“Drama e Comunicação” de Paulo Filipe Monteiro: Relatório de leitura e reflexão crítica do capítulo, “O Espectáculo da Política”

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Faculdade de Letras da Universidade do Porto Teatro e Teatralidade Joana Cardoso, Junho, 2014

“Drama e Comunicação” de Paulo Filipe Monteiro: Relatório de leitura e reflexão crítica do capítulo, “O Espectáculo da Política”

O presente relatório de leitura do capítulo, O Espectáculo da Política, inserido na obra de Paulo Filipe Monteiro, Drama e Comunicação1, debruçar-se-á não só sobre a análise da narrativa, mas também numa reflexão crítica pautada na relação histórica entre a representação teatral, a Política e os Media. Não obstante, esta sintetiza a tese do autor de que existe uma dimensão dramática no seio político e que, com a intervenção activa dos Media, é capaz de desenvolver uma poderosa estratégia de marketing. Monteiro inicia a sua narrativa recuando ao século XVIII, quando Schiller já reflectia acerca da «importância da representação na conquista e manutenção do poder político»2, uma vez que ela poderia traduzir-se numa «encarnação sensível do ideal». Ademais, Schiller acrescenta que, tanto a representação como o seu palco, são uma «infallible key to the most secret passages of the human soul»3. Assim, ela apresentaria ao público vigente a História e todas as vicissitudes da experiência humana. Enquanto que Rousseau identifica-os como uma «sphere of dissimulation which serves only to gratify conventional opinion»4, Schiller argumenta que é apenas através da representação e do seu palco que o mundo «hear what they rarely ever hear elesewhere: 1

Compilação de capítulos que, agregados, sustentam a tese de que, nas mais variadas instituições sociais, a dimensão dramática está bem patente. 2 O Espectáculo da Política in Drama e Comunicação, Paulo Filipe Monteiro, p. 41. 3 The Stage Considered as a Moral Institution in Friedrich Schiller: An Anthology for our Time. 4 Rousseau on Arts and Politics in Rousseau’s Influence on Schiller’s Program of Aesthetic Regeneration, Melissa Butler, p. 2.

the truth»5. Mas, no espectro político, a verdade crê-se camuflada na teatralidade do seu espectáculo. Historicamente, o conceito de espectáculo, pelo seu carácter público e efeito na sociedade, tem sido conotado ao drama, e este remete, em primeira instância, ao universo teatral e, por conseguinte, à encenação e à arte de representar. Uma vez que se prevê que o drama provoque o quotidiano, despertando o interesse do seu público, Monteiro evoca Balandier para destacar «a própria instituição da política como espectáculo»6.

“Por detrás de todas as formas de disposição da sociedade e de organização dos poderes, encontra-se, sempre presente, governante de bastidor, a “teatrocracia”(…). O grande actor político comanda o real imaginário.”

pelo

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Nesse sentido, o poder político é sempre uma teatrocracia, que é exercida através de uma caracterização dramática, com o intuito de adquirir a adesão emocional dos seus espectadores em detrimento da teoria política. Como exemplo, Balandier destaca o parlamento, lugar onde ordena uma encenação ideológica, com um código de conduta de que faz parte a retórica, o bem falar, a ordem e a agressividade discursiva. Além do mais, pense-se na construção teatral do próprio parlamento: um anfiteatro e um palco, onde todas as decisões são tomadas. O poder político, para Balandier, caracteriza-se pela força, mas não exclusivamente, pois os dominados não aceitam passivamente uma dominação bruta e sem justificação plausível. Assim, a teatrocracia surge como uma aparência que adorne a essência.

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Rousseau on Arts and Politics in Rousseau’s Influence on Schiller’s Program of Aesthetic Regeneration, Melissa Butler, p. 2. O Espectáculo da Política in Drama e Comunicação, Paulo Filipe Monteiro, p. 43. Id. Ibid.

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A relação entre a política e o espectáculo, como que estabelecida unicamente por intermédio dos meios de comunicação é, neste capítulo, desconstruída por Monteiro. De facto, no decorrer do século XX e com o desenvolvimento dos meios de comunicação, a esfera política expandiu a sua influência sobre as massas, o que antes se restringia à esfera local. No entanto, já entre os séculos VII e VI a.C., na Grécia Antiga, a política surgia associada ao espectáculo, pois «os tiranos já utilizavam abundantemente as festas populares em benefício da sua propaganda»8. Inclusiver em Roma, onde «o espectáculo do poder desenvolveu-se ainda mais. Já desde os tempos da República, os magistrados ofereciam festas e os generais vitoriosos encenavam os seus triunfos»9. Perante o desagrado do povo, o Imperador testava a sua popularidade, oferecendo aos seus súbditos festas, o que o tornava uma figura querida. Com o surgimento da retórica, adoptam-se estratégias próprias do espectáculo, com finalidades persuasivas, tal como Aristóteles afirmou, que a retórica deveria ser entendida como a «capacidade de descobrir o que é adequado a cada passo com o fim de persuadir», acrescentando que «persuade-se pela disposição dos ouvintes, quando estes são levados a sentir emoção por meio do discurso»10. De facto, é condição necessária que as entidades políticas usem estratégias discursivas em prol do consenso comum. Adicionalmente,

