingueneau (2013) e os conceitos de tom, caráter e corporalidade. O espaço de tematização dialoga amplamente com a concepção de propósito elaborada por Charaudeau (2012a). Nesse caso, a fim de evitar repetições, embora reconheçam-se as decorrências desse espaço, por vezes dar-se-á ênfase ao propósito, visto que evidencia de forma mais clara o assunto permeado pelo dito; d) Modos de organização discursiva: por coordenarem as operações de transformação do processo de semiotização do mundo, mostram-se basilares à identificação dos aspectos linguageiros (CHARAUDEAU, 2012a). Os enfoques terão como base os quatro modos: enunciativo que compreende os demais, pois todo ato de linguagem se constitui de enunciados que revelam a posição em relação ao interlocutor (comportamento alocutivo), ao mundo (comportamento elocutivo) e aos outros discursos (comportamento delocutivo). O modo descritivo, que por vezes associa-se aos demais (narrativo e argumentativo) na construção de sentido, tem como função identificar e qualificar. Para tanto se vale dos componentes nomear (dar existência aos seres), localizar (determinar lugar no espaço e no tempo) e qualificar (apresentar propriedades objetivas e subjetivas que constituem os seres). Por fim, enquanto o modo narrativo organiza o encadeamento dos acontecimentos que são apresentados, o modo argumentativo expõe casualidades para tais; e) Sujeitos do ato de linguagem: por meio dos princípios de transação que complementam o processo de semiotização do mundo, evidenciam-se as instâncias envolvidas com a distribuição dos papeis linguageiros assumidos pelos sujeitos. Ao considerar a situação de comunicação compreendida neste estudo, os editoriais do jornal, pode-se afirmar que nesta configuração representam o EUc no que refere à manifestação discursiva. Perante os dados coletados com as categorias acima

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apresentadas, pode-se identificar que os movimentos das posições do EUe e TUd, perante as estratégias selecionadas para conduzir o ato de linguagem. O TUi implica especialmente a função do sujeito analisante, no caso, a pesquisadora, que poderá destacar possíveis interpretativos ancorados nos discursos coletados. A partir do ato de linguagem da Hera, o conteúdo da análise de discurso será articulado com os temas desta dissertação a fim de integrar os procedimentos e alcançar os resultados almejados para esta pesquisa, ou seja, identificar possíveis construções de sentido sobre a atividade laboral. Correlacionam-se as noções de cultura, de cultura e comunicação organizacional, de identidade com vistas às manifestações culturais, atividade laboral, linguagem, comunicação e trabalho. A seguir, apresentam-se as articulações que conduzem a análise teórico-ergo-discursiva do corpus selecionado (Figura 12):  Articulação A: com base na situação de comunicação, nas circunstâncias de discurso e no contrato de comunicação (CHARAUDEAU, 2012a), evidencia-se a imbricação da cultura (HALL, 2003; ANTUNES, 2009) à cultura organizacional percebida através de elementos ideológicos - interesses, conflito, poder - (MORGAN, 2011) e mecanismos de conduta (GEERTZ, 2008) constituídos por saberes (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007; DURRIVE, 2011) que compõem a competência para o exercício da atividade;  Articulação B: de acordo com os elementos que compõem o contrato de comunicação (CHARAUDEAU, 2012a), manifestos nas estratégias de organização discursiva (CHARAUDEAU, 2010a), pode-se identificar como os usos de si são previstos e articulados para a realização da atividade (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007; TRINQUET, 2010), assim como podem ser indicadas questões relativas à orientação para interação sujeito-trabalho na organização (GALBRAITH, 1989; FOUCAULT, 2007) e que conduz ao delineamento da identidade projetada do destinatário

(EUe/

TUd),

o

trabalhador

(SILVA,

2013;

HALL,

2013;

CHARAUDEAU, 2008);  Articulação C: as escolhas discursivas do enunciador (editoriais do jornal da empresa), ou os sentidos que o EUe projeta para envolver o TUd (CHARAUDEAU, 2005, 2008, 2010a, 2012a) manifestam o processo de semiotização do mundo elaborado no ato de linguagem da comunicação organizacional da Hera (BALDISSERA, 2009a,b; MARCHIORI, 2009; OLIVEIRA, 2008), que promove e assimila elementos à cultura organizacional (MARTIN, 2004; DAFT; WEIK, 1984), a

122

partir da relação linguagem e trabalho (NOUROUDINE, 2002) em diálogo com as dimensões da comunicação organizacional. Da conversão entre os aspectos linguísticos e contextuais, ou seja, a análise teóricoergo-discursiva, acredita-se que seja possível perceber como o ato de linguagem da unidade de análise (organização em estudo) contribui à construção de sentido sobre a atividade, o trabalho, no ambiente organizacional. Salienta-se que as categorias apresentadas nas articulações serão entrecruzadas em Mapas de Associação de Ideias, em três fases. A primeira parte das articulações A e B que classifica os enunciados em “Mapas de Possíveis Interpretativos” distintos: as categorias situação de comunicação e contrato de comunicação, perante as subcategorias identidade e dispositivo, por suas características, têm uma descrição que contempla o conjunto do corpus selecionado, enquanto as demais categorias são classificadas separadamente, por edição. Como resultado desta primeira classificação, serão construídos mapas-síntese que apresentam as ideias principais frente às categorias demarcadas, a segunda fase. Desses dois Mapas de Possíveis Interpretativos, chega-se a terceira e última fase de análise com o entrecruzamento das categorias referidas na articulação C, o que implica um “Mapa de Saberes Investidos e os Sentidos da Atividade” que, finalmente, permite inferências procedentes da análise dos sentidos produzidos pelo ato de linguagem da Hera. A Figura 13 representa o processo de organização dos dados: Figura 13 - Fases da Organização dos Dados

Fonte: elaborada pela autora

123

A Figura 13 apresenta a organização dos dados em três fases distintas, a começar pela elaboração de Mapas específicos, por editorial, para a classificação dos enunciados. Desses agrupamentos isolados, segue-se à segunda etapa com a síntese dos possíveis interpretativos em Mapas que congregam as categorias temáticas das Articulações A e B. Daí desenvolvem-se reflexões e apontamentos que atribuem sentidos ao ato de linguagem da Hera, que culmina com o Mapa de Saberes Investidos pela pesquisadora, na convergência proposta na Articulação C, que contempla as categorias centrais deste estudo: linguagem, cultura e comunicação na atividade laboral. O próximo capítulo dedica-se à apresentação dos resultados da pesquisa.

124

6 COMUNICA OU TRUMBICA? O ATO DE LINGUAGEM DA HERA E OS SENTIDOS SOBRE A ATIVDADE “Formar pessoas para a autonomia exige que elas desenvolvam a sensibilidade, a capacidade de acumulação de conhecimento e informação, a capacidade de apropriar-se desse conhecimento e dar a ele aplicabilidade”. (CORTELLA, 2014, p. 35).

O tempo passa desde aquele fatídico dia no Olimpo. Hefesto revela seus poderes por meio de notáveis trabalhos. Em busca de identificar como nota, a Hera, a atividade em seu cotidiano, promove-se o olhar aos editoriais do jornal da empresa. Delineado o corpus e delimitados os procedimentos de análise perante as categorias teórico-ergo-discursivas, conduz-se à possibilidade de reflexão acerca dos sentidos construídos sobre a atividade laboral. Em seu ato de linguagem, a Hera manifesta saberes constituídos que implicam prescrições ao fazer cotidiano do trabalho e a conduta considerada adequada no ambiente organizacional. À análise dos discursos selecionados, dedica-se este capítulo da dissertação, que atende ao objetivo de apresentar, diante das estratégias adotadas no jornal da empresa, possíveis construções de sentido sobre a atividade laboral. O dispositivo de análise prevê o entrecruzamento de dados perante as categorias teóricas e ergológicas que são assentadas no enquadramento advindo da Semiolinguística, conforme os critérios apresentados no capítulo 5. Os dados são organizados em mapas diante da aproximação por categorias temáticas. As articulações A e B conduzem a construção de mapas por edição do jornal, nos quais se dispõem os enunciados conforme as temáticas determinadas (Apêndices A à J). Como resultados, são produzidos dois mapas-síntese, denominados Mapas de Possíveis Interpretativos. Por fim, elabora-se um Mapa de Saberes Investidos, que se ancora na Articulação C. Na sequência, apresenta-se a análise produzida para esse estudo. 6.1

FASES 1 E 2: ARTICULAÇÕES A E B E OS MAPAS DE POSSÍVEIS INTERPRETATIVOS Conforme previsto no processo de organização dos dados desta pesquisa, a primeira

fase da análise concebe a classificação dos enunciados que compõem os editoriais em categorias temáticas definidas nas articulações A e B. Inicia-se a apresentação dos dados pela exposição das características da situação de comunicação em análise, a partir do enquadramento proposto por Charaudeau (2010a), no Quadro 18.

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Quadro 18 - Características da Situação da Comunicação

Características não estão presentes.

Os Parceiros

são múltiplos: a equipe que produz o jornal, os leitores (funcionários, clientes, etc.). propõe uma hegemonia discursiva, pois expressa somente a opinião da organização, sendo que os funcionários têm autorização de participação no jornal apenas em matérias técnicas. todos os editoriais atribuem ao presidente da empresa a fala. a organização se posiciona como disseminadora de saberes e apresenta um significativo volume de prescrições.

O Canal

o trabalhador é percebido como alguém que recebe as prescrições e as executa plenamente, logo é persuadido pelas estratégias do discurso organizacional. material gráfico. canal indireto (mediado pelo verbal escrito). compõem-se de códigos semiológicos, verbal textual, imagético e cor. material: 2 jornais em papel reciclato e 5 em papel branco. quanto às imagens utilizadas, as edições 77 a 80 apresentam a foto do presidente e a fachada da empresa junto ao texto dos editoriais. A partir da edição de agosto/2013, cada edição traz fotos diferentes do presidente e o cenário passa a ser produtos da Hera. situação monologal entre sujeito e texto. quanto a abordagem: os editoriais têm apenas um título genérico, da coluna, sem destaque a algum dizer. A construção é bastante direta. No entanto, percebe-se o intuito de uma aproximação dos enunciados dos editoriais com eventos cotidianos. Por ex. cenário da empresa - Ibovespa (edições 81 e 82); copa do mundo (edição 83).

O Contrato

as demais matérias têm títulos, em geral, dispostos em duas linhas (textos longos). o jornal é um meio tradicional, focado na transmissão de informações, que, neste caso, não abre a possibilidade para um diálogo posterior, ou divulga percepções de funcionários sobre os temas principais abordados em cada edição, por exemplo. a interação é centrada no universo do leitor e a materialidade, sem a oportunidade de diálogo acerca das informações difundidas pelo jornal. papéis assumidos pelos editoriais: instância de produção: produção e difusão de normas e prescrições; orientação de conduta frente aos fatos divulgados; orientar a leitura e envolver os leitores. Instância de recepção: a organização (EUc) espera que o leitor seja envolvido por suas prescrições (TUd), com a expectativa de que os sentidos repercutam o comportamento determinado (TUi). Reforça-se a desconsideração às renormalizações e aos saberes instituídos no contexto da atividade. Fonte: elaborado pela autora com base em Charaudeau (2010a)

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Para concluir o Quadro 18, conforme o emolduramento proposto pela teoria Semiolinguística (CHARAUDEAU, 2010a), caracteriza-se a identidade dos parceiros ao Ato de Linguagem, a começar pela unidade de análise selecionada, enquanto instância de produção. A empresa de automação Hera foi fundada em 26 de outubro de 1982 pelos atuais presidente da empresa e presidente do Conselho Deliberativo. Atua no setor de Automação Industrial com o desenvolvimento de tecnologia própria para automação e controle de processos industriais dos setores da Energia Elétrica, Óleo & Gás e Transportes. O negócio da empresa é “prover soluções tecnológicas que proporcionem inovação, produtividade e competitividade buscando reconhecimento e fidelização”, e suas crenças (ou valores)79: conhecimento, empreendedorismo, geração de valor, inovação, integridade, liderança e pessoas felizes80. Dentre as múltiplas possibilidades para compreender a atividade laboral, seleciona-se o jornal da empresa Hera. Exploram-se oito editoriais (conforme Anexos A a H), cujas edições circularam no período de janeiro de 2012 a junho de 2014. Trata-se de um periódico com divulgação quadrimestral, com distribuição para funcionários, fornecedores e clientes da Hera. Mesmo que “a época do house organ “Bombril”, isto é, aquele que tem mil e uma utilidades, já tenha passado, ainda há empresas ou entidades que, por falta de percepção, continuem optando por esta alternativa”. (BUENO, s. a., s. p.)81. A observação de Bueno (s. a) auxilia na inferência de um aspecto importante quanto ao entendimento de comunicação que a organização tem. A opção por manter uma ferramenta genérica de difusão de informações a públicos diversos manifesta uma perspectiva linear do processo comunicacional, em que a força das informações é detida por uma das partes e as demais são desconsideradas, são passivas ao que recebem. O acesso dos funcionários se dá diante do interesse do trabalhador, visto que os jornais são dispostos junto aos acessos principais da empresa, próximos à recepção. O jornal, aqui denominado Informando & Trabalhando (I&T), é composto de oito (8) páginas, sendo que a capa contempla as chamadas das matérias principais e a contracapa apresenta informações institucionais, como eventos ou outras ações. Na página 2, dispõe-se o editorial e as notícias curtas sobre o mercado. Das páginas de 3 a 7 são desenvolvidas as 79

No site da Hera denomina-se crenças e no editorial 2, da Edição Especial do jornal da empresa, tratam-se dos valores. 80 Disponível em: . Acesso em: 10 set. 2014 81 Disponível em: . Acesso em: 22 set. 2014.

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matérias principais, assinadas por funcionários das áreas de Engenharia e P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), que enfocam essencialmente os produtos e soluções comercializados pela Hera. O expediente se constitui pelo departamento de Marketing e direção da empresa, com cerca de sete profissionais envolvidos diretamente, além dos autores das matérias técnicas. Prossegue-se a apresentação das características identitárias dos parceiros, com enfoque, em um primeiro momento, voltado à instância de recepção, especialmente os trabalhadores da Hera, foco desta dissertação. Atualmente82 a empresa possui 440 funcionários distribuídos entre a sede em São Leopoldo, a fábrica de painéis em Sapucaia do Sul e as filiais em São Paulo, Campinas, Macaé, Belo Horizonte, Salvador, Curitiba e Porto Alegre83. Além desses, diretamente vinculados à Hera, ainda relacionam-se na condição de funcionários sujeitos contratados como pessoa jurídica e bolsistas vinculados a projetos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Quanto ao gênero, o quadro funcional da Hera compõe-se de 319 homens e 121 mulheres. O Gráfico 2 esboça esses dados, enquanto o Gráfico 3 apresenta a média salarial por gênero. Gráfico 2 - Gênero da Classe Trabalhadora da organização Hera

Fonte: elaborado pela autora com base nos dados fornecidos pela empresa Gráfico 3 -Média Salarial da Classe Trabalhadora da empresa Hera por Gênero

Fonte: elaborado pela autora com base nos dados fornecidos pela empresa

82 83

Dados de 04 de setembro de 2014. Disponível em: . Acesso em: 21. abr. 2014.

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Quanto à escolaridade, a classe trabalhadora mostra-se bastante heterogênea, contemplando funcionários com ensino fundamental incompleto até doutorado. Cerca de 50% dos trabalhadores têm graduação concluída ou em andamento, sendo a área de Ciências Exatas preponderante, com destaque às Engenharias, o que é reflexo do negócio da empresa. A síntese dos dados referentes aos principais níveis de ensino abarcados pela Hera pode ser conferida no Gráfico 4. Gráfico 4 - Principais Níveis de Ensino – Classe Trabalhadora Hera

Fonte: elaborado pela autora

Além de incluir o corpus de análise deste estudo, a descrição da situação de comunicação “refere ao ambiente físico e social do ato de comunicação” (CHARAUDEAU, 2010a, p. 69), ou seja, aspectos que permeiam a troca linguageira e que também indicam aos sujeitos como produzir e interpretar os enunciados, visto que implicam saberes tanto sobre os seres de fala, quanto aos meios e contratos na difusão da mensagem. De encontro ao processo de produção e interpretação dos enunciados estão as circunstâncias de discurso, que tangem as práticas sociais partilhadas e os filtros construtores de sentido. Diante do corpus em análise, pode-se dividir a apresentação das circunstâncias de discurso em duas partes. A primeira, geral e ampla, para incluir a prática social (leitura do periódico) e a segunda, mais específica, a cada editorial, que implica “os saberes supostos sobre os pontos de vista [...] os filtros condutores de sentido”. (CHARAUDEAU, 2010a, p. 32). Da prática social relativa ao jornal da empresa, pode-se apontar que o conteúdo, dada à periodicidade de sua circulação, é selecionado perante a duração da informação, visto que se refere a uma longa temporada de divulgação, quatro meses. Trata-se de um veículo impresso, que, entre várias razões, é mantido em função do volume de funcionários que trabalha na fábrica e não tem acesso ao computador. Outra hipótese é o uso da mesma ferramenta para distribuição a diversos públicos de relacionamento da organização, como clientes ou fornecedores, o que garante o envio, embora não o acesso, das informações. Tal consideração

129

embasa-se em duas premissas: 1) o site da Hera não é atualizado com a frequência da divulgação de suas notícias; 2) os públicos de interesse podem não atribuir importância para buscar essas informações que se intenta enunciar. Avalia-se, com essa categoria, o canal de transmissão enquanto ferramenta de comunicação dirigida. Para finalizar as descrições que agregam o conjunto de editoriais em análise, apresentam-se dois componentes do contrato de comunicação: identidade e dispositivo. Optase por uma avaliação ampla desses tópicos, pois se evita repetição de informações, visto que a identidade “se define através das respostas às perguntas: “quem troca com quem?” ou “quem fala com quem”. (CHARAUDEAU, 2012a, p. 69). Complementa-se a caracterização identitária dos parceiros compreendida com a categoria situação de comunicação. Nesse sentido, afirma-se que a condição de enunciação oportuniza apenas à organização apresentar seus saberes e orientações, sem abertura para o diálogo ou mesmo a escuta dos demais sujeitos que compartilham o ambiente laboral. A instância de produção é múltipla, visto que o jornal é um canal produzido por uma equipe composta por cerca de sete pessoas, que revisam e determinam quais são os temas e formas de abordagem para cada edição. Embora os editoriais sejam assinados, algumas nuances na forma de construção dos enunciados conduzem à percepção de que não são escritos por uma pessoa, o presidente, mas revisado e reenquadrado aos parâmetros comerciais definidos como mais adequados para a interação que se pretende com o público leitor. A construção discursiva do editorial da Edição 77 ancora-se nos modos enunciativo e descritivo (CHARAUDEAU, 2010a), perante a identificação dos assuntos abordados naquela situação assentada na função elocutiva, que expressa um ponto de vista sem envolver o interlocutor diretamente. Em contrapartida, a partir da Edição 80, os editoriais fundamentam-se: 1) na função alocutiva do modo enunciativo, para apresentar as prescrições ao ambiente laboral; e, principalmente, 2) no modo argumentativo, pois cada asserção é justificada a fim de persuadir o interlocutor às normas postas. Salienta-se que os dizeres expressos nos editoriais 1 e 2, da Edição Especial, ancoram-se nos modos enunciativo-alocutivo e narrativo, pois são construídos perante o encadeamento de enunciados que retomam as histórias de vida de ambos os sujeitos, com a função de implicar e impor comportamentos aos trabalhadores em sua atividade, propondo o engajamento para o sucesso da organização. A leitura dos editoriais evidencia o interesse no estabelecimento de uma hegemonia de valores e perspectivas, visto que são apresentados argumentos que constantemente reforçam quais comportamentos são, ou devem, ser seguidos diante da atividade. Como exemplo, no editorial 2 da Edição Especial, o enunciado “Por outro lado nós mesmos

130

devemos nos comportar de forma a demonstrar nosso estado de espírito mais importante: estar de bem com a vida”, prescreve uma ação: estar de bem com a vida. Na sequência, afirma: “[...] estar de bem com a vida que significa o sorriso fácil, o elogio frequente, o alerta jocoso e um espírito otimista.” É, então, esclarecido o que se entende por pessoas felizes e o que se espera das atitudes dos trabalhadores no cotidiano, o que é expresso por meio de mais prescrições recusando a atuação do sujeito enquanto interpretante de uma prescrição vaga (SANT’ANNA; SOUZA-E-SILVA, 2007), mesmo que determinada perante a explicação, como “estar de bem com a vida”. Outro exemplo acerca da subcategoria identidade, pertencente a categoria contrato de comunicação e elucidada por pressupostos da Semiolinguística, pode ser observado na edição 81, quando se afirma que “[...] é dever da Hera contribuir para o crescimento dessa entidade”. Não se abre a possibilidade de diálogo a respeito desta ação organizacional, incentivar uma entidade da área de Pesquisa e Desenvolvimento, visto que a Hera está em um patamar que a obriga a ter tal atitude, pois “só assim teremos um país mais próspero e soberano tecnologicamente”. Além de desencorajar o interesse na busca de mais informações sobre a entidade, pois não oferece detalhes de como fazê-lo, ou mesmo indica caminhos, a organização coloca-se em uma posição autoritária cujas determinações são inquestionáveis e incompreensíveis. Objetiva-se informar sobre a ação, sem mais esclarecimentos sobre as possíveis implicações por ela acarretadas, como a inscrição de alguns colaboradores à iniciativa, o que implica a dedicação de tempo e reduz a possibilidade de aprimoramento ou desenvolvimento à atividade laboral em si. O dispositivo, quarta condição de enunciação que estabelece o contrato de comunicação e “compreende um ou vários tipos de materiais e se constitui como suporte com o auxílio de uma certa tecnologia”. (CHARAUDEAU, 2012a, p. 105, grifo do autor), também é apresentada de modo a contemplar o corpus completo. Nesse sentido, a interação se dá entre sujeito e texto. Há múltiplos interpretantes, visto que o texto é acessado por diversos públicos como funcionários, clientes e fornecedores. A mediação tem suporte nas linguagens verbal e imagética, além da expressão escrita por meio de jornal, tecnologia adotada. Finaliza-se a apresentação dos dados referentes às categorias temáticas previstas na Articulação A com o Mapa de Possíveis Interpretativos resultante da compilação dos enunciados que compõem os editoriais. Salienta-se que em momento anterior à composição desse mapa, foram construídos mapas individuais, por editorial (que podem ser conferidos nos Apêndices), a partir do entrecruzamento das categorias da semiolinguística, da ergologia e

131

conceitos relacionados à cultura e cultura organizacional. A síntese dessas conexões pode ser apreciada no Quadro 19. Quadro 19 - O Mapa de Possíveis Interpretativos: considerações acerca da Articulação A

(continua)

Apresentar saberes e contextos

Não há abertura ao diálogo ou escuta

Hegemonia de valores e perspectivas

Visada de Informação

Visadas de Informação, Captação e Incitação

Visadas de Prescrição e Captação

Visada de Informação

Afirmar posição, internacionalização e informação

Tornar público os interesses da empresa

Contexto da Atividade e Exercício da Atividade

Apresentar/ justificar cenário organizacional e apresentar produtos e soluções

Saberes constituídos (normas) e abertura às renormalizações (reconhecimento dos saberes investidos) Argumentos que reforçam quais comportamentos são, ou devem ser, seguidos na realização da atividade.

