ECONOMIA MUNDIAL RUMO À DEPRESSÃO EM 2015

October 1, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: Economics, Political Economy
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ECONOMIA MUNDIAL RUMO À DEPRESSÃO EM 2015 Fernando Alcoforado* No artigo, publicado no website , sob o título Economia global: rumo à grande tempestade? de autoria de Jack Rasmus, Ph.D., professor de Economia Política do St. Mary’s College in Moraga, Califórnia e de Economia do Trabalho e da História Econômica dos Estados Unidos na Universidade da Califórnia em Berkeley, seu autor identifica três fases da crise econômica global: A primeira fase da crise econômica global teve como centro a economia dos Estados Unidos de 2007 a 2010. A segunda fase da crise econômica global ficou centrada na Europa, acompanhando o forte declínio norte-americano em 2008-09 além de enfrentarem uma segunda recessão em 2011-12. A terceira fase da crise econômica global teve início em 2014 com a instabilidade financeira e econômica que está surgindo e avançando nos mercados emergentes como o Brasil, inclusive na China cujo crescimento está desacelerando. Dessa forma, o epicentro da crise global, que ocorreu pela primeira vez em 2008 nos Estados Unidos e mudou para a Europa entre 2010 e 2013, agora está se concentrando nas economias dos mercados emergentes, inclusive na China. Segundo Jack Rasmus, antes da crise financeira global e da recessão de 2008, a economia da China estava crescendo a uma taxa anual de 14%. Hoje, a taxa é de 7,5%, com uma forte possibilidade de uma taxa ainda menor de crescimento em 2014. Desde 2012, a China enfrenta um problema cada vez maior com bancos paralelos globais que desestabilizam o mercado imobiliário e o mercado de dívida pública local. No lado financeiro, a dívida total (pública e privada) na China subiu de 130% do PIB em 2008 para 230% do PIB, com a participação dos bancos paralelos globais subindo de 25% em 2008 para 90% do total em 2013. Assim, a participação dos bancos paralelos globais na dívida total quase quadruplicou e representa praticamente todo o aumento da relação entre dívida total pública e privada e o PIB, desde 2008. Como resultado, os bancos paralelos globais são a força motriz por trás do problema crescente da dívida e da fragilidade financeira chinesa. Grande parte do aumento da dívida chinesa foi direcionada para uma bolha imobiliária, acompanhada de uma bolha de dívida pública local, uma vez que os governos locais levaram ao limite os projetos imobiliários, novos empréstimos empresariais e projetos de infraestrutura. O aumento da dívida do setor privado está se aproximando de proporções críticas na China. Um evento importante de instabilidade global pode facilmente surgir, caso ocorra uma inadimplência de um banco ou produto financeiro. De certa maneira, a situação atual da China parece, segundo Jack Rasmus, cada vez mais com os mercados imobiliário e de dívida pública local e estadual americana de 2006. Em outras palavras, a China pode estar se aproximando de seu momento Lehman Brothers. Jack Rasmus afirma que a instabilidade financeira crescente dos mercados locais da China é um possível problema grave, também para a economia global, uma vez que a China e a economia mundial começaram a desacelerar em 2014. No início de 2014, a bolha imobiliária pareceu ganhar força novamente, enquanto a economia real chinesa mostrou sinais de desaceleração. Outros fatores que colaboram ainda mais com a desaceleração da economia chinesa em 2014 é o setor industrial, fonte importante de seu crescimento econômico, especificamente a indústria de exportação, que está desacelerando. As causas da desaceleração da economia chinesa são as mudanças 1