Aristóteles,

na

sua

Retórica,

reflectiu

sobre

o

que,

na

contemporaneidade, seria banalmente apelidado de “jogo político”:

“(…) é evidente que pertencem a esta mesma arte [retórica] o credível e o que tem aparência de o ser, como são próprios da dialéctica o silogismo verdadeiro e o silogismo aparente; pois o que faz a sofística não é a capacidade mas a intenção. Portanto, na retórica, um será retórico por conhecimento e outro por intenção, ao passo que, na dialéctica, um será

8 9

O Espectáculo da Política in Drama e Comunicação, Paulo Filipe Monteiro, p. 44. Id. Ibid. In Retórica, Aristóteles, p. 95 – 97.

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sofista por intenção e outro dialéctico, não por intenção mas por capacidade”.11

Com o passar do tempo, o espectáculo político assumiu novos contornos, mas não raro, sem se distanciar por completo do carácter espectacular de outrora. Como anteriormente referido, a encenação, ao nível dos comícios, eleições, cerimónias e discursos de tomada de posse, revela ser uma característica essencial no seio político. Aliás, Monteiro afirma que a «vida política está repleta de termos teatrais», como «palco da política», «actores políticos», «ribalta», «cabeças de lista», «cabeças de cartaz» ou até «cair do pano»12.

“(…) muitas vezes os congressos e reuniões políticas (ou os Estado Unidos, mesmo em debates televisionados) passaram a organizar-se em salas de espectáculos ou recintos desportivos. A política é também um dos lugares onde o guarda-roupa e adereços mais fazem lembrar os do teatro ou da ópera: uniformes, galões, medalhas, condecorações, faixas.”13

O desenvolvimento da tecnologia e dos meios de comunicação surge em resposta às necessidades políticas de visibilidade e imagem, uma vez que o actor político quer-se não só na cena pública, mas também sedutor, aquele que necessita de se fazer compreender perante todos. Os meios de comunicação emergem, assim, como a instituição capaz de produzir o espectáculo, construindo cenários e imagens sociais, através das imagens visuais, o que permitirá ao indivíduo político a querida visibilidade num mundo onde a existência física já não garante a existência social. Nesse sentido, e citando Boorstin14, Monteiro afirma que a época corrente «criou o fenómeno do “pseudo-evento”», uma «performance dramática que controla a apresentação da imagem 11

In Retórica, Aristóteles, p. 94 - 95. O Espectáculo da Política in Drama e Comunicação, Paulo Filipe Monteiro, p. 47-48. 13 Id. Ibid., p. 48. 14 Fenómeno mais amplamente desenvolvido na sua obra, The Image: a guide to pseudo-events in America. Reportar à última secção, Bibliografia e Referências Bibliográficas. 12

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individual ou grupal às massas»15. Tal confirma a importância da construção de uma imagem social para a instituição política.

“Ora, quando o próprio Estado se transforma em empresa produtora de espectáculo, muda não apenas o discurso como a economia da acção política, o cálculo das perdas e ganhos potenciais quando se elaboram decisões e o modo de as apresentar tecnicamente. Surgem novos tipos de aparelho, quer na técnica quer no pessoal: novas organizações e estruturas de poder adquirem influência

superior

aos

aparelhos

tradicionais

das

democracias

representativas, agora em função das regras do espectáculo e da publicidade.”16

Assim, pode-se dizer que o espectáculo produzido pelos Media, traduz-se no maior recurso da política, por ser capaz de interferir mais dinamicamente no imaginário dos espectadores, em detrimento de interesses específicos. Certo é que, no decorrer do século XX, as democracias contemporâneas caracterizavam-se por uma esfera pública dependente dos meios de comunicação, pelo que esta era a instituição que melhor poderia difundir opiniões, ideais e debates acerca dos mais variados temas. O indivíduo público, transmitindo a sua política às massas através dos meios de comunicação, vê-se tentado a adorná-la. Para tal, Monteiro chama a atenção para os profissionais contratados pelas figuras políticas, com o intuito de lhes construir ou salvaguardar a imagem social.