Dispositivo

Circunstâncias de Discurso

Internacionalização e a nova era da Hera

Envolvimento com a comunidade, caracterização e prescrições à atividade.

Histórias de vida (narrativa modelo), comportamentos esperados (explícitos) e reconhecimento das ações

Identidade

Acesso conforme interesse do trabalhador

Finalidade

Veículo com foco na transmissão de informações – atribui-se ao presidente os enunciados

Saberes

Interação sujeito-texto por meio de códigos verbais e imagéticos em jornal.

Espaço de Locução

Contrato de Comunicação

Características identitárias – nível de ensino: 39% nível técnico e médio 61% nível superior

Elementos Ideológicos Gênero: 72% masculino e 28% feminino Média salarial: diferença de R$ 1.500,00 (aprox. 40%)

Propósito

Situação de Comunicação

Cultura

Cultura Organizacional Mecanismos de Conduta

Abordagem: asserções de efeito, curtas e diretas e enunciados que narram histórias de vida (sujeitos/organização) Justificativa: apresentar/ argumentar ações da empresa e orientações de conduta Destinatário: opaco, abarca diversos públicos (genérico). Considerando o trabalhador, qualifica-o como “profissional altamente qualificado” e estabelece uma relação superior>subordinado, com a hierarquia delimitada verticalmente.

132

Espaço de Relação

Tom: prescritivo, informativo, rigoroso, gratidão Caráter: introvertido, exigente Corporalidade: modos elocutivo para expressar pontos de vista que avaliam as circunstâncias que interpelam a organização, que promovem o engajamento com as ações da empresa.

Espaço de Tematização

(conclusão)

Divulgar ações organizacionais e contextualizar a relação organização/ mercado

Apresentar quais são os objetivos da empresa a fim de persuadir o leitor de que são decisões acertadas.

Deixar evidente quais são as normas para realização da atividade, justificando-as com o contexto

Apresentar os produtos e serviços ofertados pela organização e divulgar/ justificar ações realizadas

Fonte: elaborado pela autora

O Quadro 19 sintetiza os principais saberes que permeiam e constituem o ato de linguagem da Hera. A segunda coluna do Quadro 20 apresenta os aspectos evidenciados pelos editoriais e que se relacionam a noção de cultura. Ressalta-se a perspectiva que a percebe como movimento social e coletivo (CUCHE, 1999), não em um lócus específico, mas na possibilidade da interação mundializada (ORTIZ, 1998), quando as trocas monetárias são o caminho às imbricações culturais, os modos de fazer e pensar, conforme apontamentos realizados no capítulo 2. Os editoriais evidenciam como elementos comerciais de outros espaços orientam as decisões organizacionais. Sob a perspectiva comercial, de competitividade internacional, os enunciados reforçam a necessidade de adequação aos padrões internacionais de produção e comercialização de produtos, questões que implicam diretamente o fazer laboral dos trabalhadores. Essas afirmações subsidiam-se em enunciados como na edição 77: “estamos preparados para o futuro, conquistar novos mercados, ultrapassar barreiras, ser referência mundial”, ou da edição 78 “Ficamos muito felizes por ter reunido na Hera mais de 350 profissionais, altamente qualificados, com muita vontade de mostrar que é viável fazer por aqui o que fazem no exterior engarrafar de forma metódica conhecimento em produtos”. A internacionalização é pauta direta ou indireta nos oito editoriais analisados. Ao convergir esse dado aos enunciados exemplificados e à orientação de Antunes (2009) acerca das mudanças no mundo do trabalho, pode-se identificar algumas pistas a respeito das múltiplas adaptações realizadas pelos sujeitos no trabalho. Mudanças significativas na relação trabalhador atividade

são

impostas

nesse

contexto.

Conforme

aponta

Sennett

(2009),

a

contemporaneidade exige respostas rápidas, o que motiva uma experiência esvaziada ante as determinações de produção.

133

As estratégias discursivas adotadas pela Hera ancoram-se principalmente na visada de informação e no modo de organização enunciativo elocutivo (CHARAUDEAU, 2010a, 2012a), cujo intuito é mostrar um modo de fazer, além de propor o engajamento dos trabalhadores para que os objetivos da organização sejam alcançados. Dimensões como “ser referência mundial”, “fazer por aqui o que fazem no exterior”, estar “preparados para o futuro” e “capacidade de competir” são tratadas como atravessamentos dos imperativos contextuais às decisões da organização de expandir a marca globalmente, crescer mundialmente. Supõem-se algumas implicações da cultura organizacional à atividade: conhecer o mercado de atuação da Hera, saber como se faz no exterior e adaptar as práticas de lá para cá (aspecto desterritorializante, conforme Hall, 2003), ser competitivo. Embora seja possível apontar questões como essas, visto que mais de 60% dos trabalhadores têm (concluído ou em andamento) ensino superior e/ou pós-graduação e trabalham na criação de produtos, cerca de 40% do grupo de funcionários da organização têm ensino médio/ técnico e dedicam-se a atividades da fábrica. Esse aspecto é interessante, pois o jornal não considera o entendimento desse público acerca dos interesses organizacionais, já que seu fazer se dá em máquinas que executam os projetos criados pelas áreas de Engenharia e P&D, sem a possibilidade de acessos externos ou à internet durante o horário de trabalho, pois supõe-se não ser necessário à atividade por eles realizada. Assim, ou os trabalhadores procuram conhecer o contexto da organização fora de seu horário de trabalho, ou os sentidos (ou mesmo a falta deles) produzidos frente à leitura (quando feita) desse canal são desconsiderados. Essa postura reforça o que Antunes (2011) denomina como “alienação contemporânea”, pois o trabalhador não percebe seu fazer como algo seu, mas algo externo que pertence à organização. A Figura 14 ilustra a fábrica localizada em São Leopoldo. Figura 14 - Fábrica da Hera em São Leopoldo

Fonte: site da empresa

As adequações comportamentais recomendadas pela organização manifestam a imbricação da cultura, daquilo que é externo à organização, à cultura organizacional. Seguir

134

as recomendações implica também transformar o contexto que é vivenciado pelo sujeito junto a seus colegas e familiares. Embora neste estudo não seja possível avaliar como se dá esse processo, acredita-se que sua visualização produza interessantes resultados à avaliação das mudanças no cotidiano organizacional. Diante daquilo que o corpus permite averiguar, apontam-se perspectivas quanto à cultura da Hera, sendo que, neste primeiro momento, como se pode observar no Quadro 20, tem amplitude as categorias temáticas: elementos ideológicos (MORGAN, 2011), mecanismos de conduta (GEERTZ, 2008) e saberes (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007, DURRIVE, 2011), fundamentadas nas categorias da Semiolinguística (CHARAUDEAU, 2010a, 2012a). A avaliação das estratégias discursivas utilizadas nos editoriais do jornal confirma o que aponta Charaudeau (2012a) acerca do uso das visadas comunicativas pela instância midiática, diante da tensão entre fazer-saber e fazer-sentir: “[...] seu jogo consiste em navegar entre esses dois polos ao sabor de sua ideologia e da natureza dos acontecimentos”. (CHARAUDEAU, 2012a, p. 93). Assim, mesmo que seja preponderante o uso das visadas de informação e de prescrição à composição dos discursos, diante dos elementos ideológicos e os mecanismos de conduta, a visada de captação tem, também, destaque. Exemplifica-se tal afirmação com base nas edições 77 “graças ao trabalho de muitas pessoas que dedicaram entusiasmo, coragem e disposição”, 82 “Isso significa dizer que fazemos, orgulhosamente, parte de um terço desta história de seis décadas”, e 83 “Não é bom saber que ajudamos na diversão de um dos parques temáticos mais modernos da América do Sul?”. Combinado à predominância das ações determinadas pelas visadas, fazer-saber > dever-saber/ dever-fazer, das informações e prescrições referentes à finalidade do ato comunicativo, outros aspectos do contrato de comunicação (CHARAUDEAU, 2004, 2012a) contribuem à percepção da cultura organizacional. O espaço de relação revela o tom prescritivo e informativo e o caráter introvertido e exigente do enunciador, que tem associada à sua identidade o interesse no estabelecimento de uma hegemonia discursiva, sem abertura ao diálogo, o que implica a desconsideração da opinião dos trabalhadores e a imposição de comportamentos considerados adequados para o exercício da atividade. A abordagem e a justificativa de tomada da fala, diante do espaço de locução, reforçam o interesse na determinação de orientações, seja por meio de asserções diretas e impositivas, seja pelo uso de narrativas de vida que, além de servir como modelo de conduta, também tende a envolver emocionalmente os interlocutores. Do exposto na situação de comunicação em análise e com base na metáfora dos sistemas políticos, proposta por Morgan (2011), sugere-se que a cultura organizacional da

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Hera intenta uma ideologia unicista. Por meio de uma hierarquia verticalizada, atribui-se à gestão a determinação dos interesses coletivos que são tratados como comuns a todos os sujeitos. A impossibilidade de diálogo em relação às decisões organizacionais, cuja intenção seria perceber como os trabalhadores as compreendem, elimina o embate de ideias, o que distancia, na ótica da organização, os conflitos. Ancora-se esse olhar em alguns enunciados, como na edição 78: “Hoje é necessário colocar nossa inteligência dentro da máquina e a máquina dentro da indústria”, ou na edição 81: “Para nossa empresa, o Bovespa Mais representa a melhor maneira de entrarmos neste segmento de negócios, pois nos possibilita uma tranquila adaptação às exigências do mercado de ações” (grifo nosso). Conforme Geertz (2008), a cultura pode ser representada por teias de significados em constante tensão e permanente transformação. As teias referem-se a conjuntos de mecanismos que orientam a conduta daqueles que são por elas envolvidas. Com base nessas ideias, podese afirmar que o elevado volume de prescrições apresentadas nos editoriais do jornal da empresa Hera é uma parte da composição das teias de significados da cultura organizacional, cujo propósito principal tende a ser a homogeneização dos valores e perspectivas que permeiam a atividade e o ambiente laboral. Esse objetivo é delineado pela gestão da organização perante a difusão de orientações comportamentais. Do editorial 2, da Edição Especial, advém alguns exemplos: “Por outro lado, nós mesmos devemos nos comportar de forma a demonstrar nosso estado de espírito mais importante: estar de bem com a vida! Qualquer que seja o momento. Mesmo no instante de maior crise, maior perigo... Mesmo na hora de grandes sacrifícios” e “as lideranças destes levem em conta que para atingirmos isto a atitude de estar de bem com a vida, que significa o sorriso fácil, o elogio frequente, o alerta jocoso e um espírito otimista, esteja sempre presente no ambiente de trabalho”. Desses exemplos, ficam evidentes parâmetros para avaliação dos trabalhadores no exercício da atividade, visto que “estar de bem com a vida” recebe uma conceituação detalhada acerca do comportamento esperado. Embora se trate de uma conduta que tenha interferências da personalidade de cada sujeito, intenta-se subjugar essa individualidade em prol dos interesses da organização. Espera-se que a norma seja acatada plenamente e não se abre a possibilidade de avaliação das condições do ambiente para o exercício da atividade. As prescrições são postas e justificadas, a fim de evitar questionamentos e impor o contexto que cerceia o trabalho, sem reconhecer o cotidiano e as práticas que são transformadas diante dos eventos inesperados (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007), que fazem parte desse cenário. O terceiro elemento temático referente à Articulação A implica os saberes, logo, concerne à sustentação às subcategorias apresentadas anteriormente, vinculadas à cultura

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organizacional. As diversas prescrições dos comportamentos que os trabalhadores devem ter no exercício da atividade são também denominadas como norma, que “corresponde a uma maneira de fazer, ligada consequentemente a um saber”. (DURRIVE, 2011, p. 52). Normas e saberes possuem uma estreita relação, o que permite, mesmo com base em enunciados do jornal de empresa, a indicação de saberes constituídos e investidos, normas e renormalizações. A primeira consideração que se pode fazer sobre esse aspecto, com base no apresentado no Quadro 19, reporta-se ao acesso dos jornais pelos trabalhadores, o que ocorre apenas diante de seu interesse. Embora outras formas de interação, como eventos, por exemplo, sejam efetivadas, a distribuição do jornal, visto o interesse de propagação de saberes constituídos, garantiria a atualização do contexto em que a organização está inserida, além de oportunizar ao sujeito a leitura sempre que julgar adequado para compreender o que a organização dele espera e o que ele pode dela esperar. Os editoriais expressam essencialmente saberes ligados às normatizações de conduta: “Isso exigiu dois esforços básicos: dominar as tecnologias de informática, hardware e software e dominar as tecnologias de gestão” (Editorial 1, Edição Especial) e à propagação de informações sobre produtos e serviços: “Com esse objetivo, consolidamos nossa parceria comercial com a empresa Beijer Electronics, da Suécia, [...] Ela também se torna acionista minoritária da Hera”. (Edição 80); “Esta edição do I&A traz mais uma matéria sobre inovações dentro da Série ABC, além de um artigo sobre a operação e configuração da Série HX”. (Edição 82). Apesar de centrar-se na norma, alguns enunciados manifestam a ciência da empresa quanto à capacidade transgressora dos trabalhadores e reconhece-se que as renormalizações produzidas trazem bons resultados à organização. Isso pode ser percebido na Edição 80 “criação de soluções inovadoras com tecnologia de ponta”, na Edição 81, “e as atualizações da Série ABC, que continua a ser estudada e renovada em nosso processo de Pesquisa & Desenvolvimento” e na Edição 83, “para criar produtos que surpreendam”. Percebe-se que os enunciados exaltam os produtos e que o sujeito é ocultado da ação. Porém a qualidade enunciada implica a atividade dos trabalhadores, que fazem uso de si por si (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007), investem seus saberes e suas competências na criação, na inovação e na renovação dos produtos, por exemplo. Perante o Quadro 19 e os apontamentos realizados acerca da cultura e da cultura organizacional, demonstra-se a perspectiva adotada pela Hera quanto às competências dos trabalhadores. A busca por uma homogeneização de valores e saberes implica a avaliação da atividade com base em critérios bem determinados, muitos dos quais podem ser vislumbrados

137 nos editoriais. É o caso da chamada a “estar de bem com a vida no trabalho”. O esclarecimento promovido na sequência de enunciados “sorriso fácil, o elogio frequente, o alerta jocoso e um espírito otimista” enquadra comportamentos individuais de acordo com parâmetros que manifestam o interesse da organização: ter trabalhadores que não questionam e/ou seguem as normas. As regras de conduta definem quais competências são bem quistas no ambiente laboral e incitam os sujeitos a adequarem-se aos padrões. Tratadas desse modo, as competências são como uma lista de atributos disponíveis para aquisição em “centros comerciais”. Acredita-se, porém, que é viável, mesmo diante desse contexto, avaliar as competências dos trabalhadores da Hera sob a perspectiva da atividade, com base nos ingredientes que a formam, conforme desenvolve Durrive (2011). É a possibilidade de uma realização criativa do trabalho em oposição à uniformização que mantém os modos de fazer. O Quadro 20 é uma tentativa de representação dessa aplicação. Quadro 20 - Cultura Organizacional e Competências segundo Durrive (2011)

(continua) Competência

Enunciado

Reflexão

Domínio de algo codificado

Edição 83 - “Nossos integradores nos surpreendem ao fazer nevar. As mesmas ferramentas são usadas na automação do setor de microeletrônica, como nas salas limpas da XYZ, que exigem os mais rígidos padrões ambientais”.

Domínio de algo não codificado

Edição 77 - “[...] alcançamos uma posição de destaque no mercado, graças ao trabalho de muitas pessoas que dedicaram entusiasmo, coragem e disposição”.

Domínio da decisão pertinente no momento certo

Editorial 1 – Edição Especial - “Isso exigiu dois esforços básicos: dominar as tecnologias de informática, hardware e software e dominar as tecnologias de gestão. Esses dois esforços foram se aprimorando e hoje são executados por mais de 350 profissionais altamente qualificados [...]”.

Reconhece-se que os trabalhadores têm suficiente capacidade de valer-se das prescrições e aplicá-las em outras situações. Os objetivos postos são realizados por sujeitos únicos e capazes de implicar corpo e mente na realização da atividade. Diante da normalização dos esforços a serem seguidos, os trabalhadores desenvolveram novas possibilidades para seu aprimoramento e conduziram ao sucesso da organização. Um momento marcante (30 anos) é necessário buscar formas de conduzir as ações organizacionais. O êxito dos projetos iniciais (superação das expectativas) ampliou o escopo de atuação da empresa.

Reconfiguraçã o do meio

Expansão dos domínios

Edição 80 - “Depois de três décadas, somos referência no mercado e seguimos em busca de novas formas de continuar a crescer e atingir novos objetivos”. Edição 82 - “Quem poderia afirmar que estes projetos seriam a largada para aplicações maiores e ainda mais complexas, como as citadas nas páginas seis e sete deste Informando & Trabalhando”.

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(conclusão)

Sinergia com o coletivo

Edição 78 - “Ficamos muito felizes por ter reunido na Hera mais de 350 profissionais, altamente qualificados, com muita vontade de mostrar que é viável fazer por aqui o que fazem no exterior, engarrafar de forma metódica conhecimento em produtos”.

Compartilha-se o fazer e as renormalizações dele oriundas.

Fonte: elaborado pela autora

A opção por delinear a competência como expressa no Quadro 20, mesmo com ciência de que não se trata da melhor maneira, mas ainda assim possível, implica o que Durrive (2007, p. 213) afirma: “A competência é inscrita na história e não para de evoluir”. Assumida a perspectiva da atividade como permanente interpretação e transgressão às normas, e implica renormalizações, faz-se necessário buscar formas específicas para refletir sobre ela e sobre o que a estrutura. Nesse contexto, as competências têm função ímpar e percebê-la diante de concepções homogêneas tende a neutralizar o desenvolvimento do sujeito. As organizações que têm como pilar a inovação precisam buscar alternativas a fim de incentivar as transgressões ao invés de anulá-las ou desconsiderá-las. Isso passa por aceitar as diferenças e impulsionar embates, percebendo-os, como sugere Morgan (2011), enquanto fenômenos inerentes, inevitáveis e potencialmente positivos. Esses aspectos têm relação direta com as categorias temáticas usos de si, relações de poder e identidade projetada que compõem a Articulação B, as quais são conjugadas com as categorias contrato de comunicação e modos de organização discursiva da análise semiolinguística. Como resultado dos entrecruzamentos propostos, tem-se o Mapa de Possíveis Interpretativos apresentado no Quadro 21. Quadro 21 - Mapa de Possíveis Interpretativos: considerações acerca da Articulação B

Uso de Si pelo Outro

Uso de Si por Si

Relações de Poder

Identidade

Alto volume de normas e prescrições que determinam como proceder na atividade.

Alto volume de prescrições que incitam as transgressões na informalidade.

Hegemonia discursiva que desconsidera a força do interlocutor. Hierarquia verticalizada.

Finalidade

Contrato de Comunicação

(continua)

Visadas de Incitação e Prescrição

Visadas de Captação e Informação

Visadas de Incitação e Informação

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Dispositivo Espaço de Locução

Seguir as prescrições garante benefícios aos trabalhadores. Alto volume de prescrições.

Espaço de Tematização Modos de Organização Discursiva

Reconhece qualificações dos trabalhadores e o êxito perante o uso de si por si, manifesto em características intangíveis: estar de bem com a vida no trabalho, soluções inovadoras (reconhece a atividade por meio do produto).

Poder condicionado Esquema dominaçãorepressão

Manifesta uma hegemonia discursiva, Algumas áreas são Enfoque na pois não abre a reconhecidas pelo fazer disseminação das possibilidade de dos trabalhadores prescrições (interesses interação com a (P&D, produção do da empresa). empresa por esse meio, jornal). que apenas serve para informar. Justificativa: apresentar prescrições, exaltar qualidades e anunciar mudanças Abordagem: informar aspectos da organização de forma prescritiva e direta Destinatário: é opaco (buscar abarcar diversos: clientes, fornecedores, trabalhadores). O trabalhador é referenciado como ser racional, visto que a afetividade é mobilizada por meio de explicações objetivas.

