Ementa da disciplina optativa para a graduação: \"Tópicos Especiais em História XXXV\". Tema: Degredados e Gentios: papéis da alteridade na configuração atlântica do Império Português. Unicamp, 2001.

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Degredados e Gentios: papéis da alteridade na configuração atlântica do Império Português HH 735 – Tópicos especiais em História XXXV Segundas-feiras das 19:00 às 23:00h Professores Dr. Paulo Miceli Guilherme Amaral Luz (doutorando)

Ementa: O problema da “alteridade” é assunto constante da literatura que se volta ao estudo da expansão marítima portuguesa. Na sua maioria, o “outro” surge como as novas terras “descobertas” e seus habitantes, enquanto Portugal seria considerado o “reino do si mesmo”. Toma-se, assim, naturalmente, as distinções Metrópole e Colônia, Velho e Novo Mundo, Igreja e idolatrias, etc. Parece-nos que a relação identidade/alteridade no universo ultramarino é mais complexa. Descobrir novas terras não era um simples encontrar fortuito do “outro”, muito mais substancialmente, era reconhecê-las e inseri-las econômico, político e culturalmente numa outra forma renovada de organização do mundo. Os “descobrimentos” significaram um contato profundo com a alteridade, entendida como já presente e fundante da própria constituição da metrópole como tal. Isto significa dizer que os projetos expancionistas visavam eminentemente estabelecer ordem ao mundo ou normas para ele, excluindo necessariamente outros a serem enquadrados. Os empreendimentos missionários de diversas ordens religiosas no Novo Mundo também revelam um movimento interessante. Os habitantes nativos das novas terras eram compreendidos como seres capazes de receber a palavra do Evangelho. Experiências de missionários entre os nativos da América Portuguesa demonstram a crença na origem comum entre europeus e indígenas, tendo ambos presenciado “a primavera dos tempos”, “a idade de ouro” ou a Revelação. Acreditando serem alguns mitos nativos fragmentos deturpados de uma antiga Revelação — como o mito do dilúvio, a lembrança de São Tomé, entre outros —, os missionários viam como possível a tarefa de inserir os “gentios” no corpo místico da igreja, através de vários procedimentos que visavam “consertar” a idéia “precária” da Religião e a vida indígena, submersa nos “maus hábitos”. Portanto, se, por um lado, os indígenas eram vistos como “bestas humanas” ou vingativos antropófagos, por outro, eram vistos como próximos: cristãos em potencial, re-inseríveis, também, na nova configuração religiosa do mundo. Portanto, nosso objetivo será refletir em torno das relações de identidade/alteridade no interior de projetos de reorganização de visões de mundo. Como foco, teremos a ação missionária jesuítica entre as populações indígenas da América portuguesa nos séculos XVI e XVII. Debruçar-nos-emos, para isso, sobre a leitura de textos historiográficos e de áreas afins que permitem tal reflexão, que seguem elencados no cronograma. Paralelamente, propõem-se discussões a respeito de alguns “textos de época” nos quais sejam importantes as noções apresentadas no decorrer do curso.

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Cronograma: 28/Fevereiro – Apresentação da proposta do curso. 13/Março – Discussão dos textos: HOLANDA, S. B. “Experiência e fantasia” & “Terras incógnitas”. In: A Visão do paraíso, São Paulo, Brasiliense, 1992. pp. 01 - 34. 20/Março – Discussão dos textos: GODINHO, V. M. “Que significa descobrir?”. In: NOVAES, A. (org.). A descoberta do homem e do mundo, São Paulo, Companhia das Letras, 1998. pp. 55 - 82. & BENNASSAR, B. “Dos mundos fechados à abertura do mundo”. In: idem. pp. 83 - 93. 27/Março – Discussão do texto: TODOROV, Tzvetan. “Descobrir”. In: A Conquista da América (a questão do outro), São Paulo, Martins Fontes, 1983. pp. 03 – 48. 03/Abril – Discussão do filme: “Como era gostoso meu francês” ou “Aguirre”. Texto paralelo a ser definido. 10/Abril – Discussões em grupos: Grupo 1: HOORNAERT, E. “A questão do corpo nos documentos da primeira evangelização”. In: MARCÍLIO, M. L. (org.). Família, Mulher, sexualidade e igreja na História do Brasil, São Paulo, Loyola, 1993. pp. 11 - 27. (Roteiro 4) Grupo 2: RAMINELLI, R. “Gentios e Religiosos”. In: Imagens da colonização, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1996. pp. 23 - 52. (Roteiro 1) Grupo 3: RAMINELLI, R. “Mulheres canibais”. In: Imagens da colonização, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1996. pp. 84 – 108 (Roteiro 4) Grupo 4: CARNEIRO DA CUNHA, M. “Imagens do índio do Brasil, o século XVI”. In: Estudos Avançados, 4 (10), 1990. pp. 91 - 110. (Roteiro 1) 17/Abril – Discussões em grupos: Grupo 1: MONTEIRO, J. “A transformação de São Paulo indígena, século XVI”. In: Negros da terra, São Paulo, Companhia das Letras, 1995. pp. 17 - 56. (Roteiro 2) Grupo 2: CHAMBOULEYRON, R. “A evangelização do Novo Mundo: o plano do Pe. Manuel da Nóbrega”. In: Revista de História, São Paulo, USP, no. 134, 1996. pp. 37 - 47. (Roteiro 2) Grupo 3: PÉCORA, A. “Vieira, o índio e o corpo místico”. In: NOVAES, A. (org.). Tempo e História, São Paulo, Companhia das Letras, 1992. pp. 423 - 461. (Roteiro 5)