“Em campanha, os “homens avançados” organizam a deslocação (itinerários, reuniões, comícios) e informam os candidatos sobre os problemas e os dirigentes locais, de modo a que ele os possa mencionar, dando a impressão de conhecer muito bem as questões específicas daquela localidade e evitando ferir susceptibilidades ou agravas conflitos (…). O presidente dos Estados Unidos Gerald Ford chegou a contratar oficialmente para a Casa

15 16

O Espectáculo da Política in Drama e Comunicação, Paulo Filipe Monteiro, p. 51. Id. Ibid., p. 50.

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Branca um gangman, incumbido de acrescentar frases espirituosas e opening jokes nos seus discursos – como em Hollywood.”17

Este fragmento demonstra a poderosa estratégia de marketing adoptada na esfera política. Não obstante, é de notável importância referenciar que, várias entidades políticas foram e ainda são jornalistas, donos de companhias prestadoras de serviços de radiofusão ou, de alguma forma, inseridas no meio informativo.

“É interessante verificar quanto políticos foram também jornalistas: na França do século XVII, Luis III e Richelieu, sob pseudónimos, escreviam para jornais; na revolução Francesa, figuras tão centrais como Desmoulins e Marat trabalharam na imprensa; o próprio Napoleão Bonaparte lançava boletins para tornar populares as suas campanhas em Itália e no Egipto (…). Em Portugal não faltam também os exemplos, desde Salazar a Marcelo Rebelo de Sousa, Paulo Portas, Miguel Portas, Pacheco Pereira (…). Kennedy também ganhou as eleições pelo respeito e afabilidade com que sempre tratou a imprensa e de que esta se dava conta nas suas notícias, ao contrário do que acontecia com Nixon.”18

Monteiro, no entanto, relembra Hitler, que afirmava que «todos os grandes acontecimentos que revolucionaram o mundo», foram «provocados pela palavra [oral] e não pelos escritos»19 e, por isso, utilizava abundantemente a rádio, meio de maior difusão na época. Note-se que a rádio, apesar de ter uma taxa de ouvintes tendencialmente a diminuir, constitui um forte instrumento de formação de opinião perante o povo. Com a evolução da tecnologia, nomeadamente dos meios de comunicação no início do século XX, os interesses públicos isolados passaram a ser divulgados às massas de uma forma mais simples e prática. Prevê-se que a Imprensa se debruce

17 18 19

O Espectáculo da Política in Drama e Comunicação, Paulo Filipe Monteiro, p. 52. Id. Ibid., p. 52 – 53. Id. Ibid., p. 53.

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apenas no papel de comunicar o que se viu, leu e ouviu, e não estabelecer ou divulgar padrões morais, éticos, jurídicos ou reestabelecer antigos. Assim, cabe-lhe a nobre tarefa de promover a visibilidade necessária ao regime vigente ou ao (s) candidato (s) para o mesmo, expondo todos os pontos de vista. Monteiro alerta o leitor para a rádio e todas as vicissitudes atreladas, nomeadamente a mentira.

“No fundo , a geração da segunda guerra mundial foi a mais radiofónica. Mas algo teve de mudar no advento do cinema sonoro e da televisão (…). Hitler pertencia à era da rádio, mas que agora, com a televisão, tudo era diferente, porque a imagem tornava a mentira mais difícil. Passado meio século, sabemos como não acabou a “mentira em política” (…)”20

A questão da mentira ou até corrupção, associada ao homem público, também foi trabalhada por Thompson no seu Escândalo Político21.

“No século XV, a palavra [corrupção] adquiriu também o sentido ao qual nós hoje comumente a associamos: a perversão ou falta de integridade no desempenho das obrigações públicas através de subornos ou favores, especialmente pelos oficiais dos Estado ou de alguma instituição pública.”22

A palavra corrupção, derivada do latim corrumpere, associada ao conceito de desintegração ou deterioração, é conectada à ideia de função pública. De facto, é exigido, não só na política mas a todas as personalidades e instituições de carácter público, o cumprimento das normas em escala mais alargada do que ao cidadão comum.