internas de sua economia e o aumento de problemas nas economias da zona do euro e dos mercados emergentes cuja demanda vem caindo. Além disso, a China está lidando com um aumento geral de salários e uma taxa de câmbio cada vez mais desfavorável para sua moeda, o Yuan. Esses dois fatores estão elevando os custos de fabricação e, por sua vez, tornando suas exportações menos competitivas. Os custos cada vez maiores de produção estão causando até um êxodo de corporações multinacionais globais da China, rumo a economias com custos ainda menores, como Vietnã, Tailândia e outros locais. A maioria das exportações da China vai para a Europa e para os mercados emergentes, não apenas para os Estados Unidos. E à medida que as economias dos mercados emergentes desaceleram, a demanda por produtos fabricados pela China e as exportações diminuem. Por outro lado, enquanto a própria China desacelera economicamente, ela reduz suas importações de commodities, produtos semiacabados e matérias-primas dos mercados emergentes (e também de mercados importantes, como Austrália e Coreia). Agora, o fluxo maciço de capital barato que migrou para os mercados emergentes como o Brasil após 2008 (fugindo de taxas de juros próximas de zero no centro do sistema) está voltando rapidamente para os Estados Unidos, Europa, Japão e para o Ocidente. À medida que o capital deixa os mercados emergentes, suas moedas entram cada vez mais em risco de colapso. A partir do final de 2013, em questão de meses, as principais moedas dos países emergentes se desvalorizaram de 10 a 20%. O cenário de declínio das moedas, fuga de capitais e desaceleração das economias emergentes promete tornar-se uma espiral de degradação perigosa e autoamplificadora para a economia mundial. Jack Rasmus sintetiza, no seu artigo Economia global: rumo à grande tempestade?, afirmando haver três tendências econômicas globais significativas que começaram a se intensificar e a convergir nos últimos meses: (1) uma desaceleração da economia da China junto com uma instabilidade financeira crescente em seu sistema bancário paralelo [shadow banking system]; (2) um colapso das moedas dos mercados emergentes (Índia, Brasil, Turquia, África do Sul, Indonésia etc.) e suas respectivas desacelerações econômicas; (3) um desvio contínuo rumo à deflação nas economias da zona do euro, liderado pelo aumento de problemas na Itália e pela estagnação econômica que atinge até a França, a segunda maior economia da zona do euro. Este quadro descrito aponta no sentido de que, em 2015, a humanidade continuará a se defrontar com a gigantesca ameaça representada pelo colapso da economia mundial se nada for feito para reestruturar o sistema capitalista mundial. Quando está sujeito a “flutuações”, como ocorreu após a crise que eclodiu em 2008 nos Estados Unidos, um sistema dinâmico como o sistema capitalista mundial o leva inexoravelmente a um ponto de bifurcação a partir do qual o sistema deve se reestruturar em busca de uma nova estabilidade dinâmica ou entra em colapso. Em outras palavras, no ponto de bifurcação, o sistema tem que ser reestruturado ou entrará em colapso. Esta é a situação vivida pela economia mundial e a de muitos países, inclusive a do Brasil, que, após a crise mundial eclodida em 2008, não houve reestruturação do sistema econômico mundial e dos sistemas econômicos nacionais. Immanuel Wallerstein, sociólogo e professor universitário norte-americano, afirma em seu artigo Crise dos “emergentes” ou do Sistema?, publicado no website , que “poucos parecem admitir que a demanda efetiva global fosse o verdadeiro problema. 2

Mas é nítido que, abaixo da superfície, já o detectaram. É por isso que estão em pânico, porque, então toda sua ênfase no “crescimento” – uma fé crucial – estará minada. Neste caso, a crise deixa de ser cíclica e torna-se estrutural: não pode ser resolvida com paliativos, mas com a invenção de um novo sistema. Esta é a famosa bifurcação, em que há duas saídas possíveis – uma melhor e outra pior que o sistema existente. Um jogo em que todos nós estaremos envolvidos”. Ao invés da adoção de estratégias coordenadas nacionais e globais objetivando a superação da crise econômica global com a reestruturação do sistema capitalista mundial e de cada país, tudo foi feito para manter a falida estrutura econômica e as políticas ultrapassadas que levaram à eclosão da crise de 2008. O modelo neoliberal que regeu o mundo nos últimos 40 anos morreu e haverá depressão que terá a duração de muitos anos. Diante da existência do caos que domina a economia mundial, é chegada a hora de cada país e a humanidade se dotarem o mais urgentemente possível de instrumentos necessários para terem o controle de seu destino. Para ter o controle de seu destino, a humanidade precisa exercer a governabilidade de seus sistemas econômicos e da economia mundial. Este é o único meio de sobrevivência da espécie humana. * Fernando Alcoforado, 74, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.

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