Efeito da orquiectomia na capacidade física de ratos Effect of orchiectomy on rat physical capacity

June 5, 2017 | Autor: Juliano Figueiredo | Categoria: Physical Activity, Testicular Cancer, Physical Performance, Group, Control Group, Motor activity
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ARTIGO ORIGINAL

Efeito da orquiectomia na capacidade física de ratos Effect of orchiectomy on rat physical capacity Denny Fabrício Magalhães Veloso1, Andy Petroianu2, Juliano Alves Figueiredo3,  Fernando Henrique Oliveira Carmo Rodrigues4, Bruno Gustavo Muzzi Carvalho e Carneiro5, Priscila Oliveira Cardoso6

RESUMO Objetivo: A orquiectomia bilateral é indicada para tratamento de pacientes com neoplasia de testículo ou adenocarcinoma de próstata avançado. A influência do hipogonadismo na capacidade física ainda não é completamente conhecida. A proposta deste trabalho foi verificar o efeito da orquiectomia bilateral na capacidade física. Métodos: Dezesseis ratos foram distribuídos em dois grupos: Grupo 1 (Controle), em que os ratos tiveram apenas incisão e sutura da pele (n = 5), e Grupo 2, no qual eles foram submetidos a orquiectomia bilateral (n = 11). Os animais foram treinados a correr em uma esteira a velocidade de 14 m/min, até sua fadiga. Os resultados foram comparados utilizando-se o teste de Mann-Whitney. Resultados: Não houve diferença entre os animais submetidos à orquiectomia e o Grupo Controle. Conclusões: A orquiectomia não afeta a capacidade física de ratos. Descritores: Orquiectomia/efeitos adversos; Castração; Exercício; Atividade motora; Ratos

Hipogonadismo;

ABSTRACT Objective: Bilateral orchiectomy is indicated for the treatment of patients with testicular cancer or advanced prostate tumors. The influence of hypogonadism on physical activity is still not known. The purpose of this work was to verify the effect of bilateral orchiectomy on physical performance. Methods: Sixteen rats were divided into two groups: Group 1 (Control), in which only skin incision and suture were made (n = 5) and Group 2, in which the rats were submitted to bilateral orchiectomy (n = 11). The animals were trained to run on a treadmill at the speed of 14 meters per minute until they were fatigued. The results were compared using the Mann-Whitney test. Results: There was no difference between the animals submitted to orchiectomy and the Control Group. Conclusions: Bilateral orchiectomy does not affect the physical performance of the rat.

Keywords: Orchiectomy adverse effects; Hypogonadism; Castration; Exercise; Motor activity; Rats

INTRODUÇÃO A testosterona é um esteróide anabólico do grupo dos androgênios, que estimula a síntese protéica e promove uma alta proporção de massa muscular/massa adiposa(1). As células intersticiais dos testículos secretam este hormônio. A produção é controlada pelo hormônio estimulante das células intersticiais/hormônio luteinizante (ICSH/LH), que é produzido pelo lobo anterior da hipófise. Os testículos secretam mais de 95% do total de testosterona nos homens; o restante é produzido pelo córtex supra-renal. O hipogonadismo é considerado um fator de risco para certas doenças, como osteoporose, osteopenia, aumentos dos níveis sanguíneos de triglicérides, obesidade e hipertensão arterial(2-5). Em homens idosos, o hipogonadismo “fisiológico” está associado à perda da massa corporal magra e ao aumento da massa adiposa, com conseqüente perda da atividade física. Portanto, considerando que a testosterona ajuda a manter o tônus muscular, é possível que o hipogonadismo secundário possa afetar o condicionamento físico. Uma revisão da literatura não produziu estudos que correlacionassem a orquiectomia e o desempenho físico. A maioria das pesquisas é realizada pela administração de testosterona ou outros metabólitos a indivíduos com deficiências de hormônios sexuais, para determinar seus efeitos na composição corporal(6-9).

Trabalho realizado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte (MG), Brasil. 1

Mestre pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte (MG), Brasil.

2

Livre-docente; Professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte (MG), Brasil.

3

Mestre pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte (MG), Brasil.