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O Espectáculo da Política in Drama e Comunicação, Paulo Filipe Monteiro, p. 54. O Escândalo Político: poder e visibilidade na Era dos Media, John B. Thompson. Reportar à última secção, Bibliografia e Referências Bibliográficas. 22 In O Escândalo Político: poder e visibilidade na era dos Média, John B. Thompson, p. 56. 21

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“(…) aos argumentos apresentados pelos candidatos, se sobrepõe, em televisão, uma quarta dimensão, que vive sobretudo da imagem e provoca no telespectador um sentimento intuitivo de adesão ou recusa.”23

A opinião pública sobre a política deixou gradualmente de ser construída a partir de ideais partidários, para ser ligeiramente imposta ao politicamente apático cidadão, através de visões e imagens. Os meios de comunicação aumentaram a sua influência na sociedade, pelo que passaram gradualmente a cumprir a função que estava destinada ao partido, a função de manter os candidatos e eleitores próximos. Nesse sentido, dá-se uma intuitiva alteração das condições tradicionais do voto, na medida em que o eleitor indeciso irá se deixar convencer a votar em um ou noutro candidato, conforme a imagem e os valores transmitidos nos meios de comunicação envolvidos (sejam eles estratégia de marketing ou não). A televisão é, actualmente, o meio mais solicitado para as disputas políticas: o eleitor já não necessita de sair da sua casa nem interagir pessoalmente com o candidato, para ficar a par das propostas deste e do seu partido. Aliás, essas mesmas propostas são colocadas em segundo plano, pelo que o cerne da campanha está no espectáculo e no aparato mediático. Monteiro usa o exemplo de Richard Nixon para salientar que a imagem

e

o

espectáculo

televisivo

poderão

eventualmente

influenciar

os

telespectadores. Para tal, evoca o debate do antigo Presidente dos Estados Unidos da América com um outro, John Kennedy, em 1960, ambos candidatos à Casa Branca.

“Antes desse primeiro debate, os seus assistentes determinam a instalação de dois minúsculos projectores de 500 watts a fim de iluminar directamente as órbitas de Nixon, eliminando-lhes a sombra profunda (…); mas os fotógrafos de imprensa, cuja presença no plateau é autorizada na última hora, deslocam involuntariamente os

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O Espectáculo da Política in Drama e Comunicação, Paulo Filipe Monteiro, p. 56.

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projectores colocados com tanto cuidado. Além disso, embora estivesse abatido e convalescendo de uma doença, Nixon recusou os serviços de um maquilhador especializado da CBS (…). Nixon vestiu uma roupa cinza-claro, para contrastar. Ora, ao secar, o tom de cinza ficou sensivelmente mais claro do que o previsto. Contra aquele fundo claro inesperado, a figura de Nixon, metido na sua roupa clara, diluía-se num contorno impreciso e parecia absorvida pelo cenário (…).”24

Monteiro remata esta análise de Schwartzenberg, informando o leitor que a margem com a qual Kennedy venceu as eleições desse ano foi de 0.17%, e que «6% dos eleitores assumiram terem decidido o sentido de voto durante os debates televisivos»25. Concluise que a política é obrigada a submeter-se à lógica televisiva, com o intuito de arrecadar popularidade entre as massas. Em plena Era da Comunicação mediada pelos meios tecnológicos inovadores, o telespectador indeciso, na hora do voto, irá lembrar-se do candidato mais apelativo e que mais vezes viu ao longo da campanha. Os meios de comunicação também são os principais produtores e divulgadores dos conteúdos de interesse público. Por conseguinte, os candidatos que anseiam transmitir uma imagem humanizada e a aclamação final, abdicam da sua intimidade. Monteiro reflecte esta questão, afirmando que o candidato político é alguém que «quase sempre exibe tudo: a família, os animais domésticos, a idade, a saúde, os bons costumes, a vida sexual (…). Tradicionalmente, é necessário o candidato ser casado», uma vez que se torna «uma figura humanizada, familiar» e, por conseguinte «conquista votos femininos». Adicionalmente, Monteiro frisa campanhas com a presença ou imagem de filhos e netos, o que, para além de «enternecerem qualquer um», o político adquire «um aspecto mais comum, ao mesmo tempo parecendo confirmado como pai ou

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O Espectáculo da Política in Drama e Comunicação, Paulo Filipe Monteiro, p. 56. Id. Ibid.

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avô da nação»26. Toda esta exposição ao nível íntimo, constituem factores que transcendem à capacidade intelectual e/ou prática que o candidato terá para governar uma nação, mas de peculiar importância para o eleitor, que simpatizará com uma figura que enquadre certos parâmetros universais. Deste modo, a pressão social e política, obriga o candidato a arrastar toda a sua vida pessoal para o espectáculo associado à sua campanha. No entanto, a exposição excessiva da intimidade do candidato ou até, posteriormente, já como chefe do governo, não se alarga a todo o espectro político.