Espaço de Relação

Contrato de Comunicação

Propósito

(conclusão)

Tom: prescritivo, gratidão Caráter: introvertido, rígido

Apresenta prescrições que implicam prosperidade

Reconhecimento das qualidades intangíveis

Condiciona comportamentos

Modo Enunciativo Elocutivo e Alocutivo, Modo Argumentativo

Modo Enunciativo Elocutivo, Modo Descritivo e Modo Argumentativo

Modo Enunciativo Elocutivo e Modo Argumentativo

Fonte: elaborado pela autora

O Quadro 21 reflete três categorias temáticas previstas na Articulação B. Inicia-se por apontamentos acerca do uso de si pelo outro (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007), que implica as normalizações, aspecto que assume evidência nos editoriais e prossegue-se com a indicação de possíveis aberturas às renormalizações perante o uso de si por si (SCHWARTZ;

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DURRIVE, 2007). Se intenta a observação da tensão entre esses usos de si perante as relações de poder (GALBRAITH, 1989; FOUCAULT, 2007) que norteiam o esboço da identidade projetada pelo sujeito enunciador quanto ao sujeito destinatário (CHARAUDEAU, 2010a), expressa nas criações linguísticas (SILVA, 2013) do sujeito comunicante. As características provenientes do contrato de comunicação, através dos dados externos e internos (CHARAUDEAU, 2012a), manifestam principalmente aspectos relacionados aos interesses que a organização tem e que implicam diretamente o trabalhador, mesmo que, ao se considerar o espaço de locução na elaboração dos enunciados, o destinatário seja opaco, ou seja, não é claramente identificado. A abordagem e a justificativa da tomada da palavra congregam a determinação das prescrições frente aos objetivos organizacionais. O modo de organização discursivo argumentativo sustenta os enunciados por meio de explicações que encerram o processo informacional e visam paralisar a realização de algo fora do previsto. “A argumentação é o resultado textual de uma combinação entre diferentes componentes

que

dependem

de

uma

situação

que

tem

finalidade

persuasiva”.

(CHARAUDEAU, 2010a, p. 207). Duas funções do modo de organização discursivo enunciativo se destacam no encadeamento dos argumentos: o alocutivo e o elocutivo. O primeiro diante da imposição de comportamentos: “Por outro lado, nós mesmos devemos nos comportar de forma a demonstrar nosso estado de espírito mais importante: estar de bem com a vida!” (Editorial 2, Edição Especial, grifo nosso); “Agora, não só devemos manter o nosso nível de produtos e serviços, como também precisamos aumentá-lo ainda mais. A exigência sobre aquilo que fazemos será cada vez mais alta e encaramos isso com empolgação”. (Edição 82). Já o modo enunciativo, na função elocutiva, desenvolve-se perante asserções, cujo efeito pretendido é o de verdade, seja diante de modos de fazer ou na proposição de ações que requerem engajamento. “O resultado é uma enunciação que tem como efeito modalizar subjetivamente a verdade do propósito enunciado, revelando o ponto de vista interno do sujeito falante”. (CHARAUDEAU, 2010a, p. 83, grifo do autor). Exemplifica-se, desta forma, o uso de si pelo outro, a partir de enunciados da Edição 77, quando se afirma: “A história da Hera demonstra que desenvolvemos as bases necessárias para novas conquistas: profissionais qualificados [...]”, ou da Edição 78: “Hoje é necessário colocar nossa inteligência dentro da máquina e a máquina dentro da indústria. É isso que estamos fazendo na Unidade de Painéis [...]”.

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Percebe-se, então, que a condição de enunciação favorece a divulgação de saberes da organização e a determinação de como procedem às atividades. Desse modo, é coerente caracterizar as finalidades discursivas com base nas visadas de incitação e prescrição (CHARAUDEAU, 2004, 2012a), que se acoplam na intenção de fazer o interlocutor, considerando aqui o trabalhador, acreditar no que é posto a fim de que o execute, afinal existe uma “exigência específica a todo trabalho social (sempre uso de si por ‘outros’)”. (SCHWARTZ, 2004, p. 39). Porém, mesmo que se intente a plena determinação de normas, que nesse caso são institucionalizadas, já que estão registradas de forma escrita, ou mesmo de normas coletivamente instituídas que são socializadas perante os processos de integração dos sujeitos (BERGER; LUCKMANN, 2012), sempre há a possibilidade de transgressão, pois a interpretação da norma é ação particular, individual, que se faz mediante a gestão do uso de si. A visualização do emprego dos valores e experiências dos sujeitos à realização da atividade, por meio dos enunciados altamente prescritivos que compõem os editoriais, não é direta, mas exige do sujeito interpretante (TUi) a mobilização de suas competências no processo de análise. Sob esses aspectos, o uso de si por si, “no processo de atividade, [quando] o sujeito mobiliza seu saber-fazer, seus valores, seus afetos, sua singularidade”. (FREITAS, 2010, p. 176), pode ser percebido principalmente diante do reconhecimento do êxito da organização, que implica gratidão aos trabalhadores. Como se observa na sequência do Quadro 22, abordam-se aspectos no ato de linguagem da Hera que permitam a apreciação das renormalizações emergentes da conversão entre saberes constituídos e investidos pelo trabalhador em sua atividade. O elevado volume de prescrições presente nos enunciados dos editoriais analisados manifesta uma certa inflexibilidade ao investimento das competências particulares no exercício da atividade. Em contrapartida, alguns dos valores da organização como inovação, empreendedorismo e conhecimento exigem do sujeito criatividade em seu fazer, “para criar produtos que surpreendam”. (Edição 83). Parte-se desse ponto para identificar a incitação ao uso de si por si que é prestada pela Hera nas proposições divulgadas nos jornais. Em um primeiro momento, avalia-se que as normas postas implicam tanto a atividade em si, quanto os comportamentos considerados adequados para a permanência do trabalhador no ambiente laboral. Referem-se a imposições de ordem prática, expressas por visadas de informação (CHARAUDEAU, 2012a), e também de ordem afetiva, a partir do uso da visada de captação (CHARAUDEAU, 2012a), que implica aspectos subjetivos, como “colocar a inteligência na máquina” (Edição 78) e “pessoas felizes no trabalho” (Editorial 2, Edição Especial).

142 Dos oito editoriais analisados, quatro84 utilizam a expressão “profissionais altamente qualificados” para referir-se aos trabalhadores, sendo que em outra edição85 o enunciado valese da locução “pessoas altamente especializadas”. Duas inferências advêm da reflexão sobre esses dados: 1) a empresa reconhece o potencial de seus funcionários e atribui a eles seu êxito na criação de produtos e soluções; 2) o perfil do trabalhador (esperado pela organização) está relacionado com sua qualificação profissional e acadêmica. Este aspecto pode ser relacionado ao perfil educacional da Hera, apresentado junto às características identitárias da situação de comunicação, no princípio deste capítulo, visto que é uma empresa com mais de 60% da classe trabalhadora com ensino superior e/ ou pós-graduação (lato e stricto sensu) em andamento e/ ou concluída, assumindo destaque a presença de mestres e doutores no quadro de efetivos. Dos cerca de 40% de trabalhadores que têm ensino médio e/ ou técnico, 16% têm formação técnica concluída ou em andamento, dado que reforça a valorização da mão de obra especializada ao negócio da empresa, visto que as criações almejadas pela empresa têm o enfoque no desenvolvimento de produtos e soluções a clientes muito peculiares, como as plataformas de petróleo da Petrobrás. A construção dos enunciados ancora-se principalmente no modo enunciativo elocutivo e expressa o ponto de vista da organização, como se indica na dimensão relacionada ao propósito (CHARAUDEAU, 2012a) dos editoriais, no que alude ao uso de si por si. Além do reconhecimento pela qualificação dos profissionais, é manifesta gratidão por sua dedicação frente aos objetivos da organização. Em enunciados como na Edição 77 “graças ao trabalho de muitas pessoas que dedicaram entusiasmo, coragem e disposição”, na Edição Especial (editorial 1) “[...] mostrando espírito empreendedor”, e na Edição 80 “O Brasil sabe que a Hera é uma empresa extremamente competente [...] Aqui contamos com profissionais qualificados que dedicam seu tempo na criação de soluções inovadoras com tecnologia de ponta”, pode-se perceber o uso de tal estratégia discursiva, que se sustenta principalmente com o modo de organização descritivo. Em contrapartida, de forma explícita, apenas algumas áreas têm seu potencial produtivo reconhecido. Nas edições 80 e 81, respectivamente, afirma-se: “tudo isso não seria possível sem o trabalho duro de nosso P&D, que desenvolveu um produto que entusiasmou o mercado internacional”; “as atualizações da Série ABC, que continua a ser estudada e renovada em nosso processo de Pesquisa & Desenvolvimento”. Percebe-se que o enfoque do 84 85

Edições 77, 78, editorial 1 da Edição Especial e 80. Edição 83.

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jornal está em elevar o setor de P&D ao patamar de diferencial da empresa no mercado, visto que, além dessas asserções nos editoriais, a composição do canal (páginas 3 a 7) se constitui fundamentalmente da apresentação de produtos e soluções em matérias escritas por funcionários dessa área. Nesses casos, também fica evidente a valorização do trabalhador que “coloca-se por inteiro em atividade [que] põe em movimento a energia de seu corpo, seus sentidos, sua experiência física e intelectual - o corpo em relação ao meio, aos instrumentos e técnicas”. (FÍGARO, 2009, p. 35). A ação transgressora e criadora dos sujeitos (TRINQUET, 2010), que é incentivada e atestada, o que converge com os valores da organização. O mesmo não ocorre na referência à fábrica, como na Edição 78, por exemplo, quando todo potencial de desenvolvimento é atribuído às máquinas e seus operadores não recebem menção. Um componente a ser considerado nessa situação é o negócio da empresa, a automação dos processos industriais, o que justifica o interesse em mostrar suas competências, no jornal, a partir dessa temática enunciativa. Porém, ao considerar a classe trabalhadora, o destaque à atividade de uns e a baixa relevância ao trabalho de outros tende a ocasionar problemas de relacionamento e conflitos no ambiente organizacional. Retoma-se a afirmação de Antunes (2011, p. 127, grifo do autor) acerca da existência de “uma dessociabilidade destrutiva no espaço de trabalho que procura dilapidar todos os laços de solidariedade e de ação coletiva, individualizando as relações de trabalho em todos os espaços onde essa pragmática for possível”. Com base nesses aspectos, afirma-se que, no caso da fábrica, a atividade é percebida como execução de prescrições, sem o investimento de qualidades particulares dos sujeitos em seu fazer. Em oposição, tal característica é valorizada no setor de P&D. O editorial 1 da Edição Especial contribui, também, a essa estratificação da classe trabalhadora, quando o enunciador agradece “a todos que fazem parte dessa história e que contribuíram para contar todas as novidades da Hera no I&T, este importante informativo que produzimos orgulhosamente desde 1987”. Os dois exemplos refletem o que Antunes (2011) denomina como “subjetividade inautêntica”. Embora haja o reconhecimento dos saberes investidos pelos sujeitos no exercício das prescrições postas pela organização, tanto no P&D quanto àqueles que produzem o jornal, pode-se supor que tal ênfase tenha relação com o retorno financeiro percebido doravante a ação dessas áreas. Essa realidade pressupõe que o trabalho permanece percebido como algo “estranho” e externo ao trabalhador, uma prática em prol dos interesses econômicos daqueles que dirigem a organização. Compreende-se, assim, a ausência de um olhar ressignificado, a partir da atividade, da implicação do ser como um todo

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no ambiente laboral. Supõe-se, então, a manutenção do olhar que considera irrelevante a capacidade crítica dos trabalhadores. A conversão entre o que a organização expressa quanto aos usos que faz do trabalhador e os usos que ele faz de si conduz à reflexão de que, embora se busque homogeneizar os objetivos diante de um alto volume de prescrições, tal cenário é utópico, visto que há uma pluralidade de interesses que são permanentemente negociados entre os trabalhadores, aspecto inerente à atividade. O conflito de perspectivas e a disputa de sentidos no ambiente laboral o constituem e isso é alheio à vontade da organização. Nesse sentido, estudar as relações de força que se estabelecem no trabalho é percurso fecundo à compreensão dos sentidos produzidos na e sobre a atividade, pois, conforme Morgan (2011, p. 163), “o poder é o meio através do qual conflitos de interesses são, afinal, resolvidos.” Para tanto, são considerados saberes expressos na quarta coluna do Quadro 22. O tom prescritivo adotado pelo enunciador “permite ao leitor construir uma representação do corpo do enunciador. [...] A leitura faz emergir uma instância subjetiva”. (MAIGUENEAU, 2013, p. 107). Para refletir as relações de força estabelecidas perante a enunciação do ato de linguagem da Hera, essa concepção de tom é fundamental. As asserções presentes dos discursos são, em sua maioria, declaração de determinação de conduta. A falta de oportunidades para o diálogo com os trabalhadores em função do questionamento às normas, bem como o aporte dos enunciados no modo de organização argumentativo (CHARAUDEAU, 2012a), indicam a intencionalidade do locutor no estabelecimento da hegemonia discursiva e na divulgação de uma hierarquia verticalizada. Ainda que, conforme se tenha feito anteriormente, possam-se apresentar aberturas ao uso de si por si, em suma, essa intervenção é restrita aos interesses da organização, visto a ênfase a algumas áreas e seu reconhecimento em decorrência dos resultados positivos obtidos para a organização. A tentativa de imposição de uma conduta aos trabalhadores decorre, principalmente, do exercício do poder condicionado, conforme se pode perceber nos mapas que organizam os enunciados (Apêndices A a J). Galbraith (1989, p. 30) afirma que “o poder condicionado é o produto de um continuum que parte da persuasão objetiva, visível, até o ponto em que aquilo que o indivíduo no contexto social fora levado a acreditar seja intrinsecamente correto”. Alguns excertos contribuem para esse entendimento: “[...] Como referência nacional de empresa de base tecnológica, é dever da Hera contribuir para o crescimento desta entidade [...]” (Edição 81, grifo nosso); “Mantivemos nossa tendência pioneira, nos tornando a primeira companhia do estado a ingressar neste segmento da bolsa”. (Edição 82, grifo nosso); “São estas companhias que ajudam a reduzir o grande déficit de nossa balança comercial no

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segmento de eletrônica. Não é pela mera manufatura de produtos que vamos pagar a conta do conhecimento”. (Edição 83, grifo nosso). Como pode ser percebido nesses trechos dos editoriais 81, 82 e 83, as intenções de exercício do poder da Hera fixam-se por meio do condicionamento comportamental. Referem-se a enunciados de condicionamento explícito (GALBRAITH, 1989), cujo intuito é imbuir os leitores da crença de que é uma empresa que se preocupa com o desenvolvimento social e financeiro da região onde está inserida, por exemplo. As visadas comunicativas que assumem destaque na elaboração dos enunciados permitem ao interlocutor realizar essas inferências, o que não significa persuasão diante do dito, mas seu entendimento, que pode estar em acordo ou em oposição. A visada de incitação é utilizada no intuito de atribuir ao TUi a decisão final, porém, os argumentos empregados pelo EUc influenciam a construção da interpretação, como se dissesse: “recomendamos isso, porém, você tem “liberdade” para escolher como fará isso”. O locutor visa ““mandar fazer” (faire faire), mas não estando em posição de autoridade, não pode se não incitar a fazer; ele deve, então, “fazer acreditar” (por persuasão ou sedução) ao TU que ele será o beneficiário de seu próprio ato”. (CHARAUDEAU, 2004, s. p.). A opção da Hera em atribuir ao presidente os discursos dos editoriais, com o uso de sua assinatura e sua foto, atesta a posição de autoridade, que permitiria ao locutor, por exemplo, apenas o uso da visada de prescrição, como pode ser percebido em diversos excertos apresentados anteriormente. Porém, acredita-se que a preferência por utilizar argumentos que incitam a ação, ancorando-se na visada de informação, quando o EUc “está legitimado em sua posição de saber”. (CHARAUDEAU, 2004, s. p.), deve-se a duas questões: 1) o EUc reconhece que o trabalhador (TUd) tem a oportunidade de decidir como fazer uso de suas competências em favor das normas postas; 2) apresenta uma adequação discursiva acerca do trabalho, contribuindo à percepção de Bernardo (2009) e Antunes (2009), de que ele permanece desantropomorfizado (como nas indústrias tayloristas), embora se defenda, discursivamente, o desenvolvimento humano intelectual na atividade. Sennett (2009, p. 135), que reflete sobre as organizações flexíveis, ao referenciar duas economistas, Appelbaum e Batt, contribui: “é que não mudam a natureza fundamental do sistema de produção nem ameaçam a organização básica da estrutura de poder das empresas”. O condicionamento proposto aos trabalhadores e a crença de que as prescrições atendam as necessidades interacionais dos sujeitos conduz a uma provável produção de informações no âmbito informal. Tende à promoção da insegurança e da incerteza, além do impulso aos conflitos que não contribuem à produção de sentidos sobre a atividade, mas a sua

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dispersão. As energias dos sujeitos passam a ser mobilizadas à sua proteção e luta específica por seus interesses, o que produz desgastes às relações organização-sujeito e sujeito-trabalho. Acredita-se, assim, que o olhar norteado por precauções metodológicas para análise do poder no esquema dominação-repressão (FOUCAULT, 2007)86 permita a investigação de elementos discursivos que contribuam ao entendimento da produção de sentidos sobre a atividade, nessa situação de comunicação. As organizações, observadas sob a perspectiva do trabalho, diante das noções apresentadas por Sennett (2009) e Antunes (2009, 2011) no capítulo 3, que se sustentam em nuances marxistas, podem ser caracterizadas como formas institucionalizadas de exercício do poder, visto seu interesse na determinação e conservação dos sistemas produtivos, que mantém o sujeito externo à atividade, um ser alienado de seu desenvolvimento socioprofissional em razão das imposições do ambiente. Tal proposta, porém, não se mantêm perante o olhar ergológico para o trabalho, pois o enfoque é inserir o ponto de vista do trabalho na governança da empresa “enquanto que o trabalho está no fundamento de seu funcionamento”. (DURAFFOURG et al., 2007, p. 64). Nesse sentido, ao considerar a situação de comunicação oriunda dos jornais da empresa e o interesse em “examinar como a punição e o poder de punir materializavam−se em instituições locais, regionais e materiais” (FOUCAULT, 2007, p. 102), concebe-se que o discurso prescritivo posto à interpretação de todos os interlocutores atribui a eles a autoridade para monitorar os demais. Embora se busque enfatizar o papel das lideranças quanto a essa fiscalização, uma vez divulgado o dito a todos, ele faz parte das práticas laborais e a elas traz implicações. Tais consequências tanto podem ser percebidas como benéficas aos interesses organizacionais quanto problemáticas, dados os conflitos que daí podem emergir. Um dos resultados possíveis nesse contexto, “quer dizer, onde ele [o poder] se implanta e produz efeitos reais”. (FOUCAULT, 2007, p. 102), é o estímulo à competitividade, que pode fomentar o desenvolvimento e aprimoramento dos trabalhadores, algo que é incentivado, principalmente ao setor de P&D. Porém, como a atividade dos trabalhadores da fábrica é dissociada das práticas reconhecidas e destacadas nos editoriais, o efeito competitivo pode ser diferente e suscitar disputas pessoais, por exemplo.

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Ciente da limitação do espaço da dissertação, de seu enfoque e da densidade da teoria de Foucault (2007), salienta-se que a análise aqui realizada é sintética, distante da presunção de fazer uma “análise do poder segundo Foucault”, mas com o intuito de valer-se dos pressupostos metodológicos elaborados pelo autor frente às questões norteadoras postas, visto que se entende o poder como elemento fundamental ao entendimento da construção de sentido, principalmente em um ambiente institucionalizado, como o de trabalho.

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A produção de efeitos de verdade tende a construir diversas redes que impulsionam as relações de força no ambiente laboral (FOUCAULT, 2007). Por vezes os sujeitos tendem a unir-se a diferentes grupos diante de seus interesses. Quando o locutor incita os leitores a mobilizarem seus esforços em função de sua qualificação, que implica o desenvolvimento da nação, “[...] pois só assim poderemos vencer o desafio de transformar o Brasil em um país mais equilibrado, onde nossa tecnologia seja tão importante quanto nossos recursos naturais”. (Edição Especial, Editorial 1), a possibilidade de persuasão ao orgulho do seu trabalho, e da organização, consequentemente, é ampla. Diferentemente de quando afirma: “Tudo isso não seria possível sem o trabalho duro de nosso P&D, que desenvolveu um produto que entusiasmou o mercado internacional”. (Edição 80) e tende a segregar os demais setores diante da importância à organização. A institucionalização de saberes por meio de técnicas e táticas de dominação (FOUCAULT, 2007) é facilmente vislumbrada perante o corpus em análise. Os editoriais representam uma forma de repressão comportamental perante o elevado volume de prescrições que evidenciam a intenção de uniformização da ação dos trabalhadores, além da dimensão informacional das relações estabelecidas na organização, que desvincula o diálogo das práticas bem quistas no ambiente laboral. Tal aspecto conduz à reflexão acerca do processo de sujeição (FOUCAULT, 2007) altamente controlado e desencadeado por uma perspectiva que menospreza os sentidos gerados e as interações vivenciadas por meio da atividade. Aspectos como esses levam a sugestão da determinação de perfis adequados ou inadequados à atividade e à organização, aspecto considerado na definição da identidade projetada (EUe>TUd) do trabalhador, enquanto destinatário ideal desse ato de comunicação (CHARAUDEAU, 2010a). Desse modo, o destinatário é percebido como imerso aos objetivos de negócio da Hera, seja por seu prévio interesse, seja por imposição da empresa. Só permanece quem se adéqua e busca produzir dentro dos parâmetros determinados. Pode-se supor que a classe trabalhadora é classificada em dois grupos: aqueles que pensam para a organização e aqueles que executam aquilo que fora pensado pela organização. Uma parte do público interno é percebido como essencial, enquanto a outra parte não é referenciada como tal. É provável o julgamento de que os trabalhadores da fábrica não tenham interesse no conteúdo produzido para o jornal, logo, não é necessário comunicar-se com eles por esse meio. Essa percepção se ancora na indicação de que o fazer de uns é reconhecido, enquanto a menção ao trabalho dos outros se relaciona à máquina produzida. Em ambos os casos, interessa apenas o resultado da ação, não a atividade em si.