4

Médico, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte (MG), Brasil.

5

Médico, Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte (MG), Brasil.

6

Acadêmico de Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte (MG), Brasil.

Autor correspondente: Denny Fabrício Magalhães Veloso – Rua dos Pampas, 538 – apto. 1.103b – Prado – CEP 30410-580 – Belo Horizonte (MG), Brasil – Tel.: (31) 8741-0372/3295-0372 – e-mail: [email protected] Data de submissão: 13/6/2008 – Data de aceite: 1/10/2008

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Veloso DFM, Petroianu A, Figueiredo JA, Rodrigues FHOC, Carvalho BGM, Carneiro BGMC, Cardoso PO

Objetivo O objetivo deste estudo foi avaliar o desempenho aeróbico de ratos com hipogonadismo. MÉTODOS Este estudo foi realizado em conformidade com as recomendações dos Guiding Principles in the Care and Use of Animals e foi aprovado pelo Comitê de Ética do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)(10-11). Dezesseis ratos Wistar machos (Rattus norvegicus albinus), com peso médio de 359,6 ± 38,2 g, foram divididos em dois grupos: Grupo 1 (Controle), composto por cinco ratos submetidos apenas à incisão e sutura da pele, e Grupo 2, com 11 ratos submetidos à orquiectomia bilateral. Todos os animais foram anestesiados com a associação de ketamina, na dose de 60 mg/kg de peso corporal, e xilazina, na dose de 10 mg/kg de peso corporal. Os anestésicos foram aplicados por via intramuscular na região glútea direita. A orquiectomia foi realizada por meio de uma incisão mediana anterior na bolsa escrotal. Cada testículo foi exposto por meio da incisão cirúrgica. Os ductos deferentes foram isolados, ligados e separados, permitindo a remoção dos testículos. A incisão foi, então, fechada e suturada com fio categute de 3-0 cromado. No Grupo 1, a operação de simulação envolveu a exposição dos testículos sem o isolamento. A incisão foi fechada e suturada com categute 3-0 cromado. Cinco meses após a cirurgia, os animais foram treinados para correr na esteira (Modular Treadmill, Columbus Instruments, EUA) na velocidade constante de 14 m/min., com inclinação zero, durante cinco minutos por dia, em quatro dias consecutivos (Figura 1). Os animais foram pesados antes de iniciarem o exercício definitivo. Para testar o desempenho físico, os

Figura 1. Rato treinando para correr na esteira

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ratos correram na esteira a uma velocidade constante de 20 m/min., com inclinação zero, até sua fadiga. O teste era interrompido quando o animal não conseguia continuar correndo na velocidade determinada, quando caía repetidamente, ou se passasse mais de dez segundos fora da esteira. O número de quedas e o tempo em que os ratos permaneciam fora da esteira foram determinados pela observação dos animais(12). Os resultados foram avaliados pelo teste não paramétrico de Mann-Whitney para comparação de amostras independentes com a variável de interesse. O valor p < 0,05 foi considerado estatisticamente significativo.

RESULTADOS A avaliação dos resultados (Tabela 1) não apresentou diferenças no peso corporal dos animais de cada grupo. A Tabela 1 também mostrou que o tempo médio total de exercício foi ligeiramente maior nos ratos orquiectomizados. Entretanto, esta diferença não foi estatisticamente significativa quando comparada ao Grupo 1. Tabela 1. Peso corporal e tempo total de exercício na esteira de ratos do Grupo 1 (Controle) e ratos orquiectomizados (Grupo 2) Parâmetros Peso (g) Tempo (min)

Grupo 1 (n = 5) 327,1 ± 25,4 81,6 ± 40,3

Grupo 2 (n = 11) 359,6 ± 38,2 100,9 ± 44,2

p 0,2573 0,1405

Média ± desvio padrão da média e o valor de p calculados pelo teste de Mann-Whitney