“Ditadores como Estaline, Hitler ou Salazar não adoptavam a atitude familiar, não mostravam sequer a mulher, cultivavam a distância. Seguiam o conhecido preconceito de que «não existe nenhum grande homem aos olhos dos seus criados» ”27

De facto, líderes de regimes fascistas ou totalitários não viam na intimidade e na sua mediatização um factor relevante para as suas campanhas ou mandatos. Ao invés, dedicavam-se a longos discursos confusos, ideológicos, com alusões esporádicas ao patriotismo e envoltos de um aparato mediático colossal: o povo teria de aclamar o seu líder, com receio das consequências. Com o vingar das democracias ocidentais, os candidatos vêem-se agora obrigados a preencher os requisitos impostos pelo povo, uma vez que este já não se inibe de partilhar a sua opinião, nem de exigir o futuro do seu bem-estar. Com isto, corre-se o grande risco de «os líderes destituídos de ideias e convicções» se disponham «a moldar o essencial do seu programa», a fim de o adaptar

26 27

O Espectáculo da Política in Drama e Comunicação, Paulo Filipe Monteiro, p. 61 - 62. Id. Ibid., p. 65.

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àquilo que os eleitores desejarem e, já eleitos, «fazem sobretudo o que os media querem»28. Monteiro termina a sua reflexão sobre o espectáculo na política com uma citação do Jornal Expresso (5-11-1988) que sintetiza todo o capítulo e quiçá toda a mensagem da obra, Drama e Comunicação.

“ (…) até aos anos 50, os factores decisivos na escolha eleitoral dos americanos eram, por ordem decrescente: o partido, a situação social (grupo étnico, religioso, regional, profissional), os candidatos eles próprios e os temas concretos. Em 1970 (… de então para cá a tendência ter-se-á reforçado), a ordem passou a ser: os candidatos, os temas (mais especificamente os valores defendidos), o partido e a situação social.” 29

Com esta narrativa, Monteiro apresenta ao leitor uma viagem pelo mundo da política e do espectáculo a ela associado, apresentando exemplos históricos e concisos que fundamentam as suas afirmações. O público mais desatento, para o qual o espectáculo da política é direccionado, a priori não reflectirá sobre este fenómeno, o que permite que ele exista. Não obstante, será desenvolvido, em primeira instãncia, para a sociedade comum e não para eleitores com ideais fundamentados e intelectuais. Assim, o espectáculo da política nada mais é do que a política, os discursos partidários e/ou presidenciais, campanhas e candidatos, que recorrem a preceitos teatrais e dramáticos para levarem avante interesses particulares: já não é a capacidade do candidato e de manutenção governamental que leva o eleitor a votar, e sim a sua imagem, postura e retórica. Nesse sentido e atendendo às sociedades e ao desenvolvimento das mesmas,

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O Espectáculo da Política in Drama e Comunicação:, Paulo Filipe Monteiro, p. 69. Id. Ibid., p. 68.

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prevê-se a tendência do uso cada vez mais recorrente do termo “espectáculo” para definir a política pública.

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BIBLIOGRAFIA E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

____________ . Encenações e Rituais Políticos: uma abordagem crítica. In: Revista de Comunicação e Linguagens. Lisboa, (21-22), 105-125, 1995 ALBUQUERQUE, Afonso de. A Política do Espectáculo. In: Dimensões. Rio de Janeiro, (1): 213, 1992 ARISTÓTELES. Retórica. Trad. Manuel Alexandre Júnior; Paulo Farmhouse Alberto; Abel do Nascimento Pena. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2005 BOORSTIN, Daniel. The Image: a guide to pseudo-events in America. New York: Athenauem, 1987 BUTLER, Melissa. Rousseau on Arts and Politics. In: North American Association for the Study of Jean- Jacques Rousseau. Ottawa, 182-200, 1997 CASTELLS, Manuel. The Information Age: Economy, Society and Culture. Cambridge: Blackwell Publishers Inc., 1996 DUPONT, Florence. O Actor-Rei ou o Teatro na Roma Antiga. Paris, 19p. EDELMAN, Murray. Constructing the Political Spectacle. Chigago: University of Chicago, 1988 GEERTZ, Clifford. Negara: o Estado-teatro no século XIX. Lisboa: Difel, 1991 KATZ, Elihu; DAYAN, Daniel. Media Events: the live Broadcasting of History. London: Harvard University Press, 1992 MINC, Alain. O choque dos Media. Lisboa: Quetzal, 1994 MONTEIRO, Paulo Filipe. O Espectáculo da Política. In: Drama e Comunicação. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2010 THOMPSON, John B. O Escândalo Político: poder e visibilidade na era dos Média. Trad. Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis: RJ, 2002

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