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As Articulações A e B orientam a construção de mapas de possíveis interpretativos perante categorias temáticas que caracterizam a atividade e apresentam o contexto que a envolve. Dos editoriais foram extraídos sentidos que produzem o ambiente laboral, seja a partir da identificação de imbricações da cultura a cultura organizacional, seja perante elementos ideológicos reproduzidos com base nas estratégias da organização e a manifestação de sua intencionalidade quanto ao envolvimento dos públicos às suas decisões. Desse modo, pode-se encaminhar a etapa final da análise, que é norteada pela Articulação C e propõe sintetizar os sentidos acerca da atividade com base nas três categorias teóricas centrais deste estudo: comunicação organizacional, cultura organizacional, linguagem e trabalho. Com esse desígnio, prossegue-se a reflexão e a construção do Mapa de Saberes Investidos pela pesquisadora. 6.2 FASE 3: O MAPA DE SABERES INVESTIDOS E OS SENTIDOS DA ATIVIDADE Da contemplação às categorias temáticas especificadas nas Articulações A e B, buscou-se apresentar os principais possíveis interpretativos referentes aos sentidos da atividade. O enfoque esteve em avaliar as tentativas de imposição comportamental da organização, os usos que o sujeito faz de si e as forças mobilizadas nesse encontro. Nessa fase final da análise, além da busca por uma síntese frente o objetivo proposto, opta-se pela delimitação das categorias centrais do estudo e da análise teórico-ergo-discursiva. Do ato de linguagem, cujas interpretações foram anteriormente construídas e debatidas, é viável a apresentação da percepção da organização acerca da comunicação organizacional e da cultura organizacional, por meio dos fundamentos da linguagem e trabalho, conforme pode ser observado o Quadro 22. Além desses apontamentos, sugerem-se, na sequência, contraposições a essas disposições, sustentadas nas perspectivas interacional da comunicação e da atividade.

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Quadro 22 - O Ato de Linguagem da Hera: mapa de saberes investidos

Fonte: elaborado pela autora

O Quadro 22 sintetiza os possíveis interpretativos emergentes do ato de linguagem da Hera em seus editoriais do jornal da empresa. No que implica a comunicação organizacional, diante da ênfase às prescrições é preponderante a perspectiva instrumental investida. Alguns excertos do editorial 1 da Edição Especial (grifo nosso) também complementam essa afirmação: “[...] E gostaria de utilizar este espaço, que sempre proporcionou um canal de comunicação direta com todos aqueles que têm alguma relação com a Hera, para agradecer. [...] Agradeço a todos que fazem parte dessa história e que contribuíram para contar todas as novidades da Hera no I&T este importante informativo que produzimos orgulhosamente desde 1987”. Destaca-se desses enunciados, que valem-se do modo descritivo (CHARAUDEAU, 2010a) para estruturarem-se, as qualificações atribuídas ao jornal e que enquadram a comunicação enquanto difusora de saberes constituídos (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007) e desconsideram sua dimensão interacional, que contempla os sentidos daqueles que leem e interpretam os ditos. Os enunciados selecionados em apoio às demais asserções, que indicam as prescrições como fundamento da comunicação, aproximam-se de duas abordagens da comunicação organizacional apresentadas por Deetz (2010). À luz da abordagem gerenciamento e comunicação estratégica considera-se que “o significado está localizado em algum lugar, sendo o trabalho da comunicação distribuí-lo”. (DEETZ, 2010, p. 88). No caso sob análise, o significado é posto pela organização nas normas de conduta instigadas por narrativas modelo, como é o caso do editorial 2 da Edição Especial, ou na tentativa de uma hegemonia discursiva com o uso de enunciados no modo enunciativo elocutivo e função

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elocutiva (CHARAUDEAU, 2010a), cujo propósito principal é a expressão dos pontos de vista da organização em prol do engajamento dos trabalhadores. A presença do modo argumentativo também sustenta a comunicação sob uma ótica prescritiva, pois se embasa especialmente na dedução e na explicação (CHARAUDEAU, 2010a). Pode-se exemplificar o uso dessas estratégias comunicativas com os enunciados que constam no Quadro 23: Quadro 23 - Dedução Explicação: modo argumentativo e a comunicação informacional

Fonte: elaborado pela autora com base nas Edições 80 (esquerda) e 77 (direita) do Jornal Informando & Trabalhando (I&T)

Os dois enunciados presentes nos jornais da empresa, representados no Quadro 23 exemplificam a tentativa de estabelecer a comunicação de forma unilateral, em que asserções argumentativas propiciam um fechamento de ideias e discussões sobre os assuntos apresentados. As possibilidades de interpretação dos destinatários estão inseridas nos significados que estão determinados nos editoriais. A organização parte do pressuposto de que todos concordam e sentem-se confortados ao saber que os trinta anos de história da Hera devem-se às suas qualificações e capacidade de inovar. Outra abordagem apresentada por Deetz (2010) corrobora com as expectativas de êxito prescritivo da organização. Trata-se da comunicação e gerenciamento cultural, cujo destaque está no domínio da gestão e no seu potencial de delimitação da ação dos sujeitos. “As organizações, vistas dessa perspectiva, são entidades criadoras de significados que modelam maneiras específicas de entendimento”. (DEETZ, 2010, p. 90). Essa interpelação tem relação direta com a categoria temática da Articulação A, Cultura Organizacional. A ideia

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de Geertz (2008) sobre os mecanismos de controle e orientação de conduta converge a essa abordagem apresentada por Deetz (2010), e pode-se citar a comunicação em favor da elaboração de parâmetros entre o que é, ou não, adequado. A perspectiva da comunicação adotada pela Hera é tradicional e embasa-se no modelo de transmissão de informação, realidade que ampara a percepção de Fígaro e Rebechi (2013) quanto ao isolamento das dimensões do mundo do trabalho e do mundo da empresa, visto que os interesses são opostos e a intenção do trabalhador é atropelada pelos inúmeros significados que se intenta impor. “A comunicação interna desenvolve-se como uma resposta à expectativa de empregadores e gestores em racionalizar a comunicação de maneira a estabelecer um controle social dos trabalhadores nas organizações”. (FÍGARO; REBECHI, 2013, p. 9). Porém, compreende-se que ambas as faces implicam a mesma “moeda”, ou seja, a comunicação não está a serviço dos interesses de uns em função de outros, mas é um processo que permeia e conecta todos os envolvidos no processo laboral. É nesse fluxo difuso da construção de sentidos que se busca investir saberes. A quarta abordagem apresentada por Deetz (2010) comunicação e democracia participativa propicia essa conexão, uma vez que reconhece a dimensão relacional da comunicação e admite que os interesses de trabalhadores e da organização podem ser envolvidos e negociados. Nesse sentido, também convergem os posicionamentos de Baldissera (2009b, 2014) acerca da comunicação organizacional enquanto construção e disputa de sentidos. Exemplifica-se, na Figura 15, a complexidade do processo comunicacional em oposição à perspectiva informacional que a organização adota na relação com os trabalhadores. Figura 15 - Construção e Disputa de (alguns) Sentidos

Fonte: elaborada pela autora

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A Figura 15 apresenta alguns possíveis questionamentos que podem vir a mente do sujeito interpretante (TUi) em um momento da leitura, que é o primeiro enunciado do editorial da Edição 83. A relação com o contexto exterior ao mundo do trabalho, com o evento “mundial” pode trazer uma leveza ao tom utilizado pelo enunciador (MAINGUENEAU, 2013) para inferir algo que deseja informar: a Hera não está preocupada com essa “copa do mundo”, mas com a “copa da tecnologia da automação”. Ao utilizar essa estratégia tanto é possível envolver o interlocutor nesse propósito, como se pode incitar sentimentos patrióticos relacionados aos jogos da seleção, mas que pouco estão relacionados à “copa da automação”. Muitos sentidos são acionados com a locução “criar produtos que surpreendam”, pois o leitor pode relacionar sua atividade com as criações da empresa ou vinculá-la a simples reprodução daquilo que é determinado por setores tidos como estratégicos. Assim, a criação que está relacionada no incremento de vendas e no oferecimento de produtos aos clientes, pode incitar desmotivação aos sujeitos que não percebem sua atividade perante esses critérios. Esses são alguns exemplos da complexidade envolvida pelo comunicar em oposição ao tratado como produção e difusão de informações. Sendo inviável, devido ao número de sujeitos envolvidos, averiguar os sentidos articulados no processo interpretativo dos discursos, as organizações precisam prover, ao menos, meios de dialogar com seus interlocutores, aceitar a diferença como algo fundante de todas as relações, o que inclui a relação sujeito-trabalho. Nesse caso, “o conflito desliza do seu lugar negativo e tende a assumir o sentido de ser desencadeador de reflexão e inovação, desde que admita o diálogo”. (BALDISSERA, 2008, p. 172). Acredita-se que a perspectiva interacional da comunicação (BALDISSERA, 2008; OLIVEIRA; PAULA, 2008) propicia ao trabalhador uma relação íntima com seu fazer, que por vezes é visto de forma mecânica. Como benefícios, pode-se indicar a possibilidade de valorização da atividade daquele que a realiza, o que o levará a buscar formas de aprimorar seus feitos, como um desafio pessoal, por exemplo. “As organizações se deparam com o papel ativo dos atores internos e sua interferência nos processos e estratégias organizacionais” (OLIVEIRA; PAULA, 2010, p. 230) e podem, então, melhorar seus processos a partir de ideias advindas de seu próprio cotidiano, das interações sujeito-trabalho e sujeito-ambiente laboral. Ignorar esses indícios tende a gerar desvinculações negativas, fundamentadas em questões pessoais, deslocando o interesse na atividade, motivo de contratação do trabalhador. Tal aspecto tem relação direta com a segunda coluna do Quadro 23, que implica relação linguagem e trabalho. Esse âmbito se refere a uma possível estratégia para incluir a dimensão do trabalho aos estudos da comunicação organizacional. Com diálogo proposto

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entre Baldissera (2009b, 2014) e Nouroudine (2002), finaliza-se a análise do corpus em face das inferências resultantes desse embate conceitual. A escolha dos editoriais de jornal da empresa como materialidade à análise dos possíveis interpretativos nos sentidos sobre a atividade pode ter incidência na característica que marca o ato de linguagem da Hera: as prescrições. Refere-se à dimensão da organização comunicada (BALDISSERA, 2009b, p. 119) que congrega os “processos formais e, até, disciplinares, da fala autorizada; àquilo que a organização seleciona de sua identidade”. Em associação com a modalidade da linguagem como trabalho (NOUROUDINE, 2002), essa dimensão da comunicação pode revelar aspectos referentes à multidimensionalidade da atividade perante os aspectos estratégicos do ato de linguagem. Diante da análise semiolinguística, assume evidência o uso da visada de informação na construção dos enunciados, cujo intuito é “significar o verdadeiro [...] produzir um valor de verdadeiro”. (CHARAUDEAU, 2012a, p. 88). Nesse caso, perante o corpus analisado, destacam-se como propósitos comunicados pela organização a internacionalização, a nova era que se instaura após os festejos de 30 anos e as prescrições para realização da atividade. A Hera organiza seu discurso principalmente diante dos modos descritivo e argumentativo, para expressar seu ponto de vista ante o contexto e no modo argumentativo, a fim de apresentar argumentos que justifiquem suas asserções (CHARAUDEAU, 2010a). Assim, perante a dimensão da organização comunicada é possível indicar que a organização experimenta um período de transição. Seja pela necessidade de “manter o nível de produtos e serviços, como também aumentá-lo”, pela listagem da empresa no Bovespa Mais, que “possibilita uma tranquila adaptação às exigências do mercado de ações”, inferências à atividade são representadas nessa situação de comunicação. O segundo ponto de diálogo entre as concepções das modalidades da linguagem por Nouroudine (2002) e das dimensões da comunicação em Baldissera (2014) tange o aspecto interacional e vincula-se à análise da comunicação organizacional realizada anteriormente. Ratifica-se a ideia de que a restrição às interações no ambiente laboral não as eliminam, mas estimulam a transgressão. Consideradas como anomalias frente ao que consenso proposto pela organização, as interações não merecem atenção (MARTIN, 2004). A organização toma suas decisões e desconsidera as implicações que tendem a trazer ao cotidiano laboral. “A característica comum a estas decisões é que elas são tomadas na mais perfeita ignorância de suas consequências sobre o trabalho!”. (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007, p. 64). Esse aspecto referencia muitos dos sentidos atribuídos à atividade perante o ato de linguagem da Hera, conforme digressões relacionadas principalmente com base na Articulação B. Ante o exposto

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até aqui, percebe-se que a linguagem no trabalho, refletida a partir da dimensão da organização comunicante, é restritiva, desconsidera os aspectos simbólicos da gestão que o trabalhador realiza na atividade, assim como tende a limitar o investimento de saberes à área de P&D. A atenção à modalidade da linguagem sobre o trabalho (NOUROUDINE, 2003) que implica interpretações sobre a atividade perante comentários elaborados sobre a organização, em sua dimensão falada (BALDISSERA, 2009b), trata das percepções da pesquisadora às quais foram inferidas ao longo da análise, neste capítulo da dissertação. Como síntese dos apontamentos, sugere-se que a Hera está distante de aceitar a perspectiva ressignificada do trabalho, mantendo-o como execução de tarefas prescritas pela gestão. A tomada de decisão organizacional é embasada em dados do mercado e demonstra certo desinteresse às implicações no cotidiano organizacional, visto que considera que aqueles que para ela trabalham devem adequar-se aos padrões estabelecidos. A organização percebe seus trabalhadores como conjuntos de habilidades enquadradas em perfis considerados adequados, sendo a singularidade elemento irrelevante nesse processo. As observações sobre o trabalho relacionam-se, ainda, com os aspectos relevados na terceira coluna do Quadro 23 que contempla à cultura organizacional. Ante os editoriais é possível identificar a verticalização de posições entre líderes (para usar o termo presente nos editoriais dos jornais de empresa) e liderados. Associada às práticas comunicativas informacionais, está a perspectiva da integração (MARTIN, 2004), que pode ser identificada no ato de linguagem da Hera. O volume de prescrições expressa a clareza com a qual a organização pensa tratar seus processos, enquanto as lideranças têm como função a disseminação e fiscalização das normas bem como seu cumprimento, o que garante o consenso entre os sujeitos, visto que os diferentes sentidos relacionados à atividade são desconsiderados em prol daquilo que a organização divulga como adequado. Pode-se também identificar a perspectiva da diferenciação (MARTIN, 2004) frente o ato de linguagem da Hera, dada a exaltação de algumas áreas em relação a outras, como refletido com base na Articulação B. Entre os trabalhadores do P&D, por exemplo, atribui-se uniformização de comportamentos: trabalhar duro, estudar e renovar os produtos, etc. Aos trabalhadores da fábrica são incentivadas outras condutas, não expressas pelos editoriais, o que leva a crer que são diferentes das declaradas. Foram-se duas subculturas: o P&D e os trabalhadores da fábrica. Uns percebem a atividade dos outros como inferiores ou superiores. Nesse ponto, o foco da atividade perde-se em função de suas diferenças, quando ambas são fundamentais para que um dos objetivos principais da empresa possa ser atendido: “vencer e

155 satisfazer o cliente”. Contrária a esse entendimento, a organização cria também uma hierarquia entre elas, sendo a relevância aos negócios posta em uma balança, como forças iguais. A diferença é negada e conflitos negativos tendem a ser instaurados, visto que, pautados por questões particulares entre fulano e beltrano, que refletem as escalas de importância expressas pela organização. As prescrições também estão em acordo com o proposto por Daft e Weick (1984) acerca da criação de mecanismos para orientar a interpretar os sentidos. Uma vez que os significados que se deseja comunicar são claramente expostos e registrados nos jornais, a organização determina o que cobrará de seus trabalhadores que, em contrapartida, sabem quais padrões devem seguir se pretendem pertencer àquele ambiente. Oliveira e Paula (2008) podem colaborar com essa perspectiva, pois para as autoras, por vezes as organizações são ordenadoras de sentidos e expressam as ordens por meio de manuais ou, no caso deste estudo, em jornais da empresa. “Quando colocado em ação, o código de ética [ou os jornais, com sua vasta normalização] não só regula e ordena as relações, como também prevê a possibilidade de surgirem outras versões e novos sentidos”. (OLIVEIRA; PAULA, 2008, p. 104). As propostas de Daft e Weick (1984) diferem de Oliveira e Paula (2008) em função de não considerarem essas “outras versões e novos sentidos”, mas prezarem pelo papel das lideranças na propagação e vigilância do cumprimento das questões postas. Aproxima-se, assim, da realidade do caso em análise. A análise do corpus selecionado para este estudo permite a séria relação com o conhecido bordão de José Abelardo Barbosa de Medeiros, Chacrinha: “quem não se comunica, se trumbica”. O ato de linguagem da Hera manifesta três atributos que a impossibilitam de uma perspectiva ressignificada do trabalho: a instrumentabilidade atribuída ao processo comunicação, que posiciona os sujeitos como peças em favor do que é homogêneo; as prescrições que encarceram as interações e intentam uma uniformização de ação; e, por fim, a crença de que as lideranças podem ser determinadas e impor os valores e princípios perante os significados que são modalizados pela organização em sua dimensão comunicada. Nesse sentido, olhar a atividade implica repensar todo o sistema produtivo e estrutural das organizações, perante uma drástica inversão de perspectiva. Quais os custos relacionados a isso? Quais implicações podem estar envolvidas? Enquanto o pensamento organizacional enfoca a linearidade e planificação plena das relações e interações, “trumbicar” continua sua constante e comunicar, o seu maior desafio.

156 7 QUE SEGREDOS, AFINAL, PODE ‘HEFESTO’ CONSIDERAÇÕES RUMO A UM PONTO (QUASE) FINAL

REVELAR?

“Dessa forma, insisto, o mundo do trabalho é um mundo no qual também cabe a alegria, a fruição”. (CORTELLA, 2014, p. 16)

A linha de chegada à jornada rumo aos enigmas de “Hefesto” aproxima-se. Sentimentos nostálgicos já acompanham o percurso final na construção dessa obra. Uma breve reflexão sobre os “segredos revelados” vem à mente e permite apontar algumas considerações para caminhadas futuras. Da proposta de olhar para o trabalho enquanto obra, poiesis grega, atividade que congrega toda a complexidade e subjetividade humana, que transforma e é também transformada as interações entre os sujeitos, o enfoque esteve em relacionar a comunicação nesse processo. Discursos, saberes e sentidos articulados com o desígnio de garantir ao trabalhador seu espaço no “Olimpo”, na possibilidade de ter reconhecida sua ação transgressora e criadora, fundante das práticas organizacionais. As questões que nortearam a constituição e o investimento dos saberes da autora, ancoram-se em três noções: cultura, comunicação e trabalho, cujo diálogo permite vislumbrar sentidos da e na atividade. A cultura organizacional da Hera tem como centro o papel das lideranças na condução das tarefas, avaliação das competências e comportamentos prescritos no planejamento da empresa. A relação estabelecida com os trabalhadores está baseada no exercício do poder compensatório e na modalização da representação identitária deles. Uma classificação binária é utilizada na composição da classe trabalhadora: os que pensam e os que executam. Na perspectiva da cultura, a Hera é um bloco monolítico, com hierarquia verticalizada e padronização de condutas. O ato de linguagem da Hera contextualiza a atividade a partir do uso de si pelo outro perante a prescrição de normas e tarefas (saberes constituídos) a serem executadas pelos trabalhadores. Reconhece, mas não incita o uso de si por si, resultando no cerceamento da produção de renormalizações e de saberes investidos. As escolhas enunciativas que compõem os editoriais neutralizam a produção de um olhar ressignificado ao trabalho, visto as práticas comunicacionais lineares que desconsideram as interpretações e interações emergentes do cotidiano do ambiente laboral. A pesquisa foi orientada pelo propósito principal de identificar e analisar possíveis interpretativos que influenciam a construção de sentidos sobre a atividade laboral, mediante os saberes constituídos enunciados no ato de linguagem em editoriais do jornal da empresa Hera. Nesse sentido, destacam-se os resultados que relacionam os três eixos centrais do

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estudo: cultura, comunicação e trabalho. A cultura da empresa é prescritiva e centra na figura das lideranças a difusão de normas e prescrições. A partir dos elementos ideológicos e interesses, conflitos e poder esclarecidos por Morgan (2011), a Hera é reconhecida por intentar uma ideologia unicista, visto a hierarquia verticalizada e o enquadramento das interpretações dos enunciados dos editoriais perante os significados determinados pela organização. A esses registros, converge a descrição da cultura sob as perspectivas da integração (MARTIN, 2004), diante de uma tentativa de uniformização das práticas de trabalho, e diferenciação, com estímulo à formação de subculturas dada a segregação de importância entre as áreas. A comunicação é tratada como ferramenta de reprodução de informações sob um ponto de vista linear. Duas perspectivas apresentadas por Deetz (2010), destacam-se na caracterização dos processos comunicativos no caso estudado: gerenciamento e comunicação estratégica e comunicação e gerenciamento cultural. A concepção de gerenciamento atribui uma possibilidade de controle total das interações e produção de sentidos oriundas das relações de comunicação que constituem a organização. A adoção da noção de atividade para estudar o trabalho exige que se busquem alternativas que transcendam esse enquadramento utópico, visto que uma gestão do sujeito por si mesmo é uma variável que faz parte das práticas laborais. Esse aspecto é o que garante ao trabalho o reconhecimento da ação humana, transgressora e comunicativa. O reconhecimento dessas particularidades implica a conjunção das propostas de Baldissera (2009b, 2014) e Nouroudine (2002) com a finalidade de desenvolver um olhar de apoio à análise dos discursos organizacionais. Como resultados principais da conversão entre as dimensões comunicada, comunicante e falada da comunicação organizacional e as modalidades da linguagem no, como e sobre o trabalho, destaca-se o volume de prescrições empregado pela Hera no momento de transição que enfrenta diante de sua meta de expansão mundial após celebrar seus 30 anos. As possibilidades para interação são reduzidas e a tomada de decisão dos gestores não aprecia possíveis implicações ao ambiente laboral, o que tende a estimular transgressões às normas postas e, assim, produzir elementos simbólicos que, se considerados, poderiam contribuir com o processo estratégico da empresa. Porém, os trabalhadores são percebidos como conjuntos de habilidades que podem ser enquadrados em padrões adequados, ou não, aos objetivos prescritos. Desse modo, ao cercear a dedicação das experiências (saberes investidos) dos sujeitos à sua atividade, limita-se a capacidade inovadora dos sujeitos.