DISCUSSÃO A testosterona é importante para a manutenção do tônus muscular em animais e no homem. A terapia de reposição com testosterona e seus metabólitos promove mudanças na composição corporal das massas adiposa e muscular. A atividade física regular também afeta a composição corporal. Entretanto, ainda há poucas informações a respeito da influência do hipogonadismo no desempenho físico. Foi descrito aumento do peso corporal, principalmente em razão da massa adiposa, em homens submetidos à castração química ou cirúrgica para fins terapêuticos(13). Por outro lado, em homens saudáveis, as massas adiposa e muscular diminuem após a administração de testosterona(6-8). Um aumento da massa muscular com conseqüente aumento da massa corporal magra, sem mudança da massa adiposa, foi observado em pacientes HIV positivo com hipogonadismo que receberam a reposição de testosterona(9,14). Altas doses do metabólito da testosterona, a desidroepiandrosterona, foram administradas às mulheres com insuficiência suprarenal, mas não foram observadas mudanças em seu desempenho físico ou composição

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corporal(15). Não ocorreram mudanças no desempenho físico ou na estrutura orgânica em homens idosos saudáveis que receberam o metabólito da testosterona(16).

CONCLUSÕES Os efeitos da testosterona na atividade física e na força muscular de ratos não pareceram ser significativos; outros processos orgânicos podem ser considerados na investigação adicional.

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5. Ross RW, Small EJ. Osteoporosis in men treated with androgen deprivation therapy for prostate cancer. J Urol. 2002;167(5):1952-6. 6. Snyder PJ, Peachey H, Hannoush P, Berlin JA, Loh L, Lenrow DA, et al. Effect of testosterone treatment on body composition and muscle strength in men over 65 years of age. J Clin Endocrinol Metab. 1999;84(8): 2647-53. 7. Katznelson L, Finkelstein JS, Schoenfeld DA, Rosenthal DI, Anderson EJ, Klibanski A. Increase in bone density and lean body mass during testosterone administration in men with acquired hypogonadism. J Clin Endocrinol Metab. 1996;81(12):4358-65. 8. Bhasin S, Storer TW, Berman N, Callegari C, Clevenger B, Phillips J, et al. The effects of supraphysiologic doses of testosterone on muscle size and strength in normal men. N Engl J Med. 1996;335(1):1-7.

AGRADECIMENTOS

9. Bhasin S, Storer TW, Javanbakht M, Berman N, Yarasheski KE, Phillips J, et al. Testosterone replacement and resistance exercise in HIV-infected men with weight loss and low testosterone levels. JAMA. 2000;283(6):763-70.

Agradecemos em especial ao professor Doutor Nilo Rezende Viana Lima, à Doutora Heather Lynn Hauter e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) por todo o apoio e pelo auxílio fundamentais para conclusão do trabalho.

10. Cooper JE. Ethics and laboratory animals. Vet Rec. 1985;116(22):594-5.

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11. Petroianu A. Ética, moral e deontologia médicas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2000. 12. Rodrigues LO, Oliveira A, Lima NR, Machado-Moreira CA. Heat storage rate and acute fatigue in rats. Braz J Med Biol Res. 2003;36(1):131-5. 13. Smith MR, Finkelstein JS, McGovern FJ, Zietman AL, Fallon MA, Schoenfeld DA, et al. Changes in body composition during androgen deprivation therapy for prostate cancer. J Clin Endocrinol Metab. 2002;87(2):599-603. 14. Strawford A, Barbieri T, Van Loan M, Parks E, Catlin D, Barton N, et al. Resistance exercise and supraphysiologic androgen therapy in eugonadal men with HIV-related weight loss: a randomized controlled trial. JAMA. 1999;281(14):1282-90. 15. Callies F, Fassnacht M, van Vlijmen JC, Koehler I, Huebler D, Seibel MJ, et al. Dehydroepiandrosterone replacement in women with adrenal insufficiency: effects on body composition, serum leptin, bone turnover, and exercise capacity. J Clin Endocrinol Metab. 2001;86(5):1968-72. 16. Arlt W, Callies F, Koehler I, van Vlijmen JC, Fassnacht M, Strasburger CJ, et al. Dehydroepiandrosterone supplementation in healthy men with an agerelated decline of dehydroepiandrosterone secretion. J Clin Endocrinol Metab. 2001;86(10):4686-92.

einstein. 2008; 6(4):413-5

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