É proibido não tocar!

August 6, 2017 | Autor: A. Batel Anjo | Categoria: Education, Teacher Education, Learning and Teaching, Science museums and science centres
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É proibido não tocar! Brian Cox é o nome de um físico britânico e divulgador de ciência que recentemente usou a maior câmara de vácuo do mundo para observar uma certeza que já vem do tempo do Galileu: quando se deixam cair dois objectos de pesos diferentes, estes caem à mesma velocidade. Trata-se de um facto reconhecido que, esquecendo a resistência do ar, os objectos caem à mesma velocidade independentemente da sua massa. Esta é uma experiência que não é fácil de demonstrar no dia-a-dia, uma vez que a resistência do ar está sempre presente. Cox deixou cair uma bola de bowling e algumas penas de uma grande altura dentro daquela que é a maior câmara de vácuo do planeta – Space Simulation Chamber da NASA nos Estados Unidos da América – e observou o resultado. Muito embora todos os cientistas já soubessem qual seria o resultado, reagiram com surpresa e entusiasmo quando verificaram que a bola e as penas atingiram o alvo ao mesmo tempo. Fantástico! Este é o verdadeiro desafio – experimentar!

O saber ocupa qualquer lugar. A aprendizagem constrói-se ao longo da vida e é fundamental para a compreensão da Ciência. Para isso contribuirão todas as situações que ocorram ao nosso redor. Para se entender melhor vamos dividir a aprendizagem – formal, não-formal e informal. A educação formal caracteriza-se por ser altamente estruturada e desenvolve-se no seio de instituições próprias – Escolas e Universidades – onde o aluno deve seguir um programa prédeterminado, semelhante a todos os outros alunos. Já a educação não-formal processa-se fora da escola e é veiculada pelos museus, meios de comunicação e outras instituições que organizam eventos de diversa ordem, tais como cursos livres, feiras e encontros, com o propósito de mostrar os efeitos de experiências científicas. Aqui a aprendizagem desenvolve-se de acordo com os desejos do indivíduo num clima especialmente concebido para se tornar agradável.

Finalmente, a educação informal ocorre de forma espontânea na vida do dia-a-dia através de conversas e vivências com familiares, amigos, colegas e interlocutores ocasionais. Posto isto, podemos afirmar que a aprendizagem formal, não-formal e informal podem apresentar-se como vias complementares de acesso à informação científica. Neste sentido, a ciência não se opõe à cultura, antes a integra contribuindo com conhecimentos específicos para um saber que se adapte às necessidades gerais dos indivíduos em sociedade. O conhecimento que se pode recolher na escola é, em grande parte, não determinado por cada aluno. Daí os confrontos entre os que defendem diferentes currícula e modos de avaliação. Não sendo a Escola o único espaço de aprendizagem esta será sem dúvida o lugar de eleição das mesmas.

As atividades relacionadas com o conhecimento da Ciência e Tecnologia são os motores de crescimento económico e impulsionadores do bem-estar. Ao Património Cultural, urge acrescentar outros conhecimentos que a Ciência e a Tecnologia proporcionam, contribuindo para uma visão enriquecida, do mundo e de nós próprios. A ideia enraizada de que estas temáticas são herméticas e incompreensíveis é uma ideia a contrariar com o esforço de todos os que se envolvem no trabalho de produção e divulgação de ciência.

A divulgação e a Escola devem ter em conta a experiência, vivências e interesses dos receptores da informação e a aproximação a fenómenos facilmente identificáveis e observáveis na natureza já que é essencial não quebrar a comunicação com o público. A Divulgação de Ciência e a Escola são áreas de intervenção na sociedade que contribuem para a promoção da Cultura em geral e a cultura científica em particular.

É proibido não tocar Na visita a um espaço de ciência viva o visitante torna-se o actor principal: ora pode escalar uma parede, ora pode cruzar o espaço numa bicicleta num precário equilíbrio ou simplesmente deitar-se numa cama de pregos. Quando estamos a descobrir – tocar, sentir é a parte essencial do processo. Mas a ideia pode ir mais longe é proibido não desafiar as ideias estabelecidas e confrontá-las com os nossos saberes. No artigo “No theory is too special to question” (Nature 483, 125, Março 2012)., Casey Luskin fala da suposta descoberta que os neutrinos podem viajar mais rápido que a luz. No entanto após refazer o conjunto de experiências, ficou demonstrado que os neutrinos não podem viajar mais rápido do que a luz. Mas a tentativa de refutar a afirmação foi um exercício útil para a comunidade da física teórica. A situação levou a comunidade dos Físicos a discutir o modo apropriado de lidar com casos nos quais os resultados experimentais preliminares desafiam leis "estabelecidas".

Parece que aqueles físicos estavam abertos a desafiar uma das teorias mais preciosas, a relatividade especial. O facto é que a Teoria de Einstein saiu dos testes sem nenhum beliscão, mas o facto de haver alguém que coloque a hipótese de considerar a possibilidade de que a relatividade especial estivesse errada é encorajante.

Penso que na comunidade dos Biólogos existe uma teoria pela qual todos têm uma grande estima e consideração – a Teoria da Evolução. Procurei por várias bases de dados científicas e não encontrei um artigo que se propusesse a desafiar os aspectos fundamentais da evolução. Será apenas uma questão de tempo. A liberalidade e a disposição de tolerar o desafio de “é proibido não tocar” é de facto o princípio básico da ciência. Criar espaços onde tudo possa ser testado, mesmo que levantando todas as dúvidas, é sem dúvida o mais importante e fundamental da nossa sociedade.

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