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A estruturação da dissertação foi desencadeada a partir de quatro objetivos específicos, a começar pela articulação das noções de cultura, de cultura organizacional e de identidade. As breves ponderações acerca do mundo do trabalho e do contexto mundializado, que envolve as organizações, introduzem a concepção de cultura enquanto processo (CUCHE, 1999) que é construído pela ação dos sujeitos ao mesmo tempo em que os constrói (GEERTZ, 2008) por meio do trânsito simbólico que conecta coletivo e individual. Essa conexão subjetiva é mobilizada por manifestações linguageiras, que expressam as diferenças entre eu e o outro. As estratégias discursivas utilizadas pelo EU têm como foco o envolvimento do TU em seu projeto de fala. É o que intentam as organizações e também os trabalhadores, em seu cotidiano, o que estabelece a cultura organizacional. A observação dos fenômenos contemporâneos, como os referidos por Bauman (2007) e Ortiz (1998), conduziu a busca de possibilidades reflexivas para a ressignificação do trabalho. Do percurso histórico abordado no capítulo 3, chegou-se à Ergologia (SCHWARTZ; DURRIVE, 2007) e à concepção de atividade laboral, cuja abordagem contempla o encontro entre saberes constituídos e investidos e atribui ao trabalhador a gestão de seu fazer perante suas escolhas nas situações que vivencia no ambiente laboral, sempre únicas e permeadas por variáveis pessoais e coletivas. As considerações de Cortella (2014) também contribuem à construção de um olhar atualizado para o trabalho, com a sugestão da transição do sacrifício à obra. Percebeu-se, então, que a ressignificação do trabalho passa por compreender como a comunicação organizacional influencia a produção de sentidos no ambiente organizacional a partir dos múltiplos discursos aí tensionados. De uma perspectiva linear é necessário mover-se em prol de incluir as interações entre os trabalhadores aos horizontes da comunicação, por meio da atividade por eles realizada. Nessa ótica, são assumidas como relevantes linhas no tecer da teia de sentidos que acarretam consequências aos produtos e serviços ofertados pela organização.

Os

pressupostos

da

teoria

Semiolinguística

de

análise

discursiva

(CHARAUDEAU, 2010a, 2012a) vêm ao encontro da proposta de análise dos discursos organizacionais emergente do diálogo entre Baldissera (2009b, 2014) e Nouroudine (2002), pois enfatiza a ação do sujeito por meio dos enunciados comunicados e provém o embasamento necessário para que possam ser entendidos os significados que transitam e transformam as organizações. Dentre as possíveis construções de sentido sobre a atividade apresentadas nos editoriais do jornal da empresa, evidencia-se que as estratégias discursivas do Ato de Linguagem da Hera ancoram-se principalmente na visada de informação, no modo

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enunciativo, função elocutiva, e nos modos argumentativo e descritivo (CHARAUDEAU, 2010a, 2012a). Essas características discursivas supõem que a organização considera-se detentora da produção de sentidos, tendo como base as orientações de conduta no exercício da atividade. A modalização da relação trabalhador - organização por meio do exercício do poder condicionado contribui com essas considerações, visto que são explícitos os benefícios a quem adéquam-se às determinações. Porém, mesmo nesses casos, acredita-se que o uso das prescrições mantém o sujeito em uma condição alienada, externa do que ele mesmo produz, seu trabalho (ANTUNES, 2011). A empresa propõe-se como produtora de verdades às quais não se abre a possibilidade de questionamento. Dessa forma, o processo de sujeição (FOUCAULT, 2007), de representação da identidade (SILVA, 2013; HALL, 2003) é influenciado por uma tentativa de controle total de atitudes. A ampliação do escopo dos estudos que relacionam comunicação e trabalho e a proposição de uma nova fonte para o desenvolvimento de pesquisas da comunicação organizacional estão entre as colaborações desta dissertação. A reconfiguração da lente sobre o trabalho faz emergir respostas às já conhecidas problemáticas relacionadas à comunicação interna87, assim como dá amplitude à ação das organizações na sociedade principalmente quanto às interações socioculturais. A interdisciplinaridade que permeia o estudo como um todo também merece destaque, pois garante a aproximação de contextos por vezes afastados, mas que se vinculam a um mesmo contexto, como é o caso dos três eixos de estudo: cultura, comunicação e trabalho. Entre as contribuições que o estudo traz, destaca-se a apresentação de possibilidades de pensar a comunicação sob seu enfoque interacional-discursivo, com foco nos sentidos sobre a atividade produzidos pelos trabalhadores. Dos múltiplos sentidos que podem ser conferidos perante a leitura do corpus selecionado, o trabalho apresenta apenas alguns possíveis interpretativos, dadas as limitações desse espaço. Porém, o aparato teóricometodológico desenvolvido pode orientar outras pesquisas, cuja ênfase esteja na produção de sentidos e na centralidade da ação do sujeito, produtor e produto social. Por último, reafirmase a importância de um olhar ressignificado ao trabalho a fim de reconhecer a complexidade do agir humano e incentivar o desenvolvimento contínuo dos sujeitos perante a ação reflexiva imbricada a toda atividade laboral.

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Como exemplo cita-se a realização de campanhas de motivação dos funcionários ou a conquista de adesão dos trabalhadores às pesquisas de clima, dentre outras ações pontuais que são caracterizadas como inclusivas, mas que desconsideram as interações cotidianas do ambiente laboral.

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Devido a tratar-se de uma temática que abre muitas portas para investigação, apresentam-se aqui algumas sugestões para estudos futuros. A primeira emerge de uma limitação encontrada na realização da pesquisa. Embora o corpus selecionado tenha permitido avanços, acredita-se que resultados ainda mais contundentes ao objetivo proposto podem ser encontrados perante a aplicação de técnicas etnográficas ou mesmo entrevistas junto a esferas organizacionais específicas. Por exemplo, considerar a percepção dos gestores de nível estratégico sobre a atividade da classe trabalhadora e seu próprio fazer laboral. Quanto aos gestores em nível tático, pode-se avaliar o ponto de vista daquele recebe prescrições, mas que tem como missão comunicar-se com seus subordinados, provendo a eles prescrições. E por fim, o campo operacional demonstra-se desafiador aos pesquisadores, pois contempla uma classe por vezes menosprezada e que, por isso, pode relacionar-se de forma mais estranhada (ANTUNES, 2011) com seu trabalho. Como se pode perceber no caso em estudo, as organizações privilegiam algumas áreas enquanto neutralizam a importância de outras. Essa realidade propõe outra possibilidade para novos estudos, com enfoque nas relações de força desempenhadas por esses papeis. A análise do discurso de Charaudeau (2010a, 2012a) contribui também a essa oportunidade, visto seu enfoque na intencionalidade dos sujeitos na elaboração dos enunciados que são verbalizados. Desse modo, sugere-se a manutenção de pesquisas interdisciplinares para o entendimento de realidades tão complexas quanto às organizações. O excesso e a velocidade contemporâneos (LIPOVETSKY, 2007) produzem múltiplas hibridizações de sentidos sobre a atividade, que o olhar gerencial pode desconsiderar significativos movimentos que implicam seu sucesso ou desastre. “Hefesto” e seus enigmas. Manifestação da singularidade e da intelectualidade vinculada ao fazer fabril e desmoralizado pelos deuses. A Hera e seu ato de linguagem. O trabalho como expressão de disputas entre os trabalhadores, como produto com mero valor comercial. A inteligência posta na máquina e o desprezo às implicações da interação máquina ao sujeito. Que assim como “Hefesto” também nós, trabalhadores, saibamos edificar nossa obra, mas que em oposição ao caminho por ele adotado aprendamos a reconhecer nosso potencial e isso implique romper com o individualismo e estabelecer vínculos profícuos em prol de uma sociedade mais inclusiva, em que “EU” e o “OUTRO” engrandeçam-se mutuamente.

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171

APÊNDICES

172 APÊNDICE A - Articulação A: Circunstâncias de Discurso X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional (continua)

77

"posição de destaque no mercado"; "estamos preparados para o futuro, conquistar novos mercados, ultrapassar barreiras, ser referência mundial"

78

"Os produtos e soluções desenvolvidas pela Hera são recheados de conhecimento e conhecimento gera a capacidade de competir" [...] "Ficamos muito felizes por ter reunido na Hera mais de 350 profissionais, altamente qualificados, com muita vontade de mostrar que é viável fazer por aqui o que fazem no exterior engarrafar de forma metódica conhecimento em produtos."

Circunstâncias de Discurso

Cultura

Edição Especial – Ed 1

Ed.

"Comemorar os 30 anos da Hera nos faz refletir sobre o ambiente que, em 1982, eu e o Beltrano, fundamos a empresa." [...] "Nossa diversidade de operações é alta. Desenvolvemos desde chips até soluções para plataformas de petróleo"

Elementos ideológicos

Cultura Organizacional Mecanismos de conduta

Saberes "pessoas que dedicaram entusiasmo, coragem e disposição" (Reconhecimento das renormalizações e da singularidade da atividade) [...] "Esta edição trará informações sobre o prêmio mundial de design iF Product Design Awards 2012, recebido pelos Controladores Programáveis da Série ABC." [...] "[...] onde serão expostas a configuração e o gerenciamento dos pontos de entradas e saídas em redes PROFIBUS-DP." (enfoque normativo dos enunciados e do jornal- formalização/ dimensão conceitual)

"Iniciamos um ano muito especial para a Hera, em que completamos 30 anos." [...] "graças ao trabalho de muitas pessoas que dedicaram entusiasmo, coragem e disposição."

"A história da Hera demonstra que desenvolvemos as bases necessárias para novas conquistas: profissionais qualificados, produtos de classe mundial, soluções tecnológicas e inovadoras e excelência em gestão"

"Hoje é necessário colocar nossa inteligência dentro da máquina e a máquina dentro da indústria. É isso que estamos fazendo"

"Esta edição do Informando & Trabalhando comemora o sucesso da Hera em um momento em que consolidamos a fábrica de painéis e que recebemos o prêmio Inovação RS 2012 nas dimensões Liderança e Estratégia, pelo segundo ano consecutivo."

"Passaram os tempos em que uma indústria podia competir baseada em comandos manuais. Hoje é necessário colocar nossa inteligência dentro da máquina e a máquina dentro da indústria" [...] Essa fábrica produz painéis de automação, equipamentos para fazer que qualquer processo industrial moderno seja viável. Esses painéis são o cérebro de complexos sistemas"

"Isso exigiu dois esforços básicos: dominar as tecnologias de informática e dominar as tecnologias de gestão." [...] "A missão de nossas empresas é hoje também ajudar a formar mais profissionais qualificados, pois só assim poderemos vencer o desafio de transformar o Brasil em um país mais equilibrado, onde nossa tecnologia seja tão importante quanto nossos recursos naturais"

"Como a Hera, outras empresas surgiram, mostrando o espírito empreendedor e provando que podemos sim avançar em novos mercados, onde a tecnologia e a inovação são a lógica de criação de valor." [...] "Comemorar os 30 anos da Hera é um dos momentos mais gratificantes da vida" [...] "Aproveite a leitura desta edição que foi carinhosamente desenvolvida para festejar os 30 anos”

"Esses dois esforços foram se aprimorando e hoje são executados por mais de 350 profissionais, altamente qualificados, que nos proporcionam a certeza de que podemos muito mais, e com mais velocidade." [...] "dedico meus mais sinceros agradecimentos a todos que nos ajudaram e continuam confiando em nosso propósito de crescer neste mercado."

173

Edição Especial - Ed2

(continuação)

[...] "Hoje a empresa, com 30 anos, se joga para o futuro. Precisamos solidificar tudo o que foi feito até aqui e me preocupo muito com isso"

80

"Uma nova era se inicia para nossa empresa. Depois de três décadas, somos referência no mercado" [...] "Agora o momento é de expansão da marca para outros continentes. Com esse objetivo consolidamos nossa parceria comercial com a empresa Beijer Electronics, da Suécia, que também se torna acionista minoritária da Hera " [...] "Nosso crescimento global vai diretamente ao encontro do Programa Brasil Maior e da Associação P&D Brasil."

[...] na importância de não esquecermos nunca um dos principais valores da Hera: pessoas felizes. [...] Por outro lado nós mesmos devemos nos comportar de forma a demonstrar nosso estado de espírito" [...] "principal atitude no trabalho: estar de bem com a vida"

"O Brasil sabe que a Hera é uma empresa extremamente competente" [...] "Aqui, contamos com profissionais qualificados."

"[...] e eu levantava muito cedo [...] Saía em cedo num Gol branco a visitar clientes de forma frenética" [...] "Invoco este período [...] na importância de não nos esquecermos nunca um dos principais valores da Hera: pessoas felizes." [...] "[...] lembro muito de pessoas felizes ao meu redor independente das enormes dificuldades da época."[...] "[...] acreditando em pessoas felizes, não tenho dúvida que vamos continuar performando, crescendo, sendo admirados por nossos amigos e alimentando nossos relacionamentos." [...] "Atitudes generosas e um desprendimento pessoal [...] vão ampliar nosso potencial de empresa e nos fazer ser cada vez mais a empresa que evolui"

"[...] eu cultivava o conhecimento de vendas e o de conhecer pessoas que depois viriam a se tornar amigos, clientes." [...] "Definidas as metas e ações a serem atingidas para cada time, que as lideranças destes levem em conta que para atingirmos isto a atitude de estar de bem com a vida, que significa o sorriso fácil, o elogio frequente, o alerta jocoso e um espírito otimista, esteja sempre presente no ambiente de trabalho."

"[...] que dedicam seu tempo na criação de soluções inovadoras com tecnologia de ponta."

"Ambos [programa e associação] fomentam a indústria brasileira e incentivam a evolução das empresas nacionais com o desenvolvimento de produtos sofisticados e competitivos no mercado em que estão inseridos." [...] "[...] como a matéria da série ABC e sua nova produção [...], sobre nossa nova linha de UTRs, Série HX, além de um artigo técnico sobre o BP."

174 (conclusão)

81

"Em meio a este momento de expansão global da Hera" [...] "Estamos nos preparando para ingressarmos no Bovespa Mais" [...] "Em setembro os controladores programáveis da Série ABC vão começar a ser comercializados pela Beijer Electronics no mercado escandinavo" [...] "Só assim poderemos ter um país mais próspero e soberano tecnologicamente"

82

"O começo de uma nova fase da Hera ficou simbolizado com a cerimônia de listagem da nossa empresa no BOVESPA MAIS." [...] "também traz uma matéria sobre os 60 anos da Petrobrás" [...] "É uma honra podermos dizer que desenvolvemos soluções para eles há mais de 20 anos"

83

"Assim como a seleção brasileira se prepara para o mundial, a Hera trabalha para a copa da tecnologia de automação." [...] "O Brasil se preparou para esse momento. São décadas de políticas de desenvolvimento, como a Lei de Informática, que contribuíram para criar empresas com domínio de tecnologia." [...] "Para a Hera, esse ano será igual apesar da copa e das eleições"

"Para nossa empresa, o Bovespa Mais representa a melhor maneira de entrarmos nesse segmento de negócios, pois nos possibilita a tranquila adaptação às exigências do mercado de ações." [...] "Outra frente na qual estamos atuando é a Associação P&D Brasil, da qual sou presidente. Como referência nacional de empresa de base tecnológica, é dever da Hera contribuir para o crescimento desta entidade que visa aproveitar competências presentes nas empresas, nos meios acadêmicos e na sociedade." "Mantivemos nossa tendência pioneira" [...] Nossa última edição do ano traz também uma matéria sobre os 60 anos da Petrobrás e o relacionamento da Hera com a maior estatal brasileira. [...] Isso significa dizer que fazemos, orgulhosamente, parte de um terço desta história de seis décadas" [...] Juntas, Petrobrás e Hera [...]" [...] "A Hera, particularmente, se firmou em 2013 como uma empresa brasileira que exporta produtos com tecnologia de ponta para outros continentes." "[...] Nos orgulhamos pelo avanço de nossas criações tanto nos campos de petróleo do PréSal, quanto em mercados onde as exportações comprovam o seu valor." [...] "Este patrimônio de pessoas altamente qualificadas e cadeia produtiva chama atenção no cenário mundial. São estas companhias que ajudam a reduzir o grande déficit de nossa balança comercial no segmento de eletrônica." "Não é bom saber que ajudamos na diversão de um dos parques temáticos mais modernos da América do Sul?" [...] "Somos uma empresa que surpreende com seus produtos."

"[...] esta nova edição do Informando & Trabalhando vem cheia de novidades e assuntos importantes para aqueles que se relacionam conosco." [...] "[...] Assim, também podemos manter o nosso constante aprimoramento de gestão administrativa" [...] E agora, convido a todos para mais uma leitura da nossa revista."

"[...] Este (Bovespa Mais) se trata de um mecanismo criado para companhias que querem acessar o mercado de forma gradual. Desta forma, elas ficam na "vitrine" por mais tempo para possíveis investidores, sem a necessidade de uma abertura imediata de capital." [...] "Nesta edição, há algumas matérias interessantes, como as primeiras entregas de equipamentos para as plataformas P66 e P67 e as atualizações da Série ABC."

"Agora, não só devemos manter o nosso nível de produtos e serviços, como também precisamos aumentá-lo ainda mais" [...] "A exigência sobre aquilo que fazemos será cada vez mais alta e encaramos isto com empolgação."

"Este I&T traz um relato sobre o evento (Bovespa Mais) na sede da BM&Fbovespa, em São Paulo." [...] "Esta edição do I&T traz mais uma matéria sobre inovações dentro da Série ABC, além de um artigo sobre a operação e configuração da Série HX."

"Ao longo dos anos, treinamos diariamente para criar produtos que surpreendam. Tudo para vencer a partida e satisfazer nossos clientes." [...] Que em 2014, todos possam crescer e prosperar para sermos campeões."

"Destaco a nova fábrica de produtos, com uma linha SMT altamente flexível, que permite produzir uma grande diversidade de equipamentos com muita agilidade na nossa matriz." [...] "É o que descreve a reportagem sobre a automação do Parque Snowland, no Rio Grande do Sul." [...] "As mesmas ferramentas são usadas na automação do setor de microeletrônica, como as salas limpas da XYZ, que exigem os mais rígidos padrões ambientais"

175 APÊNDICE B - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição 77 Cultura

Finalidade

"Chegamos aos 30 anos com a certeza de que estamos preparados para o futuro, conquistar novos mercados, ultrapassar barreiras, ser referência mundial." (Visada de Informação e de Prescrição)

Propósito

"[...] posição de destaque no mercado" [...]"produtos de classe mundial, soluções tecnológicas e inovadoras e excelência em gestão"

Cultura Organizacional Elementos Ideológicos

Mecanismos de Conduta

Saberes

"Ao fazer uma reflexão sobre esse tempo que passou, posso dizer que alcançamos uma posição de destaque no mercado, graças ao trabalho de muitas pessoas que dedicaram entusiasmos, coragem e disposição." (Visada de Captação) [...] "Nos preparamos para um ano de muitas celebrações para festejar essa trajetória de sucesso." (Visada de Informação).

"Iniciamos um ano muito especial para a Hera, em que completamos 30 anos." (Visada de Captação e de Informação) [...] "A história da Hera demonstra que desenvolvemos as bases necessárias para novas conquistas: profissionais qualificados, produtos de classe mundial, soluções tecnológicas e inovadoras e excelência em gestão." (Visada de Captação e Informação)

"Iniciamos com um logotipo comemorativo, que você conhecerá neste Informando & Trabalhando." (Visada de Informação) [...] "A convenção de vendas 2012 marcou o início das comemorações, que seguirão intensamente até o mês de aniversário, em outubro." (Visada de Informação e de Prescrição) [...] "Esta edição trará informações sobre o prêmio mundial [...]" (Visada de Informação)

"[...] completamos 30 anos"

"[...] Nos preparamos para um ano de muitas celebrações para festejar essa trajetória de sucesso"

[...] trará informações sobre o prêmio mundial de design iFProduct Design Awards 2012, recebido pelos Controladores Programáveis da Série ABC" [...]

Espaço de Locução

Abordagem: "Iniciamos um ano muito especial para a Hera" Identificar destinatário: não há enunciado que deixa claro quem é Justificativa: apresentar o conteúdo do jornal.