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Grupo 4: VIVEIROS DE CASTRO, E. “O mármore e a murta: sobre a inconstância da alma selvagem”. In: Revista de antropologia, São Paulo, USP, 1992. v. 35. pp. 21 - 74. (Roteiro 5) 24/Abril - Discussões em grupos Grupo 1: RESENDE, M. L. C. de. “Jesuítas: os mestres do Ñeengatú”. In: Estudos IberoAmericanos, PUCRS, v. XXV, n. 1, junho de 1999. pp. 235-257. (Roteiro 6) Grupo 2: MELLO E SOUZA, L. “Por fora do Império: Giovanni Botero e o Brasil”. In: Inferno Atlântico - demonologia e colonização (séculos XVI - XVIII), SP, Cia das Letras, 1993. pp. 58 - 88. (Roteiro 3) Grupo 3: LUZ, G. A. “Palavras em movimento: as diversas imagens quinhentistas e a universalidade da Revelação”. Texto apresentado no seminário: Festa, cultura e sociabilidade na América Portuguesa, São Paulo, USP, 06 a 11 de setembro de 1999. Texto mimeo. (Roteiro 6) Grupo 4: VAINFAS, R. “Idolatrias e colonialismo”. In: A heresia dos índios, São Paulo, Companhia das Letras, 1995. pp. 21 - 37. (Roteiro 3) 08/Maio - Seminário 1 (grupo de até 5 pessoas) – Textos: NÓBREGA, Manuel da. “Diálogo sobre a conversão do gentio”, In: VIOTTI, Pe. Hélio Abranches (coord.). Nóbrega e Anchieta (Antologia), São Paulo, Melhoramentos, 1978. pp. 43 – 60. & ANCHIETA, José de. “Informação dos casamentos dos índios”. In: Textos históricos, SP, Loyola, 1984. pp. 75 - 82. & VIEIRA, Antônio. “Sermão do Espírito Santo”. In: Sermões: problemas sociais e políticos do Brasil, São Paulo, Cultrix, 1995. pp. 119 – 152. & CARDIM, Fernão. “Do princípio e origem dos índios do Brasil e de seus costumes, adoração e ceremonias”. In: Tratados da terra e gente do Brasil, SP, Cia Editora Nacional, 1936. 3ª edição. pp. 91 – 133. 15/Maio - Seminário 2 (grupo de até 5 pessoas) – Textos: VESPUCCI, Amerigo. “Mundus Novus — carta a Lourenço di Pier Francesco de Medici (1501)”. In: MARCONDES DE SOUZA, T. O. Amerigo Vespucci e suas viagens, São Paulo, Boletim da Universidade de São Paulo CV, 1949. pp. 203 - 214. & CAMINHA, Pero Vaz de. “Carta de Pero Vaz de Caminha a D. Manuel, datada de Porto Seguro em 1 de maio de 1500”. In: MARCONDES DE SOUZA, T. O. O Descobrimento do Brasil (estudo crítico), São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1946. pp. 281 – 298. & GANDAVO, Pero de Magalhães. Tratado da terra do Brasil; História da província de Santa Cruz, Belo Horizonte, Itatiaia, 1980. pp. 11 – 18; 63 – 65 & 95 - 146. & SOARES DE SOUSA, Gabriel. Tratado descritivo do Brasil em 1587, SP, Companhia Editora Nacional, 1971. pp 54 – 55; 61 – 63; 78 – 80; 87 – 88; 95 – 97; 109 – 110; 115 – 116; 119; 299 – 348. Avaliação:

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1. 2. 3. 4.

Entrega dos 3 roteiros de leitura respondidos individualmente (peso 1); Apresentação de seminário ou trabalho final (peso 2); Auto avaliação e avaliação do curso (entregar até 29 de maio); Freqüência e participação nas atividades do curso.

Trabalho final: o(a) aluno(a) deverá escolher um dos textos selecionados para seminários para elaborar um ensaio reflexivo a respeito do tema do curso, privilegiando aspectos que mais chamaram sua atenção durante as discussões. O ensaio deverá conter uma breve descrição do texto selecionado e problematizar alguma(s) característica(s) sua(s) relacionada(s) ao tema do curso, não podendo exceder o número máximo de 10 páginas nem ser menor que 6 páginas digitadas em espaço 1,5 com letra de tamanho próximo ou igual à Times New Roman 12. O aluno deverá dar um título original ao ensaio, seguido de seu nome e RA. Prazo final: 5 de Junho. Obs.: alunos que apresentarem seminários estarão desobrigados desta tarefa. Entrega dos roteiros: cada roteiro deverá ser entregue na aula seguinte de sua discussão. OBS.: Os alunos que no final do curso não tiverem alcançado a nota mínima para sua aprovação, mas tiverem freqüência suficiente, poderão ser submetidos a uma avaliação final com critérios a serem definidos.

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