Espaço de Relação

Dados Externos Dados Internos

Contrato de Comunicação

EDIÇÃO 77

Tom: prescritivo - "Nos preparamos para um ano de muitas celebrações", autoritário - "[...] posso dizer que [...]"; "A história da Hera demonstra que desenvolvemos as bases necessárias [...]" "Chegamos aos 30 anos com a certeza de que estamos preparados para o futuro [...]". Caráter: sério, introvertido e direto. Corporalidade: tenta direcionar o enunciado "que você conhecerá" e incluir-se como parte que compartilha os saberes transmitidos com o uso da primeira pessoa do plural: "iniciamos, completamos, alcançamos, desenvolvemos", mas sobrepõe-se o apagamento dos sujeitos: "A história da Hera", "graças ao trabalho de muitas pessoas", "festejar essa trajetória de sucesso", "Esta edição trará"

Espaço de Tematização

Adequação aos parâmetros mundiais da indústria.

Celebração do aniversário da empresa.

Se faça parte da celebração dos 30 anos.

Fazer-saber dos produtos e das soluções da empresa.

176 APÊNDICE C - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição 78

Finalidade

Elementos Ideológicos

Mecanismos de Conduta

Saberes

"Hoje é necessário colocar nossa inteligência dentro da máquina e a máquina dentro da indústria." (Visada de Captação) "Sem eles [painéis] não existe a menor possibilidade de produção e uma falha deles paralisa todo o processo." (Visada de Captação)

"É isso que estamos fazendo na Unidade de Painéis da Hera, inaugurada oficialmente em Sapucaia do Sul/RS." (Visada de Prescrição) "Os produtos e as soluções desenvolvidas pela Hera são recheados de conhecimento e conhecimento gera capacidade de competir." (Visada de Captação) "Ficamos muito felizes por ter reunido na Hera mais de 350 profissionais, altamente qualificados, com muita vontade de mostrar que é viável fazer por aqui o que fazem no exterior engarrafar de forma metódica conhecimento em produtos." (Visada de Captação)

"Essa fábrica produz painéis de automação, equipamentos para fazer que qualquer processo industrial moderno seja viável. Esses painéis são o cérebro de complexos sistemas de produção e infraestruturas, como plataformas de petróleo, usinas hidroelétricas e metrôs." (Visada de Informação) "Esta edição do Informando & Trabalhando comemora o sucesso da Hera em um momento em que consolidamos a fábrica de painéis e que recebemos o Prêmio Inovação RS 2012 nas dimensões Liderança e Estratégia, pelo segundo ano consecutivo." (Visada de Informação) "Novidades nos produtos da Hera como [...]" "O fornecimento da solução Hera para atender os novos requisitos de rede do ONS, a inauguração do ITTF Instituto de Segurança Funcional, e o pioneirismo da empresa no desenvolvimento de produtos no laboratório, serão temas abordados nessa edição." (Visada de Informação)

"[...] colocar nossa inteligência dentro da máquina"

"conhecimento gera capacidade de competir" [...] "engarrafar de forma metódica conhecimento em produtos"

"[...] Unidade de Painéis da Hera, inaugurada oficialmente em Sapucaia do Sul/RS. [...] " que recebemos o Prêmio Inovação RS 2012" [..] "Novidades nos produtos Hera [...]" [...] fruto de uma parceria entre a Hera e a empresa dinamarquesa Rovsing Dynimics"

Esp. Locução

"Passaram os tempos em que uma indústria podia competir baseada em comandos manuais."

Cultura Organizacional

Abordagem: O discurso é iniciado por uma asserção incisiva, bastante provocativa e desafiadora. Justificativa: Ao longo da fala se justifica a afirmação e busca-se vincular as ações da Hera a essa adequação à realidade. Destinatários: Sob a guisa de mercado, a empresa deseja afirmar-se competitiva, internacionalizada e moderna. Porém, ao se considerar que os trabalhadores tem acesso aos dizeres ali divulgados, olhar delimitado à este estudo, pode-se compreender que o destinatário é percebido como uma das engrenagens a favor dessas características, logo, que é necessário ajustar o comportamento e esforçar-se na produção de saberes técnicos capazes de elaborar e reproduzir máquinas para obter vantagem competitiva no mercado.

Esp. Relação

Propósito

Cultura

"Passaram os tempos em que uma indústria podia competir baseada em comandos manuais." (Visada de Informação e de Incitação)

Tom: Prescritivo e autoritário. Caráter: incisivo e desafiador " Corporalidade: vale-se de frases curtas intercaladas entre uma asserção direta e argumentos que a fundamente. Mantém-se o uso de verbos conjugados na primeira pessoa do plural "nossa inteligência"; "É isso que estamos fazendo"; "Ficamos muito felizes"; "consolidamos a fábrica de painéis", etc. Por vezes o locutor coloca-se como testemunha diante dos cenários que anuncia: "Essa fábrica produz [...] Esses painéis são o cérebro [...] Os produtos e as soluções desenvolvidas [...]".

Esp. Temati zação

Dados Externos Dados Internos

Contrato de Comunicação

EDIÇÃO 78

Adequação aos padrões industriais modernos

Prescrição sobre como fazer a atividade.

Quem produz conhecimento é competitivo

Fazer saber sobre temáticas da empresa: nova fábrica, prêmio, produtos e parceria internacional.

177 APÊNDICE D - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição Especial Editorial 1 (continua)

Finalidade Espaço de Relação

Espaço de Locução

Propósito

Dados Externos Dados Internos

Contrato de Comunicação

EDIÇÃO ESPECIAL EDITORIAL 1

Cultura Organizacional Cultura "Comemorar os 30 anos da Hera nos faz refletir sobre o ambiente que, em 1982, eu e Beltrano, fundamos a empresa." [...] "Um tipo de organização pouco comum na época em que foi criada, quando a tecnologia era bem menos pronunciada." [..] "Desde lá, enfrentamos várias transformações." [...] "Como a Hera, outras empresas semelhantes surgiram[...]" (Visada de Informação)

Elementos Ideológicos

Mecanismos de Conduta

Saberes

"A Hera é especialmente complexa." Visada de Informação [...] "Foi necessária dedicação e a criação de processos. Nossa diversidade de operações é alta." (Visada de Informação) [...] "[...], mostrando o espírito empreendedor e provando que podemos sim avançar em novos mercados, onde a tecnologia e a inovação são a lógica da criação de valor. [...] " (Visadas de Prescrição e Incitação) "A missão de nossas empresas é hoje também ajudar a formar mais profissionais qualificados, (Visada de Incitação) pois só assim poderemos vencer o desafio de transformar o Brasil em um país mais equilibrado, onde nossa tecnologia seja tão importante quanto nossos recursos naturais." (Visadas de Captação e Informação) [...] "Comemorar os 30 anos da Hera é um dos momentos mais gratificantes da vida." (Visada de Captação)

"Esses dois esforços foram se aprimorando e hoje são executados por mais de 350 profissionais, altamente qualificados, que nos proporcionam a certeza de que podemos fazer muito mais, e com mais velocidade." (Visada de Captação + Visada de Incitação) [...] "[...] festejar os 30 anos de evolução em automação que a Hera proporcionou ao mercado mundial." (Visada de Informação)

"Isso exigiu dois esforços básicos: dominar as tecnologias de informática, hardware e software e dominar as tecnologias de gestão." [...] (Visada de Informação)

"Nossa diversidade de operações é alta. "Comemorar os 30 anos da Hera é um dos momentos mais Desenvolvemos desde chips até gratificantes da vida."; "agradecimentos a todos que nos "Comemorar os 30 anos da Hera" soluções para plataformas de ajudaram e continuam confiando em nosso propósito de crescer petróleo. [...] dominar as neste mercado" tecnologias de informática e [...] de gestão" Abordagem: Trata-se de uma edição especial que celebra os 30 anos da empresa. Justificativa:Tem como propósito essencial apresentar aspectos relevantes da memória organizacional, assim como metas para o futuro. O discurso é construído com destaque a aspectos formais da história da empresa, sendo os argumentos tecidos perante a cooperação entre as visadas de informação e captação. Os funcionários são brevemente acionados como público relevante nessa trajetória: "350 profissionais, altamente qualificados"; a todos aqueles que fazem parte dessa história"; "amigos, parceiros e colaboradores". O destinatário é opaco, ou seja, inclui os diversos públicos de relacionamento com ênfase aos clientes e parceiros. "Esses dois esforços foram se aprimorando e hoje são executados por mais de 350 profissionais, altamente qualificados"

Tom: embora a nostalgia e a gratidão permeiem o discurso, ele é marcado por asserções argumentativas que lhe atribuem um tom austero, que visa ratificar os vários motivos para celebrar os 30 anos, bem como preparar-se para os próximos. Caráter: gratidão, introvertido. Corporalidade: O texto procura descrever a empresa (identificá-la como destaque no mercado, qualificá-la ao apresentar os processos que conduziram sua história, além de localizar o leitor quanto a objetivos. O enunciador expressa seu ponto de vista por meio de avaliações e justificativas e implica o interlocutor apenas em seus agradecimentos.

178

Espaço de Tematização

(conclusão) Reconhecer história da empresa em meio ao contexto difícil no qual se desenvolveu.

Celebração pelos 30 anos

Permanecer qualificando-se

Dominar múltiplos saberes

179 APÊNDICE E - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição Especial Editorial 2 (continua) Cultura Organizacional

Finalidade Propósito

Cultura

"Há 27 anos lembro de estar em São Paulo, com minha família. Meu filho T2. havia recém nascido e eu levantava todos os dias muito cedo e ia tomar café [...]" "Às vezes, levava pela mão meu filho mais velho, o T1., na época com dois anos. [...]" "Saia bem cedo num gol branco a visitar clientes de forma frenética apresentando as vantagens do nosso primeiro [...]" (Visada de Captação)

"Ao lembrar dos tempos difíceis de São Paulo, lembro de pessoas felizes ao meu redor, independentemente das enormes dificuldades da época."

Espaço de Locução

Dados Externos Dados Internos

Contrato de Comunicação

EDIÇÃO ESPECIAL EDITORIAL 2

Elementos Ideológicos

Mecanismos de Conduta

Saberes

"Invoco este período para dar ênfase, no momento em que fazemos 30 anos, na importância de nunca esquecermos um dos principais valores da Hera: pessoas felizes." (Visada de Incitação) [...] "Inicialmente, essas pessoas não são somente nossos funcionários, e sim, toda e qualquer pessoa com quem vamos nos relacionar [...]" (Visada de Informação) "[...] Precisamos solidificar tudo o que foi feito até aqui e me preocupo muito com isso." (Visada de Prescrição) [...] "Vibrei com nossa banda de rock, com nosso espírito jovial e com o clima dos eventos em Novo Hamburgo e São Paulo." (Visada de Incitação)

"Por outro lado, nós mesmos devemos nos comportar de forma a demonstrar nosso estado de espírito mais importante: estar de bem com a vida! Qualquer que seja o momento. Mesmo no instante de maior crise, maior perigo... Mesmo na hora de grandes sacrifícios." (Visadas de Prescrição e Incitação) [...] "Encarando os problemas do dia a dia e os que vêm pela frente para executarmos nossas estratégias e acreditando em pessoas felizes" (Visada de Captação) [...] "Definidas nossas metas e as ações a serem atingidas para cada time, que as lideranças destes levem em conta que para atingirmos isto a atitude de estar de bem com a vida, que significa o sorriso fácil, o elogio frequente, o alerta jocoso e um espírito otimista, esteja sempre presente no ambiente de trabalho." (Visada de Informação e de Prescrição) [...] "Atitudes generosas e um desprendimento pessoal para toda e qualquer pessoa que venha em direção da Hera." (Visada de Prescrição)

"Um passar rápido pelo significado desse valor pode nos levar à ilusão de que se trata de compensação pura e simples para nossos times, a partir de suas tarefas investindo-se aqui em remuneração adequada, bom ambiente de trabalho e uma carreira desenhada para promover desafios compensadores. [...]" "Mas pessoas felizes significa muito mais do que isto." (Visada de Informação e de Incitação)

"devemos nos comportar de forma a demonstrar nosso estado de espírito mais importante: estar de bem com a vida"

"[...] estar de bem com a vida que significa o sorriso fácil, o elogio frequente, o alerta jocoso e um espírito otimista" [...]" [...] nos fazer ser cada vez mais a empresa que evolui dia a dia na automação industrial."

"[...] na importância de não esquecermos nunca um dos principais valores da Hera: pessoas felizes" [...]

Destinatários: O discurso é amplo e inclui diversos públicos, assumindo destaque as prescrições comportamentais fornecidas aos trabalhadores em função de uma melhor relação da Hera com seus demais públicos. A história de vida aproxima locutor e interlocutor, pois admite semelhanças nas dificuldades superadas, sendo que o locutor se posiciona como um líder ou modelo ao seu interlocutor. Justificativa: Toda sua argumentação, embora tenha um tom extrovertido, é marcada pela cobrança dos comportamentos que impulsionem a organização para superar seus desafios futuros. Abordagem: O locutor firma uma parceria com seu leitor e o envolve por admitir elementos subjetivos (humanizados) em suas expectativas objetivas ("continuar performando, crescendo, sendo admirados por nossos amigos e alimentando nossos relacionamentos."

180

Esp Relação

Tom: nostálgico e extrovertido Caráter: rigoroso, astucioso Corporalidade: frases curtas, que fundamentam-se em sua história de vida (propósito de comoção e exemplo). Uso de asserções otimistas para envolver interlocutores.

Esp Tematização

(conclusão)

Retomar as dificuldades dos primórdios da organização, que devem ser valorizados.

Dar o melhor de si, pois garante o aprimoramento de todos.

Não apegar-se aos problemas da atividade.

Descrição direta dos comportamentos esperados.

181 APÊNDICE F - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição 80

Finalidade

Elementos Ideológicos

"Uma nova era se inicia para nossa empresa. Depois de três décadas, somos referência no mercado e seguimos em busca de novas formas de continuar a crescer e atingir nossos objetivos." [...] (Visada de Incitação)

"nova era"; "novas formas"

Mecanismos de Conduta

Saberes

"Aqui, contamos com profissionais qualificados que dedicam o seu tempo na criação de soluções inovadoras com tecnologia de ponta." (Visada de Informação e de Captação)

"criação de soluções inovadoras com tecnologia de ponta." (Visada de Informação e de Prescrição) "Com esse objetivo, consolidamos nossa parceria comercial com a empresa Beijer Electronics, da Suécia, [...] Ela também se torna acionista minoritária da Hera." (Visada de Informação) [...] "Esta edição do Inovando e Automatizando celebra o momento vivido pela Hera e apresenta muitas novidades [...]." (visada de informação)

"criação de soluções inovadoras"

"soluções inovadoras"; "parceria comercial"; "ABC e sua produção que segue a diretiva RoHS [...] artigo técnicosobre o BP"

Espaço de Locução

"classe mundial"; "expansão para outros continentes"; "crescimento global"

Cultura Organizacional

Abordagem: O enunciador retoma o fato que motivou a edição anterior (30 anos) e apresenta as mudanças decorrentes dos novos objetivos da empresa. Justificativa: Ao longo de seu discurso vai apontando ações encaminhadas pela empresa, principalmente no que se refere à projetos de internacionalização e ampliação de mercado. Destinatários: Os destinatários não são facilmente identificados, mas visto o enfoque adotado para este estudo, a atividade, reconhece-se a relevância do trabalho do P&D, porém as demais áreas permanecem opacas na visão do enunciador.

Espaço de Relação

Propósito

Cultura

"O Brasil sabe que a Hera é uma empresa extremamente competente, que desenvolve produtos e serviços de classe mundial para atender diversas áreas do setor de automação e controle de processos." (Visada de Informação e de Incitação) [...] "Agora, o momento é de expansão da marca para outros continentes." (Visada de Informação) [...] Esse é um caso raro de uma empresa brasileira que faz [...] (Visada de Informação e de Captação) "Nosso crescimento global vai diretamente ao encontro do Programa Brasil Maior e da Associação P&D Brasil. Ambos fomentam [...]" (Visada de Informação)

Tom: informativo, rigoroso, mas um pouco menos autoritário. Caráter: sério, introvertido Corporalidade: O enunciador ancora-se no modo argumentativo para construir seus enunciados, a fim de justificar suas asserções prescritivas.

Espaço de Tematização

Dados Externos Dados Internos

Contrato de Comunicação

EDIÇÃO 80

Internacionalização da marca por meio de parcerias

Diretrizes para realização da atividade

Expectativas sobre a atividade

Fazer saber sobre acontecimentos estratégicos da empresa.

182 APÊNDICE G - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição 81 Cultura Organizacional

Finalidade

"Estamos nos preparando para ingressarmos no Bovespa Mais." (Visada de Informação) [...] "Só assim poderemos ter um país mais próspero e soberano tecnologicamente." (Visada de Captação) [...] "No dia cinco de setembro, um seminário de gestão para melhores práticas de P&D vai ocorrer na FIERGS, em Porto Alegre, com a participação de diversos líderes neste setor." (Visada de Informação)

"Em meio a este momento de expansão global da Hera" (Visada de Incitação) [...] "Para nossa empresa, o Bovespa Mais representa a melhor maneira de entrarmos neste segmento de negócios, pois nos possibilita uma tranquila adaptação às exigências do mercado de ações." (Visadas de Infomação e Incitação) [...] "Nesta edição, há algumas matérias interessantes, como as primeiras entregas de equipamentos para as plataformas P66 e P67 " (Visada de Informação) [...] "Que as próximas edições do I&T possam trazer tantas boas novas como esta. E que possamos continuar a crescer." (Visada de Captação)

"Assim, também podemos manter nosso constante aprimoramento de gestão administrativa." (Visada de Prescrição) "[...] E agora, convido a todos para mais uma leitura de nossa revista. [...]" (Visada de Prescrição)

"esta nova edição do Informando & Trabalhando vem cheia de novidades e assuntos importantes para aqueles que se relacionam conosco." (Visada de Incitação) "Este se trata de um mecanismo criado para companhias que querem acessar o mercado de forma gradual. Desta forma, elas ficam na "vitrine" por mais tempo para possíveis investidores, sem a necessidade de uma abertura imediata de capital." (Visada de Informação) "Aliado a esta novidade, estamos dando outro grande passo a nível internacional. Em setembro, os controladores programáveis da série Nexto vão começar a ser comercializados pela Beijer Eletronics no mercado escandinavo.[...]" (Visada de Informação)

Anunciar novo segmento da empresa

Informar que algumas mudanças ocorrerão em prol do crescimento da empresa

Orientações de conduta

Divulgar as ações tomadas pela empresa e suas implicações + produtos/soluções desenvolvidas pela empresa

Espaço de Locuçã o

Elementos Ideológicos

Justificativa: propiciar aos interlocutores a ciência das ações realizadas pela empresa. Abordagem: Direta e com muitos dados para reflexão dos leitores Destinatário: orienta o leitor sem enquadrá-lo em categorias de públicos. Considerando a classe trabalhadora, atenta-se às prescrições frentes às mudanças que são anunciadas pela empresa.

Espaço de Relação

Saberes

Propósit o

Cultura

Mecanismos de Conduta

Tom: informativo, rigoroso. Caráter: introvertido, sério. Corporalidade: os modos narrativo e argumentativo fundamentam a fala, pois o enunciador conta os fatos relacionados à empresa e justifica cada tomada de decisão.

Espaço de Tematiza ção

Dados externos Dados Internos

Contrato de Comunicação

EDIÇÃO 81

Fazer-saber de uma ação organizacional

Fazer-saber do ambiente organizacional e Incitar o interesse sobre as mudanças

Fazer-saber quais são os comportamentos esperados

Fazer-saber dos fatos relativos à organização

183 APÊNDICE H - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição 82

"[...] nos tornando a primeira companhia do estado a ingressar neste segmento de bolsa." (Visada de Captação e de Informação)

"O começo de uma nova fase da Hera ficou simbolizado com a cerimônia de listagem da nossa empresa no BOVESPA MAIS." (Visada de Informação) [...] "Mantivemos nossa tendência pioneira [...]" (Visada de Informação) [...] "Isso significa dizer que fazemos, orgulhosamente, parte de um terço desta história de seis décadas." (Visada de Captação) [...] "A exigência sobre aquilo que fazemos será cada vez mais alta e encaramos isto com empolgação." (Visada de Prescrição) "Que o próximo ano seja ainda melhor do que foi 2013 e que a parceria Hera/Petrobrás possa durar ainda por muito tempo." (Visada de Incitação)

"É uma honra podermos dizer que desenvolvemos soluções para eles há mais de 20 anos." (Visada de Informação) [...] "Agora, não só devemos manter nosso nível de produtos e serviços, como também precisamos aumentá-lo ainda mais." (Visada de Prescrição)

"Este I&T traz um relato sobre o evento na sede da BM&Fbovespa, em São Paulo. Nossa última edição do ano traz também uma matéria sobre os 60 anos da Petrobrás [...] e o relacionamento da Hera com a maior estatal brasileira." (Visada de Informação) [...] Lembro de alguns dos nossos primeiros projetos, como o Sistema de Supervisão de Energia SCMD [...]" (Visada de Informação) [...] "Juntas, Petrobrás e Hera puderam crescer e superar barreiras, criando complexos sistemas de automação e entregando mais de cem mil pontos de controle." (Visada de Captação) "A Hera, particularmente, se firmou em 2013 como uma empresa brasileira que exporta produtos com tecnologia de ponta para outros continentes." (Visada de Informação) [...] "Esta edição do I&T traz mais uma matéria sobre inovações dentro da Série ABC, além de um artigo sobre a operação e configuração da Série H X." (Visada de Informação)

Fazer-sentir orgulho da empresa

Fazer-saber sobre interesses comerciais da empresa. Orientar comportamentos diante dos interesses.

Fazer-saber de comportamentos esperados diante do cenário

Apresentar cenário organizacional e produtos/soluções da empresa

Esp. Locução

Elementos Ideológicos

Justificativa: apresenta uma série de conquistas oriundas da relação estabelecida com clientes importantes, como a Petrobrás. O volume de prescrições e informações manifesta quais elementos devem ser cuidados para não desestruturar essa relação. Abordagem: por meio de incitações, o locutor procura informar os leitores sobre eventos importantes. Destinatários: recebem diversas prescrições para a condução de sua atividade.

Esp. Relação

Saberes

Finalidade

Cultura Organizacional

Propósito

Cultura

Mecanismos de Conduta

Tom: de orgulho e de cobrança Caráter: rígido, introvertido Corporalidade: o autor estrutura seu discurso perante uma narração sobre o conteúdo do jornal, inserindo elementos argumentativos a fim de persuadir o interlocutor frente seus interesses.

Esp. Tematização

Dados Externos Dados Internos

Contrato de Comunicação

EDIÇÃO 82

Informar sobre o ingresso na bolsa

Manifestar interesses da empresa

Prescrever comportamentos e sentimentos

Conscientizar os destinatários sobre a importância da relação Hera/ Petrobrás e sobre os produtos/soluções ofertadas pela empresa

184 APÊNDICE I - Articulação A: Contrato de Comunicação X Categorias Teóricas Cultura e Cultura Organizacional – Edição 83

"Assim como a seleção brasileira se prepara para o mundial [...]" (Visada de Captação) [...] "O Brasil se preparou para esse momento. São décadas de políticas de desenvolvimento, como a Lei da Informática, que contribuíram para criar empresas com domínio da tecnologia." (Visada de Informação) [...] "São essas companhias que ajudam a reduzir o grande déficit de nossa balança comercial no segmento de eletrônica. Não é pela mera manufatura de produtos que vamos pagar a conta do conhecimento." (Visadas de Incitação e Informação)

"[...] a Hera trabalha para a copa da tecnologia de automação." (Visada de Prescrição) [...] "Tudo para vencer a partida e [...] (Visada de Captação) "[...] tanto nos campos de petróleo do Pré-Sal, quanto em mercados onde as exportações comprovam o seu valor." (Visada de Informação) [...] "Esse patrimônio de pessoas altamente especializadas, empresas e cadeia produtiva chama atenção no cenário mundial." (Visada de Informação) [...] "Para a Hera, este ano será igual apesar da copa e das eleições." (Visadas de Informação e Prescrição)

"Ao longo dos anos, treinamos diariamente" (Visada de Prescrição) [...] "satisfazer nossos clientes". (Visada de Prescrição) [...] "Nos orgulhamos pelo avanço de nossas criações [...]" (Visada de Captação) [...] "Não é bom saber que ajudamos na diversão de um dos parques temáticos mais modernos da América do Sul?" (Visada de Captação) [...] "Somos uma empresa que surpreende com seus produtos." (Visada de Prescrição)

"Esta edição do I&T traz vários fatos que reafirmam nosso avanço. Destaco a nova fábrica de produtos, com uma linha SMT altamente flexível, que permite produzir uma grande diversidade de equipamentos com muita agilidade na nossa matriz." (Visada de Informação) "[...] É o que descreve a reportagem sobre a automação do Parque Snowland, no Rio Grande do Sul." (Visada de Informação) [...] "As mesmas ferramentas são usadas na automação do setor de microeletrônica, como nas salas limpas da XYZ, que exigem os mais rígidos padrões ambientais." (Visada de Informação)

Apresentar o contexto socioeconômico no qual está inserida a Hera.

Manifestar os interesses da organização diante do contexto

Expor quais são os comportamentos esperados no exercício da atividade

Apresentar cenário organizacional e produtos/soluções da empresa

Esp. Locução

Saberes

Justificativa: Apresentar argumentos que reforcem as prescrições comportamentais para o ano Abordagem: analogia com um evento que mobilizou as atenções mundiais para ressaltar que a realidade da empresa difere daquela. Destinatário: apresenta o "time" da Hera comprometido com o desenvolvimento econômico do país.

Esp. Relação

Mecanismos de Conduta

Finalidade

Cultura Organizacional

Propósito

Cultura

Elementos Ideológicos

Tom: extrovertido, comprometedor. Caráter: sério, exigente, comprometido Corporalidade: Com as analogias propostas entre a realidade da copa e a realidade da empresa, procura suavizar a mensagem densa: "nós temos o compromisso com o desenvolvimento econômico do Brasil".

Esp. Tematização

Dados Internos

Contrato de Comunicação

Dados Externos

EDIÇÃO 83

Fazer-saber sobre o contexto

Fazer-saber dos interesses econômicos e de produção

Fazer-saber o que se deve fazer e acreditar para atender os objetivos organizacionais.

Fazer-saber sobre os produtos e as soluções desenvolvidas.

185 APÊNDICE J - Articulação B: Usos de Si X Relações Poder

Finalidade

"[...] graças ao trabalho de muitas pessoas que dedicaram entusiasmo, coragem e disposição." (Visada de Captação)

"Iniciamos um ano muito especial para a Hera, em que completamos 30 anos." (Visada de Informação) [...] "A história da Hera demonstra que desenvolvemos as bases necessárias para novas conquistas: profissionais qualificados [...]" (Visada de Incitação) [...] "A convenção de vendas 2012 marcou o início das comemorações, que seguirão intensamente até o mês de aniversário, em outubro." (Visada de Informação)

"Chegamos aos 30 anos com a certeza de que estamos preparados para o futuro, conquistar novos mercados, ultrapassar barreiras, ser referência mundial." (Visada de Incitação) "Nos preparamos para um ano de muitas celebrações para festejar essa trejetória de sucesso." (Visada de Prescrição)

Reconhecimento do exercício da atividade

Demonstrar que perante o trabalho foi possível estruturar o sucesso da organização.

Deseja-se estabelecer uma relação de poder compensatório (GALBRAITH, 1989) sob um esquema de dominaçãorepressão (FOUCAULT, 2007)

Espaço de Locução

Relações de Poder

Justificativa: celebrar os 30 anos perante o sucesso da organização que depende de seus profissionais para tal êxito. Abordagem: informar interlocutores sobre aspectos da organização e desta edição do jornal e incitar desafios. Destinatário: os trabalhadores têm seu fazer reconhecido ao passo que são incitados a produzir mais.

Espaço de Relação

Uso de Si pelo Outro

Tom: gratidão, prescritivo, desafiador. Caráter: exigente, audacioso. Corporalidade (modos de organização)

Modos de Organização

Contrato de Comunicação

Ed.

77

Usos de Si por Si

Propósito / Espaço de Tematização

(continua)

Modo enunciativo delocutivo e modo descritivo

Modo enunciativo elocutivo que manifesta uma avaliação e modos argumentativo "especial = completamos 30 anos", "bases necessárias = profissionais qualificados" e narrativo "convenção de vendas..."

Modo enunciativo alocutivo, impõe ao interlocutor prescrições por meio de relações de força: "certeza de que estamos preparados", "Nos preparamos para". Modo descritivo: nomear:chegamos, preparamos (Hera), Localizar: 30 anos, ano de celebrações, Qualificar:preparados para o futuro, trajetória de sucesso.

186

Finalidade

"Os produtos e as soluções desenvolvidas pela Hera são recheados de conhecimento e conhecimento gera a capacidade de competir." (Visada de Incitação) [...] "Essa edição do Informando & Trabalhando comemora o sucesso da Hera em um momento em que consolidamos a fábrica de painéis e que recebemos o Prêmio Inovação RS 2012" (Visada de Informação e de Captação)

Propósito / Espaço de Tematização

Reconhecer o trabalho e incitar seu aprimoramento.

Apresenta prescrições para o exercício da atividade: "colocar nossa inteligência", "rechear de conhecimento", "engarrafar conhecimento"

Estabelecer uma relação de poder condicionado (GALBRAITH, 1989) sob um esquema de dominaçãorepressão (FOUCAULT, 2007)

Espaço de Locução

" Hoje é necessário colocar nossa inteligência dentro da máquina e a máquina dentro da indústria. É isso que estamos fazendo na Unidade de Painéis [...]" (Visada de Prescrição) [...] "[os produtos] são recheados de conhecimento" (Visada de Captação) [...] "[...] engarrafar de forma metódica conhecimento em produtos." (Visada de Prescrição)

Justificativa: apresentar prescrições para a atividade e reconhecer, por meio de qualificações aos produtos, causas para o sucesso da Hera. Abordagem: prescritiva e direta. Destinatário: são reconhecidos perante sua capacidade do uso de seus saberes em prol de produtos que conduzam o sucesso da Hera, o que deixa os gestores felizes.

Espaço de Relação

78

"Ficamos muito felizes por ter reunido na Hera mais de 350 profissionais, altamente qualificados, com muita vontade de mostrar que é viável fazer por aqui o que fazem no exterior [...]" (Visadas de Captação e Incitação)

Tom: prescritivo. Caráter: introvertido, sentenciador. Corporalidade (modos de organização)

Modos de Organização

Contrato de Comunicação

(continuação)

Modo enunciativo elocutivo: expressa avaliação do trabalho. Modo descritivo: Nomear: "Ficamos muito felizes", Localizar: "por ter reunido na Hera mais de 350 profissionais" Qualificar: "altamente qualificados..." Produz efeito de opinião pessoal, com a finalidade de expressar/ informar reconhecimento pelo trabalho.

Modo enunciativo alocutivo: imposição das prescrições, relação de força. Modo narrativo, pois apresenta uma sequência de ações a serem tomadas.

Modo enunciativo alocutivo e elocutivo. Modo argumentativo, pois apresenta explicações sobre as asserções iniciais: "produtos recheados de conhecimento = capacidade de competir"; "sucesso da Hera = consolidamos e recebemos"

187

Finalidade Propósito / Espaço de Tematizaç ão

Reconhece qualificações dos trabalhadores, especialmente dos envolvidos na produção do jornal

Reforça as prescrições fundadoras da empresa e assinala que elas conduzem ao contínuo e progressivo êxito da organização.

Estabelecer uma relação de poder compensatório (GALBRAITH, 1989), em esquema dominação-repressão (FOUCAULT, 2007)

Espaço de Locução

"Esses dois esforços foram se aprimorando e hoje são executados por mais de 350 profissionais altamente qualificados que nos proporcionam a certeza de que podemos fazer muito mais, e com mais velocidade" (Visadas de Captação e de Incitação)

"[...] onde nossa tecnologia seja tão importante quanto nossos recursos naturais." (Visada de Incitação) [...] "Dedico os meus mais sinceros agradecimentos a todos que nos ajudaram e continuam confiando em nosso propósito de crescer neste mercado." (Visada de Captação) [...] "Aproveite a leitura desta edição que foi carinhosamente desenvolvida para festejar os 30 anos de evolução em automação que a Hera proporcionou ao mercado mundial." (Visadas de Prescrição e Captação)

Justificativa:agradecer pelo investimento do uso de si por si para realização das metas prescritas pela organização. Abordagem: o EUc vale-se de explicações para suas asserções a fim de envolver o TUi com argumentos que exaltam pontos positivos. Destinatário: o locutor projeta o interlocutor (TUd) como ser movido pela racionalidade e objetividade, por isso, opta por construir seus enunciados de forma a justificar suas asserções. A justificativa, porém, não é direta, visando mobilizar a afetividade com a situação referida nos enunciados.

Espaço de Relação

EE Ed. 1

"[...] mostrando espírito empreendedor" (Visada de Captação) [...] "Agradeço a todos que fazem parte dessa história e que contribuíram para contar todas as novidades da Hera no I&T, este importante informativo que produzimos orgulhosamente desde 1987" (Visada de Captação)

Tom: gratidão, prescrição Caráter: introvertido, sentenciador. Corporalidade: (modos de organização discursiva)

Modos de Organização

Contrato

(continuação)

Modo enunciativo elocutivo (engajamento). Modo argumentativo.

Modo enunciativo alocutivo: imposição quanto a execução da atividade. Modo argumentativo: profissionais proporcionam a certeza.

Modo enunciativo elocutivo: expressa ponto de vista sobre o modo de fazer "seja tão importante quanto", sobre engajamento "nos ajudaram e continuam confiando". Modo enunciativo alocutivo: imposição à leitura "Aproveite ... Carinhosamente desenvolvida". Modo argumentativo: explicar sobre a missão da empresa, expor a quem está agradecendo e justificar a continuidade da leitura."

188

Finalidade Propósito / Espaço de Tematização

Reconhece que a prescrição está sendo atendida, mesmo que não diretamente na atividade.

Espaço de Locução

"Mas justamente nas comemorações desta passagem foi onde vi que nosso grupo está preparado para a principal atitude no trabalho: estar de bem com a vida. Vibrei com nossa banda de rock, com nosso espírito jovial e com o clima dos eventos em Novo Hamburgo e em São Paulo." (Visada de Captação)

Modos de Organização

"Um passar rápido pelo significado deste valor pode nos levar à ilusão de que se trata de compensação pura e simples para nossos times, a partir de suas tarefas, investindo-se aqui em remuneração adequada, bom ambiente de trabalho e uma carreira desenhada para promover desafios compensadores. Mas pessoas felizes significa muito mais do que isto." (Visada de Incitação) [...] "Por outro lado, nós mesmos devemos nos comportar de forma a demonstrar nosso estado de espírito mais importante: estar de bem com a vida!" (Visada de Prescrição) "Precisamos solidificar tudo o que foi feito até aqui e me preocupo muito com isto." (Visada de Incitação) [...] "Encarando os problemas do dia a dia e os que vêm pela frente para executarmos nossas estratégias e acreditando em pessoas felizes, não tenho dúvida que vamos continuar performando, crescendo, sendo admirados por nossos amigos e alimentando nossos relacionamentos." (Visada de Prescrição) [...] "Atitudes generosas e um desprendimento pessoal para toda e qualquer pessoa que venha em direção da Hera vão ampliar nosso potencial de empresa e nos fazer ser cada vez mais a empresa que evolui dia a dia na automação industrial." (Visada de Prescrição)

Apresenta benefícios àqueles que seguem as prescrições: estar de bem com a vida em qualquer situação.

"[...] na importância de não esquecermos nunca um dos principais valores da Hera: pessoas felizes. Um passar rápido pelo significado deste valor pode nos levar à ilusão de que se trata de compensação pura e simples para nossos times, a partir de suas tarefas, investindo-se aqui em remuneração adequada, bom ambiente de trabalho e uma carreira desenhada para promover desafios compensadores." (Visada de Captação e de Incitação) [...] Definidas nossas metas e ações a serem atingidas para cada time, que as lideranças destes levem em conta que para atingirmos isto a atitude de estar de bem com a vida que significa o sorriso fácil, o elogio frequente, o alerta jocoso e um espírito otimista, esteja sempre presente no ambiente de trabalho." (Visada de Prescrição)

Estabelecer uma relação de poder compensatório e poder condigno (pelo excesso de prescrições quanto a questões subjetivas, como a definição do que são pessoas felizes, por exemplo. (GALBRAITH, 1989), em esquema dominaçãorepressão (FOUCAULT, 2007)

Justificativa: determinar como os usos de si se dão dentro do ambiente organizacional da Hera e orientar as como se dá a relação funcionário-organização (não esquecermos nunca, devemos nos comportar, diante de nossas metas) Abordagem:embora o tom prescritivo impere no encadeamento dos enunciados, a seleção das estratégias discursivas parte da narrativa de vida à aspectos intangíveis (pessoas felizes, estar de bem com a vida) que são reafirmados em diversos momentos do discurso, o que manifesta o interesse em envolver o TUi por meio da afetividade. Destinatário: nesta ocasião o trabalhador não é referido como realizador técnico, mas invocado a pensar sobre aspectos comportamentais e suas atividades no trabalho.

Esp aço de Rel açã o

EE Ed. 2

Contrato de Comunicação

(continuação)

Tom: prescritivo, explicativo Caráter: exigente, inteligente Corporalidade: (modos de organização discursiva) Modo enunciativo elocutivo (engajamento). Modo descritivo nomear:nosso grupo, localizar: eventos/trabalho, qualificar: espírito jovial.

Modo enunciativo elocutivo (avaliação). Modo argumentativo, pois propõem esclarecimentos a cada conceito que traz: ex: pessoas felizes (não é x o que é).

Modo enunciativo alocutivo (imposição - relação de força). Modo Argumentativo

189

Finalidade Propósito / Espaço de Tematização

Atribui qualificações aos trabalhadores: competentes, inovadores, trabalho duro

Incitar o uso das capacidades em função dos objetivos de mercado da empresa

Estabelecer uma relação de poder condicionado (GALBRAITH, 1989)

Espaço de Locução

"Depois de três décadas, somos referência no mercado e seguimos em busca de novas formas de continuar a crescer e atingir novos objetivos." (Visadas de Incitação e de Prescrição)

"Agora, o momento é de expansão da marca para outros continentes [...] consolidamos nossa parceria comercial com a empresa Beijer Electronics [...] que se torna acionista minoritária da Hera." (Visada de Informação) "Tudo isso não seria possível sem o trabalho duro de nosso P&D, que desenvolveu um produto que entusiasmou o mercado internacional." (Visada de Informação)

Justificativa: exaltar qualidades da Hera. Atribuir características aos trabalhadores "qualificados", "trabalho duro", reconhecer o uso de si por si: "que dedicam seu tempo na criação". Abordagem: de forma objetiva e direta apresenta argumentos para condicionar o inlocutor à intencionalidade e perceber na Hera uma empresa de sucesso. Destinatários: busca-se envolver o trabalhador de modo que ele perceba a relevância de seu trabalho. Porém esse enfoque se dá a apenas uma área P&D, o que pode gerar conflitos com as demais que não tem reconhecida sua relevância para o êxito da organização.

Espaço de Relação

80

"O Brasil sabe que a Hera é uma empresa extremamente competente [...]" (Visada de Informação) [...] "Aqui contamos com profissionais qualificados que dedicam seu tempo na criação de soluções inovadoras com tecnologia de ponta." (Visada de Incitação) [...] "Tudo isso não seria possível sem o trabalho duro de nosso P&D, que desenvolveu um produto que entusiasmou o mercado internacional." (Visada de Informação)

Tom: prescritivo Caráter: introvertido Corporalidade: (modos de organização)

Modos de Organização

Contrato

(continuação)

Modo enunciativo delocutivo e elocutivo (avaliação). Modo argumentativo: "profissionais qualificados que dedicam [...] produto que entusiasmou o mercado [....]"

Modo enunciativo alocutivo: imposição "continuar a crescer" Modo argumentativo: "somos referência > continuar a acrescer"

Modo enunciativo elocutivo (motivação) e modo narrativo: sequência de ações: 1. Expansão 2. Parceria 3. Acionista

190

Propósito / Espaço de Tematização

Apresentar prescrições: manter aprimoramento, continuar a crescer

Estabelecer uma relação de 1) poder compensatório (recompensa: novidades para quem se relaciona com a Hera) 2) condicionado, pois apresenta argumentos que visam justificar aspectos do cenário que conduzem a tomada de decisão (GALBRAITH, 1989). Esquema dominaçãorepressão (FOUCAULT, 2007)

Espaço de Locução

"Assim, também podemos manter nosso constante aprimoramento de gestão administrativa." (Visada de Informação) [...] "E que possamos continuar a crescer." (Visada de Incitação)

Justificar: anunciar mudanças e mostrar que a Hera é uma empresa em constante progresso. Abordagem: busca persuadir o leitor, que se relaciona com a Hera, a permanecer lendo o jornal, pois serão divulgadas informações importantes. O exercício da atividade pode ser compreendido nas entrelinhas da apresentação dos produtos, bem como a partir das expectativas de "aprimoramento" e "crescer". Destinatário: embora possam ser observadas questões relacionadas à atividade neste editorial, visa principalmente informar sobre ações da organização, que podem gerar ansiedade em função das mudanças anunciadas com esclarecimentos parciais. "tranquila adaptação ao mercado de ações"

Espaço de Relação

81

"[...] e as atualizações da Série ABC, que continua a ser estudada e renovada em nosso processo de Pesquisa & Desenvolvimento." (Visada de Informação)

"Em meio a este momento de expansão global da Hera, esta nova edição do Informando & trabalhando vem cheia de novidades e assuntos importantes para aqueles que se relacionam conosco." (Visada de Incitação) [...] "Para nossa empresa, o Bovespa Mais representa a melhor maneira de entrarmos neste segmento de negócios, pois nos possibilita uma tranquila adaptação às exigências do mercado de ações." (Visada de Informação) “Como referência nacional de empresa de base tecnológica, é dever da Hera contribuir para o crescimento desta entidade [...]" (Visada de Prescrição)

Delineia a atividade: estudar e renovar

Tom: prescritivo Caráter: introvertido Corporalidade: (modos de organização)

Modos de Organização

Contrato

Finalidade

(continuação)

Modo enunciativo elocutivo (modo de fazer). Modo descritivo: nomear: P&D Localizar:Série ABC Qualificar: continua a ser estudada e renovada

Modo enunciativo elocutivo (engajamento). Modo Argumentativo (explicações para prescrições)

Abordagem: Modo enunciativo delocutivo (propósito se impõe). Modo descritivo. Modo enunciativo elocutivo (avaliação). Modo argumentativo (explicações às ações tomadas - ingresso na bolsa, contribuição com entidade)

191

Finalidade Propósito / Espaço de Tematização

Caracteriza a atividade por meio do produto: inovadora

Apresenta as prescrições: manter/ aumentar nível dos produtos, encarar com empolgação.

Estabelecer uma relação de poder condicionado (GALBRAITH, 1989). Esquema dominação- repressão (FOUCAULT, 2007)

Espaço de Locução

"O começo de uma nova fase da Hera ficou simbolizado com a cerimônia de listagem da nossa empresa no BOVESPA MAIS." (Visadas de Incitação e de Informação) "Mantivemos nossa tendência pioneira, nos tornando a primeira companhia do estado a ingressar neste segmento da bolsa." (Visada de Informação)

Justificar: anunciar novo segmento da empresa. Abordagem: anúncio das mudanças e aumento das exigências. Destinatários: devem estar preparados para as adequações que tenham de ser realizada em função das mudanças.

Espaço de Relação

82

"Esta edição do I&T traz mais uma matéria sobre inovações dentro da Série Nexto" (Visada de Informação)

"Agora, não só devemos manter o nosso nível de produtos e serviços, como também precisamos aumentá-lo ainda mais. A exigência sobre aquilo que fazemos será cada vez mais alta e encaramos isso com empolgação." (Visada de Prescrição)

Tom: informativo, cobrança Caráter: exigente Corporalidade: (modos de organização)

Modos de Organização

Contrato

(continuação)

Modo enunciativo delocutivo. Modo descritivo.

Modo enunciativo alocutivo - relação de influência. Modo descritivo

Modo enunciativo elocutivo. Modo argumentativo

192

Finalidade Propósito / Espaço de Tematização

Referir para que se trabalha: copa da tecnologia, criar produtos

Estabelecer uma relação de 1) poder compensatório, cujas recompensas são o reconhecimento do trabalho pelos clientes, pela organização e pelo mercado, o que culmina "sermos campeões". 2) poder condicionado, pois questões ambientais impõem desafios às ações da organização, que responsabiliza-se por responder com responsabilidade a essa demanda.

Espaço de Locução

Reconhece e atribui características aos trabalhadores, por meio do apontamento dos produtos: criar>surpreender. Treinamos tem sentido associado aos treinamentos feitos pela seleção para a copa do mundo. Implica preparar-se constantemente para criar e surpreender.

"[...] a Hera trabalha para a copa da tecnologia de automação." (Visada de Captação) [...] "Nos orgulhamos pelo avanço de nossas criações [...]" (Visada de Captação) [...] "Esse patrimônio de pessoas altamente especializadas, empresas e cadeia produtiva chama atenção no cenário mundial" (Visada de Informação) [...] "Não é bom saber que ajudamos na diversão de um dos parques temáticos mais modernos da América do Sul?" (Visada de Incitação)

"Tudo para vencer a partida e satisfazer nossos clientes." [...] (Visada de Prescrição) "Nos orgulhamos pelo avanço de nossas criações tanto nos campos de petróleo do Pré-Sal, quanto em mercados onde as exportações comprovam o seu valor." (Visada de Informação) [...] "São estas companhias que ajudam a reduzir o grande déficit de nossa balança comercial no segmento de eletrônica. Não é pela mera manufatura de produtos que vamos pagar a conta do conhecimento." (Visada de Incitação) [...] "Somos uma empresa que surpreende com seus produtos. Que em 2014, todos possam crescer e prosperar para sermos campeões." (Visada de Incitação)

Justificar: apresentar realizações da empresa. Abordagem: estabelece relação com a copa do mundo para apresentar objetivos e resultados da empresa. Destinatários: o tom irônico adotado pelo EUc manifesta a seriedade que é esperada pela organização. Embora seja um período de jogos e de descontração (copa do mundo), os objetivos da empresa devem ser priorizados em prol de atender aos clientes.

Espaço de Relação

83

"Ao logo dos anos, treinamos diariamente para criar produtos que surpreendam." (Visada de Prescrição)

Tom: irônico Caráter: introvertido, rígido Corporalidade: (modos de organização discursiva)

Modos de Organização

Contrato

(conclusão)

Modo enunciativo elocutivo (modo de fazer). Modo argumentativo.

Modo enunciativo elocutivo (modo de fazer).

Modo enunciativo elocutivo (modo de fazer). Modo argumentativo.

193

ANEXOS

194

ANEXO A - Editorial do Jornal da Empresa HERA, Edição 77

Informando e Trabalhando, março de 2012. Iniciamos um ano muito especial para a Hera, em que completamos 30 anos. Ao fazer uma reflexão sobre esse tempo que passou, posso dizer que alcançamos uma posição de destaque no mercado, graças ao trabalho de muitas pessoas que dedicaram entusiasmo, coragem e disposição. A história da Hera demonstra que desenvolvemos as bases necessárias para novas conquistas: profissionais qualificados, produtos de classe mundial, soluções tecnológicas e inovadoras, e excelência em gestão. Chegamos aos 30 anos com a certeza de que estamos preparados para o futuro, conquistar novos mercados, ultrapassar barreiras, ser referência mundial. Nos preparamos para um ano de muitas celebrações para festejar essa trajetória de sucesso. Iniciamos com um logotipo comemorativo, que você conhecerá neste Informando & Trabalhando. A convenção de vendas 2012 marcou o início das comemorações, que seguirão intensamente até o mês de aniversário, em outubro. Esta edição trará informações sobre o prêmio mundial de design iF Product Design Award 2012, recebido pelos Controladores Programáveis da Série ABC. O produto também será destaque em um artigo que fala sobre Redes de Campo, onde serão expostas a configuração e o gerenciamento de pontos de entradas e saídas em redes PROFIBUS-DP. Um importante projeto de Energia Eólica em desenvolvimento pela Hera será explorado no texto “Mais energia limpa no Rio Grande do Sul”. Além disso, a finalização do sistema para automação do bombeio de álcool da Ipiranga será abordada, com informações detalhadas do processo. O crescimento das vendas de Inversores de Frequência em 2011 e os novos produtos que complementarão a linha da Hera, a entrega do primeiro lote de painéis da plataforma P-58 para Petrobrás, além das feiras e eventos que participaremos no próximo trimestre e notícias de mercado, poderão ser conferidas nesta edição do I&T. Aproveite a leitura!

Disponível em: . Acesso em: 22. maio. 2013.

195

ANEXO B - Editorial do Jornal da Empresa HERA, Edição 78 Informando e Trabalhando, agosto de 2012. Passaram os tempos em que uma indústria podia competir baseada em comandos manuais. Hoje é necessário colocar nossa inteligência dentro da máquina, e a má- quina dentro da indústria. É isso que estamos fazendo na Unidade de Painéis da Hera, inaugurada oficialmente em Sapucaia do Sul/RS. Essa fábrica produz painéis de automação, equipamentos para fazer que qualquer processo industrial moderno seja viável. Esses painéis são o cérebro de complexos sistemas de produção e infraestrutura, como as plataformas de petróleo, usinas hidroelétricas e metrôs. Sem eles não existe a menor possibilidade de produção, e uma falha deles paralisa todo o processo. Os produtos e as soluções desenvolvidas pela Hera são recheados de conhecimento, e conhecimento gera a capacidade de competir. Ficamos muito felizes por ter reunido na Hera mais de 350 profissionais, altamente qualificados, com muita vontade de mostrar que é viável fazer por aqui o que fazem no exterior, engarrafar de forma metódica conhecimento em produtos. Esta edição do Inovando & Automatizando comemora o sucesso da Hera em um momento em que consolidamos a fábrica de painéis, e que recebemos o Prêmio Inovação RS 2012 nas dimensões Liderança e Estratégia, pelo segundo ano consecutivo. Novidades nos produtos da Hera como o PIDControl da Série ABC, ferramenta integrada que auxilia na configuração e sintonia das malhas de controle, e a Training Box Duo também serão destaque neste I&T. Além disso, lançaremos a nova solução da Hera para monitoramento e diagnósticos de sistemas de vibração. A solução OPENpredictor é fruto de uma parceria entre a Hera e a empresa dinamarquesa Rovsing Dynamics, que você poderá conhecer melhor na página 7. O fornecimento da solução Hera para atender os no- vos requisitos de rede do ONS, a inauguração do ITT Fuse – Instituto de Segurança Funcional, e o pioneirismo da empresa no desenvolvimento de produtos no laboratório, serão outros temas abordados nesta edição. Aproveite a leitura! Um abraço

Disponível em: . Acesso em: 22. maio. 2013.

196

ANEXO C - Editorial 1 do Jornal da Empresa HERA, Edição Especial

Informando e Trabalhando, Edição Especial de 30 Anos – n. 79 Comemorar os 30 anos da Hera nos faz refletir sobre o ambiente que, em 1982, eu e Fulano, fundamos a empresa. A Hera é especialmente complexa. Um tipo de organização pouco comum na época em que foi criada, quando a palavra tecnologia era bem menos pronunciada. Desde lá, enfrentamos várias transformações. Foi necessária dedicação e a criação de processos. Nossa diversidade de operações é alta. Desenvolvemos desde chips até soluções para plataformas de petróleo. Isso exigiu dois esforços básicos: dominar as tecnologias de informática, hardware e software, e dominar as tecnologias de gestão. Esses dois esforços foram se aprimorando e hoje são executados por mais de 350 profissionais, altamente qualificados que nos proporcionam a certeza de que podemos fazer muito mais, e com mais velocidade. Como a Hera, outras empresas semelhantes surgiram, mostrando o espírito empreendedor e provando que podemos sim avançar em novos mercados, onde a tecnologia e a inovação são a lógica da criação de valor. A missão de nossas empresas é hoje também ajudar a formar mais profissionais qualificados, pois só assim poderemos vencer o desafio de transformar o Brasil em um país mais equilibrado, onde nossa tecnologia seja tão importante quanto nossos recursos naturais. Esta edição do Informando & Trabalhando é especial, pois comemoramos os 30 anos da Hera. E gostaria de utilizar este espaço, que sempre proporcionou um canal de comunicação direta com todos àqueles que têm alguma relação com a Hera, para agradecer. Referenciar aqui todos os nossos fornecedores, clientes e parceiros financeiros de forma justa seria impossível. Sendo assim, dedico os meus mais sinceros agradecimentos a todos que nos ajudaram e continuam confiando em nosso propósito de crescer neste mercado. Agradeço a todos que fazem parte dessa história e que contribuíram para contar todas as novidades da Hera no I&T, este importante informativo que produzimos orgulhosamente desde 1987. Comemorar os 30 anos da Hera é um dos momentos mais gratificantes da vida. Saber que temos amigos, parceiros, colaboradores, e um sócio como o Fulano que foi sempre incansável para chegarmos aqui. Aproveite a leitura desta edição que foi carinhosamente desenvolvida para festejar os 30 anos de evolução em automação que a Hera proporcionou ao mercado mundial.

Disponível em: . Acesso em: 22. maio. 2013.

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ANEXO D - Editorial 2 do Jornal da Empresa HERA, Edição Especial

Informando e Trabalhando, Edição Especial de 30 Anos – n. 79 Há 27 anos lembro de estar em São Paulo, com minha família. Meu filho Y havia recém nascido e eu levantava todos os dias muito cedo e ia tomar café da manhã em uma das padarias da rua Abilio Soares, no bairro do Paraiso. Às vezes, levava pela mão meu filho mais velho, o X, na época com dois anos. Aquela rotina permitia o convívio com ele já que eu voltava para casa invariavelmente após as dez da noite e ele já estava no ultimo sono. Saia bem cedo num Gol branco a visitar clientes de forma frenética apresentando as vantagens do nosso primeiro AL-1000. Ali eu cultivava o conhecimento de vendas e o de conhecer pessoas que depois viriam a se tornar amigos, clientes. Invoco este período para dar ênfase, no momento em que fazemos 30 anos, na importância de não esquecermos nunca um dos principais valores da Hera: pessoas felizes. Um passar rápido pelo significado deste valor pode nos levar à ilusão de que se trata de compensação pura e simples para nossos times, a partir de suas tarefas, investindo-se aqui em remuneração adequada, bom ambiente de trabalho e uma carreira desenhada para promover desafios compensadores. Obviamente estes pontos são importantes. Mas pessoas felizes significa muito mais do que isto. Inicialmente estas pessoas não são somente nossos funcionários, e sim toda e qualquer pessoa com quem vamos nos relacionar incluindo aí um universo completo de interessados na Hera: clientes, fornecedores, publico em geral. Por outro lado nós mesmos devemos nos comportar de forma a demonstrar nosso estado de espírito mais importante: estar de bem com a vida! Qualquer que seja o momento! Mesmo no instante de maior crise, maior perigo... Mesmo na hora de grandes sacrifícios. Ao lembrar dos tempos difíceis de São Paulo, lembro muito de pessoas felizes ao meu redor in- dependentemente das enormes dificuldades da época, das crises e das decisões que tivemos de tomar na responsabilidade maior da empresa. Hoje a empresa, com 30 anos, se joga para o futuro. Precisamos solidificar tudo o que foi feito até aqui e me preocupo muito com isto. Mas justamente nas comemorações desta passagem foi onde vi que nosso grupo esta preparado para a principal atitude no trabalho: estar de bem com a vida. Vibrei com nossa banda de rock, com nosso espírito jovial (somos e seremos eternamente jovens na Hera) e com o clima dos eventos em Novo Hamburgo e em São Paulo. Encarando os problemas do dia a dia e os que vêm pela frente para executarmos nossas estratégias e acreditando em pessoas felizes, não tenho duvida que vamos continuar performando, crescendo, sendo admirados por nossos amigos e alimentando nossos relacionamentos. Definidas nossas metas e ações a serem atingidas para cada time, que as lideranças destes levem em conta que para atingirmos isto a atitude de estar bem com a vida que significa o sorriso fácil, o elogio frequente, o alerta jocoso e um espírito otimista, esteja sempre presente no ambiente de trabalho. Atitudes generosas e um desprendimento pessoal para toda e qualquer pessoa que venha em direção da Hera vão ampliar nosso potencial de empresa e nos fazer ser cada vez mais a empresa que evolui dia a dia na automação industrial. Disponível em: . Acesso em: 22. mai. 2013.

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ANEXO E - Editorial do Jornal da Empresa HERA, Edição 80

Informando e Trabalhando, maio de 2013. Uma nova era se inicia para nossa empresa. Depois de três décadas, somos referência no mercado e seguimos em busca de novas formas de continuar a crescer e atingir novos objetivos. O Brasil sabe que a Hera é uma empresa extremamente competente, que desenvolve produtos e serviços de classe mundial para atender diversas áreas do setor de automação e controle de processos. Aqui, contamos com profissionais qualificados que dedicam o seu tempo na criação de soluções inovadoras com tecnologia de ponta. Agora, o momento é de expansão da marca para outros continentes. Com esse objetivo, consolidamos nossa parceria comercial com a empresa Beijer Electronics, da Suécia, que passa a comercializar os produtos da Série ABC e BW em todos os continentes. Ela também se torna acionista minoritária da Hera. Este é um case raro de uma empresa brasileira que faz um contrato de exportação de produtos com alta tecnologia, de longo prazo. Tudo isso não seria possível sem o trabalho duro de nosso P&D, que desenvolveu um produto que entusiasmou o mercado internacional. Nosso crescimento global vai diretamente ao encontro do Programa Brasil Maior e da Associação P&D Brasil. Ambos fomentam a indústria brasileira e incentivam a evolução das empresas nacionais, com o desenvolvimento de produtos sofisticados e competitivos no mercado em que estão inseridos. Esta edição do Inovando e Automatizando celebra o momento vivido pela Hera e apresenta muitas novidades, como as matérias que falam sobre o ABC e sua nova produção que segue a diretiva RoHS – menos impactante ao meio ambiente -, sobre nossa nova linha de UTRs, Série HX, além de um artigo técnico sobre o BP. Aproveite a leitura! Um abraço, Beltrano

Disponível em: . Acesso em: 22. maio. 2013.

199

ANEXO F - Editorial do Jornal da Empresa HERA, Edição 81

Informando e Trabalhando, agosto de 2013. Em meio a este momento de expansão global da Hera, esta nova edição do Informando & Trabalhando vem cheia de novidades e assuntos importantes para aqueles que se relacionam conosco. Estamos nos preparando para ingressarmos no Bovespa Mais. Este se trata de um mecanismo criado para companhias que querem acessar o mercado de forma gradual. Desta forma, elas ficam na “vitrine” por mais tempo para possíveis investidores, sem a necessidade de uma abertura imediata de capital. Para nossa empresa, o Bovespa Mais representa a melhor maneira de entrarmos neste segmento de negócios, pois nos possibilita uma tranquila adaptação às exigências do mercado de ações. Assim, também podemos manter o nosso constante aprimoramento de gestão administrativa. Aliado a esta novidade, estamos dando outro grande passo a nível internacional. Em setembro, os controladores programáveis da Série ABC vão começar a ser comercializados pela Beijer Electronics no mercado escandinavo. Nossos sócios do Velho Continente vão organizar roadshows por diversas cidades suecas. Eles preveem que mais de 2000 clientes possam conhecer a Série ABC com estas ações. Outra frente na qual estamos atuando é a Associação P&D Brasil, da qual sou o presidente. Como referência nacional de empresa de base tecnológica, é dever da Hera contribuir para o crescimento desta entidade que visa aproveitar competências presentes nas empresas, nos meios acadêmicos e na sociedade. Só assim poderemos ter um país mais próspero e soberano tecnologicamente. No dia cinco de setembro, um seminário de gestão para melhores práticas de P&D vai ocorrer na FIERGS, em Porto Alegre, com a participação de diversos líderes neste setor. E agora, convido a todos para mais uma leitura da nossa revista. Nesta edição, há algumas matérias interessantes, como as primeiras entregas de equipamentos para as plataformas P-66 e P-67 e as atualizações da Série ABC, que continua a ser estudada e renovada em nosso processo de Pesquisa & Desenvolvimento. Que as próximas edições do I&T possam trazer tantas boas novas como esta. E que possamos continuar a crescer. Aproveitem a leitura! Um abraço, Beltrano

Disponível em: . Acesso em: 22. maio. 2013.

200

ANEXO G - Editorial do Jornal da Empresa HERA, Edição 82

Informando e Trabalhando, novembro de 2013. O começo de uma nova fase da Hera ficou simbolizado com a cerimônia de listagem da nossa empresa no BOVESPA MAIS. Mantivemos nossa tendência pioneira, nos tornando a primeira companhia do estado a ingressar neste segmento da bolsa. Este I&T traz um relato sobre o evento na sede da BM&FBovepa, em São Paulo. Nossa última edição do ano traz também uma matéria sobre os 60 anos da Petrobrás, completados em outubro, e o relacionamento da Hera com a maior estatal brasileira. É uma honra podermos dizer que desenvolvemos soluções para eles há mais de 20 anos. Isto significa dizer que fazemos, orgulhosamente, parte de um terço desta história de seis décadas. Lembro de alguns dos nossos primeiros projetos, como o Sistema de Supervisão de Energia SCMD, na Refinaria Alberto Pasqualini, e a primeira automação de uma plataforma pela Hera, a P-15. Quem poderia afirmar que estes projetos seriam a largada para aplicações maiores e ainda mais complexas, como as citadas nas páginas seis e sete deste I&T. Juntas, Petrobrás e Hera puderam crescer e superar barreiras, criando complexos sistemas de automação e entregando mais de cem mil pontos de controle. A Hera, particularmente, se firmou em 2013 como uma empresa brasileira que exporta produtos com tecnologia de ponta para outros continentes. Agora, não só devemos manter o nosso nível de produtos e serviços, como também precisamos aumentá-lo ainda mais. A exigência sobre aquilo que fazemos será cada vez mais alta e encaramos isto com empolgação. Esta edição do I&T traz mais uma matéria sobre inovações dentro da Série ABC, além de um artigo sobre a operação e configuração da Série HX. Que o próximo ano seja ainda melhor do que foi 2013 e que a parceria Hera /Petrobrás possa durar ainda por muito tempo. Aproveitem a leitura! Um abraço, Beltrano

Disponível em: . Acesso em: 22. maio. 2013.

201

ANEXO H - Editorial do Jornal da Empresa HERA, Edição 83

Informando e Trabalhando, abril de 2014. Assim como a seleção brasileira se prepara para o mundial, a Hera trabalha para a copa da tecnologia de automação. Ao longo dos anos, treinamos diariamente para criar produtos que surpreendam. Tudo para vencer a partida e satisfazer nossos clientes. Nos orgulhamos pelo avanço de nossas criações tanto nos campos de petróleo do Pré-Sal, quanto em mercados onde as exportações comprovam o seu valor. O Brasil se preparou para esse momento. São décadas de políticas de desenvolvimento, como a Lei de Informática, que contribuíram para criar empresas com domínio da tecnologia. Este patrimônio de pessoas altamente especializadas, empresas e cadeia produtiva chama atenção no cenário mundial. São estas companhias que ajudam a reduzir o grande déficit de nossa balança comercial no segmento de eletrônica. Não é pela mera manufatura de produtos que vamos pagar a conta do conhecimento. Esta edição do I&T traz vários fatos que reafirmam nosso avanço. Destaco a nova fábrica de produtos, com uma linha SMT altamente flexível, que permite produzir uma grande diversidade de equipamentos com muita agilidade na nossa matriz. Nossos integradores nos surpreendem ao fazer nevar. É o que descreve a reportagem sobre a automação do Parque Snowland, no Rio Grande do Sul. Não é bom saber que ajudamos na diversão de um dos parques temáticos mais modernos da América do Sul? As mesmas ferramentas são usadas na automação do setor de microeletrônica, como nas salas limpas da XYZ, que exigem os mais rígidos padrões ambientais. Temos ainda novidades da Série ABC, além dos lançamentos de novos modelos da Série iX de IHMs e dos hotsites da remota HX e do software BP. Para a Hera, este ano será igual apesar da copa e das eleições. Somos uma empresa que surpreende com seus produtos. Que em 2014, todos possam crescer e prosperar para sermos campeões. Aproveitem a leitura! Um abraço, Beltrano

Disponível em: . Acesso em: 22. maio. 2013.

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